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Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A.

Pomilio

2 ENERGIA ELÉTRICA E FONTES RENOVÁVEIS

Energia elétrica é o melhor vetor energético disponível na atualidade. Por vetor energético se
entende uma modalidade de energia que pode ser transmitido de um local a outro e pode ser
transformado em outra forma de energia.
Como exemplo, o gás natural, para ser levado de um local a outro, necessita de um gasoduto.
No local de uso, pode ser transformado em calor (por combustão), em movimento (em um motor
de combustão interna) ou em luz (por uma combustão adequada).
Já a eletricidade também pode ser facilmente convertida em energia mecânica, em energia
térmica ou luminosa. Seu transporte é feito por condutores metálicos, ou seja, uma infraestrutura
muito mais simples, segura e de menor custo que um gasoduto, por exemplo.
Outras definições importantes se referem aos conceitos de energia renovável, de energia
alternativa e de energia limpa.
Por energia limpa se entende uma forma de energia que, para sua produção, não leve a
emissão de gases ou outros resíduos nocivos, ou que contribuam para o chamado efeito estufa.
Por energia renovável se entendem as formas de energia que ocorrem na natureza e que são
produzidas continuamente em decorrência da energia absorvida do sol, a qual, para efeitos da
Humanidade, é suposta de duração infinita. Enquadram-se na definição as energias vindas
diretamente do sol (como a fotovoltaica), do vento, da biomassa, do movimento das águas em
geral (maré, ondas, desníveis, etc.).
Em contraposição, as energias não renováveis são aquelas disponíveis na natureza, cuja
formação se deu em longos intervalos de tempo (eras geológicas), de modo que os materiais a que
estão associadas não podem ser repostos com a velocidade exigida pelo consumo. Nesse caso tem-
se o petróleo, gás natural, carvão mineral, urânio, etc.
Por energia alternativa entende-se uma forma de energia que pode vir a substituir outra. Em
geral é associada a fontes para as quais não se tem garantia de produção permanente (como a
eólica), mas que, no entanto, podem (e devem) ser usadas quando disponível, evitando o consumo
de energia proveniente de fontes não renováveis, ou mesmo de renováveis (como a hidrelétrica). O
uso destas fontes alternativas não prescinde de que exista uma fonte perene disponível para ser
utilizada quando necessário, garantindo o fornecimento desejado.

2.1 A Matriz Elétrica Brasileira e o custo da energia

A figura 2.1 mostra a evolução da Matriz Energética brasileira, indicando a participação das
fontes de energia. A figura 2.2 mostra a participação relativa de cada fonte. Há um crescimento
absoluto de quase todos os tipos de energia, à exceção da lenha, carvão vegetal e carvão mineral.
Em termos relativos, a eletricidade contribui com pouco menos de 20% do total de energia
consumida no país. Os valores são dados em tonelada equivalente de petróleo (tep). Os valores
somados de álcool e de bagaço de cana praticamente igualam a energia elétrica. De longe, o
grande insumo energético é o petróleo, usado para praticamente todo o sistema de transporte e, em
boa parte, também para outras aplicações, como aquecimento e até geração de eletricidade.
Percebe-se, assim, importância da redução do consumo de petróleo. Isso tem como
contrapartida a necessidade de um grande crescimento de produção de outras fontes de energia, de
modo a suprir o que for reduzido em termos de combustíveis fósseis não renováveis.
Um conceito importante na concepção do sistema em geral é o de Garantia Física, que é a
energia que uma fonte geradora pode assegurar (antigamente denominada “energia assegurada”) a
um risco de 5%. Essa garantia é calculada por modelos de simulação da operação em base mensal
sobre séries sintéticas de vazões (no caso das hidrelétricas), ou de comportamento do vento (no

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caso eólico) utilizando uma determinada política de despacho das usinas. Seguem alguns
exemplos, nos quais se pode comparar a garantia física de alguns tipos de geração. 1
Tabela 2.1
Tipo MW MW %
Itaipu UHE 12.600 8.612 68,3
Ilha Solteira UHE 3.444 1.949 56,6
Parque Eólico de Osório EOL 50 17,71 35,4
Canoa Quebrada EOL 57 20,53 36
Angra II UTN 1.350 1.204,70 89,2

Figura 2.1 Evolução da oferta de energia (por fonte de energia).2

A figura 2.3 mostra a composição da Matriz Elétrica brasileira, em 2014 e 2015. Mais de
dois terços da eletricidade provém de fonte hidráulica. O total de fontes renováveis se aproxima de
80%, sendo a matriz brasileira a mais “limpa” 3 do mundo. O percentual de energia eólica é
pequeno (3,5%), mas já supera fontes tradicionais, como a nuclear, tendo um crescimento muito
rápido.
Os estudos oficiais sobre a evolução dessa matriz até 2030 indicam uma redução relativa da
fonte hidráulica (embora com aumento no valor absoluto) e um crescimento de outras fontes
renováveis, principalmente a biomassa e a eólica, resultando em um aumento no total de fontes
renováveis. Em termos absolutos, há a previsão de um aumento de todas as fontes, incluindo a
nuclear, gás natural e carvão.

1
http://www.antoniolima.web.br.com/arquivos/tabelaassegurada.htm Acesso em 2017
2
http://www.mme.gov.br/documents/10584/1143895/2.1+-+BEN+2015+-+Documento+Completo+em+Portugu%C3%AAs+-
+Ingl%C3%AAs+(PDF)/22602d8c-a366-4d16-a15f-f29933e816ff?version=1.0 . Acesso em 2017.
3
A questão da emissão de gases, principalmente metano, nos reservatórios das hidrelétricas que ocupam áreas florestais é um ponto
de divergência quando se discute o caráter “limpo” da energia de fonte hidráulica.

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Figura 2.2 Evolução e consumo de energia (por fonte de energia).4

Figura 2.3 Matriz Elétrica nacional.

4
http://www.cbdb.org.br/informe/img/63socios7.pdf Acesso em 2017.

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Um aspecto determinante na efetiva implantação de aproveitamentos de fontes renováveis


de energia é seu custo. Conforme se verifica nas figuras 2.4 e 2.5, tem ocorrido uma importante
redução no custo dos elementos principais dos sistemas eólicos e fotovoltaicos (turbina e painéis,
respectivamente).
A Figura 2.6 permite comparar o custo da energia gerada por diferentes tipos de fontes
renováveis, comparando com combustíveis fósseis. Neste caso, agregam-se todos os custos,
incluindo equipamentos, instalação, manutenção, depreciação, etc. Note que os custos de geração
hidroelétrica, eólica (em terra firme) e biomassa são muito competitivos. O custo de
aproveitamento PV tem caído muito rapidamente, enquanto o aproveitamento eólico offshore tem
se mantido elevado.

Figura 2.4 Evolução do custo de turbinas eólicas5

Figura 2.5 Evolução de custo de painéis fotovoltaicos6

5
http://resourceirena.irena.org/gateway/dashboard/?topic=3&subTopic=31

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Figura 2.6 Evolução do custo da eletricidade de fontes renováveis7

2.2 Energia Eólica


Energia Eólica está associada à energia cinética das massas de ar em movimento, ou seja, ao
vento. Seu aproveitamento é milenar, sendo utilizada na tração naval e, industrialmente,
principalmente em moinhos e no bombeamento de água.
O termo “eólico” provém da denominação do deus grego dos ventos, chamado Éolo, que
residia na ilha flutuante de Eolias8.
O uso dos ventos para produção comercial de eletricidade se inicia na década de 70, na
Dinamarca, como consequência das crises do petróleo9. Ao longo dos últimos 30 anos houve
grande evolução tecnológica associada a todos os componentes de um sistema de geração eólica,
desde questões estruturais das torres, passando por aspectos aerodinâmicos, dos sistemas eletro-
eletrônicos de potência e de controle e da injeção da energia no sistema elétrico.
Conforme10, “para que a energia eólica seja considerada tecnicamente aproveitável, é
necessário que sua densidade seja maior ou igual a 500 W/m2, a uma altura de 50 m, o que requer
uma velocidade mínima do vento de 7 a 8 m/s11. Segundo a Organização Mundial de
Meteorologia, em apenas 13% da superfície terrestre o vento apresenta velocidade média igual ou
superior a 7 m/s, a uma altura de 50 m. Essa proporção varia muito entre regiões e continentes,
chegando a 32% na Europa Ocidental”.

2.2.1 Potencial eólico


O potencial eólico brasileiro, segundo o Atlas de 2001, mostrado na figura 2.7, foi
calculado utilizando dados de medições de vento em todo território nacional, incorporando fatores
como a altitude (foi tomado o valor de 50 m como referência), rugosidade do terreno e a variação
dos ventos. Foi suposta uma ocupação conservativa de obtenção de 2 MW/km2. Considera os
valores médios dos ventos (acima de 6 m/s) e sua distribuição, identificando a extensão territorial
em que ocorrem tais ventos, o que permite determinar a energia eólica disponível. Utiliza o fator

6
http://resourceirena.irena.org/gateway/dashboard/?topic=3&subTopic=32
7
http://resourceirena.irena.org/gateway/dashboard/?topic=3&subTopic=33
8
http://www.brasilescola.com/mitologia/eolo.htm
9
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/06-Energia_Eolica(3).pdf
10
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/energia_eolica/6_2.htm
11
Grubb M. and Meyer N. Wind energy: resources, systems, and regional strategies, chapter 4, pages 157–212. In
Johansson and Williams (1993), 1993

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de capacidade (Cp) para determinar a energia elétrica efetivamente disponível, bem como as curvas
de eficiência dos sistemas mecânicos e de geração de energia elétrica. Os sistemas foram
considerados disponíveis 98% do tempo.

Figura 2.7 Potencial eólico brasileiro por regiões, segundo Atlas de 2001 (a 50 m de altura) 12

O mapa apresentado na figura 2.7 resulta desse conjunto de dados e de


considerações e resulta em um potencial para produção de eletricidade de 143 GW (valor
calculado em 2001). Estudos mais recentes, contabilizando a tecnologia atual que permite torres de
maior altura, ampliam este potencial para algo em torno de 300 GW. Ainda não há um estudo mais
aprofundado sobre o potencial offshore, ou seja, na superfície do mar. Algumas estimativas
indicam um valor de 340 GW 13, com fator de capacidade que chegaria a 45%.
O fator de capacidade (Cp) de energia eólica é a razão entre a potência média presente no
eixo da turbina e a máxima potência teoricamente disponível. Pode ser calculado para uma única
turbina, um parque eólico ou mesmo um país. Embora a localização geográfica determine, em
grande parte, o fator de capacidade de um parque eólico, o Cp é também uma questão de desenho
de turbinas. Para a realização do Atlas foram considerados os seguintes valores de Cp:

Tabela 2.2
Velocidade (m/s2) 6 a 6,5 6,5 a 7 7 a 7,5 7,5 a 8 8 a 8,5 >8,5
Cp 0,13 0,17 0,20 0,25 0,30 0,35

A figura 2.8 mostra estudo para o estado de São Paulo, com cálculo a 100 m de altura.

12
http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/atlas_eolico/Atlas%20do%20Potencial%20Eolico%20Brasileiro.pdf
13
http://www.jornaldaenergia.com.br/ler_noticia.php?id_noticia=9010&id_tipo=3&id_secao=9

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Figura 2.8 Mapa do potencial eólico do estado de São Paulo (a 100 m de altura) 14

Inúmeros avanços tecnológicos têm permitido ampliar a captação de energia, além do


simples aumento na altura das torres. Por exemplo, a adequação das pás das turbinas a
peculiaridades dos ventos no Brasil, que são diferentes dos ventos predominantes na Europa em
aspectos como distribuição de intensidade e variação de direção. A figura 2.9 ilustra tais
diferenças.

Figura 2.9 Comparação entre características dos ventos no Brasil e na Europa15

2.2.2 Potência eólica


Para o aproveitamento da energia contida no vento é preciso um fluxo permanente e
razoavelmente forte de vento. As turbinas modernas são projetadas para atingirem a potência
máxima para velocidades do vento da ordem de 10 a 15 m/s. A energia disponível para uma
turbina eólica é a energia cinética associada a uma massa de ar que se desloca a uma velocidade
uniforme e constante v (m/s). Em uma unidade de tempo, tal massa de ar, ao atravessar a secção
plana transversal A (m2) do rotor da turbina, desloca uma massa Av (kg/s), em que é a massa
específica do ar (= 1,225 kg/m3), em condições de pressão e temperatura normais.

14
http://www.energia.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/385.pdf
15
Everaldo Alencar Feitosa, “Energia Eólica no Brasil: Situação Atual e Perspectivas”, disponível em
www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=1033

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Esta potência não pode ser integralmente convertida em potência mecânica no eixo da
turbina, pois o ar, depois de atravessar o plano das pás, sai com velocidade não nula. Há um
máximo teórico para o rendimento da conversão eolo-mecânica cujo valor é 59,3%, conhecido por
Limite de Betz16. O rendimento efetivo da conversão numa turbina eólica depende da velocidade
do vento e é dado por:
P
C p ( v )  mec (2.1)
Pdisp

A potência a ser convertida em eletricidade (em Watts) é:


1
P  Av 3C p (2.2)
2
onde  é o rendimento do processo de conversão mecânico-elétrico.
O comportamento dos ventos é o principal determinante para a efetiva produção de
eletricidade. A distribuição de longo prazo de velocidades de vento depende de fenômenos
meteorológicos, cuja duração é da ordem de décadas. Fatores de capacidade com base na produção
anual, portanto, podem não refletir o potencial de longo prazo de uma região.

Figura 2.10 Índice mensal de vento na Dinamarca (em % da média de longo prazo)
http://docs.wind-watch.org/Boccard-Capacity-Factor-Of-Wind.pdf e
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S030142150900144X

Figura 2.11 Medições de vento na Dinamarca (média móvel mensal) e comparação com índice
NAO (North Atlantic Oscillation 17).
http://docs.wind-watch.org/Boccard-Capacity-Factor-Of-Wind.pdf

16
Albert Betz foi um físico alemão que em 1919 concluiu que nenhuma turbina eólica pode converter mais do que 16/27 (59.3%)
da energia cinética do vento em energia mecânica no rotor. Este limite tem a ver com a natureza das turbinas eólicas. Os
aerogeradores extraem energia ao freiar o vento. Para um aerogerador ser 100% eficiente precisaria provocar a parada total na
massa de ar mas, nesse caso, em vez de pás seria necessário um corpo sólido cobrindo 100% da área de passagem e o rotor não
rodaria e não converteria a energia cinética em mecânica. No outro extremo, uma turbina com apenas uma pá, a maior parte do
vento passaria "sem obstáculo, mantendo toda a energia cinética. Entre estes dois extremos existe um ponto máximo de rendimento,
que é o limite de Betz. Fontes: http://www.aerogeradores.org/limitedebetz.php e http://en.wikipedia.org/wiki/Betz'_law
17
Oscilação do Atlântico Norte (NAO) é um fenômeno climático, identificado em 1920, que se associa a flutuações na diferença de
pressão atmosférica ao nível do mar entre da Islândia e os Açores, levando a uma variação na força e na direção dos ventos de oeste
e se relaciona a tempestades sobre o Atlântico Norte. Sua variação ao longo do tempo, aparentemente, não tem periodicidade
específica. Fonte: Wikipedia.

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Todas as turbinas eólicas instaladas globalmente em junho de 2016, totalizando 486.749


MW18, teriam capacidade de produzir mais de 4000 TWh de eletricidade 19, o que representa
aproximadamente 20% do consumo global 20. No entanto, dado que a eletricidade proveniente de
fontes eólicas não é produzida continuamente, sendo afetada pela intensidade dos ventos e por
outros aspectos climáticos, o efetivo aproveitamento de tal potencial é significativamente
diminuído.
Observando os dados da Tabela 2.3, nota-se o aproveitamento da capacidade instalada. A
média mundial é de 22%. Dentre os maiores produtores, o Reino Unido tem o maior
aproveitamento, com 33%; os Estados Unidos vem em seguida com 30%. O Brasil tem um índice
bem acima da média, com 28%. Já a China, embora seja o país com a maior capacidade instalada,
tem um aproveitamento baixo, de apenas 14,5%.

Tabela 2.3
Países com maior capacidade instalada MW Produção e aproveitamento do TWh %
(em Junho de 2016) potencial instalado (2015)21
China 168.690 Estados Unidos 193 30%
Estados Unidos 82.184 China 185 14,5%
Alemanha 50.018 Alemanha 88 22%
Índia 28.700 Espanha 49 24%
Espanha 23.074 Índia 41 19%
Reino Unido 14.543 Reino Unido 40 33%
Canadá 12.066 Canadá 25 25%
França 11.900 Brasil 22 28%
Brasil 10.740 Mundo 841 22%

2.2.3 Aerogeradores 22
Turbinas eólicas de eixo horizontal (HAWT, na sigla em inglês) têm o eixo do rotor
principal e gerador elétrico no topo de uma torre. Pequenas turbinas são apontadas na direção do
vento por um cata-vento simples. Turbinas grandes geralmente usam um sensor de vento acoplado
a um servomotor para acertar o direcionamento. A maioria tem uma caixa de engrenagens que
ajusta a rotação lenta das pás a uma rotação mais rápida, adequada ao gerador elétrico.
Turbinas usadas em parques eólicos para a produção comercial de energia elétrica são
geralmente de três pás. Apesar dos rotores com duas pás serem um pouco mais eficientes, são mais
instáveis e propensos a turbulências, trazendo risco à sua estrutura. Isso já não acontece nos rotores
de três pás que são muito mais estáveis, barateando seu custo e possibilitando a construção de
aerogeradores de mais de 100 metros de altura e com capacidade de geração de energia que
ultrapassa 5 MW.
Em um rotor com duas pás, quando uma passa pelo ponto mais elevado, estará submetida à
máxima força do vento, enquanto a pá inferior estará passando pela torre, ou seja, com a mínima
força. Isso produz um esforço adicional sobre o eixo e sobre a torre. Com o uso de três pás tal
situação de desequilíbrio não ocorre, dado o posicionamento a 120º entre elas.
Dado o diâmetro do rotor, a velocidade periférica das pás é elevada, em torno de 300 km/h.
As pás são geralmente leves de cor cinza para se mimetizar com as nuvens, com comprimento de
20 a 40 metros ou mais. As pás giram 22 a 10 rotações por minuto. Uma caixa engrenagens é
usada para elevar a velocidade de giro na conexão com o gerador. Alguns modelos operam a

18
http://www.gwec.net/wp-content/uploads/vip/GWEC_PRstats2016_EN_WEB.pdf (acesso 2017)
19
"World Wind Energy Report 2010" (PDF). Report. World Wind Energy Association. February 2011. Retrieved 8-August-2011.
http://www.wwindea.org/home/images/stories/pdfs/worldwindenergyreport2010_s.pdf
20
https://yearbook.enerdata.net/electricity-domestic-consumption-data-by-region.html (acesso 2017)
21
https://www.worldenergy.org/wp-content/uploads/2016/10/World-Energy-Resources-Full-report-2016.10.03.pdf
22
http://en.wikipedia.org/wiki/Wind_turbine

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velocidade constante, mas mais energia pode ser coletada por turbinas de velocidade variável,
empregando conversores eletrônicos de potência na interface com o sistema elétrico. Estas turbinas
são equipadas com recursos de proteção para evitar danos em velocidades de vento muito altas,
com controles de posicionamento das pás e sistemas de freio.
Turbinas eólicas de eixo vertical (VAWT, na sigla em inglês) têm o eixo do rotor principal
disposto verticalmente. A principal vantagem deste arranjo é que a turbina não precisa ser
apontada na direção do vento, o que é útil em locais onde a direção do vento é muito variável e em
ambientes urbanos. É aplicada principalmente em potência reduzida e em locais em que não são
viáveis torres de maior altura. A turbulência resultante no vento é mais severa e não permite
instalações de “wind farms”.
Com um eixo vertical, gerador e caixa de engrenagem podem ser colocados perto do chão,
melhorando a acessibilidade para manutenção. Por apresentar baixa velocidade de rotação, têm
torque elevado, o que implica em maiores relações na caixa de engrenagens. A maior turbulência
no fluxo de ar leva a um comportamento pulsante torque. Há uma maior dificuldade de modelar o
fluxo de vento com precisão e, portanto, problemas para analisar e projetar o sistema antes de
fabricação de um protótipo.
As turbinas de eixo horizontal convertem mais energia eólica em mecânica porque as
lâminas são perpendiculares à direção do vento e captam a energia em toda amplitude de sua
rotação. Em comparação, as pás numa turbina de eixo vertical apresentam menor rendimento,
capturando energia do vento apenas na parte frontal; na posição traseira de sua rotação apenas se
movimentam de acordo com a rotação, mas não colaboram para o torque.

Figura 2.12 Turbinas de eixo vertical e de eixo horizontal


Tassa_5KW_2_ElectronSolarEnergy2.jpg http://en.wikipedia.org/wiki/File:GreenMountainWindFarm_Fluvanna_2004.jpg

A potência das turbinas segue uma trajetória crescente há muitos anos, como ilustra a
figura 2.13. A conversão de maiores potências exige maior área coberta pelo giro das pás,
concomitantemente à maior altura das torres e, por conseguinte, colhendo ventos de maior
intensidade.

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Figura 2.13 Relação entre dimensões e potência de sistemas eólicos, indicando a evolução nos
últimos anos.23

2.2.4 Conexão com a rede elétrica


Os procedimentos para a conexão de um gerador isolado ou de um conjunto de
aerogeradores (fazenda eólica – Wind farm) são previstos por normas específicas24, como a
Resolução Normativa ANEEL 482/201225 com as modificações introduzidas pela REN ANEEL
687/201526, a ANSI/IEEE 1021-198827 e a IEEE Std. 1094-199128.
Com base na experiência da operação de sistemas de energia eólica de grande potência, têm
ocorrido modificações das normas para conexão e operação na rede de alta tensão. O objetivo
destas novas disposições é melhorar e estabilizar o comportamento das turbinas eólicas, diminuir a
quantidade de energia eólica perdida em distúrbios do sistema e permitir que as centrais eólicas
operem com características semelhantes àquelas do sistema de potência convencional. Os
requisitos mais comuns incluem capacidade ride-through29, limites de variação para tensão e
frequência, regulação de potência ativa e reativa e controle de frequência, bem como do fator de
potência e a capacidade de regulação de tensão.
As normas atuais exigem que os grandes parques eólicos (especialmente aqueles ligados na
alta tensão) devam suportar quedas de tensão para uma determinada percentagem do valor
nominal, por um tempo especificado. Tais requisitos são conhecidos como FRT (Fault Ride
Through), denotando a imunidade mínima exigida da fonte para afundamentos de tensão. Como
exemplo, a figura 2.14 ilustra os limites utilizados nas normas norte-americana, canadense e
irlandesa. No caso ilustrado, a central eólica deve ser capaz de operar continuamente com 90% da
tensão nominal de linha, medida no lado de alta tensão do transformador da subestação.

23
https://b-i.forbesimg.com/williampentland/files/2014/01/Wind_turbine_size_increase_1980-2011.png
24
M. Tsili S. Papathanassio, A review of grid code technical requirements for wind farms, IET Renew. Power Gener.,
2009, Vol. 3, Iss. 3, pp. 308–332, http://ieeexplore.ieee.org/stamp/stamp.jsp?tp=&arnumber=5237667
25
Resolução Normativa ANEEL 482 de 17/04/2012. http://www.aneel.gov.br/cedoc/bren2012482.pdf
26
REN ANEEL 687 de 24/11/2015 - http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf
27
ANSI/IEEE 1021-1988, IEEE Recommended Practice for Utility Interconnection of Small Wind Energy Conversion
Systems
28
IEEE Std. 1094-1991, IEEE Recommended Practice for the Electrical Design and Operation of Windfarm
Generating Stations.
29
Capacidade de gerador elétrico permanecer conectado em períodos (curtos) de redução de tensão ocoasionado por
falhas na rede elétrica externa.

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Figura 2.14 Limite de suportabilidade de tensão por uma planta de geração eólica.

2.2.5 Estrutura interna de aerogerador


A figura 2.15 mostra os principais componentes de um aerogerador.
Sistemas de pequeno porte (até algumas dezenas de kVA) são, em geral, conectados à rede
de distribuição em baixa tensão. Para potências mais elevadas são utilizados transformadores
acoplados ao sistema de distribuição (em geral) no lado de alta tensão. Parques eólicos podem ser
conectados em níveis mais altos de tensão.
Dado que a velocidade dos ventos varia, as turbinas eólicas são projetadas para trabalhar
em uma faixa de velocidade abaixo da máxima velocidade do local onde será instalada. Se
fosse projetada para trabalhar à máxima velocidade, seria necessária uma estrutura muito mais
robusta e haveria menor produção com velocidades menores.

Figura 2.15 Componentes de aerogerador.

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Existem diferentes modos de se implementar um controle de potência nas turbinas. O mais


simples destes é o posicionamento do eixo de modo a se alinhar com a direção do vento e obter a
máxima potência (yaw control). Tal alinhamento pode ser feito de modo controlado por um
servomotor, ou ocorrer pelo próprio projeto da turbina. Como método de controle dinâmico da
potência gerada, é normalmente usado apenas em turbinas de baixa potência, uma vez que em
potências maiores, tal procedimento produziria grandes esforços no sistema.
Um sistema de controle ativo permite alterar o ângulo do passo (pitch) ao girar as pás em
seu eixo longitudinal, de forma a reduzir o ângulo de ataque, diminuindo a velocidade das pás. A
figura 2.16 ilustra os princípios aerodinâmicos associados ao controle de pitch.

Figura 2.16 Princípios do controle de alinhamento (yaw) e de passo (pitch) 30

Outro método consiste em um controle passivo (“stall” ou estol, em português) que se


baseia em um projeto aerodinâmico das pás. Quando a velocidade do vento supera a velocidade
nominal, surgem regiões de turbulência entre o fluxo de ar e a superfície, reduzindo a força de
sustentação e aumentando a força de arrasto. Devido a tal fenômeno, o sistema atua como um freio
aerodinâmico, controlando a potência de produzida pela turbina. Para evitar que o estol ocorra em
todas as posições da pá ao mesmo tempo, o que reduziria drasticamente a potência do rotor, as pás
possuem uma torção longitudinal que leva a um suave desenvolvimento do estol. Sob todas as
condições de velocidade do vento superior à nominal, o fluxo em torno dos perfis das pás é, pelo
menos parcialmente, deslocado da superfície, produzindo sustentações menores e forças de arrasto
mais elevadas 31.
Uma variação do controle de estol e passo é o chamado “stall ativo” que se baseia na
alteração do eixo das pás (como no pitch), porém de forma a provocar “stall”.

Figura 2.17 Pás de aerogerador, cuja construção possibilita stall passivo.


http://en.wikipedia.org/wiki/File:WindPropBlade.jpg
30
National Instruments Tutorial on Wind Turbine Control Methods, http://zone.ni.com/devzone/cda/tut/p/id/8189
31
H. N. Monteiro Duarte, “UTILIZAÇÃO DA ENERGIA EÓLICA EM SISTEMASHÍBRIDOS DE GERAÇÃO DE
ENERGIA VISANDOPEQUENAS COMUNIDADES”, Monografia PUC-RS. 2004, disponível em
http://pt.scribd.com/doc/70324452/21/Controle-por-estol

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A figura 2.18 ilustra o efeito dos diferentes controles em termos da característica de


produção de potência. A manutenção da potência em seu valor nominal à medida que aumenta a
velocidade do vento se deve à movimentação das pás o que resulta em uma redução no parâmetro
Cp (eq. 2.2). Em velocidades muito elevadas o sistema é desligado para evitar danos.

Potência Controle stall ativo


Controle de passo

Potência
Nominal
Controle
stall passivo

Velocidade de Velocidade Velocidade de Velocidade


corte inferior nominal do corte superior do vento
vento

Figura 2.18 Ações de controle de velocidade da turbina para controle da geração.

2.2.6 Geradores elétricos


Há diversos tipos de geradores elétricos aplicáveis em turbinas eólicas. A escolha depende
de diversos fatores que incluem a potência, a regulação de velocidade, a aplicação (isolada ou
conectada à rede), dentre outros. Serão apresentadas a seguir as configurações mais comuns, sem a
pretensão de que se esgote o tema. 32
As máquinas de indução são os dispositivos mais utilizados como geradores em sistemas
eólicos, tanto na versão de rotor em gaiola, quanto na de rotor bobinado (que permite a
configuração DFIG – Double Fed Induction Generator).
A partir do modelo monofásico simplificado, ilustrado na figura 2.19, pode-se deduzir a
equação torque x velocidade:

3  R r  Vs2
Td  (2.3)
 R r  2 2

s  s   R s  s   X s  X r  
 

I jX R jX r
s s s
I
+ m Rr
Vs s
jX
m

I =I
Zi s r
Figura 2.19 Modelo simplificado, por fase, de motor de indução.

32
F. Blaabjerg and Z. C, “Power Electronics for Modern Wind Turbines”, Morgan & Claypool Publishers, 2006

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Para operação como gerador a máquina de indução deve trabalhar com escorregamento (s)
negativo, ou seja, acima da velocidade síncrona (s) conforme ilustra a figura 2.20. A faixa de
operação estável é estreita, em termos de velocidade, ocorrendo entre o escorregamento nulo e o
ponto no qual se tem o máximo torque (Tmr). Tipicamente esta faixa é de 1 a 2% da velocidade
síncrona.
s s   s
Td m
Generação Tração Reversão

0  s 
m s m m
s

T s
mr
1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2

-s m sm
Figura 2.20 Característica torque x velocidade de máquina de indução trifásica.

2.2.6.1 Turbinas de velocidade constante


Dado que uma mínima variação de velocidade leva a uma variação total de potência, este
arranjo pode ser utilizado em conexões diretas do gerador à rede elétrica, como ilustra a figura
2.21. É necessário prever um suprimento de reativos para o GI, evitando que tal energia tenha que
prover da rede. A vantagem deste arranjo é sua simplicidade e baixo custo. No entanto, não há
qualquer possibilidade de regulação do fluxo de potência ativa, o qual depende exclusivamente da
energia retirada do vento, o que leva a flutuações de tensão no ponto de acoplamento. Além disso,
variações no vento produzem torques pulsantes em todo sistema mecânico. Tais arranjos são
comuns em sistemas de menor potência.
Nesse caso estão sistemas que operam com velocidade constante e que, portanto, fazem uso
de dispositivos aerodinâmicos de regulação de potência, como os apresentados anteriormente
(controles de pitch ou de stall). O sistema deve prever um soft-starter para minimizar as correntes
de inrush e evitar afundamentos de tensão na rede.

Caixa de Soft-starter
engrenagens

Compensação Tranformador Rede


Gerador de Indução de reativos

Figura 2.21 Conexão direta de GI à rede elétrica – operação com velocidade constante.

2.2.6.2 Turbinas de velocidade variável e conversores eletrônicos de potência reduzida


Nas máquinas de rotor bobinado tem-se acesso ao enrolamento do rotor, sendo possível
alterar o valor da resistência rotórica, Rr, o que leva a uma alteração da curva de torque de modo a
se ter uma maior variação de velocidade dentro da faixa de excursão da potência, conforme mostra
a figura 2.22. Com variação da resistência do rotor é possível ampliar a faixa de variação de
velocidade para de 2 a 5%. O conversor que emula a resistência variável opera com baixa tensão e
alta corrente e processa uma pequena parcela da potência gerada. Sua ação permite regular a
potência ativa injetada na rede em situações de elevada velocidade do vento.

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0
Rr

0.5
5Rr
10Rr

Td/Tmr 1
-0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 s

Figura 2.22 Característica torque - velocidade para diferentes valores de resistência de rotor.

Gerador de Indução

Caixa de SS
engrenagens

Compensação Tranformador Rede


de reativos
Controle eletrônico
da resistência do
rotor

Figura 2.23 Conexão de GI com rotor bobinado – operação com velocidade variável.

A figura 2.24 mostra outro arranjo, no qual o gerador de indução com rotor bobinado tem
aplicada no enrolamento do rotor uma tensão CA controlada. Quando o gerador opera acima da
velocidade síncrona, potência é enviada à rede tanto pelo enrolamento do estator (diretamente)
quanto pelo de rotor, através dos conversores CA/CC e CC/CA.
Abaixo da velocidade síncrona, injeta-se potência no motor através do enrolamento do
rotor, de modo que se tem controle sobre o campo girante da máquina (que é uma composição da
velocidade mecânica do eixo com o campo girante da corrente do rotor). Uma faixa de variação de
+30% da velocidade é possível com um conversor que processa aproximadamente 30% da
potência nominal do gerador. Além disso, é possível controlar tanto o fluxo de potência ativa
quando o de potência reativa, melhorando o comportamento na interconexão com a rede CA.
Este arranjo prescinde de procedimentos de partida suave e de fornecimento de reativos,
pois ambas funções podem ser realizadas pelos conversores utilizados. Esta configuração é,
naturalmente, de maior custo que as anteriores, no entanto, torna-se possível uma maior produção
de energia elétrica e há menores esforços sobre a caixa de engrenagens.

Gerador de Indução
Tranformador Rede

Caixa de
engrenagens

CA CC

CC CA

Pref Qref
Figura 2.24 Conexão de DFIG

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2.2.6.3 Sistemas com processamento total da potência gerada


Neste caso, é possível capturar potência do gerador a qualquer velocidade do vento, dado
que há um total desacoplamento entre a tensão gerada e a rede.
Dado que a tensão de saída dos geradores é alternada, o processamento de toda potência
exige um retificador (conversor CA/CC, assunto do capítulo 3), levando à existência de um
barramento CC intermediário, a partir do qual se faz uma inversão (conversão CC-CA, assunto do
capítulo 4). Há inúmeros aspectos relacionados aos procedimentos para conexão com a rede, os
quais serão abordados oportunamente.
A figura 2.25 mostra uma estrutura que pode ser usada tanto com geradores de indução
com rotor em gaiola quanto com geradores de ímãs permanentes. O que se altera é a topologia e/ou
a estratégia de controle do retificador, de modo a proporcionar o melhor modo de operação para o
gerador, reduzindo perdas e/ou maximizando a potência.
A figura 2.26 ilustra a situação com gerador síncrono, adicionando-se ao sistema um
retificador de baixa potência que faz o ajuste da excitação de campo do gerador.

Gerador de Indução
ou Gerador de Ímãs Permanentes (PM) Tranformador Rede

Caixa de CA CC
engrenagens
CC CA

Pref Qref

Figura 2.25 Sistema com atuação assíncrona entre o gerador e a rede.

CC

CA

Caixa de CA CC
engrenagens
CC CA
Tranformador Rede
Gerador Síncrono
Pref Qref

Figura 2.26 Sistema com gerador síncrono, desacoplado da rede.

De acordo com a regulamentação da CPFL, toda central de microgeração33 distribuída


conectada na rede de baixa tensão (BT), independentemente da quantidade de fases e da potência
que pode ser gerada, deverá sê-lo necessariamente por intermédio de inversores eletrônicos,
qualquer que seja a fonte primária da energia. O uso de transformador isolador é obrigatório para
conexão em média tensão34.

33
Microgeração distribuída é uma central geradora de energia elétrica com potência instalada menor ou igual a 100 kW e que
utiliza fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada, conforme regulamentação da
ANEEL (Resolução Normativa n° 235/2006, de 14/11/2006), conectada na rede de distribuição por meio de instalações de unidades
consumidoras.
34
CPFL Energia, Conexão de Micro e Minigeração Distribuída sob Sistema de Compensação de Energia Elétrica, 2012.

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2.2.7 Aspectos ambientais 35


Claramente o uso da energia eólica para produção de eletricidade não acarreta emissão de
gases na atmosfera, no entanto existem outros aspectos ambientais que não devem ser
negligenciados. É importante que os projetos sejam adequadamente integrados na paisagem e
desenvolvidos em colaboração com as comunidades locais, para manter o apoio da opinião pública
a esta forma de energia. Aspectos do balanço energético entre a produção e operação dos parques
eólicos e a produção de eletricidade serão considerados em seção posterior.
O ruído produzido pelas turbinas é também apontado como argumento contra o uso da
energia eólica. O ruído mecânico está associado à caixa de velocidades, ao gerador e aos motores
auxiliares. O ruído aerodinâmico está relacionado com o movimento das pás, que é inevitável,
principalmente a baixas velocidades do vento, uma vez que em altas velocidades o ruído de fundo
se sobrepõe ao das turbinas.
Tanto a interferência eletromagnética com sinais de comunicações, como os efeitos sobre a
vida animal, principalmente as aves migratórias, não são superiores aos de outras estruturas de
grande porte semelhantes, podendo ser evitados através da escolha criteriosa do local de
instalação. O uso da terra não fica comprometido, uma vez que apenas uma pequena percentagem
do espaço onde é instalado o parque eólico fica efetivamente ocupada.

2.2.8 A questão da complementaridade


A sazonalidade da disponibilidade de energia eólica já foi discutida. Outro aspecto
relevante para a decisão de um parque eólico pode estar na correlação com outras fontes
renováveis, como a hídrica ou a solar, que também sofrem variações ao longo do tempo, seja em
um intervalo diário, seja de longo prazo.
A Fig. 2.27 ilustra, para o período anual, uma comparação entre a vazão do rio São
Francisco (da qual depende a capacidade de geração hidrelétrica) e a energia gerada pelos parques
eólicos alocados na região do vale do rio São Francisco. Embora a capacidade geradora eólica
ainda não seja comparável à capacidade instalada nas usinas hidrelétricas, é evidente que a
característica complementar indica que, quando ambas capacidades se equilibrarem, é possível
obter uma produção de eletricidade em nível elevado ao longo de todo ano.

Figura 2.27 Comportamento complementar de geração eólica e hídrica em período anual no vale
do rio São Francisco. http://www.cresesb.cepel.br/download/casasolar/casasolar2013.pdf

35
Rui M. G. Castro, “Introdução à Energia Eólica”, Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal, 2003.

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A figura 2.28 se refere à Alemanha, indicando a produção de energia elétrica a partir de


fontes eólica e solar. Também neste caso tem-se um importante efeito complementar, ou seja, nos
meses em que os ventos se tornam menos produtivos (verão no hemisfério norte) a produção a
partir da fonte solar cresce, e vice-versa, resultando uma produção razoavelmente constante no
decorrer do ano.

Figura 2.28 Comportamento complementar de geração eólica e solar em período anual na


Alemanha. https://www.iea.org/publications/freepublications/publication/NextGenerationWindandSolarPower.pdf

Considerando o intervalo diário, a existência ou não do comportamento complementar


entre uma fonte eólica e a solar, sua ocorrência é fortemente dependente da localização e também
da época do ano. A Figura 2.29 ilustra uma situação em que ocorre maior produção eólica nos
períodos sem insolação, observado na Califórnia, no mês de junho de 2013. Estudos semelhantes
em outros locais podem não apresentar comportamento semelhante e cada situação deve ser
analisado individualmente.

Figura 2.29 Comportamento complementar de geração eólica e solar em período diário na


Califórnia, em julho de 2013. http://www.nerc.com/files/ivgtf_report_041609.pdf

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2.3 Energia Solar Fotovoltaica

A conversão direta da energia solar em energia elétrica ocorre pelos efeitos da incidência de
radiação sobre determinados materiais, particularmente os semicondutores. No efeito fotovoltaico
(FV) os fótons contidos na luz solar são convertidos em energia elétrica, por meio do uso de
células solares”36.
O efeito FV foi observado pela primeira vez por Alexandre-Edmond Becquerel em 1839 37.
Os elétrons gerados a partir da incidência da radiação luminosa são transferidos entre diferentes
bandas de energia (i.e., das bandas de valência para bandas de condução 38) dentro do próprio
material, resultando no surgimento de uma diferença de potencial entre dois eletrodos 39.
Na maioria das aplicações fotovoltaicas a radiação incidente é a luz solar e, por esta razão,
os dispositivos de conversão são conhecidos como células solares. No caso de uma célula
solar de junção PN, a iluminação do material cria uma diferença de potencial à medida que os
elétrons excitados e as lacunas remanescentes são conduzidos em direções opostas pelo campo
elétrico da região de depleção, como ilustra a figura 2.30.

Radiação solar

eletrodos

Semicondutor tipo N -
Diferença de
potencial
+
Semicondutor tipo P

Figura 2.30 Produção de ddp por ação de radiação solar em material semicondutor dopado e
imagem de célula FV comercial.

Um grande impulso para o aproveitamento


fotovoltaico veio dos programas espaciais e de
telecomunicações via satélite. A eletricidade necessária ao
funcionamento dos circuitos eletrônicos provém de células
fotovoltaicas. No espaço, a potência disponível na distância
entre a Terra e o Sol, é de 1353 W/m2. Já na superfície da do
planeta, por conta da atmosfera, considera-se uma potência de http://en.wikipedia.org/wiki/File:ROSSA.jpg
1000 W/m2.
Mesmo sendo variável com a localização e com as condições atmosféricas, esse valor é
tomado pelos fabricantes de células para a caracterização dos dispositivos.
Além das condições atmosféricas, especialmente a nebulosidade, a disponibilidade de
radiação solar incidente sobre a superfície terrestre depende da latitude e, obviamente, da data e do
horário. Isso se deve aos movimentos de translação e de rotação da terra.
Para maximizar o aproveitamento da radiação solar deve-se ajustar a posição do painel
fotovoltaico de acordo com a latitude local e o período do ano em que se requer mais energia. No

36
http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/03-Energia_Solar(3).pdf
37
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre-Edmond_Becquerel
38
Ver animação em https://en.wikipedia.org/wiki/File:Solargif1.gif Acesso em 2017
39
http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_fotovoltaico

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Hemisfério Sul, nas latitudes do Brasil, por exemplo, um sistema fixo de captação deve ser
orientado para o Norte, com ângulo de inclinação próximo ao da latitude local.
A figura 2.31 ilustra a energia média que atinge a superfície do país a cada dia. Os valores,
na maior parte do país, estão na faixa de 15 a 20 MJ/m2.dia, o que significa de 4,1 a 5,5
kWh/m2.dia. Ou seja, se TODA energia incidente pudesse ser captada e convertida em
eletricidade, com 1 m2 de coletor seria possível obter a energia consumida em uma residência com
consumo mensal de 150 kWh. A quantidade média anual de horas em que cada região do Brasil
tem incidência direta de luz solar está mostrada na figura 2.32.

Figura 2.31 Radiação solar diária (média anual em MJ/m2dia) 40

Figura 2.32 Insolação Diária (Média anual em horas).

40
http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/Atlas_Solarimetrico_do_Brasil_2000.pdf

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Apesar de valores tão expressivos, o fato é que o efetivo aproveitamento da energia recebida
do sol é muito menor e a principal razão é o relativamente baixo rendimento do processo de
conversão fotovoltaico, conforme mostra a tabela 2.4, para diferentes tecnologias de produção de
células fotovoltaicas. Pesquisas recentes não têm apontado melhorias expressivas nos valores de
eficiência de conversão 41.
Dado que a incidência ocorre em um intervalo restrito do dia, em sistemas isolados do
sistema interligado nacional, torna-se necessário algum dispositivo que acumule a energia e a
disponibilize de acordo com a demanda. Os padrões de consumo residencial, infelizmente, não
combinam com o padrão de geração fotovoltaica, uma vez que o pico e a maior demanda ocorrem
no período noturno, como mostra a figura 2.33.

Tabela 2.4

Figura 2.33 Perfil típico de demanda ao longo do dia de consumidores residenciais (medição em
transformador de distribuição).

Mesmo considerando que a célula FV tenha uma eficiência (elevada) de 20%, e


adicionando os rendimentos dos processos de condicionamento da energia gerada (pois é
produzida energia em CC e o consumo é, tipicamente, em CA), tem-se um aproveitamento efetivo
de cerca de 15% da energia incidente. Isso significa que a área calculada anteriormente para suprir
uma demanda diária de 5 kWh deve ser algo em torno de 6,5 m2. A figura 2.34 ilustra,
simplificadamente, o conjunto de dispositivos necessários ao aproveitamento dessa energia.
Os aproveitamentos fotovoltaicos são, predominantemente, de baixa potência, na faixa de
kW, em termos de potência instalada e de uso residencial ou isolado. Instalações de maior porte,
na faixa de centenas de kW até alguns MW são conectados em nível mais elevado de tensão, por
meio de transformadores.

41
Martin A. Green, Keith Emery, Yoshihiro Hishikawa, Wilhelm Warta, Ewan D. Dunlop: “Solar cell efficiency
tables (version 48)”, First published: 17 June 2016, http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/pip.2788/full Acesso
em 2017.

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Figura 2.34 Sistema de aproveitamento de energia FV.

A presença de uma isolação elétrica (transformador) no sistema, quando se faz a conexão à


rede CA, não é obrigatória (embora possa ser assim determinada por normas nacionais/locais
específicas).
A inclusão da isolação galvânica entre os painéis FV e a rede pode ser feita em diferentes
pontos. É possível usar um transformador de baixa frequência na saída do inversor. Nesse caso
seria um transformador com núcleo de Fe-Si, operando em 50/60 Hz, ou seja, um dispositivo de
massa e volume consideráveis. É possível fazer a isolação em algum estágio intermediário, como
no acoplamento entre o conversor CC-CC. Nesse caso, o transformador operará em alta
frequência, o que reduz sua massa e volume. O núcleo será, possivelmente, de ferrite, dada a
frequência de operação.

2.3.1 Modelo elétrico de uma célula fotovoltaica


Uma célula fotovoltaica pode ser bem representada por um circuito elétrico equivalente
como o mostrado na figura 2.35, o qual leva a uma curva característica I x V ilustrada na figura
2.36. Nessa figura se mostra a evolução da potência sobre a carga. Estas curvas são obtidas
alterando a resistência de carga (Rc).
IPV Ic

VPV Rc

Figura 2.35 Circuito equivalente de célula FV conectada a uma carga resistiva.

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Os valores indicados como IMP e VMP correspondem ao ponto de máxima potência sobre a
carga (neste caso, 3,2 A e 0,52 V). VOC é a tensão de circuito aberto e ISC é a corrente de curto-
circuito (3,5 A). A corrente IPV, assim como a tensão VD, são supostas constantes. IPV depende
fortemente da potência incidente sobre a célula, como mostra a figura 2.37. O efeito térmico é
também relevante e afeta a tensão de circuito aberto, a qual se reduz à medida que a temperatura se
eleva.

Figura 2.36 Característica I x V de célula FV 42.

1000 W/m2

sem
iluminação

Figura 2.37 Efeito da iluminação e da temperatura sobre a curva I x V de célula FV 43.


http://en.wikipedia.org/wiki/File:I-V_Curve_T.png

2.3.2 Associações de painéis fotovoltaicos


Quando expostos à luz direta, uma célula de silício de seis centímetros de diâmetro produz
algo em torno de 0,5 A e 0,5 V, ou seja, cerca de 0,25 W. Como a tensão fornecida por uma célula
é reduzida, as aplicações exigem a associação de inúmeras células de modo a se obter níveis de
tensão e potência adequados. Tipicamente um painel solar é feito com a associação de algumas
dezenas de células, produzindo uma tensão terminal em torno de 30 V e uma potência de 50 a 250
W, ou seja, com correntes até 8 A. A Figura 2.38 ilustra um painel. A associação série e/ou
paralela de painéis cria um arranjo (array).
Especialmente para grandes arranjos, nos quais as condições de insolação podem ser muito
distintas, pois pode haver sombreamento em uma região e iluminação plena em outra, são
necessários cuidados especiais para a conexão, de modo a aproveitar ao máximo a energia
incidente.

42
http://da.wikipedia.org/wiki/Maximum_power_point_tracker
43
http://en.wikipedia.org/wiki/Theory_of_solar_cells

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-24
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Figura 2.38 Painel FV, composto pela associação de dezenas de células.


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f3/SolarpanelBp.JPG/300px-SolarpanelBp.JPG

Ao se fazer uma conexão série, a corrente que pode circular pelo arranjo é limitada pela
célula que tiver a menor insolação, ou seja, a que produzir a menor corrente. Isso implica que não
é possível obter a máxima potência das demais, prejudicando o rendimento do conjunto.
Para minimizar tal efeito, nas montagens dos arranjos são adicionados diodos de bypass,
em paralelo com certo conjunto de células. A melhor solução seria ter um diodo por célula, mas
isso encarece demasiadamente o produto. Além disso, o sombreamento parcial é um efeito que
ocorre em regiões relativamente distantes, de modo que é aceitável ter diodos para agrupamentos
de células, como mostra a figura 2.39.
O efeito sobre as curvas I-V e P-V são mostrados na figura 2.40. Nota-se que a presença
dos diodos de bypass permite que se obtenha a máxima potência de parte dos painéis do arranjo, e
a limitação da corrente por baixa insolação ocorre apenas parcialmente.

Figura 2.39 Arranjo de painéis FV com diodos de bypass.

Figura 2.40 Efeito sobre a característica I-V e sobre a curva P-V em caso de sombreamento.
http://sargosis.com/wp-content/uploads/2011/11/inverter_mpp_curves.jpg

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-25
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2.3.3 Estratégias de MPPT (Maximum Power Point Tracking)


A extração de potência de um painel fotovoltaico normalmente é feita por meio de um
conversor CC-CC, que adéqua a tensão de saída do painel FV (normalmente baixa, na faixa de
dezenas de Volts) à necessidade da aplicação. Este conversor, além do ajuste da tensão,
normalmente é dotado de algum sistema que busca, continuamente, o ponto de máxima potência.
Tal recurso é de grande importância dada a alta variabilidade da energia incidente e, dessa forma,
sobre a característica I-V e P-V do sistema.
Há diversos métodos possíveis de serem aplicados e seu estudo extrapola os objetivos deste
curso, razão pela qual apenas se indicam algumas referências 44 45.

2.4 Energia de produção x Produção de enegia


Um aspecto frequentemente levantado em relação ao uso de fontes renováveis é o do
balanço energético que coteja a energia utilizada para a produção, instalação, manutenção e
descarte dos sistemas de geração com a energia produzida ao longo do tempo de operação de tais
sistemas. O que se deseja, obviamente, é que a energia total produzida seja maior que a utilizada.
Além do aspecto energético, do ponto de vista dos impactos climáticos, deve-se também
fazer o balanço das emissões de gases de efeito estufa e outros poluentes.
Segundo estudo da Universidade de Stanford46 (2013) a estimativa era que, dado o
crescimento de eficiência energética na produção dos sistemas PV, em 2012 se atingisse uma
produção de energia que compensasse a energia demandada (a partir de 2000) para o
desenvolvimento e a produção dos sistemas fotovoltaicos.
A figura 2.41 ilustra os diferentes estágios desde a obtenção do silício até a instalação de
uma planta fotovoltaica. Nota-se uma diferença importante entre o custo financeiro e à demanda
energética entre as diferentes fases. Verifica-se que a grande demanda de energia está na fase de
produção do cristal de silício a qual, por sua vez, representa o menor custo, indicando que se trata
de um processo maduro e otimizado, de ponto de vista industrial. Já a parte sistêmica, na qual se
integram ao painel fotovoltaico os sistemas eletrônicos necessários ao efetivo aproveitamento
energético, a energia associada á produção de todos os elementos é comparativamente menor do
que o custo do conjunto.
Uma análise pertinente consiste em comparar a energia demandada em todo processo
produtivo da tecnologia e a energia efetivamente produzida. Tal análise leva em conta o “passivo”
das fases iniciais, quando o rendimento energético se mostrava mais reduzido e, em um dado
momento, incapaz de gerar mais energia do que se consumia na produção dos equipamentos.
A figura 2.42 mostra a análise da evolução do total de energia consumida pela indústria de
sistemas PV e a produção efetiva dos equipamentos instalados. Nota-se que até 2010 o resultado
permanecia na faixa negativa. Segundo o artigo, a previsão era que em 2012 se entrasse na faixa
positiva, ou seja, que a produção acumulada superasse todo o dispêndio energético realizado até
então. Tal análise indica, portanto, que há alguns anos a produção de energia através de plantas
fotovoltaicas apresenta-se de forma positiva. Os valores representados na figura indicam a média
de produção das diferentes tecnologias de células fotovoltaicas. O rsultado é dominado pelos
produtos baseados em cristais de silício, que são responsáveis por cerca de 90% dos sistemas
instalados. Algumas tecnologias, ainda de pouca penetração, apresentam resultados bem mais

44
de Brito, M.A.G.; Luigi, G.; Sampaio, L.P.; Canesin, C.A.; Avaliação das principais técnicas para obtenção de
MPPT de painéis fotovoltaicos, 9th IEEE/IAS International Conference on Industry Applications (INDUSCON), São
Paulo, 2010
45
CAVALVANTI, M. C. et al. Comparative Study of Maximum Power Point Tracking Techniques for Photovoltaic Systems.
Eletrônica de Potência, v. 12, n. 2, p. 163-171, 2007.
46
Michael Dale and Sally M. Benson: “Energy Balance of the Global Photovoltaic (PV) Industry - Is the PV Industry
a Net Electricity Producer?”, Environ. Sci. Technol. 2013, 47, 3482−3489, dx.doi.org/10.1021/es3038824
http://pubs.acs.org/doi/ipdf/10.1021/es3038824

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-26
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

positivos no aspecto energético, embora tenham uma menor penetração no mercado por conta de
custos de produção.

Figura 2.41Do silício aos sistemas de produção de energia: etapas, custo financeiro47 e demanda de
energia48
https://gcep.stanford.edu/pdfs/symposium2012/MikDale_Symp2012_web.pdf

Figura 2.42 Evolução do total de energia consumida pela indústria de sistemas PV e a produção
efetiva dos sistemas instalados. https://gcep.stanford.edu/pdfs/symposium2012/MikDale_Symp2012_web.pdf

Enquanto essa visão sistêmica permite uma análise dos esforços no aprimoramento da
tecnologia, outra análise que pode ser feita é, com a tecnologia atual, do ponto de vista de um
produtor, como se dá tal balanço energético49. De acordo com estudo do National Renewable
Energy Laboratory (NREL), com as tecnologias dominantes na atualidade (silício e filmes finos),
a compensação energética se dá entre quatro e três anos, respectivamente. O NREL estima o tempo
de operação do sistema PV em até 30 anos, o que permitiria um expressivo ganho para a produção
de energia.
47
Swanson, R. M. Solar's Learning Curve Paves Way to Competitive Costs. 2011.
http://energyseminar.stanford.edu/node/ 387
48
Alsema, E. A. Energy pay-back time and CO2 emissions of PV systems. Prog. Photovoltaics 2000, 8, 17−25.
49
NREL Report No. NREL/FS-520-24619, http://www.nrel.gov/docs/fy99osti/24619.pdf (acesso em junho 2017)

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-27
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

Figura 2.43 Tempo para compensação energética de sistemas PV de uso doméstico


http://www.nrel.gov/docs/fy04osti/35489.pdf

No que se refere às turbinas eólicas, análise semelhante pode ser feita. Nesse caso é usual
incluir os gastos energéticos de produção, transporte, instalação e manutenção, uma vez que todos
estes são relevantes ao longo dos anos em que a turbina permanece funcional (estimada em 30
anos, embora ainda não existam sistemas em operação há tanto tempo). Além disso, assim como
para os sistemas PV, as condições locais são determinantes, especialmente pelo fator de
capacidade, ou seja, o quanto efetivamente se produz de energia ao longo do tempo.
Diversos estudos apontam que o tempo de produção de energia para a compensação da
demanda de energia para produção e manutenção é inferior a um ano50.
Uma comparação pertinente é com os sistemas térmicos baseados em carvão ou gás. Dado
que as máquinas térmicas sempre apresentam um rendimento menor do que 50%, a produção de
eletricidade sempre será menor do que a perda de energia, o que implica em um balanço sempre
negativo do ponto de vista da operação das centrais geradoras.

2.5 Conexão à rede CA

Embora sejam bastante comuns os sistemas isolados, seja para alimentação de equipamentos
remotos, seja em localidades sem acesso à rede de energia elétrica, o foco deste curso são as
aplicações conectadas à rede. Assim, serão vistas as exigências para que se realize a inserção
destas fontes na rede de distribuição, especialmente na baixa tensão de distribuição, embora
empreendimentos de maior potência façam a conexão na alta tensão.
Em 2011 a ANEEL51 lançou um programa para incentivar a implantação de sistemas de
grande porte (com potência de pico entre 500 kW e 3 MW) como forma de criar no Brasil
experiências que viessem permitir a elaboração de normas e procedimentos adequados.
Um exemplo é a Usina Solar Tanquinho, em Campinas-SP, da Companhia Paulista de Força
e Luz (CPFL), com 1,1 MW de pico e expectativa de 1,6 GWh de produção de energia anual.
A Usina Tanquinho utiliza diferentes tecnologias de células: silício policristalino, silício
amorfo monocristalino, “filmes finos”, como o telureto de Cádmio e o Cobre-Índio-Gálio-Selênio
(CIGS). São testados arranjos de painéis fixos e móveis (que acompanham o movimento do sol),
diferentes estruturas de inversores (micro inversores individuais por painel e inversores de maior
porte para agrupamentos de painéis), bem como a integração da geração solar com geração eólica,
através da inclusão de um aerogerador de pequeno porte. O projeto busca analisar o impacto da
conexão desse tipo de geração para o consumidor final em termos de qualidade, segurança,
confiabilidade e viabilidade econômica52.
50
Karl R. Haapala and Preedanood Prempreeda, Comparative life cycle assessment of 2.0 MW wind turbines, Int. J.
Sustainable Manufacturing, Vol. 3, No. 2, 2014, Acesso em junho de 2017, http://www.ourenergypolicy.org/wp-
content/uploads/2014/06/turbines.pdf
51
ANEEL, chamada no 013/2011, projeto estratégico: “Arranjos técnicos e comerciais para inserção da geração solar
fotovoltaica na matriz energética brasileira”, Agosto de 2011. http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/PeD_2011-
ChamadaPE13-2011.pdf
52
http://www.cpfl.com.br/SaladeImprensa/Releases/tabid/154/EntryId/639/CPFL-Energia-tera-geracao-solar-fotovoltaica-ate-2013.aspx

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-28
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

Figura 2.44 Painéis fotovoltaicos na Usina Tanquinho (CPFL)


http://brasileconomico.ig.com.br/public/uploads/articles/foto_pagina/usina_energia_solar_empresa_cemig_be_01.jpg

2.5.1 Tarifação
A figura 2.45 ilustra um sistema com cargas CA, e conexão à rede. Uma questão que se
coloca é o da tarifação que está presente nos documentos que regem os procedimentos53,54 para
incentivar e regulamentar a implantação de sistemas de micro e minigeração.
Um dos métodos é o chamado “net metering”, o qual “consiste na medição do fluxo de
energia em uma unidade consumidora dotada de pequena geração, por meio de medidores
bidirecionais. Assim, um único medidor é capaz de registrar a energia consumida e a energia
gerada em um ponto de conexão. Se a geração for maior que a carga, o consumidor receberá um
crédito em energia (isto é, em kWh e não em unidades monetárias) na próxima fatura. Caso
contrário, o consumidor pagará apenas a diferença entre a energia consumida e a gerada, mantido o
custo de disponibilidade”55.

Figura 2.45 Sistema FV conectado à rede CA


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/95/PV-system_urban_home1.png/400px-PV-system_urban_home1.png

Segundo estudo apresentado pela ANEEL, “pode-se considerar o Sistema de Compensação


de Energia como uma ação de eficiência energética, pois haverá redução de consumo e do
carregamento dos alimentadores em regiões com densidade alta de carga, com redução de perdas
e, em alguns casos, postergação de investimentos na expansão do sistema de distribuição”.
Propõe ainda que o medidor seja pago pelo consumidor e que haja um prazo de validade dos
créditos. Se a geração for maior do que o consumo, o consumidor paga apenas o custo de
disponibilidade e os créditos poderão ser utilizados nos meses subsequentes. Para consumidor com
tarifa horo sazonal, a energia gerada deve abater o consumo no mesmo posto horário. Se houver

53
CPFL Energia, Conexão de Micro e Minigeração Distribuída sob Sistema de Compensação de Energia Elétrica, 2016.
http://sites.cpfl.com.br/documentos-tecnicos/GED-15303.pdf
54
http://www.enersul.com.br/files/2012/12/Procedimento-de-Acesso-para-Microgera%C3%A7%C3%A3o-e-Minigera%C3%A7%C3%A3o-
Distribuida-ENERSUL.pdf
55
www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/arquivo/2011/042/documento/aviso_ap042_2011_dou_11.8.11_secao_3_pg_134.pdf

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Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

excedente de geração, o montante será utilizado para compensar o consumo no outro posto
tarifário segundo a relação entre as tarifas de energia (ponta e fora de ponta). Os montantes de
energia gerada, que não tenham sido compensados na própria unidade consumidora, podem ser
utilizados para compensar o consumo de outras unidades previamente cadastradas para esse fim,
atendidas pela mesma distribuidora, cujo titular seja o mesmo da unidade com sistema de
compensação de energia.
A regulamentação exige ainda alterações e complementações em outros documentos, como o
PRODIST 56 (Procedimentos de Distribuição).
Há outras possibilidades de tarifação como, por exemplo, o uso de medidores distintos para a
importação e para a exportação de energia, o que permite a aplicação de tarifas diferenciadas,
incentivando a geração por meio de um maior valor pago.

2.5.2 Requisitos para conexão à rede CA


A regulamentação específica se encontra em constante revisão em todo o mundo, frente aos
conhecimentos que vão se consolidando em termos da operação das fontes distribuídas. No Brasil
têm sido tomadas como referência normas de outros países, especialmente da IEC (International
Electrotechnical Comission) e as recomendações do IEEE (The Institute of Electrical and
Electronics Engineers). Aplica-se integralmente o estabelecido na Seção 8.1 do Módulo 8 –
Qualidade da Energia Elétrica, do PRODIST (2017). Existem inúmeras normas que tratam do
assunto 57 58 59, envolvendo aspectos de equipamentos, de interligação, aterramento e isolação,
qualidade da energia, de proteção e segurança. Alguns aspectos são comentados a seguir.
A regulamentação da CPFL especifica que toda central de minigeração distribuída com
potência entre 75 kW e 5 MW (3 mW se geração hídrica) deve ser conectada por intermédio de um
transformador de acoplamento, a cargo do acessante. Toda central de microgeração distribuída
conectada na rede de baixa tensão (BT), independentemente da quantidade de fases e da potência
que pode ser gerada, deverá sê-lo necessariamente por intermédio de inversores eletrônicos,
qualquer que seja a fonte primária da energia.
Os procedimentos definidos pela Light60 Enersul61, por sua vez, permitem que geradores
CA (síncrono ou de indução) sejam conectados diretamente à rede de BT, apenas com os
dispositivos de segurança apropriados.

2.5.2.1 Tensão de Operação


De acordo com as normas vigentes, o inversor que se conecta à rede CA, em baixa tensão, é
responsável apenas pela injeção de potência ativa e não deve ter qualquer ação direta (intencional)
sobre o valor da tensão no PAC. São previstos valores máximo e mínimo da tensão e, dentro de tal
intervalo, o inversor deve operar normalmente.

Tabela 2.5 Limites de tensão PRODIST (< 1 kV)

56
http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=82
57
IEEE1547, IEEE Standard for Interconnecting Distributed Resources with Electric Power Systems, 2003
58
IEC 61727, Characteristics of the utility interface
59
IEEE 929-2000, Recommended practice for utility interface of photovoltaic (PV) systems.
60
Procedimentos para a Conexão de Acessantes ao Sistema de Distribuição da Light SESA – Conexão em Baixa
Tensão, 2012, http://www.light.com.br/recon/energia_alternativa_12_12_12.pdf
61
Procedimento de Acesso para Microgeração e Minigeração Distribuída, Enersul, 2012

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-30
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

Em situações que a tensão saia dos limites, o inversor deve se desconectar. O tempo de
desconexão depende do desvio da tensão, conforme as tabelas 2.6 e 2.7.
Este critério (uso exclusivo para injeção de potência ativa) impede o uso multifuncional do
inversor o que, do ponto de vista de estruturas de redes inteligentes (smart grid) é uma restrição
que subutiliza o potencial do conversor para realizar outras funções importantes, como a
compensação de harmônicas e de energia reativa.

Painel de
Arranjo Inversor
Detector de conexão
fotovoltaico Conversor fuga de Seccionadora
CC/CC corrente ao com a rede Rede
Fusível
Fusível CA
terra CA
CC

Figura 2.46 Componentes típicos de um sistema FV conectado à rede62 e procedimentos CPFL.

Tabela 2.6 IEC 61727


Faixa de tensão (% do valor nominal) Tempo para desconexão [s]
V<50 0,1 (5 ciclos de 50 Hz)
50<V<85 2,0
85<V<110 Operação normal
110<V<135 2,0
V>135 0,05 (2 ciclos e ½ de 50Hz)

62
California Energy Commission, A GUIDE TO PHOTOVOLTAIC (PV) SYSTEM DESIGN AND INSTALLATION, 2001

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-31
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

Tabela 2.7 IEEE 1547


Faixa de tensão (% do valor nominal) Tempo para desconexão [s]
V<50 0,16 (10 ciclos de 60 Hz)
50<V<88 2,0
88<V<110 Operação normal
110<V<120 1,0
V>120 0,16

2.5.2.2 Frequência
A tensão e a corrente produzidas pelo inversor têm que estar sincronizadas com a rede.
Enquanto a frequência da rede estiver dentro de certos limites, isso é entendido como uma situação
normal. Ao sair da faixa permitida, o entendimento é que houve alguma perturbação e que,
portanto, o inversor deve desconectar o sistema de geração local. A IEC recomenda que o desvio
máximo seja de +1 Hz. Já o IEEE apresenta uma faixa entre 59,3 e 60,5 Hz.
De acordo com a regulamentação brasileira 63, conforme ilustra a figura 2.47, quando a
frequência da rede ficar abaixo de 57,5 Hz ou acima de 62 Hz, a central deve cessar a injeção de
energia ativa à rede em no máximo 0,2 de segundo. Somente quando a frequência retornar a 59,9
Hz, após ter caído, ou retornar a 60,1 Hz, após ter subido, é que a central poderá voltar a injetar
energia ativa, em ambos os casos respeitando um tempo mínimo de 180 segundos após a volta das
condições normais de tensão e frequência na rede.

Figura 2.47 Injeção de potência pelo inversor em função da frequência da rede (NBR).

No caso de haver necessidade de corte de geração ou de carga, para permitir a recuperação


do equilíbrio carga-geração durante distúrbios na rede, a frequência:
• Não pode exceder 66 Hz ou ser inferior a 56,5 Hz em condições extremas;
• Pode permanecer acima de 62 Hz por no máximo 30 segundos e acima de 63,5 Hz por no
máximo 10 segundos;
• Pode permanecer abaixo de 58,5 Hz por no máximo 10 segundos e abaixo de 57,5 Hz por no
máximo 5 segundos.

2.5.2.3 Distorção da corrente e corrente CC


As normas (IEC e IEEE) coincidem e apontam uma Distorção Harmônica Total (DHT) de
5% e limites individuais segundo a Tabela 2.8. Algumas regulamentações nacionais de
concessionárias, como a COSERN64, também apontam tais limites.

63
NBR 16149:2013 – Sistemas fotovoltaicos (FV) – Características da interface de conexão com a rede elétrica de
distribuição
64
Conexão de Microgeradores ao Sistema de Distribuição de Baixa Tensão da Cosern, 2012,
http://www.cosern.com.br/ARQUIVOS_EXTERNOS/Conexão de Microgeradores ao Sistema de Distribuição de
Baixa Tensão da Cosern;;20121214.pdf

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-32
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Tabela 2.8 Limites de componentes harmônicas da corrente


Harmônica Limite
3ª à 9ª 4%
11ª à 15ª 2%
17ª à 21ª 1,5%
23ª à 33ª 0,6%
Acima da 33ª 0,3%
Componentes pares ¼ dos valores acima

A norma da CPFL não faz referência específica à distorção da corrente produzida pelo
inversor. Em relação à tensão, repete os valores definidos no PRODIST, mostrados na Tabela 2.9.

Tabela 2.9 Valores de referência globais das distorções harmônicas totais (em porcentagem da
tensão fundamental) – PRODIST (2017)

A operação do inversor pode apresentar um pequeno desequilíbrio nas tensões produzidas


nos semiciclos positivo e negativo. Isso gera um nível CC de tensão o qual, por depender apenas
da resistência do circuito, pode levar a um elevado valor CC na corrente, que é algo muito
prejudicial a elementos eletromagnéticos na rede, como transformadores, devido ao desequilíbrio
que provoca na magnetização dos mesmos.
O IEEE admite até 0,5% da corrente nominal do conversor, enquanto a IEC aceita até 1%. A
NBR 16149 indica que, a menos que haja separação galvânica entre a central geradora e a rede por
meio de transformador de isolamento, o micro ou minigerador distribuído deverá cessar de
fornecer energia à rede em até 1 segundo após detectar que injeção de componente de corrente
contínua que exceda 0,5 % da corrente nominal da central geradora.

2.5.2.4 Aterramento e corrente de fuga


Deve ser possível conectar ao terra o terminal positivo ou negativo do painel ou do arranjo
fotovoltaico. A fuga de corrente pelo terra deve ser monitorada, o que é especialmente importante
nos sistemas que não utilizem transformador de isolação. Caso a fuga de corrente exceda um dado
limite, o sistema deve se desconectar.

2.5.2.5 Fator de Potência


A IEC 61727 estabelece que operando a partir de 10% do valor nominal da potência, o
fator de potência resultante da injeção de corrente deve ser indutivo e não pode ser inferior a 0,85.
Para potência acima de 50% do valor nominal, o FP não pode ser inferior a 0,9. O IEEE não traz
restrições nesse aspecto.
A regra CPFL indica que o fator de potência no ponto de conexão da unidade consumidora
com central de micro ou minigeração distribuída deverá estar compreendido entre 0,92 e 1
indutivo ou 1 e 0,92 capacitivo.
A COSERN, seguindo as definições da NBR, indica que o sistema de geração distribuída
deve ser capaz de operar dentro das seguintes faixas de fator de potência quando a potência ativa
injetada na rede for superior a 20% da potência nominal do gerador:
 Sistemas de geração distribuída com potência nominal menor ou igual a 3 kW: fator de
potência igual a 1 com tolerância de trabalhar na faixa de 0,98 indutivo até 0,98 capacitivo;

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 Sistemas de geração distribuída com potência nominal maior que 3 kW e menor ou igual a
6 kW: fator de potência ajustável de 0,95 indutivo até 0,95 capacitivo;
 Sistemas de geração distribuída com potência nominal maior que 6 kW: fator de potência
ajustável de 0,90 indutivo até 0,90 capacitivo.
Após uma mudança na potência ativa, o sistema de geração distribuída deve ser capaz de
ajustar a potência reativa de saída automaticamente para corresponder ao fator de potência
predefinido. Qualquer ponto operacional resultante destas definições/curvas deve ser atingido em,
no máximo, 10 segundos.

2.5.2.6 Ilhamento e reconexão


Quando ocorre alguma perturbação na rede que acarrete a violação de limites de tensão e/ou
de frequência, conforme indicados anteriormente, o inversor deve se desconectar da rede.
Eventualmente pode manter a alimentação das cargas locais, dentro de sua disponibilidade de
potência, passando a atuar no modo stand-alone.
A desconexão é importante para impedir que o inversor tente “alimentar” a rede, para o que,
provavelmente, não teria capacidade, mas, principalmente, por razões de segurança. A manutenção
de operação do inversor manteria a rede alimentada, colocando em risco ações de manutenção,
além de poder produzir transitórios de energização muito perigosos, devido à assincronia entre a
fonte local e a externa.
O sistema local deve monitorar a presença, ou não, da rede externa. Ao detectá-la, deve
seguir um procedimento para a reconexão, fazendo um ajuste de frequência e de amplitude da
tensão, previamente à efetivação da conexão.
A IEEE 1547 indica que a conexão do inversor à rede pode ser feita desde que a tensão se
encontre na faixa de operação normal (88 a 110% do valor nominal) e que a frequência esteja entre
59,3 e 60,5 Hz. Não especifica em quanto tempo deve ser feita a conexão, uma vez atendidas essas
restrições.
Já a IEC 61727 indica a faixa de tensão entre 85 e 110% e frequência com desvio de + 1 Hz
em relação ao valor nominal da rede. A conexão só pode se dar após 3 minutos do retorno da
energia na rede no PAC.

2.5.3 Estruturas de conexão de inversores


Existem diferentes maneiras de se fazer a conexão de um painel ou de um arranjo á rede
elétrica. As figuras 2.48 e 2.49 ilustram essas alternativas.
Pode-se fazer o arranjo de todos os painéis, de maneira a se obter a tensão CC desejada
(painéis em série) e a corrente/potência (que determina a quantidade de arranjos que serão
colocados em paralelo). Um único conversor processa toda a potência gerada (figura 2.48.a). Outra
possibilidade é dividir os painéis e conectar cada grupo a um conversor CC-CC (figura 2.48.b), de
modo que se torna possível extrair a máxima potência de cada arranjo, o que não é possível no
caso anterior. Os conversores CC-CC compartilham um barramento CC de saída, ao qual se
conecta um inversor único, que processa toda a potência. Caso haja falha no inversor, toda a
produção de energia é interrompida. 65, 66
A figura 2.49 mostra uma alternativa que modulariza os inversores, os quais são de menor
potência (em relação à figura 2.48.a). Nesse caso também é possível obter a máxima potência de
cada subarranjo. A operação dos inversores deve prever tal operação em paralelo, com o devido
controle da corrente de saída para evitar conflito entre os comandos dos conversores.

65
Fritz Schimp, Lars E. Noru, Grid connected Converters for Photovoltaic, State of the Art, Ideas for Improvement of
Transformerless Inverters, NORPIE/2008, Nordic Workshop on Power and Industrial Electronics, June 9-11, 2008
http://www.elkraft.ntnu.no/eno/Papers2008/Schimpf-norpie08.pdf
66
Soeren B. Kjaer, John K. Pedersen and Frede Blaabjerg, A Review of Single-Phase Grid-Connected Inverters for
Photovoltaic Modules, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol. 41, No. 5, Sep. 2005

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-34
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A figura 2.49.b ilustra o conceito dos microinversores, no qual cada painel já possui um
conversor CC-CA integrado, com capacidade para conexão direta na rede. O conceito leva-se a
modularidade ao extremo e garante a operação de parte do arranjo, mesmo em caso de falha de um
painel ou inversor.
CC CC Rede CA
Rede CA
CC

CC

CC CA

CA

CC
(a) (b)
Figura 2.48 Arranjo com conversor único (a) e com múltiplos conversores CC-CC (b)

CC
CC CC

CA CA
CA
Rede CA CC CC

CC
CA CA

Rede CA
CA

(a) (b)
Figura 2.49 Conexão em paralelo de inversores (a) e configuração com microinversores (b)

2.6 Acumuladores de Energia


Conforme visto, tem-se significativa intermitência na geração de energia por parte das fontes
eólicas e fotovoltaicas. Além disso, deve-se levar em conta a diferença entre a geração e a
demanda, como ilustra a figura 2.50.

Figura 2.50 Comportamento típico de geração fotovoltaica e de consumo residencial.

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Quando se tem um sistema conectado à rede de distribuição, esta pode operar como um
tipo de armazenador do excesso de energia gerada e que fornece a quantidade demandada pela
carga quando não houver disponibilidade local. Na verdade, o que ocorre é que o sistema elétrico,
ao deixar de fornecer energia à carga, não realizará produção de energia com fontes tradicionais
(hidrelétrica e termelétrica), poupando os combustíveis ou retendo água nos reservatórios.
Por outro lado, pode ser de interesse do produtor armazenar o excesso da energia. Uma
razão para isso seria a tarifação horo sazonal, posto que a energia gerada seria remunerada por um
valor menor do que a consumida no horário de pico, em prejuízo do produtor.
Outra necessidade de se ter um estoque de energia local é para o atendimento de picos de
potência. Nos sistemas convencionais, com geradores eletromecânicos, a massa girante das
máquinas representa uma expressiva quantidade de energia cinética armazenada, a qual é capaz de
suprir de maneira instantânea a variação rápida de demanda. Em sistemas em que a geração é
processada por conversores eletrônicos, não existe essa disponibilidade, de modo que é preciso
algum outro método para garantir o atendimento instantâneo da demanda. Outra razão da
necessidade de armazenamento local de energia é para a inicialização de uma rede isolada, de
modo a ser possível determinar o sincronismo ao qual os demais geradores irão se ajustar.
Embora a energia elétrica seja um excelente vetor energético, sua grande limitação é a
impossibilidade prática de seu armazenamento em quantidades razoáveis. Os acúmulos capacitivo
e indutivo não são adequados à retenção de quantidades maiores de energia, mesmo que utilizando
supercapacitores ou magnetos supercondutores, por razões de custo, principalmente.
Nesse cenário, diferentes formas de acúmulo da energia excedente devem ser consideradas.
Conforme indica a figura 2.51, praticamente toda energia elétrica gerada em excesso é acumulada
em forma de energia potencia através do bombeamento de água para reservatórios elevados 67. Em
quantidades muito menores tem-se o uso de compressão de ar e, em escala ainda menor, as
baterias.

Figura 2.51 Formas de acúmulo de energia a partir de excedente de geração por fonte renovável.

Quando o cenário é de um armazenamento no próprio local de geração, a opção mais


comum é o armazenamento de energia química, seja em baterias, seja na forma de hidrogênio para
posterior produção de eletricidade por meio de células a combustível.
A figura 2.52 mostra comparativamente os desempenhos em termos de potência e de
energia de diferentes dispositivos de acúmulo. Observa-se que capacitores e supercapacitores são
capazes de fornecer elevada potência, mas têm uma capacidade muito limitada de acumular
energia, o que é mais bem realizado pelas baterias e células a combustível.

67
EPRI - Eletrical Power Research Institute, “Electricity Energy Storage Technology Options. A White Paper Primer
on Applications, Costs and Benefits.” 2010.

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Figura 2.52 Comportamento de capacidade de acúmulo de energia e disponibilização de potência


elétrica entre diferentes dispositivos 68.

2.6.1 Células a Combustível


Células a combustível são conversores de energia química em elétrica através de uma
reação de combustão na qual o combustível, normalmente hidrogênio, é oxidado em um dos
eletrodos (o ânodo) e o oxigênio, usualmente obtido do ar, é reduzido no outro eletrodo (o cátodo).
Uma CaC do tipo PEM (Polymer Electrolyte Membrane)69 unitária consiste de três
elementos principais: um ânodo, tipicamente caracterizado por um catalisador contendo platina;
uma membrana que é uma folha polimérica sólida agindo como eletrólito; e um cátodo também
catalisado com platina.
A membrana polimérica somente pode ser atravessada por íons carregados com cargas
positivas, sendo impermeável para as cargas negativas. Dessa forma, os lados da membrana
resultam carregados como as placas de um capacitor. As cargas negativas podem chegar ao outro
lado da membrana fluindo pelo circuito externo, onde se dá a conversão em eletricidade. O
resultado deste processo é que cargas de sinais opostos devem ser constantemente geradas em
ambos os lados da membrana. Como subproduto tem-se água aquecida. Não há emissão de gases
nocivos.
O rendimento elétrico das CaC é muito mais elevado do que o que se obtém em qualquer
processo de combustão interna, situando-se na faixa de 50%. No entanto, para que se possa usar
uma CaC como armazenador de energia, é preciso dispor de hidrogênio. Isso pode ser feito, por
exemplo, por eletrólise da água, armazenando-se H2, o qual será consumido na CaC quando
necessário. Do ponto de vista energético, é preciso considerar todo o processo, desde a produção
do hidrogênio, até a conversão posterior em eletricidade.
É também possível obter hidrogênio pela reforma de gases, como o metano (CH4). Tais
procedimentos, no entanto, fogem do foco deste curso, em que tratamos de processos de
aproveitamento da eletricidade.

68
André Augusto Ferreira e José Antenor Pomilio: “Estado da Arte sobre a Aplicação de Supercapacitores em
Eletrônica de Potência”, Eletrônica de Potência, SOBRAEP, Vol.10, no.2, Novembro de 2005, pp. 25-32. ISSN 1414-
8862
69
http://www.fueleconomy.gov/feg/fcv_pem.shtml

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-37
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

Figura 2.52 Esquema simplificado de operação de uma célula a combustível tipo PEM
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Fuel_cell_PT.svg

Atualmente, as CaCs estão disponíveis no mercado internacional e com capacidades


modularizadas que variam desde alguns kW até centenas de MW, sendo adequadas para o uso em
geração distribuída (GD) e aplicações de armazenamento (UPS).70

conversor inversor
CC/CC CC/CA
+
CC CC
+ saída para os
componentes
_ saída
auxiliares
CA
CA
CC
220 V

+ regulador de
tensão
+ -
banco de
baterias

exaustor

S _ purga de
sistema H2 + S
H2
reformador
soprador ar ar
exaustão
água fria de ar
água ar saída
pilha de FC 2x500Watts água
combustível

ventilador Reservatório
d'água água
válvula solenóide de
S
para H2 alimentação

regulador de
pressão
trocador de
calor bomba d'água

Figura 2.53 Diagrama esquemático de um sistema de geração baseado em CaCs71

70
Geomar Machado Martins: “Desenvolvimento de Conversor Comutado em Baixa Frequência para Aplicação em
Sistemas de Geração Distribuída Baseados em Células a Combustível”, Tese de Doutorado, FEEC-UNICAMP, 14 de
julho de 2006.
71
Farret, F. A., Pequenos Aproveitamentos Elétricos, livro. Editora da UFSM, 2002.

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-38
Eletrônica de Potência para Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica J. A. Pomilio

A estrutura típica de uma geração baseada em CaCs é vista na figura a seguir e compreende
o conjunto de CaCs e os tanques de Combustível (hidrogênio e oxigênio). A eletricidade resultante
é em CC. Caso se deseje injetar tal energia na rede, isso é feito via um inversor CC/CA. Estes
conversores devem realizar o ajuste do ponto de operação do sistema, regulando a tensão e a
corrente das CaCs de forma a otimizar o rendimento da energia produzida ou estabelecer o
funcionamento no ponto de máxima potência. Baterias de armazenamento podem estar presentes
no barramento CC e neste caso um conversor CC/CC dedicado (carregador das baterias) se faz
necessário para controlar o regime de carga/descarga.

2.6.2 Baterias
A capacidade de carga das baterias é normalmente expressa na unidade Ampère-hora.
Dimensionalmente isso equivale a Coulomb. Ao se multiplicar a capacidade pela diferença de
potencial presente nos terminais, tem-se a energia do dispositivo.
Há diversos tipos de baterias, como as de chumbo-ácido, íons de lítio, níquel-cádmio,
hidretos metálicos, etc.
Destas, principalmente me razão de custo, as que são mais usadas nos sistemas
estacionários de energia são as de chumbo-ácido, adequadas a longos processos de descarga,
operam bem mesmo com descargas profundas (até 10% da carga plena) e apresentam mínima
auto-descarga.
Embora com melhor desempenho em termos de ciclos de operação e perdas reduzidas,
outras tecnologias de baterias, como as de íons de Lítio ou de Níquil-Cádmio, por apresentarem
custo muito mais elevado, possuem menor aplicação para estocagem de energia em maiores
quantidades.

Referências adicionais

Além das citadas ao longo do texto, foram utilizadas informações e imagens disponibilizadas na
WEB:

http://www.mme.gov.br/mme/galerias/arquivos/publicacoes/BEN/2_-_BEN_-_Ano_Base/1_-_BEN_Portugues_-
_Inglxs_-_Completo.pdf

http://www.mme.gov.br/spe/galerias/arquivos/Publicacoes/matriz_energetica_nacional_2030/MatrizEnergeticaNacion
al2030.pdf

http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/Atlas_Solarimetrico_do_Brasil_2000.pdf

http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/atlas_eolico/Atlas%20do%20Potencial%20Eolico%20Brasileiro.p
df

http://www.eletrobras.gov.br

http://www.pmirs.org.br/seminario/iv_Seminario/download/pal18-EolicoJunqueira144_sec.pdf

http://www.fee.unicamp.br/dse/antenor 2-39

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