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19/10/2018 Edição 855 - 16/4/2011 :: AC Online :: Caderno B

Aqui desapareceram escravos e


senhores para haver somente cidadãos’
Num período em que o fim do regime escravista era iminente, Pinhal FOTOS: REPRODUÇÃO
ficou marcada por ter libertado todos os escravizados do município
antes da promulgação da Lei Áurea

BRUNA MAZARIN

Hoje, 16 de abril, Espírito Santo do Pinhal completa 123 anos da


abolição da escravatura. Esse fato fez de Pinhal a primeira cidade do
estado e a segunda do Brasil a abolir a escravidão. O primeiro
município abolicionista foi a cidade interiorana de Redenção, no
Ceará, em 25 de março de 1884.

Nessa época, a escravidão era alastrada pelo país e, em Pinhal, não


era diferente. Em um registro de 31 de março de 1887, consta que
havia na cidade pouco mais de 1.035 escravos de senhores da
sociedade de alto escalão como capitães, coronéis, tenentes e
barões.

Segundo informações do livro Polianteia, escrito pelo historiador


Ernesto Rizzoni e colaboradores, o abolicionista José Almeida
Vergueiro, na sessão da Câmara do dia 7 de janeiro de 1888, propôs
que a edilidade oficiasse os lavradores do município convocando uma
reunião para o dia 2 de fevereiro, quando seria tratada a libertação de
todos os escravos existentes no município. Após a reunião, obtida a
aquiescência de todos, foi marcada a data de 16 de abril de 1888 para
Barão de Motta Paes
a proclamação da libertação dos escravos de Pinhal. Durante todo
este dia, diversos festejos populares comemoraram a libertação.

A abolição da escravatura na cidade ocorreu 28 dias antes da sanção


da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel Cristina Leopoldina de
Bragança, que aboliu a escravidão em todo nosso país.

Registros
O livro Nossa Terra Nossa Gente, Pinhal História em Notícias, que traz
artigos publicados no jornal Diário de Campinas no período de 6 de
janeiro de 1886 a 26 de dezembro de 1889 —republicado em 1960
pelo historiador Ernesto Rizzoni— registra esse momento histórico.

Em uma das matérias, Pinhal é parabenizada pela ação. “Em Pinhal


desapareceram escravos e senhores para haver somente cidadãos.
Parabéns a todos e que a harmonia e o trabalho sejam sempre a
divisa dos que adquiriram a liberdade, abrindo nova era próspera e
feliz para este florescente município”.

A maioria dos escravos trabalhava nas lavouras de café. Segundo


texto de Ricardo Mateus Olivi, um interessado no assunto, antes da
libertação total dos escravos ocorreram vários fatos, como revoltas,
entre outros fatos.

O texto ainda documenta que, em fevereiro de 1888, demorando o


Ernesto Rizzoni
governo a tomar medidas para a extinção da escravidão, senhores de
escravos tomaram suas decisões. O tenente-coronel José Ribeiro da
Motta Paes, conhecido como Barão de Motta Paes, em sua fazenda,
marcou para o dia 25 de março a entrega das cartas de liberdade a
seus 120 escravos. Ele ainda garantiu que as pessoas que
continuassem na fazenda teriam as mesmas regalias dos colonos
estrangeiros.

Na ocasião, também estiveram presentes o capitão Antonio José


Villas Boas, capitão Lucio Ribeiro da Motta e alferes Vitoriano Antonio

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Villas Boas que fizeram iguais declarações aos escravos que


possuíam.

Foram libertados no dia 25 de março 252 escravos: 120 escravos do


Barão da Motta Paes, 73 do tenente-coronel Almeida Vergueiro, 15 do
capitão Antonio Villas Boas Sobrinho, 14 do capitão Lucio Ribeiro da
Motta, cinco de Vitoriano Villas Boas, dez do tenente Vicente
Gonçalves da Silva e 15 de José Vergueiro & Irmão.

Com a presença do reverendo José Daniel de Carvalho Monte Negro,


em um ato solene, celebraram uma missa local e 28 casamentos entre
os escravos.

Monte Negro foi uma figura importante durante todo o processo de


libertação dos escravos. Foi ele que, no dia 19 de janeiro de 1887,
destacou a necessidade da extinção da escravidão em Pinhal pedindo
à Câmara a criação de um Livro de Ouro para registrar o momento. O
presidente da Câmara na época, capitão Lucio Ribeiro da Motta,
prometeu atender ao seu pedido.

As declarações dos libertos foram feitas pelos referidos senhores na


sala da Câmara, perante grande número de pessoas ali reunidas.
Durante a comemoração tocou em frente ao prédio da Câmara uma
banda de música e, a convite de seus ex-senhores, os libertos
percorreram algumas ruas da cidade com a banda de música à frente, Roberto Vasconcellos
sendo depois servido a todos um copo de cerveja.

Homenagem
Uma pessoa que se fez muito presente em todo o processo abolicionista da cidade foi o tenente
José Ribeiro da Motta Paes, que recebeu o título de barão em 10 de março de 1888. Pouco
tempo depois da abolição da escravidão em todo país, o vereador Luiz Bernardes Staut levou à
Câmara Municipal a proposta de nomear a antiga rua da Independência com o nome do barão.
O livro Divino Espírito Santo e Nossa Senhora das Dores, a História de Pinhal, do historiador
Roberto Vasconcellos Martins, apresenta o discurso lido pelo vereador durante a sessão
ordinária da Câmara Municipal. Em seu discurso ele destacou a iniciativa do barão. “Foi o
primeiro que entre nós restituiu imediatamente a liberdade aos seus numerosos escravizados,
arrastando consigo a sua numerosa família e numerosos amigos e tudo fazendo para que
proclamasse no dia 16 de abril do corrente ano a libertação total no nosso município. Se ele
tanto fez e se a ele tanto devemos, é justo que promovemos a nossa gratidão dando à rua da
Independência o nome de rua Barão de Motta Paes”.

Para ter acesso aos documentos completos acesse o


sitehttp://www.proerdpinhal.com.br/historiapinhal/16abril ou consulte as referências bibliográficas
citadas na matéria.

Depoimento

O texto de Ricardo Olivi ainda traz o depoimento de um escravo chamado Gabriel —que ficou
conhecido como Bié—, que narra a violência e o tratamento desumano que os escravos
recebiam. “Você não pode imaginar o que sofriam os pobres cativos nas fazendas de café”, diz
o escravo em um de seus relatos antes da abolição escravista. Mesmo após livre, Bié relata que
“o sol dos cativos é frio como a geada que branqueia as varges nas madrugadas de junho”,
explicando que mesmo livres jamais teriam de volta a paz e a tranquilidade em suas vidas.
“Nossa terra, a terra do sol, ficou lá longe, nossa família sumiu, tudo está morto e nosso coração
também está ‘defunto’”, dizia o escravo, já liberto, quanto à realidade dos negros que vieram ao
Brasil deixando em seu país seus familiares e suas raízes.

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