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ouvir suas declarações sobre o que acabavam de fazer, achou lamentável o que tinha acontecido. Tais
homens não deveriam ser castigados por terem feito uma coisa assim? A criança não é prejudicada? “
*Infibulação: operação praticada no ser-humano ou no animal que consiste em fechar os orifícios genitais por uma sutura ou pala
introdução de anel ou colchete, a fim de impedir relações sexuais;
Sem dizer que os efeitos destes castigos na criança, do ponto de vista físicos e psicológicos
eram imensos. Muitos adultos se recordavam de que, quando crianças, eles tinham tido
pesadelos recorrentes e até mesmo alucinações quando deitavam à noite e despertavam
aterrorizados por fantasmas ou demônios imaginários, “uma bruxa no travesseiro” ou “um
cachorro preto grande debaixo da cama”, ou “um dedo dobrado que rasteja pelo quarto.”
História está cheia de relatos de crianças que tentam se ajustar de forma compulsiva,
dançando de forma maníaca, perdendo a audição e a fala, perdendo a memória, tendo
alucinações com demônios e até mesmo, relatos de relacionamentos sexuais com o diabo.
Nem os pais ajudaram com a angústia mental de suas crianças, na medida em que não
souberam dar-lhes conforto. Pensava-se que o modo mais adequado para que uma criança
aceitasse e superar seus medos era fazê-las enfrentar tais sentimentos mais concretamente e
de frente. Para conseguir isso os adultos levavam as crianças para “visitar” as forcas onde
ainda estavam corpos apodrecendo, ainda pendurados, deixados nos locais de execução pelo
exército. Enquanto as crianças observavam o espetáculo bizarro, seus pais contavam-lhes
histórias sobre moralidade. Nas escolas, classes inteiras de alunos eram organizadas para
testemunhar enforcamentos. Alguns pais também levavam suas crianças para assistirem a
enforcamentos e depois, surravam as crianças para que elas se lembrassem do que tinham
visto. Até mesmo um humanistas como Mafio Vegio, que protestou contra surras em crianças,
dizia que deixar as crianças testemunharem uma execução pública, de vez em quando, não era
urna coisa tão ruim assim”. O efeito que a visão dos cadáveres tinha sobre as crianças era
claro e intenso. Urna pequena menina, depois que sua mãe lhe mostrou o cadáver fresco de
seu amiguinho de nove anos, como um exemplo para que ela se comportasse, saiu dizendo:
“Eles colocarão a filha num buraco bem fundo. O que fará a mamãe ? “Outro menino, depois de
assistir a enforcamentos, despertou gritando à noite e “acabou por enforcar seu próprio gato.” A
religião era uma fonte adicional de terror. Era dito ás crianças que Deus os “segurava sobre
uma cova de fogo (inferno), da mesma forma que uma pessoa segura uma aranha, ou outro
inseto repugnante, sobre o fogo”. Livros infantis descreviam o inferno como segue: “A pequena
criança está neste forno incandescente. Ouça como ela grita para sair. Força seus pequenos
pés contra o chão “Eram utilizadas várias figuras dessa natureza, para aterrorizar e controlar as
crianças. “Se você for ruim, o lobisomem vai pegá-lo”, “O Barba Azul vai espetar você”, “Boney
vai comer sua carne”,” O homem preto vai roubar você à noite.” Esta necessidade de
personificar figuras punitivas era, na realidade, tão poderosa que alguns adultos se vestiram
com roupas usadas para festas a rigor, e mesmo que parecessem tolos, amedrontavam as
crianças. Um escritor inglês, de 1748, explica essa prática:
“Uma enfermeira leva uma fantasia assustadora, para aquietar uma criança que, segundo ela,
é mal- humorada. Com esta intenção, vestida como uma figura grande e rude, entra no quarto,
ruge e grita com a criança deforma desagradável e feia, rangendo os dentes, com a boca
aberta até as orelhas o que, com sua aproximação, dava a impressão de que ia engolir a
criança.” Um outro escritor, em 1882, descreveu como a enfermeira da filha de seu amigo quis
assustar uma criança, para que ela não saísse da cama durante a noite, enquanto seus pais
estavam fora. Assim, a enfermeira falou para a pequena menina que um horrível homem
vestido de preto, estava escondido no quarto e ia pegar a menina no momento em que ela
saísse da cama. Então, a enfermeira fez uma enorme figura de papelão, onde desenhou um
homem preto com olhos assustadores fixando quem o visse, e uma boca enorme. Pegou a
figura e colocou-a diante dos pés da cama onde a pequena criança inocente tinha acabado de
adormecer. Assim que a noite terminasse, a enfermeira voltaria para retirar a figura. Ao
amanhecer, quando abriu a porta devagar e silenciosamente, a enfermeira viu a pequena
menina sentada na cama, encarando com agonia de terror o monstro, com ambas as mãos
convulsivamente agarrada aos seus cabelos. A menina estava morta! Antes do século
dezenove, com a socialização, alguns pais já não precisavam mais aterrorizar, bater ou seduzir
sexualmente suas crianças, e os meios psicológicos mais suaves começaram a ser usados
para “Socializar” a criança. O modo de socialização ainda é o principal meio de educação nas
nações Ocidentais, e se caracteriza pelo papel da mãe como treinadora e o pai como provedor
e protetor. A criança, acredita-se, é vista como sendo feita para se conformar “lentamente” com
o modelo de bondade dos pais. Muitas das práticas abusivas que inseriam a violência, estão
reduzidas nos lares atuais, mas permanecem em outros pontos das sociedades. Elizabeth I foi
seduzida sexualmente quando era menina, por aqueles que cuidavam dela e Louis XV tinha a
Senhora du Barry para obter pequenas meninas para que ele as estuprasse no quarto real. No
século dezenove os pais cometeriam o incesto menos frequentemente, mas ainda enviavam
suas crianças para escolas onde elas eram eroticamente chicoteadas nas nádegas nuas e
normalmente curradas pelos mestres e meninos mais velhos. John Addington Symonds relata
sua experiência infantil, na escola pública:
“Todo menino de bom caráter tinha um nome feminino e era tido como uma espécie de
prostituta pública ou como a “menina (no original Ebitch)” de algum companheiro maior Cadela
era uma palavra comumente usada para indicar um menino que se rendia a um amante, A
conversa nos dormitórios e os estudos eram
inacreditavelmente obscenos. Aqui e lá as pessoas não poderiam deixar de ver atos de onanismo,
masturbação mútua, ou jogos esportivos de meninos nus juntos, nas camas.”
Os reformadores do século dezenove tentavam trazer a sociedade, como um todo, para uma
forma socializada, através de legislação criada para prevenir completamente as surras e o
abuso sexual de crianças que, claro, ainda ocorriam na maioria de famílias ao redor deles. Mas
aquelas pessoas que tentaram se opor às curras e surras contra os meninos nas escolas eram
contrariadas pelos pais que diziam: “Tais fatos não me ferem e nem me preocupam). Aqueles
que tentaram criar uma legislação para regularizar a mão-de-obra infantil a fim de reduzir as
horrendas condições de funcionamento e horas de trabalho infantil, foram rotulados de
comunistas. E aqueles que pensavam que as pessoas poderiam tratar suas crianças de forma
amável, foram considerados visionários e pouco práticos. Mesmo assim, com o decréscimo da
sedução parental e das agressões durante a introdução do modo intrusivo, produziu-se uma
explosão de inovações sociais, na medida em as nações produziram as revoluções
democráticas e industriais do período moderno. Como o Hanns Sachs mostrou há muito tempo,
num de seus trabalhos: “A Demora da Idade da Máquina”, quando as pessoas da antiguidade
inventaram a máquina a vapor, elas só ousaram usá-la para os brinquedos de crianças. Foi só
depois de quinze séculos de evolução dos cuidados com as crianças que o vapor pôde
começar a ser usado com menos receio e, finalmente, mais adultos individuados estavam
disponíveis para ampliar o poder em benefício do gênero humano. Como o fogo do inferno e a
disciplina física foram substituídos por outros métodos mais adequados de cuidar das crianças,
foi a psicoclasse socializadora que construiu o mundo moderno, com seu democrático e
inovador sistema de sociedades dominadas pelas classes. Que tipo de sociedade poderia se
obter com crianças expostas às mais recentes formas de educação infantil - forma que eu
tenho chamado de “Modo de ajuda” - por meio da qual uma minoria de pais está tentando
ajudar suas crianças a definir e alcançar as suas próprias metas, em cada fase de vida, em
lugar de quererem socializá-los com as metas dos próprios adultos, é algo que ainda está por
acontecer e ainda acontecerá. Eu suspeito que está, será uma maneira bem diferente daquela
usada no sistema atual de centralização de classes, e mais empático do que o mando
socializado atual com o qual nós estamos familiarizados. Esta forma de ajudar as crianças em
seu crescimento permite que surjam homens que sejam incapazes de criar guerras e, é
evidente, capaz de criar sentimentos anti- guerra em nossas crianças e nos seus amigos que
foram criadas por seus pais dessa mesma maneira. A guerra só é compreensível como um
ritual sacrificatório, no qual homens jovens são enviados por seus pais a um campo de batalha,
para serem machucados e matarem em nome de uma independência a ser conquistada. Psico-
historiadores observaram certa regularidade nos temas encontrados nas capas de revistas e
nas caricaturas políticas, naqueles meses que precediam uma guerra (não anunciada). Essas
observações revelavam que uma nação rica fica mais vulnerável a seus medos e isto pode ser
observado nas imagens de mulheres perigosas, que ameaçam engolir e ferir as pessoas. Tais
regressões que são, eventualmente, produto das fantasias de grupo, produzem ansiedade
porque observa-se que o sacrifício de vítimas inocentes é necessário, e a outra nação que
também precisa de um sacrifício semelhante, fica definida. Essas fantasias de grupo são tão
habituais nas mídias, que eu pude prever, por exemplo, com antecedência de meses, a Guerra
do Golfo Pérsico, antes que o Iraque invadisse o Kuwait, localizando nas mídias americanas
uma excitação de imagens de mamães vorazes e crianças culpadas que precisavam de
castigo. Esses sacrifícios periódicos são, na realidade, legais e sugerem pela regularidade com
que eles acontecem, que quase todo estado produziu uma guerra importante, em média, a
cada 25 anos ao longo dos últimos dois milênios. As guerras e os sacrifícios econômicos
periódicos servem para aliviar nossa culpa pelo excesso de prosperidade e nos livrar de nosso
progresso econômico e social perigoso. A psicologia profunda mostrou que, um indivíduo que
progrediu para individuação e para o sucesso sempre vai passar por uma regressão, que inclui
tanto os medos de deixar a mamãe e desejos de ser re-engolfado pela mãe, como também o
medo de perder seu próprio Eu. Com as nações, mecanismos semelhantes acontecem depois
de períodos de mudanças rápidas e prosperidade, e é aí que surgem os rituais sacrificatórios a
que chamamos de guerra.
A TAREFA DO FUTURO
Que toda a violência social - seja ela por guerra, revolução ou exploração econômica - é, no
final das contas, uma conseqüência do abuso das crianças, é uma afirmação que não deveria
nos pegar de surpresa. A tendência para re-infringir traumas de infância nos outros e a
violência socialmente aprovada pode realmente explicar melhor e predizer a erupção atual de
guerras do que as motivações econômicas habituais, e é provável que nós continuemos
sofrendo nossos rituais sacrificatórios periódicos de guerra, se continuarmos a infringir traumas
em nossas crianças. Uma evidência clara foi publicada no “O Diário de Psico-história” de que,
quanto mais traumática for a infância de um indivíduo, mais provável se terna a possibilidade
de que a pessoa esteja a favor de soluções militares para os problemas sociais. Do ponto de
vista tecnológico, a raça humana pode agora satisfazer adequadamente suas necessidades -
principalmente se nós pudermos viver juntos e sem violência. A menos que nós empreguemos
nossos recursos sociais atuais para ajudar a melhorar de maneira consciente a evolução dos
cuidados com as crianças, nós seremos sentenciados à destruição periódica de nossos
recursos naturais, materiais e
Internacional de Psico-história) e pode ser encontrado em 140 Riversíde Drive, New York, New York
10024. Ele é o autor dos livros: Me History of Childhood, Foundations of Psychohistory (A história da
infância: Fundamentos de Psico- história) e Reagan’s América (A América de Reagan).
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
Este artigo foi escrito baseado numa pesquisa extensa do material destacado no decorrer do texto, e 6.000
fontes de informações. Tais fontes e informações podem ser encontradas nos seguintes documentos:
1. Lloyd deMause, Me Evolution of Childhood.’ in his Foundations of Psychohistory. New York:
Creative
Roots, 1982. 2.”On Writing Childhood History.”The Journal of Psychobistory 16 (1988):135-171.
3.Me History of Child Assault.” The Journal of Psychohistory 18(1990):1-29. 4.”The Universality of
Incest”
The Journal of Psychohistory 19 (1991):123-164.