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BREVE
INTRODUÇÃO
AOS LOCAIS
DE CRIME
Com fundamento no novo protocolo de Minnesota e
nas melhores práticas para o processamento de locais
de crime.
+ 1 0 . 0 0A0DS!
C ENA DO
C R IM E
DOWNLO
O S D A
ÚCLE
DO(S) N
AÇÃO E A N Á L IS E
E T E R M IN
NOVO! D
www.canaldepericia.org
Para a pequena Melissa, estas
primeiras luzes das Ciências Forenses.
Sumário
Carta do autor 6
APENAS PENSE!6
Simplesmente começar... 9
Cena ou local de crime? 9
O que eu vou encontrar? 10
Isolamento e preservação 16
Relevância e procedimentos 16
Próximos passos 24
Carta do autor
APENAS PENSE!
Eu me lembro do primeiro local de crime que
atendi. Um homicídio. Quando cheguei à cena,
pela manhã, numa estrada de terra que passava
por entre sítios de veraneio, me deparei com o
corpo da vítima e uma bicicleta tombada ao seu
lado. Levei cerca de três horas e, ao final dos
exames, havia coletado dezenas de vestígios,
feito inúmeras medições e elaborado três hi-
póteses. Levaria tudo aquilo para a bancada e,
com absoluta certeza, alcançaria resultados que
pudessem apoiar as investigações, afinal, aquele
era o meu trabalho! Desde então, locais de crime
passaram a me fascinar. Era como se falassem
comigo e me dissessem o que havia acontecido.
E é exatamente isso: eles sempre têm todas as
Sérgio Linares Filho respostas. Mas você precisa saber perguntar!
É Perito Criminal na Polícia Científica de São
Paulo; Mestre em Engenharia de Computação Nas próximas páginas, nós falaremos um pouco
pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de sobre esse tema. Vocês iniciarão a maior e mais
São Paulo (IPT) e Especialista em Cyberse- importante jornada pelo mundo da investigação
curity pela Universidade de Maryland/USA.
Além disso, também cursou Física, Ciência da criminal e muito em breve, eu tenho certeza,
Computação e Direito. também serão capazes de conversar com os
locais de crime.
Página intencionalmente em branco.
Sérgio Linares Filho 9
Parte 1
Simplesmente começar...
Como em qualquer atividade, aqui, no campo das Ciências Forenses e da Cri-
minalística, você precisa simplesmente começar! Isso mesmo... começar! E esse
e-Book vai auxiliá-lo nos primeiros passos!
M uitos responderiam imediatamente: ora, o próprio crime! Mas não é bem isso, há
uma peculiaridade que você precisa conhecer.
Do ponto de vista da perícia, locais de crime nem sempre são locais onde ocorreram
crimes. Como pode ser isso?! Ora, é simples, não é incomum que se conclua, logo após os
exames, que o fato ou o evento sob investigação, não decorreu de um crime. O suicídio
é o exemplo mais emblemático dessa situação, pois todos sabemos que suicídio não é
crime, contudo, a perícia sempre é requisitada para o atendimento aos locais de suicídio.
E isso é importante (você já deve estar entendendo) porque pode não ter sido um suicídio
e sim um homicídio. E é a perícia que deve constatar essa situação. Então, respondendo
à questão, a origem dos locais de crime, além dos próprios crimes, também encerram os
fatos potencialmente criminosos.
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10 Breve Introdução aos Locais de Crime
À primeira vista, tudo parece desagradável e desorganizado numa cena de crime. Mas
depois de alguns minutos de observação, essa sensação começa a se dissipar. O que
parecia desorganizado e incompreensível, como que por encanto, passa fazer mais e mais
sentido, até que a lógica passa a imperar, absoluta. Nesse momento, aquele sentimento
ruim do início, dá lugar a uma inigualável sensação de dever cumprido.
Mas o que exatamente você vai encontrar num local de crime? Bem, eu já respondi, mas
vou dizer novamente: em regra você vai encontrar desarrumação e desordem (o crime é
naturalmente entrópico)! Coisas fora do lugar que deveriam estar, muitos objetos quebra-
dos, muita sujeira, manchas de sangue pelo chão, enfim, o caos! Mas não se assuste, quan-
do estiver numa cena de crime, você será o perito, e peritos, nós veremos, são treinados
para encontrar padrões. Mesmo no caos absoluto.
Sherlock Homes
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Parte 2
Antes da perícia...
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12 Breve Introdução aos Locais de Crime
Integrantes do time...
Os integrantes do time podem variar con-
forme a situação. Evidente.
Uma equipe de atendimento de locais de
crime, durante um plantão pericial, pos-
sui, em regra, dois integrantes: o perito
criminal e o fotógrafo técnico pericial que,
na maioria das vezes, também é o condu-
tor da viatura. A equipe atende todos os
casos apresentados durante o plantão,
que normalmente é de doze horas. Con-
tudo, podem surgir situações (e normalmente surgem) onde outros especialistas, além
do próprio perito e do fotógrafo, precisam reforçar o time. O desenhista técnico pericial,
deve comparecer aos locais onde é necessário desenvolver croquis e esquemas gráficos
da cena, num local de reprodução simulada de crime, por exemplo. Embora o perito esteja
apto para a pesquisa e a coleta de impressões
„Perícia é atividade digitais, em muitas situações, em face do volume
especializada. Deve, ou da complexidade do caso, o papiloscopista
policial também precisa integrar o time de perí-
consequentemente, cia.
ser desenvolvida por Por fim, pode haver situações onde outros mem-
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Parte 3
Os micro fragmentos
Na cena do
M icro fragmentos são elementos diminutos e mesmo
microscópicos, constatados na cena do crime.
O fato de terem pequeníssimas dimensões, ao contrário
crime...
• Estão distribuídos por
1 2 3
Pesquisar e constatar Registrar e coletar Acondicionar os
micro fragmentos micro fragmentos micro fragmentos
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14 Breve Introdução aos Locais de Crime
A grande maioria das atividades criminosas deixa vestígios que podem ser consta-
tados pela polícia. Nas cenas de crime, a interação entre a vítima, o local e o autor,
podem ser corporificadas pelo princípio da transferência de vestígios ou Princípio de
Locard: em locais de crime ocorre sempre a troca de vestígios entre os agentes delitu-
osos e o ambiente. Geralmente, o criminoso deixa algo seu no local e leva algo do local
consigo.
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Sérgio Linares Filho 15
uma idéia. Claro. Mas apenas para igualar o vestígios contudo, falaremos deles numa
conhecimento, eu vou deixar uma definição outra publicação.
bem simples. Ela possibilitará que conti-
nuemos com o nosso raciocínio acerca do Em locais onde não houve crime
princípio de Locard. O suicídio não é um crime, contudo, em
Cyberspace é o regra, a perícia cri-
conjunto de dis- Em locais de crime, ocorre minal é requisita-
positivos, físicos da para examinar
e lógicos, que
sempre a troca de vestígios locais de suicídio.
compõem a estru- entre os agentes delituosos Você deve estar
tura que dá origem e o ambiente. Os criminosos, pensando: claro! É
internet. preciso confirmar
Ora! Então, evi- geralmente, deixam algo na que de fato foi
dentemente, além cena, mas também levam um suicídio e não
dos locais virtuais
algo da cena consigo. um homicídio! E
que menciona- você está certo. É
mos, os crimes exatamente isso,
cibernéticos também podem acontecer na no entanto, o que nos permite ter certeza
internet. Os vestígios, nesse caso, podem é o princípio da transferência de vestígios:
ser log do sistema operacional do desktop, num local onde não houve crime, não pode
os IPs da rede local e o IP utilizado para a haver sinais do criminoso e, ainda que haja
realização do crime no cyberspace. Claro sinais de um agente externo, tal qual um
que no caso desses crimes existem outros criminoso, sua dinâmica deve ser de tal
forma que evidencie que o mesmo não pra-
ticou ou concorreu para o resultado.
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16 Breve Introdução aos Locais de Crime
Parte 4
Isolamento e preservação
Antes de tudo é imprescindível reconhecer o local de crime. Somente depois
disso, haverá a possibilidade de isolá-lo e preservá-lo adequadamente para a
atividade pericial. São procedimentos simples, contudo, a razão da preservação
e as consequências da não preservação devem estar absolutamente claras.
Relevância e procedimentos
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Art. 169 - Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autori-
dade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chega-
da dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas
elucidativos. (Vide Lei nº 5.970, de 1973)
Parágrafo único. Os peritos
registrarão, no laudo, as
alterações do estado das
coisas e discutirão, no rela-
tório, as consequências des-
sas alterações na dinâmica
dos fatos.
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18 Breve Introdução aos Locais de Crime
Parte 5
Mediata: compreende as adjacências do local onde ocorreu o fato, é, por assim dizer,
a área intermediária entre a cena do crime e o grande ambiente exterior. As fronteiras
estabelecidas no processo de isolamento da cena são, na realidade, as fronteiras da área
mediata.
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Quanto à preservação
Preservar significa manter as condições deixadas pelos delinquentes inalteradas até
a chegada da equipe de perícias. Quanto à preservação, os locais de crime devem ser
classificados como idôneos ou não violados e inidôneos ou violados.
É importante ter em mente o intervalo de tempo entre o instante que os agentes crimi-
nosos deixam o local do crime e o que a equipe de perícias chega ao local. Vamos chamar
esse período de tempo de latência. Nesse caso, locais idôneos são aqueles que não sofre-
ram a influência de terceiros (pessoas não relacionadas à investigação) ao longo do tempo
de latência. Esses locais, consequentemente, foram mantidos no estado em que foram
abandonados pelos agentes criminosos. Assim, diz-se que foram preservados. Locais ini-
dôneos, por outro lado, são aqueles onde houve modificações aleatórias e descontroladas
durante o tempo de latência. Essas alterações podem ter sido produzidas por terceiros ou
mesmo por agentes despreparados para a condução das atividades.
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20 Breve Introdução aos Locais de Crime
Os trajes dos peritos evitam que eles próprios, ao longo dos exames, contaminem a cena do crime.
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Sérgio Linares Filho 21
Quanto à natureza
O local será classificado de acordo com o delito (o tipo penal) que o originou, podendo
ser de morte violenta, de incêndio, de furto qualificado, de acidente de trânsito, de cri-
me contra o meio ambiente, entre outros.
Diferente das outras classificações, essa deve ser produzida pela própria autoridade
requisitante a qual, por óbvio, tem conhecimento da infração penal praticada. Assim,
na requisição de exames periciais, que é o documento que dá origem aos trabalhos da
perícia, entre outras informações, deve constar a natureza do delito em questão, que é a
própria classificação do local a ser periciado. Se, por exemplo, constar na requisição que a
natureza do exame é homicídio, o local deve ser classificado como, de homicídio.
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22 Breve Introdução aos Locais de Crime
As naturezas podem ser reunidas em grandes grupos, e isso facilita muito porque, natu-
rezas pertencentes a um mesmo grupo, possuem algumas características em comum, o
que remete a exames que também possuem procedimentos em comum. Aqui, apresen-
taremos especificamente os dois maiores grupos; o dos crimes contra o patrimônio e o
dos crimes contra a pessoa.
• Contra o patrimônio: entre os crimes „Todo homem,
contra o patrimônio destacam-se o fur- independente de qualquer
to qualificado, o roubo e o dano. Esses
três, somados, representam a maior
circunstância, é atingido
parte dos exames de local realizados pelos próprios crimes.”
pelos peritos criminais.
• Contra a pessoa: entre os crimes
contra a pessoa, os mais importantes são o homicídio e a lesão corporal. Nesse caso, é
relevante enfatizar, em especial, que eles admitem a forma culposa, então, ainda que o pe-
rito não tenha que identificar a intenção do agente, certamente terá que realizar exames
que apoiem a autoridade judiciária nessa direção.
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Sérgio Linares Filho 23
O s locais, quanto ao(s) núcleo(s), podem ser classificados de três formas: há os mono-
nucleados, que possuem um único núcleo, portanto; os polinucleados, que possuem
dois ou mais núcleos e os cujo núcleo está distribuído ao longo da cena, são os locais de
núcleo difuso. A classificação dos locais de crime, segundo a quantidade de núcleos, deve
ser feita de acordo com o caso concreto, no entanto, locais de crime contra a pessoa são
majoritariamente mono ou polinucleados, enquanto que os contra o patrimônio, na maio-
ria dos casos possuem núcleo difuso.
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24 Breve Introdução aos Locais de Crime
Parte 6
Próximos passos!
É evidente que ainda há muito o que aprender. Contudo, os conceitos que apre-
sentamos serão importantes em toda a sua trajetória profissional. Independente
da área pela qual se decidir. Entender locais de crime faz parte da vida do perito!
Se você, como eu, também é fascinado pelo mundo da investigação criminal, os próximos
passos resumem-se ao aprendizado mais detalhado da atividade pericial. O estudo espe-
cífico dos vestígios; o aprofundamento no Princípio de Locard e nas suas consequências;
os aspectos jurídicos relevantes; tudo isso deve fazer parte dos seus próximos passos.
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Sobre este e-Book
Este texto apresenta uma visão preliminar da criminalística. Uma visão ao mesmo tempo sim-
ples e completa de aspectos essenciais dos locais de crime. Além disso, também apresenta
conceitos e características que permitirão ao leitor, mesmo ao iniciante, reconhecer locais de
crime e inferir os procedimentos gerais para o seu processamento. É destinado àqueles que de-
sejem conhecer algo além do estritamente pragmático porque, processar locais de crime pode
ser comparado a muitas coisas... como por exemplo montar quebra-cabeças ou mesmo com o
trabalho dos arqueólogos, contudo, está muito, muito além do pragmático! A começar pelo fato
de que não existem dois locais de crime iguais: cada local é único e por isso, apresenta dificulda-
des e desafios únicos!
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