Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
1590/1982-02672016v24n0204
ABSTRACT: This article aims at reflecting about the school objects transnationalization3 at the
end of the nineteenth century, focusing on the chairs. During this structure period of the modern,
public and mandatory school, in many western countries, it was seen an international circula-
tion of speeches and knowledgmentes about the children’s body, the school citizen body, in the
Public Hygiene and School field. Besides the pedagogical, medical and hygienic issues, the
Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.24. n.2. p. 115-159. May - Aug. 2016. 115
4. Cf. Ulpiano Meneses industrialization, the technological inventions and the globalization, propitiate the manufactura-
(1998, p. 90).
tion and the difusion of a new object that would be much more necessary to the functioning of
5. Cf. Ulpiano Meneses the teaching institutions, the school desk. Through the school furniture industries’ catalogues, I
(1998, p. 92). argue about the desk more hegemonic patterns, exposed at the twentieth century Universal
6. Ver Ulpiano Meneses Expositions. I highlight the American and French factories which disputed the leadership of the
(1998). school furniture market, inside a context in which the school emerges as an important consumer
market. Through the Jury Report of the Pedagogical Exposition in 1883, in Rio de Janeiro, it is
7. Cf. Ulpiano Meneses
(1998, p. 95). possible to notice the technical and hygienic features that, in Brazil, were taken into account
when the desks were made. As a result, it is evident the two way street relation among school,
industry and the Universal Expositions. On the one hand, the school rotates the market. On the
other hand, the State depends on the market for production, in a high quantity and in a short
period of time, of a standard furniture which improves the teaching expansion.
Introdução
cionalização será central na análise. Bagchi, Fuchs e Rousmaniere8 falam em 10. Ver Jürgen Schriewer
(2004).
uma virada transnacional e defendem a recontextualização da noção de espaço
e redefinição de fronteiras territoriais. Para eles, os processos de glo-balização 11. Anotações de aula da
disciplina História cultural
requerem novas pesquisas que vão além das narrativas históricas tradicionais do museu moderno, dos
baseadas no Estado-nação. gabinetes de curiosidades
ao século XIX, ministrada
Fuchs salienta que o espaço não pode ser visto como uma categoria pela profa. Dra. Heloisa
objetiva, mas como “uma forma de representação e interpretação espacial coletiva Barbuy, no primeiro semes-
tre de 2010, na Faculdade
do grupo social e da comunidade”9. Segundo ele, o conceito de história transnacional, de Filosofia, Ciências e Le-
como história para além das fronteiras, refere-se a três aspectos: a) centra-se não em tras e no Museu Paulista.
espaços nacionais, mas em espaços que são mutáveis; b) considera os contextos das 12. Ver Heloisa Barbuy
(1999).
dependências, relações e envolvimentos transnacionais; c) examina o desenvolvimento
da nação como um fenômeno global.
Quanto às fontes, lancei mão de catálogos das indústrias de
mobiliário escolar e dos relatórios do júri da Exposição Pedagógica de 1883,
no Rio de Janeiro. Os catálogos dos materiais exibidos nas exposições universais
eram enviados às escolas que poderiam fazer seus pedidos às empresas. Os
relatórios do júri consistem em um documento elaborado por especialistas, no
qual descrevem os objetos que concorreram a prêmios, bem como os motivos
das premiações recebidas na exposição. Tais relatórios indiciam a apreciação
e a apropriação dos modelos de carteira disponíveis no mercado pelos
educadores brasileiros.
No fim do século XIX, fica em evidência a natureza tripla da
modernidade, apontada por Schriewer10: a) a transmissão de uma ideologia
da educação e do desenvolvimento particularmente moderna; b) a aceitação
global de modelos racionais de escolarização pública, conduzida pelo Estado;
c) e, finalmente, o processo mundial de uma expansão educacional pela
escolaridade obrigatória.
Essa modernidade se expressa nos objetos escolares, adquiridos
pelos Estados para promover a expansão educacional e a escolaridade
obrigatória. Para propagação dos objetos escolares, as exposições universais
contribuíram decisivamente.
Heloisa Barbuy11 defende que tanto os museus, quanto às exposições
podem ser mais bem compreendidos quando vistos em seu desenvolvimento
histórico, desde os gabinetes de curiosidades, a partir do século XVI, até atingir a
conformação com que se disseminam no século XIX. Visto na perspectiva da cultura
material e do contexto da sociedade industrial, o século XIX é período de mudanças
culturais expressivas, especialmente ligadas à visualidade, para cujo entendimento
análises sobre museus e exposições são estratégicas12.
Annals of Museu Paulista. v. 24. n.2. May - Aug. 2016. 117
13. Ver Mauricio Tenório Nas exposições, um conjunto de material e mobiliário escolar, dentre
Trillo (1988).
eles, as carteiras escolares, aparecem em abundância como exemplos do progresso
científico, técnico e material no campo da educação. Nesse momento, os modelos
ali apresentados são aqueles que deveriam figurar nas escolas e países que
pretendessem estar em dia com o progresso, também no campo da instrução.
Quanto à ideia de progresso, vale destacar a obra Artilugio de la Nación
Moderna: México en las exposiciones universales (1880-1930), de Mauricio Tenório
Trillo13. Ainda que seja examinada a presença do México nas exposições universais
com o objetivo de avaliar como tal participação sinaliza o conceito em formação de
uma nação moderna, e ainda que não trate do caso específico do Brasil, a obra é
representativa ao mostrar o impulso dos países em direção à modernidade. Essa corrida
é evidenciada pelo autor quando ele expõe características da segunda metade do
século XIX e início do XX que atravessam também as exposições: a) a liberdade
(veneração do livre comércio); b) o progresso (fundamentado na ciência e na indústria);
c) o nacionalismo (ostentação de uma pretensa superioridade racial e cultural, o
nacionalismo se tornou um requisito quase ontológico da modernidade).
Pensar o mobiliário escolar nas exposições ajuda a entender a escolaridade
obrigatória, a partir da cultura material, da história transnacional e econômica da escola,
e, ilumina aspectos relevantes da constituição da escola pública. O final do século XIX e
as exposições desse período (importante expressão da sociedade industrial) traziam uma
ordem transnacional articulada pelo comércio, pela tecnologia e pela mercadoria.
Por isso, é importante indagar: quais empresas comercializavam
carteiras escolares no período em estudo? Que tecnologias e materiais
empregavam em suas mercadorias? Que argumentos eram usados pelos
industriais para conquistar os diferentes Estados e suas respectivas escolas como
mercado consumidor? Como o Brasil participa desse processo de modernização
do mobiliário escolar?
Para abordar tais questões, o texto está dividido em três partes. Na
primeira, destaco os modelos de carteira apresentados nas exposições universais do
fim do século XIX. Cada empresa exibia aqueles que considerava mais modernos,
com emprego de novas técnicas e tecnologias, cujo design atendia aos padrões
ergonômicos ditados pela Medicina, pela Pedagogia e pela Higiene. Na segunda
parte, de outro modo, também coloco em evidência as disputas das empresas no
mercado de mobiliário escolar por meio da problematização das patentes de
propriedade industrial. Na terceira parte, analiso o relatório do júri da Exposição
Pedagógica de 1883, no Rio de Janeiro, demonstrando como o Brasil se insere no
processo da modernização da escola e seus objetos, no período em estudo.
Figura 1 – Mesa-banco
americano (Illinois), 1867. Imagem extraída do livro de Aimé Riant
(1874, p.124).
Figura 2 – Carteira e
banco norueguês, de
aluno em uma escola
sueca, 1867. Ima-
gem extraída do livro
de Aimé Riant (1874,
p.132).
Figura 4 – Novo modelo das escolas de Paris. Imagem extraída do livro de Aimé Riant (1874, p.164).
Pela França, Cardot expôs dois modelos. Uma carteira em teste na direção
de ensino rimário de Paris e um móvel que servia de carteira e banco (figuras 5 e 6).
O mesmo móvel possuía duas funções: banco e carteira. “O banco, em
posição abaixada serve de assento às crianças durante a recreação; em posição
levantada, serve de mesa para o almoço dos escolares”32. As duas placas de
madeiras eram ligadas por uma dobradiça que permitia a articulação do encosto.
Apesar de serem consideradas uma novidade, essas carteiras
“apresentam semelhanças com a carteira Windsor exibida em Paris em 1867”33.
Além dos modelos franceses, Peyranne apresenta os modelos mais representativos
de outros países. Os vindos dos Estados Unidos “[...] adquiriram, à época, uma
reputação inigualável pela elegância e solidez”34.
A carteira Andrew, de Chicago, possuía uma base de ferro. “A mesa é
integrada com o banco do aluno sentado à frente dele. Ela é munida de um tinteiro
e uma gaveta fechada por uma grade” (figura 7)35.
Observa-se que o modelo do sistema Stevens é semelhante ao do
sistema Andrew. Segundo a mesma autora, os americanos ganharam duas
distinções: o diploma de mérito concedido ao mobiliário da escola superior e da
escola normal de Boston; e uma medalha de mérito atribuída a Joseph Ross, de
Annals of Museu Paulista. v. 24. n.2. May - Aug. 2016. 123
Figura 5 – Sistema
Cardot – mobiliário
de pátio com encos-
to móvel. Imagem
extraída do livro
de Josette Peyranne
(2001, p.137).
Figura 6 – Sistema
Cardot – banco em
posição abaixada.
Imagem extraída
do livro de Josette
Peyranne (2001,
p.138).
Figura 7 – Da es-
querda para direita,
sistema Andrew e
sistema Stevens. Ima-
gem extraída do livro
de Josette Peyranne
(2001, p.138).
Figura 8 – Carteira de Boston (Sistema Ross). Imagem extraída do livro de Aimé Riant (1874, p.121).
2º. Limpeza, uma das considerações mais importantes na sala de aula, é obtida com
dificuldade onde a mesa fixa é usada, mas com a Carteira Peard é uma questão de
perfeita facilidade garantir uma sala arrumada e limpa; varrer não é mais difícil do que
em um salão aberto.
3º. A prateleira de livro está sempre acessível - uma vantagem não encontrada em nenhuma
outra carteira dobrável.
4º. A dobra da mesa aumenta muito sua durabilidade porque está fora do alcance de danos.
Figura 9 – Carteira da The National School Furniture Co., de Nova Iorque. Imagem extraída do livro
de Josette Peyranne (2001, p.139).
Figura 10 – Carteira The Peard Desk and Settee Combined. Imagem extraída do catálogo The Natio-
nal School Furniture Co. (1872, p.50).
5º. Elas são construídas com referência especial para o conforto e a saúde do aluno e o as-
sento e o encosto são assim moldados para garantir facilidade ao educando que, inconscien-
temente, é obrigado a assumir uma posição ereta e saudável.
6º. A dobradiça do assento (nossa patente) é silenciosa e é construída de forma a ser facilmen-
te apertada quando, através do uso longo e contínuo, o assento fica solto e frouxo no cilindro.
Assim, um conjunto perfeitamente silencioso é garantido enquanto o mobiliário está em uso. É
absolutamente a única dobradiça no mercado que é silenciosa, e continuará a ser assim.
7º. A escola pode com prazer ser transformada em uma espaçosa, confortável e elegante
sala para palestras e reuniões com propósitos para adultos. Em muitas localidades essa é uma
das mais importantes características, pois, assim, a Câmara Municipal e a sala de aula são
produzidas como resultado de um esforço. Professores de escolas seriadas também vão apre-
ciar essa vantagem, na qual salas de assembleia são necessárias em cada departamento.
8º. Elas são feitas da melhor madeira seca em estufa, com acabamento elegante; são perfeitamente
simples na construção; nenhum mecanismo, como em qualquer outro estilo de carteira dobrável.
9º. Quando comprar partes das carteiras desejando-as prontas para aparafusar no chão,
economizará mais da metade da despesa de frete, levando os Móveis Peard44.
1º. As peças fundidas são de peso extra (sendo 25 por cento mais pesadas do que as de
qualquer outra carteira) e são largas para assegurar a maior força possível.
2º. Os pés sobre os quais as peças fundidas repousam no chão são muito grandes e irão, se de-
sejado, admitir quatro parafusos em cada um, garantindo estabilidade perfeita para a carteira.
4º. Observe a curva bonita do braço do assento, que alcançamos através do número
de lâminas utilizadas.
5º. Observe o que uma forma compacta da carteira pressupõe quando o braço do assento e o
tampo da mesa são dobráveis. Não existem saliências de ferro perigosas deixadas expostas,
como é o caso de todas as outras carteiras dobráveis, e o espaço ocupado é apenas de meta-
de de qualquer outro estilo. As vantagens deste mobiliário não podem deixar de ser evidentes
para todos os diretores de escola. Não pode-se também exaltá-la muito em sua apreciação45.
Figura 11 – Carteira The Gem Desk. Imagem extraída do catálogo The National School Furni-
ture Co. (1872, p.10).
Figura 12 – Carteira
The Study Desk. Ima-
gem extraída do ca-
tálogo The National
School Furniture Co.
(1872, p.11).
Figura 13 – Carteira High and Normal School Desks. Imagem extraída do catálogo The Natio-
nal School Furniture Co. (1872, p.13).
Figura 14 – Carteira Sistema Lenoir. Imagem extraída do livro Le Mobilier Scolaire à l’Exposition
Internationale de 1878 (1878, p.17). Exposition de 1878. Bibliothèque Nationale de France.
forma de encarar a educação como um serviço lucrativo”59. 61. Cf. Ian Grosvenor,
Com isso, empresas comerciais reconheceram a escola como lugar (2005, p. 165).
de publicidade e de desenvolvimento de novos clientes 60. Fazendo uma 62. Cf. Ian Grosvenor,
(2005, p. 174).
exploração histórica das exibições educacionais Ian Grosvenor61 afirma que
“educação no mundo contemporâneo significa negócios”. As exposições, para 63. Cf. Josette Peyranne
(2001, p.141).
ele, permitem pensar a relação entre educação e consumo e têm um papel
importante na promoção de ideias educacionais, objetos e práticas. “A proposta 64. Ver Maristela Basso
(2000).
era ‘ver’ e através do ver, acreditar e, acreditando, ter um modelo de uma boa
prática para seguir”62. 65. CF. Maristela Basso
(2000, p. 23).
Cada empresa objetivava que os clientes acreditassem no seu modelo
de carteira como o mais inovador e higiênico. A respeito dessas disputas no âmbito
das Exposições, Josette Peyranne63 afirma:
Estas primeiras Exposições são muito inovadoras nos mobiliários apresentados. Cada país
desejava ser referência neste domínio. Eles se copiavam, criticavam, concebiam, propunham
claramente, tentavam vender. As várias honras e os prêmios distribuídos na Exposição de
Viena traduzem o novo interesse em relação à carteira. De fato, mobiliário escolar é uma
parte integrante da sociedade infantil escolarizada de meados do século XIX.
68. Cf. The National School os direitos privados para defesa da indústria e do comércio, como os direitos de patentes, de
Furniture Co. (1872, p. 7). desenhos e modelos de fábrica ou ornamentais, desenhos e modelos de utilidade e marcas,
defesa contra a concorrência desleal e contra as falsas indicações de proveniência dos pro-
69. Cf. The National School
Furniture Co. (1872, p. 12). dutos e outras regras afins67.
Outra forma de abrir novos mercados nos países mais distantes era
oferecer carteiras com custo mais baixo, mantendo algumas características do
mobiliário mais sofisticado, porém com material inferior. É o caso da The Economic
Desk, produto da The National School Furniture Co, para aqueles que desejassem
“um estilo barato e ainda substancial de mobiliário”69.
O assento dessa carteira era feito de ripas, curvado, dobrável, com
a mesma articulação conjunta e silenciosa das melhores mesas. “Nós
fornecemos esta carteira a um preço 20 por cento menor que a de nossos
estilos regulares e muito abaixo do preço de qualquer outra carteira
fabricada”70. Na pretensão dos fabricantes, era um modelo para desafiar e
dispensar qualquer competidor.
A questão da propriedade industrial estava de tal modo vinculada
às exposições universais que, em 1889, houve, no âmbito da Exposição
Universal de Paris, o Congresso Internacional da Propriedade Industrial, na
mesma cidade, sob a direção do Ministério do Comércio, da Indústria e das
Colônias francês.
A patente confere ao seu titular o direito de impedir terceiro, sem o seu consentimento, de 75. Ofício n. 110. Acervo
produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar com estes propósitos: I – produto objeto Histórico da Caetano de
Campos em São Paulo. Cor-
de patente; II – processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado74. respondência da Diretoria
(1893-1895).
Pode-se imaginar a importância desse instituto no contexto das
76. Ofício n. 115. Acervo
exposições universais e da expansão da escola de massa no mundo ocidental. A Histórico da Caetano de
circulação dos catálogos pelo mundo fazia parte do procedimento para venda e Campos em São Paulo. Cor-
respondência da Diretoria
aquisição das carteiras e outros objetos escolares em países distantes. Os catálogos (1893-1895).
eram enviados às escolas ou entregues pelos representantes e agentes comerciais, 77. Cf. Rubens Requião
os quais intermediavam toda a operação de compra e venda. (2011, p. 361).
É o que ocorre em 21 de novembro de 1894, quando o diretor da 78. Cf. Geo. & C. W.
Escola Normal de São Paulo, Gabriel Prestes, envia ao Secretário de Estado dos Sherwood (1864, p. 8).
em 20 de fevereiro de 1872, foi patenteado seu assento integrado. Apesar da 94. CF. Charles Delagrave
patente já implicar em proibição a terceiros de “produzir, usar, colocar à venda, (1890, p. 4).
RELATÓRIO/
DESCRIÇÃO AUTOR DOMICÍLIO REQUERENTE REGISTRO PATENTE
ANO
1. Carteira para uso
de escolas e colé- VIDAL, Amando VIDAL, Amando
Brasil, [Rio de Rio de Janeiro,
gios, denominada de Araújo Cintra de Araújo Cintra 1128 792
Janeiro - RJ 31/10/1889
Aparelho Mechani- (F) (F)
co Amando
Rio de Janeiro,
2. Móvel denomina- CARVALHO, CARVALHO,
08/06/1894; 1748
do Banco-Carteira Bernardo Pereira ? Bernardo Pereira ?
Rio de Janeiro,
Escolar de (F) de (F)
02/06/1902
3. Banco-carteira es-
Patente 1996
colar aperfeiçoado AULER, Cristóvão Brasil, Rio de Jules Géraud & Rio de Janeiro,
2875 Decreto
denominado Banco William (F) Janeiro, RJ Leclerc (PROC) (J) 14/01/1896
28/01/1896
Auler.
Patente 2012
4. Sistema aperfei-
WALLER, Eduardo Brasil, São Paulo Jules Géraud & Rio de Janeiro, Decreto
çoado de carteira e 2894
(F) - SP Leclerc (PROC) (J) 10/02/1896 19/02/1896
cadeira escolares.
5. Banco-carteira,
Patente 2077
denominada Paulis- MARAGLIANO, Brasil, São Paulo Jules Géraud & Rio de Janeiro,
2980 Decreto
ta, para serviço de José (F) - SP Leclerc (PROC) (J) 23/06/1896
13/07/1896
escolas.
6. Banco-carteira NOGUEIRA, Patente 2172
Brasil, Rio de Jules Géraud & Rio de Janeiro, 3110
denominado Adria- Adriano Júlio dos Decreto
Janeiro - RJ Leclerc (PROC) (J) 08/12/1896
no Nogueira Santos (F) 21/12/1896
7. Sistema de cartei- Patente 2373
ra, para uso das es- CARVALHO, João Brasil, Rio de Jules Géraud & Rio de Janeiro, Decreto
3398
colas, denominada Paulo B. de (F) Janeiro - RJ Leclerc (PROC) (J) 14/09/1897 14/10/1897
Carteira Progresso
8. Carteira escolar Rio de Janeiro,
PERRY, Luis (F) ? PERRY, Luis (F) ? 2411
15 de novembro 09/11/1897
Patente 2423
9. Carteira escolar CORREIA & CIA. Brasil, Juiz de Fora Jules Géraud & Rio de Janeiro,
3478 Decreto
portátil e econômica (J) - MG Leclerc (PROC) (J) 17/11/1897
25/11/1897
10. Banco escolar BRENNE, Rudolf Brasil, São Paulo Jules Géraud & Rio de Janeiro,
4017 2808
Paulista (F) - SP Leclerc (PROC) (J) 07/04/1899
11. Três bancos-
-carteiras escolares
SILVA, João de Brasil, Rio de SILVA, João de Rio de Janeiro,
denominados Muni- ? 3226
Castro Lima e (F) Janeiro - RJ Castro Lima e (F) 13/11/1900
cipal, República e
Estrela
12. Melhoramento
na invenção que faz
objeto da Patente
SILVA, João de Brasil, Rio de SILVA, João de Rio de Janeiro,
número 3226-Ban- ? 3226 BIS
Castro Lima e (F) Janeiro - RJ Castro Lima e (F) 30/09/1901
cos-Carteiras
Escolares
Observações
Consta do
CARVALHO,
envelope: “Aberto
Bernardo Pereira
e encerrado para
de (F);
serem reformados
15. Móvel deno- CARVALHO, Administr.(s)
Brasil, Rio de Rio de Janeiro, os desenhos.
minado Carteira Bernardo Pereira COCHRANE, 3457
Janeiro - RJ 23/10/1897 24/1/1898. Th.
Universal de (F) Tomás Wallace
Cochrane. J.C.
da Gama
Valdetaro. Ber-
VALDETARO, José
nardo Pereira de
Crispiniano
Carvalho”.
PAGLIARO, Fran-
16. Banco-carteira cesco (F) Brasil, Rio de Jules Géraud, Rio de Janeiro,
7457 ?
aperfeiçoada SANTORO, Janeiro - RJ Leclerc & Cia. (J) 28/09/1907
Giuseppe (F)
17. Banco-carteira
AULER, Cristóvão AULER, Cristóvão Rio de Janeiro,
escolar denominado 2545 ?
William (F) William (F) 17/11/1894
Sistema Cristóvão
18. Pé aperfei-
çoado para bancos
Brasil, Rio de Jules Géraud, Rio de Janeiro,
de carteiras escola- AULER E CIA. (J) 5579 ?
Janeiro - RJ Leclerc & Cia. (J) 02/05/1903
res e outros bancos
de assento levadiço
19. Melhoramento
introduzido na
NOGUEIRA,
invenção privile- Brasil, Rio de Jules Géraud & Rio de Janeiro,
Adriano Júlio dos 2172
giada pela Patente Janeiro - RJ Leclerc (Proc) (J) 25/11/1898
Santos (F)
n. 2172 (banco-
-carteira)
20. Pé aperfei-
çoado para bancos
Brasil, Rio de Jules Géraud, Rio de Janeiro,
de carteiras escola- AULER E CIA. (J) 5610
Janeiro - RJ Leclerc & Cia. (J) 30/05/1903
res e outros bancos
de assento levadiço
Fonte: Elaboração da autora a partir da Coleção Privilégios Industriais (PI): inventário analítico – conteúdo por notação / Equipe de
documentos do Executivo e Legislativo. 2ª. ed. rev. Rio de Janeiro: o Arquivo, 2013. Arquivo Nacional (Brasil). Coordenação de
documentos Escritos. Equipe de documentos do Executivo e Legislativo.
foram destaque durante a Exposição Industrial no Rio de Janeiro, em 1881, que 100. Cf. Moysés Kuhlmann
contou com uma seção da Instrução Pública”. O autor ainda acrescenta que “a Jr. (2005, p. 73)
Exposição Industrial de 1881 foi o primeiro impulso para a realização da 101. Cf. Moysés Kuhlmann
Jr. (2005, p. 73)
Exposição Pedagógica, em 1883, que também pretendia abrigar o Congresso
de Instrução”101. O congresso não foi realizado102, mas os pareceres elaborados 102. Sobre os motivos da
não realização do congres-
acerca dos objetos expostos são documentos férteis para identificação dos países so, ver Therezinha Collichio
participantes e das percepções dos pareceristas acerca da relevância de certos (1987, p. 7).
características exigidas, pois o Ministério da Instrução Pública da Bélgica recebeu 117. Trata-se de um peque-
diploma de honra “por ter sido a Bélgica o país que mais sobressaiu na Exposição no banco que serve de
apoio aos pés.
– Pelos especimens de mobilias escolares”116. Além dos bancos-carteiras, o país
118. Cf. Rio de Janeiro
exibiu mesa e cadeira de professor, escabelo117 (único país a expor esse objeto), (1883, p. 70).
armário-biblioteca, cabides, lavatório e pedras (tableaux).
119. Cf. Rio de Janeiro
Da França, duas fábricas enviaram seus produtos: Crédit des écoles, (1883, p. 33).
Walcker & Cia. e Garcet & Nisius. A primeira recebeu diploma de honra “Pela
mobilia escolar fabricada de conformidade com as disposições regulamentares do
governo francês, de 17 de junho de 1880”118. O material de fabricação da carteira
era madeira pintada de cores escuras. Tinha dois lugares, bancos e peças fixas “com
inclinação, e uma estante para livros. A distancia da carteira ao banco é nulla”119.
Garcet e Nisius, construtores e editores de Paris, apresentaram carteiras
de dois lugares, com tampo móvel, assento fixo, distância nula, polido e pintado
de escuro. No Catálogo Mobilier Scolaire et Materiel d’Enseignement de Garcet
e Nisius, publicado em 1882, há dois modelos de carteiras que poderiam ser
fabricadas com tampo móvel. Um deles, talvez fosse o mesmo móvel exposto um
ano depois na Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro (figura 15).
O modelo para uso em escolas infantis e primárias custava 10
francs por assento. A carteira para dois alunos custaria 20 francs. Se a mesma
carteira for solicitada com tampo articulado, o valor passaria a ser 28 francs.
A carteira para Escola Normal também poderia ser fabricada com tampo
articulado (figura 16).
Annals of Museu Paulista. v. 24. n.2. May - Aug. 2016. 145
120. As exposições locais Diferente da anterior, era fabricada com pés de ferro e custava 5
ocorriam em uma cidade ou
microrregião, via de regra, francs a mais por assento. Com tampo articulado, a carteira para dois alunos
como eventos preparatórios seria 38 francs (figura 17).
para as exposições nacio-
nais, que, por sua vez, en- O tampo móvel ou articulado acrescia 4 francs ao preço total da carteira.
volviam um país e tinham
um caráter preparatório
Cada dispositivo ou tecnologia empregada fazia a mercadoria ficar mais cara e
para as exposições mun- acessível a poucas escolas. Garcet & Nisius recebeu menção honrosa na Exposição
diais ou universais.
de Paris, em 1878, e medalhas de prata, sendo duas em 1880 (Melun e Le Mans)
121. Cf. Rio de Janeiro e uma em 1881 (Tours), provavelmente, exposições locais ou nacionais 120.
(1883, p. 76).
Para convencer o leitor e/ou cliente que as carteiras produzidas eram
122. Cf. Rio de Janeiro de acordo com o Regulamento de Jules Ferry, os construtores destacavam nas
(1883, p. 76).
páginas iniciais do catálogo artigos do Règlement Ministériel du 17 juin 1880. O
123. Cf. Rio de Janeiro Art. 90, por exemplo, estabelecia que a carteira deveria ser de um ou dois lugares;
(1883, p. 37).
o art. 96 prescrevia que a distância entre o assento e a superfície de trabalho
deveria ser nula. O Regulamento de 1880 determinava, ainda, um espaço abaixo
do tampo da mesa para guardar os livros (art.97) e um tinteiro móvel de vidro ou
porcelana, adaptado à mesa e colocado à direita do aluno (art.98).
Atender a cada um desses quesitos tornava o custo final do produto
mais elevado para o cliente, o que poderia transformar algumas carteiras,
premiadas por satisfazer diversas exigências higiênicas, em objeto de
contemplação nas exposições e não em objeto da escola. No Rio de Janeiro,
Garcet & Nisius recebeu diploma de honra “pelos moveis que expos para escolas
maternaes, fabricados segundo as prescrições regulamentares do governo
francês, de 2 de agosto de 1881”121.
Inglaterra foi o país que enviou maior quantidade de móveis escolares.
Da fábrica inglesa Geo, M. Hammer & Cia, fundada em 1858, vieram para a
exposição um modelo de banco-carteira do sistema Moss, um modelo Phoenix
(patenteado), um modelo Moss para jardim de infância, um banco-carteira com
estante para livros, um modelo para meninas, um modelo de caixa dupla, a
carteira individual Louise, a carteira conversível Osborne, uma mesa pedestal
para professor (combinação de mesa e armário com gavetas), uma carteiras com
armário para professor, uma carteira para adjunto contendo um armário com
porta, bancos de escola com pés de ferro fundido, tinteiros e tampos, bule de
tinta, porta-canetas, ganchos e cavaletes para mapas, cavaletes para pedras,
pedras móveis e fixas.
Essa casa comercial de Londres recebeu diploma de honra “pela
variedade de modelos de moveis que expoz para escolas primarias e da infância,
professores, adjuntos, e vários accessorios de uma classe, e nos quaes se acham
attendidos vários preceitos de hygiene”122.
Outra fábrica de Londres, H & G. Edwards, fundada em 1823, expôs
dois modelos de carteira, mesa para professor e adjunto, banco conversível e
banco para igreja. “Foram tambem expostos – cavalletes para desenho, e para
pedras fixas, pedras moveis, tinteiros e porta-tinteiros; mas a commissão não os
descreverá, por serem semelhantes aos da fabrica Hammer & Cia”123.
Figura 16 – Carteira
para Escola Normal.
Imagem extraída do
catálogo Mobilier
Scolaire et Matériel
d’Enseignement, de
P. Garcet e Nisius
(1882, p. 9). Biblio-
thèque Nationale
de France.
Incontestavelmente toda a mobília escolar americana é feita com um cuidado particular, des- 130. Cf. Rio de Janeiro
de o banco-carteira até a pedra ou quadro ardosiado e a própria esponja para esta pedra: (1883, p. 39).
acha-se no menor detalhe a applicação do útil e do confortável [...] Os educadores, nos Es-
131. Cf. Rio de Janeiro
tados Unidos querem, conforme diz Braun, que o alumno se ache na escola tão commoda- (1883, p. 40).
mente instalado, tão independente, como na sua própria casa, como si elle se sentisse real-
132. Cf. Rio de Janeiro
mente em sua residência129. (1883, p. 40).
Figura 18 – Carteira Modelo Cardot proposto em Paris. Imagem extraída do livro de Josette Peyran-
ne (2001, p.136).
Figura 20 – Carteira modelo André. Publicada em Revue Pedagogique (1879, p. 132). Ima-
gem extraída do livro de Josette Peyranne (2001, p.165).
Considerações finais
BASTOS, Maria Helena Camara. Pro Patria Laboremus: Joaquim José de Menezes Vieira
(1848-1897). Bragança Paulista: EDUSF, 2002.
______. A educação como espetáculo. In: STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena C.
(orgs). Histórias e memórias da educação no Brasil. Vol II: século XIX. Petrópolis, RJ: Vozes,
2005, p.116-131.
FUCHS, Eckhardt. History of Education beyond the nation? Trends in Historical and Educational
Scholarship. In: BAGCHI, Barnita; FUCHS, Eckhardt; ROUSMANIERE, Kate (orgs). Connecting
Histories of Education: Transnational and Cross-Cultural Exchanges in (Post-)Colonial
Education. Nova Iorque: Berghahn Books, 2014, p. 11-26.
GROSVENOR, Ian. Pleasing to the Eye and at the Same Time Useful in Purpose: a
historical exploration of educational exhibitions. In: LAWN, Martin; GROSVENOR, Ian.
Materialities of Schooling: Design, Technology, Objects, Routines. Oxford: Symposium
Books, 2005.
KUHLMANN JR., Moysés. A educação infantil no século XIX. In: STEPHANOU, Maria; BASTOS,
Maria Helena C (orgs). Histórias e memórias da educação no Brasil. Vol II: século XIX.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2005, p. 68-77.
LAWN, Martin. A Pedagogy for the public: the place of objects, observation, mechanical
production and cupboards. In: LAWN, Martin; GROSVENOR, Ian (éd.). Materialities of
Schooling: design, technology, objects, routines. Oxford: Symposium Books, 2005,
p.145-162.
LAWN, Martin; GROSVENOR, Ian (org.). Materialities of Schooling: design, technology, objects,
routines. Oxford: Symposium Books, 2005. (Comparative Histories of Education).
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Memória e cultura material: documentos pessoais no espaço
público. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 11, n.21, p. 89-104, 1998.
PEYRANNE, Josette. Le mobilier scolaire du XIXe siècle a nos jours: contribution a l’étude
des pratiques corporelles et de la pédagogie à travers l’évolution du mobilier scolaire.
Lille: ANRT, 2001.
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 30a ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
TRILLO, Mauricio Tenório. Artilugio de la Nación Moderna: México nas exposições universais
1880-1930. México: Editorial Fondo de Cultura Económica, 1998.
VIDAL, Diana Gonçalves. O museu escolar brasileiro: Brasil, Portugal e a França no âmbito
de uma história conectada (final do século XIX). In: FERNANDES, Rogério; LOPES, Alberto;
FARIA FILHO, Luciano Mendes de. (Org.). Para a compreensão histórica da infância.
Porto: Campo das Letras, 2006, v. 1, p. 239-264.
VIDAL, Diana Gonçalves; GASPAR, Vera. Por uma história sensorial da escola e da
escolarização. In: CASTRO, Cesar Augusto de. (Org.). Cultura material escolar: a escola e seus
artefatos (MA, SP, PR, SC e RS, 1870-1925). São Luís: Café & Lápis, 2011, v. 1, p. 19-42.
BROOKE, J.C. Catalogue church school and hall furniture. Cincinatio: The Firm, 1884.
GEO & C. W. SHERWOOD. A descriptive and illustrated catalogue of school furniture. Chicago:
Tribune company’s printing establishment, 1864.
J.A.BANCROFT & CO. Descriptive and Illustrated Catalogue of School Merchandise, Furniture,
apparatus, Charts, & C. Philadelphia: The Company, 1870.
RIANT, A. Hygiène Scolaire: Influence de l’École sur la santé des enfants. Paris: Librairie
Hachette & Cie, 1874.
ROSS, JOSEPH L. Illustrated Catalogue of Improved School, Church, and Vestry Furniture.
Boston: Hollis & Gunn, Book and Job Printers, 1872.
STERLING SCHOOL FURNITURE CO. Price list of school furniture. Albany/New York, 1875.
THE NATIONAL SCHOOL FURNITURE Co. Illustrated Catalogue of New and Improved Styles
of School and Church Furniture and School Apparatus. New York/Chicago, 1872.
BREWER, Eben. Vienna Universal Exhibition de 1873. Official catalogue of the American
Department. Nova Iorque: J. M. Johnson & Sons, 1873, p.99-114.
GARCET, P.; NISIUS. Mobilier Scolaire et Matériel d’Enseignement. Catalogue. Paris: Usine a
Faucogney et a la Coorveraine, 1882.