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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO


UIA 1 | O CONTEXTO SOCIAL DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO| UIA 1 | 2

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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO| UIA 1 | 3

SUMÁRIO

Aula 1 | As Mudanças Paradigmáticas na Pós-Modernidade e sua Repercussão na Educação


........................................................................................................................................................6  
1.1. Um Cenário Desafiador ...................................................................................................................6  
1.1.1. Mudança Paradigmática .......................................................................................................................................... 8  
Aula 2 | Educação, Cultura e Sociedade: Triângulo Basilar para a Organização do Trabalho
Pedagógico ................................................................................................................................ 10  
2.1. A Escola como Fábrica de Mão de Obra ...................................................................................... 10  
2.2. Educação Brasileira: Desafios a Serem Superados .................................................................... 12  

Aula 3 | A Organização Escolar a partir das Várias Abordagens Pedagógicas ..................... 13  


3.1. Abordagem Tradicional ............................................................................................................... 14  
3.2. Abordagem Comportamentalista ............................................................................................... 14  
3.3. Abordagem Humanista ................................................................................................................ 15  
3.4. Abordagem Cognitivista .............................................................................................................. 15  
3.5. Abordagem Sociocultural ............................................................................................................ 16  
Quadro síntese das abordagens pedagógicas ........................................................................................................................ 17  

Aula 4 | Inclusão: Caminhos para uma Educação da Resiliência ............................................ 19  


4.1. Os Caminhos da Inclusão ............................................................................................................. 19  
4.1.1. A Inclusão e as Políticas de Garantia do Atendimento Escolar................................................................ 21  
4.2. Educar para a Resiliência ............................................................................................................. 23  

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INTRODUÇÃO

Olá estudante!
Bem-vindo à disciplina Organização do Trabalho Pedagógico (OTP). Neste componente curricular você
realizará um estudo, construindo aprendizagens significativas, que lhe ajudará a qualificar muito sua
formação e sua futura prática pedagógica.
Antes de qualquer coisa, é importante perceber a educação como uma criação, um ato amoroso de
contribuição para a melhoria do mundo. Você será um (a) excelente professor (a) na medida que
compreender, com sensibilidade, o trabalho pedagógico como um encontro com a subjetividade, sua e
de seus alunos. Para isso, a poesia é caminho fundamental. Convidamos você para ler com atenção e
carinho o poema abaixo:
Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui
Sê todo em cada coisa.
Põe todo quanto és
No mínimo que fazes
Assim em cada lago
A lua inteira brilha
Porque alta vive
(Fernando Pessoa)

O que o poema diz para você?


Que relação você estabelece entre o poema e sua futura prática como educador (a)?

É importante que você tenha consciência de uma entrega inteira ao processo formativo para que, assim
como o brilho da lua, você se realize como professor(a).
É esse o convite que lhe fazemos, para que estudando com entusiasmo e profundidade, você qualifique sua
profissão. Por isso, convidamos você para adentrar nesta disciplina para aprofundar conceitos e dialogar, de
modo que você construa aprendizagens que irão enriquecer sua prática profissional. Organizamos este
componente curricular com quatro unidades e cada unidade será posteriormente, subdivididas em quatro
subunidades:
1.   O Contexto Social da Educação no Século XXI
2.   Planejamento Educacional
3.   Projetos Educativos
4.   Avaliação Educacional
Lembre-se que você é protagonista da história que estamos construindo, e será sua organização, sua
disciplina de estudo, sua dedicação que fará a grande diferença na qualidade de seus estudos. Para lhe
ajudar nesse processo, apresentamos a você, agora, os seguintes objetivos que perpassarão todo o
estudo de OTP:

a.   Aprofundar questões pertinentes acerca da organização do trabalho pedagógico


na prática docente.
b.   Aplicar conhecimentos teóricos sobre a Organização do Trabalho Pedagógico
como fundamento da ação docente na relação educador e educando.
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c.   Compreender a aplicabilidade do planejamento na prática docente como


instrumento essencial na organização do trabalho pedagógico.
d.   Conhecer o campo de aplicação dos projetos nas diferenciadas atividades educativas.
e.   Refletir sobre a avaliação como ferramenta capaz de contribuir para o processo de
ensino aprendizagem em todos os ambientes formativos.

Para que os objetivos sejam alcançados, faça um planejamento detalhado com os horários de estudo, a
relação de leituras, as atividades a serem realizadas. Você perceberá o quanto isso fará de seu processo
formativo um grande exercício de capacitação profissional, com qualidade e profundidade.
Bons estudos!
 

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Aula 1 |  AS MUDANÇAS PARADIGMÁTICAS NA PÓS-MODERNIDADE E


SUA REPERCUSSÃO NA EDUCAÇÃO

Olá estudante!
Vamos começar esta aula descobrindo: o que é organização do trabalho pedagógico? Toda profissão tem
seus fundamentos, seus princípios, suas metodologias de trabalho. Quando entramos em um prédio, não nos
damos conta de tudo o que está por trás daquela construção. Para construir um edifício, o engenheiro teve de
considerar o tipo de solo, o clima, os materiais mais apropriados às chuvas, o que é mais produzido na região,
e também o desejo do proprietário, o objetivo da obra, os gostos de quem dela usufrui. Também na pedagogia
existem elementos que precisamos levar em conta para chegarmos a atuação profissional e escolar.
A educação é uma ação social. Isso quer dizer que o ato de educar está inserido em um contexto. A escola,
local privilegiado da educação, é resultado de um projeto que leva em conta as inúmeras variáveis sociais, o
sonho de quem é responsável pela escola, os desejos das famílias que matriculam seus filhos, e, claro, a
atuação do profissional da educação. A sistematização destes elementos, a ordenação de seus processos, a
definição de princípios, metodologias e ações educativas é o que chamamos de Organização do Trabalho
Pedagógico (OTP). O foco da OTP é a relação de aprendizagem estabelecida entre o ambiente escolar, o
educador e o educando.
Em um primeiro momento, vamos fazer um caminho pelo contexto social em que vivemos e no qual a escola
está inserida. Depois, vamos compreender as influências das características sociais na educação e na escola,
percorreremos as principais correntes pedagógicas e suas repercussões no trabalho pedagógico.

Antes, porém, te convidamos a ouvir a música “Caçador de Mim”, de


Milton Nascimento:
http://tinyurl.com/h8snnz2

Nessa canção, o compositor enfatiza a importância de nos conhecermos, considerando o contexto em que
vivemos: “A vida nos fez assim”. Por isto, é importante conhecermos como a escola foi feita, porque ela é
assim? Quais as forças que a estruturam e dão a ela determinadas características? Que relação tem isso tudo
com nosso jeito de ensinar e de aprender? Vem conosco que vamos te ajudar a compreender tudo isso!

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Acesse o material de estudo, disponível no Ambiente Virtual de


Aprendizagem (AVA), e assista à videoaula da introdução de
Organização do Trabalho Pedagógico.

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1.1.  UM CENÁRIO DESAFIADOR


O século XXI é marcado pelo resultado de duas grandes revoluções: a revolução industrial, iniciada no
final do século XIX, e que teve seu auge nos anos 50 do século XX; e a revolução informática, que se
iniciou com os primeiros computadores, nos anos 50, e culminou na era digital, deste começo de século.

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Estas duas revoluções, segundo Nicolescu (2000), foram os pilares da organização social, cultural,
epistemológica(1) e econômica do nosso tempo.

É importante lembrar que o modo de conhecermos o mundo, o jeito como entendemos a


realidade, tem suas raízes no pensamento moderno, que criou o método científico. Foi essa
forma de nos relacionarmos com o mundo que, com seus aperfeiçoamentos e sua prática,
criou a indústria e a informática. A ciência moderna, produto do iluminismo do século XVII e
XVIII, está tão impregnada na nossa cultura que, quando queremos que alguém acredite em
alguma coisa, a gente diz: “é cientificamente comprovado”. A ciência virou critério de verdade
para todas as formas de viver da nossa sociedade. Ao modo de vivermos, de nos organizarmos,
de trabalharmos, de nos relacionarmos, de produzirmos o pensamento, a arte, os produtos,
damos o nome de cultura. Tem um pensador brasileiro, chamado Ernani Fiori (1991) que diz
que cultura é o cultivo dos pensamentos e costumes de um grupo social. Daí que as palavras
“cultivo” e “cultura” possuem a mesma raiz semântica.

Mas, é muito curioso notar que a história nunca é hegemônica. O predomínio do pensamento científico,
a razão instrumental e a tecnologia dela decorrente trouxeram muitos benefícios para a humanidade. De
outra parte, a ênfase no pensamento científico fez com que as outras dimensões humanas tais como as
emoções, os relacionamentos, os sentimentos e afetos ficassem em segundo plano. Apesar de tantos
avanços, o ser humano segue sofrendo com as situações cotidianas da vida.
Muitos intelectuais, ao darem-se conta desse limite do paradigma científico, lançaram-se em estudos e
pesquisas que pudessem ajudar a compreender a complexidade humana e as reais necessidades sociais
para que o ser humano pudesse usufruir de uma vida mais digna e feliz.
Já no final do século XIX, alguns pensadores como Friedrich Nietzsche (1944-1900) e Sigmund Freud
(1856-1939) apontaram para os limites da razão como a única fonte da verdade. Com um profundo
questionamento aos valores modernos, estes pensadores denunciam o fracasso da razão científica em
responder a todos os problemas humanos.
Em um livro chamado “Assim Falava Zaratustra”, Nietzsche (2003), influenciado pelo pensamento
oriental, que estava muito presente na Europa do final do século XIX, faz uma crítica aos valores
ocidentais. O filósofo indica que o tempo da razão está chegando ao final e que, pelo anúncio de um
profeta, o Zaratustra, chegará um tempo novo, onde o homem novo – representado por uma criança –
nascerá. Apesar de bastante confuso, o texto de Nietzsche deixa claro os limites do pensamento
moderno, fundados na proposta de um método científico como fonte da verdade.
O médico e psicanalista Sigmund Freud, em um livro intitulado “O Mal Estar na Civilização” (1969)
também aponta para o fracasso do intento moderno da razão. Segundo ele, a expectativa em um mundo
melhor, baseado no pensamento lógico e técnico, ignora a força inconsciente que, em última análise, é o
que define o comportamento humano.
Todas essas críticas à Modernidade, acompanhadas por outros pensadores que demonstraram o fracasso do
projeto iluminista, provocaram muitas mudanças em várias áreas da vida humana, inclusive na educação.
 

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1.1.1.  MUDANÇA PARADIGMÁTICA


Um paradigma1 é constituído pelo modo de pensar, pelas referências que balizam a concepção de
mundo, de sociedade, de conhecimento, de cultura. O paradigma que influenciou toda a construção
social do Ocidente, desde o século XVII e que culminou nas revoluções industrial e informática foi o
paradigma científico. Este modo de pensar desconsiderou as outras formas de conhecer que fazem parte
da constituição epistemológica do ser humano. Também conhecemos pelas emoções, nas relações, pelos
afetos, por meio de experiências espirituais. Tudo isso, entretanto, não é validado pela ciência. O sujeito
que conhece é uma pessoa inteira. É alguém que pensa, mas também, sente, deseja, se relaciona e
constrói sentido de vida.
O ser humano foi definido como “animal racional”. Descuidando-se das emoções e suas decorrências na
vida cotidiana, a sociedade foi adoecendo. O volume de diagnósticos de depressão, ansiedade, pânico,
ideação suicida demonstram que a razão, tão aclamada pela ciência moderna, não dá conta dos grandes
problemas humanos.
A necessidade de retomar uma ideia de ser humano inteiro, multirrelacional, foi o que impulsionou a
proposta de um outro paradigma, baseado na complexidade e na transdisciplinaridade.
Para o físico Nicolescu (2000), a transdisciplinaridade é uma atitude diante do fenômeno do
conhecimento que ultrapassa os limites disciplinares e permite acolher o conhecimento como relação
profunda e interativa entre sujeito e objeto, sem uma pré-classificação a partir das disciplinas. Este modo
de encarar o conhecimento permite que o sujeito se implique na realidade, como parte dela, produzindo-
a e compreendendo-a de forma mais inteira e completa.

Para saber mais sobre transdisciplinaridade, acesse o link:


http://tinyurl.com/jsx5jyf

Continuando nossa trajetória para compreendermos melhor as mudanças paradigmáticas, o cientista


inglês Thomas Kuhn foi quem começou a sistematizar uma problematização ao paradigma científico. Na
década de 60 ele escreveu um livro muito importante chamado “A Estrutura das Revoluções Científicas”.
Nessa obra ele diz que um paradigma sempre terá um limite na busca da verdade por meio do
conhecimento. Quando chega ao limite, não encontrando mais respostas para os problemas que
emergem na sociedade, o paradigma precisa dar lugar a outro modo de pensar e compreender a
realidade (KUHN, 2009). É nesse momento que a criatividade humana precisa ser valorizada. É preciso
considerar todas as formas de conhecer e trazer a maior quantidade de métodos possíveis para
compreender a realidade.
Kuhn (2009) afirma que os dois grandes problemas do
paradigma científico são a objetividade e a neutralidade. A
objetividade é a valorização do objeto como fonte de verdade.
Por exemplo, se estudo uma planta, a verdade do
conhecimento desta planta é o que ela apresenta. Acontece que
isso não é bem assim: o sujeito, aquele que analisa a planta, verá
Fonte: http://tinyurl.com/gpyqnm6 dela aquilo que ele – sujeito – está preparado para ver. Todo o
conhecimento, nesse sentido, é uma interpretação do

                                                                                                                       
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Modo de compreender a realidade, com seus desdobramentos nas várias áreas: ciência, política, cultura, educação, entre outras.
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fenômeno e não o fenômeno em si mesmo.


A neutralidade, outra característica da ciência moderna, também é questionada por Kuhn (2009). Para o autor,
todo empreendimento científico é intencional. Em outras palavras, existe um interesse do sujeito, ou de uma
instituição, em pesquisar algo e compreender a realidade de uma ou outra forma. O sujeito, neste caso, estuda
aquilo que quer pesquisar e descobre aquilo que, dentro da estrutura paradigmática, quer descobrir. Por isso,
estudiosos da epistemologia2 contemporânea, afirmam que a ciência não é objetiva nem neutra
Cada vez mais, os pilares da ciência especializada são sacudidos para que a visão do ser humano e sua
realidade seja mais global e abrangente.

Mas, se os grandes pilares da ciência moderna foram questionados, o que é conhecer?


O que significa compreender a realidade? Por que as sociedades se organizam de uma
ou de outra forma para responder aos grandes problemas humanos?

Outro estudioso importante do nosso tempo, o francês Edgar Morin, afirma que a realidade é complexa,
ou seja, cheia de meandros, de dobras, de detalhes, e, por isso, é preciso uma multiplicidade de olhares,
métodos e procedimentos para ser compreendida (MORIN, 2005).
Entretanto, o paradigma científico não fornece todos os elementos necessários para essa compreensão
mais complexa e transdisciplinar do ser humano e da realidade em que vive. Tudo aquilo que a ciência
descartou: as emoções, sentimentos, afetos, saberes populares, precisa ser trazido de volta, segundo os
estudiosos do pensamento complexo, para que a realidade humana, a organização social, as relações, os
problemas sejam compreendidos de forma mais abrangente e eficaz.
A educação é um produto da sociedade, mas também é meio pelo qual a própria sociedade é produzida
e mantida de uma ou de outra forma. Diante de tantas mudanças e desafios, a educação precisa ser
compreendida nesse contexto e repensada.
A escola, como espaço e tempo institucionalizado da educação, também é fruto de certas concepções.
Compreender a sociedade, seu modo de organizar-se, sua forma de se relacionar e compreender a
realidade pelo conhecimento, é fundamental para compreendermos, também, a educação e a escola.

Na próxima aula, veremos como todas essas características aqui estudadas influenciaram na educação e na escola.
 

                                                                                                                       
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Estudo sobre a natureza, processos, métodos do conhecimento, seus limites e a relação entre sujeito e objeto.
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Aula 2 |  EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE: TRIÂNGULO BASILAR PARA


A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

Tudo bem com você? Então, em nossa primeira aula, vimos o contexto social que marca o século XXI. Fruto das
revoluções industrial e informática, nosso tempo é permeado pela tecnologia e, mais precisamente, por uma
cultura digital emergente. Apesar de muitas críticas ao paradigma científico, predomina a razão instrumental,
com desdobramentos práticos na estrutura capitalista e no modelo globalizado de mercado. Nesse contexto,
a educação é desafiada a encontrar caminhos que ajudem a formar o ser humano em sua inteireza,
considerando-se todas as dimensões que o constitui.
Você será educador (a) em uma escola que não é mais o lugar privilegiado do conhecimento, como no século
XX. Pelo menos, não de um conhecimento racional, informativo e linear. Nesta aula, vamos ver como a
educação e a escola foram compreendidas e concebidas a partir de uma visão de ciência, de conhecimento e
de sociedade. Também vamos refletir sobre os novos desafios da escola e as funções que a sociedade atual
espera da educação e dos educadores.

Para aquecer seu pensamento para este estudo, sugerimos que você
assista o vídeo:
http://tinyurl.com/jusv8n4

Nesta breve palestra, o Prof. Ricardo Mariz chama a atenção para a tarefa importante e
fundamental que é educar.
E você, ao pensar em ser professor (a), o que você considera que seja educar?

2.1.  A ESCOLA COMO FÁBRICA DE MÃO DE OBRA


Juntamente com a revolução industrial, ocorreu um fenômeno de superpovoamento das cidades. A
partir daí, era preciso construir uma escola que abrigasse a população de crianças em idade escolar
que aumentava dia a dia.
Os grandes centros urbanos tinham nas indústrias sua maior fonte de renda e trabalho. A grande
novidade das fábricas industrializadas era a produção em série, ou seja, ao invés de uma única pessoa
produzir uma mercadoria do começo ao fim, como na produção artesanal, criou-se um sistema de
esteiras nas quais a matéria prima corria e cada trabalhador era responsável por adicionar um
componente até que, ao final da linha de montagem, o produto estivesse pronto.
O educador norte americano John Franklin Bobbitt, entusiasmado pela industrialização e o sistema fordista3
de produção, propôs que a escola, assim como a indústria, produzisse em séries. Foi assim que, através do
livro “O Currículo” (1918/2004), o ensino seriado passou a fazer parte da organização das escolas
americanas e, por decorrência, de todos os países que se submeteram à dominação norte americana.

Organizada como uma fábrica, a escola do século XX compreendia a criança como


matéria prima a ser moldada, preenchida e transformada para o mercado de trabalho
                                                                                                                       
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Termo criado por Henry Ford, em 1914, que se refere ao modelo de produção em massa de um produto, ou seja, ao sistema das linhas
de produção. Disponível em: http://tinyurl.com/zngl2hm
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que, como vimos, era a própria indústria. O foco da escola, portanto, era formar mão
de obra para a economia industrializada. Segundo Silva (1999), a noção de indústria
como eixo organizador da escola e o instrucionismo como transmissão do
conhecimento, produziram uma aprendizagem passiva, sem autonomia dos sujeitos e
completamente alienada do senso crítico.

Por outro lado, muitos educadores se levantaram contra esse modelo de escola e esse jeito mecanicista
de educar. Foi a médica e pedagoga italiana Maria Montessori (1870-1952) uma das primeiras a bradar
em favor de uma escola humanizada, onde o processo de desenvolvimento fosse priorizado, ao invés do
conteúdo simplesmente depositado na memória da criança.
Junto com Montessori, muitos outros educadores constituíram o movimento chamado de Escola Nova. A
proposta era fazer da escola um lugar de formação integral, educando todas as dimensões da pessoa em
vista da formação de um cidadão íntegro e comprometido com o desenvolvimento social. No Brasil,
vários educadores afiliaram-se a esse movimento. Entre eles, destacam-se Fernando de Azevedo,
Lourenço Filho, Anísio Teixeira e Cecília Meireles. O ano de 1932 foi marcante para o movimento
escolanovista porque foi nesse ano que os educadores brasileiros lançaram o “Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova”.

Este vídeo lhe ajudará compreender melhor como ocorreu este


Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
http://tinyurl.com/znylsp3

As concepções de uma escola tecnicista, com ênfase no treinamento e na capacitação profissional, e


humanista, com foco na formação do sujeito em todas as suas dimensões, constituem-se nos dois eixos
mais marcantes da educação.
Um dos educadores brasileiros mais influentes e estudados – tanto no Brasil como no exterior – foi Paulo
Freire (1921-1997). Ele é um dos maiores críticos ao ensino instrucionista, ao que chama de “educação
bancária” (1987). Segundo este pensador da educação, o ensino instrucionista, baseado no conteúdo,
funciona como se o estudante fosse um recipiente no qual se deposita o conteúdo. Ou, a alegoria que
utiliza, o professor deposita, como em um banco, aquilo que quer que o aluno saiba para a prova. Daí a
expressão “educação bancária”.
Freire defende uma educação contextualizada, na qual o educador e o educando são sujeitos de um
mesmo processo: o de aprender. Ao jeito de educar contextualizado, dialógico e que promove a
autonomia, Freire dá o nome de “educação libertadora”.
O trabalho de Paulo Freire traz grande contribuição para a organização do trabalho pedagógico a partir
de sua proposta metodológica chamada de “tema gerador”. O tema gerador, ou palavra geradora, como
preferem nominar alguns educadores, é a matriz do planejamento a partir da realidade, das vivências,
dos conflitos que vivem os educandos. Mais adiante retornaremos a este assunto, quando especificarmos
as formas de planejamento. Por hora, é importante ressaltar a grande referência que é Paulo Freire para a
educação do Brasil e do mundo.
O grande desafio para a escola do século XXI é organizar a aprendizagem de tal forma que construa um
equilíbrio entre estas duas grandes tendências. Na disciplina de OTP veremos as possibilidades reais de
um projeto que contemple o mais possível as necessidades de formação e capacitação das crianças e
jovens do nosso tempo.
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2.2.  EDUCAÇÃO BRASILEIRA: DESAFIOS A SEREM SUPERADOS


Tomando o exemplo da situação escrita pelo personagem
‘Chico Bento’, podemos perceber que o educador brasileiro, na
atualidade, precisa estabelecer uma relação de interação da
escola com as necessidades de seus alunos. Na tentativa de
responder aos questionamentos do ‘Chico Bento’, e a outros
tantos questionamentos de inúmeros estudantes Brasil a fora,
faremos um aprofundamento do fazer docente, onde as teorias
e as práticas estarão sempre interligadas.
No primeiro momento, precisamos olhar de frente para os grandes
Fonte: SOUZA, Maurício de. Fonte:
http://tinyurl.com/zoa5chy
desafios que se encontra a educação brasileira na atualidade.
Entre os desafios com que se confronta a educação brasileira,
seja no curto, no médio e no longo prazo, não há como não se dar destaque a questão da formação do
professor e, como problema correlato, à valorização do trabalho docente em nosso país e ao
consequente baixo status que se confere à carreira do professor no Brasil.
São eloquentes as estatísticas que registram o desinteresse dos jovens brasileiros pela carreira do
magistério: é frustrante conhecer que apenas 2% dos jovens desejam se tornar professores, mas não é de
se admirar se considerarmos a injustiça dos salários pagos a eles, a falta de planos de carreira, o
desprestígio dos cursos de licenciatura, as difíceis condições do trabalho nas escolas (RAMOS, 2013).
Segundo dados do Pesquisa de Amostra de Domicilio (PNAD/IBGE,2009), um professor brasileiro ganha
40% a menos da média de outros profissionais com o mesmo nível de formação. Não há bons planos de
carreira, sem falar nas precárias condições de trabalho de grande parte das escolas de educação básica. A
consequência desse conjunto de fatores é um déficit estimado em 250 mil professores nas salas de aula
desse nível de educação. Além disso, o Relatório do Tribunal de Contas da União divulgado em março em
2013, constata que existem cerca de 46 mil professores da rede pública estadual que lecionam no ensino
médio sem formação específica em nenhuma das 12 disciplinas obrigatórias. Em áreas das ciências exatas,
como química, física e matemática, já se fala em um “apagão”, para simbolizar a seriedade da situação.
Neste cenário é importante ressaltar que entre os inúmeros desafios da educação contemporânea estão a
qualificação do profissional, espera que ele seja dinâmico, criativo e flexível.

“o mundo assiste hoje às intensas transformações, como a internacionalização da


economia e as inovações tecnológicas em vários campos de saberes. Essa transformação
leva à mudança no perfil desses diversos profissionais, afetando os sistemas de ensino”
(LIBÂNEO, 2004, p. 28)

Tais mudanças incidem especialmente nos pedagogos, profissionais estes que estão diretamente ligados
ao processo de construção e disseminação das práticas pedagógicas educacionais.
No segundo momento das nossas ponderações da nossa aula de hoje é refletir, para as palavras de Paulo
Freire (2000), quando este pensador esclarece, “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem
ela tampouco a sociedade muda” (p. 67).
Vale lembrar a você estudante, que a Constituição Federal (1988) define em seu artigo 205, que “a
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
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Em consonância com a nossa Constituição Federal a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), nº
9.394/1996, estabelece como um dos objetivos principais dos ensinos fundamental e médio é
oportunizar à formação do cidadão pleno pela mediação do conhecimento científico, filosófico e cultural.
Para além do que determina a legislação brasileira a função social da escola deve avançar, na atualidade,
segundo Moran (2005), numa perspectiva de instituir uma dinâmica curricular que busca ao mesmo
tempo desenvolver com os estudantes os processos de aprendizagem ancorados nas competências
necessárias para se tornarem cidadãos conscientes na luta por uma sociedade mais solidária e equânime.
Nas palavras de Capanema (1996), a escola precisa articular entre seus profissionais de educação e seus
estudantes a capacidade de trabalhar com experiências curriculares que busquem a inserção dos alunos
na comunidade escolar em que vive e construir a autonomia necessária para planejar e desenvolver seu
projeto pedagógico. Essa autonomia, sobretudo por resultar da competência, é que vai favorecer a
construção de propostas inovadoras.

Na próxima aula, veremos como as principais tendências pedagógicas da educação estão interligadas com o
processo de aquisição de aprendizagem nas escolas.

Aula 3 |  A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR A PARTIR DAS VÁRIAS ABORDAGENS


PEDAGÓGICAS

Olá estudante!!!
Você lembra que nas aulas anteriores fizemos um estudo sobre o Contexto Social da Educação no Século XXI?
A compreensão do contexto da educação e da escola foi fundamental para que você, agora, nesta aula possa
pensar sobre a organização do trabalho pedagógico no processo educativo a partir das abordagens
pedagógicas. Este tema é extremamente importante visto que, nos auxiliará a compreender a articulação de
diferentes aspectos, tais como: o que entendemos por ensinar e aprender? Que concepções de ensino e de
aprendizagem norteiam nossas práticas pedagógicas e a organização das atividades que desenvolveremos
com os alunos nos espaços escolares? Que sujeitos queremos formar?
Nesta aula vamos refletir e aprofundar conhecimentos sobre esses elementos, essenciais à prática educativa,
elencando as abordagens pedagógicas: Abordagem tradicional, comportamentalista, humanista, cognitivista e
sociocultural. Bem como a forma com que cada uma se relaciona com o fazer pedagógico no ambiente escolar.

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Acesse o material de estudo, disponível no Ambiente Virtual de


Aprendizagem (AVA), e assista à videoaula sobre os vários tipos
de abordagens na educação.

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3.1.  ABORDAGEM TRADICIONAL


Segundo Mizukami (1986) a abordagem tradicional, é uma concepção
pedagógica e uma prática educacional que tem persistido no tempo, sendo
apresentada de diferentes formas, e que passa a fornecer um quadro diferencial
para todas as demais abordagens que a ela se seguiram.

O adulto é considerado como homem acabado, "pronto" e o aluno um "adulto em miniatura", que precisa ser
atualizado. O ensino é centrado na figura do professor e o aluno apenas executa as atividades que lhe são
definidas por autoridades exteriores.
A perspectiva de mundo nesta abordagem aponta que a realidade é algo que será transmitido aos
sujeitos prioritariamente pelo processo formal de educação formal, assim como a família, Igreja. O
objetivo de educar está diretamente relacionado aos valores difundidos pela sociedade na qual se realiza.
O professor Dermeval Saviani (1991) esclarece que o caráter científico do ensino tradicional se estruturou através
de um método pedagógico, que é o método expositivo, que todos conhecem, todos passaram por ele, e muitos
estão passando ainda, cuja matriz teórica pode ser identificada nos cinco passos formais de Herbart.

Para saber mais sobre a teoria de Herbart acesse:


http://tinyurl.com/hle58nn

Na abordagem tradicional a escola, é o lugar prioritariamente onde se realiza a educação, restringindo a


um processo de transmissão de informações em sala de aula. O ato de aprender é percebido como um
rito formal para aquisição da aprendizagem em que o professor deve se manter distante dos alunos de
forma vertical, visto que cabe ao professor a decisão quanto à metodologia, conteúdo, avaliação, forma
de interação na aula entre outros procedimentos didáticos.
O professor já traz o conteúdo pronto e o aluno se limita exclusivamente a escutá-lo. Nesta perspectiva a
avaliação tem como foco a reprodução do conteúdo exposto em sala de aula. A compreensão do que
seja a avaliação reduz-se ao instrumento: prova, teste, exame.

3.2.  ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA


Para falar da abordagem comportamentalista, vamos primeiramente
assistir a este vídeo:
http://tinyurl.com/zavkbn6
No vídeo podemos ver claramente algumas características da
abordagem que trataremos agora, além do personagem Sheldon Lee
Cooper citar o nome de dois pesquisadores desta abordagem - Edward
Lee Thorndike e Burrhus Frederic Skinner.

Para Mizukami (1986), a abordagem comportamentalista considera a experiência ou a experimentação


planejada como a base para ‘adquirir’ o conhecimento, este que é o resultado direto da experiência
vivida pelo sujeito.
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O aluno é considerado uma folha em branco, uma massa sem forma, que receberá,
pela experiência, o conhecimento.

Um dos maiores representantes dessa abordagem é Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) e, para ele a
realidade é um fenômeno objetivo; o mundo já é construído e o homem é produto do meio.
Esta abordagem apresenta que o comportamento, pode ser mudado, alterando assim os elementos
ambientais. Nesta perspectiva a educação está intimamente ligada à transmissão cultural, o papel da
escola se configura em transmitir conhecimentos, assim como comportamentos éticos, práticas sociais,
habilidades consideradas básicas para a manipulação e controle do mundo/ambiente.
Neste sentido o professor tem a responsabilidade de planejar e desenvolver o sistema de ensino
aprendizagem, de forma tal que o desempenho do aluno seja maximizado, considerando fatores tais
como economia de tempo, esforços e custos.
Deste modo o aluno vai construindo seu conhecimento em seu ritmo próprio, a avaliação consiste em
constatar se o aluno aprendeu e atingiu os objetivos propostos de forma adequada. Santos (2005), afirma
que para realização da moldagem do comportamento do indivíduo, o ensino deve utilizar-se de reforços
(positivos e negativos) e recompensas para que o objetivo preestabelecido seja alcançado.

3.3.  ABORDAGEM HUMANISTA


A abordagem humanista destaca o papel do sujeito como o principal elaborador do conhecimento.
Mizukami (1986) sublinha que o Homem é um ser no mundo e que o mundo é algo produzido pelo
Homem diante de si mesmo. A perspectiva humanista coloca que o objetivo do ser humano é a
autorrealização ou o uso pleno de suas potencialidades e capacidades, o homem se apresenta como um
projeto permanente e em construção.
Nesta abordagem o professor não transmite conteúdo, a figura do professor se caracteriza em ser o
sujeito que irá facilitar o processo de aprendizagem do aluno. O conteúdo advém das próprias
experiências do aluno e o professor não ensina: apenas cria condições para que os alunos aprendam.
Santos (2005) salienta que a escola na abordagem humanista é uma escola que respeita a criança,
oferecendo condições de desenvolverem-se possibilitando a autonomia do aluno. A avaliação nesta
abordagem é construída pelo aluno e pelo professor de forma conjunta, valorizando aspectos afetivos
com ênfase na autoavaliação.

3.4.  ABORDAGEM COGNITIVISTA


Na abordagem cognitivista, o objeto é a construção do conhecimento. Nesta abordagem é muito
importante porque através dela poderemos compreender de que forma acontece o processamento das
informações e os comportamentos relativos à tomada de decisões do sujeito. O educando é movido a
resolver problemas reais e significativos, que fazem parte do seu dia-a-dia, dando ênfase ao
conhecimento de forma prática e objetiva. Mizukami (1986) destaca que homem e mundo são analisados
de forma conjunta, tendo em vista que o conhecimento é o produto da interação entre eles (Homem –
Mundo), entre o sujeito e objeto.

Nesta abordagem o conhecimento é construído continuamente.

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A passagem de um estado de desenvolvimento para o seguinte é caracterizada pela formação de novas


estruturas que não existiam anteriormente no indivíduo. O processo ensino-aprendizagem é pautado em
um ensino que procura desenvolver a inteligência priorizando as atividades do sujeito, considerando que
este sujeito está inserido numa situação social.
O professor nesta abordagem o professor deve criar situações e promover condições onde possam se
estabelecer um ambiente educativo com reciprocidade intelectual. Santos (2005) destaca que é por meio
da assimilação que o sujeito explora o ambiente, começa a fazer parte deste ambiente e a partir deste
momento tem a condição de transformá-lo.
Jean Piaget (1896-1980), foi um dos principais pesquisadores desta abordagem e seus estudos sobre
pedagogia trouxeram uma revolução a educação.

Para você que pensa em ser educador(a), recomendamos que


acesse este link para conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra
de Jean Piaget.
http://tinyurl.com/ke84b27

Piaget, em sua obra “O Nascimento da Inteligência na Criança” (2008), faz uma reflexão sobre duas
grandes abordagens psicológicas: o comportamentalismo e a Gestalt. Para o comportamentalismo, a
criança é como uma folha em branco a ser escrita. Ou seja, não traz nada em si, tudo precisa ser impresso
nela. Já a Gestalt considera que todos possuem uma estrutura mental cheia de referenciais e que o
conhecimento está vinculado a relação que o sujeito estabelece entre a figura e o fundo. Ou seja, aciona,
na mente, aquilo que faz com que ele relembre de padrões mentais. A partir da crítica a estas duas
abordagens, Piaget sugere a teoria que denominou de epistemologia4 genética. O sujeito, na proposta
piageteana, vive dois grandes movimentos: o de acomodação e o de assimilação. Com isso, a criança vai,
a cada fase de seu desenvolvimento, adaptando-se ao meio. Para ele, a inteligência está relacionada a
esta adaptação.

3.5.  ABORDAGEM SOCIOCULTURAL


Para tratar desta abordagem voltaremos a falar de um notável brasileiro, Paulo Freire (1921-1997), em seu
trabalho com o movimento de Cultura Popular, com ênfase na alfabetização de adultos, que se identifica
com a abordagem interacionista entre o sujeito e o objeto.
O processo educativo, nesta abordagem, não fica restrito à educação formal dentro de uma escola. A
aprendizagem acontece em um espaço mais amplo e está inserida na sociedade. Para Paulo Freire (1967,
p. 36) “educar é um ato político” e deve gerar condições para formar um sujeito crítico. O homem está
inserido em um contexto histórico e este homem deve ser o homem-sujeito, em uma educação voltada
para a formação de uma consciência que levara este sujeito à liberdade.
Neste sentido a escola deve ser um local que promova a reflexão sobre o sujeito e como este sujeito se
relaciona no mundo, este exercício deve ser realizado tanto pelo professor como pelo aluno, num
processo de crescimento mútuo de conscientização, buscando sempre uma relação de ensino-
aprendizagem que deve superar a relação opressor-oprimido.

                                                                                                                       
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Estudo sobre a natureza, processos, métodos do conhecimento, seus limites e a relação entre sujeito e objeto.
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Assim a relação professor-aluno é horizontal, professor e aluno constroem o conhecimento partindo de sua
experiência existencial, utiliza-se de situações vivenciais em grupo, enfatizando sempre o diálogo crítico.

Colocamos um link aqui para você assistir. É um documentário que


conta a vida e a carreira profissional de Paulo Freire. Este vídeo é muito
importante, todo futuro professor(a) precisa conhecer um pouco mais a
história deste extraordinário educador brasileiro.
http://tinyurl.com/j663zfk

Apresentamos abaixo um quadro síntese das teorias estudadas nesta aula, saiba que este quadro irá lhe
acompanhar por todas as discussões acerca do processo ensino aprendizagem, e será muito importante
no momento em que você estiver na escola realizando seu planejamento diário.
É muito importante estudante, relembrá-los que necessário compreender estas abordagens, visto que
elas que nortearão as diretrizes à ação docente, ainda que, levemos em conta que a elaboração dos
planejamentos e das diretrizes curriculares que cada docente realiza é individual e intransferível.

QUADRO SÍNTESE DAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS

ABORDAGEM TRADICIONAL

Escola Aluno Professor Ensino aprendizagem

Lugar ideal; funções Ser passivo; deve assimilar Transmissor dos Objetivos educacionais devem
definidas; normas e os conteúdos transmitidos conteúdos aos obedecer à lógica dos conteúdos;
disciplinas rígidas; pelo professor; deve alunos; conteúdos baseados em
preparar o indivíduo dominar o conteúdo autoridade. documentos legais e selecionados
para a sociedade. cultural universal da cultura universal acumulada;
transmitido pela escola. aulas expositivas; leituras-cópia.

ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA

Escola Aluno Professor Ensino aprendizagem

Modelo Elemento para quem o Seleciona, organiza e Objetivos educacionais gerais


empresarial; material é preparado; aplica um conjunto (educacionais) e específicos
divisão entre eficiente e produtivo de meios, ou (instrucionais); ênfase nos meios,
planejamento e se lidar e dominar instrumentos que ou instrumentos (recursos
execução; cientificamente com garantam a eficiência audiovisuais, instrução
teleducação; problemas reais. e a eficácia do programada, tecnologias de
ensino à distância. ensino. ensino, computadores, etc);
comportamentos condicionantes
e reforçadores nos alunos

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ABORDAGEM HUMANISTA

Escola Aluno Professor Ensino aprendizagem

Democrática; Ser ativo; centro do Facilitador da Objetivos educacionais


afrouxamento das processo de ensino e aprendizagem. relacionados ao desenvolvimento
normas disciplinares; aprendizagem; psicológico do aluno; conteúdos
oferecer condições ao criativo e programáticos selecionados a
desenvolvimento e participativo; partir dos interesses dos alunos;
autonomia dos alunos. aprender a aprender. avaliação valoriza aspectos
afetivos (atitudes) e a auto-
avaliação.

ABORDAGEM COGNITIVISTA

Escola Aluno Professor Ensino aprendizagem

Dá condições para o Papel ativo de Criar situações A inteligência é


aluno aprender observar, desafiadoras e desenvolvida considerando
autonomamente; experimentar, desestabilizadoras do o sujeito inserido numa
liberdade de ação real e comparar, status quo; papel de situação social e construída
material; prioridade relacionar, orientador; reciprocidade a partir da troca do sujeito
psicológica da justapor, compor, e cooperação com os com o meio, pelas ações do
inteligência sobre a encaixar, levantar alunos. indivíduo; ensaio e erro,
aprendizagem; ambiente hipóteses, pesquisa, solução de
desafiador (motivação). argumentar, etc. problemas; aprender a
pensar; ênfase nos trabalhos
em equipe e jogos.

ABORDAGEM SOCIOCULTURAL

Escola Aluno Professor Ensino aprendizagem

Organizada e Pessoa concreta, objetiva, Direciona e conduz o Objetivos educacionais


funcionando bem que determina e é processo de ensino e definidos a partir das
para proporcionar determinada (produto e aprendizagem; relação realidades concretas do
os meios processo) pelo social, horizontal entre contexto histórico-social no
necessários para político, econômico e professor e aluno; qual se encontram os
que a educação individual (pela história); ambos são sujeitos do sujeitos; consciência crítica;
se processe. capaz de operar conhecimento e do ato diálogo e grupos de
conscientemente do conhecimento. discussão; temas geradores
mudanças na realidade extraídos da prática da vida
dos educandos.
Quadro elaborado com base no texto ”Abordagens do processo de ensino e aprendizagem”. Fonte: SANTOS, Roberto Vatan dos.

Estamos quase terminando esta unidade. Não desanime!


 
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Aula 4 |  INCLUSÃO: CAMINHOS PARA UMA EDUCAÇÃO DA RESILIÊNCIA

Estimados Estudantes.
Depois de percorrermos o cenário da educação no século XXI, não podemos deixar de estudar um fenômeno
cada vez mais presente em nossos contextos sociais e na escola: a inclusão de pessoas com deficiência. No
Brasil, esta é uma situação bastante recente, se considerarmos a legislação e as políticas públicas de inclusão.
Na aula que segue, vamos conhecer um pouco da história da inclusão, a importância que tem a convivência
com pessoas com deficiência para uma educação para a resiliência, os dispositivos legais de inclusão e os
desdobramentos em sala de aula.

A história de Dolores faz a gente pensar sobre os vários limites que, de


alguma forma, todos nós temos.
Assista ao depoimento e faça uma reflexão.
http://tinyurl.com/zw43px5

Você conhece alguma pessoa com deficiência? Qual é a situação dela? Como ela e a
família se organizam para acolher e superar os limites?

Sugerimos que você entreviste essa pessoa, ou alguém da família, e compartilhe com a turma. É importante
você pegar a autorização do entrevistado para que possa compartilhar a entrevista.

4.1.  OS CAMINHOS DA INCLUSÃO


Para compreender o percurso histórico que seguiu a luta pela inclusão de pessoas com deficiências,
é importante percebermos que, para classificar alguém, a sociedade utiliza-se de padrões
construídos por ela mesma. Os padrões sociais e culturais são definidos por um grupo dominante e
um código moral e legal é criado para sustentar estas definições. Assim, por exemplo, em algumas
sociedades as crianças vivem e circulam por todo o grupamento e todos são educadores das
crianças, sem a exclusividade dos pais na educação.
Em outros meios sociais, a educação dos filhos é de responsabilidade exclusiva da família. Muitos pais até
se ofendem e acham abusivo quando, para educar a criança, algum vizinho faz uma intervenção. São
padrões culturais e sociais que definem, também, o que é deficiência e quais os procedimentos relativos
ao atendimento das pessoas com deficiência.
Em alguns grupos sociais, as crianças que nascem com algum sinal de deficiência são assassinadas. Em
outros, as pessoas com deficiência são consideradas seres especiais, abençoados pelos deuses e possuem
tratamento prioritário e diferenciado. Por isso, é importante compreender o fenômeno das diferenças
entre as pessoas, as deficiências e os procedimentos para que essas pessoas sintam-se acolhidas e
tenham uma vida normal na comunidade.
No século XIX, por iniciativas bastante individuais e influenciados por alguns projetos norte-americanos,
alguns Brasileiros criaram serviços de atendimentos especializados para pessoas com deficiência.
Segundo Mantoan (2003), essas iniciativas não possuíam um apoio formal do poder público e também
não tinham nenhum suporte legal ou políticas que garantissem tais atendimentos. As instituições que
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prestavam esse tipo de serviço, normalmente eram mantidas por doações das famílias dos deficientes e o
trabalho bastante calcado no voluntariado.
Segundo Mantoan (2003), três fases marcaram a história da inclusão no Brasil:

A primeira, de 1854 a 1956, era caracterizada por iniciativas individuais, com serviços
voluntários, ações isoladas e com pouca fundamentação científica; a segunda, que
abrange o período de 1957 a 1993, é marcada por um processo de institucionalização e
oficialização dos serviços especializados, mas, ainda, fora do ambiente escolar; e, a
terceira desde 1993 existe a predominância dos movimentos de inclusão, com criação de
leis e políticas que atendam, de forma inclusiva, as pessoas com deficiência.

A escola inclusiva, de acordo com Mantoan (2003), enriquece seu modo de educar na medida em que
acolhe, com os devidos processos de adaptação, tanto as diferenças sociais,
econômicas, étnicas, bem como as deficiências físicas, motoras, sensoriais,
mentais. É evidente que, para um processo educativo inclusivo, é necessário
formar o professor adequadamente, oferecendo-lhe meios para que possa
desenvolver seu trabalho pedagógico com qualidade para todos os estudantes.
O psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934) foi um dos precursores no estudo
sobre a relação entre a deficiência e o desenvolvimento e a implantação de
meios de superação dos limites, particularmente na educação. Para este autor
(2008), a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente
Lev Vygotsky - wikipedia.org
desenvolvidas é o que constitui, no processo formativo, o sujeito humano.
Dessa forma, a deficiência não é uma característica individual, de uma diferença subjetiva, mas pode ser
acolhida pelo grupo social e transformada em um meio de superação de limites de todas as pessoas, já
que, de alguma forma, cada um possui suas limitações.

Para saber um pouco mais da vida e obra de Lev Vygotsky, leia o texto a
seguir.
http://tinyurl.com/hump3h5

O espaço educativo inclusivo possibilita que, por meio da interação, todos se eduquem no convívio com as
diferenças e aprendam, cada um a seu modo, a superar os limites que, inevitavelmente, a vida nos oferece.
Vygotsky (2008) insiste, ainda, que a relação é o ambiente privilegiado da aprendizagem. Através do que o autor
chama de zona de desenvolvimento proximal, cada um aprende na relação com o outro, desenvolvendo-se e
crescendo motivado justamente pelas diferenças na relação. Por isso, no decorrer da história da educação de
pessoas com deficiência, o atendimento especializado, que agrega pessoas de deficiências equivalentes, é
problematizado em relação à inclusão escolar, que propicia o encontro com as diferenças.
A grande diferença entre o atendimento especializado e a inclusão é a concepção social que fundamenta a
defesa de cada uma dessas iniciativas. O atendimento especializado acolhe a pessoa com deficiência
naquilo que é sua necessidade específica, desvinculando-o do ambiente social. Embora essa iniciativa possa
dar suporte ao deficiente, ele permanece marginalizado. A inclusão, por outra parte, possibilita que o
deficiente seja sujeito de seu processo, criando, sobretudo pela convivência, um ambiente que o acolhe e
respeite seus limites. Dessa forma, há uma relação recíproca de adaptação entre o sujeito, o grupo e o meio.

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Durante muito tempo, o conceito de pessoa com deficiência esteve relacionado à ideia de incapacidade.
Pensava-se que o deficiente era incapaz de fazer certas coisas, conviver, trabalhar, etc. Com os
movimentos de inclusão, sustentado pela luta de muitas pessoas que, como a Dolores (do vídeo que
assistimos), mostram seu potencial e sua capacidade de contribuir com a sociedade e com o mundo, hoje
sabemos que os deficientes podem ser perfeitamente integrados ao convívio social, em tudo o que ele
significa. Para isso, no entanto, é necessária uma disposição da comunidade e uma adaptação de espaços
e recursos. Vamos ver, no ponto a seguir, como a legislação ampara a inclusão na sociedade e na escola.

Para saber mais sobre os avanços e os desafios na Educação Inclusiva,


assista ao vídeo chamado “Lei Brasileira de Inclusão trouxe avanços e
desafios para as escolas, apontam especialistas” a seguir.
http://tinyurl.com/hbm6tld

4.1.1.  A INCLUSÃO E AS POLÍTICAS DE GARANTIA DO ATENDIMENTO ESCOLAR


A legislação brasileira sobre a inclusão foi progressivamente constituindo-se para dar amparo e garantias
para um processo realmente inclusivo e promotor da dignidade e da cidadania. Graças ao percurso de
mobilização social que, paulatinamente foi considerando a importância e a dignidade em incluir as
pessoas com deficiência, as leis internacionais e brasileiras garantiram muitos direitos a este público.
Em 1981, a Organização das Nações Unidas (ONU) declara o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência.
A campanha mobilizou muitas discussões sobre o tema, estudos, iniciativas nos distintos âmbitos sociais
e a criação de muitos organismos responsáveis por cuidar deste grupo da sociedade. A partir daí, criaram-
se muitos movimentos em favor da inclusão como um meio efetivo de integrar os deficientes nos
distintos segmentos tais como escola, trabalho, entre outros.

A Constituição Federal Brasileira, além da garantia de igualdade e de educação para


todos, em seu artigo 208, ao definir o dever do Estado com a educação, no ítem III,
garante: “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”. Desta forma, as escolas precisam
adaptar-se com recursos adequados e pessoas capacitadas para o atendimento.

Em 1989, como forma de desdobramento da Constituição e regulamentação do Art. 208, a Lei 7.853
define a política nacional da pessoa com deficiência. No mesmo ano, vinculado ao Ministério da Ação
Social, é criada a Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Deficiente. Com isso, o Brasil dá os
primeiros passos significativos na direção da inclusão.
Entretanto, o documento mais importante para a inclusão escolar da pessoa com deficiência foi,
certamente, a Declaração de Salamanca, realizada em 1994. Entre outros avanços, o documento prevê a
criação de meios para o atendimento de estudantes com deficiência dentro da estrutura escolar e
curricular. Também considera crianças com necessidades educacionais especiais aquelas que, de modo
temporário ou permanente, vivem alguma situação que traga prejuízo na aprendizagem. De certa
maneira, as políticas brasileiras caminharam ao lado das propostas internacionais. Por isso, o Brasil
assumiu esta declaração com força de lei nacional.

As leis relativas à educação e a assistência social sempre andaram muito próximas,


evoluindo conjuntamente. Por exemplo: a Lei 8742/93, que trata da assistência social,
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definia a pessoa com deficiência, em seu artigo 20, como aquela “incapacitada para o
trabalho e para a vida independente”.

O conceito presente nesta lei, inferioriza o deficiente, gera uma assistência paternalista e não proporciona
que, por meio de um processo educativo do sujeito e da sociedade, a pessoa com deficiência realmente se
integre na sociedade. Com base nesta definição, o atendimento escolar a pessoas com deficiência, reduzia-
se a escolas especializadas e separadas dos sistemas regulares de ensino.
Em 2007, na cidade de Nova York, realizou-se a Convenção Internacional Sobre os Direitos da Pessoa com
Deficiência. Esse evento foi muito importante pois trouxe uma nova definição acerca da pessoa com
deficiência. Diz a convenção:

Artigo 1 (...) Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de
condições com as demais pessoas.

O Brasil acolheu esta definição por meio do Decreto 6.949/09, tornando a declaração decorrente da
Convenção, uma peça de lei brasileira.

Segundo Fonseca (2008), o conceito construído pela Convenção amplia a


definição para o aspecto social. A pessoa com deficiência não é aquela que
tenha somente restrições da dimensão física ou intelectual, mas também é
cerceada e dificultada por seu meio social. Decorre daí a necessidade de um
olhar prioritário para as práticas inclusivas, que possibilitam, por meio da
educação e da adaptação, a autonomia e a potencialização das qualidades
contributivas do deficiente para a própria sociedade.

Segundo Fonseca (2008), o conceito construído pela Convenção amplia a definição para o aspecto social.
A pessoa com deficiência não é aquela que tenha somente restrições da dimensão física ou intelectual,
mas também é cerceada e dificultada por seu meio social. Decorre daí a necessidade de um olhar
prioritário para as práticas inclusivas, que possibilitam, por meio da educação e da adaptação, a
autonomia e a potencialização das qualidades contributivas do deficiente para a própria sociedade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394, de 20 de dezembro de 1996), trata do
atendimento de estudantes com deficiências nos artigos 58 a 60. O foco da LDB, no entanto, é
direcionado ao atendimento especializado, mais do que à educação inclusiva. Mesmo não sendo clara
quanto à inclusão, no parágrafo 2º. Do Art. 58, o código afirma: “O atendimento educacional será feito em
classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos,
não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. Isso coloca o atendimento
especializado em condição de extraordinariedade em relação à inclusão, que deve ser o foco da
educação de pessoas com deficiência.

Como é possível perceber, foi necessário um longo percurso para que a legislação
garantisse o mínimo de condições para que as pessoas com deficiência pudessem
acessar a escola e, mais do que o acesso, tivessem a qualidade necessária do ensino
para o seu pleno desenvolvimento.

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Ao pensarmos a organização do trabalho pedagógico, é de fundamental importância termos presente a


necessidade de planejamento, atitudes, adaptações, meios e recursos para promover a inclusão em sala
de aula e na escola.

A seguir, você pode ter acesso a toda legislação brasileira sobre a


inclusão educacional de pessoas com deficiência. Veja Como a
Legislação Assegura a Inclusão dos Alunos com Deficiência e saiba mais!
http://tinyurl.com/jl9ozbh

4.2.  EDUCAR PARA A RESILIÊNCIA


A sociedade moderna construiu uma noção de felicidade baseada na ausência do sofrimento. Com muita
frequência, as pessoas com deficiência são vistas como sofredoras e, de alguma forma, lembram às demais
do sofrimento que mora em todos nós. A felicidade, entretanto, está mais relacionada com a forma como
encaramos a vida, a capacidade que temos de vencer barreiras, superar limites e desapegarmo-nos de
coisas e de situações. É muito frequente encontrarmos pessoas com deficiência vivendo alegremente,
dispostas, encarando a vida com energia e satisfação. Em outras palavras, são felizes.

Por que isso acontece? Como podemos educar para a superação de limites e a
felicidade? Vamos ver isso, brevemente, nesse ponto.
O sofrimento é condição inerente ao ser humano.

Mas, a felicidade também é. A capacidade que temos de voltar a sorrir, de manifestar alegria, de
viver de bem com a vida, após algum trauma é chamada de resiliência.

Emprestado da física, resiliência quer dizer a propriedade de um corpo, geralmente os


metais, de voltar ao estado original após alguma intervenção sobre ele. Se martelamos
uma barra de ferro, por exemplo, ela cede, mas depois volta ao estado anterior. Essa
condição no ser humano está em potencial, mas pode ser educada para que as pessoas
vivam mais felizes.

Superar as adversidades de vivências pessoal, social e profissional, assim como, situações graves de
doenças ou, perdas, em um exercício de flexibilidade que, permite que a pessoa saia da posição de
vítima, ao (re)significar o sofrimento e superar os traumas, como diz a canção de Paulo Vanzolini,
“Reconhece a queda, mas não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.
A presença de pessoas com deficiência nos grupos sociais, de certa forma, lembra da condição frágil e
vulnerável de todos nós. Em geral, é nossa inabilidade de lidar com nossos próprios limites que produz o
desejo de não estar na presença dessas pessoas. De outra parte, a inclusão de deficientes ajuda a
construir o espírito de solidariedade e de resiliência. Afinal, cada um possui, em algum grau, suas
limitações. Acolher uma criança com deficiência na sala de aula, motivar os colegas a inseri-la nas
brincadeiras, convidá-la a pronunciar-se sobre sua condição, deixa-la solicitar auxílio quando necessário,
compreender seu ritmo de estudo e de aprendizagem, além de ser formas de incluir constitui-se,
também, em estratégias de formação para a resiliência.
Pensar o trabalho pedagógico como possibilidade de inclusão é tarefa inerente ao papel do educador de
nosso tempo. Existem iniciativas muito interessantes de adequação de materiais para deficientes. Na
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Universidade Federal de Minas Gerais, por exemplo, um projeto de extensão produz e distribui, para as
escolas, placas de resina com os órgãos do corpo humano em alto relevo para que deficientes visuais
possam aprender anatomia. Esportes adaptados para cadeirantes são introduzidos em atividades de
educação física em escolas de todo o país.
São iniciativas como estas que, com a devida adequação, cada professor pode pensar e propor em suas
aulas para incluir as pessoas com deficiência. A presença de técnicas e recursos adaptados para
deficientes, no convívio escolar com as demais crianças, vai, paulatinamente, criando o espírito de
acolhida e convivência com as diferenças.
Acolher o sofrimento de alguém é, também, acolher o sofrimento da humanidade, as situações de
desprazer e desconforto que, em algum momento, se faz presente na vida de todos nós. De acordo com
Birman (2009), a principal causa do sofrimento está na idealização de uma sociedade sem sofrimentos.
Daí a importância de, nos processos de aprendizagem, educar para atitudes inclusivas, respeitando as
diferenças, potencializando os talentos, acolhendo os afetos e, sobretudo, vivendo a possibilidade da
felicidade no convívio presente de cada momento, onde todos são acolhidos, respeitados e amados.

Para complementar a leitura, tecendo uma relação entre educação,


inclusão e resiliência, sugiro-lhes a leitura desse artigo apresentado no
IV Colóquio Internacional – Educação, Cidadania e Exclusão.
Educação Inclusiva, Habilidades Sociais E Resiliência
http://tinyurl.com/zhxd47s
Conheça um pouco mais sobre a resiliência:
Resiliência: Sendo Casca Grossa
http://tinyurl.com/z6e4oot

Você terminou o estudo desta unidade. Chegou o momento de verificar sua


aprendizagem. Ficou com alguma dúvida? Retome a leitura.
Quando se sentir preparado, acesse a Verificação de Aprendizagem da unidade no menu
lateral das aulas ou na sala de aula da disciplina. Fique atento, essas questões valem nota!
Você terá uma única tentativa antes de receber o feedback das suas respostas, com
comentários das questões que você acertou e errou.
Vamos lá?!

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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO| UIA 1 | 25

REFERÊNCIAS
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VYGOTSKY, Lev S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
 

GLOSSÁRIO

Epistemologia: Estudo sobre a natureza, processos, métodos do conhecimento, seus limites e a relação
entre sujeito e objeto.
Paradigma: Modo de compreender a realidade, com seus desdobramentos nas várias áreas: ciência,
política, cultura, educação, entre outras.
Sistema fordista: Termo criado por Henry Ford, em 1914, que se refere ao modelo de produção em
massa de um produto, ou seja, ao sistema das linhas de produção. Fonte: http://tinyurl.com/zngl2hm

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