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Guia de Programação

para as Forças
de Defesa e Segurança
Opções de programas para controle das DST/HIV/aids
nas Forças de Defesa e Segurança

Séries do UNAIDS:
Envolvendo as Forças de Defesa e Segurança no controle das DST/HIV/aids
Documento 1
Guia de Programação
para as Forças
de Defesa e Segurança
Opções de programas para controle das DST/HIV/aids
nas Forças de Defesa e Segurança

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Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

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Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Índice

Prefácio 5

1. Introdução 6

2. Componentes de um programa 11

3. Lidando com as questões de gênero 20

4. Abuso de substâncias psicoativas - as drogas 22

5. Estabelecendo um programa de controle de DST/HIV/aids 24

6. Direitos legais, éticos e humanos 33

7. Criando e mudando políticas 35

8. Colaboração com a sociedade civil 38

9. Identificando o problema 39

10. A gestão de um programa 40

11. O planejamento estratégico na comunicação para a


mudança de comportamento 42

12. Selecionando populações-alvo 48

13. Realizando uma avaliação formativa 51

14. A comunicação para a mudança de comportamento


em um programa de HIV/aids 55

15. A elaboração de mensagens e de materiais educativos 57

16. A produção de materiais educativos e a escolha


de canais de comunicação 60

17. A pré-testagem de mensagens e de materiais educativos 65

18. A implementação de estratégias de comunicação


para a mudança de comportamento 69

19. O monitoramento e a avaliação 70

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Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Agradecimentos
Este guia foi elaborado por Iain McLellan sob orientação do Escritório do UNAIDS
sobre Aids, Segurança e Resposta Humanitária. O UNAIDS gostaria de agradecer a
Michael Munywoki e a Lev Khodakevich pela orientação e apoio. Ampliam-se os
agradecimentos às seguintes pessoas no UNAIDS pela colaboração na publicação deste
guia: Ulf Kristoffersson, Andrea Verwohlt e Jelena Vladicic. O UNAIDS gostaria também
de agradecer aos programas de controle de HIV/Aids das Forças Armadas do Gana,
Mauritânia, Camboja e Zâmbia, bem como ao Serviço de Polícia do Gana pelas suas
contribuições e críticas durante o processo de elaboração do guia.

A coordenadora do projeto do UNAIDS para este guia é Sinead Ryan.

No Brasil, a adaptação do material foi realizada pelo consultor Luiz Fernando Marques,
com o apoio dos Ministérios da Defesa e da Saúde e do Escritório do UNAIDS no
Brasil.

UNAIDS no Brasil:
SCN, quadra 2, bloco A, módulo 602
Brasília - DF
70712-900
Fone: (61) 3038-9220
Fax: (61) 3038-9229
unaidsbrazil@undp.org.br

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Prefácio à Edição Brasileira

Prefácio
Sabemos pela experiência acumulada que a aids é mais do que uma questão de saúde: ela
passa a constituir-se em uma preocupação de segurança global, que já atinge proporções
epidêmicas. A aids pode devastar regiões inteiras, reverter décadas de desenvolvimento
nacional e até destruir as bases de uma nação: suas comunidades, economias ou instituições
políticas, e mesmo as próprias forças militares e policiais. Em muitos países, a aids já
afetou o pessoal das forças armadas em proporções maiores do que as alcançadas nas
populações civis. Onde isso ocorre, a aids debilita as estruturas de comando, bem como
compromete a prontidão e a capacidade militar de responder à ameaça e à instabilidade.

As Forças Armadas, especialmente seus jovens membros homens e mulheres, são


extremamente vulneráveis ao HIV/aids em função de fatores como o ambiente de
trabalho, a mobilidade, a idade e outras circunstâncias que as expõem a um risco acrescido
de infecção. Esse fato foi primeiramente reconhecido pelo Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas (ONU) quando adotou a Resolução 1308, em julho de
2000, exprimindo a preocupação em relação ao potencial impacto do HIV/aids na saúde
do pessoal das forças internacionais de manutenção da paz. Essa preocupação foi
posteriormente enfatizada na Declaração de Compromisso da ONU sobre o HIV/Aids,
em junho de 2001, na qual seus Estados Membros e a comunidade internacional
comprometem-se a abordar questões relacionadas ao HIV/aids entre seu pessoal das
forças de defesa e segurança.

Os jovens recrutas são particularmente alvos de ação, tendo em vista o seu potencial
papel de futuros líderes, de tomadores de decisão e como membros das forças de
manutenção da paz dentro e fora de seus países. Os recrutas nas Forças Armadas
defrontam-se com a solidão e outros desafios por encontrarem-se longe das suas famílias
e contextos culturais. O comportamento dos jovens recrutas e a disponibilidade de
informação e de serviços apropriados podem determinar a qualidade de vida de milhões
de pessoas em seus respectivos países.

Como resposta a essa situação e seguindo concretamente as orientações acima traçadas,


o Secretariado do UNAIDS, por meio de seu Escritório para a Aids, Segurança e
Resposta Humanitária, foi incumbido de assumir o papel de liderança no desenvolvimento
de uma abordagem coordenada e integrada em resposta ao HIV/aids nas Forças Armadas,
sobretudo entre os jovens recrutas.

Muitas forças de defesa e segurança constataram que uma abordagem sistemática de


controle das DST*/HIV/Aids é mais eficaz do que abordagens isoladas com muitas
atividades descoordenadas. Este documento foi elaborado pelo UNAIDS para apoiar as
forças de defesa e segurança que queiram controlar a epidemia, fazendo significativa
diferença nas vidas do seu próprio pessoal e familiares.

Ulf Kristoffersson
Diretor
Escritório do UNAIDS para Aids, Segurança e Resposta Humanitária
* Doenças sexualmente trasmissíveis.

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Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

1. Introdução
1.1. Qual é o propósito deste guia?
Fornecer opções de programa
Este guia fornece um panorama de opções de programas para controle das DST/ HIV/
Aids, destinado aos planejadores de saúde das Forças Armadas. O guia enfatiza a
importância do planejamento estratégico, buscando que todos os esforços sejam orientados
e dirigidos por pesquisa que os embase. A ênfase é dada na discussão sobre a
vulnerabilidade às DST/HIV/aids e na adoção de práticas mais seguras. O guia aborda
diferentes públicos-alvo em seus contextos culturais. Assim, os leitores devem ajustar a
terminologia e a abordagem do programa, visando contemplar as necessidades específicas
das suas corporações.

Focalizar os fatores que aumentam a vulnerabilidade às DST/HIV/aids


O guia apresenta uma visão na qual todos os esforços estão focalizados em influenciar
mudanças positivas de comportamento. A experiência diz-nos que, geralmente, essa
mudança não é alcançada somente pela informação. Uma ênfase específica é dada ao
desenvolvimento de intervenções para o grupo de populações mais vulneráveis, os jovens
entre os 15 e 24 anos de idade.

Questões-chave que aumentam a vulnerabilidade às DST/


HIV/aids no âmbito das Forças Armadas

Dentre as principais questões-chave, destacamos:

A maior parte de seus integrantes está no grupo etário mais vulnerável à infecção pelo
HIV, os sexualmente ativos com menos de 25 anos de idade.

As características de emprego das Forças Armadas, tendem, em determinadas situações,


a gerar um ambiente favorável à adoção, por parte dos militares, de comportamentos
de risco.

Os quartéis e seu pessoal, incluindo aí as instalações das forças de manutenção da


paz, atraem os comércios de sexo e de drogas ilícitas.

O serviço prestado pelas Forças Armadas pressupõe longos períodos longe do ambiente
familiar, resultando que, muitas vezes, o pessoal procure formas de se libertar da solidão,
do estresse e do aumento da tensão sexual.

1.2. O que é o programa das DST/HIV/aids?


O programa de contole das DST*/HIV*/Aids* constitui um esforço coordenado para
lidar com o impacto das DST/HIV/Aids no ambiente das Forças Armadas. As opções
de programa abarcam: serviços biomédicos incluindo o diagnóstico e tratamento das
* Doenças Sexualmente Transmissíveis
* Vírus da Imunodeficiência Humana
* Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

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Introdução

DST; aconselhamento e testagem voluntária e confidencial; promoção de preservativos


e de serviços de disponibilização; treinamento de pessoal; educação de pares e liderança
de pares; comunicação para a adoção de práticas mais seguras; advocacia e
desenvolvimento de políticas. A maioria dos programas encontra um equilíbrio operando
nas áreas de advocacia e desenvolvimento de políticas e na disponibilizaçao de serviços
médicos e na promoção de atividades de prevenção, ajustando a dimensão do programa
aos recursos existentes. Os países com incidência relativamente baixa de HIV/aids podem
privilegiar seus recursos em prevenção e o estabelecimento de programas de controle
das DST, enquanto aqueles com prevalência mais elevada priorizam seus esforços nos
cuidados e no tratamento das pessoas vivendo com HIV/aids.

1.3. Por que estabelecer um programa?


Para aumentar a eficácia
Um programa estabelece um quadro geral no qual os serviços e as atividades fiquem
claramente estabelecidos. Ele assegura que a resposta seja equilibrada, os fundos
existentes sejam usados em respostas efetivas e que os elementos do programa sejam
coordenados e funcionem eficientemente em uma ação conjunta.

Para inserir ações de prevenção nos serviços


A inserção das ações de prevenção em serviços acessíveis é particularmente importante.
Os educadores de pares podem incentivar o uso do preservativo ou o tratamento
sindrômico das DST, mas, se não houver preservativos e medicamentos para o tratamento
de DST, pouco resultado será possível. As Forças Armadas precisam controlar as DST/
HIV/aids, em uma abordagem planejada e que faça diferença na qualidade de vida de
seu pessoal e de suas famílias.

Para proteger os companheiros de farda


Existe uma ética amplamente estabelecida nas Forças Armadas que preza a lealdade
entre os companheiros de farda e, também, a valorização dos oficiais para com o bem-
estar de seus comandados. Esses aspectos sustentam a eficiência, elemento crucial nas
corporações militares. Há, ainda, uma crescente sensibilização para a necessidade do
enfrentamento das questões relativas ao HIV/aids, o que está evidenciando-se ser tão
importante como dar cobertura durante uma batalha. Ademais, ações de prevenção são
muito mais baratas que o tratamento às pessoas infectadas.

1.4. Por que as Forças Armadas são particularmente


vulneráveis?
Pela prática do sexo ocasional
No mundo inteiro os homens constituem a maioria do pessoal nas Forças Armadas. Os
jovens de idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, tanto os não casados como os
temporariamente separados de suas parcerias regulares, constituem o mais amplo e
vulnerável grupo dentre todos os militares. Assim como os jovens civis, eles são mais
suscetíveis às infecções pelo HIV e de infectarem a outras pessoas. O fato de, muitas
vezes, os militares estarem longe de suas casas fazem-nos recorrerem mais aos serviços
de profissionais do sexo, de ficarem infectados com DST, com destaque ao HIV e, por

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Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

sua vez, infectarem suas esposas, namoradas ou parcerias ocasionais, quando


desmobilizados ou em períodos de folga.

Pelo estímulo ao comércio sexual


Em países com economias desestabilizadas por conflitos, a presença de grande número
de homens fardados constitui um fator importante para o incremento do comércio local
de sexo. Pode então ocorrer o tráfico de mulheres para a prostituição ou que elas se
ofereçam como forma de sobrevivência. Nesse contexto, em função do sexo não protegido
com muitos parceiros ocasionais diferentes, as Forças Armadas têm, em geral, taxas de
prevalência de DST e HIV mais elevadas do que as médias encontradas na população
geral.

Em alguns países, por terem as taxas de infecção mais elevadas que as dos
civis (em outros países, mas não no Brasil)
Segundo o UNAIDS, as taxas de DST entre as Forças Armadas são de duas a cinco
vezes mais elevadas que as encontradas na população civil, e ainda mais elevadas em
tempo de conflito em alguns países. Os últimos dados do UNAIDS sugerem que, em
certas partes do mundo, a diferença pode ser ainda maior que essa. Um estudo francês
constatou que membros de suas Forças Armadas que operaram no estrangeiro eram
cinco vezes mais suscetíveis ao HIV e outras DST do que aqueles que permaneceram
no país. Em muitos países não industrializados, a aids é a principal causa de morte entre
membros das Forças Armadas.

Trabalhando com as comunidades locais

A interação entre os membros das Forças Armadas e a comunidade local pode ter tanto
efeitos negativos como positivos. As relações entre os militares e as mulheres locais,
incluindo as profissionais do sexo, foram identificadas como um dos canais por meio
dos quais o HIV espalha-se nas comunidades circunvizinhas. Contudo, tanto os militares
quanto os civis, devidamente treinados, podem trabalhar como ativistas no aumento da
sensibilização ao HIV/aids entre as comunidades locais e as redes de profissionais do
sexo que, muitas vezes, aparecem próximo de quartéis e estabelecimentos similares.
Em todos os aspectos do programa de controle de HIV/ aids, incluindo a educação de
pares, a comunidade local, destacando as profissionais do sexo, deve estar envolvida.
Essa abordagem assegurará a sustentabilidade de qualquer atividade de abordagem
ao HIV/aids.

1.5. Por que as intervenções em HIV/aids são


importantes para as Forças Armadas?
Pelo impacto em relação à prontidão
Se for deixada sem a devida atenção, a ocorrência de HIV/aids terá importante impacto
em relação à prontidão do pessoal e comprometerá a segurança interna e nacional. A
mortalidade e a morbidade podem reduzir o poderio total da tropa, a força de destacamento
e a reserva de recrutamento de pessoal alistado.

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Introdução

Pelos custos acrescidos


A rotação de pessoal não somente cria uma perda de continuidade do comando, como
também aumenta os custos de recrutamento e de treinamento do pessoal substituído. Os
custos acrescidos com cuidados de saúde podem ser substanciais, incluindo a necessidade
de pessoal adicional para os cuidados de saúde, o seguro médico, os seguros de vida e os
pagamentos por incapacidade. O absenteísmo aumenta e a produtividade diminui, uma
vez que mais pessoas infectadas pelo HIV ficam doentes.

Por portar a infecção para a população civil


A atuação das Forças Armadas pode também significar um impacto fora de suas próprias
fileiras. O HIV/aids tende a ser mais presente nos países durante os períodos de
instabilidade. O pessoal operando no estrangeiro como força de manutenção de paz, ou
compondo uma parte das forças militares, pode infectar-se e portar o HIV para o seu
próprio país, onde a infecção é menos comum. No inicio da década de 1980, na África,
as Forças Armadas tanzanianas invadiram a vizinha Uganda. As forças atravessaram
uma zona da fronteira que tinha, então, a mais elevada taxa de incidência do HIV na
África. Depois da ação, período em que muitos soldados infectaram-se, eles foram
desmobilizados de forma igual pelo país inteiro, aumentando muito a vulnerabilidade das
populações nas cidades e estados.

1.6. O que pode acontecer se um efetivo programa de


controle de DST/HIV/aids não for desenvolvido?
Um programa inadequado
Muitas forças militares no mundo ainda não possuem um programa de DST/HIV/aids.
Outras acrescentaram algumas questões de caráter biomédico às já existentes orientações
dadas no treino dos recrutas. Assim, e em grande medida, as Forças Armadas,
especialmente aquelas em países não industrializados, deram menos prioridade a um
programa do que foi dada à população civil. Dessa forma, forças militares de países com
elevada prevalência agora constatam que a prevalência das DST/HIV/aids não se
acompanha de respostas adequadas dos serviços de saúde.

Forças de defesa civil ou militar doentes não serão tão


eficazes ou disciplinadas como forças saudáveis.

As forças de defesa e segurança, incluindo as forças de defesa civil, são extremamente


vulneráveis às DST, incluindo o HIV, sobretudo em função de seu ambiente de trabalho,
da mobilidade, da idade de seus membros e de outros fatores. As elevadas taxas de
prevalência entre os membros das forças de defesa e segurança enfraquecem a defesa
nacional. Combater o HIV/aids nas forças de defesa e segurança não é apenas uma
questão moral, mas também uma questão de otimização da eficácia militar. A ocorrência
do HIV/aids limita a prontidão, as capacidades e o aproveitamento de experiências
valiosas de seus membros. Em decorrência disso, uma escassez de oficiais e soldados
pode acontecer e, assim, um pessoal menos experiente pode ter de assumir mais
responsabilidades. O aumento da sensibilização para o HIV/aids e o encorajamento
para a adoção de práticas mais seguras entre os membros das forças de defesa e
segurança salvará vidas e melhorará a sua eficácia.

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Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Um problema crescente
As Forças Armadas de países com baixa prevalência do HIV/aids devem observar que
em alguns países que hoje apresentam cerca de um terço de seus membros infectados
pelo HIV também havia uma baixa prevalência há apenas 15 anos. Os países hoje menos
afetados pela epidemia ganhariam em aprender com a experiência dos mais severamente
afetados e propor ações imediatas para evitar uma espiral da epidemia.

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Componentes de um programa

2. Componentes de um
programa
2.1. Porque os serviços de DST são necessários?
As DST são indicadores precoces de vulnerabilidade ao HIV
Os mesmos fatores que tornam o pessoal das Forças Armadas vulneráveis à infecção
pelo HIV, como a separação dos parceiros regulares e conseqüente aumento da
possibilidade de sexo desprotegido, também aumentam as chances de contrair uma DST.
Um estudo revelou que 10% do pessoal da Marinha Americana contraíram uma DST
durante missões na América do Sul, África Ocidental e Mediterrâneo.

AS DST são co-fatores para a infecção pelo HIV


Se uma pessoa contraiu uma DST, torna-se até 50 vezes mais suscetível ao HIV se tiver
relações sexuais não protegidas com uma pessoa soropositiva. O estabelecimento de
serviços competentes de diagnóstico e tratamento de DST, ou de um sistema de referência
para os serviços públicos, deveriam ter uma alta prioridade para os programas de HIV/
aids das Forças Armadas.

Para disponibilizar o diagnóstico e tratamento de DST


O treinamento dos profissionais dos serviços de saúde das Forças Armadas para
diagnosticar e tratar DST pode constituir-se em um primeiro importante passo. O manejo
sindrômico de casos de DST, no qual todas as possíveis causas da síndrome são tratadas,
é eficaz na prevenção e no tratamento, sem pressupor procedimentos laboratoriais
dispendiosos. Os principais componentes da abordagem sindrômica das DST incluem:

z Identificação dos principais agentes causadores das DST, por meio dos sintomas
clínicos que eles produzem;
z Tratamento de todas as causas importantes da síndrome;
z Oferecimento do tratamento a todas as parcerias sexuais do contato.

Para implantar a abordagem sindrômica das DST


Por exemplo, no manejo sindrômico de um homem com queixas de corrimento uretral o
tratamento incluiria tanto o da gonorréia quanto o da infecção por clamídia. Para uma
pessoa com úlcera genital, o tratamento visaria à cura do cancroide e da sífilis. A
abordagem sindrômica oferece acessibilidade e tratamento imediato. Uma desvantagem
dessa abordagem é o tratamento excessivo em alguns pacientes. Os estudos
demonstraram que o manejo sindrômico das DST é mais eficaz em relação aos custos
do que o diagnóstico baseado em exames clínicos e em testes laboratoriais.

Para a reduzir a automedicação


A automedicação das DST é um problema também comum entre os membros das Forças
Armadas, já que podem sentir-se embaraçados em procurar tratamento em lugares
adequados, por não haver serviços apropriados disponíveis ou por preocupar-se com a

11
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

notificação de uma DST em seu registro no serviço médico, o que poderia constituir-se em
uma desvantagem para os mesmos. As estratégias devem incluir a colaboração com as
farmácias próximas das instalações militares, no sentido de encorajar a referência para os
serviços públicos de DST. O estabelecimento e a promoção de serviços confidenciais nas
instalações militares também aumentam a procura por tratamento das DST.

Para assegurar a disponibilização dos medicamentos


O aumento de capacidade operacional do pessoal de saúde em diagnosticar e tratar as
DST, ou o estabelecimento de novas clínicas de DST, trarão pouco impacto se não
forem acompanhados de outros suportes básicos ao estabelecimento do programa. Bons
exemplos são a ampla disponibilização de preservativos e dos medicamentos para o
tratamento das DST.

Para serem referência às ações de prevenção às DST


Para diminuir a probabilidade de infecções de repetição, a promoção do uso do
preservativo e o aconselhamento devem fazer parte da abordagem de prevenção e de
tratamento. Os serviços de DST que efetiva e sistematicamente realizem a busca do
contato das pessoas afetadas por uma DST também reduzem as probabilidades de
infecções de repetição. Por exemplo, a organização de atividades de prevenção às DST
junto às profissionais do sexo que trabalhem próximas às instalações militares podem
trazer um impacto na diminuição de DST do pessoal das Forças Armadas.

2.2. Qual a função do preservativo?


Ser a principal arma de defesa do pessoal
A camisinha, tanto a masculina como a feminina, é a principal arma de defesa para o
pessoal fardado contra as DST/HIV/aids. Os novos recrutas, em particular, têm menos
probabilidade de serem casados ou de terem parcerias regulares, além de serem mais
suscetíveis a envolverem-se em relações sexuais ocasionais sem proteção. A
responsabilidade pela proteção à saúde e segurança do pessoal é parte da tradição das
Forças Armadas.

Ser incorporado aos objetos pessoais


A aids é a principal causa de morte entre o pessoal das Forças Armadas em muitos
países do mundo. O preservativo deve ser considerado, portanto, uma parte essencial do
bornal do pessoal. De fato, algumas Forças Armadas tornaram o porte de preservativos
obrigatório e disponibilizaram uma quantidade deles para serem transportados no cinto
dos soldados. Nessa situação, o pessoal deve mostrar os seus preservativos durante as
inspeções diárias, podendo, inclusive, ser punidos se não os portarem.

12
Componentes de um programa

Cartão de Orientação sobre o HIV/aids

O UNAIDS, em parceria com o Departamento das Nações Unidas para as Operações de


Manutenção de Paz (DPKO), desenvolveu uma estratégia de sensibilização para as
operações de manutenção de paz. O “Cartão de Orientação sobre o HIV/Aids” contém
informações básicas sobre o HIV/aids, um código de conduta para o pessoal de
manutenção da paz, instruções sobre prevenção e um recipiente para portar até dois
preservativos. Baseado no sucesso desse cartão de sensibilização, o Ministério da
Saúde, em parceiria com o Ministério de Defesa e o UNAIDS, produziram um cartão
semelhante para as forças armadas nacionais. Esse material pode fazer parte de uma
campanha de sensibilização às IST e à aids e deveria ser incorporado como parte
integrante do uniforme das Forças Armadas. No Brasil, esse cartão será distribuído nas
ações de prevenção organizadas pelos Ministério da Defesa e da Saúde. Para mais
informações contate www.unaids.org ou www.aids.gov.br.

Ter seu fornecimento garantido


As Forças Armadas têm a responsabilidade de garantir que seu pessoal tenha acesso ao
fornecimento regular de preservativos. Eles podem ser oferecidos gratuitamente ou
vendidos a preços subsidiados nas próprias instalações do quartel ou próximos a elas,
como nas cantinas, farmácias ou por indivíduos, como os educadores de pares.

Adicionalmente, devem ser pensados acordos com os projetos já existentes de marketing


social da camisinha que estejam trabalhando na área. Essa ação amplia o número de
pontos de venda das camisinhas nas proximidades dos quartéis ou em locais onde possa
haver práticas de sexo não protegido, como os bares, clubes noturnos e bordéis.

O preservativo precisa de promoção


Tornar os preservativos masculino e feminino disponíveis e acessíveis é um bom desafio,
o que nos faz pensar na necessidade de permanentes campanhas de promoção de seu
uso. Para tanto, é necessário identificar os obstáculos mais comuns para o seu uso e
ajudar as pessoas a ultrapassá-los. Demonstrações de como colocá-los, usando pênis de
madeira ou borracha, aliado à correta instrução de uso, colocada em banheiros, por
exemplo, pode resultar no aumento de habilidade e de aderência ao uso correto e
consistente da camisinha. O marketing social do preservativo para as profissionais do
sexo também deve ser incentivado.

13
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

O que é o ATV?

O aconselhamento e testagem voluntária e confidencial (ATV) constitui o processo no


qual uma pessoa torna-se capaz de fazer uma escolha informada em relação a ser
testado para o HIV, caso considere que o necessite. Essa decisão deve ser inteiramente
do indivíduo e a ele, ou ela, deve ser assegurado que todo o processo seja confidencial.
O aconselhamento em HIV foi definido como “um diálogo confidencial entre uma pessoa
e um prestador de cuidados, visando habilitar a pessoa a enfrentar o estresse e a tomar
decisões pessoais relacionadas com o HIV/aids. O processo de aconselhamento inclui
avaliações do risco pessoal em relação às DST/HIV e das condições de adoção de
comportamentos seguros”

Os objetivos do aconselhamento em HIV são: 1) prevenir a transmissão das DST/HIV


e 2) dar apoio emocional àqueles que desejam fazer o teste anti-HIV, tanto para ajudá-
los a tomar uma decisão quanto a se testar, como na facilitação de tomada de decisão
após o seu resultado.

2.3. Qual a função do aconselhamento e da testagem


voluntária anti-HIV?
A ocorrência da testagem obrigatória
A testagem obrigatória anti-HIV, prévia ao recrutamento para aqueles destacados em
missão de manutenção de paz ou antes de novos destacamentos, é comum entre as
Forças Armadas no mundo inteiro. Um inquérito entre as Forças Armadas de 43 países
constatou que quase todo o pessoal foi testado antes de sua partida ao exterior, bem
como cerca de metade dos novos recrutas submeteu-se ao teste anti-HIV.

A testagem obrigatória viola os direitos humanos


O UNAIDS apregoa que a testagem anti-HIV obrigatória, ou seja, sem o consentimento
informado, constitui uma violação dos direitos humanos. É bom que seja lembrado que a
maioria das infecções ocorridas em pessoal das Forças Armadas ocorre após o
recrutamento e não antes dele. Em casos onde as Forças Armadas obrigam a testagem,
mas oferecem pouco apoio médico e psicossocial, há pouco ou nenhum benefício em
fazê-lo. O UNAIDS recomenda o aconselhamento e a testagem voluntária, por acreditar
em sua eficácia, quando for amplamente promovido e inteiramente financiado.

A escolha do teste
O ATV está centrado na comunicação e na escolha, permitindo que as pessoas possam
compreender o seu grau de risco, mesmo que possam rejeitar a idéia do teste por medo
da descoberta de estarem infectadas. No entanto, se elas forem educadas sobre os
benefícios precoces do teste, ou souberem que a maioria das pessoas são soronegativas,
mais pessoas submeter-se-ão ao teste. O pessoal também estará mais propenso ao teste
se as Forças Armadas não forem vistas como tendo políticas que discriminam aqueles
que são soropositivos. É importante assegurar que os serviços de ATV estejam disponíveis
para satisfazer a demanda criada.

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Componentes de um programa

O processo de aconselhamento é essencial


Um aconselhador experiente pode ajudar a pessoa a ser testada a compreender as
implicações e a lidar com o medo e a ansiedade decorrentes. Se o resultado der positivo
o aconselhador poderá ajudar a pessoa a enfrentar as suas dificuldades e a facilitar as
ligações com os serviços de referência. O apoio emocional que o aconselhador oferece
pode beneficiar o indivíduo, prevenindo riscos adicionais ou a transmissão a outras pessoas.
Aqueles que forem corretamente aconselhados e testados são também mais aderentes
aos serviços e tomam atitudes que podem aumentar a qualidade e a esperança de vida.
Os aconselhadores experientes fazem muito mais pelo usuário do serviço do que apenas
dar informação. Para tanto, eles devem ter atitudes de empatia e compreensão e
desenvolver habilidades para escutar e ajudar o cliente a gerir o estresse e a ansiedade
decorrentes de questões relacionadas a infecções e à doença.

A confidencialidade
Disponibilizar um ATV de qualidade – servico confidencial e anônimo, com aconselhador
experiente - aumenta o número de pessoas interessadas na testagem. Algumas instituições
militares permitem àquele que deseja o teste que se identifique por meio de um código
(teste anônimo), ou que possa ser transferido para os serviços de ATV de um serviço
público próximo. Uma outra forma de tornar os testes mais reservados é disponibilizá-los
em serviços mais gerais, como nas clínicas de DST.

Promoção do ATV
O ATV é mais eficaz quando os seus benefícios são bem promovidos. Um desses
benefícios é saber que a testagem acaba com a preocupação de ser HIV-positivo. Uma
pessoa envolvida em comportamentos que a expõe ao HIV e que se revela ser HIV-
negativo pode repensar esses comportamentos e passar a adotar práticas mais seguras.
Para aqueles revelados HIV-positivos, o ATV demonstrou sua eficácia em prolongar as
suas vidas com qualidade, quando a infecção é detectada precocemente. O ATV permite
que as pessoas vinculem-se a serviços e encoraja mudanças positivas no estilo de vida.
O conhecimento da condição de alguém em relação ao HIV permite planejar o futuro,
colocando as finanças em dia, preparando um testamento e protegendo a segurança da
família. Permite, ainda, que a pessoa reveja a sua vida e a aproveite de forma intensa o
aqui e o agora. A facilidade de acesso ao teste por meio, por exemplo, da abertura de
muitos locais para fazê-lo e a ampliação de horários dos serviços também aumentam a
sua procura. Os oficiais superiores podem demonstrar coragem e liderança voluntariando-
se para a testagem anti-HIV.

2.4. E sobre o tratamento e o suporte de serviços?


Necessidades médicas e psicossociais
Os cuidados e apoio às pessoas vivendo com o HIV/aids geralmente abrangem três
áreas: serviços psicossociais, tais como a criação de grupos de apoio; serviços biomédicos
tais como o tratamento de infecções oportunistas, como a tuberculose ou pneumonia; e
serviços de extensão tais como a assistência domiciliar. O UNAIDS apregoa que as
Forças Armadas devem assegurar que os cuidados e atenção a seus membros afetados

15
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

pelo HIV/aids, bem como de seus familiares, sejam providos, incluindo a continuidade
dos cuidados à medida que eles regressem à vida civil.

Referência aos serviços públicos


Se as Forças Armadas não tiverem as condições de elas próprias proverem as
necessidades de seus membros afetados pelo HIV/aids, elas devem buscar a retaguarda
dos serviços públicos. Isso pode envolver a negociação para que haja referência de
militares a serviços civis localizados próximo as instituições militares e/ou a capacitação
de pessoal militar das áreas de saúde.

Grupos de apoio às pessoas vivendo com HIV/aids


A organização de grupos de pessoas vivendo com HIV/aids provou ser um dos meios
mais eficazes em relação aos custos do fornecimento de apoio para aqueles que se
desafiam a viver de forma positiva com o vírus. Os grupos, além de oferecer apoio
psicossocial e a promoção de espaço de inspiração e de mudanças comportamentais
positivas, podem promover atividades de prevenção e fornecer insumos para o
desenvolvimento de políticas setoriais.

Acesso à terapia anti-retroviral


O acesso aos medicamentos de controle da HIV/aids – a terapia anti-retroviral - fortalece
a qualidade e prolonga a vida das pessoas soropositivas. Algumas Forças Armadas de
países não-industrializados desenvolveram programas que permitem ao pessoal obter
medicamentos anti-retrovirais. Os fundos de solidariedade terapêutica foram criados e
funcionam como esquemas de segurança, nos quais muitas pessoas contribuem, mas
apenas uns poucos necessitam a eles recorrer. Dessa forma, os custos dos medicamentos
reduzem-se a cerca 5 a 15% de seus preços iniciais.

No Brasil, desde 1996, o acesso aos anti-retrovirais e a todo o tratamento para o controle
da doença é universal e gratuito, garantido pelo Estado.

2.5. O que é Comunicação para a Mudança de


Comportamento (CMC)?
Uma abordagem planejada
A comunicação para a mudança de comportamento (CMC) é um processo que consiste
em diversas fases, no qual as pessoas adquirem autoconfiança ensaiando um novo
comportamento. O processo é inspirado nas estratégias de comunicação, especificamente
concebido para apoiar a decisão de mudanças comportamentais. A CMC reforça mudanças,
auxiliando as pessoas a desenvolver habilidades para se prevenir das DST/HIV e criar um
clima social de apoio a mudanças consistentes. A CMC pode também contribuir na
modificação de ambientes sociais que facilitem comportamentos inseguros. Por exemplo,
a CMC pode ajudar a conter as atitudes prevalentes nas Forças Armadas que pressionam
os homens a beber demasiado e a ter relações sexuais ocasionais. Isso pode também ser
usado para reduzir a discriminação de pessoas vivendo com o HIV/aids.

16
Componentes de um programa

Desenvolvida a partir da educação em saúde


A CMC desenvolveu-se a partir das abordagens da promoção e da educação em saúde,
bem como das ferramentas de IEC (Informação educação e comunicação). A CMC tem
muitas contribuições a dar em uma programação de HIV/aids. Uma CMC eficaz deve:

z Promover a advocacia: por meio de ações de advocacia, a CMC pode facilitar a


compreensão daqueles em posição de poder da necessidade de apoiar ativamente
o programa. A advocacia ocorre em todas as esferas, do nível nacional até a
unidade de local.
z Estimular o diálogo: a CMC deve encorajar a discussão sobre os fatores subjacentes
que contribuem para a propagação das DST/HIV. A CMC deve criar uma demanda
por informação e serviços e deve encorajar ações para reduzir o risco, a
vulnerabilidade e a discriminação.
z Aumentar o conhecimento: a CMC deve assegurar que as pessoas tenham as
informações básicas por meio da linguagem, de imagens e de outros meios de
comunicação e que possam ser compreendidas e relacionadas com o que se quer
mostrar.
z Promover a mudança de comportamento: deve motivar as pessoas a adotarem
práticas mais seguras em sua vida.
z Reduzir o estigma e a discriminação: a comunicação em HIV/aids deve incluir
questões sobre estigma e discriminação e influenciar as respostas sociais a esses
problemas.
z Promover serviços de prevenção, de cuidados e apoio: a CMC pode promover
serviços tão variados quanto os que lidam com DST, órfãos e crianças
vulnerabilizadas, aconselhamento e testagem voluntária, transmissão do HIV de
mãe para filho, grupos de apoio para pessoas vivendo com HIV/aids, cuidados
clínicos para infecções oportunistas e apoio social e econômico.

2.6. Qual é o papel da capacitação?


Construir habilidades de gestão
As Forças Armadas podem precisar investir na construção das habilidades para o
planejamento e implementação de um programa de DST/HIV/aids. Aspectos como a
advocacia, a busca e a administração da assistência técnica civil, o monitoramento e
avaliação podem ser habilidades necessárias que devem ser buscadas. Essas e outras
habilidades são importantes na construção de programas efetivos que façam mais do
que suprir as lacunas de informação, e que possam promover a adoção de práticas
seguras para a prevenção das DST/HIV/aids.

Capacitar o pessoal de saúde


O primeiro passo tomado pela maioria das Forças Armadas ao iniciar um programa de
DST/HIV/aids é o de treinar seus profissionais de saúde dentro dos próprios serviços.
Isso poderia ser feito ao se acrescer questões relativas às DST/HIV/aids em
treinamentos-em-serviço de pessoal médico, ou assegurando a sua participação em

17
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

treinamentos organizados por outras instituições nacionais. Também poderia ser negociada
a assistência técnica para essa formação junto a doadores internacionais, às organizações
não governamentais (ONG) ou a outros projetos existentes.

Adicionar questões relativas ao HIV/Aids à capacitação básica


As Forças Armadas, como regra, realizam treinamentos básicos na recepção aos novos
recrutas. Em relação às DST/aids há uma evidente sensibilização em relação a esses
conteúdos. No entanto, os treinamentos convencionais não demonstram muita eficácia
em relação à adoção e a mudanças para comportamentos mais seguros.

Treinar em habilidades especiais


Aos formadores e supervisores dos educadores de pares será exigido o desenvolvimento
de habilidades para o trato do ATV e das estratégias de CMC. Além disso, deverá haver
também a orçamentação para a implantação de outras atividades essenciais como a
supervisão de formadores e apoio à ação dos educadores de pares.

2.7. O que é educação de pares?


Os educadores de pares desenvolvem a discussão sobre vulnerabilidade às
DST/HIV/aids
Um par é uma pessoa que tem uma posição hierárquica de igualdade em relação a uma
outra. Um educador de pares é um membro de um grupo de pessoas com semelhante
história e valores. O educador de pares é formado para facilitar discussões sobre a
vulnerabilidade em relação às DST/HIV, levando os seus iguais a refletir e a propor
soluções. Os educadores de pares são o elo de ligação entre o programa e a população-
alvo e, geralmente, têm a mesma idade, gênero e status de seus pares. Eles têm várias
funções tais como: facilitar discussões, responder perguntas, conduzir ações educativas,
atuar em advocacias, realizar aconselhamento, distribuir materiais, referenciar a serviços
especializados, e vender ou distribuir preservativos.

A liderança de pares
No contexto das Forças Armadas, o termo “líder de par” pode ser considerado mais
apropriado do que “educador de par”. Liderar implica em dar exemplos positivos,
inspirando os outros a seguirem direções apropriadas. Os líderes de pares devem apoiar
seus colegas no sentido de se submeterem ao ATV e de adotar comportamentos mais
seguros em relação às DST/HIV. A liderança de pares é um tipo de educação não
formal que pode ser implantada a baixo custo, sendo bastante eficaz na passagem de
mensagens culturalmente sensíveis , bem como na atuação e no benefício de um grupo
específico.

Vantagens da educação de pares


Os educadores de pares são mais acessíveis ao público-alvo, em função da proximidade,
sobretudo quando os soldados estão confinados à base. As outras vantagens da educação
de pares incluem:

18
Componentes de um programa

z Uma implantação de custo mais baixo;


z A maior facilidade em discutir assuntos mais sensíveis em um contexto de pares;
z A maior facilidade de propor a adoção de mudanças comportamentais sustentáveis;
z A maior sensibilidade para a manutenção da confidencialidade;
z A maior eficácia na passagem de mensagens em função da informalidade e da
proximidade com uma população-alvo específica, como os recrutas;
z Um menor dispêndio de tempo, comparado com intervenções educativas mais
complexas.

Kit de educação de pares disponível

Em reconhecimento à importância das questões relacionadas às DST/HIV/Aids no


contexto das forças de defesa e segurança e o reconhecimento das vantagens da
educação de pares, o UNAIDS produziu um kit de apoio à educação de pares,
direcionado às mulheres e homens jovens componentes das Forças Armadas. O kit
proporciona orientações facilitadas sobre como estabelecer, coordenar e avaliar os
processos de educação de pares e ajuda o educador e seus colegas a compreender
questões tais como os fatores de vulnerabilidade às DST/HIV/aids, o uso do preservativo,
a relação entre o abuso de álcool e outras drogas, a violência sexual e as formas de
prevenção e tratamento das DST/HIV/aids. No Brasil, o kit foi adaptado com a parceiria
dos Ministérios da Saúde e da Defesa, com o apoio dos Escritórios do UNAIDS e do
UNFPA no país e será utilizado nas ações de prevenção direcionadas às Forças
Armadas. Para mais informações contate unaidsbrazil@undp.org.br, ou o Escritório do
UNAIDS do seu país.

19
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

3. Lidando com as questões de


gênero
3.1. Por que as questões de gênero são importantes?
As mulheres têm menos poder
Na maior parte do mundo as mulheres estão social e economicamente em desvantagem
em seus contextos familiares e sociais. Elas são vulneráveis em função do abandono e
do abuso por parte dos homens. As iniquidade de gênero pode limitar a capacidade de
geração de rendimentos das mulheres, o que pode levá-las ao trabalho sexual. As mulheres,
jovens ou não, também podem ter limitado poder de negociação nas práticas sexuais,
resultando em sexo indesejado ou sem o uso do preservativo.

As mulheres são mais vulneráveis às infecções


As mulheres são especialmente vulneráveis às DST em função de sua constituição
anatômica e fisiológica, bem como das desigualdades de status e poder em relação aos
homens. As mulheres são mais suscetíveis do que os homens a qualquer das DST, incluindo
o HIV, a partir de uma única exposição. Elas têm também mais DST assintomáticas, o
que dificulta o diagnóstico e o tratamento.

Em período de conflito há vulnerabilidade acrescida


Durante tempos de conflitos a situação das mulheres piora, pois a violência sexual e a
violação podem ser usadas como armas de guerra, onde as forças atacantes subjugam
as mulheres, tanto como para dar medo ao inimigo, quanto como uma forma de “limpeza
étnica”. Com o deslocamento de refugiados e a baixa qualidade dos serviços de saúde,
incluindo os de prevenção de DST/HIV, a probabilidade das mulheres serem infectadas
aumenta. A chegada de grande número de soldados constitui um estimulo à industria do
sexo, o que pode incluir o tráfico de mulheres para a prostituição. Muitas vezes, intimidada
pela violência dos seus gigolôs, essas mulheres, que trabalham como escravas sexuais,
têm pouco poder de negociação sobre o uso do preservativo.

Tornam-se esposas vulneráveis


As esposas e as namoradas regulares de homens fardados podem ser particularmente
vulneráveis às DST trazidas pelos seus parceiros. Um padrão comum de comportamento
é o de que os homens em missões externas tenham relações sexuais não protegidas com
parcerias ocasionais. Quando em licença, eles retornam e podem transmitir,
involuntariamente, DST às suas parceiras regulares. Muitos casais descobrem a chegada
do HIV na sua família apenas quando a mulher engravida.

As mulheres das Forças Armadas enfrentam desafios


As Forças Armadas têm a responsabilidade de assegurar a proteção de seu contigente
feminino contra o abuso sexual e as DST/HIV/aids. Essas mulheres trabalham, muitas
vezes, em um ambiente onde as dominam os homens, vulnerabilizadas pelo assédio sexual
dos colegas e dos oficiais superiores.

20
Lidando com as questões de gênero

As adolescentes são mais vulneráveis


As jovens mulheres que vivem nas instalações policiais e militares são, muitas vezes,
forçadas pelos homens fardados a ter relações sexuais. As jovens são particularmente
vulneráveis já que alguns homens julgam, erradamente, que as mulheres jovens têm
menos capacidade de os infectarem com o HIV.

3.2 O que pode ser feito para reduzir a


vulnerabilidade?
Aumentar as capacidades de negociação e de comunicação das mulheres
Ações educativas direcionadas à moças e às mulheres, por meio do aumento da auto-
estima e do poder de negociação, podem ter impacto positivo no comportamento dos
homens. Se as mulheres forem mais seguras em suas relações com os seus parceiros
sexuais, as chances de que elas sejam capazes de protegerem a si mesmas e as suas
famílias das DST/HIV ficam maiores. As mulheres podem, então, desenvolver a habilidade
de dialogar com seus parceiros e negociar o uso do preservativo. Em alguns contextos,
as mulheres de homens das Forças Armadas foram encorajadas a discutir com seus
maridos o uso do preservativo, quando houver relações sexuais extraconjugais.

Aumentar o respeito pelas mulheres


Os homens das Forças Armadas precisam aumentar a compreensão sobre a
vulnerabilidade das mulheres em relação ao abuso sexual e às DST/HIV. A falta de
sensibilidade de gênero, acentuada pela percepção de poder advindo do uso do uniforme,
pode aumentar o risco de abuso sexual dos homens contra as mulheres. Um componente
de gênero, que trate de tais questões, constitui uma parte do programa de DST/HIV/aids
para as Forças Armadas.

21
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

4. Abuso de substâncias
psicoativas – as drogas
4.1. Qual é a ligação entre o abuso do álcool e o HIV?
O uso do álcool aumenta a vulnerabilidade às DST/HIV/aids
O abuso de álcool pode ter um impacto direto sobre a transmissão das DST e do HIV. O
consumo pode aumentar o desejo por relações sexuais com parcerias ocasionais e de
reduzir a atenção para a necessidade do uso do preservativo. O abuso do álcool pode
também aumentar a violência sexual em relação às esposas, às namoradas, às profissionais
do sexo ou às mulheres que os homens das Forças Armadas encontram no decurso do
seu trabalho.

4.2. O que pode ser feito em relação ao abuso de


álcool?
Programas de tratamento do álcool
A criação de grupos de apoio às pessoas que fazem uso prejudicial de bebidas nas
corporações militares pode ajudar àqueles que assim o desejarem. Como em todas as
circunstâncias em que há necessidade de mudança de comportamento, o primeiro passo
ao lidar com uma pessoa que abusa de bebidas é a aceitação de que existe um
comportamento que precisa ser alterado. Em algumas coorporações militares há o
encorajamento do “sistema de camarada”, no qual os homens andam em pares como
uma forma de controlar a abuso do álcool, e para que as relações sexuais sejam feitas
com o uso do preservativo.

4.3. Qual é o problema com o uso de drogas


injetáveis?
Injetar HIV nas veias
Aqueles que compartilham equipamentos para injetar substâncias psicoativas – agulha,
seringa, pote para misturar a substância - correm alto risco de se infectar com o HIV e
outros microrganismos, como os vírus das hepatites. Isso acontece porque, junto com a
substância ou droga, mistura-se o sangue de todas as outras pessoas que usaram o
mesmo equipamento e, nele, pode haver também o HIV. Nos países onde há elevado
consumo de substâncias psicoativas na forma injetada, geralmente entre os jovens, pode-
se esperar que, à semelhança da população geral, também os jovens recrutados às Forças
Armadas usem substâncias injetáveis. Esse fato é especialmente verdadeiro nas situações
em que o serviço militar é obrigatório.

A ilegalidade do uso oculta o problema


Nas Forças Armadas, onde o consumo de drogas é geralmente ilegal, responder ao
desafio do uso injetável de substâncias psicoativas é mais complicado, na medida em que
as pessoas descobertas tendo essa forma de uso são suscetíveis a serem forçadas a
abandonar a instituição militar.

22
Abuso de substâncias psicoativas – as drogas

4.4. O que pode ser feito em relação aos usuários de


drogas injetáveis?
A identificação da dimensão do problema
Considerando que o consumo de drogas injetáveis é geralmente ilegal e encoberto,
especialmente nas instituições militares, obter dados sobre o grau do problema e os
padrões de comportamento de quem as utiliza pode ser um desafio. O envolvimento de
organizações civis, com experiência no assunto, pode conduzir a um trabalho com os
usuários de drogas injetáveis (UDI) e ajudar a desvendar a realidade.

A redução de danos pelo uso de drogas psicoativas


Acabar com o consumo de drogas injetáveis revela-se um objetivo demasiadamente
ambicioso. De forma mais imediata e pragmática, a redução das infecções de transmissão
sangüínea – HIV e hepatites – pode ser um passo mais realista. Desde a década de 90,
no Brasil, é realizado trabalho de prevenção com utilização da estratégia de redução de
danos que implica a orientação para o não compartilhamento de agulhas e seringas, bem
como não misturar em um pote comum a substância a ser injetada. Além disso, em
muitos estados brasileiros, são disponibilizados equipamentos novos para evitar a
transmissão, que compõem o “kit de redução de danos”, composto por preservativos,
agulhas, seringas, copo para diluição da droga, lenço para assepsia, garrote (em alguns
casos) e material educativo para que as pessoas, caso queiram, busquem serviços de
saúde de referência, inclusive para tratamento. A orientação baseada na redução de
danos é fundamental para a contenção da epidemia e deve ser sempre difundida. Ela se
aplica também às substâncias de uso lícito como o álcool, o cigarro e os medicamentos
usados de forma indevida.

A redução da demanda
Provou-se que a disponibilidade de serviços médicos, educacionais e sociais às pessoas
comprometidas pelo uso prejudicial de substâncias psicoativas, bem como a promoção
de estilos de vida saudáveis, onde as drogas têm um papel limitado, reduz o uso injetável
de substâncias psicoativas.

Juntar-se a organizações civis


As Forças Armadas podem estabelecer programas anônimos de tratamento de pessoas
afetadas pelo uso de drogas ou, ainda, podem apoiar-se em organizações civis para o
estabelecimento de programas de tratamento próximos das bases. A organização militar
pode também encorajar os UDI a procurar, voluntariamente, o tratamento nos programas
civis. As organizações civis de auto-ajuda, muitas vezes geridas por antigos usuários de
substânciais psicoativas, podem prover o apoio de pessoas infectadas pelo uso de drogas
aos militares que também as utilizem ou que vivam com o HIV/aids. As organizações da
sociedade civil que têm como foco os usuários de drogas ou pessoas que vivem com o
HIV/aids também podem ser parceiras tanto no apoio social a esses usuários, como
também na divulgação de estratégias de uso mais seguro de drogas.

23
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

5. Estabelecendo um programa
para DST/HIV/aids
5.1. Quem elabora o programa?
Uma liderança experiente é necessária
Geralmente, ao pessoal médico é atribuída a tarefa de montar um programa ou serviço
específico de controle das DTS/HIV/aids. No entanto, não necessariamente, ao corpo
médico cabe a função de gerenciar tal programa. De fato, também podem ser bons
gestores de programas aquelas pessoas que já possuem boas habilidades em advocacia,
em gestão e na identificação e contratação de especialistas, mesmo que não sejam da
área médica. Em alguns casos, essa responsabilidade cabe ao nível mais elevado de
comando. Essa é uma tentativa de assegurar que o programa estenda-se, efetivamente
a outras estruturas, além do corpo médico. É também uma indicação da relevância e
prioridade dadas ao programa e ao desenvolvimento de uma resposta no campo de DST/
HIV/aids.

Envolver desde o início as pessoas vivendo com HIV/aids


As pessoas vivendo com HIV/aids têm uma expectativa específica, em todos os níveis,
em relação a programas de controle das DST/HIV/aids. Elas têm idéias próprias sobre
vulnerabilidade, comportamentos de risco e o que motiva a mudança de comportamento.
Elas podem também atuar como persuasivos “advogados” junto a seus pares e com os
escalões de comando. O testemunho de pessoas afetadas pela epidemia agrega uma
dimensão humana e emocional que, muitas vezes, ajuda os outros a desenvolver uma
compreensão mais profunda das questões, criando um apoio adicional ao programa. Por
sua vez, os grupos comunitários, as ONGs, os familiares do pessoal das Forças Armadas
diretamente afetados pela epidemia, assim como o próprio pessoal infectado, podem
estar disponíveis para ajudar.

5.2. Que apoio é preciso?


Uma vez indicado o gerente do programa, é necessário definir o pessoal de apoio
profissional e de secretaria, o espaço do escritório, os meios de comunicação, como
telefone, fax e e-mail, bem como os recursos financeiros que concretizem o planejamento
e a realização das atividades. As Forças Armadas que não levarem a sério o desafio do
controle do HIV/aids e alocaram apenas uma pessoa no seu programa limitam
severamente o seu potencial impacto. Em outras situações, o gerente do programa tem
limitado progresso, por concentrar excessiva responsabilidade individual e não delegar
tarefas ao outros membros de sua equipe.

24
Estabelecendo um programa para DST/HIV/aids

Critérios para a seleção de educadores de pares

Língua

Os educadores de pares devem ser fluentes na língua específica da missão (tanto


falada como escrita).

Gênero

Na seleção dos participantes o equilíbrio de gênero é importante, ou seja, que estejam


contemplados um número equilibrado de homens e mulheres.

Profissão

As pessoas com formação médica têm uma vantagem acrescida na seleção de


educadores de pares, porém esse perfil não é obrigatório. A mudança de opinião e a
adesão de lideranças, via treinamento e advocacia, pode resultar em grande impacto
positivo.

Representação de vários níveis

Considerando que o treinamento envolve a educação de pares e múltiplas interações,


a seleção de pessoal deve contemplar a representação de todas os níveis hierárquicos,
particularmente, considerando os rígidos organogramas encontrados em instituições
militares. Quanto maior for a representação de oficiais de patentes superiores, melhor.
Os oficiais superiores influenciam as decisões políticas maiores, o que significa que a
mudança em suas atitudes confere sustentabilidade à educação de pares.

Consciência do próprio comportamento e prontos para


mudar

Aqueles que fazem as nomeações são encorajados a selecionar apenas aqueles


participantes desejosos em alterar o seu próprio comportamento.

Voluntários

Aqueles que se voluntarizam para o treinamento não só o fazem bem, mas, geralmente,
tornam-se figuras-chave na promoção do programa.

Representação

Quanto mais variada for a representação - de países, de instituições, de culturas, de


religiões, de profissões, de forças de defesa – na composição do curso, maior serão as
interações, possibilitando o enriquecimento de lições, pelo compartilhamento das
diversas experiências.

25
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Em missões de manutenção de paz

Deverá haver um equilíbrio na seleção dos participantes de cursos, procurando contar


com representantes de contingentes, de observadores militares, de oficiais e de pessoal
civil, tanto internacional, quanto das forças locais de defesa da nação que acolhe o
treinamento. As comunidades vizinhas devem também ser consideradas para participar
do treinamento.

Números

O número de potenciais educadores de pares para o treinamento de formadores


depende muito do tamanho do contingente-alvo. Contudo, os critérios acima listados,
como representação, gênero e profissão, devem ser levados em consideração.

Motivação e compensação para os educadores de pares

Um dos principais desafios que deve ser enfrentado nas intervenções via educação de
pares é o de manter o interesse de seus participantes. A tendência é haver a motivação
após o treinamento, porém, gradualmente, ela ir se perdendo ao longo do tempo. Isso
é especialmente verdadeiro se não houver algum incentivo ou a falta de apoio, tal como
supervisões do processo e reciclagens de conteúdo. Algumas sugestões para a
motivação e compensação dos educadores:

z Permissão que os educadores de pares realizem as sessões educativas durante


e como parte do seu trabalho diário;

z Disponibilização de materiais educativos de apoio e, com tal qualidade, que


encoraje a participação das pessoas. Os educadores deverão ser treinados no
uso desse material, o que tornará mais fácil o desenvolvimento de seus trabalhos.

z Oferecimento de crachás ou certificados de mérito aos educadores de pares que


completem um período de atuação, tal como um ano;

z Reconhecimento oficial de oficiais superiores à contribuição dos educadores de


pares que, individualmente, forem particularmente dedicados;

z Valorização do trabalho voluntário do educador de pares, por parte da instituição


militar, aumentando as chances de promoção na carreira. Certificar-se, no entanto,
que aqueles que aprovam as promoções concordem que a atuação como
educador de par seja um critério para promoções. Ter clareza, também, de quem
são os educadores de pares;

z Distribuição de mochilas, bonés, camisetas, braçadeiras, crachás ou algo que


identifique os educadores de pares, aumentando potencialmente o seu status e
o orgulho na execução do trabalho;

z Conceder incentivos, tais como ajudas de custo nos períodos de capacitação


ou, quando apropriado, subsídios de viagem.

26
Estabelecendo um programa para DST/HIV/aids

5.3. Onde se encontram os recursos necessários?


Advocacia ligada ao financiamento
Quando, dentro das Forças Armadas, as pessoas que decidem perceberem o desafio
colocado pelo HIV/aids, e que o preço a ser pago será muito mais alto se a questão for
ignorada, haverá uma maior inclinação para o apoio ao programa. Boas ações de advocacia
podem assegurar que recursos adequados sejam disponibilizados para o suporte do
programa. Os recursos financeiros podem ser alocados nos orçamentos dos serviços
médicos ou remanejados de outras áreas consideradas menos prioritárias.

Fundos civis disponíveis


As Forças Armadas são, tradicionalmente, relutantes em procurar fundos em orçamentos
de fontes civis, mas a gravidade da epidemia pode alterar esse quadro. Em países onde
o Programa Nacional de Controle das DST/Aids tem respostas efetivas, os Ministérios
da Defesa Nacional e do Interior geralmente fazem parte do Programa, e os recursos
advindos dos doadores internacionais são alocados em ações desenvolvidas em instituições
militares. O Coordenador do UNAIDS no País pode servir como intermediário entre o
Programa de DST/Aids das Forças Armadas e os doadores das Nações Unidas. O
Coordenador do UNAIDS no país está também em contato com o Escritório do UNAIDS
para Aids, Segurança e Resposta Humanitária, que tem a responsabilidade de apoiar as
Forças Armadas e pode viabilizar algum financiamento inicial bem como intermediar
contatos com os outros doadores. No Brasil, desde a década de 1990, o Programa Nacional
de DST/aids do Ministério da Saúde e as Forças Armadas atuam conjuntamente no
estabelecimento de estratégias de promoção à saúde e atenção às DST/HIV/aids.
Também existe o apoio do escritório do UNAIDS no país.

Pegando carona nos projetos existentes


Na maioria dos países em desenvolvimento, uma gama de projetos e programas de controle
das DST/aids foi estabelecida. As organizações internacionais e os doadores bilaterais
vêm apoiando as ONGs, as instituições acadêmicas, os organismos de governo e, mesmo,
o setor privado. Nesse contexto é possível estabelecer colaborações com os projetos e
programas já existentes e deles se beneficiar, como na participação de capacitações, nos
materiais de CMC e na negociação e na instalação de serviços próximos das instalações
militares. Um bom exemplo dessa colaboração é o aproveitamento das ações de marketing
social do preservativo, já financiadas por doadores em projetos de organizações da
sociedade civil.

Assistência de militar para militar


Existe uma longa tradição das Forças Armadas de países desenvolvidos em oferecer
assistência às organizações militares de países em desenvolvimento. A assistência em
programas de HIV/aids é uma possibilidade comumente utilizada como forma de apoio
técnico.

27
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

5.4. Como são desenvolvidas as parcerias?


Adesão aos comitês nacionais
Ao tornar-se um membro ativo de comitês técnicos do Programa Nacional de DST/aids,
os representantes das Forças Armadas têm acesso a informações sobre programas,
projetos e doadores existentes. Outra possibilidade são as visitas às Forças Armadas de
outros países que estabeleceram programas de HIV/aids eficazes. Esse intercâmbio
permite que se aprimorem as formas de captação de insumos, de composição de alianças,
de acesso a financiamento e a obtenção de assistência técnica de doadores internacionais.

5.5. Por que procurar apoio de quem decide?


A aprovação dos altos escalões é necessária
A sensibilização dos tomadores de decisão quanto ao impacto atual e potencial do HIV/
aids é crucial para convencê-los a apoiar o programa. A liderança sênior em qualquer
organização tem o poder de alocar recursos, estabelecer prioridades e de tomar qualquer
iniciativa. A advocacia é um termo usado para descrever o processo de procurar ativamente
o apoio daqueles que estão em posição de poder em relação ao programa das DTS/
HIV/aids.

5.6. Como é organizada a advocacia?


A estratégia necessária
O primeiro passo em uma ação de advocacia é preparar um bom material de apoio,
como dados epidemiológicos das epidemias e uma breve análise sobre a vulnerabilidade
do pessoal à novas infecções. Pode-se também analisar a eficiência de custos do
desenvolvimento de um programa e de uma capacitação, frente às potenciais horas de
trabalho perdidas, à produtividade reduzida e aos custos com cuidados médicos e outros
serviços de apoio. A advocacia também pode ser feita privadamente em encontros
individuais com os principais tomadores de decisão. Podem ser preparados grandes
eventos com os escalões de comando, nos quais especialistas em HIV/aids são também
convidados para expor os desafios a serem enfrentados. Em ambos os casos, as pessoas
vivendo com HIV/aids podem constituir-se na personificação daqueles desafios, liderando
uma chamada às armas na batalha contra as infecções de transmissão sexual, sobretudo
o HIV.

Dicas para boas ações de advocacia


z Compilar dados sobre saúde. É importante munir-se com informações que
demonstrem o perfil do HIV e da aids nas Forças Armadas. Dados como o número
de casos de DST, tratamento de infecções oportunistas, tuberculose, mortes
reportadas devido à aids ou outra informação coletada pelos serviços de saúde
podem ser apresentadas aos comandantes em um documento-síntese. Bons
recursos incluem um relatório entitulado “Combat AIDS: HIV and the World’s
Armed Forces” (Combate à Aids: O HIV e as Forças Armadas mundiais) publicado
pela PANOS e a Healthlink Worldwide, disponível em http://www.healthlink.org.uk
e o relatório da International Crisis Group “HIV/AIDS as a Security Issue” (O
HIV/aids como uma questão de segurança), disponível em http://www.imtl-crisis-
group.org. Outros materiais importantes são os relatórios das pesquisas com

28
Estabelecendo um programa para DST/HIV/aids

conscritos do Exército Brasileiro realizadas entre 1996 e 2002 pelo PN-DST/


AIDS, disponíveis no site www.aids.gov.br.
z Preparar estudos sobre vulnerablidadeàs DST/aids, tais como os padrões de busca
de insumos de prevenção, como uso do preservativo; ida a serviços de
aconselhamento ou a clínicas de DST. Os relatórios citados no item anterior
fornecem dados e análises importantes sobre esse ponto. Também podem ser
selecionados dados sobre a epidemia em homens, em estudos já existentes, como
as pesquisas nacionais sobre comportamento sexual.
z Desenvolver uma estratégia de advocacia a curto e médio prazos, buscando um
amplo apoio entre lideranças, o que necessita uma lista de pessoas para contatos;
documentos de apoio necessários; encontros a serem realizados no decorrer do
tempo.
z Preparar um documento de apoio às ações de advocacia, ressaltando a urgência
de respostas, os prejuizos com não tomar medidas, as projeções sobre o
enfraquecimento das Forças Armadas, o custo de retreinar pessoal, o custo-eficácia
de medidas de prevenção, a pressão sobre os serviços médicos, questões de seguros
e de benefícios às viúvas, etc.
z Procurar apoio no alto comando. Mostrar os dados e os estudos de comportamento
ao alto comando, incluindo o Ministério da Defesa, pedindo apoio à execução de
ações urgentes e a um programa eficaz.
z Envolver a chefia dos serviços médicos, por meio do pessoal médico sênior, para
que haja uma ênfase junto ao alto comando sobre a necessidade urgente de uma
ação eficaz. Empenhar-se para que a chefia dos serviços médicos envie um
documento a todos os serviços médicos, exortando-os a apoiar o programa de
HIV/aids.
z Apresentar os parceiros civis ao alto comando. Empenhar-se no sentido de que
uma liderança civil na área de HIV/aids tenha um canal de comunicação direto
com o alto comando, reforçando a importância do desenvolvimento de um programa
eficaz. Obter uma carta do chefe do gabinete do comando endossando a
necessidade do estabelecimento de um programa eficaz de controle de HIV/aids
por razões de segurança nacional.
z Convidar os parceiros de cooperação técnica bilateral para se reunir com o alto
comando. Os representantes das organizações internacionais de cooperação
bilateral, interessados no apoio ao programa de HIV/aids, podem encontrar-se
com o comando das Forças Armadas para discutir os desafios do controle do
HIV/aids nas Forças Armadas, bem como das opções para uma resposta efetiva.
z Obter a aprovação do alto comando e seu empenho para o desenvolvimento do
programa de controle do HIV/aids, incluindo, se possível, a proposta metodológica
da educação de pares, durante as horas de trabalho, e a modificação de
procedimentos e regulamentos discriminatórios.
z Comunicar o apoio do alto comando e providenciar para que haja o envio de
ordens a todos os comandantes no sentido de suporte ao programa de HIV/aids.

29
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Empenhar-se para que os comandantes enviem cartas pessoais aos comandantes


regionais, que os incentivem a demonstrar liderança na proteção e integridade de
seu pessoal e a fortalecer o seu comando por meio do apoio ativo ao programa de
HIV/aids. Anunciar publicamente o apoio ao programa de HIV/aids .
z Explanar as opções do programa de HIV/aids, indicando as diferentes alternativas
de ação contidas no programa, bem como os seus custos, as vantagens e
desvantagens de não implantá-lo. Salientar, ainda, o caráter de investimento das
Forças Armadas na alocação de recursos para o controle da epidemia.
z Falar sobre questões relativas ao HIV/aids nas reuniões regulares do comando,
fazendo um apelo às Forças Armadas no sentido de respostas à ameaça do HIV/
aids, aproveitando-se dos encontros regulares dos oficiais do alto comando.
z Identificar os comandantes que forem relutantes, indiferentes ou que se oponham
ao programa, oportunizando reuniões individuais com os comandantes que
apresentem algum tipo de resistência ao programa do HIV/aids. Empenhar-se
para que comandantes do alto comando contate-os e dêem o seu apoio.
z Envolver os coordenadores regionais de programas de controle de HIV/aids,
identificando aqueles com habilidade para ações de advocacia. Disponibilizar
materiais e documentos de apoio à advocacia e instigá-los a realizar encontros
regulares com os comandantes regionais e seu pessoal para explicar o programa
de HIV/aids e obter o seu endosso. Encorajar os coordenadores a estabelecer
encontros com os comandantes regionais e com os oficiais regionais civis do
HIV/aids para discutir o desafio específico do HIV/aids na região.
z Envolver oficiais das Forças Armadas que estejam vivendo com o HIV/aids.
Personificar a questão trazendo oficiais que possam se reunir pessoalmente com
o alto comando ou, mesmo, intervir em encontros de comandantes ou de outros
altos oficiais, contando as suas histórias e defendendo um programa eficaz de
HIV/aids.

5.7. Porque envolver as lideranças regionais?


Necessidade de amplo apoio
Nem todos os altos oficiais podem ser convencidos da importância da participação de
seu pessoal em atividades relativas ao HIV/aids. Por exemplo, uma parte dos oficiais
lotada na capital do país está sensibilizada sobre a urgência do estabelecimento do
programa de controle de HIV/aids. No entanto, se os comandantes das regionais militares
não forem convencidos dessa importância, poderá haver uma séria limitação na execução
de atividades fora do âmbito da capital. Nesse cenário, por exemplo, poderá não haver a
permissão para que o pessoal possa participar de treinamentos ou, ainda, não haver o
consentimento para que caminhões sejam usados no transporte de preservativos.

30
Estabelecendo um programa para DST/HIV/aids

Estudo de caso: Um bom exemplo de advocacia no


Sudeste da Ásia

Percepção do comando sobre a vulnerabilidade dos


militares para o HIV/aids

Há alguns anos o Ministério da Defesa nacional e uma organização não governamental


americana constituiram uma parceira para desenvolver um programa de educação de
pares em HIV/aids em um país do sudeste asiático. O Ministério estava crescentemente
alarmado pelos níveis de infecção entre o seu pessoal. De fato, os dados sobre a
prevalência da infecção constituiram-se em um instrumento potente de advocacia para
a causa. A liderança do alto comando militar assustou-se com a potencial ameaça de
enfraquecimento que o HIV/aids poderia representar na segurança do país. Para muitos
dos comandantes de estados e de regiões, não foi apenas a elevada prevalência - mais
de 5% - que criou o sentido da urgência da ação. Muitos dos comandantes conheciam
colegas de farda que já haviam morrido de aids.

Na fase inicial do programa, pouca atenção foi dada à obtenção de apoio dos
comandantes nos estados e regiões. Na segunda fase, empreendeu-se maior atenção
às ações de advocacia e, então, centenas de encontros de “sensibilização” foram
realizados com os comandantes. Isto provou ser de grande eficácia e surgiram novas
lideranças no programa. Elas foram determinates no processo, uma vez que os
comandantes nos estados e regiões detêm poder de fomentar o programa.

Um outro fator que contribuiu para o sucesso dos esforços de advocacia foi a forte
ocupação do comando com questões relacionadas ao bem-estar dos homens sob suas
ordens. Esta solidariedade pode ser considerada como parte da ética militar, uma vez
que todas as fileiras dependem umas das outras nessa batalha de vida e morte. Os
comandantes freqüentemente referiam-se aos seus homens como “família” e
demonstravam muita empatia pelos homens e suas famílias afetados pela epidemia.

Um general que se dedicou a ações de advocacia relatou que usou o poder de sua
patente para obter a atenção dos comandantes sob seu comando. Ele e sua equipe
dirigiram-se diretamente a comandantes sabidamente resistentes ao programa e
explanaram sobre os benefícios do mesmo. Os comandantes foram sensibilizados sobre
o HIV/aids, que suas questões constituíam um verdadeiro problema e que uma de suas
funções era a de proteger os soldados.

A relutância foi rapidamente ultrapassada

Considerando que, na maioria dos países, a educação de pares é um novo conceito


para comandantes militares, é compreensível que haja algumas reservas em relação a
essa metodologia. Os representantes das equipes médicas em campo desempenharam
um papel chave na identificação dos comandantes com dúvidas sobre a educação de
pares, ou que não estavam convencidos de que o HIV/aids seria uma prioridade. Como
os serviços de HIV/aids estavam localizados nas unidades médicas, os médicos
puderam reportar as dificuldades com os comandantes que não colaboravam. Aqueles

31
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

comandantes com dúvidas receberam visitas dos serviços de HIV/aids do Ministério da


Defesa, bem como ordens dos oficiais superiores no sentido de apoiar o programa de
educação de pares.

Como parte do processo de envolvimento dos comandantes nos estados e regiões, os


serviços de HIV/aids do Ministério da Defesa e a equipe da ONG reuniram-se com os
seus comandantes e desenvolveram planos para a educação de pares. Este processo
aumentou o empenho de todos, uma vez que os planos foram elaborados de forma
participativa. Um outro fato motivador para os comandantes regionais foi uma visita de
estudo a um país vizinho, onde o impacto da epidemia era mais pronunciado e a
resposta mais diversificada do que no seu próprio país. Os comandantes observaram o
princípio do processo de treinamento participativo, o que os ajudou a assimilar melhor
o conceito de educação de pares.

Um dos participantes da visita de estudo admitiu suas dúvidas em relação ao enfoque


participativo, mas, uma vez que ele próprio viu o potencial impacto da epidemia, passou
a confiar e a apoiar todas as atividades do programa, inclusive, financeiramente.

A obtenção de apoio junto ao comando

Um dos mais evidentes sucessos do programa foi a obtenção de grande apoio e


compromisso do alto comando nacional, bem como dos comandantes nos estados e
regiões. Quase todos os oficiais ficaram altamente motivados e sensibilizados em relação
ao programa e, então, houve um impressionante empenho em sua execução. Os
comandantes tinham, inclusive, arranjado tempo para participar das reuniões de
coordenação, bem como permitir que os formadores despendessem até metade de
seus tempos em atividades do programa. Os comandantes fizeram doações em espécie,
liberaram fundos discricionários e organizaram os meios de transporte necessários.
Tudo isso em apoio às ações de educação de pares.

32
Direitos legais, éticos e humanos

6. Direitos legais, éticos e


humanos
6.1. O que pode acontecer às pessoas vivendo com o
HIV/aids?
As pessoas vivendo com o HIV/aids precisam de proteção
Ao contrário da maioria das outras condições de saúde, estar afetado pelo HIV/aids
pode muitas vezes significar a perda do emprego, sofrer preconceito e o desprezo dos
colegas, ser estigmatizado publicamente e mesmo ser rejeitado pela família e amigos.
Conseqüentemente, deve-se estar atento para assegurar que os direitos humanos das
pessoas afetadas pelo HIV/aids sejam assegurados e que os arcabouços legais e éticos
sejam acionados para protegê-las.

6.2. Por que proteger os direitos humanos?


Proteger as pessoas vivendo com HIV/aids
As Forças Armadas têm a responsabilidade de proteger o seu pessoal, o que inclui
assegurar que os procedimentos, regulamentos, normas e leis sejam adequados e
cumpridos, evitando que pessoas vivendo com HIV/aids sofram discriminação e que
possam viver com dignidade e respeito. Como regra, as Forças Armadas são, relativamente,
lentas em criar novas políticas de proteção às pessoas vivendo com HIV/aids e de rever
aquelas que são discriminatórias.

6.3. Como a discriminação oficial pode ser reduzida e


as políticas discriminatórias alteradas?
Avaliar as linhas políticas
O primeiro passo na melhoria das políticas setoriais é a revisão da situação dos direitos
humanos e a identificação das questões políticas chave com implicações negativas para
as pessoas vivendo com HIV/aids. O passo seguinte é desenvolver estratégias para que
as políticas possam ser revistas. Por exemplo, em alguns países asiáticos, as viúvas não
recebem as pensões quando os seus maridos morrem de uma doença relacionada à aids.
Por ser esta uma causa de morte relativamente nova, ainda não consta na lista oficial de
causas de morte, o que não permite que a viúva beneficie-se de seus direitos. Nessa
condição, os serviços de saúde apontam, muitas vezes, a malária como a causa de morte,
deturpando as estatísticas de mortalidade, tanto da aids como da malária.

Dar oportunidade às pessoas interessadas


As pessoas vivendo com HIV/aids estão em melhor posição para saber que políticas são
mais justas e que mudanças deveriam ser feitas. Algumas forças militares incluíram
pessoas vivendo com HIV/aids em seus comitês assessores e de planejamento, bem
como em outras estruturas de planejamento. Outra maneira de consulta é o encontro
regular de pessoas vivendo com HIV/aids com grupos de apoio formados por pessoas
das Forças Armadas.

33
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Procurar assessoria externa


As Forças Armadas podem não ter experiência no desenvolvimento de políticas de
proteção aos direitos humanos. Em muitos países, há ONGs ou advogados com experiência
neste domínio que podem ser consultados.

Anunciar as mudanças políticas


Uma vez que as políticas passem a ser oficiais, é importante anunciar a sua existência.
Isto pode ser feito por meio de mensagens que utilizem a estrutura de comando, a colocação
de anúncios e a realização de encontros com grupos de pessoas vivendo com HIV/aids,
alertando sobre os seus novos direitos.

34
Criando e mudando políticas

7. Criando e mudando políticas


7.1. Que tipo de políticas precisam ser apoiadas?

Aconselhamento e testagem confidencial


O sigilo para o teste de HIV é importante. As pessoas acorrerão mais prontamente ao
serviço de testagem se estiverem seguras quanto à discrição e ao sigilo. A ausência
dessas condições pode comprometer o uso desses serviços, comprometendo também a
qualidade de vida das pessoas infectadas e até mesmo encurtando suas vidas.

O direito do assintomático ao trabalho


Considerando-se que o risco de infecção pelo contato ocasional, não sexual, está próximo
de zero e em conformidade com o que ocorre no Brasil, o UNAIDS prega que às pessoas
vivendo com HIV/aids e incorporadas às Forças Armadas devam ser dadas todas as
oportunidades para a execução das tarefas para as quais elas foram treinadas e que
ainda são capazes de desempenhar. Além disso, respeitados os limites físicos, essa pessoas
podem permanecer no Serviço Ativo.
Se as pessoas soropositivas tiverem medo de sofrer discriminação na progressão da
carreira, elas rejeitarão o teste.

Assegurar a proteção dos benefícios


É importante que as Forças Armadas assegurem a continuidade dos cuidados para as
pessoas vivendo com HIV/aids, bem como para suas famílias. Isto inclui, além da
assistência integral à saúde, as assistências social, jurídica e religiosa.
O apoio deve ser estendido a cônjuges/companheiros(as), a viúvos(as) e órfãos,
principalmente em locais onde os serviços de assistência social forem insuficientes.

Apoiar as famílias
A separação da família e do ambiente social de origem aumenta a possibilidade de
envolvimento de militares com parcerias sexuais ocasionais. Um núcleo familiar
desestabilizado contribui para a prática do sexo não seguro e, conseqüentemente para o
aumento das taxas de infecção pelo HIV. As Forças Armadas devem estabelecer políticas
visando preservar a união familiar entre as quais: aumentar a disponibilidade habitacional
e observar períodos regulamentares de licenças que permitam a visita à família, para o
pessoal em serviço em regiões onde a família não pode acompanhá-lo.

A solidariedade no interior das Forças Armadas


Já nos primeiros treinamentos, os recrutas são ensinados a ser bravos e a correr riscos.
O enfrentamento de riscos é fundamental em um combate, mas é errado quando aplicado
ao campo das relações sexuais. A tradicional solidariedade entre camaradas militares,
tem o potencial de ser aplicada no encorajamento para que os homens e mulheres se
cuidem e protejam, uns aos outros, do uso abusivo do álcool e do sexo não protegido.

35
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

As atitudes para com as populações civis


Os militares em patrulha, cada vez mais, confrontam-se com situações complexas que
exigem crescente contato com civis, o que demanda decisões que exigem atitudes
perspicazes e ponderadas. A habilidade de calcular riscos e de julgar tais decisões tem
demonstrado a crescente necessidade da iniciativa individual. Essa nova ética de assumir
responsabilidade pessoal pode também ser aplicada à prevenção do HIV.

7.2. Por que a discriminação deve ser abordada?


Definição de discriminação
A discriminação cria um ambiente hostil e de medo envolvendo a tudo que se relacione
ao HIV ou à aids. A discriminação tem como resultado a condenação, de forma sutil
ou não, das pessoas vivendo com HIV/aids. O medo e o preconceito podem criar
sentimentos negativos como de rejeição, hostilidade, culpa ou vergonha em relação às
pessoas afetadas pela epidemia.

A discriminação prejudica a implantação de um programa


A discriminação e o estigma relacionados ao HIV/aids aumentam a possibilidade de que
as pessoas se recusem a admitir que possam estar infectadas, ou mesmo doentes.
O medo de sofrer discriminação desencoraja as pessoas a querer saber se são ou não
soropositivas para o HIV. A discriminação também dificulta, ou mesmo impede, que as
pessoas vivendo com HIV/aids possam obter apoio de outras pessoas, em um momento
da vida em que elas mais precisam.
Provedores da assistência à saúde podem afastar as pessoas afetadas pelo HIV/aids de
suas dependências se elas sentirem-se julgadas.
Estes fatos contribuem para que a pessoa vivendo com HIV/aids tenha sua vida encurtada
por falta de cuidados ou de acesso aos serviços de saúde.

A discriminação deturpa a realidade


A pessoa vivendo com HIV/aids, se for rejeitada, se sente só e isolada e teme ser alijada
de seu emprego, casa ou comunidade. Famílias podem expulsar um membro infectado
se julgarem, erroneamente, que possam se infectar no convívio doméstico. A
discriminação pode também criar medos exagerados da infecção, tanto a partir de contatos
ocasionais, como na partilha de utensílios para comer, quanto em aproximar-se de pessoas
vivendo com HIV/aids.O isolamento social em larga escala pode resultar em aumento
do nível de empobrecimento do país.

36
Criando e mudando políticas

7.3 Como a discriminação pode ser reduzida?


Compreender a discriminação
O primeiro passo na criação de um ambiente livre de estigma e de discriminação é a
educação e a conseqüente identificação de preconceitos e seus impactos. Nesse contexto,
a comunicação para a mudança de comportamento (CMC) pode ter um importante
papel, tanto na redução do medo não justificado, quanto na promoção dos direitos humanos
e do respeito às pessoas vivendo com HIV/aids.

Mudança de políticas em relação à discriminação


Novos códigos de conduta estão em processo pautando o respeito aos direitos humanos
de todas as pessoas, quer populações vulneráveis, como as vítimas da pobreza, refugiados,
presidiários e profissionais do sexo, quer pessoas já vivendo com HIV/aids, proporcionando
segurança e compreensão para com suas questões e evitando atitudes preconceituosas.
As políticas de combate à discriminação precisam, no entanto, além de serem implantadas,
cumpridas.

37
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

8. Colaboração com a sociedade civil


8.1. Por que estabelecer colaboração com a sociedade
civil?
As Forças Armadas tornam-se mais fortes se não trabalham sozinhas
A estreita colaboração com serviços de saúde das organizações civis, bem como com
outras autoridades pode aumentar a eficácia dos programas militares de prevenção e
controle do HIV/aids. Não há soluções simples nem próximas para a epidemia do HIV/
aids e, nesse sentido, as Forças Armadas e a sociedade civil podem e devem beneficiar-
se da partilha das abordagens mais adequadas e das inovações desenvolvidas.

A desmobilização exige colaboração


Quando um grande número de militares é desmobilizado de uma missão, faz-se necessária
uma boa interação com a sociedade civil no sentido de reduzir o potencial impacto do
aumento da infecção do HIV na comunidade.

8.2. Como a colaboração pode ser organizada?

A inserção das Forças Armadas como membro-pleno do programa nacional de controle


das DST/aids é essencial para o controle da epidemia no país. Nesse contexto, os
funcionários do sistema de saúde civil podem também participar diretamente das ações
de treinamento, de prevenção e de prestação de cuidados aos militares, bem como equipes
militares podem auxiliar as autoridades civis em treinamentos, programas de prevenção e
na assistência de saúde, principalmente em regiões onde os Serviços de Saúde militares
são únicos ou preponderantes.

38
Identificando o problema

9. Identificando o problema
9.1. Por que proceder a uma análise nos dados
básicos?
Percepções necessárias à eficácia do programa
É importante conhecer os padrões comportamentais de risco usuais dos grupos-alvo e o
que influencia aqueles comportamentos para um planejamento eficaz. Alguns exemplos
de percepções que devem ser considerados:

z Padrões da atividade sexual (com profissionais do sexo, parcerias ocasionais,


esposas, mistos, etc);
z Freqüência com que o comportamento de risco é praticado;
z Aceitação de comportamento seguro (uso consistente do preservativo e não
compartilhamento de equipamento no uso de drogas injetáveis);
z Identificação dos comportamentos mais prováveis de mudança;
z Foco na mudança de comportamentos de mais amplo impacto;
z Identificação de obstáculos para a mudança (concepções erradas sobre o
preservativo);
z Definição do objetivo da comunicação (aumento da utilização dos serviços militares
de DST);

9.2. Que circunstâncias são específicas para as Forças


Armadas?
Pessoal em risco
Em alguns países encontra-se a mesma taxa de infecção pelo HIV no pessoal das Forças
Armadas e na população em geral, como no Brasil. Em outros, a taxa de infecção é mais
elevada, podendo chegar ao dobro. Em todos os países, no entanto, existe um número de
fatores que tornam as forças militares mais vulneráveis à infecção. Os fatores incluem:

z O encorajamento ao enfrentamento do risco como parte do próprio trabalho;


z O pessoal, muitas vezes, é colocado longe das suas parcerias sexuais regulares;
z O trabalho, muitas vezes, exige longos períodos de isolamento e aborrecimento;
z O pessoal, normalmente, consome grande quantidade de bebidas alcoólicas e
mantém relações sexuais ocasionais;

Os jovens recrutas são como outros “jovens”


Na realidade, os jovens recrutas, que são o principal grupo alvo do programa, são iguais
aos outros jovens do país. O primeiro passo na identificação do problema é o de coletar
a informação já existente no país sobre o comportamento sexual dos jovens, com particular
destaque sobre os homens jovens.

39
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

10. A gestão de um programa


10.1. Que recursos são necessários?
Assegurar a disponibilidade de recursos adequados
Com o propósito de desenvolver um programa eficaz de controle das DST/aids deve haver
a alocação de recursos humanos e financeiros, por parte dos Ministérios, ou por fontes
externas. Isso significa aumentar o orçamento do setor saúde para iniciar ou ampliar o
programa, recrutando pessoas comprometidas para nele trabalhar e assegurando um espaço
que sirva de escritório, equipamentos e meios de comunicação, bem como o transporte
(vide também o capítulo 5, Estabelecimento de um programa de DST/HIV/aids).

10.2. Qual é o papel do monitoramento e da


avaliação?
Manter o registro do que está sendo feito
O monitoramento envolve a observação periódica do que foi realizado pelo programa.
Ele mede o que foi feito em relação ao que foi planejado e também observa o processo
de realização.

Manter o registo do que foi realizado


A avaliação determina se o programa atingiu os seus objetivos e metas. Em outras
palavras, ela mede o grau de mudança de comportamento e que fatores influenciaram
essa mudança.

Exemplo de planejamento de programa de controle de


DST/HIV/aids nas Forças Armadas por um período de um
ano

Ambiente favorável

Ações de advocacia ao nível regional

Promover a necessidade de uma rápida resposta às questões do HIV/aids para os


oficiais de alta e média patentes.

Ações de advocacia junto a líderes comunitários

Promover a importância da prevenção das DST/HIV junto a lideranças comunitárias,


incluindo as religiosas, as associações de esposas, as associações juvenis, os líderes
escolares, os líderes de empresários e outros.

Prevenção

Promoção do preservativo

Disponibilizar invólucros para portar preservativos para todo o pessoal (como os cartões
de orientação dos Ministério da Saúde/Defesa e do UNAIDS), bem como prover outros
,

40
A gestão de um programa

recursos a todos os educadores de pares, que apóiem a promoção do uso do


preservativo, como adesivos, panfletos e revistas em quadrinhos.

Associar-se ao projeto local de marketing social, se houver, visando a disponibilizar


amplamente a compra de preservativo nas proximidades ou nas próprias instalações
militares.

Comunicação para a mudança de comportamento (educação de pares)

Promover capacitações aos educadores de pares, focalizando, entre outros aspectos,


a avaliação de risco e a superação de obstáculos ao uso do preservativo. Disponibilizar
material educativo de apoio, como flip charts, panfletos e vídeos.

Melhorar os serviços de DST

Integrar a atenção às DST em todos os serviços básicos de saúde, incluindo a capacitação


para o diagnóstico e tratamento e a melhoria dos serviços de testagem e aconselhamento.
Procurar estabelecer serviços de ATV no local e, quando necessário, referenciar pessoas
a serviços públicos. Promover a melhoria dos serviços, por meio da educação de pares
e da disponibilizaçao de material educativo e de comunicação, tais como panfletos,
cartazes e quadros.

Cuidados e Apoio

Tratamento de pessoas vivendo com HIV/aids

Assegurar a capacitação de profissionais dos serviços nacionais de saúde para o


tratamento de doenças relacionadas à aids.

41
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

11. O planejamento estratégico


na comunicação para a
mudança de comportamento
11.1. Em que a CMC difere de outras estratégias?
Somente informação não funciona
O fornecimento de informação é necessário mas, por si só, não é suficiente para promover
a consciência sobre situações de risco ou da necessidade de mudanças de comportamento.
A CMC não trata apenas da divulgação de informação, está focada especificamente em
inspirar a mudança para a adoção de comportamentos seguros.

11.2. Como a CMC integra-se aos outros serviços?


Ligação aos serviços
Os planejadores da CMC deveriam trabalhar de forma cooperativa com as Forças
Armadas ou com planejadores de serviços de saúde pública, visando a assegurar que
haja disponibilidade prévia de clínicas de DST, de preservativos e de serviços de ATV,
entre outros.

11.3. Como a CMC funciona em um contexto de


Forças Armadas?
População-alvo homogênea
Há vantagens em se ter uma ampla população-alvo com características homogêneas,
ser relativamente fácil de acessar e ter algum grau de escolaridade. Lideranças das
Forças Armadas podem preocupar-se que o seu pessoal possa ser percebido pela
população como tendo mais riscos do que as demais pessoas. Nesse contexto, os esforços
no sentido da CMC devem ser discretos e focados mais internamente à corporação.
Como regra, é importante que a CMC reflita sempre a cultura própria das Forças Armadas.

11.4. O que tem de específico a CMC no contexto das


Forças Armadas?
Vantagens da CMC nas Forças Armadas
Na sociedade civil, a identificação e o ganho de atenção das populações-alvo é um dos
maiores desafios para a realização de ações de CMC. Vantajosamente, as Forças
Armadas são altamente estruturadas e seu pessoal altamente disciplinado, o que facilita
a implantação de estratégias de CMC.

As outras vantagens incluem:

z As Forças Armadas são uma comunidade fechada, o que reduz as oportunidades


de que a população ofenda-se com a discussão aberta e franca sobre a sexualidade;
z A população-alvo das Forças Armadas tem características homogêneas, facilitando
as ações CMC;

42
O planejamento estratégico na comunicação para
a mudança de comportamento

z Há, em geral, pouca reação a que se promova e distribua o preservativo;


z A população-alvo, em geral, é mais instruída do que a população em geral;
z As ações de CMC são, relativamente, mais fáceis de serem organizadas, porque
a população-alvo concentra-se em quartéis e nos locais de trabalho;
z Os materiais de CMC podem ser facilmente distribuídos por meio das redes de
comunicação já existentes.

Desafios para a CMC no contexto das Forças Armadas


A CMC constitui-se em uma abordagem inovadora em muitas Forças Armadas e, em
função disso, nem todos aqueles em posições de poder estão convencidos de sua utilidade.
Os processos participativos – baseados em estratégias provenientes da pesquisa sócio-
comportamental e na comunicação entre pares - ao invés de processos hierarquizados
são, geralmente, novos e sensíveis às Forças Armadas. Os materiais de CMC necessitam
da aprovação dos oficiais superiores que, não necessariamente, estarão familiarizados e
convencidos sobre os métodos e estratégias da CMC.

11.5. Como inspirar a mudança de comportamento?


A mudança de comportamento não é fácil
Inspirar a mudança de comportamento é, muitas vezes, um processo lento e que requer
persistência e método. Não é de um único estímulo que, geralmente, resulta a sensibilização
para a adoção de mudanças em direção a atitudes mais seguras. Em geral, somente a
convergência de um conjunto de diferentes influências tem o poder de atingir o indivíduo.
As situações podem ser tão variadas quanto: a) um panfleto distribuído em um treinamento
e, posteriormente, discutido entre pares; b) uma conversa íntima com a parceira sexual,
após ouvir uma mensagem educativa no rádio, ou; c) uma ordem de um oficial superior
para que os soldados sempre portem preservativos. Há, no entanto, uma série de motivos
comuns que fazem com que as pessoas mudem o seu comportamento.

Seguem-se algumas situações:

Resultados esperados
z Quando as pessoas com comportamento de risco dão-se conta dos benefícios da
proteção, elas sensibilizam-se a atitudes mais seguras. Por exemplo, se houver a
preocupação em estar infectado pelo HIV, aproveita-se a oportunidade para
encorajar a pessoa a submeter-se ao aconselhamento e à testagem voluntária,
bem como à discussão e à decisão sobre o não-engajamento em futuras situações
de risco, após o teste.
Intenção
z A pessoa decide que fazer a mudança vale a pena. Por exemplo, muitas pessoas
não se percebem, pessoalmente, em risco. Porém, em função das oportunidades
trazidas pela CMC, elas avaliam as suas condutas e dão-se conta de seus próprios
riscos. Essa consciência constitui um passo importante na tomada de decisão na
direção da mudança de comportamento.

43
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Auto-Imagem
z A CMC pode criar um ambiente que torne aceitável e mesmo desejável a prática
de medidas de prevenção. Se a pessoa sentir-se bem em relação a práticas seguras,
é mais provável que haja a adesão a essas práticas comportamentais.
Habilidades
z A CMC pode ajudar o indivíduo a desenvolver habilidades que o tornem capaz de
práticas comportamentais positivas. Por exemplo, se a pessoa não usa camisinha
porque não sabe como, ou se o preservativo se rompe freqüentemente, há que se
adquirir a habilidade do uso correto do mesmo.
Auto-eficácia
z A adoção de novo comportamento pode aumentar a confiança. Por exemplo, a
CMC pode fazer com que a pessoa assuma o controle da sua saúde sexual, após
ter adquirido habilidades de negociação com suas parcerias ou com o uso correto
do preservativo.
Emoções
z A CMC pode despertar sentimentos em pessoas com práticas de risco, o que
pode levar a atitudes de reflexão. Por exemplo, tais pessoas podem não estar
motivadas a se proteger, mas podem ser bem sensíveis quanto à percepção de que
podem deixar seus filhos órfãos.
Normas sociais percebidas
z A CMC pode contribuir para a criação de um ambiente que dê às pessoas com
práticas de risco a impressão de que existe um momento ou um movimento social
no sentido da adoção de um determinado comportamento. Por exemplo, a pressão
dos colegas que já adotaram um comportamento seguro revela-se ser muito influente
no contexto de um programa de educação de pares.
Disponibilidade de serviços
z A consciência de que os serviços estão disponíveis, são acessíveis e de fácil
utilização aumenta as chances de que eles sejam utilizados. A CMC pode promover
os serviços, bem como ajudar para que os obstáculos para a sua utilização sejam
ultrapassados.
Conhecimento
z A CMC pode suprir as lacunas de conhecimento e ajudar a ultrapassar a
desinformação em aspectos relevantes. Por exemplo, se as pesquisas revelarem
que as pessoas com comportamento de risco não fazem a conexão entre as DST
e a infecção pelo HIV, a CMC pode esclarecer esse fato, bem como promover
prontamente o uso de serviços de confiança.
Coerência aos comportamentos
z A CMC é mais eficaz quando ela é consistente com os estilos de vida existentes.
Por exemplo, a proposta da abstinência sexual para os jovens soldados, não casados

44
O planejamento estratégico na comunicação para
a mudança de comportamento

e que freqüentem bares, terá menos impacto do que a promoção do uso do


preservativo.

11.6. Qual é o processo da CMC?


O caminho para a mudança de comportamento não é direto e claro
O processo de mudança de comportamento não segue uma ordem seqüencial ou um
padrão fixo. Pode haver desvios, idas e vindas e, mesmo, a perda de terreno ganho. O
processo em direção à mudança de comportamento, esboçado no quadro a seguir, descreve
os níveis de transformação que as pessoas podem passar para se tornar conscientes
sobre as dificuldades em fazer e em manter uma mudança positiva.

Estágios no processo de mudança de comportamento

1. Não consciente

z Não há o reconhecimento de que o comportamento usual traz riscos;

z Pode reconhecer que o comportamento traz riscos, mas não os relaciona em


seus próprios riscos;

z Pode não reconhecer que o seu próprio comportamento é de risco.

z Informação básica sobre as DST/HIV/aids pode ser disponibilizada;

z Avaliações de risco podem ser feitas àqueles em risco para facilitar a


compreensão dos efeitos do seu comportamento;

z Mitos, concepções e informações erradas podem ser corrigidas;

2. Consciente ou apreensivo

z Havendo o entendimento de que existe uma situação de risco, o passo seguinte


é apontar um caminho para contorná-la;

z Há um aumento de interesse na avaliação sobre comportamentos de risco;

z As pessoas necessitam compreender por que elas são vulneráveis;

z A negação é ultrapassada à medida em que as pessoas decidem que algo deve


ser feito.

3. Consciente e capaz

z Considera seriamente a existência de um problema;

z Procura mais informação junto aos pares, aos amigos e à família;

z Podem ser desenvolvidas habilidades para discutir questões sexuais e


negociação para o sexo seguro;

z Aumenta o conhecimento sobre a disponibilidade de serviços relacionados ao


tema.

4.Motivado e pronto para a mudança

z Começa a haver empenho no sentido da mudança;

z Considera seriamente a necessidade de proteger a si e aos outros da infecção;


,

45
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

z Sente-se estressado com a própria ansiedade e culpado em relação a seu


comportamento de risco;

z Motivado a evitar as conseqüências da infecção;

z Assegurar que as clínicas de IST acolham adequadamente a seus clientes;

z Manisfesta desejo de tentar o novo comportamento;

z Pode não tentar de novo se considerar a mudança difícil (por exemplo,


rompimento do preservativo);

z Precisa de reforço positivo e de elogios pela mudança de comportamento;

6. Adotando e mantendo o novo comportamento

z Sente-se estressado com a própria ansiedade e culpado em relação a seu


comportamento de risco;

z Motivado a evitar as conseqüências da infecção;

z Há demanda para serviços, tais como clínicas de DST, ATV e de preservativos;

z Acredita que as pessoas pertencentes a grupo de pares e a outros grupos praticam


sexo seguro;

z Suscetível a exemplos, mensagens positivas e a ambientes de apoio.

5. Em tentativa de mudança de comportamento

z O fornecimento de instruções de uso do preservativo é util;

z Assegurar que as clínicas de DST acolham adequadamente a seus clientes;

z Manisfesta desejo de tentar o novo comportamento;

z Pode não tentar de novo se considerar a mudança difícil (por exemplo,


rompimento do preservativo);

z Precisa de reforço positivo e de elogios pela mudança de comportamento;

6. Adotando e mantendo o novo comportamento

z Avaliar e reforçar a ação tomada;

z Novo hábito estabelecido e apoiado;

z Reforçar comportamento com comunicação continuada;

z Relatar o sucesso e o beneficio aos outros;

z Reavaliar o risco pessoal.

11.7. Como sabemos se a CMC funciona?


Difícil de medir
Considerando que muitas e diferentes circunstâncias influenciam a mudança de
comportamento, é difícil saber o que exatamente contribuiu a uma mudança específica. A
mudança pode ter sido inspirada pela CMC ou promovida por circunstâncias familiares
não relacionadas. É possível, no entanto, perceber se mensagens da CMC foram ouvidas
e compreendidas, como, por exemplo, na observação de indicadores tais como aumento no

46
O planejamento estratégico na comunicação para
a mudança de comportamento

uso do preservativo, crescimento na requisição de serviços ou queda nas taxas de DST.


Contudo, indicar exatamente o que promoveu a mudança de comportamento não é fácil.

Muitas influências contribuem


Os esforços da CMC com freqüência representam o mecanismo desencadeador da
reflexão sobre a escolha das pessoas em seus comportamentos. As pessoas em suas
vidas estão sujeitas a muitas situações. Elas podem ler um panfleto ou conversar com
um educador de pares sobre o preservativo. Elas podem, então, ouvir um spot publicitário
que promova uma marca de preservativo e ganhar alguns deles em um bar. Por último,
pode haver uma conversa com a sua companheira sobre a transmissão mãe-filho do
HIV que acaba por convencer o indivíduo a experimentar o preservativo em sua próxima
relação sexual ocasional. É impossível dizer se foi o panfleto ou o anúncio que resultou
na mudança de comportamento. Provavelmente, houve a concorrência de muitas
influências pare esse efeito, algumas programadas e outras espontâneas.

47
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

12. Selecionando populações-alvo


12.1. O que é população-alvo?
Grupo com características comuns
Uma população-alvo é um grupo de pessoas que partilham das mesmas características
demográficas e semelhantes padrões de comportamento e que são ou serão objeto
de nossa intervenção. As características demográficas comuns podem ser gênero,
idade, localização geográfica, grupo étnico, língua ou ocupação. Quanto aos padrões
comportamentais, também designados de características “psicossociais”,
característicos de uma população-alvo temos, por exemplo, os clientes de profissionais
do sexo ou as pessoas que repetidamente usam os serviços de DST. Homens jovens,
entre os 15 e 24 anos de idade, alistados nas Forças Armadas há menos de cinco
anos, freqüentemente fazem parte da população mais ampla, e estão em maior risco
de se infectarem com o HIV.

12.2. Quais são as populações-alvo “primárias”?


Grupos que mais precisam de atenção
As populações-alvo são divididas em populações primária e secundária. A primária é o
grupo cujo conhecimento, atitudes ou comportamento devem modificar-se para que se
possa resolver um dado problema. As principais populações-alvo primárias em um
programa de DST/aids incluem os clientes das profissionais do sexo, jovens, trabalhadores
emigrantes, usuários de drogas injetáveis e alguns segmentos bem definidos da população
em geral.

12.3. O que são populações-alvo “secundárias”?


Grupos que influenciam o primeiro grupo
As populações-alvo secundárias são aqueles grupos que podem apoiar na mudança de
comportamento da população-alvo principal. Por exemplo, um programa de controle de
DST/aids das Forças Armadas procura aumentar o uso do preservativo entre os seus
soldados e recrutas (uma população-alvo primária) nas suas relações sexuais.

12.4. As populações-alvo podem ser segmentadas?


Melhor focalizar na maior e em maior risco
A segmentação de uma população-alvo significa dividir o grupo em partes, visando a
focalizar aqueles com o mais elevado risco de se infectar e de infectar os outros. Esse
enfoque torna as ações de CMC mais eficazes. Por exemplo, há uma tendência em
focalizar, indiscriminadamente, ações sobre todas as patentes e em ambos os sexos,
embora sejam os militares de baixa patente, masculinos e jovens, que constituem a maior
percentagem em todas as forças militares. Se todos os homens e mulheres, de todos os
serviços, oficiais ou não, forem, simultaneamente, abrangidos pela CMC haverá uma
importante redução em sua eficácia. Se considerarmos que 70% do exército de um país
é constituído por homens jovens, e que eles tendem a ter freqüentes relações sexuais
não protegidas com parcerias ocasionais, então são eles que constituem a população-
alvo primária de nossa ação.

48
Selecionando populações-alvo

12.5. Por que concentrar os recursos em grupos


específicos?
Um esforço de CMC não focalizado constitui um instrumento enfraquecido
Se as mesmas mensagens são enviadas a diferentes populações-alvo, não haverá a
percepção de que haja mensagens específicas. A CMC não orientada a um gupo específico
é como um tiro de espingarda, a maioria deles não atinge alvo algum, havendo apenas
um dano superficial quando disparado de uma longa distância. Uma intervenção bem
dirigida tem a precisão de um atirador especial ao acertar o seu alvo. Atingir grupos
específicos é, também, muito mais eficiente em relação aos custos.

As questões a seguir orientam a quem deva decidir sobre quem são suas populações-
alvo primárias:

z Que grupos estão em situação de maior vulnerabilidade?


z Que grupos são mais passíveis de mudar o seu comportamento de risco?
z Que grupos têm as características mais comuns, tais como mesmos padrões de
comportamento, idade, língua e cultura?
Exemplo: Procurando o maior denominador comum

Um rascunho de panfleto está sendo preparado para ser usado nas Forças Armadas de
um país da África Ocidental.

Se o propósito é atingir o maior número de pessoas de uma coorporação militar, a melhor


escolha para a imagem ilustrativa de um panfleto seria a de um homem fardado, entre os
18 e 25 anos de idade, padrão que representa 80% do pessoal das Forças Armadas. Um
oficial da marinha fardado em branco, o que representa menos de 1% de todo o pessoal
militar, não seria uma boa escolha.

Exemplo: sexos diferentes têm necessidades diferentes

Em um país da Ásia, produziu-se um mesmo material de prevenção para homens e


mulheres de uma corporação militar, embora as mensagens devessem ser bem diversas
para cada um dos gêneros. Os homens tinham mais probabilidade de serem solteiros do
que as mulheres, e, em função de suas relações com vários parceiros, expunham-se
mais ao risco. No entanto, a promoção do preservativo teve pouca evidência no material
educativo, que, além disso, também abordava tópicos como os serviços de planejamento
familiar, estes destinados às mulheres.

Exemplo: priorizando as populações-alvo

O programa de controle de HIV/aids das Forças Armadas em um país africano decidiu


priorizar as suas populações-alvo e, durante um período de cinco anos, desenvolveu
estratégias de CMC para atingir todos eles. A lista:

49
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

z Militares homens de baixa patente, a serem designados para uma missão dentro
do país;
z Pessoal do exército não comissionado;
z Militares homens antes e depois de regressar de missões nas forças internacionais
de manutenção de paz;
z Homens alistados em outros serviços (força aérea e marinha);
z Esposas e namoradas regulares de militares das Forças Armadas;
z Profissionais do sexo e namoradas ocasionais, residindo próximo das bases e de
campos das Forças Armadas.
z Jovens vivendo nas instalações das Forças Armadas.

50
Realizando uma avaliação formativa

13. Realizando uma avaliação


formativa
13.1. Que percepções devemos captar sobre as
populações-alvo?
Comportamento, motivação e hábitos da comunicação
O primeiro passo, após a seleção e priorização das populações-alvo, é obter as suas
percepções sobre comportamento, motivação, hábitos da comunicação e preferências.
Tal estudo não deve de ser feito todo em uma mesma pesquisa. De fato, um conjunto de
pequenos estudos, tais como a discussão de grupos focais, é, muitas vezes, mais bem
sucedido. Algumas sugestões para estudos:

z Envolvimento da população-alvo no processo de planejamento;


z Definição dos comportamentos usual e ideal, após as mudanças comportamentais
sugeridas;
z Identificação de fatores que influenciam o comportamento;
z Compreensão junto àqueles que já adotaram novo comportamento sobre o que
motivou a mudança;
z Pré-testagem de mensagens e de materiais.

13.2. O que é a avaliação formativa?


Localizar os estudos existentes e realizar novos estudos
A avaliação formativa envolve rever os dados existentes e produzir novos estudos, visando
a obter os níveis de conhecimento, atitude e comportamento de uma dada população-alvo
frente a uma determinada situação. Os estudos podem incluir entrevistas com pessoas-
chave, entrevistas em profundidade, e discussões em grupos focais. Para desenvolver uma
estratégia de CMC eficaz é importante contextualizar as pessoas em seu âmbito social, o
que significa ultrapassar uma avaliação individual, para ater-se também aos ambientes nos
quais elas vivem. No contexto das Forças Armadas, pode-se obter as percepções das
comunidades localizadas nas proximidades das instalações militares. O estudo pode incluir
também a compreensão sobre o comportamento dos militares em bares e clubes noturnos.
É importante obter as percepções das comunidades sobre comportamentos de risco e
quais são os fatores de vulnerabilidade presentes.

13.3. Que percepções são necessárias?


Padrões comportamentais de risco
Os planejadores de CMC precisam entender quais são os padrões de comportamento de
risco, o que envolve identificar as percepções das pessoas de quem nele se envolve, em
quais comportamentos e com que parceiros. Também, há que se compreender se há
consciência de riscos e quais os processos de negação a eles. Para a elaboração de
materiais educativos é necessário conhecer os hábitos de comunicação da população-

51
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

alvo, bem como sua preferência por estilos e imagens na área de comunicação. Uma
estratégia de CMC eficaz exige conhecimento sobre:

z As percepções sobre riscos e vulnerabilidade;


z Os contextos nos quais acontecem os comportamentos de risco;
z As opiniões dos líderes sobre questões-chave como sexo, sexualidade e, em alguns
contextos, o abuso de drogas;
z Os serviços existentes e instalações usadas pela população-alvo, bem como as
suas opiniões sobre os mesmos;
z As expectativas, receios e metas da população-alvo para o futuro, o que ajudará
a captar a sua atenção;
z Os hábitos da comunicação;
z Os hábitos de lazer;
z O comportamento relacionado à busca por cuidados de saúde.

13.4. Que estudos podem ser feitos?


Pesquisa em dados existentes
O primeiro passo na realização de uma pesquisa é recolher dados ou estudos existentes.
Muitas vezes, a pesquisa é feita sem levar em conta estudos semelhantes já existentes.
Por exemplo, em muitos países já há estudos comportamentais exaustivos sobre jovens
e profissionais do sexo. Esses estudos prévios poderiam ser aproveitados se a população-
alvo primária por homens jovens dos 15 aos 24 anos que buscam os serviços de
profissionais do sexo. No Brasil, as pesquisas realizadas pelo PN-DST/AIDS podem ser
encontradas no endereço eletrônico: www.aids.gov.br.

Discussões em grupos focais


O grupo focal é uma das formas de pesquisa mais eficazes em relação aos seus custos.
Envolve selecionar representantes da população-alvo e estimular uma discussão focalizada
e fechada, colocando questões específicas que se deseja responder. É uma forma de
pesquisa qualitativa e nenhuma tentativa é feita para quantificar os resultados em termos
de percentagens ou de outros números.

Estudos CAPC (Conhecimento, atitude, prática e comportamento)


Este método de pesquisa qualitativa envolve lançar um conjunto de perguntas às pessoas,
geralmente usando o formato de múltipla escolha. É uma forma de estudo relativamente
complexa, uma vez que as amostras são, geralmente, muito grandes, os entrevistadores
precisam ser bem treinados, os resultados devem ser analisados em computadores
sofisticados e as respostas apresentadas em tabelas complexas.

Entrevistas em profundidade
Este estudo tem método semelhante ao das discussões em grupos focais, no sentido de
que é uma forma de pesquisa qualitativa e envolve representantes de uma dada população-

52
Realizando uma avaliação formativa

alvo, entrevistados um de cada vez, que falam sobre comportamento, a percepção do


seu próprio risco e a perspectiva em relação à sua prevenção.

Observação
Estar presente em locais em que existem comportamentos de alto risco, observando o
ambiente e as interações entre as pessoas, é uma forma simples e muito revelante de
pesquisa.

13.5. O que é melhor: pesquisa quantitativa ou


qualitativa?
Métodos complementares de pesquisa
Este é um debate recorrente que não tem uma resposta certa ou errada. Certamente, a
pesquisa quantitativa tem maior credibilidade porque ela, geralmente, tem dimensões de
amostras maiores. Impressiona por trazer os dados impecavelmente organizados em
colunas de números que podem ser compreendidos. Por outro lado, a pesquisa qualitativa,
como os grupos focais, muitas vezes, permite a compreensão de fatos de forma mais
pormenorizada do que as frias estatísticas. Em geral, tem custo menor e é mais fácil e
mais rápida de ser planejada e concluída. Em uma perspectiva ideal, os orçamentos de
pesquisa deveriam ser suficientes para contemplar ambas. A apreensão de percepções
mais íntimas é, geralmente, captada nas pesquisas quantitativa e qualitativa.

Exemplo: Necessidade de uma amostra representativa

Na hora da seleção de uma população-alvo é importante que ela seja verdadeiramente


representativa do universo que se deseja estudar. Em dois países, em função de problemas
com a seleção de participantes para grupos focais, não foi possível aproveitar os resultados
obtidos. Em um deles, os planejadores do programa de HIV/aids das Forças Armadas
não obtiveram a permissão dos oficiais para liberar os seus homens para participar na
pesquisa. Assim, foi ouvido o corpo médico que, em relação ao resto do pessoal, tinha
um nível de conhecimento elevado sobre as DST/HIV/aids. Os resultados foram de
pouca utilidade porque eles não representavam o conhecimento do resto do pessoal da
coorporação. No outro país, deu-se a mesma importância aos resultados das discussões
dos grupos focais com oficiais do que as dos homens alistados, embora o último grupo
fosse mais numeroso e sujeito a maiores riscos. Os oficiais citaram a “pressão alta” e a
“gota” como os seus problemas de saúde mais comuns, refletindo o fato de eles serem
pessoas de meia idade.

13.6. Quem realiza os estudos?


Desenvolver capacidade ou subcontratar
A maioria das Forças Armadas reconhece que a sua capacidade de conduzir pesquisa
sócio-comportamental é limitada e procura contratar pessoas de fora para realizá-la.
Uma vantagem dessa conduta é que os militares podem sentir-se mais confortáveis em
discutir assuntos íntimos, como o seu comportamento sexual, com terceiros, mais
habituados a realizar esse tipo de trabalho. Os departamentos de ciências sociais de
universidades, as empresas de consultoria que vêm trabalhando para as agências doadoras

53
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

internacionais e empresas de publicidade comerciais, que fazem pesquisa sobre o consumo,


estão entre os grupos que podem ser solicitados.

13.7. Como podemos contratar os pesquisadores?


Identificação dos pesquisadores
É possível que as Forças Armadas desenvolvam capacidades de realização de pesquisa
sócio-comportamental, bem como de testar protótipo de materiais para estudo com
representantes de populações-alvo. Em alguns casos, podem ser contratadas pessoas
que já tenham essa experiência. No entanto, na maioria dos casos, as Forças Armadas
apoiar-se-ão em especialistas da sociedade civil para a realização de pesquisa. Algumas
sugestões para a identificação de pesquisadores:

z Procurar pesquisadores que tenham experiência com estudo sócio-comportamental


em outras organizações;
z Solicitar que sejam vistas as pesquisas já realizadas;
z Contatar as organizações referidas para saber se elas ficaram satisfeitas com as
pesquisas encomendadas;
z Pedir um plano de pesquisa a diferentes grupos de pesquisa;
z Oferecer informação básica sobre as Forças Armadas, suas necessidades
específicas e cultura institucional;
z Acordar com o pesquisador que os resultados da pesquisa pertencem às Forças
Armadas e que os mesmos não podem ser usados sem o seu consentimento;
z Envolver a população-alvo no planejamento do estudo, incluindo na revisão dos
questionários e nos roteiros de discussão do grupo focal.

13.8. Quanto deve ser gasto?


Alguém é melhor do que ninguém
Como norma prática, é apropriado dispender 10% do total do orçamento da CMC em
pesquisa. O desenvolvimento e a implementação da CMC sem um estudo norteador
prévio é como conduzir um carro de olhos fechados, ou seja, é melhor ter um pequeno
estudo bem orientado do que não ter nada que sirva de base. Se não for possível contar
com um estudo quantitativo grande, em função de complexidade ou custo, os grupos
focais podem trazer importantes contribuições internas.

54
A comunicação para a mudança de comportamento
em um programa de HIV/aids

14. A comunicação para a


mudança de comportamento em
um programa de HIV/aids
14.1. Como a CMC se incorpora ao planejamento
geral do programa?
Um apoio e um elemento fundamental
A CMC, como parte do programa de HIV/aids das Forças Armadas, constitui tanto um
apoio como um elemento fundamental do programa. A CMC dá melhores resultados
quando é um processo cuidadosamente planejado, e que esteja integrado ao programa
desde a sua concepção. As estratégias de comunicação interpessoais - tais como a
educação de pares -, eventos organizados nas comunidades ao redor das instalações
militares e mídias internas podem, todas, compor as estratégias da CMC.

14.2. Quais são os diferentes níveis de metas e


objetivos?
Uma tentativa de alcançar a mudança
O processo de planejamento é visto, muitas vezes, como sendo mais complicado do que
ele é ou tenha que ser. Essencialmente o planejamento determina o que se deseja realizar
e como ele se insere dentro do programa nacional de HIV/aids. Após, deve-se definir as
mudanças desejadas no comportamento das pessoas e nos planos específicos para
alcançar tais mudanças. As “metas” e “objetivos” são os termos freqüentemente utilizados
para descrever o que os programas de HIV/aids planejam alcançar.

Os diferentes níveis de planejamento podem incluir:

Nível Um

Rever as metas ou objetivos gerais estabelecidos pelo programa nacional de HIV/aids.


Estes são, geralmente, muito abrangentes e dão uma orientação geral sobre o que se
espera realizar no nível nacional. Um exemplo de um objetivo de um programa nacional
de HIV/aids pode ser “reduzir as taxas de infecção pelo HIV entre os jovens”.

Nível Dois

Estabelecer os objetivos próprios do programa de contole de HIV/aids das Forças


Armadas. Estes descrevem o que o programa deseja realizar. Devem estar de acordo
com as metas e objetivos do programa nacional de HIV/aids. Elas levam em consideração
as metas do número de serviços que se quer estabelecer e das mudanças comportamentais
desejadas. Um exemplo de objetivo é o de “reduzir as taxas de infecção pelo HIV entre
os militares com idade entre os 15 e 24 anos”.

55
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Nível Três

Fixar as metas da mudança de comportamento a serem alcançadas, e que são mais


específicas do que as metas do programa. As metas são geralmente mensuráveis, para
pemitir que se monitore o progresso do programa. Um exemplo é o de “aumentar o uso
do preservativo entre o pessoal das Forças Armadas entre os 15 e os 24 anos de idade,
de 20% para os 70%”.

Nível Quatro

Desenvolver estratégias específicas de CMC para as populações-alvo em função dos


objetivos relativos à mudança de comportamento. Um exemplo é o “o aumento da
confiança do preservativo como forma de proteção contra as DST, bem como as
habilidades em usá-lo”.

14.3. Que outros exemplos de objetivos do programa


de controle de HIV/aids das Forças Armadas podem
ser dados?
Os objetivos do programa de controle de HIV/aids das Forças Armadas cobrem todos
os aspectos da intervenção, incluindo a mudança de comportamento. A experiência mostra
que a CMC funciona melhor quando ela é coordenada com o desenvolvimento de serviços
de qualidade. É importante estabelecer objetivos que tracem um plano coerente e completo
para atacar o problema. Alguns outros exemplos de objetivos:

z Aumentar as práticas sexuais mais seguras (uso mais frequente do preservativo);


z Aumentar a procura por serviços de DST e de tuberculose (visitas ou referências
aos serviços, por exemplo);
z Aumentar o acesso e o uso da terapira anti-retroviral;
z Aumentar o uso de medidas de precaução universais para melhorar a segurança
do sangue;
z Aumentar as doações de sangue;
z Melhorar a aderência aos tratamentos;
z Aumentar o uso de seringas e agulhas novas pelas pessoas que usam drogas
injetáveis;
z Diminuir atitudes discriminatórias em relação às pessoas afetadas pelo HIV/aids;
z Reduzir a incidência de atitudes discriminatórias contra as pessoas vivendo com o
HIV/aids.

56
Elaboração de mensagens e de materiais educativos

15. Elaboração de mensagens e


de materiais educativos
15.1. O que é uma mensagem?
Uma informação cuidadosamente apresentada

As mensagens educativas são os conteúdos que se quer transmitir à população-alvo, na


busca de uma resposta. As mensagens funcionam melhor se estão apropriadas à linguagem
e à cultura da população-alvo. Devem abordar de forma clara e com a especificidade de
conteúdo que a população-alvo necessita, sendo atraentes e servindo para estimular a
discussão e a ação, visando sempre ao objetivo de mudar comportamentos inseguros. Se
a mensagem abordar um produto, como o preservativo, deve informar, entre outros
aspectos, onde obtê-lo e como usá-lo.

15.2. Como se elaboram mensagens educativas?


Baseadas nas percepções da população-alvo
Quanto maior compreensão houver sobre a população-alvo, maiores serão as chances
de que as mensagens sejam captadas e valorizadas. Essa compreensão serve de base
para a definição clara sobre os comportamentos de risco existentes e que mudanças
devem ser propostas. As mensagens devem ser criativas e atraentes e devem ser pré-
testadas junto a representantes da população-alvo para que seu impacto seja avaliado. O
processo de elaboração de uma mensagem deve incluir, de forma colaborativa, os
planejadores do programa de HIV/aids e profissinais da área de comunicação que
trabalham na criação de mensagens e de materiais educativos.

15.3. Que diferentes abordagens são usadas?


Uma variedade de estilos é frequentemente usada quando se desenvolvem mensagens
da CMC. Eis uma lista de abordagens, acompanhada por suas respctivas vantagens e
desvantagens.

Criação de uma atmosfera de medo


Esta abordagem visa a ultrapassar a complacência ou a negação de que o HIV seja um
real problema. Ela foi usada largamente no início da pandemia, mas constatou-se não ser
suficientemente sutil para inspirar a mudança de comportamento. De fato, a atmosfera
de medo, muitas vezes, tem o efeito contrário justamente naquelas pessoas que se quer
atingir, e pode resultar na alienação daqueles que se encontam em maior risco. Pode
também amedrontar as demais pessoas, bem como criar ou reforçar o preconceito contra
as pessoas vivendo com HIV/aids.

Culpando segmentos de populações-alvo específicos


Quando os meios de comunicação de massas artibuem demasiada importância a segmentos
populacionais - profissionais do sexo e seus clientes, usuários de drogas injetáveis e
outros segmentos de risco acrescido - a população pode desenvolver preconceitos contra
eles e ter um falso sentido de invulnerabilidade.

57
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Enfoque moralista
Alguns planejadores de CMC preferem promover a abstinência e a fidelidade, ao invés
de lidar com questões com as quais se sentem desconfortáveis, como o uso do preservativo
e a prostituição. As mensagens com tom moralista são especialmente ineficazes junto às
pessoas mais jovens. A abstinência é um comportamento de difícil aceitação para aqueles
que são sexualmente ativos, ou quando não fizer parte dos valores culturais da população.

Apelo à razão
As mensagens que enfatizam a responsabilidade pessoal, bem como apresentam razões
e benefícios convincentes para a adoção do comportamento positivo, apresentam
melhores resultados do que dizer, apenas, que as pessoas devem mudar seus hábitos.

15.4.Como são elaboradas as mensagens?


Dar motivos para a mudança
As mensagens devem convencer a população-alvo a mudar, já que simplesmente dizer
que certo comportamento deva ser mudado já provou ser ineficaz. Por exemplo, o teste
anti-HIV pode ser promovido em troca da diminuição da preocupação em relação a um
futuro com ou sem ele. Esclarecer que as DST são um co-fator da infecção do HIV ou
a causa principal de infertilidade pode encorajar a procura por um rápido tratamento de
uma DST.

Incluir um apelo emocional


As questões relacionadas ao HIV/aids trazem reações emocionais. Porém, os materiais
de CMC contêm, muitas vezes, apenas informações técnicas, sem conteúdos afetivos.
Abordagens que contenham apelos de medo, preocupação, inquietação, angústia, amor
e patriotismo podem tornar as mensagens mais eficazes. Por exemplo, um pai pode não
estar preocupado de ele próprio estar infectado, mas pode sensibilizar-se pela idéia de
que possa deixar a sua família sem apoio, ou de gerar filhos soropositivos. Não existe
emoção mais arrebatadora do que se colocar em situações reais, nas quais haja pessoas
próximas afetadas pelo HIV.

Uso de transmissores de mensagens confiáveis e de boa informação


As diferentes populações-alvo deparam-se com diferentes pessoas que transmitem
mensagens confiáveis. Alguns podem encontrar no médico essa pessoa, para outros
pode ser um sargento ou o pai de uma jovem família. Os jovens, em particular, tendem a
preferir os seus colegas para transmitir mensagens educativas. A informação contida na
mensagem deve também ser clara e confiável.

Uso de mensagem na linguagem e nos padrões culturais da população-alvo


Para aumentar as chances de que a população-alvo se identifique com a mensagem, é
fundamental que a linguagem utilizada nos materiais seja facilmente compreendida e que
as imagens e situações apresentadas sejam reconhecidas pela população-alvo.

58
Elaboração de mensagens e de materiais educativos

Testando junto à população-alvo


A pré-testagem significa apresentar aos representantes da população-alvo esboços das
mensagens e dos materiais aducativos antes de sua finalização, procurando, assim,
assegurar-se que o material seja bem compreendido, esteja apropriado e que produza o
efeito desejado. A pré-testagem é geralmente feita nos diferentes estágios do processo
e deve ser revista a partir de cada uma das vezes em que é submetida à testagem.

Exemplos de mensagens que visam ultrapassar


obstáculos ao uso do preservativo

A pesquisa em um país identificou diversos obstáculos ao uso do preservativo entre o


pessoal das Forças Armadas. Como resposta, um número de mensagens foi elaborado
para a pré-testagem em homens.

Problema:

Redução da sensibilidade:

Mensagens-chave:

z Não arrisque grandes problemas futuros por um momento de prazer de sexo


sem o uso do preservativo;

z Capacetes e botas de combate podem ser incômodos, mas um soldado nunca


consideraria ir ao combate sem a proteção que eles fornecem.

Problema:

Atraso do orgasmo:

Mensagens chave:

z A maioria das pessoas acha que os preservativos não retardam o orgasmo,


desde que estejam acostumados a usá-los;

z Mesmo se o orgasmo atrasar, isso não é necessariamente uma coisa ruim porque
pode fazer com que o prazer sexual dure mais.

Problema:

Desinformação, como a que diz que o HIV é capaz de passar através do preservativo:

Mensagens chave:

z Se o preservativo for corretamente usado proporciona proteção quase total contra


as DST, o HIV e a gravidez não desejada.

z A proteção que o preservativo dá chega a 98%, quando devidamente utilizado.


A pequena percentagem de preservativos que se rompe é geralmente causada
pela manipulação incorreta e não por defeito de fabricação.

z Foi provado cientificamente que o preservativo é 100% resistente às DST, ao HIV


e à passagem do esperma.

59
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

16. A Produção de materiais


educativos e a escolha de canais
de comunicação
16.1. O que são materiais educativos e canais de
comunicação ?
Diferentes mídias existentes
Os materiais educativos e canais de comunicação são os diferentes formatos nos quais
as mensagens educativas são apresentadas à população alvo. Geralmente as estratégias
de CMC selecionam a melhor combinação de materiais e canais para atingir uma
determinada população-alvo. A seguir, algumas opções.

Materiais impressos
Uma combinação de textos e imagens que podem ser distribuídos ou usados para apoiar
a comunicação interpessoal com indivíduos ou grupos:

z Flip charts;
z Livros ilustrados;
z Santinhos;
z Folhetos;
z Panfletos;
z Revistas em quadrinhos;
z Calendários;
z Boletins informativos.

Meios de comunicação de massa


As transmissões eletrônicas e as publicações impressas têm amplo alcance junto ao
público em geral:

z Rádio;
z Televisão;
z Jornais e revistas.

Exibições públicas
Textos e imagens colocados à apreciação do grande público, em serviços de saúde, em
estabelecimentos comerciais, banheiros públicos, na rua e em locais de aglomeração:

z Quadros e paredes;
z Cartazes;

60
A Produção de materiais educativos e escolha de canais de comunicação

z Painéis;
z Murais;
z Vitrines
z Exibições.

Materiais áudio-visuais
As produções eletrônicas que podem circular resguardados os direitos autorais, e usadas
para abordagem em grupo ou para apoiar treinamentos e a comunicação interpessoal:

z Fitas de áudio e de vídeo;


z Dispositivos ou slides;
z Filmes educativos.

Manifestações da cultura comunitária


Uso de manifestações culturais já existentes e que passam a incorporar mensagens
educativas. São usadas para atingir grupos de pessoas residentes, particularmente, em
zonas rurais, mas que podem ser adaptadas para o contexto das Forças Armadas.
Considere:

z Teatro tradicional;
z Eventos;
z Música;
z Poesia.

Comunicação interpessoal
É a interação entre um especialista e pessoas ou grupos, visando estimular a discussão
ou a troca de informação. Ela funciona melhor quando conta com a participação e o
apoio dos órgãos de comunicação social. Alguns exemplos:

Educação e liderança de pares


Uso de pessoal capacitado na facilitação de discussão de questões relacionadas a
comportamentos de risco frente às DST/HIV junto a seus pares, com o propósito
de encaminhar soluções para comportamentos de risco;
Aconselhamento e testagem voluntária
Interação entre um conselheiro capacitado e uma pessoa que deseja fazer o teste
anti-HIV, aproveitando a oportunidade para examinar comportamentos de risco,
explorar as opções de prevenção e a compreender a implicação dos resultados do
teste;
Treinamento
Instrução formal em questões relacionadas com as DST/HIV/aids.

61
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

16.2. É melhor a comunicação interpessoal ou a de


massa?
A comunicação deve se dar de forma complementar
Os planejadores de CMC pensam, muitas vezes, que devem escolher entre a comunicação
interpessoal e a comunicação de massa. Um exemplo seria um educador de pares
realizando uma sessão com cinco pessoas usando um flip chart ou, alternativamente, a
utilização de um rádio-cassete ou a transmissão de rádio. A discussão não deve ser
sobre qual das opções é melhor para o repasse da mensagem educativa, já que a CMC
é mais efetiva quando são utilizadas, de forma coordenada e complementar, diferentes
estratégias de comunicação de massa e de comunicação interpessoal.

16.3. Quais são as vantagens da comunicação de


massa e da interpessoal?
Os veículos de comunicação de massa têm maior alcance
A comunicação social, especialmente a comunicação de massa como o rádio e a televisão,
pode, de maneira rápida e eficaz, aumentar a sensibilização para questões que se deseja
trabalhar e para a divulgação de serviços. Quando calculada em termos de número de
pessoas atingidas, a comunicação social é, geralmente, mais eficiente em relação aos
custos.

O contato pessoal é caro, mas eficaz


A comunicação interpessoal é geralmente considerada menos eficiente em termos de
custos do que a comunicação de massa, pois é cara se considerarmos o número de
pessoas atingidas. No entanto, a comunicação interpessoal é muito mais eficaz no suporte
àquelas pessaos que estão na tentativa ou na manutenção de um comportamento já
adotado. Um hábil comunicador pode adaptar as mensagens e satisfazer as necessidades
surgidas nos grupos, bem como fornecer a retroalimentaçao que enriquece as percepções
de seus membros.

16.4. Como são selecionados os materiais educativos


e os canais de comunicação?
Considere o custo-eficácia
É importante definir qual o melhor meio de comunicação para atingir, de forma eficaz, a
população-alvo, visando a um determinado fim. Os diferentes meios de comunicação
apresentam vantagens e desvantagens distintas e, portanto, devem ser escolhidos tendo
como base essas diferenças. Se não for possível saber previamente qual o mais adequado
meio de comunicação aos propósitos do trabalho, é conveniente experimentar os diferentes
meios disponíveis e, então, descobrir qual tem maior impacto.

16.5. Por que usar uma combinação de canais?


Diferentes canais, diferentes potencialidades
As potencialidades e a eficácia na transmissão de mensagens são diferentes para cada
canal de comunicação, sendo que os veículos de comunicação de massa, como o rádio e
a televisão, têm um alcance mais amplo. Em alguns países, as Forças Armadas têm o
seu próprio programa de rádio, o que torna mais rápido o contato com um número maior

62
A Produção de materiais educativos e escolha de canais de comunicação

de pessoas. Por exemplo: para veicular a informação sobre um novo serviço de tratamento
de DST, poderia haver a inserção no programa e ainda haver a distribução de um panfleto,
o que potencializaria a comunicação e o alcance da informação.

Mesma mensagem, diferentes canais


O impacto é maior quando a mesma mensagem é comunicada por meio de diferentes
canais. Por exemplo: se a polícia quer promover o serviço de aconselhamento e testagem
voluntária, uma combinação de meios de comunicação pode ser usada, tais como cartazes,
inserções radiofônicas, panfletos distribuídos em lugares de grande circulação e lembretes
colocados em mictórios. A experiência tem demonstrado que uma mensagem tem maior
alcance quando é utilizada uma mistura considerável de materiais educativos e de mídias.

16.6.A relação custo-benefício é importante?


A escolha cuidadosa poupa recursos
A estratégia da CMC deve calcular que materiais educativos e veículos de comunicação
são mais adequados para atingir populações-alvo específicas, e deve-se levar em
consideração o custo-eficácia de cada um. Por exemplo, uma mensagen gravada em
vídeo pode ser muito eficaz na transmissão de um conteúdo, mas sua produção e
veiculação a tornam muito cara. Comparativamente, peças e mensagens musicais
contendo as mesmas mensagens e sendo amplamente difundidas em fitas de áudio são
mais baratas em sua produção, tornando-se mais eficientes em relação ao custo.

Necessidade de difusão do plano de comunicação


Às vezes, materiais educativos são produzidos mas pouca atenção é dada para saber
como serão utilizados. Por exemplo: álbuns seriados são produzidos, mas ninguém é
treinado para usá-los; calendários são impressos, mas são colocados nos gabinetes dos
oficiais onde soldados raramente os vêem. Ou ainda, alguns materiais educativos têm
potencial de eficácia, mas eles alcançam apenas uma ínfima fração da população-alvo.
Por exemplo, mil exemplares de revistas em quadrinhos são impressos, mas há dez mil
potenciais pessoas que são o grupo-alvo. Algumas sugestões para a elaboração de material
educativo e para a seleção de canais de comunicação:

Algumas sugestões para a elaboração de material educativo e para a seleção de canais


de comunicação:

z Avaliar o custo de cada meio de comunicação disponível;


z Material impresso tende a ser mais caro, porém, em função de seu efeito
multiplicador, deve ser sempre considerado na formação de educadores de pares;
z Qualquer material impresso precisa ser acompanhado por um plano claro de como
será seu uso e distribuição;
z A mídia de rádio tem um custo menor se comparado à da televisão, considerando
o número maior de pessoas atingidas;
z A impressão em preto e branco é mais barata que a em cores.

63
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

Exemplos de custo-eficácia
z A produção de um maior número de livros em preto e branco é mais eficiente do
que a produção de um pequeno número de livros coloridos em papel brilhante, já
que se fossem estes os produzidos só seria possível a impressão de um número
insuficiente em relação ao tamanho da população-alvo.
z Um adesivo promovendo o uso do preservativo colado em todos os banheiros da
guarnição militar poderá ser visto por muitas pessoas durante anos. Essa opção é
mais eficiente do que produzir calendários que podem acabar nos gabinetes dos
oficiais e, após um ano, serem retirados;
z Uma encenação dramática com mensagens educativas é produzida e cópias em
fitas de áudio são enviadas a todas as guarnições militares. Dessa forma barateiam-
se os custos em relação à produção de fitas de vídeo, e, assim, com os mesmos
recursos, mais pessoas podem receber a sua própria cópia para ouví-la
individualmente. Além disso, mais pessoas possuem gravadores de áudio do que
vídeo-cassetes.
z Os recursos do programa podem ser bem empregados na confecção de porta-
preservativos que compõem o “Cartão de Orientação sobre o HIV/Aids para as
Forças de Defesa e Segurança”. Materiais promocionais como chaveiros,
camisetas, bonés ou botões são bastante apreciados, porém têm uma limitada
capacidade de passar mensagens e promover mudanças efetivas de
comportamento.
z Os flip charts de apoio a treinamentos ou formação de educadores de pares devem
ser produzidos após a clara compreensão sobre a quem se destinam e como serão
usados.

16.7.Quem elabora as mensagens e os materiais


educativos?
A ajuda externa pode ser necessária
Alguns programas de HIV/aids das Forças Armadas podem produzir seus próprios
materiais educativos. Outros, porém, poderão necessitar de ajuda externa para desenvolver
o trabalho ou para a pré-testagem dos protótipos. Esse apoio pode ser encontrado entre
consultores de comunicação, empresas de publicidade comercial, organizações
governamentais, como o Ministério da Saúde, onde há setores que trabalham a informação,
a educação e a comunicação (IEC). Essas instituições podem fornecer ajuda para o
desenvolvimento de estratégias, de mensagens e de materiais da CMC.

64
A pré-testagem de mensagens e materiais educativos

17. A pré-testagem de mensagens


e de materiais educativos
17.1. O que é a pré-testagem?
Verificação do potencial impacto dos esboços
É importante assegurar-se que a mensagem que se quer passar esteja sendo recebida
corretamente e tenha o efeito desejado na população-alvo. A pré-testagem envolve a
apresentação de idéias na forma de mensagens ou de materiais educativos aos
representantes da população-alvo para que sejam apreciados, antes da finalização.

17.2. Por que pré-testar?


Redução da chance de desperdicio de esforços
A pré-testagem não garante que as estratégias, mensagens e materiais funcionarão, mas
aumenta as chances de que se alcancem bons resultados, evitando erros e desperdício
de recursos. A produção de materiais sem a pré-testagem é como disparar no escuro. Se
um cartaz for mal entendido ou se um spot radiodiofônico for profundamente ofensivo à
população-alvo, haverá prejuízos financeiros e de credibilidade.

17.3. O que se pré-testa?


Rascunhos e protótipos
Os materiais são pré-testados quando ainda estão longe de exprimir o seu conteúdo final,
mas não tão distante de sua finalização quando se torna muito caro alterá-los. Os esboços,
ainda sob a forma de rascunhos incompletos, ou desenhos com letras à mão são bons
materiais de pré-testagem. Spots radiofônicos podem ser lidos ao invés de gravados; anúncios
para a televisão ou uma encenação dramática podem ser apresentados na forma de banda
desenhada (um conjunto de desenhos representando as imagens que serão mais tarde
filmadas). É também possível pré-testar as diferentes partes separadamente, as mensagens,
a música a ser usada, o estilo artístico, os personagens e os respectivos atores. Diversas
versões podem ser pré-testadas para comparar as reações.

17.4. Quem faz a pré-testagem?


Especialistas podem ajudar
Os especialistas em comunicação, muitas vezes, desenvolvem habilidades que os tornam
capazes de pré-testar os materiais que eles produzem. Alguns pesquisadores da área de
ciências sociais ou quem trabalha com grupos focais também estão aptos a pré-testar
materiais, bem como algumas agências publicitárias do setor privado e consultores de
informação. Como norma, é preferível que quem criou o material não seja o mesmo a
fazer a pré-testagem.

17.5. Quando é feita a pré-testagem?


Periodicamente durante o processo
Idealmente, a pré-testagem deve ser feita em todas as fases do processo de criação. Já
de início, as idéias para as estratégias de CMC, tal como até que ponto os sonhos do

65
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

futuro constituem um fator motivador, podem ser pré-testadas. As diferentes mensagens,


imagens, locutores, ou mesmo cores e música, podem ser pré-testadas. Em geral, a pré-
testagem deve ocorrer quando os planejadores de CMC estão em dúvida quanto às
diferentes abordagens, mensagens ou outro material. As principais diferenças de opinião
podem ser estabelecidas por meio da pré-testagem.

17.6. Com quem se faz a pré-testagem?


Representantes da população-alvo
Representantes cuidadosamente selecionados da população-alvo são as pessoas ideais
para a pré-testagem do material: uma amostra daqueles a quem as mensagens e materiais
se destinam. O tamanho da amostra depende dos recursos disponíveis mas, em geral,
compreende uma média de 10 a 50 pessoas. A pré-testagem pode ser feita com indivíduos,
em pequenos grupos de 3 a 5 pessoas, ou em grupos focais, de 12 a 15 pessoas.

Verificar se são verdadeiramente representativos


A chave para uma pré-testagem bem sucedida é assegurar que aqueles que pré-testam o
material são reais representantes da população-alvo. Se os selecionados forem pessoas
mais instruídas que o resto da população-alvo, poderá haver um melhor entendimento do
conteúdo, e então, surgir a falsa impressão de que o material também será compreendido
pela ampla maioria. Como regra, quanto maior a amostra, mais confiáveis serão os resultados.

Pré-testagem com outras partes interessadas


Embora a pré-testagem com outros envolvidos não possa substituir aquela com
representantes da população alvo, a pré-testagem deve também ocorrer com outras
pessoas-chave. Isso nem sempre é possível, mas os programadores deveriam tentar
fazê-la para minimizar a controvérsia, o que pode desviar ou comprometer o programa.
No contexto das Forças Armadas, identificamos os capelães, as esposas ou os oficiais
como sendo essas pessoas.

17.7. Que perguntas devem ser feitas?


Fazer perguntas simples
São preferíveis as perguntas abertas, que questionam sobre o que a população-alvo pensa,
gosta, sente ou até que ponto ela é inspirada pelas mensagens e materiais. As perguntas
podem ser muito simples e não precisam ser específicas. Um perigo com as perguntas
muito específicas é que a resposta dada possa ser curta, não esclarecendo outros pontos
que também possam interessar. Em geral, os participantes estão muito entusiasmados,
querem expressar as suas opiniões e não se aprofundam muito. Algumas perguntas-sugestão:

z O que é que isto lhe transmite?


z Do que você gosta e do que não gosta?
z Para quem serve isto?
z O que é que isso lhe sugere?

66
A pré-testagem de mensagens e materiais educativos

Descobrir as coisas de que gostam e não gostam


É fundamental que se perceba se o conteúdo da mensagem é compreendido pelos
representantes da população-alvo, bem como descobrir se os conteúdos são relevantes
e se são apreciados. Por exemplo, o conteúdo pode tentar evocar uma reação emocional
que pode ou não pode funcionar com estratégias de sensibilização. É também importante
perceber se a mudança de comportamento recomendada tem suas razões compreendidas
e se as pessoas estão sensibilizadas para tal. As pessoas estão entendendo que a
mensagem destina-se a eles?

Quantas sessões são necessárias?


Algumas são melhores do que nenhuma

Duas sessões com quatro pessoas é melhor do que apenas uma, e três é melhor do que
duas. Uma indicação é continuar a testagem até que os mesmos comentários sejam
ouvidos repetidas vezes. Quanto mais sessões forem realizadas, mais claras serão as
percepções trazidas pela pré-testagem, mas, por outro lado, é uma perda de recursos e
de energia repetí-las demasiadas vezes. Como regra, se surgirem as mesmas reações
após diversas sessões, não haverá a necessidade de prosseguir. As limitações de tempo
e orçamento podem reduzir o número de sessões e de participantes. Dez participantes e
três sessões são considerados o mínimo ideal.

17.8. O que os resultados significam?


Mudanças esperadas
É raro que não surjam recomendações de mudanças quando as sessões de pré-testagem
são bem conduzidas. Quase sempre as mudanças sugeridas fazem sentido e melhoram
muito o produto final. O aproveitamento das mudanças sugeridas deve ser considerado
uma parte natural do processo e não uma crítica à qualidade do trabalho feito.

A análise pode ser falsa


A análise dos resultados de uma pré-testagem exige habilidades especiais, pois não se
pode esperar que todos os representantes da população-alvo percebam o processo
exatamente da mesma maneira. Em alguns casos, algumas das recomendações da pré-
testagem podem ser ignoradas. Por exemplo, em uma determinada região os soldados
recomendaram a substituição de imagens em que apareciam soldados com civis, porque
eles não gostariam que o público associasse a aids à eles. Esse pedido foi ignorado
porque os materiais não seriam vistos pelo público em geral.

Ignorar as opiniões menos prevalentes


Se três quartos dos participantes de uma pré-testagem têm a mesma reação, a reação
diferente do quarto restante pode ser ignorada. Após a análise dos resultados e da
incorporação das mudanças sugeridas, idealmente, uma outra pré-testagem deveria ser
feita para perceber a aceitação da nova versão do material. Pode haver, ainda, a
necessidade de novas mudanças.

67
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

17.9. Como podem ser utilizados os resultados?


Envolver os tomadores de decisão no processo
Os tomadores de decisão sobre o plano de CMC podem ter idéias arraigadas sobre as
melhores estratégias, mensagens e materiais educativos. No entanto, uma vez que eles
geralmente pertencem a uma geração mais velha, bem como têm maior escolaridade do
que as outras patentes, os tomadores de decisão podem não estar compreendendo bem a
realidade sócio-cultural de seus soldados. A pré-testagem ajuda a captar essas diferenças.

68
A implementação de estratégias de comunicação para
a mudança de comportamento

18. A implementação de
estratégias de comunicação
para a mudança de
comportamento
18.1. Por que assegurar as ligações com os serviços?
Coordenar os parceiros
Já na fase de implementação do plano de CMC, todos os elementos de sua estratégia
entram em funcionamento. Todos os parceiros, incluindo os produtores, programadores
e os canais de comunicação da estratégia devem coordenar e ajustar os seus trabalhos,
uma vez que cada elemento é interdependente dos outros.

Assegurar que os serviços estejam disponíveis


A mudança de comportamento dificilmente ocorrerá se os serviços de apoio não estiverem
disponíveis, já que existem ligações entre os principais elementos do programa tais como
a oferta e a procura de produtos ou de serviços. Se não estiverem disponíveis os
preservativos prometidos, haverá quebra de credibilidade e o programa como um todo
ficará comprometido.

18.2. Por que responder rapidamente às críticas?


A crítica pode desfocar a ação
A desinformação, tal como o falso rumor sobre a segurança do preservativo, precisa ser
rebatida ou poderá evoluir de mito para fato tido como verdade. As críticas de vozes
minoritárias, tais como as que apregoam que o uso do preservativo induz à promiscuidade,
também precisam ser abordadas de forma discreta. Os resultados de pesquisas e da
pré-testagem, que indicam a aceitação das mensagens e dos materiais por uma
determinada população-alvo, poderiam ajudar a aplacar algumas das reações negativas.

18.3. Qual é a importância da cobertura?


A necessidade de alcançar a maior parte do pessoal
Muitas Forças Armadas concentram os esforços de seu programa de HIV/aids em seus
contingentes de pessoal localizados na capital, fato explicado pelos poucos recursos para
transporte, pessoal não treinado ou pela resistência de comandantes regionais não
sensibilizados. Pessoal lotado na capital pode ser de mais fácil alcance e, sem dúvida, um
bom ponto de partida para um programa. Porém, para que ele se torne eficaz, há que se
perseguir a cobertura nacional.

69
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

19. O monitoramento e a avaliação


19.1. O que é monitoramento e avaliação?
Um guia do programa
O monitoramento e a avaliação são componentes essenciais do programa, especialmente
em contextos de recursos limitados. O monitoramento permite que os planejadores do
programa verifiquem se as suas abordagens e estratégias foram eficazes, bem como dar
subsídios para os ajustes necessários.

A CMC precisa de instrumentos de monitoramento e de avaliação eficazes


Durante a fase de implementação do programa faz-se necessário estar atento ao processo
que gerou as estratégias de CMC para certificar-se de que o programa realmente aborda
o problema identificado, as populações-alvo definidas e as constatações da avaliação
formativa. Esse esforço também ajuda a identificar se os objetivos da CMC estão sendo
alcançados e se os canais de comunicação estão sendo usados de forma apropriada.

19.2. O que é monitoramento?


O seguimento do progresso
O monitoramento é a avaliação regular dos investimentos e dos resultados intermediários
de um projeto. Esta retroalimentação permite aos planejadores detectar e corrigir
problemas surgidos no desenvolvimento do projeto, assim como verificar seus acertos.
Para monitorar efetivamente o curso de uma estratégia de CMC, um sistema de
levantamento de dados deve ser estabelecido. A informação a ser recolhida para subsidiar
as ações de CMC deve conectar-se ao sistema amplo de monitoramento do programa.
Isto significa verificar se as ações de comunicação estão ocorrendo segundo o planejado.

z Se houve a produção de anúncios para rádio e televisão, é importante monitorar


as horas de sua veiculação;
z Se houve a produção de material impresso, é importante monitorar a distribuição
e o seu uso;
z Se os meios de comunicação promovem serviços, é importante monitorar se há
aumento na utilização desses serviços;
z Se há um trabalho na área de educação de pares, é importante monitorar o que de
fato é transmitido nas sessões de educação de pares.

As discussões periódicas do grupo focal e as entrevistas em profundidade podem ajudar


os organizadores da CMC a acompanhar as percepções da população-alvo.

19.3. Quando fazer o monitoramento?


Verificações regulares
Em cada fase, os planejadores avaliam se o processo está transcorrendo conforme o
planejado e fazem os ajustes no que não for considerado adequado. Os recursos para as

70
O monitoramento e a avaliação

ações de monitoramento devem ser alocados já na fase de planejamento do projeto para


assegurar que o monitoramento seja um processo contínuo.

19.4. Como analisar os resultados?


Uso do senso comum
Um bom sistema de monitoramento pode identificar os problemas antes deles se
ampliarem. Por exemplo, em um projeto constatou-se que os educadores de pares faziam
ações educativas sobre HIV, mas não estimulando as discussões, como havia sido
planejado. A disponibilização de novos materiais de apoio que encorajem a interatividade,
aliada a uma reciclagem do pessoal em processos participativos, foram ações planejadas
para corrigir essa falha.

Não é possível resolver tudo


Nem todos os problemas serão identificados por meio do monitoramento e, dentre os
detectados, nem todos terão resolução possível ou imediata. É importante que se façam
os ajustes possíveis e, a partir das lições aprendidas, planejar de forma mais adequada no
futuro.

19.5. Avaliação final


Veja se os objetivos foram realizados
A avaliação final detém-se na implementação do projeto e no alcance dos objetivos e das
metas pré-determinados. As intervenções devem ser avaliadas em relação aos objetivos
expressos no projeto, tendo como referência uma linha de base levantada em estudos
qualitativos ou quantitativos. Não é fácil medir, efetivamente, as mudanças de
comportamento, uma vez que existem muitas variáveis potenciais que as influenciam.

Qualitativo ou quantitativo
Para os programas em larga escala, a pesquisa de base quantitativa pode ser repetida
para demonstrar as alterações reportadas nas áreas do conhecimento, da atitude e do
comportamento. A mudança pode também ser avaliada por meio de pesquisa qualitativa,
aplicada no grupo-alvo da intervenção.

A avaliação qualitativa (ou a avaliação dos efeitos da comunicação) examina a evidência


narrada de mudança no comportamento.

19.6. Por que a avaliação é importante?


Prova de sucesso
Sem a avaliação, as percepções sobre o que funcionou e o que não funcionou em um
projeto perder-se-ão, na medida em que ela é a base de orientação para um futuro
planejamento. A avaliação nos dá também uma informação valiosa quanto à eficácia e à
eficiência em relação ao custo das intervenções.

71
Guia de Programação para as Forças de Defesa e Segurança

19.7. Retroalimentação e nova concepção


Aplicação dos resultados para a reprogramação.
À medida que os projetos evoluem, as populações-alvo adquirem novo conhecimento e
comportamento, e a comunicação precisa adequar-se e também mudar. As necessidades
das populações-alvo devem ser reavaliadas periodicamente para que se capte em que
estágio se encontram no processo de mudança de comportamento. À medida que a
epidemia se desenvolve, os tipos de informação e comunicação necessárias também
evoluem a partir de novas informações e das discussões relacionadas à discriminação,
cuidados e apoio, e com práticas sustentáveis. Os estudos de monitoramento e avaliação
levam diretamente à modificações do programa geral e das estratégias, mensagens e
abordagens de CMC.

72
Parceria

Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS)


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