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BRASIL
Os últimos dias vem sendo de enorme comoção desde que o vídeo da brutal morte de
um cachorro vira-lata branco num supermercado Carrefour de Osasco, na região
metropolitana de São Paulo, viralizou nas redes sociais. O animal foi espancado e
envenenado por um segurança do local no último dia 28, conforme mostram as imagens
da câmera de segurança do estabelecimento, e acabou não resistindo aos ferimentos.
Internautas, ativistas pelos direitos dos animais, celebridades e políticos vem se
manifestando publicamente contra o bárbaro crime, uma mobilização que fez com que
cerca de 1,5 milhão de pessoas assinassem uma petição exigindo a punição do
funcionário. Uma manifestação foi convocada para sábado. O que está por trás de
tamanha comoção? Em um país estruturalmente tão violento em que barbaridades
cotidianas contra seres humanos são naturalizadas, por que as pessoas se sensibilizam
dessa forma com a morte de um animal?
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16/02/2019 A brutal morte de um cachorro vira-lata em um Carrefour leva o Brasil ao divã | Brasil | EL PAÍS Brasil
Assim, é mais fácil se mobilizar por um animal "que nos faz sentir maravilhosos" do que
por um sujeito que, sendo humano, é falível por natureza. Isso faz com o cão seja visto
como indefeso diante de quem deveria cuidar dele, alguém que é potente demais. "O
animal representa para a gente a natureza pura, sem ambiguidade, sem maldade. É o
ideal do que gostaríamos de ter para nós mesmos e não conseguimos, porque somos
um poço de ambiguidade. É um espelho que faz com que nos sintamos mais legais do
que estando em contato com os outros humanos. Narciso acha feio o que espelha ele
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demais", argumenta a Iaconelli. "Temos relações idealizadas, não queremos a vida como
ela é", acrescenta.
Tudo isso parece se refletir na mobilização nas redes sociais e na intensa cobertura
midiática a reboque dela em torno da morte do cachorro em Osasco, já que um jornal
"acaba sendo o espelho de tudo aquilo que já está sensibilizado na cultura, reflete uma
visão de mundo atual e uma demanda". Mas não só isso. Iaconelli lembra que muitas
famílias estão alçando cachorros a condição de filhos e trazendo para eles rituais que
são da ordem humana. "Até o século XVII e XVIII as crianças eram tratadas como os
cachorros hoje são tratados: todo mundo amava e cuidava, mas ninguém ficava
destruído se uma morria. Havia certa naturalidade nisso", explica. "Elas passaram a ser
vistas como seres que merecem cuidados especiais muito recentemente. E o mesmo
está acontecendo agora com os cachorros, muitos dos quais hoje têm plano de saúde,
herança, chá de bebê...", acrescenta.
Ainda que seja uma tendência global, Iaconelli enxerga alguns agravantes no Brasil,
onde "há uma quantidade absurda de crianças morrendo dentro de casa vítimas de bala
perdida e há uma naturalização disso". Para ela, o brasileiro faz pouca reflexão e
autocrítica. "Existe uma certa história que o brasileiro conta para ele mesmo sobre
como ele é bonzinho, como ama criança, ao contrário dos europeus, taxados de muito
frios", conta. "Eu passei a vida inteira ouvindo isso, ao mesmo tempo que vi a vida inteira
criança pedindo esmola no sinal de trânsito. Como assim a gente ama criança e tolera
isso?", questiona. E arremata: "O brasileiro tem dificuldade de se olhar no espelho e vai
criando uns mitos sobre si mesmo. Um pouco de reflexão poderia colocar as coisas no
lugar".
O bárbaro crime contra o cachorro do Carrefour —notícias dão conta de iria ser adotado
por um funcionário do estabelecimento— já fez com que o Ministério Público de São
Paulo e a Polícia Civil instaurassem uma inquérito para apurar a ocorrência. A delegada
Silvia Fagundes Theodoro, da Delegacia de Meio Ambiente de Osasco, disse que não há
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dúvidas sobre a agressão, segundo informou o jornal Extra. O responsável poderá ser
indiciado pelo delito de maus-tratos contra animais, podendo ser condenando de três
meses a um ano de prisão e a pagar uma multa. Aliás, diante do ocorrido, o senador
Randolfe Rodrigues (REDE) propôs um projeto de lei que aumenta a pena de prisão para
até três anos e estabelece multa também para os estabelecimentos comerciais que
"concorreram a prática de maus-tratos, direta ou indiretamente". O deputado federal
Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito e questionador aberto do conceito de
direitos humanos, gravou um vídeo sobre o crime. Por outro lado, o Carrefour soltou
uma nota em que reconhece o ocorrido e garante que não vai se eximir de sua
responsabilidade. "Somos os maiores interessados para que todos os fatos sejam
esclarecidos. Por isso, aguardamos que as autoridades concluam rapidamente as
investigações. Desde o início da apuração, o funcionário de empresa terceirizada foi
afastado".
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