Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Pomilio
Energia elétrica é o melhor vetor energético disponível na atualidade. Por vetor energético se
entende uma modalidade de energia que pode ser transmitido de um local a outro e pode ser
transformado em outra forma de energia.
Como exemplo, o gás natural, para ser levado de um local a outro, necessita de um gasoduto.
No local de uso, pode ser transformado em calor (por combustão), em movimento (em um motor
de combustão interna) ou em luz (por uma combustão adequada).
Já a eletricidade também pode ser facilmente convertida em energia mecânica, em energia
térmica ou luminosa. Seu transporte é feito por condutores metálicos, ou seja, uma infraestrutura
muito mais simples, segura e de menor custo que um gasoduto, por exemplo.
Outras definições importantes se referem aos conceitos de energia renovável, de energia
alternativa e de energia limpa.
Por energia limpa se entende uma forma de energia que, para sua produção, não leve a
emissão de gases ou outros resíduos nocivos, ou que contribuam para o chamado efeito estufa.
Por energia renovável se entendem as formas de energia que ocorrem na natureza e que são
produzidas continuamente em decorrência da energia absorvida do sol, a qual, para efeitos da
Humanidade, é suposta de duração infinita. Enquadram-se na definição as energias vindas
diretamente do sol (como a fotovoltaica), do vento, da biomassa, do movimento das águas em
geral (maré, ondas, desníveis, etc.).
Em contraposição, as energias não renováveis são aquelas disponíveis na natureza, cuja
formação se deu em longos intervalos de tempo (eras geológicas), de modo que os materiais a que
estão associadas não podem ser repostos com a velocidade exigida pelo consumo. Nesse caso tem-
se o petróleo, gás natural, carvão mineral, urânio, etc.
Por energia alternativa entende-se uma forma de energia que pode vir a substituir outra. Em
geral é associada a fontes para as quais não se tem garantia de produção permanente (como a
eólica), mas que, no entanto, podem (e devem) ser usadas quando disponível, evitando o consumo
de energia proveniente de fontes não renováveis, ou mesmo de renováveis (como a hidrelétrica). O
uso destas fontes alternativas não prescinde de que exista uma fonte perene disponível para ser
utilizada quando necessário, garantindo o fornecimento desejado.
A figura 2.1 mostra a evolução da Matriz Energética brasileira, indicando a participação das
fontes de energia. A figura 2.2 mostra a participação relativa de cada fonte. Há um crescimento
absoluto de quase todos os tipos de energia, à exceção da lenha, carvão vegetal e carvão mineral.
Em termos relativos, a eletricidade contribui com pouco menos de 20% do total de energia
consumida no país. Os valores são dados em tonelada equivalente de petróleo (tep). Os valores
somados de álcool e de bagaço de cana praticamente igualam a energia elétrica. De longe, o
grande insumo energético é o petróleo, usado para praticamente todo o sistema de transporte e, em
boa parte, também para outras aplicações, como aquecimento e até geração de eletricidade.
Percebe-se, assim, importância da redução do consumo de petróleo. Isso tem como
contrapartida a necessidade de um grande crescimento de produção de outras fontes de energia, de
modo a suprir o que for reduzido em termos de combustíveis fósseis não renováveis.
Um conceito importante na concepção do sistema em geral é o de Garantia Física, que é a
energia que uma fonte geradora pode assegurar (antigamente denominada “energia assegurada”) a
um risco de 5%. Essa garantia é calculada por modelos de simulação da operação em base mensal
sobre séries sintéticas de vazões (no caso das hidrelétricas), ou de comportamento do vento (no
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-1
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
caso eólico) utilizando uma determinada política de despacho das usinas. Seguem alguns
exemplos, nos quais se pode comparar a garantia física de alguns tipos de geração. 1
Tabela 2.1
Tipo MW MW %
Itaipu UHE 12.600 8.612 68,3
Ilha Solteira UHE 3.444 1.949 56,6
Parque Eólico de Osório EOL 50 17,71 35,4
Canoa Quebrada EOL 57 20,53 36
Angra II UTN 1.350 1.204,70 89,2
A figura 2.3 mostra a composição da Matriz Elétrica brasileira, em 2014 e 2015. Mais de
dois terços da eletricidade provém de fonte hidráulica. O total de fontes renováveis se aproxima de
80%, sendo a matriz brasileira a mais “limpa” 3 do mundo. O percentual de energia eólica é
pequeno (3,5%), mas já supera fontes tradicionais, como a nuclear, tendo um crescimento muito
rápido.
Os estudos oficiais sobre a evolução dessa matriz até 2030 indicam uma redução relativa da
fonte hidráulica (embora com aumento no valor absoluto) e um crescimento de outras fontes
renováveis, principalmente a biomassa e a eólica, resultando em um aumento no total de fontes
renováveis. Em termos absolutos, há a previsão de um aumento de todas as fontes, incluindo a
nuclear, gás natural e carvão.
1
http://www.antoniolima.web.br.com/arquivos/tabelaassegurada.htm Acesso em 2017
2
http://www.mme.gov.br/documents/10584/1143895/2.1+-+BEN+2015+-+Documento+Completo+em+Portugu%C3%AAs+-
+Ingl%C3%AAs+(PDF)/22602d8c-a366-4d16-a15f-f29933e816ff?version=1.0 . Acesso em 2017.
3
A questão da emissão de gases, principalmente metano, nos reservatórios das hidrelétricas que ocupam áreas florestais é um ponto
de divergência quando se discute o caráter “limpo” da energia de fonte hidráulica.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-2
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
4
http://www.cbdb.org.br/informe/img/63socios7.pdf Acesso em 2017.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-3
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
5
http://resourceirena.irena.org/gateway/dashboard/?topic=3&subTopic=31
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-4
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
6
http://resourceirena.irena.org/gateway/dashboard/?topic=3&subTopic=32
7
http://resourceirena.irena.org/gateway/dashboard/?topic=3&subTopic=33
8
http://www.brasilescola.com/mitologia/eolo.htm
9
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/06-Energia_Eolica(3).pdf
10
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/energia_eolica/6_2.htm
11
Grubb M. and Meyer N. Wind energy: resources, systems, and regional strategies, chapter 4, pages 157–212. In
Johansson and Williams (1993), 1993
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-5
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
de capacidade (Cp) para determinar a energia elétrica efetivamente disponível, bem como as curvas
de eficiência dos sistemas mecânicos e de geração de energia elétrica. Os sistemas foram
considerados disponíveis 98% do tempo.
Figura 2.7 Potencial eólico brasileiro por regiões, segundo Atlas de 2001 (a 50 m de altura) 12
Tabela 2.2
Velocidade (m/s2) 6 a 6,5 6,5 a 7 7 a 7,5 7,5 a 8 8 a 8,5 >8,5
Cp 0,13 0,17 0,20 0,25 0,30 0,35
A figura 2.8 mostra estudo para o estado de São Paulo, com cálculo a 100 m de altura.
12
http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/atlas_eolico/Atlas%20do%20Potencial%20Eolico%20Brasileiro.pdf
13
http://www.jornaldaenergia.com.br/ler_noticia.php?id_noticia=9010&id_tipo=3&id_secao=9
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-6
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Figura 2.8 Mapa do potencial eólico do estado de São Paulo (a 100 m de altura) 14
14
http://www.energia.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/385.pdf
15
Everaldo Alencar Feitosa, “Energia Eólica no Brasil: Situação Atual e Perspectivas”, disponível em
www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=1033
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-7
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Esta potência não pode ser integralmente convertida em potência mecânica no eixo da
turbina, pois o ar, depois de atravessar o plano das pás, sai com velocidade não nula. Há um
máximo teórico para o rendimento da conversão eolo-mecânica cujo valor é 59,3%, conhecido por
Limite de Betz16. O rendimento efetivo da conversão numa turbina eólica depende da velocidade
do vento e é dado por:
P
C p ( v ) mec (2.1)
Pdisp
Figura 2.10 Índice mensal de vento na Dinamarca (em % da média de longo prazo)
http://docs.wind-watch.org/Boccard-Capacity-Factor-Of-Wind.pdf e
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S030142150900144X
Figura 2.11 Medições de vento na Dinamarca (média móvel mensal) e comparação com índice
NAO (North Atlantic Oscillation 17).
http://docs.wind-watch.org/Boccard-Capacity-Factor-Of-Wind.pdf
16
Albert Betz foi um físico alemão que em 1919 concluiu que nenhuma turbina eólica pode converter mais do que 16/27 (59.3%)
da energia cinética do vento em energia mecânica no rotor. Este limite tem a ver com a natureza das turbinas eólicas. Os
aerogeradores extraem energia ao freiar o vento. Para um aerogerador ser 100% eficiente precisaria provocar a parada total na
massa de ar mas, nesse caso, em vez de pás seria necessário um corpo sólido cobrindo 100% da área de passagem e o rotor não
rodaria e não converteria a energia cinética em mecânica. No outro extremo, uma turbina com apenas uma pá, a maior parte do
vento passaria "sem obstáculo, mantendo toda a energia cinética. Entre estes dois extremos existe um ponto máximo de rendimento,
que é o limite de Betz. Fontes: http://www.aerogeradores.org/limitedebetz.php e http://en.wikipedia.org/wiki/Betz'_law
17
Oscilação do Atlântico Norte (NAO) é um fenômeno climático, identificado em 1920, que se associa a flutuações na diferença de
pressão atmosférica ao nível do mar entre da Islândia e os Açores, levando a uma variação na força e na direção dos ventos de oeste
e se relaciona a tempestades sobre o Atlântico Norte. Sua variação ao longo do tempo, aparentemente, não tem periodicidade
específica. Fonte: Wikipedia.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-8
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Tabela 2.3
Países com maior capacidade instalada MW Produção e aproveitamento do TWh %
(em Junho de 2016) potencial instalado (2015)21
China 168.690 Estados Unidos 193 30%
Estados Unidos 82.184 China 185 14,5%
Alemanha 50.018 Alemanha 88 22%
Índia 28.700 Espanha 49 24%
Espanha 23.074 Índia 41 19%
Reino Unido 14.543 Reino Unido 40 33%
Canadá 12.066 Canadá 25 25%
França 11.900 Brasil 22 28%
Brasil 10.740 Mundo 841 22%
2.2.3 Aerogeradores 22
Turbinas eólicas de eixo horizontal (HAWT, na sigla em inglês) têm o eixo do rotor
principal e gerador elétrico no topo de uma torre. Pequenas turbinas são apontadas na direção do
vento por um cata-vento simples. Turbinas grandes geralmente usam um sensor de vento acoplado
a um servomotor para acertar o direcionamento. A maioria tem uma caixa de engrenagens que
ajusta a rotação lenta das pás a uma rotação mais rápida, adequada ao gerador elétrico.
Turbinas usadas em parques eólicos para a produção comercial de energia elétrica são
geralmente de três pás. Apesar dos rotores com duas pás serem um pouco mais eficientes, são mais
instáveis e propensos a turbulências, trazendo risco à sua estrutura. Isso já não acontece nos rotores
de três pás que são muito mais estáveis, barateando seu custo e possibilitando a construção de
aerogeradores de mais de 100 metros de altura e com capacidade de geração de energia que
ultrapassa 5 MW.
Em um rotor com duas pás, quando uma passa pelo ponto mais elevado, estará submetida à
máxima força do vento, enquanto a pá inferior estará passando pela torre, ou seja, com a mínima
força. Isso produz um esforço adicional sobre o eixo e sobre a torre. Com o uso de três pás tal
situação de desequilíbrio não ocorre, dado o posicionamento a 120º entre elas.
Dado o diâmetro do rotor, a velocidade periférica das pás é elevada, em torno de 300 km/h.
As pás são geralmente leves de cor cinza para se mimetizar com as nuvens, com comprimento de
20 a 40 metros ou mais. As pás giram 22 a 10 rotações por minuto. Uma caixa engrenagens é
usada para elevar a velocidade de giro na conexão com o gerador. Alguns modelos operam a
18
http://www.gwec.net/wp-content/uploads/vip/GWEC_PRstats2016_EN_WEB.pdf (acesso 2017)
19
"World Wind Energy Report 2010" (PDF). Report. World Wind Energy Association. February 2011. Retrieved 8-August-2011.
http://www.wwindea.org/home/images/stories/pdfs/worldwindenergyreport2010_s.pdf
20
https://yearbook.enerdata.net/electricity-domestic-consumption-data-by-region.html (acesso 2017)
21
https://www.worldenergy.org/wp-content/uploads/2016/10/World-Energy-Resources-Full-report-2016.10.03.pdf
22
http://en.wikipedia.org/wiki/Wind_turbine
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-9
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
velocidade constante, mas mais energia pode ser coletada por turbinas de velocidade variável,
empregando conversores eletrônicos de potência na interface com o sistema elétrico. Estas turbinas
são equipadas com recursos de proteção para evitar danos em velocidades de vento muito altas,
com controles de posicionamento das pás e sistemas de freio.
Turbinas eólicas de eixo vertical (VAWT, na sigla em inglês) têm o eixo do rotor principal
disposto verticalmente. A principal vantagem deste arranjo é que a turbina não precisa ser
apontada na direção do vento, o que é útil em locais onde a direção do vento é muito variável e em
ambientes urbanos. É aplicada principalmente em potência reduzida e em locais em que não são
viáveis torres de maior altura. A turbulência resultante no vento é mais severa e não permite
instalações de “wind farms”.
Com um eixo vertical, gerador e caixa de engrenagem podem ser colocados perto do chão,
melhorando a acessibilidade para manutenção. Por apresentar baixa velocidade de rotação, têm
torque elevado, o que implica em maiores relações na caixa de engrenagens. A maior turbulência
no fluxo de ar leva a um comportamento pulsante torque. Há uma maior dificuldade de modelar o
fluxo de vento com precisão e, portanto, problemas para analisar e projetar o sistema antes de
fabricação de um protótipo.
As turbinas de eixo horizontal convertem mais energia eólica em mecânica porque as
lâminas são perpendiculares à direção do vento e captam a energia em toda amplitude de sua
rotação. Em comparação, as pás numa turbina de eixo vertical apresentam menor rendimento,
capturando energia do vento apenas na parte frontal; na posição traseira de sua rotação apenas se
movimentam de acordo com a rotação, mas não colaboram para o torque.
A potência das turbinas segue uma trajetória crescente há muitos anos, como ilustra a
figura 2.13. A conversão de maiores potências exige maior área coberta pelo giro das pás,
concomitantemente à maior altura das torres e, por conseguinte, colhendo ventos de maior
intensidade.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-10
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Figura 2.13 Relação entre dimensões e potência de sistemas eólicos, indicando a evolução nos
últimos anos.23
23
https://b-i.forbesimg.com/williampentland/files/2014/01/Wind_turbine_size_increase_1980-2011.png
24
M. Tsili S. Papathanassio, A review of grid code technical requirements for wind farms, IET Renew. Power Gener.,
2009, Vol. 3, Iss. 3, pp. 308–332, http://ieeexplore.ieee.org/stamp/stamp.jsp?tp=&arnumber=5237667
25
Resolução Normativa ANEEL 482 de 17/04/2012. http://www.aneel.gov.br/cedoc/bren2012482.pdf
26
REN ANEEL 687 de 24/11/2015 - http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf
27
ANSI/IEEE 1021-1988, IEEE Recommended Practice for Utility Interconnection of Small Wind Energy Conversion
Systems
28
IEEE Std. 1094-1991, IEEE Recommended Practice for the Electrical Design and Operation of Windfarm
Generating Stations.
29
Capacidade de gerador elétrico permanecer conectado em períodos (curtos) de redução de tensão ocoasionado por
falhas na rede elétrica externa.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-11
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Figura 2.14 Limite de suportabilidade de tensão por uma planta de geração eólica.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-12
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-13
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Potência
Nominal
Controle
stall passivo
3 R r Vs2
Td (2.3)
R r 2 2
s s R s s X s X r
I jX R jX r
s s s
I
+ m Rr
Vs s
jX
m
I =I
Zi s r
Figura 2.19 Modelo simplificado, por fase, de motor de indução.
32
F. Blaabjerg and Z. C, “Power Electronics for Modern Wind Turbines”, Morgan & Claypool Publishers, 2006
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-14
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Para operação como gerador a máquina de indução deve trabalhar com escorregamento (s)
negativo, ou seja, acima da velocidade síncrona (s) conforme ilustra a figura 2.20. A faixa de
operação estável é estreita, em termos de velocidade, ocorrendo entre o escorregamento nulo e o
ponto no qual se tem o máximo torque (Tmr). Tipicamente esta faixa é de 1 a 2% da velocidade
síncrona.
s s s
Td m
Generação Tração Reversão
0 s
m s m m
s
T s
mr
1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2
-s m sm
Figura 2.20 Característica torque x velocidade de máquina de indução trifásica.
Caixa de Soft-starter
engrenagens
Figura 2.21 Conexão direta de GI à rede elétrica – operação com velocidade constante.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-15
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
0
Rr
0.5
5Rr
10Rr
Td/Tmr 1
-0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 s
Figura 2.22 Característica torque - velocidade para diferentes valores de resistência de rotor.
Gerador de Indução
Caixa de SS
engrenagens
Figura 2.23 Conexão de GI com rotor bobinado – operação com velocidade variável.
A figura 2.24 mostra outro arranjo, no qual o gerador de indução com rotor bobinado tem
aplicada no enrolamento do rotor uma tensão CA controlada. Quando o gerador opera acima da
velocidade síncrona, potência é enviada à rede tanto pelo enrolamento do estator (diretamente)
quanto pelo de rotor, através dos conversores CA/CC e CC/CA.
Abaixo da velocidade síncrona, injeta-se potência no motor através do enrolamento do
rotor, de modo que se tem controle sobre o campo girante da máquina (que é uma composição da
velocidade mecânica do eixo com o campo girante da corrente do rotor). Uma faixa de variação de
+30% da velocidade é possível com um conversor que processa aproximadamente 30% da
potência nominal do gerador. Além disso, é possível controlar tanto o fluxo de potência ativa
quando o de potência reativa, melhorando o comportamento na interconexão com a rede CA.
Este arranjo prescinde de procedimentos de partida suave e de fornecimento de reativos,
pois ambas funções podem ser realizadas pelos conversores utilizados. Esta configuração é,
naturalmente, de maior custo que as anteriores, no entanto, torna-se possível uma maior produção
de energia elétrica e há menores esforços sobre a caixa de engrenagens.
Gerador de Indução
Tranformador Rede
Caixa de
engrenagens
CA CC
CC CA
Pref Qref
Figura 2.24 Conexão de DFIG
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-16
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Gerador de Indução
ou Gerador de Ímãs Permanentes (PM) Tranformador Rede
Caixa de CA CC
engrenagens
CC CA
Pref Qref
CC
CA
Caixa de CA CC
engrenagens
CC CA
Tranformador Rede
Gerador Síncrono
Pref Qref
33
Microgeração distribuída é uma central geradora de energia elétrica com potência instalada menor ou igual a 100 kW e que
utiliza fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada, conforme regulamentação da
ANEEL (Resolução Normativa n° 235/2006, de 14/11/2006), conectada na rede de distribuição por meio de instalações de unidades
consumidoras.
34
CPFL Energia, Conexão de Micro e Minigeração Distribuída sob Sistema de Compensação de Energia Elétrica, 2012.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-17
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Figura 2.27 Comportamento complementar de geração eólica e hídrica em período anual no vale
do rio São Francisco. http://www.cresesb.cepel.br/download/casasolar/casasolar2013.pdf
35
Rui M. G. Castro, “Introdução à Energia Eólica”, Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal, 2003.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-18
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-19
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
A conversão direta da energia solar em energia elétrica ocorre pelos efeitos da incidência de
radiação sobre determinados materiais, particularmente os semicondutores. No efeito fotovoltaico
(FV) os fótons contidos na luz solar são convertidos em energia elétrica, por meio do uso de
células solares”36.
O efeito FV foi observado pela primeira vez por Alexandre-Edmond Becquerel em 1839 37.
Os elétrons gerados a partir da incidência da radiação luminosa são transferidos entre diferentes
bandas de energia (i.e., das bandas de valência para bandas de condução 38) dentro do próprio
material, resultando no surgimento de uma diferença de potencial entre dois eletrodos 39.
Na maioria das aplicações fotovoltaicas a radiação incidente é a luz solar e, por esta razão,
os dispositivos de conversão são conhecidos como células solares. No caso de uma célula
solar de junção PN, a iluminação do material cria uma diferença de potencial à medida que os
elétrons excitados e as lacunas remanescentes são conduzidos em direções opostas pelo campo
elétrico da região de depleção, como ilustra a figura 2.30.
Radiação solar
eletrodos
Semicondutor tipo N -
Diferença de
potencial
+
Semicondutor tipo P
Figura 2.30 Produção de ddp por ação de radiação solar em material semicondutor dopado e
imagem de célula FV comercial.
36
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/03-Energia_Solar(3).pdf
37
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre-Edmond_Becquerel
38
Ver animação em https://en.wikipedia.org/wiki/File:Solargif1.gif Acesso em 2017
39
http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_fotovoltaico
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-20
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Hemisfério Sul, nas latitudes do Brasil, por exemplo, um sistema fixo de captação deve ser
orientado para o Norte, com ângulo de inclinação próximo ao da latitude local.
A figura 2.31 ilustra a energia média que atinge a superfície do país a cada dia. Os valores,
na maior parte do país, estão na faixa de 15 a 20 MJ/m2.dia, o que significa de 4,1 a 5,5
kWh/m2.dia. Ou seja, se TODA energia incidente pudesse ser captada e convertida em
eletricidade, com 1 m2 de coletor seria possível obter a energia consumida em uma residência com
consumo mensal de 150 kWh. A quantidade média anual de horas em que cada região do Brasil
tem incidência direta de luz solar está mostrada na figura 2.32.
40
http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/Atlas_Solarimetrico_do_Brasil_2000.pdf
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-21
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Apesar de valores tão expressivos, o fato é que o efetivo aproveitamento da energia recebida
do sol é muito menor e a principal razão é o relativamente baixo rendimento do processo de
conversão fotovoltaico, conforme mostra a tabela 2.4, para diferentes tecnologias de produção de
células fotovoltaicas. Pesquisas recentes não têm apontado melhorias expressivas nos valores de
eficiência de conversão 41.
Dado que a incidência ocorre em um intervalo restrito do dia, em sistemas isolados do
sistema interligado nacional, torna-se necessário algum dispositivo que acumule a energia e a
disponibilize de acordo com a demanda. Os padrões de consumo residencial, infelizmente, não
combinam com o padrão de geração fotovoltaica, uma vez que o pico e a maior demanda ocorrem
no período noturno, como mostra a figura 2.33.
Tabela 2.4
Figura 2.33 Perfil típico de demanda ao longo do dia de consumidores residenciais (medição em
transformador de distribuição).
41
Martin A. Green, Keith Emery, Yoshihiro Hishikawa, Wilhelm Warta, Ewan D. Dunlop: “Solar cell efficiency
tables (version 48)”, First published: 17 June 2016, http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/pip.2788/full Acesso
em 2017.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-22
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
VPV Rc
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-23
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Os valores indicados como IMP e VMP correspondem ao ponto de máxima potência sobre a
carga (neste caso, 3,2 A e 0,52 V). VOC é a tensão de circuito aberto e ISC é a corrente de curto-
circuito (3,5 A). A corrente IPV, assim como a tensão VD, são supostas constantes. IPV depende
fortemente da potência incidente sobre a célula, como mostra a figura 2.37. O efeito térmico é
também relevante e afeta a tensão de circuito aberto, a qual se reduz à medida que a temperatura se
eleva.
1000 W/m2
sem
iluminação
42
http://da.wikipedia.org/wiki/Maximum_power_point_tracker
43
http://en.wikipedia.org/wiki/Theory_of_solar_cells
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-24
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Ao se fazer uma conexão série, a corrente que pode circular pelo arranjo é limitada pela
célula que tiver a menor insolação, ou seja, a que produzir a menor corrente. Isso implica que não
é possível obter a máxima potência das demais, prejudicando o rendimento do conjunto.
Para minimizar tal efeito, nas montagens dos arranjos são adicionados diodos de bypass,
em paralelo com certo conjunto de células. A melhor solução seria ter um diodo por célula, mas
isso encarece demasiadamente o produto. Além disso, o sombreamento parcial é um efeito que
ocorre em regiões relativamente distantes, de modo que é aceitável ter diodos para agrupamentos
de células, como mostra a figura 2.39.
O efeito sobre as curvas I-V e P-V são mostrados na figura 2.40. Nota-se que a presença
dos diodos de bypass permite que se obtenha a máxima potência de parte dos painéis do arranjo, e
a limitação da corrente por baixa insolação ocorre apenas parcialmente.
Figura 2.40 Efeito sobre a característica I-V e sobre a curva P-V em caso de sombreamento.
http://sargosis.com/wp-content/uploads/2011/11/inverter_mpp_curves.jpg
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-25
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
44
de Brito, M.A.G.; Luigi, G.; Sampaio, L.P.; Canesin, C.A.; Avaliação das principais técnicas para obtenção de
MPPT de painéis fotovoltaicos, 9th IEEE/IAS International Conference on Industry Applications (INDUSCON), São
Paulo, 2010
45
CAVALVANTI, M. C. et al. Comparative Study of Maximum Power Point Tracking Techniques for Photovoltaic Systems.
Eletrônica de Potência, v. 12, n. 2, p. 163-171, 2007.
46
Michael Dale and Sally M. Benson: “Energy Balance of the Global Photovoltaic (PV) Industry - Is the PV Industry
a Net Electricity Producer?”, Environ. Sci. Technol. 2013, 47, 3482−3489, dx.doi.org/10.1021/es3038824
http://pubs.acs.org/doi/ipdf/10.1021/es3038824
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-26
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
positivos no aspecto energético, embora tenham uma menor penetração no mercado por conta de
custos de produção.
Figura 2.41Do silício aos sistemas de produção de energia: etapas, custo financeiro47 e demanda de
energia48
https://gcep.stanford.edu/pdfs/symposium2012/MikDale_Symp2012_web.pdf
Figura 2.42 Evolução do total de energia consumida pela indústria de sistemas PV e a produção
efetiva dos sistemas instalados. https://gcep.stanford.edu/pdfs/symposium2012/MikDale_Symp2012_web.pdf
Enquanto essa visão sistêmica permite uma análise dos esforços no aprimoramento da
tecnologia, outra análise que pode ser feita é, com a tecnologia atual, do ponto de vista de um
produtor, como se dá tal balanço energético49. De acordo com estudo do National Renewable
Energy Laboratory (NREL), com as tecnologias dominantes na atualidade (silício e filmes finos),
a compensação energética se dá entre quatro e três anos, respectivamente. O NREL estima o tempo
de operação do sistema PV em até 30 anos, o que permitiria um expressivo ganho para a produção
de energia.
47
Swanson, R. M. Solar's Learning Curve Paves Way to Competitive Costs. 2011.
http://energyseminar.stanford.edu/node/ 387
48
Alsema, E. A. Energy pay-back time and CO2 emissions of PV systems. Prog. Photovoltaics 2000, 8, 17−25.
49
NREL Report No. NREL/FS-520-24619, http://www.nrel.gov/docs/fy99osti/24619.pdf (acesso em junho 2017)
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-27
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
No que se refere às turbinas eólicas, análise semelhante pode ser feita. Nesse caso é usual
incluir os gastos energéticos de produção, transporte, instalação e manutenção, uma vez que todos
estes são relevantes ao longo dos anos em que a turbina permanece funcional (estimada em 30
anos, embora ainda não existam sistemas em operação há tanto tempo). Além disso, assim como
para os sistemas PV, as condições locais são determinantes, especialmente pelo fator de
capacidade, ou seja, o quanto efetivamente se produz de energia ao longo do tempo.
Diversos estudos apontam que o tempo de produção de energia para a compensação da
demanda de energia para produção e manutenção é inferior a um ano50.
Uma comparação pertinente é com os sistemas térmicos baseados em carvão ou gás. Dado
que as máquinas térmicas sempre apresentam um rendimento menor do que 50%, a produção de
eletricidade sempre será menor do que a perda de energia, o que implica em um balanço sempre
negativo do ponto de vista da operação das centrais geradoras.
Embora sejam bastante comuns os sistemas isolados, seja para alimentação de equipamentos
remotos, seja em localidades sem acesso à rede de energia elétrica, o foco deste curso são as
aplicações conectadas à rede. Assim, serão vistas as exigências para que se realize a inserção
destas fontes na rede de distribuição, especialmente na baixa tensão de distribuição, embora
empreendimentos de maior potência façam a conexão na alta tensão.
Em 2011 a ANEEL51 lançou um programa para incentivar a implantação de sistemas de
grande porte (com potência de pico entre 500 kW e 3 MW) como forma de criar no Brasil
experiências que viessem permitir a elaboração de normas e procedimentos adequados.
Um exemplo é a Usina Solar Tanquinho, em Campinas-SP, da Companhia Paulista de Força
e Luz (CPFL), com 1,1 MW de pico e expectativa de 1,6 GWh de produção de energia anual.
A Usina Tanquinho utiliza diferentes tecnologias de células: silício policristalino, silício
amorfo monocristalino, “filmes finos”, como o telureto de Cádmio e o Cobre-Índio-Gálio-Selênio
(CIGS). São testados arranjos de painéis fixos e móveis (que acompanham o movimento do sol),
diferentes estruturas de inversores (micro inversores individuais por painel e inversores de maior
porte para agrupamentos de painéis), bem como a integração da geração solar com geração eólica,
através da inclusão de um aerogerador de pequeno porte. O projeto busca analisar o impacto da
conexão desse tipo de geração para o consumidor final em termos de qualidade, segurança,
confiabilidade e viabilidade econômica52.
50
Karl R. Haapala and Preedanood Prempreeda, Comparative life cycle assessment of 2.0 MW wind turbines, Int. J.
Sustainable Manufacturing, Vol. 3, No. 2, 2014, Acesso em junho de 2017, http://www.ourenergypolicy.org/wp-
content/uploads/2014/06/turbines.pdf
51
ANEEL, chamada no 013/2011, projeto estratégico: “Arranjos técnicos e comerciais para inserção da geração solar
fotovoltaica na matriz energética brasileira”, Agosto de 2011. http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/PeD_2011-
ChamadaPE13-2011.pdf
52
http://www.cpfl.com.br/SaladeImprensa/Releases/tabid/154/EntryId/639/CPFL-Energia-tera-geracao-solar-fotovoltaica-ate-2013.aspx
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-28
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
2.5.1 Tarifação
A figura 2.45 ilustra um sistema com cargas CA, e conexão à rede. Uma questão que se
coloca é o da tarifação que está presente nos documentos que regem os procedimentos53,54 para
incentivar e regulamentar a implantação de sistemas de micro e minigeração.
Um dos métodos é o chamado “net metering”, o qual “consiste na medição do fluxo de
energia em uma unidade consumidora dotada de pequena geração, por meio de medidores
bidirecionais. Assim, um único medidor é capaz de registrar a energia consumida e a energia
gerada em um ponto de conexão. Se a geração for maior que a carga, o consumidor receberá um
crédito em energia (isto é, em kWh e não em unidades monetárias) na próxima fatura. Caso
contrário, o consumidor pagará apenas a diferença entre a energia consumida e a gerada, mantido o
custo de disponibilidade”55.
53
CPFL Energia, Conexão de Micro e Minigeração Distribuída sob Sistema de Compensação de Energia Elétrica, 2016.
http://sites.cpfl.com.br/documentos-tecnicos/GED-15303.pdf
54
http://www.enersul.com.br/files/2012/12/Procedimento-de-Acesso-para-Microgera%C3%A7%C3%A3o-e-Minigera%C3%A7%C3%A3o-
Distribuida-ENERSUL.pdf
55
www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/arquivo/2011/042/documento/aviso_ap042_2011_dou_11.8.11_secao_3_pg_134.pdf
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-29
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
excedente de geração, o montante será utilizado para compensar o consumo no outro posto
tarifário segundo a relação entre as tarifas de energia (ponta e fora de ponta). Os montantes de
energia gerada, que não tenham sido compensados na própria unidade consumidora, podem ser
utilizados para compensar o consumo de outras unidades previamente cadastradas para esse fim,
atendidas pela mesma distribuidora, cujo titular seja o mesmo da unidade com sistema de
compensação de energia.
A regulamentação exige ainda alterações e complementações em outros documentos, como o
PRODIST 56 (Procedimentos de Distribuição).
Há outras possibilidades de tarifação como, por exemplo, o uso de medidores distintos para a
importação e para a exportação de energia, o que permite a aplicação de tarifas diferenciadas,
incentivando a geração por meio de um maior valor pago.
56
http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=82
57
IEEE1547, IEEE Standard for Interconnecting Distributed Resources with Electric Power Systems, 2003
58
IEC 61727, Characteristics of the utility interface
59
IEEE 929-2000, Recommended practice for utility interface of photovoltaic (PV) systems.
60
Procedimentos para a Conexão de Acessantes ao Sistema de Distribuição da Light SESA – Conexão em Baixa
Tensão, 2012, http://www.light.com.br/recon/energia_alternativa_12_12_12.pdf
61
Procedimento de Acesso para Microgeração e Minigeração Distribuída, Enersul, 2012
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-30
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Em situações que a tensão saia dos limites, o inversor deve se desconectar. O tempo de
desconexão depende do desvio da tensão, conforme as tabelas 2.6 e 2.7.
Este critério (uso exclusivo para injeção de potência ativa) impede o uso multifuncional do
inversor o que, do ponto de vista de estruturas de redes inteligentes (smart grid) é uma restrição
que subutiliza o potencial do conversor para realizar outras funções importantes, como a
compensação de harmônicas e de energia reativa.
Painel de
Arranjo Inversor
Detector de conexão
fotovoltaico Conversor fuga de Seccionadora
CC/CC corrente ao com a rede Rede
Fusível
Fusível CA
terra CA
CC
62
California Energy Commission, A GUIDE TO PHOTOVOLTAIC (PV) SYSTEM DESIGN AND INSTALLATION, 2001
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-31
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
2.5.2.2 Frequência
A tensão e a corrente produzidas pelo inversor têm que estar sincronizadas com a rede.
Enquanto a frequência da rede estiver dentro de certos limites, isso é entendido como uma situação
normal. Ao sair da faixa permitida, o entendimento é que houve alguma perturbação e que,
portanto, o inversor deve desconectar o sistema de geração local. A IEC recomenda que o desvio
máximo seja de +1 Hz. Já o IEEE apresenta uma faixa entre 59,3 e 60,5 Hz.
De acordo com a regulamentação brasileira 63, conforme ilustra a figura 2.47, quando a
frequência da rede ficar abaixo de 57,5 Hz ou acima de 62 Hz, a central deve cessar a injeção de
energia ativa à rede em no máximo 0,2 de segundo. Somente quando a frequência retornar a 59,9
Hz, após ter caído, ou retornar a 60,1 Hz, após ter subido, é que a central poderá voltar a injetar
energia ativa, em ambos os casos respeitando um tempo mínimo de 180 segundos após a volta das
condições normais de tensão e frequência na rede.
Figura 2.47 Injeção de potência pelo inversor em função da frequência da rede (NBR).
63
NBR 16149:2013 – Sistemas fotovoltaicos (FV) – Características da interface de conexão com a rede elétrica de
distribuição
64
Conexão de Microgeradores ao Sistema de Distribuição de Baixa Tensão da Cosern, 2012,
http://www.cosern.com.br/ARQUIVOS_EXTERNOS/Conexão de Microgeradores ao Sistema de Distribuição de
Baixa Tensão da Cosern;;20121214.pdf
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-32
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
A norma da CPFL não faz referência específica à distorção da corrente produzida pelo
inversor. Em relação à tensão, repete os valores definidos no PRODIST, mostrados na Tabela 2.9.
Tabela 2.9 Valores de referência globais das distorções harmônicas totais (em porcentagem da
tensão fundamental) – PRODIST (2017)
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-33
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Sistemas de geração distribuída com potência nominal maior que 3 kW e menor ou igual a
6 kW: fator de potência ajustável de 0,95 indutivo até 0,95 capacitivo;
Sistemas de geração distribuída com potência nominal maior que 6 kW: fator de potência
ajustável de 0,90 indutivo até 0,90 capacitivo.
Após uma mudança na potência ativa, o sistema de geração distribuída deve ser capaz de
ajustar a potência reativa de saída automaticamente para corresponder ao fator de potência
predefinido. Qualquer ponto operacional resultante destas definições/curvas deve ser atingido em,
no máximo, 10 segundos.
65
Fritz Schimp, Lars E. Noru, Grid connected Converters for Photovoltaic, State of the Art, Ideas for Improvement of
Transformerless Inverters, NORPIE/2008, Nordic Workshop on Power and Industrial Electronics, June 9-11, 2008
http://www.elkraft.ntnu.no/eno/Papers2008/Schimpf-norpie08.pdf
66
Soeren B. Kjaer, John K. Pedersen and Frede Blaabjerg, A Review of Single-Phase Grid-Connected Inverters for
Photovoltaic Modules, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol. 41, No. 5, Sep. 2005
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-34
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
A figura 2.49.b ilustra o conceito dos microinversores, no qual cada painel já possui um
conversor CC-CA integrado, com capacidade para conexão direta na rede. O conceito leva-se a
modularidade ao extremo e garante a operação de parte do arranjo, mesmo em caso de falha de um
painel ou inversor.
CC CC Rede CA
Rede CA
CC
CC
CC CA
CA
CC
(a) (b)
Figura 2.48 Arranjo com conversor único (a) e com múltiplos conversores CC-CC (b)
CC
CC CC
CA CA
CA
Rede CA CC CC
CC
CA CA
Rede CA
CA
(a) (b)
Figura 2.49 Conexão em paralelo de inversores (a) e configuração com microinversores (b)
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-35
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Quando se tem um sistema conectado à rede de distribuição, esta pode operar como um
tipo de armazenador do excesso de energia gerada e que fornece a quantidade demandada pela
carga quando não houver disponibilidade local. Na verdade, o que ocorre é que o sistema elétrico,
ao deixar de fornecer energia à carga, não realizará produção de energia com fontes tradicionais
(hidrelétrica e termelétrica), poupando os combustíveis ou retendo água nos reservatórios.
Por outro lado, pode ser de interesse do produtor armazenar o excesso da energia. Uma
razão para isso seria a tarifação horo sazonal, posto que a energia gerada seria remunerada por um
valor menor do que a consumida no horário de pico, em prejuízo do produtor.
Outra necessidade de se ter um estoque de energia local é para o atendimento de picos de
potência. Nos sistemas convencionais, com geradores eletromecânicos, a massa girante das
máquinas representa uma expressiva quantidade de energia cinética armazenada, a qual é capaz de
suprir de maneira instantânea a variação rápida de demanda. Em sistemas em que a geração é
processada por conversores eletrônicos, não existe essa disponibilidade, de modo que é preciso
algum outro método para garantir o atendimento instantâneo da demanda. Outra razão da
necessidade de armazenamento local de energia é para a inicialização de uma rede isolada, de
modo a ser possível determinar o sincronismo ao qual os demais geradores irão se ajustar.
Embora a energia elétrica seja um excelente vetor energético, sua grande limitação é a
impossibilidade prática de seu armazenamento em quantidades razoáveis. Os acúmulos capacitivo
e indutivo não são adequados à retenção de quantidades maiores de energia, mesmo que utilizando
supercapacitores ou magnetos supercondutores, por razões de custo, principalmente.
Nesse cenário, diferentes formas de acúmulo da energia excedente devem ser consideradas.
Conforme indica a figura 2.51, praticamente toda energia elétrica gerada em excesso é acumulada
em forma de energia potencia através do bombeamento de água para reservatórios elevados 67. Em
quantidades muito menores tem-se o uso de compressão de ar e, em escala ainda menor, as
baterias.
Figura 2.51 Formas de acúmulo de energia a partir de excedente de geração por fonte renovável.
67
EPRI - Eletrical Power Research Institute, “Electricity Energy Storage Technology Options. A White Paper Primer
on Applications, Costs and Benefits.” 2010.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-36
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
68
André Augusto Ferreira e José Antenor Pomilio: “Estado da Arte sobre a Aplicação de Supercapacitores em
Eletrônica de Potência”, Eletrônica de Potência, SOBRAEP, Vol.10, no.2, Novembro de 2005, pp. 25-32. ISSN 1414-
8862
69
http://www.fueleconomy.gov/feg/fcv_pem.shtml
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-37
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
Figura 2.52 Esquema simplificado de operação de uma célula a combustível tipo PEM
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Fuel_cell_PT.svg
conversor inversor
CC/CC CC/CA
+
CC CC
+ saída para os
componentes
_ saída
auxiliares
CA
CA
CC
220 V
+ regulador de
tensão
+ -
banco de
baterias
exaustor
S _ purga de
sistema H2 + S
H2
reformador
soprador ar ar
exaustão
água fria de ar
água ar saída
pilha de FC 2x500Watts água
combustível
ventilador Reservatório
d'água água
válvula solenóide de
S
para H2 alimentação
regulador de
pressão
trocador de
calor bomba d'água
70
Geomar Machado Martins: “Desenvolvimento de Conversor Comutado em Baixa Frequência para Aplicação em
Sistemas de Geração Distribuída Baseados em Células a Combustível”, Tese de Doutorado, FEEC-UNICAMP, 14 de
julho de 2006.
71
Farret, F. A., Pequenos Aproveitamentos Elétricos, livro. Editora da UFSM, 2002.
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-38
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio
A estrutura típica de uma geração baseada em CaCs é vista na figura a seguir e compreende
o conjunto de CaCs e os tanques de Combustível (hidrogênio e oxigênio). A eletricidade resultante
é em CC. Caso se deseje injetar tal energia na rede, isso é feito via um inversor CC/CA. Estes
conversores devem realizar o ajuste do ponto de operação do sistema, regulando a tensão e a
corrente das CaCs de forma a otimizar o rendimento da energia produzida ou estabelecer o
funcionamento no ponto de máxima potência. Baterias de armazenamento podem estar presentes
no barramento CC e neste caso um conversor CC/CC dedicado (carregador das baterias) se faz
necessário para controlar o regime de carga/descarga.
2.6.2 Baterias
A capacidade de carga das baterias é normalmente expressa na unidade Ampère-hora.
Dimensionalmente isso equivale a Coulomb. Ao se multiplicar a capacidade pela diferença de
potencial presente nos terminais, tem-se a energia do dispositivo.
Há diversos tipos de baterias, como as de chumbo-ácido, íons de lítio, níquel-cádmio,
hidretos metálicos, etc.
Destas, principalmente me razão de custo, as que são mais usadas nos sistemas
estacionários de energia são as de chumbo-ácido, adequadas a longos processos de descarga,
operam bem mesmo com descargas profundas (até 10% da carga plena) e apresentam mínima
auto-descarga.
Embora com melhor desempenho em termos de ciclos de operação e perdas reduzidas,
outras tecnologias de baterias, como as de íons de Lítio ou de Níquil-Cádmio, por apresentarem
custo muito mais elevado, possuem menor aplicação para estocagem de energia em maiores
quantidades.
Referências adicionais
Além das citadas ao longo do texto, foram utilizadas informações e imagens disponibilizadas na
WEB:
http://www.mme.gov.br/mme/galerias/arquivos/publicacoes/BEN/2_-_BEN_-_Ano_Base/1_-_BEN_Portugues_-
_Inglxs_-_Completo.pdf
http://www.mme.gov.br/spe/galerias/arquivos/Publicacoes/matriz_energetica_nacional_2030/MatrizEnergeticaNacion
al2030.pdf
http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/Atlas_Solarimetrico_do_Brasil_2000.pdf
http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/atlas_eolico/Atlas%20do%20Potencial%20Eolico%20Brasileiro.p
df
http://www.eletrobras.gov.br
http://www.pmirs.org.br/seminario/iv_Seminario/download/pal18-EolicoJunqueira144_sec.pdf
http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-39