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A vida dentro do útero e a sabedoria do feto.

Entrada: Desde a fixação do futuro embrião às paredes do útero, até ao final da gravidez,
muita coisa acontece. Hoje podemos observar em direto a evolução das capacidades e
competências do feto, dar-nos conta da complexidade do seu mundo sensorial, da
construção do seu psiquismo, da forma como sente as diferenças entre o «dentro» e o
«fora» do útero materno, e sobretudo da importância da relação primordial com a mãe.

Ana Vieira de Castro

Ao contrário do que se pensava, quando nascem, os bebés não são tábua rasa. A ciência
revela que o feto absorve inúmeras sensações dentro e fora do útero, desenvolve
competências físicas e psíquicas, interage com a mãe e com o meio exterior. Ou seja,
afinal o feto é um sábio. E quando finalmente chega a hora de nascer, o bebé traz consigo
toda essa sabedoria para a sua nova realidade.

A biologia junta-se à psicologia para que possamos interpretar dados, números, imagens,
e deles tirarmos conclusões. Se a biologia aponta estudos sobre a verificação, in utero, da
aquisição de competências físicas precoces, a psicologia discerne sobre o extraordinário
fenómeno da “inteligência fetal”, a relação entre o amadurecimento do sistema nervoso e
o pensamento potencial de que o pré-nascituro dispõe, os comportamentos
individualizados manifestados pelos fetos no útero das mães, o papel da genética em todo
este processo, como decorre a vida emocional intrauterina e tantas outras coisas. Do que
não há dúvida é que no decorrer da gravidez, a relação entre mãe e filho tem uma
importância enorme no bem-estar da criança que vai nascer. As trocas emocionais entre
ambos vão muito mais longe do que se pensava, e o entendimento da natureza e da
profundidade dos vínculos afetivos, desde as origens da vida, ajuda-nos a compreender a
importância do afeto em todos nós.
Nostalgia do útero. A descoberta e a exploração do inconsciente foi acontecendo através
da análise dos sonhos, da observação e estudo de comportamentos e da nossa força
criativa, fonte de vida, motor de mudança e de regeneração. Hoje, a investigação
científica, dotada de meios tecnológicos cada vez aperfeiçoados, permite-nos visitar
lugares que estão mais fundo dentro de nós e que nos permitem ver de perto e de “dentro”
as raízes desse mesmo inconsciente, e como se desenvolve o feto desde que é concebido
até ao seu nascimento. Observar a vida uterina, permite-nos entender o processo de
construção do ser humano e a forma como se desenvolve, evolui e apreende a realidade
física e psíquica. Graças a descobertas tão revolucionárias e sofisticadas como a ecografia
podemos observar em direto e ao vivo como decorre, a par e passo, o desenvolvimento
do embrião até ao nascimento do bebé. Acompanhando a evolução das capacidades e
competências do feto, a tecnologia de hoje dá-nos conta da complexidade do seu mundo
sensorial, bem como a relação estabelecida com a mãe e não só. Avaliar a influência da
interação do feto com o ambiente externo também é possível, ou seja, podemos perceber
a forma como o feto vai sentindo, à medida que se desenvolve, as descontinuidades entre
o “dentro” e o “fora”, e os processos que estão na base da sua vida psíquica.

O despertar dos sentidos. Enquanto está no ventre da mãe o feto já tem uma série de
competências físicas e psicológicas, afirmam cientistas e psicólogos, o que significa que
a aprendizagem, ligada à crescente maturação do sistema nervoso, começa cedo. Nos
primeiros meses de desenvolvimento, o feto ainda não tem consciência do seu meio
ambiente, mas vai descobrindo o seu próprio corpo. Mexe-se em todas as direções desde
os primeiros meses, mas só ao terceiro mês, quando o seu sistema nervoso adquire maior
maturidade, é que seus movimentos se tornam progressivamente mais coordenados. Agita
então os seus membros e explora a capacidade dos seus músculos e das suas articulações.
Um pouco mais tarde, odores, sabores, sons e imagens impregnam o universo físico do
feto, enquanto ele flutua e cresce.

Sabe-se que, dentro do útero, o feto recolhe, em permanência, uma série de ruídos. Em
primeiro lugar, os sons biológicos que se produzem no corpo da mãe, como os barulhos
gastrointestinais, o som da respiração e as batidas cardíacas. Depois vêm os sons do
exterior, como a voz da mãe, e depois do pai, tal como os ruídos ambientais. No entanto,
nas primeiras semanas de gravidez, o sistema auditivo do feto ainda não está
suficientemente desenvolvido para funcionar em pleno. Só à 28ª semana começa a reagir
a um som exterior produzido perto da mãe. A partir da 35ª já consegue distinguir um som
agudo de um grave. No final da gravidez, ruídos muito fortes, como a música numa
discoteca, têm o efeito de o sobressaltar ou acelerar o seu ritmo cardíaco. Ouve também
distintivamente vozes que falem alto, no seu ambiente mais próximo. De todas, a que
melhor ouve, é sem dúvida a da mãe, porque esta lhe chega mais diretamente, sem ser
filtrada pelo ar.

Competências psíquicas e emocionais. Às competências físicas, juntam-se as psíquicas.


Quando nasce, o bebé está longe de ser tábua rasa, como já referido, no que diz respeito
às emoções, às perceções, à inteligência, aos afetos, a elementos de temperamento que,
segundo alguns autores, irão estar na base da personalidade, de motivação, inteligência e
formas de aprendizagem. Na base de todos nós, está, evidentemente, uma forte
componente genética, mas o desenvolvimento fetal, tal como o crescimento e
desenvolvimento posterior do bebé, serão afetados, como já se disse, pela influência da
relação íntima com mãe e com a interação com o meio exterior próximo.

Sobre a interação entre o feto e a mãe, a questão da “troca” emocional vivida entre os
dois, tem sido exaustivamente avaliada. Desde logo, sabe-se que o stress que a mãe possa
sentir em certos momentos da sua gravidez, é dos fatores de maior influência no estado
emocional do feto. Reflete-se não só na relação que a mãe estabelece com o feto, como
este é igualmente afetado pelos próprios sintomas da mãe, como a angústia, por exemplo,
e que no feto se manifesta de diversas formas, como aceleração do batimento cardíaco,
da pressão arterial, sudorese, tremores ou dilatação da pupila, produção de substâncias
como a adrenalina e a dopamina que atravessam a placenta e chegam ao feto, provocando-
lhe sofrimento, ou seja, fica triste, deprimido ou alegre, conforme o estado de espírito da
mãe. Alguns autores defendem que, se o estado emocional negativo da mãe persiste por
tempo prolongado, e se o stress, ansiedade ou tristeza forem constantes, o feto acaba por
ser marcado fisiologicamente por essa depressão, tendendo a proteger-se, o que atua como
uma defesa contra a dor. Se as perturbações emocionais da mãe persistirem, os bebés
podem nascer inquietos, com falta de apetite e cólicas, podendo apresentar baixo peso e
agitação. Contudo, se o sobressalto e mal-estar da mãe forem passageiros e pontuais, os
efeitos não serão marcantes. A satisfação, a descontração e o bem-estar da mãe são
extremamente benéficas para o feto. A relação emocional entre o feto e a mãe reflete-se
mais tarde, apresentando o recém-nascido hipersensibilidade ou baixa sensibilidade à
estimulação, o que lhes retira a tranquilidade e o equilíbrio. A relação emocional é
recíproca é e clara: o “tempo do útero”, dizia Bonomi*, “é o registo maior e mais fiel da
individualidade, e o requisito básico para obter o grande tesouro que o ser humano mais
deseja – a felicidade - pois é no útero que se aprendem as primeiras lições de amor”.

Caixa

Todos os fetos têm o direito de:

A. Viver apesar das dificuldades;

B. Ser poupado de conflitos familiares;

C. Ter um útero saudável;

D. Ser respeitado como um indivíduo;

E. Não ser sujeitado;

F. Ter segurança emocional;

G. Ser respeitado pelo médico que o trouxer ao mundo;

H. Ter atenção especial e concreta;

I; Viver no útero o tempo que desejar;

J. Não ser agredido pela ansiedade;

K. Não ser atingido pela depressão;

L. Ser amado acima de tudo.

Da autoria de Bonomi, A. (2002), Pré-natal humanizado: Gerando crianças felizes,


Atheneu São Paulo.

Dados recolhidos nos livros “A Maternidade e o Bebé” da autoria de Eduardo de Sá,


psicólogo e investigação no âmbito do feto e do bebé, e “Psicologia do Feto e do Bebé”,
de Eduardo de Sá, em colaboração com outros autores. Editora Fim de Século.

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