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Universidade Federal de Santa Catarina

Curso de Licenciatura em Física


na Modalidade a Distância

Fundamentos de Física I

Clederson Paduani
José Antonio de Oliveira

Florianópolis, 2017.
SUMÁRIO

Prefácio v
1. O que é Física 1
1.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2. O método científico e a Física . . . . . . . . 5
1.3. Áreas da Física . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.4. Física teórica, experimental e computacional . . 12
1.5. A Física e a tecnologia . . . . . . . . . . . . 15
1.6. A atuação do licenciado em Física . . . . . . 19
2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de
Unidades 21
2.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2. Grandezas físicas . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2.1. O sistema internacional de unidades . . . . . . . . 22
2.2.2. Dimensões de grandezas físicas . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3. Notação científica . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4. Algarismos Significativos . . . . . . . . . . . 28
2.4.1. Critérios de Arredondamento . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.4.2. Operações com Algarismos Significativos . . . . . 32
2.5. Conversão de unidades . . . . . . . . . . . 36
2.6. Exercícios Propostos . . . . . . . . . . . . . 36
3. Frações e suas Operações 39
3.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2. O que é uma fração? . . . . . . . . . . . . . 39
3.3. Nomenclaturas das frações . . . . . . . . . . 40
3.3.1. Frações com denominadores de 1 a 10 . . . . . . . 40
3.3.2. Frações em que o denominador é uma potên-
cias de 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3.3. Frações com denominadores diferentes dos
anteriores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3.4. Uma forma simples de ler a fração . . . . . . . . . . . 41
3.4. Tipos de Frações . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4.1. Frações próprias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4.2. Frações impróprias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4.3. Frações aparentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4.4. Frações particulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
i
ii SUMÁRIO

3.4.5. Frações equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43


3.4.6. Frações irredutíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.5. Comparação e simplificação de fração . . . . . 44
3.5.1. Comparação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.5.2. Simplificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.6. Operações com frações . . . . . . . . . . . 46
3.6.1. Adição e Subtração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.6.2. Multiplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.6.3. Divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.7. O Mínimo Múltiplo Comum nas Operações com
Frações . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.7.1. Fatoração dos Denominadores . . . . . . . . . . . . . . 49
3.8. Exercícios Propostos . . . . . . . . . . . . . 51
4. Trigonometria 55
4.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2. Ângulos e arcos de circunferência . . . . . . . 58
4.2.1. Medida em graus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2.2. Medida em radianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2.3. Conversão graus-radianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.3. A circunferência trigonométrica e a determina-
ção dos quadrantes . . . . . . . . . . . . . 61
4.4. Triângulo retângulo . . . . . . . . . . . . . 63
4.5. Funções trigonométricas . . . . . . . . . . . 66
4.5.1. Função seno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.5.2. Função cosseno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.5.3. Funções do tipo f (x) = a + b sen(kx + δ) e
f (x) = a + b cos(kx + δ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.5.4. Função tangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.5.5. Função cotangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.5.6. Funções secante e cossecante . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.6. Exercícios Propostos . . . . . . . . . . . . . 82
5. Exponenciais 83
5.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
5.2. Potências e raízes . . . . . . . . . . . . . . 83
5.2.1.
Potência de expoente inteiro . . . . . . . . . . . . . . . . 83
5.2.2.
Propriedades das potências . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.2.3.
Raízes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.2.4.
Propriedades das raízes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5.2.5.
Potência de expoente racional . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.3. Equação exponencial . . . . . . . . . . . . 86
5.4. Exercícios Propostos . . . . . . . . . . . . . 88
6. Logaritmos 89
6.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
6.2. Conceito de Logaritmo . . . . . . . . . . . . 90
6.2.1. Definição de logaritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
6.3. Símbolo dos logaritmos . . . . . . . . . . . 92
SUMÁRIO iii

6.4. Condições de existência do logaritmo . . . . . 93


6.5. Propriedades dos Logaritmos . . . . . . . . . 95
6.5.1.
Logaritmo do produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
6.5.2.
Logaritmo do quociente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
6.5.3.
Logaritmo da potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
6.5.4.
Logaritmo com potência na base . . . . . . . . . . . . . 98
6.5.5.
Mudança de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
6.5.6.
Consequência da mudança de base . . . . . . . . . . 99
6.5.7.
Resumo das propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
6.5.8.
Cologaritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
6.6. Logaritmo natural . . . . . . . . . . . . . . 102
6.7. Equações e igualdades logarítmicas . . . . . . 103
6.8. Exercícios Propostos . . . . . . . . . . . . . 104
Referências 105
iv SUMÁRIO
PREFÁCIO

Este texto é direcionado primordialmente aos alunos egressos do


ensino médio e na fase inicial do Curso de Licenciatura em Física,
na modalidade EaD (Curso de Educação à Distância). O objetivo
aqui é delinear para esses alunos o signicado da Física no mundo
atual, chamando a atenção para o papel do profissional em Física
na sociedade contemporânea, e ao mesmo tempo informar os
campos de atuação deste profissional, seja na pesquisa científica,
seja na formação de recursos humanos. Longe da pretensão de
esgotar assunto tão vasto, busca-se aqui transmitir a esses alunos
da fase inicial algumas noções básicas e fundamentais para um
curso de primeira fase. Inicialmente, no Capítulo 1, é feita uma
apresentação da Física como uma ciência da natureza, dentre ou-
tras, e chamando a atenção para o significado e a importância do
método científico desde a sua inserção no estudo dos fenômenos
naturais no século XVII, por Galileu. Em seguida é apresentada
uma classificação primária das áreas da Física, aproveitando para
esclarecer de forma sucinta os diversos campos de atuação dos
físicos na pesquisa desenvolvida atualmente, teórica e experimen-
tal, acrescentando em seguida uma breve digressão sobre a intera-
ção ciência e tecnologia, particularmente direcionada à atuação
da Física na evolução do conhecimento científico. Por conse-
guinte, é feita uma abordagem descritiva do papel do licenciado
em Física no âmbito da sociedade contemporânea.
O Capítulo 2 é dedicado a apresentar de modo didático um
conteúdo de caráter introdutório sobre grandezas físicas e o Sis-
tema Internacional de Unidades utilizado nas medições, salien-
tando algumas unidades importantes utilizadas para a determina-
ção de quantidades relevantes que aparecem na solução de pro-
blemas. Uma breve discussão sobre análise dimensional é apre-
sentada em seguida para chamar a atenção do estudante sobre
a consistência das relações utilizadas durante a obtenção de re-
sultados na resolução de problemas específicos. Mais adiante
é discutida a notação científica e o modo correto de tratar e li-
dar com quantidades representadas por números gigantescos ou
muito pequenos, observando regras básicas em algumas aplica-
v
vi SUMÁRIO

ções ilustrativas. Uma abordagem concisa sobre trigonometria é


feita no Capítulo 3, de modo a familiarizar o aluno con algumas
relações úteis e frequentemente utilizadas na resolução de proble-
mas em Física, onde as relações de seno, cosseno e tangente de
ângulos são empregadas em profusão para auxiliar na obtenção
de resultados. Exemplos de gráficos de funções trigonométricas
são apresentados. Finalmente, no Capítulo 4 é apresentada uma
descrição das propriedades fundamentais de logarítmos, onde são
mostradas algumas relações básicas empregando a notação loga-
rítmica e suas propriedades, destacando em alguns exemplos rela-
ções importantes de se ter mente durante os cálculos necessários
nos estudos que virão.

Clederson Paduani
José Antonio de Oliveira
Florianópolis, 2015
1
O QUE É FÍSICA

1.1 Introdução
A Física é a ciência fundamental da natureza, onde se aplica a
matemática no estudo dos fenômenos naturais. É o estudo cien-
tífico da matéria e da energia e como estas interagem entre si. O
campo de atuação dos estudiosos deste ramo da ciência pode ser
dividido em duas áreas: teórica e experimental. Enquanto físicos
experimentais buscam compreender os mecanismos dos fenôme-
nos naturais pela observação e experimentação, os físicos teóricos
propõem modelos e teorias para explicar ou até mesmo antecipar
os resultados das observações experimentais com a utilização da
matemática.
Na antiguidade o estudo sistemático dos fenômenos natu-
rais e das leis fundamentais da natureza não era uma grande pre-
ocupação. A ciência na época consistia basicamente em resolver
problemas da construção e da agricultura, e de tudo aquilo que
pudesse contribuir de alguma forma para a melhoria da qualidade
de vida das pessoas. A habilidade na construção podia ser até
mesmo notável, como se pode observar nas construções egípcias
do passado e dos impérios ocidentais e orientais. Entretanto, o
conhecimento das leis naturais fundamentais das regras básicas
ainda era impreciso e muito incompleto.
Nas civilizações antigas mais avançadas se encontram re-
gistros de rudimentos em astronomia, o que mostra que o céu
sempre despertou a atenção do ser humano, não só pela beleza
impressionante como também pela regularidade observada nos
movimentos do Sol, da Lua e das estrelas. A noção religiosa de di-
vindades que governavam os desígneos de nossas vidas enraigou
desde o início conceitos que buscavam descrever os fenômenos
naturais em termos da influência dos deuses em nosso cotidiano.
Em meados do século V na Grécia antiga já se acreditava nas
causas naturais dos acontecimentos do dia a dia. A ideia de que a
1
2 Capítulo 1. O que é Física

Figura 1.1: Tales de Mi- matéria é composta de minúsculas partículas também remonta a
leto (624-558 aC). esta época. Estas partículas foram chamadas átomos, termo este
oriundo de uma palavra grega que significa indivisível.
Desde os primeiros estudos sobre a natureza o homem bus-
cava explicar os princípios naturais dos acontecimentos do co-
tidiano através de uma observação fiel da natureza mas quase
sempre esta mesclada com uma ênfase religiosa, onde a influência
de divindades permeava a argumentação descritiva.
O filósofo grego Tales de Mileto é reconhecido como o funda-
dor da filosofia natural e o primeiro a propor explicações baseadas
em hipóteses racionais para os fenômenos naturais em vez de
usar explicações mitológicas. Pelos registros Tales foi o primeiro
a investigar os princípios básicos, a questão das substâncias fun-
damentais provenientes da matéria e, portanto, é considerado o
Figura 1.2: Aristóteles de fundador da escola de filosofia natural. Ele propôs teorias para
Samos (384-322 aC). explicar muitos dos eventos da natureza, incluindo estudos de
astronomia, e forneceu uma série de explicações de eventos cos-
mológicos sem recorrer a causas sobrenaturais.
Posteriormente, Aristóteles, considerado como o maior pen-
sador do mundo antigo, acreditava que a afinidade de semelhan-
tes era responsável pela atração dos corpos, e que a observação
de fenômenos físicos poderia levar à descoberta das leis naturais,
que tinham contudo natureza divina. A matéria era identificada
em cinco formas: água, fogo, terra, ar e éter.
Outro grande pensador da antiguidade que teve profunda
influência na Física foi Arquimedes. Entre seus trabalhos destacam-
se os princípios da densidade e do empuxo, sistemas de roldanas,
centro de gravidade, estática, sistemas de irrigação, sistemas béli-
cos dentre outros.

Figura 1.3: Arquimedes Figura 1.4: O parafuso de Arquimedes.


de Siracusa (287-212 aC).
1.1. Introdução 3

Uma diferença fundamental entre Aristóteles e Arquimedes Figura 1.5: Hiparco de


está no emprego da matemática por Arquimedes na resolução dos Nicéia (190-120 aC).
problemas do cotidiano e no estudo dos fenômenos físicos.
A astronomia na antiguidade também trouxe importantes
contribuições para a ciência, encontrando destaque nos trabalhos
dos cientistas gregos Hiparco de Nicéia e Ptolomeu de Alexandria.
Na idade média, Roger Bacon (1214-1294), com base nos es-
critos de cientistas muçulmanos, descreveu um ciclo repetitivo de
observação, hipótese, experimentação e verificação como etapas
necessárias aos estudos científicos.
Na renascença, Galileu Galilei estabeleceu o método cien-
tífico, que combina observação, hipótese, dedução matemática
e experimento. A introdução da experimentação na ciência para
tentar descobrir e descrever as leis naturais é, portanto, atribuída
a Galileu, considerado então como o criador do método científico.
Ele foi um dos primeiros a usar descrições matemáticas nas leis Figura 1.6: Ptolomeu de
da Física, introduzindo importantes contribuições na cinemática Alexandria (90-168 dC).
dos corpos rígidos. Definiu o princípio da inércia, que mais tarde
se tornou o fundamento da primeira lei do movimento de Isaac
Newton. Aperfeiçoou o telescópio e fez a descoberta das luas em
Júpiter, e seus conceitos sobre astronomia e a teoria heliocên-
trica lhe colocou em apuros junto à Igreja Católica no século XVII.
Contudo, Galileu se tornou um dos cientistas mais influentes na
história da humanidade.

Figura 1.8: Galileu e seu telescópio.

Figura 1.7: Galileu Galilei


(1564-1642).
4 Capítulo 1. O que é Física

Figura 1.9: Isaac Newton (1642-1727).

Em 1922 foi fundada em Bruxelas, na Bélgica, a União In-


ternacional de Física Pura e Aplicada (International Union of Pure
and Applied Physics (IUPAP)), com 13 países-membros, cujos ob-
jectivos são: estimular e promover a cooperação internacional
em Física; patrocinar reuniões internacionais adequadas e ajudar
comitês organizadores; promover a preparação e publicação de
resumos de trabalhos e tabelas de constantes físicas; promover
acordos internacionais sobre outro uso de símbolos, unidades,
nomenclatura e normas; promover a livre circulação de cientistas;
incentivar a pesquisa e a educação.
A Física desempenha um papel fundamental na construção
do futuro e progresso da humanidade ao expandir as fronteiras
do nosso conhecimento sobre a natureza e gerar conhecimentos
fundamentais necessários para os avanços tecnológicos. Além
disso, contribui ainda para a formação de recursos humanos al-
tamente especializados, como químicos, engenheiros e cientistas
das ciências físicas e biomédicas. A Física amplia e aprofunda
nossa compreensão de outras áreas do conhecimento, tais como
as engenharias e todas as ciências da terra, química, ciências bio-
lógicas e ambientais, além da astrofísica e cosmologia.
Assim, a Física contribui para a melhora da nossa qualidade
de vida, proporcionando o conhecimento básico necessário para
o desenvolvimento de novos instrumentos e técnicas para apli-
cações diversas, como por exemplo hoje em dia na área médica,
em procedimentos tais como tomografia computadorizada, resso-
nância magnética, tomografia por emissão de pósitrons, imagens
de ultra-som, cirurgia a laser, etc. Em suma, esta é uma parte
essencial do sistema educacional em uma sociedade avançada.
1.2. O método científico e a Física 5

1.2 O método científico e a Física


O método científico é uma ordem lógica e racional dos passos
pelos quais os cientistas chegam a conclusões sobre o mundo
ao nosso redor. Este representa assim uma forma organizada de
se descobrir alguma coisa buscando organizar os pensamentos e
procedimentos para que as repostas encontradas às questões ori-
ginalmente propostas tenham credibilidade e possam ser acatadas
como verdades científicas comprovadas. Qualquer cientista em
qualquer lugar do mundo, desde que tenha as condições adequa-
das, deve ser capaz de confirmar os resultados de uma pesquisa
realizada por outros ao seguir os passos corretos em um procedi-
mento de investigação. Cientistas usam observações, hipóteses e
deduções para construir suas conclusões.
A observação é o primeiro passo para decidir sobre a na-
tureza da pesquisa. A hipótese é a resposta proposta à questão
levantada no início da investigação, antecipando assim uma des-
crição daquilo que se espera alcançar ao final do processo inves-
tigativo. A previsão é a crença específica sobre a ideia científica:
se a hipótese for verdadeira, então a previsão será confirmada. O
experimento é o conjunto de procedimentos utilizados em todas
as etapas da pesquisa para tentar levantar os dados necessários
para responder à pergunta inicial. A análise é o levantamento
e estudo minucioso do que aconteceu durante o experimento.
Finalmente, a conclusão é a resposta encontrada para verificar se
sua hipótese estava correta.
Contudo, as etapas do método científico podem ser indica-
das como:

! observação / pesquisa,
! hipótese,
! experimento,
! análise,
! conclusão.
Pode-se ainda discriminar:

variável independente: é uma parte da experiência que será


testada;

variável dependente: é o que se observa em resposta à variá-


vel independente escolhida;

controle: é a parte do experimento onde não se inclui a va-


riável independente, e que permite comparar os diferentes
resultados do experimento.
6 Capítulo 1. O que é Física

Em resumo, os procedimentos adotados de acordo com o


método científico minimizam a influência do experimentador ao
testar uma hipótese ou teoria. Se os resultados dos experimen-
tos confirmam a hipótese inicialmente apontada, esta pode ser
considerada como consentânea a uma teoria ou lei natural. Se
por outro lado aqueles não confirmam a hipótese, esta deve ser
rejeitada ou modificada. Costuma-se até mesmo dizer que os mo-
delos científicos nunca são comprovados definitivamente como
uma verdade eterna, mas podem sim, serem modificados ou até
mesmo refutados. Isto quer dizer que há sempre a possibilidade de
que uma nova observação ou uma nova experiência venha entrar
em conflito com uma teoria aceita de longa data. Por conseguinte,
mesmo que uma teoria pareça perfeita e incorruptível, para que
esta seja aceita definitivamente como uma verdade científica e
possa ser aceita por todos, esta precisa de uma confirmação de
resultados experimentais, e seja considerada como uma descrição
válida da natureza.
Na Física, como em toda ciência experimental, o experi-
mento é o teste supremo, e portanto a verificação experimental
das previsões hipotéticas é absolutamente necessária. Um exem-
plo disto são as previsões teóricas da existência de novas par-
tículas, que persistem como especulação até que um resultado
experimental venha corroborar a validade das previsões da teoria.
Assim, uma nova teoria precisa e deve ser testada, antes de entrar
para o rol das verdades científicas.
Pode acontecer, entretanto, que uma teoria aceita e adotada
de longa data possa de repente se mostrar em desacordo com
novos resultados experimentais, e assim esta ser ameaçada de ser
descartada por dar uma descrição incorreta da realidade, mas que
porém ainda fornece resultados bastante razoáveis dentro de um
intervalo restrito de parâmetros mensuráveis. Foi o que aconte-
ceu, por exemplo, com a mecânica clássica, completamente vá-
lida e aceitável em acontecimentos observados em nosso dia a
dia, no regime de baixas velocidades, mas cujas previsões falham
flagorosamente no regime de altas velocidades ou no mundo das
partículas sub-atômicas. Desta forma, a Física clássica é válida
apenas em distâncias muito maiores do que as escalas atômicas,
enquanto a mecânica quântica não tem restrição quanto a sua
aplicabilidade.
Na verdade não são poucas as teorias que foram descartados
em face de evidências experimentais. Na cosmologia, o antigo mo-
delo geocêntrico, i.e., a Terra no centro do universo, que perdurou
por muitos séculos como irrefutável, acabou por ser substituído
pelo modelo heliocêntrico do sistema de Copérnico, em que o
sol estava colocada no centro das órbitas planetárias. Esta teoria
finalmente foi aceita quando medições dos movimentos dos pla-
netas acabaram confirmando o novo modelo.
1.3. Áreas da Física 7

Acontece que toda medida tem um erro inevitável, muitas


vezes com contribuições de várias fontes. Quando este conduz a
diferentes resultados mais ou menos próximo daquele que seria
um valor numericamente correto, é chamado de erro aleatório.
Por outro lado, quando este erro se deve a fatores que conduzem
o resultado numa certa direção, é chamado de erro sistemático.
Por conseguinte, nenhuma medida pode ser considerada absolu-
tamente precisa. Contudo, é de suma importância indicar qual a
precisão de uma medida em particular e indicar o erro da medição.
Uma medição sem o erro não tem significado. Na verdade o teste
de uma teoria e a medida do seu sucesso passa pela qualidade dos
erros experimentais. É aí que entra a importância do tratamento
estatístico das medições.
O método científico busca portanto minimizar a influên-
cia do cientista sobre o resultado de um experimento, ao evitar
que uma postura tendenciosa possa influenciar para a aceitação
ou recusa de uma hipótese. Muitas vezes o cientista pode ter
preferência ou repulsa por determinada hipótese, a qual gostaria
muito que fosse aceita ou recusada. Com este fim, pode acontecer
que este decida por ignorar ou excluir dados que não suportam a
hipótese, ou até mesmo busque evidências em erros sistemáticos
que conduzam numa certa direção que tenha influência decisiva
sobre a hipótese levantada inicialmente, resultando aí uma certa
forma de controle dos dados. Por isto é de grande importância que
os dados sejam todos tratados da mesma forma. É certo que um
tratamento inapropriado dos dados também pode comprometer
a validade dos resultados na análise de uma hipótese.
Uma hipótese representa de certo modo uma visão limitada
numa relação de causa e efeito para situações muito específicas
e que reflete também nosso estado de conhecimento sobre deter-
minado assunto antes mesmo que um trabalho experimental de
verificação tenha sido realizado. Uma teoria científica representa
assim um conjunto de hipóteses que foram verificadas muitas ve-
zes e em situações diferentes pelos testes experimentais. A teoria
científica, uma vez confirmada como verdadeira, se torna então
parte de nossa visão e compreensão do universo e um ponto de
partida para novas averiguações, e permanecem inalteradas até
que uma nova descoberta ou um novo fenômeno venha desafiar
aquilo que estava consolidado.

1.3 Áreas da Física


Sendo a Física uma ciência natural que estuda a natureza em seus
aspectos mais gerais, com o avanço do conhecimento científico
acumulado durante séculos, o seu campo de atuação cresce con-
tinuamente.
8 Capítulo 1. O que é Física

Figura 1.10: James Clerk Com o volume de conhecimento acumulado até os dias de
Maxwell (1831-1879). hoje, atualmente são definidos vários campos de atuação da Fí-
sica que à primeira vista podem até parecer completamente des-
correlacionados. Como ciência natural, esta faz uso do método
científico, baseando-se essencialmente na matemática e na lógica
para a formulação de conceitos. Por conseguinte, cada vez mais
foi necessário para os físicos concentrar sua atenção em áreas
menores do conhecimento, haja visto a grande quantidade de in-
formação acumulada. Isto deu origem à diversas modalidades de
especialistas, como aliás ocorreu em todas as áreas da ciência.
No mundo antigo a Física era apenas uma parte da filosofia
natural, que se misturava à Química, Matemática e Biologia, no
estudo dos fenômenos naturais.
Acontece, entretanto, que ainda hoje a Física tem intersec-
ção com muitas áreas interdisciplinares de pesquisa, como por
exemplo Biofísica e Química quântica, e desse modo os limites do
Figura 1.11: Joseph John campo de atuação da Física dificilmente podem ser rigidamente
Thompson (1856-1940). definidos. Nos dias de hoje alguns podem acreditar que o trabalho
dos físicos e a pesquisa em Física atualmente têm um impacto me-
nor em suas vidas diárias do que a Biologia, Química , Engenharia
e outros campos do conhecimento. A Física para alguns é vista até
mesmo como algo abstrato, enigmático, de interesse puramente
acadêmico.
As maravilhas tecnológicas do mundo moderno são cada vez
mais acessíveis em todas as idades e modificam de forma irre-
versível o nosso dia a dia, e a economia do mundo atual é for-
temente dependente desta tecnologia. Vivenciamos hoje a era
da disseminação rápida da informação, onde as notícias chegam
a todas as partes do mundo quase ao mesmo tempo em que os
fatos acontecem. É inegável que todo esse parque tecnológico
tem sua origem principal no domínio da eletricidade, que alías
aconteceu relativamente há bem pouco tempo, em meados do
Figura 1.12: Werner Karl século XIX. Os fundamentos da teoria eletromagnética remontam
Heisenberg (1901-1976). aos trabalhos de diversos cientistas até culminar nos trabalhos do
escocês James Clerk Maxwell, que foi o responsável por consolidar
a teoria eletromagnética na forma em que a conhecemos hoje.
As consequências deste conhecimento crescem em profusão
espantosa praticamente a cada dia. É interessante observar que a
motivação ao trabalho dos grandes cientistas não tinha nenhuma
conotação econômica nas suas raízes. A curiosidade e o inte-
resse em descobrir os mecanismos pelos quais as leis naturais
se aplicam eram a fonte pura para os estudos científicos, sem
nenhuma ganância pelos eventuais lucros que pudessem even-
tualmente advir da descoberta. A motivação pura e simples era
apenas o conhecimento.
É interessante e ao mesmo tempo impressionante observar
que o elétron só foi descoberto há pouco mais de 100 anos, em
1.3. Áreas da Física 9

1897, pelo físico Joseph John Thompson. Na época esta descoberta Figura 1.13: Erwin R. J. A.
não impressionou muito e foi até mesmo subestimada, como aliás Schrödinger (1887-1961).
é frequente acontecer, sendo considerado mesmo como um des-
perdício de dinheiro fazer experimentos sobre uma partícula muito
pequena de se ver. Obviamente ainda se estava longe da com-
preensão da dimensão da importância de tal descoberta. Basta
dizer apenas que toda a tecnologia da informação é baseada no
conhecimento do elétron e de suas propriedades.
O desenvolvimento da teoria quântica ocorreu no início da
década de 30 com os trabalhos de Werner Karl Heisenberg, Erwin
Schrödinger e Paul A. M. Dirac.
Os fundamentos para o nascimento desta teoria têm origem
em 1859 quando da discussão sobre a radiação de corpo negro,
um objeto hipotético que absorve toda a energia incidente sobre
ele e que não reflete nenhuma luz parecendo então negro para
um observador. Um corpo negro é também um emissor perfeito Figura 1.14: Paul A. M.
e é um protótipo onde se estuda a radiação na matéria. A teoria Dirac (1902-1984).
discutindo esta radiação utilizava argumentos de termodinâmica
e da teoria eletromagnética de Maxwell, mas ainda mostrava-se
incompleta. Isto mais tarde culminou na interpretação de Max
Planck que considerou a quantização da energia para descrever a
radiação de corpo negro.
A partir daí foram sendo descobertos novos conceitos revo-
lucionários na Física, aliado à novas formulações matemáticas,
que vieram por fim culminar no nascimento da mecânica quân-
tica.
Vale mencionar que Albert Einstein também propôs uma
teoria quântica da luz para interpretar o efeito fotoelétrico em
1906. Evidências experimentais vieram confirmar as hipóteses
levantadas pela teoria. Em 1925 em sua tese de doutorado Louis
de Broglie apresentou a idéia da dualidade onda-partícula para a
radiação e a matéria. Figura 1.15: Max K. E. L.
Em 1926 Schrödinger publicou um artigo sobre o átomo de Planck (1858-1947).
hidrogênio e anunciava assim o nascimento da mecânica ondula-
tória. Heisenberg escreveu seu primeiro artigo sobre a mecânica
quântica em 1925 e dois anos mais tarde anunciou seu princípio
da incerteza. Em 1928 Dirac apresentou a solução do problema de
expressar a teoria quântica de uma forma invariante sob o grupo
de transformações de Lorentz da relatividade especial.
Em 1929 John Von Neumann veio finalmente colocar a teoria
quântica em uma base teórica firme, após dedicar-se à axiomati-
zação da mecânica quântica, e assim a Física tradicional podia ser
representada por operadores lineares e a física da mecânica quân-
tica foi reduzida à matemática de operadores. Como resultado, o
enquadramento matemático da teoria quântica foi desenvolvido e
os aspectos formais das suas novas regras de interpretação foram
analisadas.
10 Capítulo 1. O que é Física

Figura 1.16: Albert Eins- Em suma, a Física quântica é portanto o estudo do compor-
tein (1879-1955). tamento da matéria e da energia ao nível sub-atômico das partícu-
las elementares. A palavra "quantum "vem do latim, que significa
"quantidade". Refere-se às unidades discretas de matéria e ener-
gia previstos pela teoria quântica .
Apesar do nascimento da Física quântica ser atribuído ao
ano de 1900, com uma publicação de Planck sobre a radiação de
corpo negro, o desenvolvimento desta foi feito com o trabalho
subsequente de vários cientistas, como visto acima.
A mecânica quântica explica com sucesso muitas das ca-
racterísticas de nosso mundo, principalmente o comportamento
das partículas subatômicas, mas também descreve com sucesso
as propriedades de moléculas e sólidos. A aplicação da mecânica
quântica à química é conhecido como química quântica e os cál-
culos realizados em química computacional moderna dependem
da mecânica quântica.
Figura 1.17: Louis de Bro- Na verdade a grande maioria das invenções tecnológicas mo-
glie (1892-1987). dernas operam numa escala onde os efeitos quânticos são bas-
tante significativos. Atualmente pesquisadores buscam novos mé-
todos de manipular estados quânticos e desenvolver a chamada
criptografia quântica para permitir a transmissão segura de in-
formações. Um objetivo visado mas ainda um pouco distante é
o desenvolvimento dos chamados computadores quânticos que
poderiam, em princípio, executar determinadas tarefas computa-
cionais exponencialmente mais rapidamente do que os computa-
dores convencionais.
Um outro tema pesquisado é a possibilidade de teletrans-
porte quântico para transmitir informação quântica em distâncias
arbitrárias. Contudo, embora a mecânica quântica seja aplicada
principalmente aos regimes atômicos da matéria e energia, esta
também fornece descrições precisas sobre o funcionamento de
muitos sistemas biológicos, como por exemplo, estruturas de pro-
Figura 1.18: John Von teínas. Trabalhos recentes sobre fotossíntese também dão evi-
Neumann (1903-1957). dências de que correlações quânticas desempenham um papel
essencial neste processo básico e fundamental do reino vegetal.
De um modo mais geral a mecânica quântica incorpora qua-
tro classes de fenômenos os quais a Física clássica não pode ex-
plicar, que são, a quantização de certas propriedades físicas, a
dualidade onda-partícula, o princípio da incerteza e o chamado
entrelaçamento quântico.
Com o desenvolvimento das pesquisas vão surgindo assim
novos campos de investigação onde as possibilidades de aplica-
ções práticas crescem continuamente. As áreas de atuação dos
pesquisadores hoje são subdivididas em numerosos campos de
estudos voltados para propriedades específicas daquele assunto.
Numa tentativa de classificação primária, podemos identificar as
seguintes áreas disciplinares da Física na atualidade (em ordem
1.3. Áreas da Física 11

alfabética):

Acústica

Astronomia

Astrofísica

Biofísica

Eletromagnetismo

Física atômica

Física computacional

Física da matéria condensada

Física de altas energias

Física de partículas

Física espacial

Física matemática

Física médica

Física molecular

Física nuclear

Geofísica

Mecânica clássica

Mecânica estatística

Mecânica quântica

Óptica

Relatividade

Teoria de campos

Termodinâmica
12 Capítulo 1. O que é Física

1.4 Física teórica, experimental e compu-


tacional
A pesquisa desenvolvida hoje nos diversos campos de atuação da
Física vem sendo cada vez mais realizada de forma concentrada
pelos especialistas de cada área. Sem a pretensão de esgotar o
assunto aqui, fazendo uma digressão sobre todas as áreas da pes-
quisa nos dias de hoje, podemos entretanto comentar de modo
conciso alguns ramos de estudo do físico no mundo atual, como
feito a seguir.
No campo da acústica e dos fenômenos sonoros o trabalho
dos pesquisadores hoje tem acentuada ênfase na tecnologia da
propagação sonora ambiental e gravação do som, no tocante aos
ambientes e instrumentos utilizados. Acústica é a ciência de ondas
mecânicas em gases, líquidos e sólidos, e lida com a interação
entre sons, objetos, seres humanos e animais, incluindo a per-
cepção do som e sua produção. Busca-se descrever as interações
físicas entre sons e objetos, estudando modelos da dinâmica de
estruturas, campos sonoros e vibrações, com aplicações em con-
trole de ruído ambiental, áudio automotivo, percepção auditiva e
produção da fala. A intersecção com a engenharia neste campo,
como em muitos outros, é inevitável e os limites de cada campo
de estudos não são facilmente delineados.
Na astrofísica os cientistas atualmente buscam explorar uma
grande variedade de fenômenos através da teoria, análise e de-
senvolvimento de novas técnicas observacionais experimentais,
incluindo estrelas de nêutrons, buracos negros, ondas gravitaci-
onais, matéria escura, energia escura, radiação cósmica, astrono-
mia de raios-X e raios gama, cronologia cósmica, meteoritos e po-
eira interplanetária, grãos interestelares de materiais primitivos,
ciência lunar e planetária e a expansão do universo.
No campo da Física da Matéria Condensada teórica os pes-
quisadores analisam os fundamentos da teoria da matéria con-
densada, como a abordagem do grupo de renormalização no es-
tudo de fenômenos críticos e a descrição teórica de fases orde-
nadas exóticas. A pesquisa atual inclui temas como sistemas de
condensados de Bose, nanotubos, sistemas nanoestruturados, es-
truturas de matéria biológica, teoria da matriz aleatória, teoria de
perturbação de muitos corpos e Física computacional.
A pesquisa em Física de Partículas Elementares teórica es-
tuda mecanismos de quebra da simetria eletrofraca, supersime-
tria, dimensões extras, teoria das cordas, teorias de campo eficazes
e técnicas de grupo de renormalização, sistemas integráveis e teo-
rias de gauge. Já a Física de Partículas Elementares experimental,
desde o advento do grande colisor de hádrons (LHC, de "Large
Hadron Collider"), concluído em 2008 em Genebra, na fronteira
1.4. Física teórica, experimental e computacional 13

da Suíça com a França. Este vem trazendo à tona os primeiros


vislumbres da Física que se encontra na escala de energia do TeV.
Busca-se entender e descrever o mecanismo de quebra da simetria
eletrofraca, encontrar a supersimetria e dimensões extras, e come-
çar a identificar a matéria escura do universo. O LHC é o maior
e mais poderoso acelerador de partículas do mundo, inaugurado
em setembro de 2008, consistindo em um anel de 27 km de imãs
supercondutores com uma série de estruturas de aceleração para
aumentar a energia das partículas ao longo do caminho. São re-
alizados ali experimentos científicos que tentam reproduzir uma
situação semelhante a que ocorreu após o Big Bang, de onde se
espera aprofundar o conhecimento sobre a estrutura das partícu-
las elementares da matéria. Na Física, os hádrons constituem uma
família de partículas subatômicas formadas de quarks unidos por
uma interação nuclear forte (uma das quatro interações funda-
mentais, que incluem ainda a gravitacional, a eletromagnética e
a nuclear-fraca). Os prótons e os nêutrons também são hádrons.
A construção custou 10 bilhões de dólares e envolveu cientistas de
mais de 100 países. Dentro do acelerador dois feixes de partículas
de alta energia viajam em direções opostas com velocidades pró-
ximas da velocidade da luz no vácuo (cerca de 300.000 km/s) até
colidirem frontalmente. Os feixes em tubos de feixe separados -
dois tubos mantidos a vácuo ultra.

Figura 1.19: Colisor de hádrons.

A Física da Matéria Condensada experimental abrange uma


ampla gama de tópicos de pesquisa, incluindo hoje materiais na-
noestruturados e nanotecnologia, a eletrônica molecular, os efei-
14 Capítulo 1. O que é Física

tos quânticos em sistemas mecânicos, processos fora do equilí-


brio de materiais, supercondutividade e magnetismo, quasicris-
tais, vidros metálicos, materiais metaestáveis, estruturas de líqui-
dos, propriedades de semicondutores amorfos, ultra-som, resso-
nância magnética, física de alta pressão, hidretos metálicos e sóli-
dos para armazenamento de hidrogênio, propriedades eletrônicas
de grafenos, técnicas de fabricação de nanoestruturas e materiais
que apresentam correlação eletrônica, supersólidos, superfluidez,
materiais e dispositivos magnéticos, sistemas complexos, fluidos
e sistemas não-lineares, dentre outros.
A Biofísica investiga uma gama cada vez maior de sistemas
moleculares visando a manipulação de moléculas individuais, a
Física biomédica, motores moleculares e comportamento social
celular, aplicações da ressonância magnética usando gás hiperpo-
larizado, caracterização tecidual via ultra-som, processamento de
imagem assistida por computador, redes neurais experimentais,
computação em cérebros, comportamento mecânico de biomem-
branas e tecido artificial.
A Física Nuclear estuda os constituintes e interações dos
núcleos atômicos e as leis fundamentais da natureza, e procura
responder a questões básicas sobre a origem e estrutura do nosso
universo. A Física Nuclear teórica hoje estuda, por exemplo, cor-
relações entre nucleons, modos de decaimento nuclear, compor-
tamento exótico de núcleos em alta rotação, energia de excita-
ção, dependência de assimetria da equação nuclear de estado. O
campo da Física de Partículas evoluiu a partir da Física Nuclear e
geralmente é ensinado em estreita associação com esta. As apli-
cações práticas mais comuns são a geração de energia nuclear e
tecnologia de armas nucleares, mas a pesquisa experimental tem
proporcionado aplicação em muitos campos, incluindo aqueles
em medicina nuclear e ressonância magnética, implantação de
íons em engenharia de materiais, e datação por radiocarbono em
geologia e arqueologia.
No campo teórico, a busca da grande unificação das inte-
rações fundamentais da natureza ainda está em curso. A ele-
trodinâmica quântica foi unificada com sucesso com a interação
nuclear fraca na chamada interação eletrofraca. Previsões atuais
indicam que seria possível unificar estas com a chamada interação
nuclear forte, numa nova teoria de campo unificado. Especula-
se que seja possível ainda mesclar a gravidade com as demais.
Entretanto, ainda hoje a melhor teoria que descreve a força de
gravitação não foi totalmente incorporada à teoria quântica. A
gravidade é desprezível em Física de partículas de modo que a
unificação entre a relatividade geral e a mecânica quântica não é
uma questão urgente para aplicações específicas.
Outro ramo da atualidade da pesquisa em Física é o da Física
Computacional, que é o estudo e implementação de algoritmos
1.5. A Física e a tecnologia 15

numéricos para resolver problemas de Física, e representa uma


importante aplicação dos modernos computadores na pesquisa
científica. Costuma ser considerada como um ramo da Física
teórica, mas também é vista como um ramo intermediário entre a
Física teórica e experimental, uma terceira via que complementa
a teoria e a experiência. Neste campo estuda-se assuntos os mais
diversos, como a estrutura do Universo, efeitos gravitacionais, hi-
drodinâmicos e radiativos, crescimento de estrelas e galáxias, for-
mação e crescimento de buracos negros, estudos experimentais de
hádrons (partículas construídas a partir de quarks e antiquarks).
Nas aplicações em cromodinâmica quântica estuda-se a forma-
ção de hádrons e confinamento de quarks, e em simulações de
Monte Carlo estuda-se flutuações térmicas de membranas bioló-
gicas. Outras aplicações de grande interesse incluem desenvolvi-
mento de técnicas para simular soluções de equações da hidro-
dinâmica, crescimento de cristais e instabilidades morfológicas
que levam à estruturas celulares e dendríticas, transições de fase,
simulação de moléculas biológicas, dinâmicas moleculares, e o
emprego do métodos ab-initio no estudo da estrutura de banda
e cálculo da energia total em aglomerados moleculares e ligas
metálicas.

1.5 A Física e a tecnologia


A Física tem contribuído ao longo dos séculos de forma decisiva e
revolucionária na descoberta e desenvolvimento de novas tecno-
logias, o que tem acelerado as transformações da sociedade. Basta
citar que a consolidação da teoria do eletromagnetismo no século
XIX com os trabalhos de Maxwell abriu caminho para a profunda
revolução tecnológica subsequente introduzida pela domínio da
eletricidade. A partir daí os resultados sobre a vida moderna tem
sido impressionantes e parecem até evoluir de forma acelerada,
como observa-se com os meios de comunicação do mundo mo-
derno.
A estrutura de cada átomo no universo é determinada pela
mecânica quântica e hoje todos os cientistas utilizam a mecânica
quântica. Mesmo biólogos como Francis Crick, que ganhou Prê-
mio Nobel de Medicina em 1962 pela descoberta do DNA, utili-
zou em seus trabalhos de investigação a mecânica quântica. Um
profundo conhecimento de mecânica quântica é necessário para
projetar novos dispositivos eletrônicos e na descoberta de novos
materiais. A era da informação que vivenciamos hoje não teria
sido possível sem a mecânica quântica.
Um novo campo de estudos é a spintrônica, uma tecnologia
que utiliza o estado de spin dos elétrons para transmitir e arma-
zenar informações. Enquanto os circuitos eletrônicos convenci-
16 Capítulo 1. O que é Física

onais usam apenas o estado de carga de um elétron, a spintrô-


nica explora o estado de polarização de spin nas propriedades
de transporte de carga. O processamento de informações através
de circuitos com a spintrônica permitiria que informação fosse
processada num condutor em duas direções ao mesmo tempo,
reduzindo ainda mais o tamanho dos circuitos eletrônicos.
A moderna teoria das cordas estuda a possibilidade de que
o universo seja constituído de cordas, que são um tipo de osci-
ladores que podem oscilar em várias direções. Assim, em vez de
um elétron puntiforme que só pode mover-se em determinadas
direções, a teoria das cordas diz que este é um oscilador quântico.
Um fóton ou um quark seriam diferentes tipos de osciladores.
Os cientistas descobriram que alguns cristais semicondutores mi-
núsculos chamados pontos quânticos ("quantum dots") brilham
quando expostos à radiação ultravioleta. Isto abriu caminho para
investigar sua utilização no tratamento de doenças no corpo hu-
mano. Outro conceito novo é o entrelaçamento quântico ("en-
tanglement"), que significa a interconexão quântica de objetos,
tais como átomos que são separados no espaço físico real. Os
físicos acreditam que o entrelaçamento pode ocorrer em partes
das plantas responsáveis pela fotossíntese. Busca-se estudar como
esta interconexão à nível quântico pode influenciar a produção de
energia solar, no intuito de desenvolver células solares eficientes
baseadas na natureza.
O primeiro computador digital eletrônico foi construído no
porão do departamento de Física da Universidade Estadual de
Iowa em 1939 por um físico, o professor J. Atanasoff e seu aluno de
pós-graduação C. Berry. O segundo computador digital eletrônico
foi também proposto e concebido por um físico em 1945.
O transístor foi descoberto pelos físicos em 1947, e é con-
siderado uma das maiores descobertas ou invenções da história
moderna ao tornar possível a revolução dos computadores e dos
equipamentos eletrônicos. A sua invenção marcou o início do
campo da Física do estado sólido, uma das áreas mais ativas e
importantes da pesquisa em Física hoje. O primeiro laser de mi-
croondas foi construído em 1954 pelo físico Charles Townes, e o
primeiro laser óptico foi construído em 1960 pelo físico Theodore
Maiman.
Na computação quântica um novo tipo de circuito super-
condutor permite velocidade de processamento sem precedentes.
Tais circuitos se comportam como átomos artificiais, pois só po-
dem ganhar ou perder energia em pacotes movendo entre níveis
de energia discretos. O átomo mais complicado tem cinco níveis
de energia. Este tipo de sistema é conhecido como "qudit", e
representa um avanço sobre o anterior "qubit", que tinha apenas
dois níveis de energia . Qubits e qudits substituem os bits usados
nos computadores convencionais. Estes computadores quânticos
1.5. A Física e a tecnologia 17

usam as leis da mecânica quântica para realizar cálculos muito


mais rápidos do que os computadores tradicionais.
Em 1990 foi criada por um físico a rede WWW ("World Wide
Web") no CERN ("European Organization for Nuclear Research")
em Genebra, para atender a crescente demanda de troca de infor-
mações em diferentes universidades e institutos de todo o mundo.
Juntamente com esta veio a criação do primeiro navegador e do
servidor web com siglas como URL ("uniform resource locator") e
HTTP, protocolo de transferência de hipertexto.
Isto tudo demonstra a importância do governo federal e do
setor privado em financiar a pesquisa em Física, de modo que os
físicos possam continuar a fazer descobertas e invenções impor-
tantes como os que a fizeram no passado. A pequena fração do
PIB global destinada à pesquisa em Física é apenas uma pequena
parte dos recursos que as invenções criadas por físicos têm contri-
buído para a economia mundial.
Os avanços da Física têm assim contribuído para modificar
o mundo em que vivemos, ao viabilizar e introduzir novas tec-
nologias em processos e procedimentos que permitem melhorar
de forma significativa nossa qualidade de vida. Por exemplo, nos
meios de transporte aéreo e marítimo, modos de geração e ar-
mazenamento de energia, viagens interplanetárias, produção e
design de novos materiais e componentes eletrônicos, produção
de imagens em aplicações da medicina, apenas para citar alguns.
No campo espacial observa-se hoje o crescimento vertiginoso das
estruturas de estações orbitais e sondas espaciais robóticas desti-
nadas ao desenvolvimento de tecnologias avançadas que operam
sob condições extremas.
O desenvolvimento tecnológico é assim uma consequência
natural do desenvolvimento científico. Ciência e tecnologia an-
dam juntas e uma tem influência decisiva uma sobre a outra. Ao
mesmo tempo em que a ciência produz continuamente resultados
de impacto tecnológico significativo, o avanço tecnológico por
sua vez ajuda no avanço científico, fornecendo os meios e instru-
mentos necessários e consentâneos aos processos investigativos.
A ciência é pois o domínio do conhecimento e a tecnologia é a
aplicação deste conhecimento.
No mundo moderno observa-se que as economias de su-
cesso têm grande dependência de um parque tecnológico avan-
çado, que por sua vez tem dependência vital do domínio do co-
nhecimento científico. Grandes fortunas são geradas a partir de
produtos tecnológicos oriundos da pesquisa avançada em tec-
nologia de ponta que explora os últimos avanços conquistados
pela pesquisa científica em todas as áreas do conhecimento. A
modernização observada em cada aspecto de nossas vidas nasce
da aplicação da ciência e da tecnologia em todos os países do
mundo. Com a crescente introdução de novos equipamentos em
18 Capítulo 1. O que é Física

todos os setores da sociedade produtiva melhora-se a qualidade


de vida de todos. Com a fabricação e instalação de equipamentos
modernos em todos os setores da indústria, cresce a produção e
melhora-se a qualidade dos produtos, sejam estes equipamentos
eletrônicos, máquinas, veículos, medicamentos, infra-estrutura
urbana, construção civil, naval, aviação, produção e distribuição
de energia, tecnologia da informação, etc. O progresso das na-
ções industrializadas assim torna-se dependente de um parque
tecnológico atualizado, eficaz e competitivo à nível internacional.
Quem não produz tem que comprar, e muitas vezes para produzir
é preciso adquirir maquinário importado para viabilizar as linhas
de produção.
Os países com perfil de exportador de matéria prima tornam-
se então dependentes daqueles que produzem tecnologia de ponta.
E hoje, países que tem carência de recursos naturais importantes
para a sobrevivência são capazes de suprir esta deficiência inves-
tindo maciçamente em ciência e tecnologia, construindo assim
a riqueza de seu povo mesmo sem contar com a disponibilidade
e riqueza de recursos naturais. Uma nação que não é capaz de
prosperar por esse motivo, por outro lado nunca seria capaz de
proporcionar ao seu povo um desenvolvimento sustentado, e con-
sequentemente torna-se dependente de outras nações para suas
necessidades básicas. Tal é a influência da ciência e da tecnologia
para o desenvolvimento de uma nação. Países hoje classificados
como desenvolvidos e em desenvolvimento tem como principal
distinção o nível de desenvolvimento e aplicação da ciência e da
tecnologia. Nas últimas décadas tem-se observado uma mudança
significativa do perfil dos países pobres em função do desenvolvi-
mento de seu parque tecnológico e científico.
O investimento em ciência e tecnologia tem portanto de-
sempenhado um papel fundamental na melhoria das condições
de vida da população em todos os países do mundo, e o benefício
obtido está na razão direta do nível de investimentos. Os países
mais ricos no mundo atual são exatamente aqueles que investi-
ram muito em ciência e tecnologia desde o início da revolução
industrial. Este é um investimento que deve ser contínuo, e os
resultados pretendidos podem às vezes ainda levar muito tempo
para serem alcançados. Não se constrói um parque tecnológico
moderno e eficiente da noite para o dia, e isto passa ainda pela
formação de recursos humanos altamente qualificados. A capa-
citação de profissionais especializados depende de boas escolas,
universidades e centros de pesquisa científica, que dependem in-
tegralmente de uma política eficiente de aplicação de recursos.
Por conseguinte, a juventude de um país é tão melhor educada
e preparada para o mercado de trabalho quanto mais evoluída é a
sociedade e mais capacitados e bem adaptados são os centros de
formação profissional.
1.6. A atuação do licenciado em Física 19

1.6 A atuação do licenciado em Física

A formação de profissionais em Física passa por duas escolhas:


bacharelado ou licenciatura. Enquanto o bacharel é aquele profis-
sional que decidiu perseguir uma carreira em Física voltada para
a pesquisa científica, o licenciado, por outro lado, é aquele que
optou pelo trabalho voltado à formação e educação de novos pro-
fessores de Física para o ensino médio.
Com somente o diploma de bacharel as opções no mercado
de trabalho ainda são bastante restritas. Assim, para o bacha-
rel, que decidiu ser um pesquisador, é preciso prosseguir na sua
formação profissional na pós-graduação (mestrado e doutorado)
visando alcançar níveis mais aprofundados de estudos e um trei-
namento indispensável nas atividades rotineiras de pesquisa, seja
esta teórica ou experimental. A profundidade do conhecimento
necessário para desenvolver pesquisa demanda então um tempo
longo de formação e treinamento num campo específico do co-
nhecimento. O leque de possibilidades é imenso e a escolha de
uma área de atuação define o perfil do pesquisador. Hoje em dia
cada vez mais é exigido o doutorado em Física para ingresso no
magistério de nível superior ou em instituições de pesquisa apli-
cada, e é até mesmo comum a realização de vários pós-doutorados
pelos profissionais em cada área da pesquisa. Aponta-se que no
setor privado dos países mais desenvolvidos os salários são me-
lhores para um diplomado em Física com doutorado do que para
quem tem um diploma de engenharia, apesar de ser ainda muito
mais fácil de se conseguir um emprego em engenharia.
Com o diploma de licenciatura pode-se igualmente pros-
seguir nos estudos em cursos de pós-graduação, com o foco de
atenção voltado ao ensino de Física e à formação de professores
do ensino médio. Estes profissionais têm igual chance de atuar no
magistério superior.
No mundo todo observa-se uma enorme carência de pro-
fessores de Física do ensino médio devidamente qualificados. A
formação desses profissionais, por sua vez, depende de toda uma
estrutura educacional preparada e apta a oferecer todas as condi-
ções necessárias para a educação e formação de novos professores
que irão trabalhar na educação dos jovens nas escolas de ensino
médio e fundamental, passagem praticamente obrigatória para
todas as pessoas. Contudo, o papel do licenciado em Física é de
suma importância para estes jovens que irão ter seus primeiros
passos em ciência dirigidos e orientados pelos seus professores de
ciência, obviamente, em todas as áreas da ciência. A responsa-
bilidade social dos governos municipal, estadual e federal é por-
tanto imensa em direcionar e aplicar recursos indispensáveis para
a instalação, manutenção e ampliação necessários ao funciona-
20 Capítulo 1. O que é Física

mento de centros educacionais de qualidade. É aqui que o papel


do professor, dos profissionais que decidiram por uma carreira
destinada integralmente à educação e formação de pessoas, co-
meçando ainda nos tenros anos da juventude, assume uma po-
sição de destaque e de extrema importância, com um significado
profundo, ao mostrar aos mais jovens a importância da ciência em
nossas vidas e na construção de um país desenvolvido e que possa
garantir uma qualidade de vida superior à toda a sua população.
2
GRANDEZAS FÍSICAS E O
SISTEMA INTERNACIONAL DE
UNIDADES

2.1 Introdução
O escopo da Física é o estudo sistemático dos fenômenos naturais,
na tentativa de compreender as leis que regem o comportamento
de tudo que nos rodeia. Antes este conhecimento era adquirido
através da observação direta dos eventos, utilizando a lógica e a
razão, e mais tarde se viu a necessidade de adotar procedimentos
segundo uma sistemática que garantisse a confiabilidade das con-
clusões e interpretações dos resultados dos eventos estudados.
O método científico introduzido por Galileu veio orientar
uma sequência lógica de ações para atingir o objetivo de verificar
uma hipótese aventada. Desde o início da investigação das leis
naturais cada vez mais a matemática se mostrou fundamental na
análise e observação dos eventos, na interpretação dos dados e
na elaboração de uma teoria sólida e consistente para o conheci-
mento adquirido. Apesar de que a matemática tenha se desenvol-
vido independentemente em diferentes partes do mundo antigo,
no início esta parece ter sido mais voltada ao comércio e finanças
dos governos. Paulatinamente esta foi se tornando uma ferra-
menta indispensável na solução de problemas do cotidiano, como
nas construções civis e navais, sistemas de irrigação, e em observa-
ções astronômicas, segundo registros históricos encontrados nas
civilizações mais antigas. Por exemplo, no antigo Egito foi regis-
trado um progresso significativo da geometria básica, advindo da
necessidade de controlar a agricultura seguindo as inundações do
rio Nilo. Houve ainda aplicações importantes na construção dos
grandes templos e pirâmides, assim como na astronomia. Na Gré-
cia antiga também houve progressos significativos com os estudos
de Euclides e Pitágoras, dentre outros.
21
22 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades

A medida que o estudante avança em seus estudos durante


o Curso de Física é necessário e indispensável adquirir conheci-
mento mais aprofundado em matemática. Desde que as aplica-
ções das definições matemáticas são fundamentais nos estudos
em Física, é indispensável uma formação básica em métodos e
formulações matemáticas que permitirão ao iniciante utilizar re-
cursos de cálculo imprescindíveis na consecução dos objetivos e
compreensão dos objetos de estudo, pois através dos cálculos são
obtidas comprovações para o desenvolvimento de novas teorias.
Desta forma, Matemática e Física caminham juntas com o obje-
tivo de ampliar e aprofundar conhecimentos e, por conseguinte,
evoluir nas pesquisas científicas. Neste curso introdutório fare-
mos uma apresentação simplificada e concisa de algumas quanti-
dades básicas e importantes de grandezas físicas e suas unidades.

2.2 Grandezas físicas


Na observação e explicação dos fenômenos em nosso ambiente
natural é preciso utilizar uma grande variedade de grandezas físi-
cas relacionadas com diferentes propriedades da matéria, as quais
dependem de numerosos instrumentos de medição. Estes, por sua
vez, precisam garantir a precisão e a possibilidade de reproduzir
as leituras efetuadas utilizando também uma grande variedade de
unidades de medição. Cada grandeza física tem a sua unidade
de medição. De forma a facilitar a comparação dos resultados
dos processos de medição é adotado um padrão internacional de
medidas. Para isto foi criado um sistema internacional.

2.2.1 O sistema internacional de unidades


Figura 2.1: Protótipo do O sistema métrico foi desenvolvido na época da Revolução Fran-
quilograma, armazenado cesa com as normas estabelecidas para o metro e quilograma em
próximo a Paris, França. 22 de junho de 1799. Este era um sistema decimal onde unidades
do mesmo foram definidas em potências de dez (em contraste
com o Sistema Inglês, em que 1 milha é igual a 5.280 pés). O
Sistema Internacional de Unidades, também conhecido como SI,
foi adotado na 14a¯ Conferência Geral de Pesos e Medidas (1971), e
é um sistema métrico com sete unidades fundamentais, cada uma
representada por uma unidade e seu símbolo (BIPM, 2006):

o metro (m): unidade de comprimento, definido com a dis-


tância que a luz percorre no vácuo num intervalo de tempo
de 1/299 792 458 segundos, onde este denominador corres-
ponde a velocidade da luz no vácuo em m/s, que é uma
constante universal.

o quilograma (kg): unidade de massa, definido hoje como


2.2. Grandezas físicas 23

sendo a massa de um cilindro padrão de uma liga platina- Figura 2.2: Relógo atô-
irídio (90% platina and 10% irídio), mantido na Agência In- mico (NIST-F1) com fonte
ternacional de Pesos e Medidas em Sèvres, França. de Césio no NIST.

o segundo (s): unidade de tempo, definido como o intervalo


de tempo em que ocorrem 9 192 631 770 ciclos num relógio
atômico que utiliza átomos de Césio-133.

o ampère (A): unidade da corrente elétrica, que indica o


fluxo de cargas eléctricas através de uma superfície à razão
de um Coulomb por segundo.

o kelvin (K): unidade de temperatura, que representa a es-


cala Kelvin para medição que utiliza o ponto triplo da água
a 273,16 K como o ponto fixo fundamental de referência.

o mol (mol): é a quantidade de substância de um sistema


que contém tantas entidades elementares quanto são os áto- Fonte: Cortesia do NIST
mos contidos em 0,012 Kg de C-12, numericamente igual ao (2013).
número de Avogadro (6,022 ×1023 ).

a candela (cd): unidade de intensidade luminosa, igual à


potência irradiada numa dada direção por uma fonte lumi-
nosa que emite uma radiação monocromática de frequência
540 ×1012 Hz e cuja intensidade nessa direção é de 1/683
Watt/esfero-radiano (W.sr−1 )

Tabela 2.1: Nomes e abreviações de unidades para as unidades de


base do Sistema Internacional de Unidades (SI).

Grandeza Unidade Símbolo da unidade


comprimento metro m
massa quilograma kg
tempo segundo s
corrente ampère A
temperatura kelvin K
quantidade de substância mol mol
intensidade luminosa candela cd

Fonte: BIPM (2006).

2.2.2 Dimensões de grandezas físicas


As grandezas físicas são especificadas por um número com uma
unidade. A natureza física de uma grandeza e o tipo de unidade
utilizado na sua representação são descritos pela sua dimensão.
24 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades

Utilizaremos colchetes [ ] para denotar a dimensão da grandeza


física. Assim, se queremos denotar a dimensão de uma velocidade
v , basta escrever [v ].
Um número n obtido como a razão de duas grandezas de
mesmo tipo ou um número puro qualquer, são denominados adi-
mensionais, ou alternativamente, de dimensão 1. Essa é a dife-
rença de um número para uma grandeza da física.

g → grandeza física
[g ] → dimensão de g
n → número puro
[n] → dimensão 1

Na Tab. 2.2 são listadas as sete grandezas de base e dimen-


sões utilizadas no SI.

Tabela 2.2: Grandezas de base e dimensões utilizadas no SI.

Grandeza de base Símbolo para a Símbolo para a


grandeza dimensão
comprimento l , x, r , etc. L
massa m M
tempo t T
corrente I, i I
temperatura T Θ
quantidade de substância n N
intensidade luminosa Iv J

Fonte: BIPM (2006).

Exemplo 1

A distância d entre dois pontos tem dimensão de compri-


mento L. A duração de um evento é medida pelo tempo t
com a dimensão T. Qual a dimensão da velocidade média v
que representa a rapidez do movimento?

Solução:

A velocidade média v é dada pela expressão v = d /t . Segue,

[d ] L
[v ] = = ⇒ ∴ [v ] = L T−1 .
[t ] T
2.2. Grandezas físicas 25

Na utilização de relações matemáticas a consistência dos resulta-


dos pode ser verificada por uma análise dimensional.

Exemplo 2

Num movimento unidimensional com aceleração cons-


tante a equação que permite determinar a distância per-
corrida com o tempo é d = v 0 t + 21 at 2 . Faça a análise
dimensional desta equação.

Solução:
· ¸ · ¸
1 2 1
[d ] = [v 0 t ] + at = [v 0 ] × [t ] + [a][t ]2
2 2
L L
= × T + 1 × 2 × T2 = L + L
T T
∴ [d ] = L.

Assim a relação está dimensionalmente correta.

Todas as outras quantidades são quantidades derivadas, as


quais, podem ser escritas em termos das quantidades de base
pelas equações da física. Veja na Tab. 2.3 as dimensões derivadas
para algumas quantidades físicas.

Tabela 2.3: Dimensão (SI) de quantidades físicas.

Quantidade Dimensão
Área L2
Volume L3
Velocidade L T−1
Aceleração L T−2
Massa específica M L−3
Energia Mecânica M L2 T−2
Pressão M L−1 T−2
Força M L T−2
Carga Elétrica M1/2 L3/2 T−1

Fonte: Elaborada pelo autor.

A análise dimensional é então importante para verificar a


coerência de unidades e dimensões nos termos de uma equação
e apontar possíveis falhas introduzidas durante a obtenção da so-
lução.
26 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades

2.3 Notação científica


Durante o processo de cálculo de quantidades envolvendo gran-
dezas físicas frequentemente nos deparamos com números muito
pequenos ou muito grandes, cuja escrita e notação em etapas
sucessivas pode se tornar tediosa e até mesmo incômoda, quando
não desnecessária.
Uma forma mais conveniente de lidar com tais grandezas
nestes casos é a notação científica, ou forma padrão. Esta tem
várias propriedades úteis e é bastante utilizada nas calculadoras
científicas.
Assim, a notação científica padrão é um número de 1 a 9
seguido por um decimal com os demais algarismos significativos
e um expoente de 10. Quando o vírgula decimal é movida para a
esquerda o expoente cresce, mas o valor do número permanece o
mesmo. Cada casa decimal avançada modifica o expoente por um.
Ao movê-la para a direita o expoente diminui de uma unidade, e
ao movê-la para a esquerda este aumenta de uma unidade.
Para adicionar ou subtrair quantidades em notação cientí-
fica é necessário que os expoentes sejam iguais. Na multiplicação,
encontre primeiro o produto dos números, e em seguida, adicione
os expoentes. Na divisão, obtenha antes a razão ou quociente dos
números em questão e depois subtraia os expoentes das potências
de 10.

Exemplo 3

Escreva os seguintes números em notação científica:

a) 100 m

b) 0,025 kg

Solução:

a) Neste caso você move a vírgula decimal para es-


querda:

100 m = 10, 0 × 101 m = 1, 00 × 102 m.

b) Aqui, você move a vírgula decimal para direita:

0, 025 kg = 0, 25 × 10−1 kg = 2, 5 × 10−2 kg.


2.3. Notação científica 27

Contudo, alguns prefixos podem ser ainda utilizados para


representar as potências de 10. Veja na Tab. 2.4 alguns exemplos.

Tabela 2.4: Prefixos do SI representando múltiplos de dez.

Prefixo Símbolo Fator Número


yotta Y 1024 1000000000000000000000000
zeta Z 1021 1000000000000000000000
exa E 1018 1000000000000000000
peta P 1015 1000000000000000
tera T 1012 1000000000000
giga G 109 1000000000
mega M 106 1000000
quilo k 103 1000
hecto h 102 100
deca da 101 10
deci d 10−1 0,1
centi c 10−2 0,01
mili m 10−3 0,001
micro µ 10−6 0,000001
nano n 10−9 0,000000001
pico p 10−12 0,000000000001
femto f 10−15 0,00000000000001
ato a 10−18 0,000000000000000001
zepto z 10−21 0,000000000000000000001
yocto y 10−24 0,000000000000000000000001

Fonte: BIPM (2006).

Exemplo 4

A massa do elétron, medida experimentalmente, tem o


valor de 0,000000000000000000000000000000911 kg. Ex-
presse este resultado em notação científica.

Solução:

Em notação científica, a massa do elétron, fica expressa por,

9, 11 × 10−31 kg.

Note a vantagem visual e computacionalmente prática, de


escrever o número em notação científica, comparada com
aquele expresso no enunciado.
28 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades

Exemplo 5

Em um laboratório foi feita a medida do comprimento de


onda, de uma determinada radiação, cujo valor obtido foi
de 0,000000550 m. Escreva este valor de maneira que fique
expresso em nm.

Solução:

Podemos escrever

0, 000000550 m = 550 × 10−9m = 550 nm.

onde o fator 10−9 foi substituido pelo prefixo nano cujo


símbolo é n.

2.4 Algarismos Significativos


Quando certas quantidades são medidas, por um equipamento de
medição, sempre possuirá incertezas nas medidas.
A medida de uma grandeza é obtida, em geral, através de
uma experiência e é o resultado da comparação do valor adotado
como padrão de medida da grandeza com o valor desconhecido
da mesma, a qual, será medida.

Os algarismos significativos de uma medida são todos os


algarismos lidos com certeza mais o primeiro algarismo
duvidoso (incerteza).

Em um procedimento de medição, o resultado de uma me-


dida (M) é constituído por três itens:

1º) um número, representado por m;

2º) uma indicação da confiabilidade da medida, representada


pelo erro provável ∆m da medida m;

3º) uma unidade, representada por u. Toda grandeza física me-


dida deve possuir uma unidade de medida. Números sem
unidades de medida não representam nenhuma grandeza
física.

Assim, a medida é simbolicamente expressa por,

M = (m ± ∆m)u.
2.4. Algarismos Significativos 29

Exemplo 6

Uma régra, graduada em cm, foi utilizada para medir o


tamanho de uma barra.

Avalie qual resultado representaria melhor a medida acima:

a) 4,5 cm

b) 4,6 cm

c) 4,7 cm

d) 4,8 cm

e) 4,9 cm.

Solução:

Algarismo 4: lido com certeza. Note que temos


certeza na leitura do algarismo 4, pois a extremidade
da barra está posicionada entre 4 cm e 5 cm;

Algarismo 7: avaliado (duvidoso). Note que a menor


divisão de escala da régua é 1cm. Podemos perceber
que a extremidade da régua passa de 4,5 cm. En-
tretanto, não se sabe com certeza qual é o algarismo
para representar a primeira casa decimal. Avaliamos
que fique em torno do algarismo 7, o qual, é uma
incerteza na medida.

Unidade de medida da régua é o centímetro: cm.

Logo, o resultado da medida pode ser representado por


4,7 cm.

Em uma medida, os zeros à esquerda do número, isto é, os


zeros que posicionam a vírgula não são significativos. Já os zeros
que aparecem à direita de um número representam a precisão da
medida e não podem ser desprezados.
30 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades

Exemplo 7

Nas medidas abaixo avalie e descreva quantos algarismos


significativos cada medida possui.

a) 0,0016 m b) 4,50 m/s c) 0,01820 g

Solução:

a) a medida 0,0016 m tem somente dois algarismos


significativos, pois os zeros à esquerda de 1 não são
algarismos significativos;

b) a medida 4,50 m/s tem três algarismos significativos,


pois o zero à direita de 5 é um algarismo significativo;

c) a medida 0,01820 g tem quatro algarismos significati-


vos, pois os zeros à esquerda de 1 não são algarismos
significativos e o zero a direita de 2 é um algarismo
significativo.

2.4.1 Critérios de Arredondamento

Ao efetuar qualquer operação matemática com grandezas expres-


sas com diferentes números de algarismos significativos, é neces-
sário arredondar o resultado obtido no primeiro algarismo duvi-
doso.
Dessa forma, existem três critérios (ou regras) que são ado-
tadas para efetuar os procedimetos de arredondamentos, que são:

1) Se numa quantidade de algarismos que vierem após o pri-


meiro algarismo duvidoso formarem números superiores a
5, 50, 500, 5000, etc, aumenta-se de uma unidade o primeiro
algarismo duvidoso e desprezam-se os demais.
2.4. Algarismos Significativos 31

Exemplo 8

Aplique o critério de arredondamento no algarismo indi-


cado.

a) 787,6̄72 cm3 b) 24,92̄87 g c) 0,00261̄54 A

Solução:

a) 787,6̄72 cm3 ≈ 787,7 cm3

b) 24,92̄87 g ≈ 24,93 g

c) 0,00261̄54 A ≈ 0,00262 A

2) Se os algarismos a serem desprezados numa quantidade for-


marem números inferiores a 5, 50, 500, 5000, etc., os algaris-
mos significativos que restam não se modificam.

Exemplo 9

Aplique o critério de arredondamento no algarismo indi-


cado.

a) 761̄,05 mmHg b) 0,09̄31 cal/gK c) 6,9̄305 N/m2

Solução:

a) 761̄,05 mmHg ≈ 761 mmHg

b) 0,09̄31 cal/gK ≈ 0,09 cal/gK

c) 6,9̄305 N/m2 ≈ 6,9 N/m2

3) Se os algarismos a serem desprezados numa quantidade for-


marem números iguais a 5, 50, 500, 5000, etc., tem que ana-
lisar o algarismo duvidoso. Assim:

3.1) Se o algarismo duvidoso for par, mantém-se este alga-


rismo e desprezam-se os restantes após.
32 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades

Exemplo 10

Aplique o critério de arredondamento no algarismo indi-


cado.

a) 45,18̄5 s b) 96̄500 F c) 0,028̄5 mA

Solução:

a) 45,18̄5 s ≈ 45,18 s

b) 96̄500 F ≈ 9,6 ×104 F

c) 0,028̄5 mA ≈ 0,028 mA

3.2) Se o algarismo duvidoso for ímpar, soma-se um ao du-


vido resultando em um número par e desprezam-se o
restante após.

Exemplo 11

Aplique o critério de arredondamento no algarismo indi-


cado.
a) 2,73̄500 s b) 0,075̄5 A c) 539̄,50 cal/g

Solução:

a) 2,73̄500 s ⇒ 2,74 s

b) 0,075̄5 A ⇒ 0,076 A

c) 539̄,50 cal/g ⇒ 540 cal/g

2.4.2 Operações com Algarismos Significativos


A necessidade de saber realizar operações com algarismos signifi-
cativos está relacionado ao fato de:

ser necessário medir várias grandezas físicas iguais ou dife-


rentes,

obter medidas com aparelhos de classes de precisão diferen-


tes,

reuni-las através de uma equação matemática de forma a


obter o valor da grandeza procurada.
2.4. Algarismos Significativos 33

Existem critérios para a determinação do número correto


de algarismos significativos no resultado das quatro operações
matemáticas fundamentais envolvendo medidas. Essas operações
serão apresentadas a seguir e, para fins de simplificação inicial-
mente não serão considerados os erros das medidas.

Adição

O resultado da adição de várias medidas é obtido arredondando-


se a soma na casa decimal da parcela mais pobre em decimais,
após efetuar a operação.

Exemplo 12

Efetue as operações de soma e aplique o critério de arre-


dondamento.

a) 27, 8̄m + 1, 326̄m + 0, 66̄m

b) 11, 45̄s + 93, 1̄s + 0, 333̄s

Solução:

a) 27, 8̄m + 1, 326̄m + 0, 66̄m = 29, 7̄86m ≈ 29, 8m

b) 11, 45̄s + 93, 1̄s + 0, 333̄s = 104, 8̄83s ≈ 104, 9s

Subtração

A subtração é um caso particular da adição, adotando-se desta


forma, o mesmo critério apresentado no item anterior.

Exemplo 13

Efetue as operações de subtração e aplique o critério de


arredondamento.

a) 18, 2476̄m − 16, 72̄m

b) 127, 36̄g − 68, 297̄g

Solução:

a) 18, 2476̄m − 16, 72̄m = 1, 52̄76m ≈ 1, 53m

b) 127, 36̄g − 68, 297̄g = 59, 06̄3g ≈ 59, 06g


34 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades

Multiplicação

O produto de duas ou mais medidas deve possuir, em geral, o


mesmo número de algarismos significativos da medida mais po-
bre em significativos.

Exemplo 14

Efetue as operações de multiplicação e aplique o critério de


arredondamento.

a) 3, 27251̄cm × 1, 32̄cm

b) 0, 452̄A × 2671̄Ω

Solução:

a) 3, 27251̄cm × 1, 32̄cm = 4, 31̄97132cm2 ≈ 4, 32cm2

b) 0, 452̄A × 2671̄Ω = 120̄7, 292V ≈ 1, 21 × 103V

Divisão

A divisão é simplesmente um caso particular do produto, portanto,


aplica-se a regra anterior.

Exemplo 15

Efetue as operações de divisão e aplique o critério de


arredondamento.
63, 72̄cm
a)
23, 1̄s

0, 451̄V
b)
2001̄Ω

Solução:

63, 72̄cm
a) = 2, 75̄8441558cm/s ≈ 2, 76cm/s2
23, 1̄s
0, 451̄V
b) = 0, 000225̄3873A ≈ 2, 25 × 10−4 A
2001̄Ω
2.4. Algarismos Significativos 35

Radiciação e Potenciação

Nas operações como radiciação, potenciação, logaritmação, etc.,


efetua-se a operação e mantem-se o número de algarismos signi-
ficativos da grandeza operada.

Exemplo 16

Efetue as operações abaixo e aplique o critério de arredon-


damento.
p
3
a) 29, 69̄m3

b) (8, 75̄m/s)2

Solução:
p
3
a) 29, 69̄m3 = 3, 096̄492738m ≈ 3, 096m

b) (8, 75̄m/s)2 = 76, 5̄625m2/s2 ≈ 76, 6m2/s2

Operações envolvendo constantes

Em operações de uma medida direta ou indireta envolvendo cons-


tantes matemáticas deve-se manter o número de algarismos signi-
ficativos da medida.

Exemplo 17

b ×h
A área de um triângulo é dada por A = , onde, b =
2
3, 10cm e h = 2, 50cm. Calcule o valor da área.

Solução:

3, 10cm × 2, 50cm 7, 75cm2


A= = = 3, 87̄5cm2
2 2
∴ A ≈3, 88cm2
36 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades

2.5 Conversão de unidades


Quando é de interesse converter uma medida expressa em uma
determinada unidade, para outra unidade desejada, conserva- se
o mesmo número de algarismos significativos da medida original.

Exemplo 18

Transforme 12,75 cm para metros.

Solução:

12, 75 cm = 12, 75 × 10−2m = 0, 1275 m


| {z } | {z }
4 algarismos significativos 4 algarismos significativos

Exemplo 19

Faça as seguintes conversões de unidades:

a) 72 km/h em m/s b) kg/m3 em g/cm3

Solução:

a)

72km 72✟✟ 1000m


km 1✓
h m
= × ✟ × = 20
h 1✓
h km
1✟ 3600s s

b)

kg 1kg 1✚m✚
3
103 g g
1 = × × = 10−3
m✚ (10 cm)
m3 3 2 3 kg cm3

2.6 Exercícios Propostos


1) Qual o número de algarismos significativos em cada
quantidade abaixo:

a) 0,302 ........

b) 487,13 ........

c) 0,00076 ........

d) 6,0470 ........
2.6. Exercícios Propostos 37

2) Escreva cada medida em notação científica:

a) 0,00030 g = ................

b) 41,0 ◦ C = ................

c) 350 kg = ................

d) 145300000 km = ................

3) Efetue as operações abaixo:

a) 25, 3̄4m + 2, 749̄m

b) 150, 1̄6cm − 12, 31̄m

c) 201, 473̄mm × 12, 7̄mm

59, 23̄N
d)
4, 1̄m2
p2
e) 45, 56̄m2
¡ ¢3
f) 15, 36̄mm

4) Complete as seguintes conversões de unidades.

a) 400 mm = ................ m

b) 158 cm = ................ m

c) 3,2 m = ................ cm

d) 0,075 kg = ................ g

e) 18500 kg = ................ g

f) 780 g = ................ kg
38 Capítulo 2. Grandezas Físicas e o Sistema Internacional de Unidades
3
FRAÇÕES E SUAS OPERAÇÕES

3.1 Introdução

3.2 O que é uma fração?


Ao dividirmos uma quantidade em partes iguais, cada parte dessa
ou a soma de várias partes constituem uma fração daquela quan-
tidade total.
Uma fração é representada por dois números inteiros, o nu-
merador e o denominador, assim
Numerador
Fração = ·
Denominador

O numerador indica o número de partes que foram reuni-


das ou tomadas da quantidade, por isso, chama-se numerador da
fração.
O denominador indica o número de partes iguais que foi
dividida a referida quantidade e dá o nome à cada parte. Assim,
por essa razão, chama-se denominador da fração.
O numerador e o denominador constituem os termos da
fração.
Exemplo 20

Indique o numerador e o denominador para as frações:


1
a) ;
6
2
b) ·
5
Solução:
a) numerador = 1 e denominador = 6;
b) numerador = 2 e denominador = 5.

39
40 Capítulo 3. Frações e suas Operações

3.3 Nomenclaturas das frações


As frações recebem nomeclaturas de acordo com o tipo de deno-
minador. Veja os casos abaixo:

3.3.1 Frações com denominadores de 1 a 10


Neste tipo de fração o denominador é pronunciado como: meio(s),
terço(s), quarto(s), quinto(s), sexto(s), sétimo(s), oitavo(s), nono(s)
e décimo(s).

Exemplo 21

Exemplos:
1
a) , lê-se um terço;
3
2
b) , lê-se dois quintos;
5
3
c) , lê-se três quartos;
4
2
d) , lê-se dois nonos;
9
7
e) , lê-se sete décimos.
10

3.3.2 Frações em que o denominador é uma potên-


cias de 10
Na fração em que o denominador é potência de 10, o denomina-
dor é lido como: décimo(s), centésimo(s), milésimo(s), décimo(s)
de milésimo(s), centésimo(s) de milésimo(s) e assim segue.
Assim, tem-se que

1
, lê-se um décimo;
10
1
, lê-se um centésimo;
100
1
, lê-se um milésimo;
1000
1
, lê-se um décimo de milésimo;
10 000
1
, lê-se um milionésimo.
1000 000
3.3. Nomenclaturas das frações 41

De modo geral, lê-se o numerador e o denominador, veja o


exemplo abaixo.

Exemplo 22

Exemplos:
3
a) , lê-se três décimos;
10
2
b) , lê-se dois centésimo;
100
33
c) , lê-se trinta e três milésimos;
1000
127
d) , lê-se cento e vinte sete décimos de milésimos;
10 000
5
e) , lê-se cinco milionésimos.
1000 000

3.3.3 Frações com denominadores diferentes dos


anteriores
Na fração em que o denominador não é um número de 1 a 10 e
nem é potência de dez, pronuncia-se a fração lendo o numerador
e após o denominador seguido pela palavra "avos".

Exemplo 23

Exemplos:
1
a) , lê-se um onze avos;
11
5
b) , lê-se cinco vinte e um avos;
21
4
c) , lê-se quatro cinquenta e cinco avos ;
55
17
d) , lê-se dezessete cento e vinte e um avos.
121

3.3.4 Uma forma simples de ler a fração


Uma maneira simples de ler uma fração, independente de seu
denominador, é da forma como exemplificada a seguir:
42 Capítulo 3. Frações e suas Operações

Exemplo 24

5
a) , lê-se cinco sobre oito;
8
15
b) , lê-se quinze sobre quarenta e três;
43
13
c) , lê-se treze sobre cem.
100

3.4 Tipos de Frações


Pode-se ainda dividir as frações em alguns tipos, de acordo com
seu numerador e denominador, que são frações próprias, impró-
prias, aparentes e particulares.

3.4.1 Frações próprias


São as frações em que o numerador é menor que o denominador.

Exemplo 25

1 2 3
, , ·
3 5 4

3.4.2 Frações impróprias


São as frações em que o numerador é maior ou igual ao denomi-
nador.

Exemplo 26

5 3 7
, , ·
2 3 4

3.4.3 Frações aparentes


São as frações em que o numerador é um múltiplo do numerador.

Exemplo 27

6 4 2
, , ·
3 1 2
3.4. Tipos de Frações 43

3.4.4 Frações particulares


Veja os seguintes casos:

Numa fração se o numerador é zero, tem-se que a fração é


zero.

Exemplo 28

0 0 0
= 0, = 0, = 0.
2 16 21

Se o denominador de uma fração é um, tem-se que a fração


é igual ao numerador.

Exemplo 29

2 5 150
= 2, = 5, = 150.
1 1 1

Se o denominador é zero, tem-se uma impossibilidade, pois


não existe a divisão de qualquer número x por zero.

Se o numerador e o denominador da fração são iguais, então


a fração é igual à um.

Exemplo 30

2 13 110
= 1, = 1, = 1.
2 13 110

3.4.5 Frações equivalentes


Sejam duas ou mais frações, elas serão equivalentes se represen-
tarem a mesma parte da quantidade total, ou seja, possuem o
mesmo valor.
Ao fazer a multiplicação (ou a divisão) dos termos de uma
fração por um mesmo número (diferente de zero), obtem-se uma
fração equivalente à fração original.
44 Capítulo 3. Frações e suas Operações

Exemplo 31

2
a)
5
4 4÷2 2
b) = =
10 10 ÷ 2 5
20 20 ÷ 5 4÷2 2
c) = = =
50 10 ÷ 5 10 ÷ 2 5

Note que as frações dos itens a, b e c são equivalentes.

3.4.6 Frações irredutíveis

A fração é denominada irredutível se o numerador e o denomina-


dor não possuem mais termos divisíveis entre si, ou seja, a fração é
irredutível se não é mais possível simplificar (veja Subseção 3.5.2).

Exemplo 32

Para as frações abaixo

2 4 11
, ,
3 5 100
note que, para qualquer uma delas, não existe forma de
simplificar a fração mais do que já está.

3.5 Comparação e simplificação de fração

3.5.1 Comparação

Para comparar uma fração com outra e saber se á maior ou menor,


avalia-se os numeradores e denominadores.
Assim, tem-se que:

a) Dadas duas frações com denominadores iguais, a maior fra-


ção é a que tem o maior numerador;
3.5. Comparação e simplificação de fração 45

Exemplo 33

Qual é a maior fração entre as frações abaixo:


2 3
a) b) ·
5 5
Solução:
Observe que o numerador 3 é maior que o numerador 2,
logo
3 2
> ·
5 5

b) Dadas duas frações, se os denominadores são diferentes,


tem-se que manipular as frações de maneira a chegar em um
denominador comum e aí aplicar a regra do item (a).

Exemplo 34

Sejam as frações,
2 3
e ·
5 4
Solução:
O mínimo múltiplo comum entre os denominadores 4 e 5 é
20. Assim,

2 8
=
5 20
3 15
=
4 20

agora, com os denominadores iguais, basta comparar os


numeradores. Assim, como 15 > 8 tem-se que

15 8
>
20 20

logo

3 2
∴ > ·
4 5
46 Capítulo 3. Frações e suas Operações

3.5.2 Simplificação
A simplificação de uma fração é obtida dividindo-se seus termos
(numerador e denominador) por um mesmo número de maneira a
obter termos menores que os iniciais, formando uma outra fração
e que é uma fração equivalente à primeira. Desta forma, pode-
se simplificar uma fração até chegar a sua forma irredutível (Se-
ção 3.4.6).

Exemplo 35

Simplifique a fração abaixo:

90
·
120
Solução:

90 90 ÷ 2 45
= =
120 120 ÷ 2 60
45 ÷ 3 15
= =
60 ÷ 3 20
15 ÷ 5
=
20 ÷ 5
3
=
4
3 90
∴ é uma fração equivalente à ·
4 120

3.6 Operações com frações

3.6.1 Adição e Subtração


A soma de frações, em que os denominadores são iguais, resulta
em uma fração em que o denominador é igual ao das parcelas,
mas o numerador resultante é a soma dos numeradores de cada
parcela.

Exemplo 36

Efetue a soma das frações:

1 3
+ ·
5 5
Solução:
1 3 1+3 4
+ = = ·
5 5 5 5
3.6. Operações com frações 47

A subtração de frações, em que os denominadores são iguais,


é constituída pela soma de fração positiva com fração negativa.
Desta forma, o denominador fica igual ao das parcelas, mas o nu-
merador resultante é dado pela diferença entre os numeradores.

Exemplo 37

Efetue a subtração das frações:


µ ¶
5 2
− ·
7 7

Solução:
É valido notar que a subtração é a soma de uma parcela
positiva com uma negativa. Veja,
µ ¶ µ ¶
5 2 5 2 5 −2 5 − 2 3
− = + − = + = = ·
7 7 7 7 7 7 7 7

Quando for somar ou subtrair frações, em que os denomi-


nadores são diferentes, deve-se reduzir as frações ao mesmo de-
nominador. Isso pode ser obtido pelo mínimo múltiplo comum.

Exemplo 38

Efetue as operações abaixo:

2 1 3 5
− + − ·
3 2 5 9
Solução:
O mínimo múltiplo comum, neste caso, é 90. Assim,

2 1 3 5 2 × 30 1 × 45 3 × 18 5 × 10
− + − = − + −
3 2 5 9 90 90 90 90
60 − 45 + 54 − 50
=
90
19
= ·
90

3.6.2 Multiplicação
O produto de duas frações resulta em outra fração, em que o nu-
merador resultante é obtido pela multiplicação dos numeradores
de cada fração e o denominador resultante é obtido pela multipli-
cação dos denominadores de cada fração.
48 Capítulo 3. Frações e suas Operações

Exemplo 39

Efetue as multiplicações abaixo:

1 3 7
× × ·
2 4 10
Solução:
Para realizar esta operação multiplica-se todos os nume-
radores para obter o numerador resultante e multiplica-
se todos os denominadores para obter o denominador
resultante,
1 3 7 21
× × = ·
2 4 10 80

Note que no processo de multiplicação você pode fazer sim-


plificações para obter uma fração equivalente, se for possível.

3.6.3 Divisão

A divisão de uma fração por outra é obtida ao multiplicar a pri-


meira fração pelo inverso da segunda fração.

Sejam a, b, c e d números inteiros, pode-se escrever que


a
b =a·d
c b c
d
onde, b 6= 0, c 6= 0 e d 6= 0.

Exemplo 40

Efetue a divisão abaixo:


3 2
÷ .
4 5
Solução:
3 2 3 5 3 × 5 15
÷ = × = = .
4 5 4 2 4×2 8
3.7. O Mínimo Múltiplo Comum nas Operações com Frações 49

Exemplo 41

Uma jarra contém 2 litros de suco de laranja. Um copo


cheio de suco comporta 1/4 de litro daquele suco. Quantos
copos pode-se encher com o suco da jarra?
Solução:
O número de copos que pode-se encher é obtido ao dividir
o total de suco da jarra pelo total de suco que cabe em um
copo. Assim,
2 litros 4
= 2 × = 8.
1 1
litro
4
Logo, pode-se encher 8 copos com o suco da jarra.

3.7 O Mínimo Múltiplo Comum nas Ope-


rações com Frações
Foram apresentados alguns conceitos sobre frações e suas opera-
ções e até usado o mínimo múltiplo comum (MMC).
Nesta seção será feita uma revisão básica de um procedi-
mento simples e propriedades referentes ao cálculo do MMC para
efetuar as operaçoes com frações.

Calcular o MMC de dois ou mais números inteiros sig-


nifica obter o menor número que é múltiplo desses
números simultaneamente.

Com o MMC podemos obter um denominador comum nas


operações com frações, o que facilita efetuar esse tipo de opera-
ção.

3.7.1 Fatoração dos Denominadores


Um procedimento comumente utilizado para se determinar o MMC
é através da fatoração simultânea dos denominadores. Assim,
conhecido os denominadores, dispoêm-se todos os números lado
a lado e faz-se a fatoração.
O MMC dos números x1 , x2 , x3 , . . ., xn será representado por

MMC(x1 , x2 , x3 , . . ., xn ).

Veja o exemplo a seguir que explica o procedimento.


50 Capítulo 3. Frações e suas Operações

Exemplo 42

Obtenha o MMC na operação abaixo e efetue a operação


com fração.
2 1
+ .
3 10
Solução:
Note que os denominadores são 3 e 10, então agrupa-se eles
lado a lado para fatorar, como segue

1º) 3 ; 10 ÷2
2º) 3 ; 5 ÷3
3º) 1 ; 5 ÷5
4º) 1 ; 1 30

Logo, temos que

M MC (3; 10) = 2 × 3 × 5 = 30.

Observe que:

1º) Procurou-se dividir 3 e 10 por 2. Ao dividir 3 por


dois não resulta inteiro (então não é possível), mas 10
dividido por dois resulta em 5. Após escreveu-se os
resultados na segunda linha com os valores divididos
e não divididos;

2º) Procurou-se dividir 3 e 5 por 3. Ao dividir 3 por 3


resultou 1, mas 5 dividido por três não resulta inteiro
(então não é possível). Após escreveu-se na terceira
linha os resultados divididos e não divididos;

3º) Agora, na terceira linha, para o valor 1 não houve


mais o que dividir (apenas repete ele na linha abaixo),
mas restou então dividir 5 por 5 e obteve-se 1.

O procedimento finaliza após obter uma linha final de


números 1.

O M MC foi obtido ao multiplicar os números usados


(2, 3 e 5) para dividir os denominadores 3 e 10.

Agora pode-se resolver a operação com fração, como segue

2 1 2 × 10 + 1 × 3 20 + 3 23
+ = = = .
3 10 30 30 30
3.8. Exercícios Propostos 51

Exemplo 43

Obtenha o MMC na operação abaixo e efetue a operação


com fração.
5 3 1
− + .
7 4 8
Solução:
Os denominadores são 7, 4 e 8, ao agrupá-los lado a lado
para fatorar, tem-se

7 ; 4 ; 8 2
7 ; 2 ; 4 2
7 ; 1 ; 2 2
7 ; 1 ; 1 7
1 ; 1 ; 1 56

Logo, temos que

M MC (7; 4; 8) = 2 × 2 × 2 × 7 = 23 × 7 = 56.

Assim,

5 3 1 5 × 8 − 3 × 14 + 1 × 7 40 − 42 + 7 5
− + = = = .
7 4 8 56 56 56

3.8 Exercícios Propostos


1) Simplifique, por divisões sucessivas, as frações abaixo:

36
a)
84
9
b)
36
25
c)
625

2) Resolva as expressões abaixo. Primeiramente determine o


mínimo múltiplo comum e após efetua as outras operações.

3 1
a) +
7 7
3 1 9
b) − +
10 10 10
4 2 18
c) + +
15 3 20
1 1 1
d) + −
5 125 625
52 Capítulo 3. Frações e suas Operações

3) Calcule as expressões abaixo, resolvendo primeiro o termo


entre parênteses.
µ ¶
2 1 3
a) +
5 5 10
µ ¶µ ¶
3 1 3 5
b) − +
8 4 4 9
µ ¶
1 8 9
c) + ·
6 3 10
µ ¶
21 1 1
d) ÷ ·
7 5 3

1
4) Na universidade, do seu gramado foi cortado pela manhã. Na
2
1
parte da tarde foi cortado mais do gramado. Quanto de grama
3
falta para cortar?

2
5) O recipiente de água para um cão tem capacidade para de
3
1
litro de água. Que fração desse recipiente foi enchido com litro
2
de água. Use operações com frações para esse cálculo.

6) Maria quer comprar um notebook, mas possui apenas R$80,00.


Conseguiu a metade do valor necessário com sua mãe e sua avó
1
contribuiu com do valor total. Mesmo com o que possui e com
5
1
a ajuda da sua mãe e da sua avó ainda falta do valor total para
4
completar o preço do notebook. Qual o preço do notebook que
Maria quer comprar?

a) R$ 1400,00

b) R$ 1500,00

c) R$ 1600,00

d) R$ 1700,00

e) R$ 1800,00

7) Um maratonista treinando completou 5 voltas e meia correndo


ao longo de uma pista circular. Em seguida, inverteu o sentido e
correu mais quatro voltas e um terço, faltando percorrer 40 m
para chegar ao ponto de início. Qual o comprimento, em metros,
da pista de corrida?
3.8. Exercícios Propostos 53

8) Qual o resultado da expressão


µ ¶µ ¶µ ¶ µ ¶
1 1 1 1
1− 1− 1− ... 1− ?
2 3 4 100

9) A velocidade média é a razão entre a distância percorrida e o


intervalo de tempo para completar o percurso. Determine a
velocidade média para os casos a seguir:

a) Uma navegação de 500 quilômetros que demorou 10 horas.

b) Uma corrida de 9000 metros que foi completada em 30


minutos.

c) Uma corrida de 200 metros em 20 segundos

10) Determine o resultado para cada uma das expressões abaixo:


1
a)
1
1+
1
1+
1
1−
2
1
b)
2
1+
3
1+
1
4
54 Capítulo 3. Frações e suas Operações
4
TRIGONOMETRIA

4.1 Introdução
Derivada da língua grega, a palavra trigonometria significa o es-
tudo das relações entre as medidas de ângulos e lados nos triân-
gulos retângulos (trigono = triângulo e metria = medida), mas não
se sabe ao certo se o conceito da medida de ângulo surgiu com
os gregos. As relações trigonométricas são dedicadas a estudar
as relações entre os lados e ângulos de triângulos, mas pode-se
dizer que o início do desenvolvimento da trigonometria se deu
principalmente devido aos problemas gerados pela astronomia,
agrimensura e as navegações, por volta do século IV ou V a.C., com
os egípcios e babilônios.
Os primeiros avanços em trigonometria vieram principal-
mente em trigonometria esférica, devido a sua aplicação em astro-
nomia. A astronomia esférica, ou astronomia de posição, se refere
às direções nas quais os astros são vistos, expressas em termos
das posições sobre a superfície de uma esfera, a chamada esfera
celeste. Essas posições são medidas em ângulos. Os três principais
responsáveis reconhecidos pelo desenvolvimento da trigonome-
tria grega são Hiparco, Menelau e Ptolomeu.
Hiparco é o primeiro estudioso conhecido pela utilização
sistemática da trigonometria. Alguns historiadores dizem até que
foi ele quem inventou a trigonometria. Ele é reconhecido como Figura 4.1: Relógio solar.
astrônomo, construtor, cartógrafo e matemático da escola de Ale-
xandria. Construiu um observatório na ilha de Rodes, onde fez
observações no período de 160 a 127 aC, e compilou um catálogo
com a posição no céu e a magnitude de 850 estrelas. A magnitude,
que especificava o brilho da estrela, era dividida em seis catego-
rias, de 1 a 6, sendo 1 a mais brilhante e 6 a mais fraca visível a olho
nu. Hiparco deduziu corretamente a direção dos polos celestes,
e até mesmo a precessão, que é a variação da direção do eixo de
rotação da Terra devido à influência gravitacional da Lua e do Sol,
que leva 26000 anos para completar um ciclo. Deduziu o valor
55
56 Capítulo 4. Trigonometria

correto de 8/3 para a razão entre o tamanho da sombra da Terra e


o tamanho da Lua, e determinou que a distância Terra-Lua é cerca
de 59 vezes o raio da Terra; o valor correto é 60. Ele ainda deter-
minou a duração do ano com uma margem de erro de 6 minutos.
Usando conhecimentos dos babilônios introduziu na Grécia a di-
visão da circunferência em 360°. Ele dividiu o diâmetro em 120
unidades e expressou quantidades menores do que graus como
frações sexagesimais no estilo babilônico. Efetuou ainda previ-
sões de eclipses do Sol e da Lua com um grau de precisão jamais
obtida antes. Foi ele que criou o primeiro astrolábio destinado
a medir a distância de qualquer astro em relação ao horizonte,
e concebeu o sistema de localização pelo cálculo de longitude e
latitude, dividindo o mundo em zonas climáticas. Hoje, Hiparco

Figura 4.2: Astrolábio.

é considerado o fundador da astronomia científica e é chamado


por alguns de o pai da trigonometria, pois na segunda metade do
século II aC foi o pioneiro na elaboração de uma tábua de cordas
(tabela trigonométrica), com os valores dos seus arcos para uma
série de ângulos.
Figura 4.3: Menelau de Sabe-se muito pouco sobre a vida de Menelau, que parece
Alexandria (70-130 aC) ter vivido em Alexandria, Egito e em Roma. Há registos de Ptolo-
meu sobre observações astronômicas feitas por Menelau em Roma.
Sabe-se pelos registros encontrados que ele escreveu "O Livro das
Proposições Esféricas", "Sobre o Conhecimento dos Pesos e a Dis-
tribuição de Diferentes Corpos", três livros sobre "Elementos de
Geometria", um outro "O Livro sobre o Triângulo", e teria escrito
ainda um texto sobre mecânica, mas apenas o primeiro chegou
aos nossos dias. Menelau foi o primeiro a escrever a definição de
triângulos esféricos, i.e., o espaço incluído entre arcos de círculos
máximos na superfície de uma esfera. Seus trabalhos introdu-
ziram importantes avanços na trigonometria esférica, principal-
mente voltados à Astronomia. Ptolomeu menciona que Menelau
trabalhou em Roma no ano 98 aC e que ele escreveu um tratado
4.1. Introdução 57

de seis livros, mas que foram todos perdidos. Seu único trabalho
encontrado é um de três livros chamado Sphaerica, cujo livro ter-
ceiro contém algumas excelentes informações sobre o desenvol-
vimento da trigonometria e é o mais antigo texto versando sobre
trigonometria esférica. A versão grega do texto está perdida, e tudo
o que resta é uma versão árabe traduzida mil anos depois do origi-
nal. Infelizmente vários tradutores ao longo dos anos tiveram seu
comentário incluído no trabalho, e torna-se então difícil separar o
texto original dos comentários.
Ptolomeu foi o último astrônomo importante da antigui-
dade. Não se sabe se ele era egípcio ou romano. Ele compilou
uma série de treze volumes sobre astronomia, conhecida como o
Almagesto, que é a maior fonte de conhecimento sobre a astrono-
mia na Grécia, onde aparecem numerosas referências a Hiparco,
o que permitiu reconstituir partes do seu pensamento e das suas
descobertas.
O dispositivo de medição mais antigo encontrado em todas
as civilizações é a vareta e sua sombra. Esta foi usada também
para observar o movimento do Sol e para contar o tempo. Este
instrumento hoje é chamado de Gnomon. O nome vem do grego
e refere-se a qualquer instrumento em forma de L, originalmente
usado para desenhar um ângulo reto. O conjunto de funções
trigonométricas tangente e cotangente foi desenvolvido a partir
do estudo dos comprimentos de sombras projetadas por objetos
de várias alturas. Tales utilizou comprimentos de sombra para
calcular as alturas das pirâmides por volta de 600 aC.

Figura 4.4: Vareta e sombra.

Sol

Vista lateral

l (altura do gnomon)

θ (altitude do sol) l
tan(θ) =
d d
(comprimento da sombra)

Ambos os conhecimentos matemáticos indiano e árabe de-


senvolveram uma tradição trigonométrica com base em compri-
mentos da sombra de uma vareta, uma tradição que, por sua vez,
influenciou a matemática europeia. Vale mencionar que o dispo-
sitivo de medição mais caro construído até hoje é o Grande Colisor
58 Capítulo 4. Trigonometria

de Hádrons (LHC, de "Large Hadron Collider"), construído em


Genebra.

Figura 4.5: Gnomon.

A trigonometria é pois um ramo da matemática que estuda


as relações entre os comprimentos de dois lados de um triângulo
retângulo (onde um dos ângulos mede 90°) para diferentes valores
de um dos seus ângulos agudos. Nestes são definidas relações para
os chamados ângulos notáveis, 30°, 45° e 60°, que possuem valores
constantes representados pelas relações seno, cosseno e tangente.
Nos triângulos que não possuem ângulo reto as condições são
adaptadas na busca pela relação entre os ângulos e os lados. As
funções trigonométricas seno, cosseno e tangente surgem com
muita frequência na resolução de problemas em todos os ramos
da Física.

4.2 Ângulos e arcos de circunferência


Duas retas num plano e que se interceptam em um ponto O divi-
dem o plano em quatro regiões (Fig. 4.6). Cada uma dessas regiões
compreende um ângulo ou arco de circunferência. Todo arco de
circunferência tem um ângulo central que o subtende.

Figura 4.6: Retas e ângulos.

r1
B >
arco AB (comprimento s)
b
ângulo central AOB
α
θ
O
r2
γ A
β α=β
γ=θ
r 1 ,r 2 : retas

A medida do arco é a medida do ângulo central que o sub-


tende, independente do raio da circunferência que contém o arco.
4.2. Ângulos e arcos de circunferência 59

Já o comprimento do arco (s) que é a medida linear do arco, é dada


em centímetros, metros, quilomêtros, etc.
As unidades mais utilizadas para medir ângulos ou arcos de
circunferência são o grau e o radiano.

4.2.1 Medida em graus


1
Grau é o ângulo unitário equivalente a 90 do ângulo reto. Também,
ao dividir uma circunferência em 360 partes iguais, uma dessas
partes corresponde à um grau (1°). Assim, uma volta completa
numa circunferência varre um arco de 360°.

Figura 4.7: Medida de arcos em graus.

A B A
O O

> >
arco AB de 90° arco AB de 180°
(um quarto de volta) (meia volta)

4.2.2 Medida em radianos


Radiano (rad) é o ângulo unitário cujos lados determinam um arco
numa circunferência de comprimento igual ao seu raio.

Figura 4.8: Medida de arco em radiano.

B
>
AB =1 rad
b = 1 rad
AOB
O r A

Definição 4.2.1. Denomina-se radiano o arco unitário cujo com-


primento é igual ao raio da circunferência que o contém.

1 radiano = 1 rad
60 Capítulo 4. Trigonometria

Meia volta em uma circunferência varre um arco de π rad e


uma volta completa numa circunferência varre um arco de 2π rad.

4.2.3 Conversão graus-radianos


Na física e na matemática, muitas vezes, é interessante fazer con-
versões de graus para radianos ou de radianos para graus. Abaixo
seguem duas regras básicas para fazer estas conversões:

1. Para converter graus em radianos, multiplique os graus por


π rad
.
180°
2. Para converter radianos em graus, multiplique os radianos
180°
por .
π rad
Assim, para converter medidas de arcos de radianos para
graus ou vice-versa, podemos usar a seguinte relação de equiva-
lência:

π rad = 180°

Exemplo 44

Escreva 45°em radianos.

Solução:

grau radiano
180° —– π rad
45° —– x

π rad × 45° π
x= ⇒ ∴ x = rad.
180° 4

Exemplo 45

π
Escreva rad em graus.
3
Solução:

grau radiano
180° —– π rad
π
x —– rad
3
180° π
x= rad ⇒ ∴ x = 60°.
π rad 3
4.3. A circunferência trigonométrica e a determinação dos quadrantes 61

4.3 A circunferência trigonométrica e a de-


terminação dos quadrantes
Na Trigonometria os arcos e ângulos são medidos entre 0° e 360°.
Não há pois sentido tratar com um ângulo de, digamos, 840°. Para
isto utiliza-se uma circunferência orientada, também chamada de
circunferência trigonométrica ou circunferência unitária, como
ilustrado na Fig. 4.9. As características desta circunferência ori-
entada são as seguintes:

o centro está na origem de um sistema de coordenadas car-


tesianos;

o sentido de circulação positivo é o anti-horário;

os arcos são desenhados a partir do semi-eixo x positivo


(ponto A na Fig. 4.9);

o raio é unitário.

Figura 4.9: Circunferência trigonométrica.

(0, 1) B sentido positivo


anti-horário

C A
x
(−1, 0) O (1, 0)
1

horário
(0, −1) D sentido negativo

A partir de um ponto numa circunferência temos então dois


sentidos de circulação: horário (negativo) e anti-horário (posi-
tivo). A medida de um arco será positiva caso seja feita no sentido
positivo e negativa no sentido inverso. Verificamos então que todo
número real pode ser a medida de um arco numa circunferência
trigonométrica.

Definição 4.3.1. Definimos arcos congruentes (ou côngruos) como


sendo aqueles cujas medidas diferem por um múltiplo de 360° ou
2π rad.
62 Capítulo 4. Trigonometria

Assim,
Se um dado arco mede θ, em graus, os arcos côngruos a ele
podem ser dados pela expressão

θ ′ = θ + k 360°

com k ∈ Z.

Se um dado arco mede θ, em radianos, os arcos côngruos a


ele podem ser dados pela expressão

θ ′ = θ + k 2π

com k ∈ Z.

Um arco de 1a¯ volta positiva associado à um ponto da cir-


cunferência, entre 0 e 2 π, é a primeira determinação de
qualquer outro arco côngruo associado ao mesmo ponto.

Exemplo 46

Mostre que os arcos, da circunferência trigonométrica,

−1000°, −640°, −280°, 80°, 440°, 800°

. são congruentes.

Solução:

−1000° = 80° − 3 × 360°

−640° = 80° − 2 × 360°

−280° = 80° − 1 × 360°

440° = 80° + 1 × 360°

800° = 80° + 2 × 260°

Assim, o menor arco não negativo côngruo aos demais


é o arco de 80°, ou seja, todos os arcos são côngruos e
associados ao ângulo de 80°.

A circunferência trigonométrica pode ser dividida em quatro


partes iguais, chamadas quadrantes, cada um desses varrendo um
arco ou ângulo de 90°.
Na Fig. 4.10 o sistema de coordenadas cartesiano divide a
circunferência de raio unitário em 4 partes congruentes, do 1o¯ ao
4o¯ quadrantes contados a partir de A no sentido anti-horário.
4.4. Triângulo retângulo 63

Figura 4.10: A circunferência trigonométrica e os quadrantes.

y y

90° B π/2 B

2o¯ 1o¯ 2o¯ 1o¯


C quadrante quadrante A C quadrante quadrante A
x π x
180° 3o¯ 4o¯ 360° 3o¯ 4o¯ 2π
quadrante quadrante quadrante quadrante

270° D 3π/2 D
(a) Ângulos em graus. (b) Ângulos em radianos.

4.4 Triângulo retângulo


Um triângulo retângulo é aquele em que um dos seus ângulos é
reto, i.e., mede 90°. Sendo que a soma dos ângulos de qualquer
triângulo é 180°, a soma dos demais ângulos num triângulo re-
tângulo é também 90°. O lado oposto ao ângulo reto chama-se
hipotenusa, e os demais lados chamam-se catetos. Por comodi-
dade, daqui em diante não faremos distinção entre um ângulo e
sua medida, ou entre segmento de reta e sua medida.
Em um triângulo retângulo são definidas as seguintes rela-
ções (adimensionais):

cateto oposto ao ângulo


seno de um ângulo agudo = ,
hipotenusa
cateto adjacente ao ângulo
cosseno de um ângulo agudo = ,
hipotenusa
cateto oposto ao ângulo
tangente de um ângulo agudo = .
cateto adjacente ao ângulo

Figura 4.11: Triângulo retângulo.

a α
c a: hipotenusa

θ b, c: catetos

b
64 Capítulo 4. Trigonometria

No triângulo retângulo da Fig. 4.11 temos então que:

c
sen θ = (4.1)
a
b
cos θ = (4.2)
a
c
tan θ = (4.3)
b
Igualmente

b
sen α = (4.4)
a
c
cos α = (4.5)
a
b
tan α = (4.6)
c

Exemplo 47

Dado o triângulo retângulo, abaixo, calcule:

5 α a) sen(α) d) sen(β)
3 b) cos(α) e) cos(β)
c) tan(α) f) tan(β)
β
4

Solução:
4 3
a) sen(α) = d) sen(β) =
5 5

3 4
b) cos(α) = e) cos(β) =
5 5

4 3
c) tan(α) = f) tan(β) =
3 4

O teorema de Pitágoras estabelece que "a soma dos quadra-


dos dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa". Aplicando o
teorema de Pitágoras no triângulo retângulo da Fig. 4.12 podemos
observar que:
a2 = b2 + c 2. (4.7)

Se dividirmos a Eq. 4.7 por a resulta em

b2 c 2
1= + . (4.8)
a2 a2
4.4. Triângulo retângulo 65

Figura 4.12: O teorema de Pitágoras.

B Observe que os termos


a a 2 , b 2 e c 2 da Eq. 4.7 são
a áreas, respectivamente,
c
dos quadrados de lados
c a, b e c da Fig. 4.12.
C b A

Substituindo as Eq. 4.1 e 4.2 na Eq. 4.8 temos, então, uma im-
portante identidade trigonométrica válida para qualquer ângulo
agudo:

sen2 θ + cos2 θ = 1

Exercício 1 
Um quadrado tem um lado igual a a. Calcule o compri-
mento da diagonal que liga dois vértices opostos. Desenhe
esta diagonal no quadrado. Identifique os ângulos internos.
Calcule para um dos triângulos retângulos: sen 45°, cos 45°
e tan 45°.

Ângulos complementares são aqueles cuja soma dá 90°. As-


sim, o complementar de um ângulo θ é igual a (90°−θ) (ou π/2−θ).
Disto resulta que para ângulos complementares o seno de um é
igual ao cosseno do outro.

Exemplo 48

Igualdade do seno de um ângulo com o cosseno de seu


ângulo complementar.

sen 20° = cos 70° sen 60° = cos 30°


sen 45° = cos 45° sen π/4 = cos π/4
sen 30° = cos 60° sen π/3 = cos π/6
66 Capítulo 4. Trigonometria

Na Fig. 4.13 está descrito ângulos, com seus respectivos se-


nos e cossenos, mais comumente utilizados em problemas da fí-
sica.

Figura 4.13: Circunferência trigonométrica e ângulos mais utiliza-


dos.

³ p ´ (0, 1) ³ p ´
− 21 , 23 1
,
2 2
3
³ p p ´ ³p p ´
− 22 , 22 π 2
2
, 22
2
³ p ´ 2π π ³p ´
3 1 3 3 3 1
− 2 ,2 3π π ,
2 2
4 4
5π 90° π
6
120° 60° 6

150° 30°
(−1, 0) (1, 0)
π 180° 360°
0° 2π x

210° 330°
7π 11π
6 240° 300° 6
³ p ´ 270° ³p ´
5π 7π
3 1 3
− 2
, − 2
4 4
2
, − 12
4π 5π
³ p p ´ 3 3π 3 ³p p ´
− 22 , − 22 2
2
2
, − 2
2
³ p ´ ³ p ´
3 3
− 21 , − 2
1
2
, − 2
(0, −1)

4.5 Funções trigonométricas


Como dito antes, as relações trigonométricas são definidas para
um triângulo retângulo. Podemos inserir este triângulo retângulo
numa circunferência trigonométrica como mostrado na Fig. 4.14.
A posição inicial da linha de partida é o lado OB, e a posição final
após a rotação é o outro lado OC. O ponto de intersecção é o vér-
tice do ângulo. Pode-se assim definir um sistema de coordenadas
em que a origem (O) é o vértice do ângulo, e o lado inicial coincide
com o semi-eixo x positivo. Como já visto, os ângulos gerados
pela rotação anti-horária são positivos, e ângulos negativos são
aqueles gerados pela rotação horária. Os ângulos geralmente são
rotulados com letras gregas. Um radiano (rad) é a medida de um
ângulo central θ que intercepta um arco BCØ de comprimento igual
4.5. Funções trigonométricas 67

ao raio R do círculo. Daí

Ø = θ · R.
BC (4.9)

Figura 4.14: Seno e cosseno na circunferência trigonométrica.

sen (θ)
θ B
x
−1 O cos(θ) A 1

−1

Ø numa circunferência trigo-


Considere um arco orientado BC
nométrica como mostrado na Fig. 4.14. Este descreve uma rotação
no sentido anti-horário a partir do semi-eixo x positivo, descre-
vendo assim um ângulo θ. Ao conectar a origem da circunferência
com a extremidade do arco BCØ desenhamos assim um triângulo
retângulo OAC. Neste triângulo definimos as relações trigonomé-
tricas a seguir.

Seno de um ângulo agudo num triângulo retângulo é a razão


que existe entre a medida do cateto oposto a esse ângulo e a
medida da hipotenusa desse triângulo.

AC
sen θ = (4.10)
OC

Cosseno de um ângulo agudo num triângulo retângulo é a


razão que existe entre a medida do cateto adjacente a esse
ângulo e a medida da hipotenusa desse triângulo.

OA
cos θ = (4.11)
OC

Tangente de um ângulo agudo num triângulo retângulo é


a razão que existe entre a medida do cateto oposto a esse
68 Capítulo 4. Trigonometria

ângulo e a medida do cateto adjacente ao mesmo ângulo.

AC
tan θ = (4.12)
OA
A tangente de um ângulo agudo é então igual a razão que
existe entre o seno e o cosseno do mesmo ângulo. Essa
igualdade pode ser obtida substituindo as Eq. 4.10 e 4.11 na
Eq. 4.12, o que resulta,

sen θ
tanθ = (4.13)
cos θ

Ø é igual ao ângulo
Sendo o raio unitário, a medida do arco BC
Ø
θ, e assim as relações acima são as mesmas para o arco BC.
Sendo estas razões entre grandezas da mesma espécie re-
sulta daí que tais relações são números puros. Ademais, em todo
triângulo retângulo o seno de um ângulo agudo é igual ao cosseno
do seu complemento. Em todo triângulo retângulo a tangente de
um ângulo agudo é igual ao inverso da tangente do seu comple-
mento. Como na circunferência trigonométrica o raio é unitário,
observe que o valor numérico do seno de qualquer ângulo corres-
pondente a um arco é exatamente igual a sua projeção sobre o eixo
y, e assim, varia de +1 a −1. O mesmo vale para o cosseno, cuja
projeção é sobre o eixo x.

Figura 4.15: Eixo da tangente na circunferência trigonométrica.

C D

1 tan(θ)
sen (θ)
θ B
−1
O cos(θ) A 1

−1

Veja a ilustração na Fig. 4.15 onde são mostradas as pro-


jeções do seno e cosseno de um dado ângulo θ sobre os eixos
ortogonais na circunferência trigonométrica.
Com relação a arcos nos diferentes quadrantes da circunfe-
4.5. Funções trigonométricas 69

rência trigonométrica podemos estabelecer o seguinte:

! O seno de um arco do 2 quadrante será então positivo, tal que,


o
¯
sen θ = sen(π − θ).

! O seno de um arco do 3 quadrante será então negativo, tal


o
¯
que, sen θ = −sen(θ − π).

! O seno de um arco do 4 quadrante será então negativo, tal


o
¯
que, sen θ = −sen(−θ).

! O cosseno de um arco do 2 quadrante será então negativo, tal


o
¯
que, cos θ = − cos(π − θ).

! O cosseno de um arco do 3 quadrante será então negativo, tal


o
¯
que, cos θ = − cos(θ − π).

! O cosseno de um arco do 4 quadrante será então positivo, tal


o
¯
que, cos θ = cos(−θ).

Referindo novamente à Fig. 4.15, veja que o chamado eixo


das tangentes é aquele correspondente a reta tangente à circunfe-
rência no ponto correspondente ao início da medida de um arco
positivo (ponto B).

! a tangente de um arco do 2 quadrante será então negativa, tal


o
¯
que, tan θ = − tan(π − θ).

! a tangente de um arco do 3 quadrante será então positiva, tal


o
¯
que, tan θ = tan(θ − π).

! a tangente de um arco do 4 quadrante será então negativa, tal


o
¯
que, tan θ = − tan(−θ).

Podemos ainda definir as relações seguintes:

1
cot θ = (4.14)
tan θ
cos θ
cot θ = (4.15)
senθ
1
sec θ = (4.16)
cos θ
1
csc θ = (4.17)
senθ

Considerando que sen2 θ + cos2 θ = 1, segue que

sen2 θ cos2 θ 1
+ =
cos θ cos θ cos2 θ
2 2

logo,

tan2 θ + 1 = sec2 θ. (4.18)


70 Capítulo 4. Trigonometria

Ou então, podemos escrever,

sen2 θ cos2 θ 1
+ =
sen θ sen θ sen2 θ
2 2

que nos fornece como resultado.

1 + cot2 θ = csc2 θ. (4.19)

Exemplo 49

Demonstrar a identidade
1 + senθ cos θ
=
cos θ 1 − senθ
Solução:

Fazemos assim

1 + senθ cos θ (1 + senθ)(1 − senθ) − cos2 θ


− = =
cos θ 1 − senθ cos θ(1 − senθ)

1 − sen2 θ − cos2 θ 0
= = =0
cos θ(1 − senθ) cos θ(1 − senθ)
Daí
1 + senθ cos θ
= .
cos θ 1 − senθ

Tabela 4.1: Valores das funções trigonométricas para ângulos


comuns

ângulos → 0° 30° 45° 60° 90°

f (θ) ↓
p p
1 2 3
senθ 0 1
p2 p2 2
3 2 1
cos θ 1 0
p2 2 2
3 p
tan θ 0 1 3 -
3 p
p 2 3
csc θ - 2 2 1
p 3
2 3 p
sec θ 1 2 2 -
3 p
p 3
cot θ - 3 1 0
3
4.5. Funções trigonométricas 71

Na Tab. 4.1 são mostrados alguns resultados para as funções


trigonométricas. Ao final deste capítulo, na Tab. 4.2 são apresenta-
das algumas relações fundamentais e identidades trigonométricas
que podem ser muito úteis na resolução de problemas.
Nas seções a seguir são apresentadas, com mais detalhes,
algumas funções trigonométricas e seus gráficos.

4.5.1 Função seno


Definição 4.5.1. Denomina-se função seno a função definida de R
em R por
f (x) = sen(x). (4.20)

Do gráfico da função seno, na Fig. 4.16, você pode observar


que:
π
No intervalo de 0 a o seno cresce de 0 a 1;
2
π
No intervalo de a π o seno decresce de 1 a 0;
2

No intervalo de π a o seno decresce de 0 a -1;
2

No intervalo de a 2π o seno cresce de -1 a 0.
2

Figura 4.16: Gráfico da senoide.

sen (x)
0 x(rad)
π π 3π 2π
2 2
−1

Note que a função f (x) = sen(x) repete-se periodicamente a


cada 2π.

Definição 4.5.2. Uma função f é denominada periódica sempre


que existe um número T > 0, tal que, para todo x do domínio de f
tem-se
f (x) = f (x + T ).
O menor valor positivo de T que satisfaz essa igualdade é chamado
período da função.
72 Capítulo 4. Trigonometria

Logo, a função f (x) = sen(x) é uma função periódica de


período 2π. Então, podemos escrever que

sen(x) = sen(x + k 2π), ∀x ∈ R e ∀k ∈ Z

Com base no gráfico da função sen(x), também denominado


de senoide, pode-se escrever que
( ¡ ¢
D f =R
f (x) = sen(x) ⇒ ¡ ¢ (4.21)
Im f = [−1, 1]

4.5.2 Função cosseno


Definição 4.5.3. Denomina-se função cosseno a função definida
de R em R por
f (x) = cos(x) (4.22)
Do gráfico da função cosseno, na Fig. 4.17, você pode obser-
var que:
π
No intervalo de 0 a o cosseno decresce de 1 a 0;
2
π
No intervalo de a π o cosseno decresce de 0 a -1;
2

No intervalo de π a o cosseno cresce de -1 a 0;
2

No intervalo de a 2π o cosseno cresce de 0 a 1.
2

Figura 4.17: Gráfico da cossenoide.

1 cos (x)

0 θ(rad)
π π 3π 2π
2 2
−1

Para a função f (x) = cos(x), se aumentarmos o intervalo


do domínio do função, pode-se verificar que o cosseno passa a
repetir, em idênticas condições, os valores da primeira volta.
Desta forma, pode-se verificar que a função f (x) = cos(x)
é uma função periódica de período igual a 2π. Então, podemos
escrever que

cos(θ) = cos(θ + k 2π), ∀ θ ∈ R e ∀ k ∈ Z.


4.5. Funções trigonométricas 73

Com base no gráfico da função cos(x), também denominado


de cossenoide, pode-se escrever que
( ¡ ¢
D f =R
f (x) = cos(x) ⇒ ¡ ¢ (4.23)
Im f = [−1, 1]

4.5.3 Funções do tipo f (x) = a + b sen(k x + δ) e


f (x) = a + b cos(k x + δ)
Agora você já sabe como trabalhar com as funções seno e cosseno.
Então, vamos explorar um pouco o comportamento das funções
trigonométricas nas formas,

f (x) = a + b sen(kx + δ) (4.24)


f (x) = a + b cos(kx + δ) (4.25)

onde a, b, k e δ são constantes (b 6= 0 e k 6= 0).


Vamos dizer, por exemplo, que sen(x) seja uma função na
forma padrão e tenha o gráfico padrão (Fig. 4.16). Temos que:

A constante a translada o gráfico padrão de a na vertical.

– Se a > 0, o gráfico "sobe"de a unidades;


– Se a < 0, o gráfico "desce"de |a| unidades;

A constante b dilata ou comprime o gráfico, de |b| vezes, na


vertical. Na física esta constante é chamada de amplitude.

– Se |b| > 1, temos |b| sen(x) > sen(x), então o gráfico


dilata;
– Se 0 < |b| < 1, temos |b| sen(θ) < sen(θ), então o gráfico
comprime;
– Se b < 0, o gráfico fica simétrico, em relação ao eixo x,
ao original com b > 0.

A constante k, que multiplica a variável x altera o período


2π da função senoidal, ou seja, dilata ou comprime o gráfico
padrão na horizontal.

– Toda função na forma sen(kx) com k = 1 tem período


2π;
– Se |k| > 1 o período da função diminui, ou seja, o grá-
fico comprime na horizontal de |k| vezes;
– Se 0 < |k| < 1 o período da função aumenta, ou seja, o
gráfico dilata na horizontal de |k| vezes.
74 Capítulo 4. Trigonometria

Nota. Seja uma função periódica f (x) com período T , en-


tão, uma função periódica f (kx) com k 6= 0, é periódica de
período
T
T′ = . (4.26)
|k|
¯ ¯
¯δ¯
A constante δ translada o gráfico padrão em ¯¯ ¯¯ unidades na
k
horizontal.
¯ ¯
¯δ¯
– Se δ > 0, o gráfico translada ¯¯ ¯¯ unidades para a es-
k
querda;
¯ ¯
¯δ¯
– Se δ < 0, o gráfico translada ¯¯ ¯¯ unidades para a direita;
k

Exemplo 50

Faça o esboço de f (x) = 3 sen(x) no intervalo de [0; 2π].

Solução:

Na função f (x) = 3 sen(x) temos a constante b = 3 e a


constante k = 1. Desta forma, a imagem da função sen(x)
vai ser multiplicada por 3 (amplitude 3). Veja,

×3
−1 ≤ sen(x) ≤ 1 =⇒ −3 ≤ 3 sen(x) ≤ 3

e ao esboçar o gráfico no intervalo de [0; 2π] temos,

3
3 sen(x)
2
sen(x)
1
3π/2
0 x(rad)
π/2 π 2π
−1

−2

−3

Você pode observar que o período da função é 2π, haja vista


que o valor de k = 1.
4.5. Funções trigonométricas 75

Exercício 2 
Para a função f (x) = 2 cos(x) a) encontre o período da
função, b) esboce o gráfico de f (x) no intervalo de [0; 2π]
e c) determine o conjunto imagem de f .

Exemplo 51

Faça o esboço de f (x) = 3 sen(2x) no intervalo de [0; 2π].

Solução:

Note que na função f (x) = 3 sen(2x) temos a constante b =


3 e a constante k = 2. O intervalo da imagem continua o
mesmo da função 3 sen(x) do Exemplo 16.

3
3 sen(2 x)
2

1
π/2 π 3π/2
0 x(rad)
π/4 2π
−1

−2
sen(x)
−3

Observe que o período da função padrão, sen(x), é T = 2π.


Entretanto, o período T ′ da função f (x) = 3 sen(2x) é obtido
por
2π 2π
T′ = = ⇒ ∴ T = π.
|k| 2

Exercício 3 
Dadas as funções abaixo a) encontre o período da função,
b) esboce o gráfico de f (x) no intervalo de [0; 2π] e c)
determine o conjunto imagem de f .
³x´ 3
a) f (x) = 2 sen b) f (x) = − cos (2 x)
3 2
76 Capítulo 4. Trigonometria

Exemplo 52
³ π´
Faça o esboço de f (x) = 1 + 2 sen 4 x + no intervalo de
2
[0; 2π].

Solução:

Ao construir o gráfico da função f (x) temos:

0 x(rad)
π/2 π 3π/2 2π
−1
³ π´
−2 1 + 2 sen 4 x + sen(x)
2
Da função f (x) temos que: a = 1, o que desloca o gráfico
para cima de 1 unidade; b = 2, o que fornece a amplitude de
2 unidades; k = 4, o que comprime o gráfico na horizontal
em 4 vezes, onde o período T ′ de f (x) é obtido por

2π 2π π
T′ = = ⇒ ∴T= .
|k| 4 2
π
Com δ = , o gráfico translada de
2
¯ ¯ ¯ ¯
¯ δ ¯ π/2 ¯δ¯ π
¯ ¯= ⇒ ∴ ¯¯ ¯¯ = (unidades)
¯k ¯ 4 k 8

para a esquerda.

Exercício 4 
Dadas as funções abaixo a) encontre o período da função, b)
esboce o gráfico de f no intervalo de [0; 2π] e c) determine
o conjunto imagem de f .
π ³π π´
a) f (x) = 2 + sen(πx − 3) c) f (t ) = − sen x +
2 2 4
³π π´ π4 ³π π´
b) f (t ) = 1 + cos x + d) f (t ) = − cos x +
2 4 4 2 4
4.5. Funções trigonométricas 77

Exercício 5 
Uma pessoa está andando em uma roda gigante. De acordo
com a especificação, em uma placa, a altura que a pessoa
estaria em relação ao solo é dada aproximadamente pela
função ³π π´
h(t ) = 10 + 9 sen t−
20 2
onde, t é medido em segundos e h em metros.

a) Qual é o raio da roda gigante?

b) Qual o significado da constante 10?

c) Qual a altura, máxima e mínima, que a pessoa adquire


em relação ao solo?

d) Qual é o tempo necessário para a pessoa completar


uma volta?

4.5.4 Função tangente


Definição 4.5.4. Denomina-se função tangente a função

f (x) = tan(x) (4.27)

definida no domínio
π
x ∈ R | x 6= + kπ, k ∈ Z.
2
A função tangente é periódica com período igual a π, o que
indica que a cada meia volta a função repete-se em idênticas con-
dições.

Você pode observar na Fig. 4.18 o seguinte:


π
No intervalo de − a 0 a função tangente cresce de −∞ a 0;
2
π
No intervalo de 0 a a função tangente cresce de 0 a ∞.
2
Desta forma, temos que
 ¡ ¢ n o
D f = x ∈ R | x 6= π + kπ (k ∈ Z)
f (x) = tan(x) ⇒ 2 (4.28)
Im ¡ f ¢ = R
78 Capítulo 4. Trigonometria

Figura 4.18: Gráfico da função tangente.

0 x(rad)
3π −π π π π π 3π
− −
2 2 −1 4 2 2

−2

−3

4.5.5 Função cotangente


O período para a função cotangente, também, é igual a π (veja
Fig. 4.19).

Figura 4.19: Gráfico da função cotangente.

x(rad)
−π π 0 π π π 3π 2π

2 −1 4 2 2

−2

−3

Para a cotangente, temos


( ¡ ¢
D f = {x ∈ R | x 6= kπ} (k ∈ Z)
f (x) = cot(x) ⇒ ¡ ¢ (4.29)
Im f = R
4.5. Funções trigonométricas 79

4.5.6 Funções secante e cossecante


Antes de construir os gráficos das funções secante e cossecante é
interessante você lembrar que as funções seno e cosseno tem o
seguinte intervalo para imagem:

−1 ≤sen(x) ≤ 1
−1 ≤ cos(x) ≤ 1

Temos a função secante definida por

1
sec(x) = (4.30)
cos(x)

e a função cossecante definida como

1
csc(x) = (4.31)
sen(x)

Note que embora tanto a função sen(x) quanto a função


cos(x) tenha sua imagem no intervalo [-1,1] as funções sec(x) e
csc(x) não admitem valores de seno e cosseno nulos, uma vez que
teremos respectivamente, nas Eq. 4.30 e 4.31 divisão por zero.

Figura 4.20: Gráfico da função secante.

2
1

0 x(rad)
π π π 3π 5π

2 2 2 2
−1
−2

−3

1
Então, como sec(x) = , teremos
cos(x)

−1 ≤ sen(x) ≤ 1 ⇒ csc ≤ −1 ou csc x ≥ 1 (4.32)


80 Capítulo 4. Trigonometria

No gráfico da função secante você pode visualizar que:


 ¡ ¢ n o
D f = x ∈ R | x 6= π + kπ (k ∈ Z)
f (x) = sec(x) ⇒ 2 (4.33)
Im ¡ f ¢ = © y ∈ R | y ≤ −1 ou y ≥ 1ª

Você pode perceber que o período da função secante é igual


a 2π.

1
Já para a função csc(x) = , teremos
sen(x)

−1 ≤ cos(x) ≤ 1 ⇒ sec ≤ −1 ou sec x ≤ 1 (4.34)

Figura 4.21: Gráfico da função cossecante.

x(rad)
0 π π 3π 2π 5π 3π
2 2 2
−1

−2

−3

Do gráfico da função cossecante tem-se que:


( ¡ ¢
D f = {x ∈ R | x 6= kπ} (k ∈ Z)
f (x) = sec(x) ⇒ ¡ ¢ © ª (4.35)
Im f = y ∈ R | y ≤ −1 ou y ≥ 1

Também, ao observar você pode perceber que o período da função


cossecante é igual a 2π.
4.5. Funções trigonométricas 81

Tabela 4.2: Identidades trigonométricas.

sen(θ) = −sen(−θ) (função ímpar)

cos(θ) = cos(−θ) (função par)

tan(θ) = − tan(−θ) (função ímpar)

sen[cos(−θ)] = sen[cos(θ)]

cos[sen(−θ)] = cos[−sen(θ)] = cos[sen(θ)]


senθ
tan θ =
cos θ
cos θ
cot θ =
senθ
1
sec θ =
cos θ
1
cos θ =
sen θ
sen2 θ + cos2 θ = 1

1 + cot2 θ = csc2 θ

tan2 θ + 1 = sec2 θ
tan θ
senθ = p
tan2 θ + 1
1
cos θ = p
tan2 θ + 1
sen2θ = 2senθ cos θ

cos 2θ = cos2 θ − sen2 θ = 2 cos2 θ − 1 = 1 − 2sen2 θ


2 tanθ
tan 2θ =
1 − tan2 θ
sen(θ ± β) = senθ cos β ± cos θsenβ

cos(θ ± β) = cos θ cos β ∓ senθsenβ


tan θ ± tan β
tan(θ ± β) =
1 ∓ tan θ tanβ
cot θ cot β ∓ 1
cot(θ ± β) =
cot θ ± cot β
82 Capítulo 4. Trigonometria

4.6 Exercícios Propostos


1) Converta em graus:
π
a) rad
6
π
b) rad
8

c) rad
12
2) Converta em radianos:

a) 75°
b) 120°
c) 270°

3) Em que quadrantes pertencem os arcos com as medidas:

a) 210°
b) 350°

c) rad
6

c) − rad
3
4) Determine os senos e cossenos, dos arcos abaixo, e iden-
tifique através dos valores obtidos em quais quadrantes se
localizam.

a) rad
3

b) − rad
6
π
c) − rad
4
5) Simplifique as expressões:

a) cot(x). sec(x)
b) sen(x). tan(x). sec(x)

6) Para as funções abaixo i) construa o gráfico no intervalo


[0; 2π]; ii) encontre o conjunto imagem de f .
1
a) f (x) = + sen(x + π)
2
³ π´
b) f (x) = 5 cos π x +
3
5
EXPONENCIAIS

5.1 Introdução
Neste capítulo você estudará potências, raízes, equações exponen-
ciais e inequações exponenciais.

5.2 Potências e raízes

5.2.1 Potência de expoente inteiro


Definição 5.2.1. Para a ∈ R e n ∈ N, define-se que

1. a n = a.a.a . . . a.a, para n Ê 2

2. a 1 = a

3. a 0 = 1, para a 6= 0
µ ¶n
−n 1 1
4. a = n= , para a 6= 0.
a a

Não trabalharemos com a expressão 00 .

Exercício 6 
Calcule as potências em cada item abaixo:

a) 34

b) (−2)3

c) −23
µ ¶5
2
d)
3

e) (−5)0

f) (0, 5)2

83
84 Capítulo 5. Exponenciais

5.2.2 Propriedades das potências


Dados a, b ∈ R e m, n ∈ Z, tem-se as seguintes propriedades:

1. a m .a n = a m+n
am
2. n = a m−n (a 6= 0)
a
3. (a m )n = a m.n

4. (ab)n = a n b n
³ a ´n a n
5. = n (b 6= 0)
b b

Exercício 7 
Simplifique as expressões abaixo para que fique na forma
am
a n ou n , a 6= b. Note que podemos ter m = n ou m 6= n.
b
a) 22 .23

34
b)
32
¡ ¢2
c) 53

d) 103.102

e) 32 .3−1
µ ¶
2 3 2
f) .
3 2
µ ¶3
1
g) . 25
2
µ ¶3 µ ¶2
1 1
h) ÷
3 5

5.2.3 Raízes
Definição 5.2.2. Se a ∈ R e n ∈ N∗ , chama-se raíz n-ésima de a o
número x, de maneira que x n = a. Assim,
p
x= n
a ⇒ x n = a.
5.2. Potências e raízes 85

Nota:

Se a > 0 e n é par, então a possui duas raízes n-ésimas, onde


uma é positiva e a outra é negativa. Entretanto, o símbolo
p
n
a

neste caso, indica exclusivamente a raíz positiva, que tam-


bém é denominada raíz aritmética. Por exemplo:
p
25 = 5.

Para fazer indicação à uma raíz negativa você deve escrever


na forma p
− 25 = −5.

Se n é ímpar, então a possui uma única raíz n-ésima real,


que tem o mesmo sinal de a. Por exemplo:
p
3
p
3
8=2 −27 = −3.

Exercício 8 
Efetue as operações abaixo.
p
a) 49
p
5
b) 32
p
3
c) −8
r
6 1
d)
64
p
e) 4 0, 0625

5.2.4 Propriedades das raízes


¡p ¢m p
n
1. n
a = am
p
k.n p
n
2. a k.m = am
p p
n
p
n
3. n
a. b = a.b
p
n
r
a a
4. p
n
= n
b b
p
n mp p
m p p
5. a= n
a= m.n
a
86 Capítulo 5. Exponenciais

Exercício 9 
Simplifique as expressões:
¡p ¢4
a) 2
p3
b) 642
p3
c) −8
pp
d) 16
¡p p ¢2
e) 3 + 27

Exercício 10 
Efetue as operações abaixo:
p p p
a) 3 2 − 2 + 4 2
p p p
b) 5 + 45 − 20

5.2.5 Potência de expoente racional


m
Definição 5.2.3. Para a ∈ R∗+ , ∈ Q e n > 0, define-se
n
m pn
a n = am .

Exercício 11 
m
Escreva cada expressão na forma a n , onde m ∈ Z e n ∈ N∗
p
a) 3
p
3
p
b) 2. 2
p
5
p4
c) 2. 16
p
4 3 0,4
5 .5
d) p 2
125

5.3 Equação exponencial


Denomina-se de equação exponencial aquela cuja incógnita a ser
determinada aparace como um expoente.
5.3. Equação exponencial 87

Nesses casos, para resolver uma equação exponencial, deve-


se reduzir os membros de ambos os lados da igualdade para uma
mesma base. Sendo assim, iguala-se os expoentes das bases em
ambos os lados da igualdade e retira-se daí uma equação simples
de se trabalhar.
Exemplo 53

Determine o valor de x e t nas expressões abaixo:


µ ¶t 2 −12 µ ¶
x
p
3 x−1 2 2 625 t
a) 2 = 32 b) 3 = 27 c) =
5 16

Solução:
a)
p
3
2x = 32
5
2x =2 3
5
∴ x= ·
3

b)
¡ ¢2
3x−1 =272 = 33 = 33×2
3x−1 =36
x − 1 =6
∴ x =7·

c)

µ ¶t 2 −12 µ ¶ µ 4 ¶t µ ¶4t
2 625 t 5 5
= = 4 =
5 16 2 2
µ ¶t 2 −12 µ ¶−4t
2 2
=
5 5

logo, obtem-se a equação

t 2 +4t − 12 = 0

que ao resolvê-la resulta

∴ t1 = 2 e t2 = −6

que são as soluções da equação.


88 Capítulo 5. Exponenciais

Existem equações exponenciais em que não é possível re-


duzir tudo para a mesma base de forma imediata, o que as vezes
demanda uma manipulação matemática e o uso de uma variável
auxiliar. Um desses casos é tratado no exemplo a seguir.

Exemplo 54

Solucione a equação

5
4x − + 4 = 0·
2−x
Solução:
Inicialmente deve-se rearranjar a equação, como segue

5
4x − −x + 4 =0
2
¡ 2 ¢x
2 − 5 · 2x + 4 =0
¡ x ¢2
2 − 5 · 2x + 4 =0

agora, pode-se fazer uso da variável auxiliar y = 2x , assim

y 2 − 5y + 4 =0

e ao solucionar a equação acima resulta

y =1 e y =4

mas, como y = 2x tem-se finalmente que

2x = 1 e 2x =4
∴ x = 0 ou x =2·

5.4 Exercícios Propostos


1) Determine os valores de x em cada item.
1 p
b) (3x )2 =
5
a) 2x = 8 c) 3x · 2x = 36
27
2) Qual o(s) valor(es) de t que satisfaz a equação abaixo.
³p ´2t 2 +40
5 = 1253t

3)Solucione a equação
1
− 36 · 3x = −243
9−x
6
LOGARITMOS

6.1 Introdução
O desenvolvimento científico no final do século XVI dependia cada
vez mais da matemática, com esforços crescentes no desenvol-
vimento do cálculo para aplicações em diversas áreas do conhe-
cimento, como a astronomia e a navegação. Muitas vezes estes
cálculos envolviam relações trigonométricas, o que demandava
ainda a utilização de grandes tabelas de relações importantes e
de uso prático imediato. E ainda, cada vez mais se interpunha a
necessidade de lidar com grandes números e, com eles, os erros
propagados para os resultados também se tornavam cada vez mais
expressivos.
Tornava-se, assim, necessário o desenvolvimento de novas
técnicas computacionais que pudessem introduzir um tratamento
adequado e preciso de grandes tarefas de longas multiplicações
e divisões. Um passo importante foi substituir esses processos
com adições e subtrações equivalentes. Um método originário
do final do século XVI amplamente utilizado era a técnica cha-
mada prosthaphaeresis, um termo oriundo do grego e significando
adição e subtração. Esta transformava longas multiplicações e
divisões em adições e subtrações utilizando identidades trigono-
métricas. Por exemplo, se alguém precisava do produto de dois
números x · y, as tabelas trigonométricas eram usadas para encon-
trar A e B tal que, x = cos(A), e y = cos(B). As tabelas forneciam
então os valores dos cossenos, e daí se obtinha
1
cos(A) cos(B) = [cos(A + B) + cos(A − B)] .
2
A multiplicação longa de dois números era então convertida
em uma sequência de adições, utilizando tabelas trigonométricas.
Aos poucos a comunidade científica se debruçou no desenvolvi-
mento de novas técnicas e métodos computacionais mais efici-
entes e menos laboriosos, para lidar com uma grande massa de
dados.
89
90 Capítulo 6. Logaritmos

Figura 6.1: Michael Stifel Nos séculos XV e XVI, matemáticos, como Nicolas Chuquet
(1487-1567). (1430-1487) e Michael Stifel estudavam relações de sequências ge-
ométricas, para expressar uma relação exponencial. Este trabalho
foi decisivo para o desenvolvimento da relação logarítmica. A rela-
ção logarítmica é particularmente útil por reduzir a multiplicação
e a divisão em adição e subtração. Quando esta entrou em cena no
início do século XVII teve grande impacto na ciência da computa-
ção aritmética. Em particular, o matemático escocês John Napier
e o suíço Joost Bürgi, que produziram de forma independente
sistemas que empregavam a relação logarítmica.
Os logaritmos de Napier foram publicados em 1614 e os loga-
ritmos de Burgi foram publicados em 1620. Em poucos anos cons-
truíram tabelas para o seu uso. O objetivo de ambos foi simplificar
cálculos matemáticos, buscando simplificar a multiplicação e a
Figura 6.2: John Napier divisão ao nível da adição e subtração. Contudo, seu verdadeiro
(1550-1617). significado não foi reconhecido senão mais tarde. Napier tornou-
se famoso por seus métodos de computação, que utilizava meios
mecânicos para facilitar a computação. Com o desenvolvimento
da relação logarítmica, Napier resolveu colocá-la em um contexto
trigonométrico, e criou as tabelas de logaritmos. Além de for-
necer uma breve visão geral dos detalhes matemáticos, Napier
atribuiu uma expressão técnica para o seu conceito: ele cunhou
um termo baseado nos termos gregos logos (proporção) e arithmos
(número), e formou a palavra logaritmo. Os primeiros logaritmos
naturais apareceram em 1618. Colocado de forma bastante sim-
plificada, um logaritmo nada mais é do que um expoente.

6.2 Conceito de Logaritmo


Figura 6.3: Joost Bürgi Um expoente de determinado número positivo é denominado de
(1552-1632). logaritmo desse número. O expoente da potência de dez que re-
presenta um certo número é denominado de logaritmo decimal
desse número.
Na expressão,
10x = b
o expoente x é o logaritmo decimal do número b, ou ainda, x é o
logaritmo de b na base 10.
Observe:

Para a expressão 103 = 1000, 3 é o logaritmo decimal de 1000;

Para a expressão 10−3 = 0, 001, -3 é o logaritmo decimal de


0,001;

Para a expressão 102 = 100, 2 é o logaritmo decimal de 10.


6.2. Conceito de Logaritmo 91

Em geral, o cálculo de logaritmos com base 10 é bastante utilizado


por ser uma escolha vantajosa. Entretanto, o conceito de loga-
ritmo é mais amplo e a sua definição se estende para qualquer
base positiva e diferente de 1.

6.2.1 Definição de logaritmo


Definição 6.2.1. Sejam a, b ∈ R∗+ e a 6= 1. O número x que satisfaz a
igualdade a x = b é denominado logaritmo de b na base a.

Para expressão,
ax = b (6.1)
tem-se que a é a base, b é o logaritmando e x é o logaritmo de b na
base a.
Note que o logarítmo é simplesmente um expoente, um nú-
mero.

Exemplo 55

Qual é o logaritmo na expressão 23 = 8.

Solução:

Note que a base 2 elevada ao expoente 3 gera o número 8.


Assim, 3 é o logaritmo de 8 na base 2.

Exemplo 56

Qual é o logaritmo na expressão 0, 54 = 0, 0625.

Solução:

Neste caso, 4 é o logaritmo de 0,0625 na base 0,5.

Exemplo 57

Qual é o logaritmo na expressão 90,5 = 3.

Solução:

Neste caso, 0,5 é o logaritmo de 3 na base 9.


92 Capítulo 6. Logaritmos

6.3 Símbolo dos logaritmos


Seja a, b ∈ R∗+ e a 6= 1. O logaritmo de b na base a é representado
pelo símbolo,

loga b (logaritmo de b na base a.) (6.2)


Assim, o logaritmo de b na base a é igual a um número x e pode
ser expresso simbolicamente por,

loga b = x (6.3)

onde, significa que a x = b. Então,

loga b = x ⇔ a x = b. (6.4)

Novamente,

a é a base;

b é o logaritmando;

x é o logaritmo de b na base a.

Exemplo 58

Determine os logaritmos nos itens abaixo:

a) log2 8 = 3

Solução:

log2 8 = 3 ⇔ 23 = 8.
Temos que o número 3 é o logaritmo de 8 na base 2.

b) log3 9 = 2

Solução:

log3 9 = 2 ⇔ 32 = 9.
Temos que o número 2 é o logaritmo de 9 na base 3.

Nota. O logaritmo log10 b pode ser representado simplesmente


por log b. O motivo para isso é devido aos logaritmos na base 10
serem bastante utilizados, assim, para não ficar escrevendo a base
10 continuamente a expressão foi simplificada.
6.4. Condições de existência do logaritmo 93

Exemplo 59

a) log10 10 = 1: Temos que 1 é o logaritmo de 10 na base


10;

b) log10 100 = 2: Temos que 2 é o logaritmo de 100 na


base 10;

c) log10 1000 = 3: Temos que 3 é o logaritmo de 1000 na


base 10.

Exercício 12 
Determine x em cada um dos itens abaixo:

a) log2 32 = x;

b) log 10000 = x;

c) log3 81 = x;
p
d) log5 125 = x.

6.4 Condições de existência do logaritmo


Dada a definição de logaritmo de b na base a, como visto, foram
impostas as seguintes condições: a, b ∈ R∗+ e a 6= 1. Assim, as
condições para que exista loga b, são:

1º A base tem que ser um número positivo e diferente de 1;

2º O logaritmando tem que ser um número real positivo.

Em resumo, e em notação matemática, tem-se:




 a > 0 e a 6= 1
∃ loga b ⇔ e (6.5)

 b >0

Para resolver os problemas tem que garantir as condições de


existência das expressões logarítmicas.
Nota. Ao elevar um número positivo a um expoente obrigatoria-
mente o resultado deve ser um número positivo. Não podemos
tomar o logaritmo de zero ou de um número negativo.
94 Capítulo 6. Logaritmos

Portanto, as seguintes expressões não tem significado:


loga 0

log1 a

logb (−a) para a ≥ 0.

Exemplo 60

Determine a condição de existência para a expressão:


¡ ¢
logx+2 x 2 − 3x

Solução:

Tem-se que levar em consideração as condições da Eq. 6.5.


A base deve ser positiva e diferente de 1, então,
½
x + 2 > 0 ⇒ x > −2
.
x + 2 6= 1 ⇒ x 6= −1

O logaritmando deve ser positivo, então,

x 2 − 3x > 0

o que resulta,
x < 0 ou x > 3.
Fazendo a intersecção dos intervalos de x encontrados para
a base e para o logaritmando, resulta,

−2 < x < 0 e x 6= −1 ou x > 3.

Exercício 13 
Determine as condições de existência das seguintes expres-
sões:

a) log(2x−3) 10

b) log(3−x) (x + 1)

Exercício 14 
Resolva as seguintes expressões:

a) logx 9 = 2

b) log(3−x) (x − 1) = 2
6.5. Propriedades dos Logaritmos 95

6.5 Propriedades dos Logaritmos


Os logaritmos possuem a finalidade de simplificar os cálculos.
Agora você estudará as chamadas propriedades dos logaritmos,
onde as multiplicações transformam-se em adições, as divisões
em subtrações, etc.

6.5.1 Logaritmo do produto


Para a, b, c ∈ R∗+ e a 6= 1, vale a seguinte propriedade:

loga (b.c) = loga b + loga c (6.6)


e se tiver 3 ou mais fatores no logaritmando, a propriedade tam-
bém é válida:

loga (b.c.d ...) = loga b + loga c + loga d + . . .

Exemplo 61

Efetue a operação:
log2 (16.32)

Solução:

Da propriedade acima (Eq. 6.6), tem-se,

log2 (16.32) = log2 16 + log2 32 = 4 + 6 = 10.

Exercício 15 
Efetue as operações abaixo. Dados: log 2 = 0, 3010, log 3 =
0, 4771 e log 7 = 0, 8450.

a) log (2.3)

b) log 21

c) log 2 + log 20

Exercício 16 
Resolva a seguinte equação:

log2 (x − 1) + log2 (x + 1) = 3.
96 Capítulo 6. Logaritmos

6.5.2 Logaritmo do quociente


Para o caso em que o logaritmando é um quociente, tem-se que,
µ ¶
b
loga = loga b − loga c (6.7)
c

onde, a, b, c ∈ R∗+ e a 6= 1.

Exemplo 62

Obtenha o resultado da expressão:

log5 50 − log5 2

Solução:

Podemos tomar dois caminhos. Primeiro escrevemos a


expressão como segue,

50
log5 50 − log5 2 = log5 = log5 25 = 2
2
e de outra forma,
¡ ¢
log5 50 − log5 2 = log5 5 + log5 10 − log5 10 − log5 5 = 2.

Exercício 17 
Calcule as expressões abaixo. Dados: log 2 = 0, 3010, log 3 =
0, 4771.
2
a) log
3
10
b) log
3
c) log 5

Exercício 18 
Resolva a seguinte equação:

log3 (x + 1) − log3 x = 3.
6.5. Propriedades dos Logaritmos 97

6.5.3 Logaritmo da potência


Para o cálculo do logaritmo onde o logaritmando tem expoente,
o expoente pode sair do logaritmando e passar a multiplicar o
logaritmo,
loga b α = α. loga b (6.8)
onde, a, b ∈ R∗+ , a 6= 1 e α ∈ R.

Exemplo 63

Calcule as expressões:

a) log3 27

Solução:

log3 27 = log3 33 = 3. log3 3 = 3.


p
b) log 7

Solução:

p 1 1
log 7 = log 7 2 = log 7.
2
c) 2 log4 8

Solução:

2 log4 8 = log4 82 = log4 64 = log4 43 = 3.

Exercício 19 
Calcule as expressões abaixo. Dados: log 2 = 0, 3010, log 3 =
0, 4771 e log 5 = 0, 6990.

a) log 25

b) log 72
p3
c) log 18

Exercício 20 
Resolva a equação:

2 log4 (x − 1) − log4 (2x − 5) = 1.


98 Capítulo 6. Logaritmos

Nota. Escrevendo log x = (n − 1) + m, sendo 0 < m < 1, o termo


(n − 1) é chamado de característica do log x, onde x > 1 e contém
n algarismos na parte inteira, e m é a mantissa, correspondente à
parte fracionária.

Exemplo 64

log 1964 = 3, 293141 (aproximadamente), então a caracterís-


tica é 3, e a mantissa é 0,292141.

6.5.4 Logaritmo com potência na base


Quando tem-se uma expressão logarítmica em que a base possui
uma potência (expoente), esta expressão pode ser escrita como

1
loga β b = loga b
β

onde, a, b ∈ R∗+ , a 6= 1 e β ∈ R∗ .

Exemplo 65

Sabendo que loga b = x, calcular log 1 b 2 em função de x.


a

Solução:
1
log 1 b 2 = 2 loga −1 b = .2 loga b = −2 loga b = −2x
a −1

Exercício 21 
Seja loga b = x, determine:

a) logpa b;

b) loga 2 b 3 ;
p
c) log 1 x
a2

Exercício 22 
Escreva as seguintes expressões como um único logaritmo:

a) log5 x + log25 x

b) logp7 x + log49 x − log7 x


6.5. Propriedades dos Logaritmos 99

6.5.5 Mudança de base


Em algumas situações é necessário, ou conveniente, fazer a mu-
dança de base de um logaritmo. Então, dado um logaritmo de b
na base a, pode-se escrever esta expressão como a razão entre um
logaritmo de b na base c por um logaritmo de a na base c. Veja
abaixo:

logc b
loga b = (6.9)
logc a
onde, a, b e c ∈ R∗+ , a 6= 1 e c 6= 1.

Exemplo 66

Escreva log8 7 na base 5:

Solução:
log5 7
log8 7 =
log5 8

Exercício 23 
Demonstre que,
1
loga b = .
logb a

Exercício 24 
Sabendo-se que log 2 = a e que log 7 = b, calcule em função
de a e b, o valor de x que satisfaz a equação 8x = 49.

6.5.6 Consequência da mudança de base


Dada a expressão,
logc b
loga b = (6.10)
logc a
e rearranjando a Eq. 6.10, tem-se

loga b. logc a = logc b. (6.11)

Pode-se observar que o lado direito da Eq. 6.11 é uma simplifica-


ção do produto no lado esquerdo da mesma. Nesta simplificação é
como se cortasse a base a com o logaritmando a, no lado esquerdo
da Eq. 6.11.
100 Capítulo 6. Logaritmos

Exemplo 67

Determine o valor de x na expressão


log3 x. log4 3. log5 4 = 1
Solução:

Simplificando a expressão acima, tem-se

log5 x = 1 ⇒ ∴ x = 5.

Exercício 25 
Determine:

a) log7 9. log3 7

b) log4 13. log13 2

Exercício 26 
Calcule:
log7 8. log 7
log5 2. log 5

6.5.7 Resumo das propriedades


A Tab. 6.1 contém o resumo de todas as propriedades que vimos
até agora.

Tabela 6.1: Propriedades dos logaritmos

Propriedade Expressão

P1 loga (b.c) = loga b + loga c


µ ¶
b
P2 loga = loga b − loga c
c

P3 loga b α = α. loga b
1
P4 loga β b = loga b
β
logc b
P5 loga b =
logc a
6.5. Propriedades dos Logaritmos 101

Supõe-se que seja dado o logaritmo,

loga b

e se em uma mudança de base adotarmos a nova base como sendo


o logaritmando b. Desta forma,

logb b
loga b =
logb a
1
∴ loga b = .
logb a

6.5.8 Cologaritmo
Define-se o cologaritmo de b na base a ao oposto do logaritmo de
b na base a:
cologa b = − loga b (6.12)
onde, a, b ∈ R∗+ e a 6= 1.

Exemplo 68

Encontre o valor da expressão:

colog2 16.

Solução:

colog2 16 = − log2 16 = − log2 24 = −4 log2 2


∴ colog2 16 = −4.

Exemplo 69

Obtenha o logaritmo da expressão abaixo:


p
x3 · 4 y 5
w= .
z ·t
Solução:

5
log w = 3 log x + log y − log z − log t
4
5
∴ log w = 3 log x + log y + colog z + colog t .
4
102 Capítulo 6. Logaritmos

6.6 Logaritmo natural


Outra forma importante de logaritmo bastante usada é o chamado
logaritmo natural, indicado como ln, que utiliza como base o nú-
mero irracional aproximadamente igual a e = 2, 718281827 . . ..
Então, o logaritmo natural de b na base e pode ser expresso
por
loge b = ln b
onde, b ∈ R∗+ .

Nota. Observe que o logaritmo loge b pode ser representado sim-


plesmente por ln b. Esta notação aparecerá frequentemente ao
longo dos conteúdos de física.

O logaritmo natural obedece todas as propriedades da Tab. 6.1.


Assim, como exemplo de uso da propriedade P3, temos

ln x k = k ln x.

Exemplo 70

Dada a expressão abaixo,

Q = Q 0 .e kt

onde Q 0 é uma quantidade inicial, Q uma quantidade final,


k uma constante e t o tempo. Encontre o valor de t .

Solução:

Aplicando o logaritmo natural aos dois lados da igualdade,


temos que

ln(Q) = ln(Q 0 .e kt )
= ln(Q 0 ) + ln(e kt )
= ln(Q 0 ) + kt ln(e)

ln(Q) − ln(Q 0 )
∴t= .
k
6.7. Equações e igualdades logarítmicas 103

6.7 Equações e igualdades logarítmicas


Quando igualamos os logaritmos, por exemplo,

loga b = loga c ⇔ b=c (6.13)

onde deve-se levar em consideração as condições de existência,


½
a, b, c ∈ R∗+
a 6= 1

Exemplo 71

Determine os valores de x para que a igualdade,

log(x + 4) + log(x − 2) − log x = log 4 (6.14)

seja verdadeira.

Solução:

Para resolver este problema temos que rearranjar a equação


fazendo uso das propriedades de logaritmos. Segue,
· ¸
(x + 4)(x − 2)
log = log 4
x

da igualdade de logaritmos, tem-se

(x + 4)(x − 2)
=4
x
(x + 4)(x − 2) =4x
x 2 − 2x − 8 =0
∴ x = 4 ou x = − 2.

Das raízes obtidas, ao substituí-las nos termos dos logarit-


mos, apenas x = 4 satisfaz as condições de existência da
equação original. Logo,

S = {4}.

Nota. Fique atento nas representações!


log x 2 : o logaritmando está elevado ao expoente 2;

log2 x = (log x)2 : aqui o logaritmo é que está elevado ao


expoente 2.
104 Capítulo 6. Logaritmos

6.8 Exercícios Propostos


1) Desenvolva as seguintes expressões:
uv t
a) logb
z
p
ac 2 d
b) logc p 2
3
b
s p
bc 2 ab
c) logb p
a3c b
p
3
3a 4 b 2
d) loga p
5 b
p
0, 001
e) log1 0 p
100 5 0, 5
p5
125
f) log5 p3
625
p3
81
g) log3
243
s
b
h) colog 3 p 4
a3b
p
a3 b
i) colog p
3
b −2 a 2
log 8 x − log2
2) Calcular x em: =
log 4 x + log2
1
3) Mostrar que: x = a logx a .

4) Em quantos anos 500 g de uma substância radioativa, que se


desintegra a uma taxa de 3% ao ano, se reduzirá a 100 g? Use
Q = Q 0 .e −r t , em que Q é a massa da substância, r é a taxa e
t é o tempo em anos.
REFERÊNCIAS

BIPM. The International System of Units (SI). 2006. Disponível


em: <http://www.bipm.org/utils/common/pdf/si brochure 8 en-
.pdf>. Acesso em: 8/7/2014. 22, 23, 24, 27

NIST. NIST-F1 Cesium Fountain Atomic Clock. 2013.


Disponível em: <http://www.nist.gov/pml/div688/grp50-
/primary-frequency-standards.cfm>. Acesso em: 17/8/2014.
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