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Belo Horizonte
2017
Anselmo Paulo Pires
Belo Horizonte
2017
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Meus agradecimentos:
The present work is linked to the line of research "School Education and Teaching
Profession" of the Postgraduate Program in Education of the Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais/Brazil. This is a multiple case study focused on student-
workers attending mid-level technical evening classes at two institutions of the Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. One of the institutions is
located in the capital Belo Horizonte and the other in the city of Ouro Preto, both in
Minas Gerais. The research started from the problematic on the difficulty of access
and permanence to good quality education by social, ethnic, geographic, cultural
and, mainly, socioeconomic groups. Throughout history, Brazilian education has
presented great segregations, which can especially be seen in the construction of
two very different paths: one aimed at the heirs of the wealthiest classes and the
other destined to the children of the marginalized social strata, for whom the right to a
good quality education has been denied. The objective of this research was to
delineate and analyze the personal, professional and student profiles of student-
workers, in order to analyze the effects of their trajectories in achieving professional
and academic success or failure. In order to achieve this objective, we used
quantitative-qualitative research using investigative techniques such as bibliographic
research, documentary analysis, questionnaire, free and non-systematized
observation and semi-structured individual interview. The questionnaires made it
possible to obtain data about the subjects of research, by using pre-determined
variables that allowed the apprehension of their profiles, that is, their peculiar
characteristics. The interviews enabled the collection of indicators, which, through
analysis techniques, data interpretation and later content analysis, led to logical
deductions and inferences, enabling the perception and knowledge of student-
workers attending mid-level technical evening classes of the loci of research.
Although the overviews presented are partial and limited, the empirical evidence
supports the thesis that the permanence in both work and school should not be seen
as distant and separate, as one of them was real, present and tangible, and the other
was surreal and fictional. Such framework leads student-workers to focus more on
the work environment and gradually moves them away from school, since work
meets immediate needs, while education is characterized as a non-concrete and
future possibility. Therefore, the polarization between the provision of daytime
education for the privileged and the provision of evening classes for the needy differs
from the principle of social justice. We conclude that these results may point to new
perspectives for public policies aimed at workers, which may enable reflections in the
ambit of governments, also in the academic and business environment, in order to
promote intercessions aimed at creating more and better opportunities for workers
who study.
AI Ato Institucional
ANFOPE Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da
Educação
ANPAE Associação Nacional de Política e Administração da Educação
ANPED Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CBAI Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial
CCE Concomitância Externa
CEB Câmara de Educação Básica
CEDI Centro Ecumênico de Documentação e Informação
CEETPS Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza
CEFET-MG Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais
CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
CEPETI Comissão Especial para Execução do Plano de Melhoramento e
Expansão do Ensino Técnico e Industrial
CFE Conselho Federal de Educação
CFMO Conselho Federal de Mão de Obra
CHAVE Conhecimento, habilidade, atitude, valores e emoções
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNCT Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos de Nível Médio
CNE Conselho Nacional de Educação
CNI Confederação Nacional da Indústria
CODEFAT Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador
CONFEA Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
CONFETEC Conferência Nacional de Educação Profissional e Tecnológica
COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais
CREA Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura
CSN Companhia Siderúrgica Nacional
CST Cursos Superiores de Tecnologia
CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
DCNEPT Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional
Técnicas
DEMAT Departamento de Engenharia de Materiais
DOU Diário Oficial da União
EAD Educação a Distância
EJA Educação de Jovens e Adultos
EM Ensino Médio
EP Educação Profissional
EPEM Equipe de Planejamento do Ensino Médio
EPT Educação Profissional Tecnológica
EPTNM Educação Profissional Técnica de Nível Médio
ETE Estação de Tratamento de Esgotos
ETF Escolas Técnicas Federais
EUA Estados Unidos da América
FAT Fundo de Amparo do Trabalhador
FHC Fernando Henrique Cardoso
FIAT Fabbrica Italiana de Automobili Torino
FIC Formação Inicial e Continuada para Trabalhadores
FIES Financiamento Estudantil
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
FMI Fundo Monetário Internacional
FNEPM Fundos Nacionais do Ensino Primário e Médio
GOT Ginásios Orientados para o Trabalho
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES Instituição de Ensino Superior
IF Institutos Federais
IFET Instituto Federal de Educação Tecnológica
IFETC Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
IFMG-OP Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Ouro Preto
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
ISA Instituto Socioambiental
LBDEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
LDB Lei de Diretrizes e Bases
LGBT Lésbicas, gays, bissexuais e transexuais
MEB Movimento de Educação de Base
MEC Ministério da Educação
MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização
MT Ministério do Trabalho
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
NDI Núcleo de Direitos Indígenas
OIT Organização Internacional do Trabalho
OMS Organização Mundial da Saúde
ONG Organização não governamental
OP Ouro Preto
PASEP Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PDE Plano de Desenvolvimento da Educação
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional
PEA População Economicamente Ativa
PIPMO Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra
PIPMOI Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra Industrial
PIS Programa de Integração Social
PLANFOR Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador
PLS Projeto de Lei do Senado
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
PLV Projeto de Lei de Conversão
PNE Plano Nacional de Educação
PNQ Plano Nacional de Qualificação
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPGE Programa de Pós-graduação em Educação
PREMEM Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio
PRODABEL Empresa de Informática e Informação do Município de Belo
Horizonte
PRODEMO Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Mão de Obra
PROEJA Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino
Médio, na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos
PROEP Programa de Expansão da Educação Profissional
PROJOVEM Programa Nacional de Inclusão de Jovens
PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
PRONERA Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PT Partido dos Trabalhadores
PUCMINAS Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
RCAAP Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal
RFEPCT Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica
RFET Rede Federal de Educação Tecnológica
SAIN Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEMTEC Secretaria da Educação Média e Tecnológica
SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SENAT Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte
SENETE Secretaria Nacional de Educação Tecnológica
SESC Serviço Social do Comércio
SESCOOP Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo
SESI Serviço Social da Indústria
SEST Serviço Social do Transporte
SESU Secretaria de Educação Superior
SETEC Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
SNET Sistema Nacional de Educação Tecnológica
SNFMO Sistema Nacional de Formação de Mão de Obra
SNFP Sistema Nacional da Formação Profissional
SPPE Secretaria de Políticas Públicas de Emprego
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UDN União Democrática Nacional
UECE Universidade Estadual do Ceará
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFOP Universidade Federal de Ouro Preto
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNED Unidades de Ensino Descentralizadas
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
UNICEF Agência das Nações Unidas para a Infância
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
USAID Agência Norte-americana de Desenvolvimento Internacional
UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná
SUMÁRIO1
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 24
1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo
Ortográfico assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa
(CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com as Orientações para
Elaboração de Trabalhos Técnico-científicos da PUCMINAS 2016.
4.4 A pesquisa qualitativa: condições gerais ........................................................... 200
4.4.1 Categorias iniciais ........................................................................................ 205
4.4.2 Categorias intermediárias ........................................................................... 206
4.4.3 Categorias finais .......................................................................................... 245
1 INTRODUÇÃO
A escola tem que ser inclusiva, não pode ser discriminatória e tem que criar
mecanismos para que todos os alunos se interessem pelo que está
acontecendo no espaço escolar. A educação para Paulo Freire significa
tanto a necessidade de uma formação técnica, científica, profissional, como
o desenvolvimento de sonhos e utopias. (ABRAMOVAY, 2008, p. 2).
2 O uso do hífen indica a ideia de indissociabilidade e de mútua implicação, não de separação entre o
fato de ser trabalhador e aluno.
26
3Kuenzer (2002; 2007) considera que existe uma exclusão includente, na ponta do mercado, que
exclui para incluir, em trabalhos precarizados, ao longo da cadeia produtiva, dialeticamente
27
complementada pela inclusão excludente na ponta da escola, que, ao incluir em propostas desiguais
e diferenciadas, contribui para a produção e para a justificação da exclusão.
28
4 Esclarece-se que nesta pesquisa foi priorizada a 3ª pessoa do singular, mas nestes parágrafos
relativos à justificativa, por se contemplar questões ligadas à vida pessoal e profissional do autor
desta investigação, foi usada a 1ª pessoa do singular.
29
profissionalizante noturno. Portanto, o fato de poder fundir essas duas temáticas que
se complementam entre si - o ensino noturno e o trabalhador-aluno - torna-se um
grande desafio para o autor deste texto, que pode contribuir para a elucidação de
questões importantes, que permeiam os referidos temas.
Destacam-se como fatores, também fundamentais para a escolha do tema, a
experiência profissional na área de mecânica e a formação acadêmica escolar
secundária, adquirida em uma instituição profissional da Rede Federal de Educação
Profissional no início da década de 80, nela ingressando como trabalhador-aluno em
um curso técnico noturno de Eletromecânica, com 21 anos de idade.
A experiência profissional na área de mecânica, área em que este
pesquisador atua como docente, foi iniciada a partir dos 16 anos de idade em um
curso de qualificação profissional de Mecânica de Manutenção de Máquinas
Pesadas no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)5, que possibilitou
exercer a função na construção de ferrovias no Iraque e direcionou à escolha do
curso técnico anteriormente mencionado.
Nos últimos anos as mudanças ocorridas no cenário das políticas públicas
para a educação profissional são acompanhadas de perto por este pesquisador
como instrutor de mecânica no SENAI, como professor de um curso técnico desde
1992, seja como membro dos colegiados internos da instituição em que este autor
trabalha e/ou como coordenador do curso Técnico em Mecânica. Nessa perspectiva,
puderam-se vivenciar os efeitos das mudanças na legislação educacional,
principalmente a referente à educação profissional, antes e depois da LDBEN de
1996, dos Decretos nº 2.208/97, nº 5.154/04 e nº 6.095/07 e da Lei nº 11.892/08
(BRASIL, 2008), que foram veiculados recentemente6.
Em 2006, ingressando no curso de mestrado em Educação do Centro Federal
de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), foi realizada pesquisa com
alunos egressos de cursos técnicos, que objetivava identificar os direcionamentos
ocorridos na educação profissional de nível médio a partir de meados da década de
90, quando essa temática estava em plena efervescência devido à substituição do
5 Esse curso de qualificação ocorreu na Construtora Mendes Júnior, em decorrência e vigência da Lei
nº 6.297/75, que dispôs sobre a dedução do imposto para as empresas que investissem em projetos
de formação profissional, como será abordado no capítulo 2 desta tese, referente à História da
Educação Profissional.
6 Enfatiza-se que tais referências normativas, entre outras, estão descritas e contextualizadas no
educação profissional vem cumprindo importante papel social, apesar de ela ora
apresentar avanços, ora promover retrocessos conceituais e práticos.
A experiência própria levou a perceber a importância de a EPT atender,
reitera-se, os segmentos sociais tradicionalmente excluídos, ofertando-lhes
oportunidades de estudo em instituições de ensino de boa qualidade, permitindo-
lhes a ampliação de seu campo de possibilidades, tanto no acesso à educação
superior quanto ao mercado laboral. Se, por um lado, a inserção educacional e
social desses alunos vem sendo propiciada, por outro, esses sujeitos ainda
enfrentam sérias dificuldades de acesso e permanência nas tradicionais instituições
públicas federais de educação profissional.
Os trabalhadores-alunos trazem consigo um acervo de experiências
socioeducacionais e culturais que vêm marcando suas práticas laborais e escolares.
Essa constatação permitiu construir tanto problematizações, a partir da experiência
própria como docente do ensino noturno, quanto da revisão bibliográfica que foi
realizada acerca das produções acadêmicas, que possibilitaram o levantamento
dessas indagações: Quais foram as características e peculiaridades referentes ao
ensino profissionalizante noturno no qual os trabalhadores-alunos pesquisados
estão inseridos? Quais foram as facilidades e dificuldade que esses sujeitos vêm
vivenciando no curso Técnico em Edificações? Em síntese, como podem ser
definidos os perfis desses estudantes pesquisados?
Pode-se afirmar que a proximidade do aluno com o mercado de trabalho tem
a principal característica que distingue a escola noturna da escola diurna. Tendo em
vista essa realidade, considera-se e reafirma-se que esta pesquisa pode se tornar
importante na medida em que os dados por ela coletados contribuiriam para melhor
compreensão das dificuldades e/ou facilidades vivenciadas pelos trabalhadores-
alunos. Dessa forma, oferece informações importantes para os gestores
institucionais e mesmo das políticas públicas, abrindo novas perspectivas tanto para
os cursos ofertados no turno da noite, quanto para pesquisas futuras sobre o tema.
Então, o estudo dos perfis pessoal e profissional desses sujeitos e a análise
tanto das políticas públicas direcionadas para a educação profissional e
destacadamente para os trabalhadores-alunos do noturno quanto para o processo
de desenvolvimento das suas formações no âmbito de dois loci de investigação
ligados a uma tradicional rede de educação profissional se constituem como objeto
ampliados deste estudo, estabelecido como problema relevante para a sociedade.
32
7 Deacordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 52), a “orientação teórica” ou “perspectiva teórica” se trata
de um modo de entendimento do mundo, das asserções que as pessoas têm sobre o que é
importante e o que é que faz o mundo funcionar. Para Demo (1995, p. 89), a dialética não é
necessariamente marxista ou antimarxista, a começar pela constatação inevitável de que não existe
um marxismo único dotado de um único materialismo dialético.
33
8 Entre as várias técnicas empregadas, optou-se pela observação livre, com o propósito de facilitar o
entendimento do comportamento dos indivíduos em seus locais de estudo diário. Esse tipo de
observação ocorreu com a presença física do pesquisador nos dois loci de pesquisa com o objetivo
de monitorar os acontecimentos em sala de aula e aproximação com os sujeitos da pesquisa. Essa
técnica permitiu o registro dos eventos, no diário de campo no exato momento em que eles
ocorreram.
34
cursos, em torno de 13 eixos tecnológicos, com núcleo politécnico comum, o que torna o processo
educativo mais sintonizado. São eles: ambiente e saúde; controle e processos industriais;
desenvolvimento educacional e social; gestão e negócios; informação e comunicação; infraestrutura;
militar; produção alimentar; produção cultural e design; produção industrial; recursos naturais:
segurança; turismo, hospitalidade e lazer. (BRASIL, 2012a).
38
12 Entende-se que esse desenvolvimento constitui-se em campos de construção e, por que não dizer
também, “desconstrução”. Isso porque podem situar-se como mediações instrumentais, para a
afirmação de um desenvolvimento societário de inclusão, equidade e justiça ou como reforçadores da
exclusão, da desigualdade e da injustiça.
40
Dilma Rousseff e seu sucessor Michel Temer, que a destituiu por meio de um
processo recente, permeado por críticas e conturbações13.
Machado (1979) afirma a importância de se entender as contradições que
envolvem o ensino profissional, do ponto de vista de uma oposição dialética, que
não mantém entre si relações de exclusão, e sim encontram imbricadas no
cotidiano.
Para organizar o estudo desse desenvolvimento, foi dado destaque à
evolução histórica da sociedade brasileira, considerando suas principais
transformações econômicas, políticas e sociais. Nessa direção, o período histórico
contemplado está dividido em quatro grandes reformas educacionais que
impactaram a educação profissional no período referenciado, ou seja, as de 1942,
1961, 1971 e 1996, além de vários documentos normativos, geralmente decorrentes
delas, que se traduziram em decretos, pareceres e resoluções.
Entretanto, ressalta-se que a descrição e a compreensão das leis, dos
decretos e resoluções, por si sós, não permitem apreender todo “o jogo político”, a
correlação de forças de disputa e de negociação, que teriam levado à promulgação
dos referidos documentos normativos, principalmente nos últimos acontecimentos
ocorridos no país.
Enfatiza-se que as transformações que vêm ocorrendo na formação do
trabalhador não ocorrem de forma isolada ou independente de transformações mais
amplas. Assim, só será possível estudar o trabalhador-aluno se forem levadas em
conta a complexidade das variáveis que envolvem a sua problemática e as lutas
político-ideológicas a que estão subordinadas. Desse modo, a própria análise
histórica da educação profissional se mostra como um exemplo característico desse
embate, podendo oferecer parâmetros de comparação no decorrer deste texto.
13No dia 26 de outubro de 2014, Dilma Rousseff foi reeleita Presidente da República pra o mandato
de quatro anos, com 51,6% de votos, contudo, dois anos após sua posse, o Vice-Presidente Michel
Temer assumiu a Presidência da República, após a cassação do mandato da Presidenta pelo
Legislativo, chancelado pelo Judiciário.
41
14 Não é objetivo deste trabalho analisar o processo de modernização no Brasil referente à década de
30. Entretanto, esse processo configura-se como importante elemento para a análise da educação
profissional, possibilitando mais compreensão da conjuntura político-econômico-social desse período
histórico, ou seja, da Era Vargas, notadamente do período correspondente ao Estado Novo.
15 Essa expressão dominante do sistema produtivo e de seu respectivo processo de trabalho vigorou
na grande indústria ao longo praticamente de todo século XX [...], baseava-se na produção em massa
de mercadorias, que se estruturava a partir de uma produção mais homogeneizada e enormemente
verticalizada, além da vigência de uma separação nítida entre elaboração e execução. (ANTUNES,
2000, p. 36-37).
42
16 O que se chama hoje no Brasil de Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica
(REFCPT) teve início em 23 de setembro de 1909, quando o então presidente, Nilo Peçanha, por
meio do Decreto nº 7.566, criou 19 "Escolas de Aprendizes Artífices" em 18 capitais.
17 Conforme Pandolfi (1999, p. 9), “de acordo com as regras do jogo, o mandato presidencial teria a
duração de quatro anos, não sendo possível a reeleição. Ou seja, em 1938, Getúlio Vargas teria que
sair da Presidência”. Então, o “perigo comunista” passou a ser utilizado como justificativa para o
governo intensificar e aprimorar mecanismos de repressão e de controle da sociedade. Desse modo,
a escalada repressiva, iniciada em 1935, teve como desfecho o Golpe de 10 de novembro de 1937,
que deu origem ao Estado Novo.
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Entre 1937 e 1941 o ensino técnico profissional não passou por grandes
reformas ou modificações, até que Gustavo Capanema, no mês de janeiro de 1942,
por meio do Decreto-Lei nº 4.048/42, criou o Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI), o maior exemplo da criação desse sistema paralelo, subordinado,
organizado e dirigido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Na verdade, a implantação do SENAI não foi ato de criação, mas uma
imposição, conforme argumenta Cunha (2005, p. 47):
19 Entidade paraestatal de natureza privada é uma instituição cuja atividade é de interesse público e
que se rege por administração própria, mas que é criada pelo Estado. Os órgãos do sistema “S” são
pessoas jurídicas de direito privado com natureza paraestatal.
20 A Reforma Capanema estruturou o ensino industrial, reformou o ensino comercial e criou o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), como também trouxe mudanças no ensino secundário.
Os principais decretos foram: Decreto nº 4.244/42 – Lei Orgânica do Ensino Secundário; Decreto nº
4.073/42 – Lei Orgânica do Ensino Industrial; Decreto nº 6.141/43 – Lei Orgânica do Ensino
Comercial; Decreto nº 8.529/46 – Lei Orgânica do Ensino Primário; Decreto nº 8.530/46 – Lei
Orgânica do Ensino Normal e Decreto nº 9.613/46 – Lei Orgânica do Ensino Agrícola. Além disso, o
Decreto-Lei nº 4.048/1942 criou o SENAI, que deu origem ao que hoje se conhece como Sistema “S”.
45
21Para se ter ideia desse crescimento, Cunha (2005, p.125, 129, 130), afirma que, um ano após a lei
orgânica (1942), o país contava com 14 estabelecimentos de ensino técnico industrial, sendo seis
escolas federais, seis estaduais e duas escolas privadas. Em 1969, 27 anos depois, o sistema de
ensino técnico industrial era composto de 113 escolas, sendo: 23 federais, 18 estaduais, quatro da
rede SENAI e 68 escolas isoladas que não formavam redes e dispunham de administração
autônoma, significando aumento de oito vezes em relação a 1943. Em relação ao número de
matrículas, passaram de 581 em 1943 para 41.254 em 1969.
47
operários cujas ocupações não lhes permitiam frequentar as aulas diurnas. O ensino
profissional noturno, dessa forma, foi e continuou a ser ofertado visando regular e
ajustar o fluxo natural da escola diurna, quase sempre para atender às necessidades
emergenciais e fortuitas dos trabalhadores-alunos.
Ao término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, podiam-se constatar no
Brasil claros sinais de que o Estado Novo estava se desgastando. Isso porque a
opção pela combinação entre modernização e autoritarismo, com base no controle e
na vigilância, passou a não mais ser priorizada, fazendo o Governo Vargas declinar,
o que acabou por derrubá-lo, por intermédio da mesma elite que o colocara no poder
em 1930. Assistia-se, nessa época, no cenário mundial, à “Guerra Fria”, que
colocava em lados opostos as forças ocidentais lideradas pelos Estados Unidos da
América (EUA) e as forças orientais socialistas, lideradas pela União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS).
23 Geralmente, nos textos legais e paralegais, esse profissional é definido em termos de sua
escolaridade, ou seja, é aquele indivíduo que concluiu algum curso de uma especialidade de escola
técnica reconhecida e teve seu diploma registrado na forma da lei. Do ponto de vista das empresas, o
técnico é geralmente definido com base na função que desempenha nos locais onde trabalha,
independentemente de seu grau de escolaridade. Cunha (2005) e Fonseca (1961) definem um
técnico industrial pela sua escolaridade. De acordo com Cunha (2005, p. 112), é o egresso “de escola
técnica industrial reconhecida e tem o seu diploma registrado na forma da lei”.
50
Art. 20. O currículo, nas diferentes séries dos cursos industriais técnicos,
compreenderá matéria de cultura técnica e matéria de cultura geral.
Parágrafo único. As matérias de cultura técnica incluem a prática em oficina,
obras, laboratórios ou trabalhos de campo.
24 A doutrina keynesiana é uma teoria econômica que ganhou destaque no início da década de 1930,
no momento em que o capitalismo vivia uma de suas mais graves crises (crise de 1929). Acreditava-
se que a economia seguiria o caminho do pleno emprego, sendo o desemprego uma situação
temporária que desapareceria, graças às forças do mercado.
25 Esse modelo expandiu-se pela Europa, a partir da década de 1930, no qual o Estado organizou a
Unidos, em meados dos anos 1950, pelo Professor Theodore W. Schultz. Segundo essa concepção,
o trabalho humano, quando qualificado por meio da educação, é um dos mais importantes meios para
a ampliação da produtividade econômica e, portanto, das taxas de lucro do capital.
53
primário, médio e superior: “como a verba para as despesas do Ministério, exclusivo as dos três
fundos, é de 10% dos recursos destinados à educação, apenas o aparelho de administração,
supervisão e fiscalização e os serviços de cultura devem ser incluídos nestes 10%, devendo correr as
despesas com o Colégio Pedro II, as Escolas Técnicas Industriais, as Escolas Especiais de
Deficientes e outros institutos de ensino federal pelos recursos regulares do Fundo, como integrantes
do sistema federal do ensino” (TEIXEIRA, 1962).
55
31 Esse termo define o conjunto de organizações das entidades corporativas voltadas para o
treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, que além de
terem seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns e características organizacionais similares.
Integram o Sistema “S” nos dias atuais: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI);
Serviço Social do Comércio (SESC); Serviço Social da Indústria (SESI); Serviço Nacional de
Aprendizagem do Comércio (SENAC). Existem ainda os seguintes: Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural (SENAR); Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP);
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Serviço Social do Transporte
(SEST) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte – (SENAT). Disponível em:
http://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/sistema-s. Acesso em: nov. 2015.
56
De forma geral, no período inicial dos anos 60, como decorrência da Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) vigente, foram observadas várias tentativas e experiências
no sentido de formar o estudante para o trabalho, buscando-se aproximar esse tipo
de formação do ensino ofertado nos ginásios. Como exemplo dessa iniciativa,
devem ser citados o Ginásio Moderno, os Ginásios Pluricurriculares, os Ginásios
Orientados para o Trabalho e a criação do Programa Intensivo de Preparação de
Mão de Obra Industrial (PIPMOI).
32 Segundo Ramos (1995), no período de 1961 a 1964, o Brasil passou por uma crise política e
econômica que teve suas raízes nas heranças deixadas por Juscelino Kubitschek (os efeitos
financeiros gerados por uma inflação reprimida, aliada a problemas de pagamento), na renúncia de
Jânio Quadros e na tentativa de João Goulart de ressuscitar o populismo. Esse desequilíbrio tornou-
se insustentável para o sistema capitalista e a solução desembocou no Golpe Civil-Militar de 1964.
57
33 O princípio de modernização, um dos determinantes sociais dos anos 60, sendo historicamente
constituído, foi introduzido no pós-guerra, para caracterizar as transformações políticas, econômicas
e sociais de processos de transição.
34 De acordo com Oliveira (1993, p.108), essa teoria desenvolveu-se nos Estados Unidos, na década
de 60, e teve, como principal objetivo fazer com que a escola assumisse o modelo empresarial e se
58
37De acordo com Fávero (1991), a “Lei da Reforma Universitária” foi baseada nos estudos do
Relatório Atcon redigido por Rudolph Atcon (teórico norte-americano) e no Relatório Meira Matos,
Coronel da Escola Superior de Guerra, que foi aprovada de cima para baixo pelo Governo Militar.
61
38 Editou novo texto constitucional, que acirrou a violência militar e alterou drasticamente a
Constituição de 1967. Essa emenda foi editada em 17 de outubro de 1969 e se caracterizou pela
institucionalização dos Atos Institucionais que provocaram grande endurecimento jurídico e político-
ideológico.
39 Autorizou o funcionamento e organização dos cursos superiores de curta duração, os quais se
superior por parte da iniciativa privada. De acordo com Saviani (2008b), entre 1968 e
1976 o número de instituições públicas de ensino superior passou de 129 para 222,
sendo que as instituições privadas saltaram de 243 para 663.
Reitera-se que, nessa época, predominava no Brasil a pedagogia tecnicista,
formulada nos Estados Unidos na segunda metade dos anos 50 e implantada no
Brasil e em toda a América Latina após os sucessivos golpes de Estado impetrados
nessa região. Essa pedagogia encontrava sustentação no modelo capitalista
adotado, fazendo parte de uma peça desse mecanismo sistêmico, com o objetivo de
formar indivíduos aptos para atender à demanda industrial e tecnológica do mercado
de trabalho.
No período compreendido entre a Lei nº 4.024/61, de 1961, e o ano de 1971,
foram desenvolvidos cinco tipos de experiências relativas à formação técnica: o
Ginásio Vocacional (1961), o Ginásio Moderno (1962), os Ginásios Únicos e
Pluricurriculares (1963), o Ginásio Orientado para o Trabalho (1963) e o Ginásio
Polivalente (1971).
De acordo com Pedrosa e Bittencourt (2015), embora com nomes diferentes,
todos esses modelos mantinham a mesma organização curricular e o objetivo de
formar “cidadãos treináveis”, numa tentativa de americanização da escola brasileira
por meio de uma estrutura inspirada no pragmatismo de Dewey. Assim, constituíam-
se as primeiras iniciativas concretas para promover o projeto de integração entre o
ensino secundário propedêutico e a formação profissional.
Considera-se que a implantação desses ginásios levou à formulação da Lei nº
5.692/71, que integrou completamente o ensino técnico ao sistema de ensino,
estabelecendo a equivalência plena entre ambos (BRASIL, 1971). Tornou-se
obrigatório, no nível de 2º grau, que os alunos se tornassem técnicos ou auxiliares
técnicos.
Assim, configurou-se o caráter terminal do 2º grau, à medida que se
proporcionava aos concluintes do ensino médio uma habilitação, com o propósito de
capacitar profissionais para ingressarem no mundo do trabalho. A denominada
profissionalização compulsória alterou a LDBEN de 1961, no sentido de vincular o
sistema educacional da nação ao modelo econômico dependente, notadamente do
cooperação técnica, conhecidos como “acordo MEC/USAID”, sendo os primeiros cursos destinados à
área de Engenharia de Operação, ministrados pelas Escolas Técnicas Federais.
63
40 De acordo com Saviani (2005; 2008a), essa concepção começou a se manifestar no Brasil, na
passagem dos anos de 1950 para 1960, estando presente nos debates que se travaram na
tramitação da primeira LDB. Postulava que a educação seria um bem de produção e não, apenas, um
bem de consumo. Assim, ela teria importância decisiva, no processo de desenvolvimento econômico.
64
Itamar Franco. Instituía-se, assim, com essa Lei o Sistema Nacional de Educação
Tecnológica (SNET).
Sobre o processo de cefetização, Cunha (1997) ressalta que o fracasso
escolar da educação profissional compulsória, no nível do 2º grau, levou à
reformulação do ensino superior, o que resultou na transformação das escolas
técnicas em CEFETs. Essa política educacional relacionada ao modelo econômico
de capitalismo dependente visava oferecer uma formação considerada de “nível
superior”, a fim de diminuir as pressões populares por vagas nas universidades,
assim como fornecer mão de obra capacitada para o desenvolvimento do capital.
É importante destacar que os cinco CEFETs mais antigos, desde sua
constituição, estabeleceram relações institucionais com o Ministério da Educação,
tanto no âmbito da Secretaria da Educação Média e Tecnológica (SEMTEC), quanto
no âmbito da Secretaria de Educação Superior (SESU), devido às suas
características específicas de atuação nesses dois níveis educacionais.
Em 21 de junho de 1982, ainda sob o governo militar, foi sancionado o
Decreto nº 87.310/82, que regulamentou os objetivos dos CEFETs, que haviam sido
criados em 1978. Entre outras determinações, ele estabeleceu, pelo artigo 3º, as
principais funções desses Centros:
A partir do final de 1978, quando foi revogado o Ato Institucional nº 5 43, o mais
radical da legislação de exceção exarada do regime militar, os ventos da abertura
política começaram a soprar com mais força. Os militares enfrentaram dificuldades
para recuperar a economia do país e, dessa forma, os índices de inflação eram
muito altos e, consequentemente, a sociedade civil acirrou a pressão sobre o
governo para que os militares deixassem o poder.
Observou-se, nesse período, expressivo crescimento na concentração de
renda, impedindo que a maior parte da população pudesse usufruir do chamado
“milagre econômico”44, justificado com a máxima de que “era preciso fazer o bolo
crescer para depois reparti-lo”.
No ano de 1982 foi necessário criar uma nova lei para a educação nacional, a
fim de revisar a que vigorava até então. E assim a Lei nº 7.044/82 substituiu a Lei
5.692/71, tornando facultativo o 2º grau profissionalizante, sendo permitido às
escolas apenas preparar para o trabalho ou ensejar habilitação profissional, a critério
42 Libâneo (1994) e Saviani (2008a) concordam em classificar as teorias da educação em dois grupos
distintos: de um lado, as teorias de cunho conservador e liberal, não críticas, e de outro as teorias de
cunho progressista ou críticas. As teorias críticas ou contra-hegemônicas são assim denominadas
porque concebem a sociedade como marcada pela divisão de classes antagônicas, que interagem
conflitantemente nas condições de produção da vida material. Portanto, essas teorias são
consideradas críticas por compreenderem a educação não como fenômeno que se autodetermina,
mas remetendo-a a estruturas socioeconômicas mais amplas. As teorias não críticas são assim
denominadas porque concebem a sociedade como harmoniosa, que vincula a educação ao
desenvolvimento econômico: educação e renda; educação e mobilidade social.
43 Veiculado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do General Costa e Silva, foi a
expressão mais acabada da ditadura militar brasileira (1964-1985). Vigorou até dezembro de 1978 e
produziu um elenco de ações arbitrárias, de efeitos duradouros.
44 Denominação dada ao período de excepcional crescimento econômico ocorrido durante o regime
militar no Brasil.
68
45 Denominação do período imediatamente posterior ao regime militar, iniciado com o fim do mandato
do Presidente General João Batista de Oliveira Figueiredo.
46 Não é objetivo deste texto discutir a origem da globalização e suas consequências, interessando,
apenas, o processo internacional de integração econômica, social, cultural e política dos países, no
final do século XX e início do século XXI que, de certa forma, interferiu nas políticas para a educação
profissional no Brasil.
69
Tomando como base esse projeto monetarista, foi formulado o Plano Nacional
de Qualificação do Trabalhador (PLANFOR)48, que pretendia criar uma nova Rede
de educação profissional cuja meta era qualificar ou requalificar, anualmente, pelo
menos 20% da PEA. Segundo Cunha (2005), esse Programa sugere à primeira vista
tratar-se de um programa similar ao PIPMOI dos anos 60 e 70.
49 Consultor do BID para a América Latina, Chefe de Divisão do Programa Social, Departamento de
Desenvolvimento Sustentável, do BID, de 1995 a 1998. Conselheiro do Departamento de
Desenvolvimento Sustentável, do BID.
50 Com o Decreto n° 5.159/04, a SEMTEC passou a ser denominada Secretaria de Educação
54 O FAT foi criado em cumprimento à determinação constitucional -artigo 239 - e regulamentado pela
Lei nº 7.998/90, agregando o patrimônio do PIS/PASEP [Programa de Integração Social/ Programa
de Formação do Patrimônio do Servidor Público] e de parte da arrecadação da contribuição sindical
compulsória. A Lei nº 7.998/90, em seu artigo 11, estabeleceu como fontes de recursos do FAT:
contribuições sociais do setor público e do setor privado, incidentes sobre faturamento das empresas
(PIS, PASEP), além de multas sobre encargos devidos, juros e correção monetária de empréstimos.
O patrimônio do FAT é administrado pelo CODEFAT, um Conselho Paritário e Tripartite, com
representantes do governo, dos empresários e dos trabalhadores, e alcançou um valor de R$ 259,3
bilhões nominais no final de 2015. Disponíveis em: http://portalfat.mte.gov.br/wp-
content/uploads/2016/02/Item-3-Relat%c3%b3rio-de-Gest%c3%a3o-de-2015_FAT-Revisada-
P%c3%b3s-GTFAT.pdf. Acesso em: out. de 2016.
55 O Estado Mínimo está ligado aos pressupostos de uma concepção conservadora traduzida no
autores, entre os quais: Saviani (1987; 2003), Kuenzer (1987; 1988; 2002; 2003), Frigotto (2001;
2003), Machado (1989), Nosella (1998), Ferretti e Madeira (1992), Ramos (2001; 2002).
58 Segundo Ricardo Antunes (2005), a lógica da reestruturação e da produtividade, quando
comandada pelo ideário e pela pragmática do capital, acarreta a crescente redução do trabalho vivo e
sua substituição pelo trabalho morto, para usar os termos de Marx. Uma empresa, para ser
competitiva, deve reduzir ainda mais o trabalho vivo e ampliar sua dimensão tecnocientífica, o
trabalho morto, cujo resultado não é outro senão o aumento da informalidade, terceirização,
precarização do trabalho e desemprego estrutural em escala global.
79
60O Decreto nº 5.154/2004 estabeleceu que a educação profissional poderia ser desenvolvida por
meio de cursos e programas de: a) formação inicial e continuada de trabalhadores; b) educação
profissional técnica de nível médio; c) educação profissional tecnológica de graduação e pós-
graduação. Para melhor compreensão do processo contraditório de revogação do Decreto 2208/97 e
da construção do Decreto 5154/04, ver Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005a).
81
normativo foi revogado pelo Decreto nº 5.773/06 de 9 de maio, que dispôs sobre o
exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de
educação superior, cursos superiores de graduação e cursos sequenciais, no
Sistema Federal de Ensino (BRASIL, 2006a).
Tendo em vista a solicitação da Secretaria de Educação Profissional e
Tecnológica do MEC (SETEC/MEC), a Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação (CEB/CNE) expediu o Parecer nº 39/04, aprovado em 08 de
dezembro de 2004, que versou sobre a aplicação do Decreto nº 5.154/04 no âmbito
da educação profissional técnica de nível médio e do ensino médio. Mais tarde foi
reforçado pela Resolução CEB/CNE nº 01, de 03 de fevereiro de 2005, que atualizou
as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio e para a educação
profissional técnica de nível médio.
Em 2005, o CEFET Paraná transformou-se em Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR). Assim, foi criada a primeira Universidade Tecnológica
da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica no País. Lima Filho e
Garcia (2004) salientaram que nos últimos anos os Cursos Superiores de Tecnologia
(CST) ganharam destaque, tornando-se a modalidade de ensino superior que vinha
tendo o maior crescimento relativo entre as diversas áreas do ensino superior no
Brasil. Segundo o Informativo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2004), os cursos que formavam tecnólogos
cresceram 74,7% entre os anos de 2000 e 2002, enquanto os de bacharelado e
licenciatura cresceram apenas, 36%.
A demanda de jovens e adultos para a educação profissional técnica de nível
médio, da qual, em geral, foram excluídos, assim como do próprio ensino médio, fez
com que fosse criado, pelo Decreto nº 5.478/05 de 24 de junho de 2005, o
inicialmente denominado Programa de Integração da Educação Profissional ao
Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens (PROEJA) (BRASIL, 2005a). Um
ano depois, por decisão governamental, esse decreto de 2005 foi substituído pelo de
nº 5.840/06, de 13 de julho de 2006 (BRASIL, 2006b), que promoveu a sua
ampliação e abrangência, transformando-o no PROEJA.
Com base nesses preceitos legais, as Instituições Federais de Educação
Técnica e Tecnológica foram obrigadas a destinar, em 2006, o correspondente a
10% das vagas, oferecidas em 2005, para o ensino médio integrado à educação
82
61 O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) foi aprovado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e pelo Ministro da Educação Fernando Haddad, em 24 de abril de 2007, com o objetivo de
melhorar a educação no país em todas as suas etapas, em um prazo de 15 anos. A prioridade desse
plano centra-se na educação básica, que contempla a educação infantil, o ensino fundamental e o
ensino médio.
83
No ano seguinte, outro programa foi instituído, pela Lei nº 11.692, de junho de
2008: o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM), com o objetivo de
preparar os jovens para o mercado de trabalho e para ocupações alternativas,
geradoras de renda. Esse programa integrou o ensino fundamental, a capacitação
profissional para jovens desempregados com idades entre 18 e 19 anos e membros
de família com renda per capita de até um salário mínimo. O objetivo principal desse
programa foi estimular e fomentar a geração de oportunidades de trabalho.
Como importante instrumento de divulgação e regulação da oferta de cursos
técnicos por todo o Brasil, a SETEC lançou, por meio da Resolução nº 3, de 9 de
julho de 2008, o Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos de Nível Médio (CNCT),
como forma de sistematizar e organizar a oferta de cursos técnicos no país. Esse
catálogo define a carga horária mínima para cada um dos cursos, possibilidade de
temas a serem abordados, possibilidades de atuação dos profissionais formados e
infraestrutura necessária para a implantação dos cursos. Estabelece, ainda, que os
cursos técnicos sejam organizados por eixos tecnológicos, definidores de um projeto
pedagógico que contemple as trajetórias dos itinerários formativos e estabeleça
exigências profissionais que direcionem a ação educativa das instituições e dos
sistemas de ensino na oferta da educação profissional técnica.
Em 2008, a Lei nº 11.741, de 16 de julho, alterou dispositivos da LBDEN nº
9.394/96, que estabeleceu as diretrizes e bases para a educação nacional, para
redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica
de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e
tecnológica. Nesse documento, os cursos de educação profissional e tecnológica
deveriam ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de
diferentes itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível
de ensino, caracterizando o ensino profissional pela flexibilidade formativa.
Em 29 de dezembro de 2008, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sancionou a Lei nº 11.892/08, publicada no Diário Oficial da União em 30 de
dezembro do mesmo ano, criando 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia (IFETs). Pacheco et al esclarece que o foco dos IFETs estava centrado
na,
85
64Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu se eleger no segundo turno, 31 de
outubro de 2010, com 56,05% dos votos válidos, contra 43,95% de seu adversário José Serra, do
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Dessa forma, o Brasil elegeu a primeira mulher
Presidente de sua história, após 121 anos de república.
87
A meta do PRONATEC era ofertar, em quatro anos, até 3,5 milhões de bolsas
para jovens de ensino médio e trabalhadores, garantindo que oito milhões de
pessoas se qualificassem para o mundo do trabalho. Além das bolsas de formação,
a SETEC tem executado várias outras ações que integram o PRONATEC, como: o
financiamento estudantil (FIES) técnico e FIES empresa, a Rede E-Tec Brasil, o
Programa Brasil Profissionalizado e o estabelecimento de acordo de gratuidade com
o Sistema “S”.
Como metas do governo federal, a RFEPCT deveria contar com cerca de 600
unidades escolares, que se constituiriam em 38 IFECTs e atendimento direto de
mais de 600 mil estudantes em todo o país.
Em setembro de 2012 foram divulgadas as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Profissional Técnica (DCNEPTs), definidas para a formação
técnica de nível médio, com base na Resolução CNE/CEB nº 6, de 20 de setembro,
que, além de orientar a estruturação dos cursos técnicos por eixos tecnológicos,
dispôs sobre itinerários formativos flexíveis, diversificados e atualizados.
Essa Resolução confere destaque à oferta da Educação Profissional Técnica
de Nível Médio (EPTNM) integrada ao ensino médio, esclarecendo que a forma de
oferta da EPTNM, concomitante ao ensino médio, pode ser oferecida, privilegiando a
integração por meio de um projeto pedagógico unificado.
Essas Diretrizes enfatizavam fortemente a dimensão comportamental, em
detrimento do conteúdo teórico. Todavia, tais Diretrizes vêm igualmente sendo
questionadas por muitos pesquisadores, sobretudo por “se basear na denominada
lógica das competências, traduzidas na sigla CHAVE – conhecimento, habilidade,
atitude, valores e emoções.” (CIAVATTA; RAMOS, 2012, p. 22).
Segundo essas autoras, a concepção de educação como chave para algum
lugar não era nova, pois a metáfora vem sendo utilizada há tempos: chave para o
futuro, para o desenvolvimento, para o crescimento, para o sucesso profissional,
mas sempre dentro de uma perspectiva liberal conservadora.
A justificativa é que os modelos flexíveis de produção valorizam o
comportamento, porém, de forma transversal: trabalhar em equipe, ter iniciativa,
saber comunicar-se, entre outras. Em suma, consubstanciam-se em
comportamentos que implicam ação e interação, que caracterizam a competência
em uma perspectiva construtivista e holística. Trata-se, portanto, de uma metáfora
88
[...] expandir a oferta gratuita de educação profissional técnica por parte das
entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas
ao sistema sindical, de forma concomitante ao ensino ofertado na rede
escolar pública, para os segmentos populacionais considerados. (BRASIL,
2014, s.p, grifos nossos).
Meta 10. Oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas
de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na
forma integrada à educação profissional.
65 O nome do caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato
de automóveis, para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas
inicialmente investigadas. Embora a investigação tenha avançado para outras organizações
criminosas, o nome inicial se consagrou.
90
Complementar nº 135 de 2010, gerada por meio de iniciativa popular, que pediu mais rigor para as
candidaturas políticas e no combate à corrupção. Ela alterou algumas disposições da Lei
Complementar nº 64, de 1990, que dispunha sobre as condições, os motivos e as situações em que
uma pessoa não poderia se eleger para um cargo público. A LC nº 135/2010 veio para conceder mais
rigidez às regras já existentes.
91
68Tais reformas se encontram em tramitação no Legislativo como Projeto de Lei do Senado (PLS)
193/2016, de autoria do Senador Magno Malta, que sugere a inclusão entre as diretrizes e bases da
educação nacional, de que trata a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, o "Programa Escola sem
Partido”.
92
69 Essa experiência trazida dos Colleges americanos requer acompanhamento sistemático dos
estudantes por equipes de profissionais que não existem nas escolas públicas brasileiras. Tal como
se encontra no Projeto de Lei de Conversão (PLV) 34, o sistema de crédito fragmenta e compromete
o aprendizado estudantil, possibilitando, ainda, camuflar os índices de evasão escolar, pois basta o
estudante estar matriculado numa única disciplina (cursando-a ou não efetivamente) para ter
considerada a sua matrícula ativa.
93
tomada do poder por Michel Temer, esse movimento tem ganhado força entre seus
apoiadores no Congresso Nacional e também no Senado.
Esse movimento parte da premissa de que professores não devem ser
educadores, devendo limitar-se a transmitir o conteúdo sem tratar de assuntos
atuais polêmicos ou discutir valores morais estabelecidos pela sociedade. Qualquer
coisa que ultrapassasse a transmissão de conhecimento seria considerada
“doutrinação ideológica” e, por isso, passível de “estar em conflito com as
convicções morais dos estudantes e de seus pais”:
71 A expressão “concepção histórico-crítica” foi cunhada por Saviani (2003) na procura da retenção do
caráter crítico de articulação com as condicionantes sociais que a visão reprodutivista possui,
vinculado, porém, à dimensão histórica (SAVIANI, 2003, p. 70).
72 As fontes de pesquisas foram: Revista Educação & Sociedade; Revista Brasileira de Educação;
considerar que a queda acentuada após o ano de 2011 pode estar relacionada à
não atualização das fontes de dados das pesquisas, principalmente em relação aos
dados referentes ao ano de 2013.
Entre os anos de 1979 e 1985, momento em que foi se processando a
abertura política no país, e entre os anos 1987 e 2003, período em que se elaborou
e promulgou a Constituição Federal de 1988, a produção se situou abaixo da média
das publicações no período. Isso indica que o estudo sobre o ensino noturno tem se
mostrado sensível aos vários condicionantes que abrangem desde a legislação, que
regulamenta a educação como um todo, até as variáveis econômicas, políticas e
sociais. No entanto, não é objetivo deste trabalho analisar as particularidades
desses condicionantes, mas sim destacá-los visando à realização de novas
investigações.
Esse grande número de trabalhos científicos permitiu, após leitura na íntegra
ou de seus resumos, indicar por tipo de publicação, o que possibilitou distinguir entre
eles: 13 teses de doutorado; 75 dissertações de mestrado; 30 publicações de livros
ou capítulos de livros; 52 artigos em periódicos e 20 publicações em anais de
eventos.
A maior parte das pesquisas produzidas foi publicada na forma de
dissertações de mestrado provenientes de instituições dos vários estados do país,
em sua maioria em programas de pós-graduação na área de educação,
apresentadas em maior volume após o ano de 2009. Essas produções acadêmicas
identificaram avanços e enfrentamentos na tentativa de solucionar os problemas de
evasão e da repetência, resultantes da inadequação do ensino noturno ao universo
dos jovens trabalhadores em idade incompatível com anos/séries regulares.
A análise dos trabalhos investigados permitiu classificá-los e organizá-los em
tabelas de frequência constituídas em cinco eixos descritores visando propiciar a
identificação de características e tendências, para a compreensão do ensino
noturno: sua história; as políticas e a gestão; o currículo e a didática; a relação
trabalho-escola e os limites e possibilidades do ensino noturno. A Tabela 1
apresenta a frequência das publicações em relação aos eixos temáticos tomados
como referência, sem deixar de considerar as abordagens temáticas que se
relacionavam entre si em quase todas as produções, ficando difícil, em alguns
casos, identificá-las em apenas um dos eixos.
100
73 O CEDI foi criado na transição dos anos de 1970 para 1980 com o objetivo de reunir informações
sobre os segmentos organizados da sociedade civil brasileira nas vertentes sociais e ambientais. Em
1994, o Instituto Socioambiental (ISA) incorporou o patrimônio material e imaterial de 15 anos de
experiência do Programa Povos Indígenas no Brasil do Centro Ecumênico de Documentação e
Informação (PIB/CEDI) e o Núcleo de Direitos Indígenas (NDI). A publicação em destaque encontra-
se disponível em: http://www.bibliotecadigital.abong.org.br/bitstream/handle/11465/1687/20.pdf?
sequence=1&isAllowed=y. Acesso em abr. 2014.
102
74 Estudo concluído em 1988, este estado da arte se refere à produção acadêmica discente dos
programas nacionais de pós-graduação stricto sensu em educação, expressa em teses de
doutoramento e dissertações de mestrado.
103
Segundo Paiva (2003), a primeira escola noturna no Brasil foi a de São Bento,
no Maranhão, que entrou em funcionamento em 1860 tendo como objetivo instruir o
adulto na melhor compreensão de seus direitos e deveres. Nos anos seguintes, as
escolas noturnas se multiplicaram na maioria das províncias do Império, totalizando
117 escolas em 1876.
A respeito, Mafra (1994) afirma que o primeiro registro desse tipo de ensino
ocorreu na capital da província de Pernambuco somente em 1886, tendo sido
criadas quatro escolas noturnas de instrução primária para o sexo masculino e sem
distinção de idade, tendo sido admitidos 280 alunos. Todavia, as escolas noturnas,
criadas entre os anos 1860 e 1870 não sobreviveram, conforme explicita Paiva
(2003) a partir dos estudos de Mafra.
De forma geral, é consenso entre Beisiegel (1974), Almeida (1988; 1995),
Mafra (1994), Togni e Carvalho (2007) e Togni (2007), que as primeiras referências
ao ensino noturno datam dos tempos do Brasil-Império, ou seja, entre os anos de
1822 e 1889. Alguns desses autores utilizam como referência os registros de Moacyr
(1936; 1939), feita no período entre 1869 e 1886, tendo como loci de investigação as
escolas noturnas para adultos nas províncias do Amazonas, Grão-Pará, Maranhão,
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia,
Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná.
Os relatos de esforços para a continuidade do turno da noite mostram a ideia
da importância que esse ensino tinha para os alunos e para a comunidade, como é
retratado pelos estudos de Nogueira (2009), Cohn (2007), Ananias (2000), Almeida
(1995), entre outros. Giordani (2005, p. 20) ressalta, em pesquisa histórica realizada
no interior de Mato Grosso do Sul, que: “para que as aulas acontecessem no
período noturno, pessoas da comunidade que possuíam geradores de energia
elétrica forneciam luz e quando estes apresentavam problemas, trabalhava-se à luz
de velas e lampião”.
Muito embora houvesse reconhecimento da importância do ensino noturno,
nota-se que ocorreu desenvolvimento lento e irregular, em constante contraste entre
a positividade das intenções declaradas e a sua concretização (MAFRA, 1994).
No que se refere às finalidades e intenções do ensino noturno, também não
se obteve consenso entre os pesquisadores que se dedicaram ao tema. Na maioria
das vezes eles discutem o tema a partir de duas suposições: uns, na direção da
funcionalidade e instrumentalidade; outros, no âmbito político-ideológico.
105
De acordo com Beisiegel (1974), Furlani (1998), Paiva (2003), Oliveira, Bittar
e Lemos (2010), as escolas noturnas no século XIX tinham por objetivo a educação
de adultos e foram criadas pela iniciativa particular e também pela administração
provincial. E tinham diferentes metas, que iam desde a alfabetização de adultos até
as iniciativas ligadas ao ensino profissional sediadas em vários locais, sobretudo no
norte do país.
De forma particular, Paiva (1987) detectou que por volta de 1870 ocorreu um
surto de progresso na economia brasileira, que acarretou consequências na sua
organização social a partir da introdução de ideais liberais. Esses ideais, de certa
forma, incentivaram a criação das escolas noturnas sem obrigatoriamente terem um
compromisso específico com a instrumentalidade do ensino de escrita e leitura ou de
preparação para o ingresso na escola industrial. Para Paiva:
[...] Art. 6º Não serão admittidos á matricula pessoas que não tiverem sido
vaccinadas e que padecerem molestias contagiosas. (BRASIL, 1878).
75Conforme descrito no capítulo 1 desta tese de doutorado, foi a partir da década de 1930 que houve
a transição entre o sistema agrário, fundado basicamente no cultivo e na exportação do café e de
algumas matérias-primas, e a nova ordem industrial emergente, justificando o recorte temporal
escolhido por este pesquisador.
110
76Conforme estabelecido nessa lei em seu art. 2º: considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a
pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescentes aquelas entre 12 e 18 anos de idade.
114
77No ano de 2014, o órgão não disponibilizou a estratificação por turno, justificando a ausência dos
dados na Tabela.
115
nas escolas. Essas barreiras, aliadas ao curto tempo disponibilizado para estudo, às
despesas extras e ao desgaste físico, atuam como fortes ingredientes para a
exclusão escolar dos trabalhadores-alunos:
De acordo com Leão (1998, p. 1), a escola tem sido incapaz de absorver esse
aluno em sua totalidade, na globalidade de sua vida fora da escola, reconhecendo
os sentimentos vividos no trabalho, na cidade e na família. Para esse pesquisador,
“a experiência da escola noturna pelos alunos-trabalhadores caracteriza-se pelo
estranhamento, pelo não lugar”. Leão (1998, p. 2) acrescenta:
[…] uma mera transferência para as horas noturnas dos cursos diurnos; que
– e sobretudo – na escola socialista para trabalhadores, o espírito, o
sentido, os métodos, os instrumentos, os conteúdos, os mestres e as
motivações são absolutamente diferentes dos que se encontram nas
escolas burguesas: naquelas há vida, desejo de aprender, há entusiasmo;
nestas há tédio, mero desejo de diploma e de se garantir na vida pela
esperteza. (NOSELLA, 2005, p. 1).
que os alunos concluam o curso sem que tenha ocorrido a necessária apreensão
dos conteúdos, não os preparando para o nível superior.
Carvalho (1994) posiciona-se de forma diferente desses autores, pois avalia
que no ensino noturno ensina-se menos e reprova-se mais.
No entendimento de Rodrigues (1995 apud Togni, 2007), esses
trabalhadores-estudantes matriculados nos cursos noturnos experimentam
diariamente as consequências da dualidade social e educacional. Assim, o
trabalhador-aluno durante o dia, no trabalho, executa, efetua e realiza. E à noite, na
escola, ele deve pensar, refletir, calcular e planejar. Passa, portanto, da condição de
trabalhador manual, na maioria das vezes, para a condição de trabalhador
intelectual, o que faz com que ele estabeleça com a escola um tipo de relação
diferente daquela vivenciada pelos alunos que frequentam a escola em turnos
diurnos. Um dos aspectos mais preocupantes vivenciados pelos trabalhadores-
alunos se traduz na exclusão que o ensino noturno provoca, pois o aluno o frequenta
muitas vezes sem ter essa consciência, recebendo um ensino defasado e fragilizado
em relação ao oferecido nos cursos diurnos.
Em sua pesquisa de doutorado, Togni (2007) constatou que os alunos dos
cursos noturnos recebem ensino descompassado em relação ao oferecido nos
cursos diurnos, revelando nitidamente uma forma de exclusão. Essa defasagem
escolar provoca ainda mais dificuldades para o prosseguimento de estudos
universitários ou técnicos e também para melhorar sua posição na empresa em que
trabalha.
Terribili e Nery (2009) afirmam que, em decorrência da situação vivenciada
pelos estudantes do curso noturno na condição de trabalhador, ele é considerado
supostamente mais maduro que o estudante do curso diurno. Contudo, ele se
encontra mais cansado e sonolento, devido ao fato de, muitas vezes, ser submetido
a uma exaustiva e longa jornada de trabalho.
Por serem mais intensos que os diurnos, os problemas estruturais do ensino
noturno evidenciam-se mais frequentemente:
Mafra (1994) reitera que a continuidade dos atuais esforços para reduzir as
diferenças e democratizar o ensino na escola noturna vem contribuindo para ampliar
as distâncias culturais e sociais entre os trabalhadores-alunos e os de outras
camadas sociais que frequentam a escola diurna, acirrando, assim, a dualidade
social entre as classes sociais, consubstanciadas nas elites e nas populares. Ou
seja, contribui para reforçar a histórica dualidade do ensino brasileiro.
Esse trabalhador-aluno sofre os efeitos da fragilização e precarização do
ensino noturno, tendo em vista a inexistência de um currículo próprio e de condições
estruturais diferentes dos cursos oferecidos no turno diurno. Em contrapartida,
depara-se com um aluno experiente, portador de habilidades específicas, com
vontade de recuperar o tempo perdido e obter um certificado ou diploma que lhe
garanta melhores condições de inserção laboral ou manutenção na sua atividade
laboral, com melhores condições salariais.
Vem se constatando que a instituição escolar geralmente está voltada para
atender os alunos do turno diurno, considerados como reais detentores de capital
social, que lhes viabiliza acompanhar os conteúdos das diversas áreas do
conhecimento, viver em um meio que os estimula e contribui para a aprendizagem e
aquisição de capital econômico que lhes possibilita investir na sua formação.
Conforme foi exposto, são muitos os desafios do aluno que frequenta a escola
noturna, principalmente pelo fato de ele ser um trabalhador inserido no mercado
formal ou informal ou potencialmente capaz de adentrar no mundo laboral, tornando,
assim, difícil conciliar o trabalho com o estudo.
Saviani (1986) realiza uma interessante análise sobre a relação estabelecida
entre a escola e o trabalho. Segundo ele, o sistema educacional se estrutura a partir
da categoria trabalho, pois o trabalho é a base da existência humana e os homens
se humanizam na medida em que produzem sua existência a partir de suas
necessidades.
125
78 De acordo com Pochmann (2010), desde os anos 1980 o mercado de trabalho brasileiro foi
acometido por expressiva redução do grau de formalização das ocupações, ou seja, pela queda do
emprego assalariado com carteira de trabalho assinada, o que garante ao trabalhador o usufruto dos
direitos sociais e o recebimento de todas as verbas relacionadas à legislação trabalhista (férias
remuneradas, 13o salário, depósito do fundo de garantia, etc.). A partir de 2004, porém, houve uma
reversão daquela trajetória de desestruturação do mercado de trabalho, com aumento, novamente,
da participação relativa do assalariamento com carteira na estrutura das ocupações brasileira.
126
Nesse sentido, Kuenzer (1987) menciona que essa relação entre trabalho e
educação não é bem resolvida no âmbito da educação brasileira. Assim, para ela:
[...] o fato de termos nas aulas trabalhadores que estudam, não é apenas o
melhor ponto para entender por que a escola fracassa. Essa condição de
trabalhador deverá ser o ponto de partida para encontrar a escola possível e
necessária, sem cair em acomodações e pudismos.
Romana, na qual a escola era lugar dos ociosos, em oposição aos que cuidavam
dos negócios (não ócio). Assim, pode-se considerar que a ausência de diálogo entre
a realidade do trabalho e a da escola permanece até os dias de hoje dificultando a
sistematização do conhecimento escolar e os saberes adquiridos no mundo do
trabalho.
Ao pesquisar a presença do jovem na escola noturna, Marques (1995) criticou
a centralidade dada ao trabalho como não sendo suficiente para compreender esse
aluno, pois o mundo laboral passou a não ser mais uma referência para os jovens
trabalhadores. Segundo essa autora, os trabalhadores-alunos buscam a escola não
mais como uma forma de “melhorar de vida”, “subir na vida”, pois eles estão
buscando construir, nos seus interstícios, situações propiciadoras de afirmação de
suas identidades. Falar das questões juvenis é “[...] ampliar as análises para além
das relações com o trabalho e a escola. Cada vez mais a juventude se apresenta
como uma problemática cultural e política.” (MARQUES, 1996, p. 4).
Segundo Marques, a compreensão da presença dos trabalhadores-alunos na
escola noturna indica a necessidade de se perceber como eles visualizam o trabalho
e de como ele pode se construir como uma afirmação de suas identidades. Os
estudos que relacionam educação e trabalho, na sua maioria, têm como eixo
estruturador o caráter reprodutor da escola nas relações entre capital e trabalho, em
geral, abordando as posições de classe que os definem, tratando ora da
negatividade, ora da positividade dessas relações na educação do trabalhador.
Tanto as posições de Marques (1995), Kuenzer (1987), Costa, Lemos e
Sponchiado (1992), Almeida (1995) e Abdala (2004) quanto as de Oliveira, Bittar e
Lemos (2010) baseiam-se na Teoria da Reprodução de Bourdieu e Passeron (1982),
ou seja, na crença de que as posições de classe definem, em geral, a trajetória
escolar e profissional, sobretudo dos jovens trabalhadores, uma vez que a educação
institucionalizada está estruturada baseando-se nos “valores” da classe dominante.
Assim, se por um lado o trabalhador que almeja sua permanência no trabalho
acredita que as competências que são desenvolvidas no interior das escolas,
especialmente nos cursos de formação profissional, podem lhe garantir estabilidade,
por outro, os que não conseguem entrar no mercado de trabalho precisam dessa
formação como possibilidade de emprego.
129
79Segundo Kuenzer (2006), trata-se de uma estratégia de inclusão nos diversos níveis e modalidades
da educação escolar, aos quais não correspondam os necessários padrões de qualidade que
permitam a formação de identidades autônomas intelectual e eticamente, capazes de responder e
superar as demandas do capitalismo; ou, na linguagem toyotista, homens e mulheres flexíveis,
capazes de resolver problemas novos com rapidez e eficiência, acompanhando as mudanças e
educando-se permanentemente.
131
[...] tem-se que optar entre continuar tratando o estudante que trabalha
como um carente crônico que precisa ser alimentado, informado, integrado,
educado sob formas compensatórias e paliativas ou passar a tratá-lo como
um cidadão trabalhador historicamente excluído dos direitos básicos que,
através de uma educação de boa qualidade, precisa tomar consciência
dessa exclusão e se organizar na reivindicação de seus direitos.
(CAPORALINI, 1991, p. 32).
atribuída aos estudantes que, além de estudar à noite, estão inseridos no mundo do
trabalho? (MOROSINI, 2006, p. 200).
Com base no estudo de Romanelli (1995) e Furlani (1998), a classificação do
estudante do ensino superior se dá de acordo com o critério de autossustentação
econômica durante o período de graduação: estudante em tempo integral,
estudante-trabalhador e trabalhador-estudante.
Segundo esses dois autores, o “estudante em tempo integral” é aquele que
pode se dedicar exclusivamente aos estudos. É o aluno que estuda no período
diurno, integral ou noturno, mas é mantido economicamente pela família.
Normalmente são alunos exclusivamente estudantes, que concluíram o ensino
médio e imediatamente ingressaram no ensino superior. Eles se posicionam na
idade adequada em relação a essa etapa da escolarização e sua principal atividade
é o estudo. Em alguns casos, estudam no turno da noite por não encontrarem vagas
no período diurno.
O “estudante-trabalhador”, em síntese, é aquele aluno que trabalha, porém,
continua sendo parcialmente mantido pela família em termos econômicos, não
havendo grande envolvimento com seu emprego ou atividade, pois seu futuro
profissional seria planejado a partir da qualificação obtida no curso superior.
A terceira categoria é a do “trabalhador-estudante”, aquele que não tem
dependência financeira alguma da família, podendo até contribuir para o orçamento
familiar; pois, em geral, a família não dispõe de recursos para mantê-lo ou então não
considera importante a formação superior desse membro da família. Para o
trabalhador-estudante, estudar é uma decisão pessoal baseada em seus valores,
aspirações e recursos financeiros, sendo que sua atividade profissional é muito
importante e o estudo se restringe a uma contingência na medida em que pode
contribuir com a melhoria de suas condições profissional e financeira.
Nesse mesmo sentido, Oliveira, Bittar e Lemos (2010) esclarecem que,
geralmente, a denominação estudante-trabalhador é atribuída aos estudantes de
cursos superiores que, além de estudar, estão inseridos no mundo do trabalho. São
estudantes de cursos noturnos, matriculados em instituições particulares, pois são
estas que lhes oferecem o maior número de cursos e vagas nesse turno. Esses
autores afirmam que o estudante-trabalhador é aquele que ingressou no mundo do
trabalho na adolescência e muitas vezes ficou anos sem voltar aos bancos
133
escolares, pois foi obrigado a priorizar o trabalho para suprir suas próprias
necessidades e/ou para colaborar na manutenção financeira da família.
Terribili (2007) atualiza as classificações apresentadas por Romanelli (1995) e
Furlani (1998), tipificando os alunos em três categorias. A primeira é o estudante, o
aluno que só estuda, independentemente do período de suas aulas, sendo que sua
subsistência é decorrente de apoio familiar, financiamento, bolsa de estudo, etc. O
estudante-trabalhador é o sujeito que tem o estudo como principal atividade, porém
exerce alguma atividade remunerada, traduzida no estágio, no trabalho formal, no
informal ou temporário. Esclarece que esse termo não indica que tenha,
necessariamente, dependência financeira da família, sendo que sua formação
superior constitui uma prioridade. Ademais, sua atividade profissional momentânea
pode ou não estar vinculada à área de atuação pretendida pelo estudante ao
concluir o curso de graduação. Por sua vez, o trabalhador-estudante é a pessoa que
já tem como atividade principal o trabalho, mas que busca, por meio de um curso de
graduação, a complementação dos conhecimentos ou mesmo um diploma para
aprimorar sua qualificação profissional ou para obter promoção na empresa. O
trabalhador-estudante pode receber incentivo financeiro da família ou da empresa
para a qual trabalha.
Já Oliveira (2004), em pesquisa realizada com alunos do ensino médio antes
da promulgação da atual LDB, define a expressão “aluno trabalhador” como os
estudantes que têm por característica mais marcante o trabalho. Segundo essa
autora, esse aluno carrega consigo uma diversidade de características decorrentes
da multiplicidade de experiências vivenciadas em sua trajetória escolar. O trabalho,
embora seja a característica mais marcante desse perfil de aluno, se constitui
basicamente na atividade ordenadora de suas atividades.
Essa autora identificou dois subgrupos no âmago da categoria de alunos
trabalhadores segundo alguns aspectos que os aproximam e os diferenciam.
Essencialmente, a situação principal que identifica os alunos em relação ao estudo e
ao trabalho, segundo Oliveira (2004, p. 95):
4 A PESQUISA DE CAMPO
turma na forma subsequente. Para as turmas do curso integrado diurno, existia mais de uma turma.
146
onde funcionou até 1964. No final desse ano, essa instituição foi transferida para as
instalações do 10º Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro, que fora
desativado e se situava nas encostas do Morro do Cruzeiro.
Em 1981, foram criados os cursos Técnico em Edificações e Magistério de
Educação Física, em nível de 2º grau82. Em 1987, iniciou-se o funcionamento do
curso técnico em Informática Industrial e dois anos depois o curso Técnico em
Segurança do Trabalho. Em 1999, foram criados os cursos Técnicos em Turismo e
de Meio Ambiente. Em 2002, essa então ETFOP transformou-se em CEFET-OP,
adquirindo autonomia para ofertar cursos superiores de Tecnologia.
Seis anos depois da transformação em CEFET-OP, essa instituição vem
fazendo parte da Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais,
passando a existir, consequentemente, devido à integração dos Centros Federais de
Educação Tecnológica de Ouro Preto e de Bambuí e da Escola Agrotécnica Federal
de São João Evangelista. Esse reordenamento se deu devido à Lei nº 11.892 de
2008, que instituiu a RFEPCT, com a criação dos IFTECs (CAIRES; OLIVEIRA,
2016).
Atualmente, segundo o Plano de Desenvolvimento Institucional (2015)83 do
Instituto Federal, locus desta investigação, o IFMG incorporou 18 campi, incluindo os
avançados e os conveniados, em diferentes cidades de Minas Gerais: Bambuí,
Betim, Congonhas, Coronel Fabriciano (em implantação), Formiga, Governador
Valadares, Ibirité (em implantação), Ipatinga (em implantação), Ouro Branco, Ouro
Preto, Ponte Nova (em implantação), Pitangui (em implantação), Pium-i (em
implantação), Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, São João Evangelista e
Sete Lagoas (em implantação), além dos campi avançados em Conselheiro Lafaiete,
Itabirito e na cidade de Arcos, que se constituíam em uma unidade conveniada.
Agrega, também, os polos de Educação a Distância (EAD) nas cidades de Alfenas,
82 O termo 2º grau foi disposto pela Lei no 5.692/1971, que fixou as diretrizes e bases para o ensino
de 1° e 2º graus em seu artigo 1º: “Para efeito do que dispõe, entende-se por ensino primário a
educação correspondente ao ensino de 1º grau e por ensino médio o de 2º grau” (BRASIL, 1971).
83 Conforme o Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de
84 O IFMG contava com um “sistema de reserva de vagas”, em cumprimento à Lei 12.711, que
reservava 50% das vagas, segundo critérios predefinidos.
85 As disciplinas do núcleo comum são as referentes ao ensino médio profissional, previstas nos
conta com vários espaços verdes e com bancos debaixo das árvores e nos
gramados, que possibilitam o descanso aos alunos, servidores e docentes nos
períodos de almoço ou jantar. Dispunha de um restaurante escolar que oferecia
diariamente almoço e jantar a preços subsidiados para alunos e servidores,
alojamento masculino e ambulatório médico para atendimento aos alunos,
servidores e docentes.
Destaca-se a biblioteca, que funciona de 8:00 às 22:30h, que se constitui em
um local propício para estudo individual e/ou em grupo, que disponibiliza amplo
acervo de livros e revistas que propiciam suporte teórico aos diversos cursos
ofertados no campus. Ressalta-se, também, a existência de um complexo esportivo,
com quadras e um ginásio poliesportivo. Outros espaços existentes oferecem
condições para o funcionamento do campus, contando com diferentes tipos de
serviços, tais como: prédio da administração, cantina, local para reprografia e venda
de apostilas, gráfica, Laboratório de Informática Educativa, pátio, Gerência de
Funcionamento Escolar, Gerência de Serviços Administrativos, cineteatro com
galeria de artes, Contabilidade, setor de compras, almoxarifado, marcenaria, elétrica,
garagem para os veículos oficiais e portaria.
O curso Técnico em Edificações é ofertado no Pavilhão Antônio Moreira
Calaes, um dos 12 pavilhões que compõem o campus. Sua denominação
homenageia o professor e engenheiro de minas e civil pela Escola de Minas da
turma de 193486. Algumas aulas, como as de Topografia e Desenho Arquitetônico,
são ofertadas, respectivamente, no Pavilhão de Desenho e de Geografia. O Pavilhão
de Edificações tem 1.200 m2 de área total construída e coberta, comportando nove
salas de aula, banheiros masculinos e femininos, um laboratório de informática com
20 computadores e uma sala de convivência para professores, com banheiro e uma
pequena cozinha. Em um anexo, o curso de Edificações conta com um galpão de
obras dividido em três espaços distintos: um Laboratório de Prática de Obras com
296 m2, um Laboratório de Mecânica dos Solos com 113 m 2 e um Laboratório de
Materiais de Construção com 114 m2. O curso pesquisado contava com oito
professores efetivos, um laboratorista e dois auxiliares de ensino.
86Antônio Moreira Calaes, natural de Juiz de Fora, Minas Gerais, nasceu em 3 de abril de 1911.
Exerceu na Escola de Minas de Ouro Preto a cátedra de Geometria Analítica, Cálculo Vetorial e
Nomografia. Lecionou, também, as disciplinas Cálculo Vetorial e Matricial, Cálculo Vetorial I e II,
Geometria Descritiva e Hidrovias. Coordenou e teve participação ativa na implantação do primeiro
Centro de Processamento de Dados na Escola de Minas. Disponível em: http://www.em.ufop.br/
em/diretores/calaes.php. Acesso em: abril de 2016.
149
Busca-se neste item apresentar uma análise descritiva dos perfis dos alunos
matriculados no turno da noite do curso Técnico em Edificações na forma
subsequente.
89 Essa nomenclatura refere-se aos alunos que frequentavam as disciplinas na ocasião da pesquisa
de campo. Segundo o levantamento do autor, o total de alunos matriculados nas quatro turmas
somava 81 alunos.
90 Justifica-se a existência em curso no período da coleta de dados provenientes da turma de 2014.1
no primeiro semestre, que deveria ter seu ciclo de dois anos encerrado no final do ano de 2015. Esse
fato ocorreu devido ao período de greve dos professores do IFMG-OP durante o ano de 2015 por 106
dias, que comprometeu o calendário de aulas previsto.
91 Esclarece-se que são considerados trabalhadores-alunos os alunos que exerciam atividade laboral,
que possuíam como característica mais marcante o trabalho fora de sua casa, pelo registro em
carteira profissional ou contrato formal de prestação de serviços e estavam matriculados no curso
técnico.
151
92De acordo com Costa, Ana (2011), em termos estritos (stricto sensu), a demografia define-se como
o campo do conhecimento que, baseado em dados fornecidos por registros e recenseamentos e com
aplicação de métodos e técnicas estatísticas, corresponde ao estudo quantitativo de populações
humanas com vistas a identificar o estado (estrutura) e o movimento (dinâmica) de tais populações.
Neste trabalho são considerados os dados estatísticos de estrutura da população tais como idade,
estado civil, divisão por sexo, entre outros.
153
94Referência estabelecida para o salário mínimo publicada no Diário Oficial da União (DOU) de
30/12/2015, no valor de R$ 880,00.
157
quatro ou cinco familiares (4,5), pode-se apreender que a renda per capita média
situava-se em torno de R$ 293,33, ou seja, inferior a meio salário mínimo.
De acordo com os dados coletados pelo IPEA (POCHMANN, 2007) baseados
na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/ Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (PNAD/IBGE), os jovens podem ser considerados pobres quando vivem
em famílias com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo e no extrato
intermediário em famílias com renda domiciliar per capita superior a dois salários
mínimos. Ao se analisar os dados coletados por esse pesquisador quanto à
condição socioeconômica, pode-se constatar que significativa parte dos alunos pode
ser considerada pobre, pois a renda familiar per capita era de até meio salário
mínimo e, em decorrência, esses estudantes careciam de capital financeiro.
Dessa forma, as diferenças na renda familiar podem influenciar nas condições
de escolarização e inserção no mundo do trabalho, sendo que, se essa renda for
aumentada, pode contribuir para que os jovens possam ter novas e melhores
perspectivas.
Confrontando a Tabela 6 - relativa à faixa etária dos estudantes que mostra a
predominância de jovens na faixa etária entre 19 e 22 anos (45,61%) - com a Tabela
10 - relativa à renda familiar cuja maior representatividade se situa entre um e dois
salários mínimos (54,39%) - e a Tabela 5 – que aborda a condição de trabalho ou
não e demonstra que 49,12% trabalhavam, conclui-se que, em geral, são maiores os
percentuais de renda por faixa etária para os que estudam e trabalham, justificando
a importância da atividade laboral na vida dos trabalhadores-alunos.
das mães em relação aos pais. Esses dados identificaram que as trajetórias
escolares dos pais dos estudantes se constituíam como precária, pois grande parte
deles não chegou a concluir o ensino fundamental.
Os dados obtidos na presente investigação levam a inferir que os alunos
pesquisados estavam buscando, reitera-se, capacitarem-se para obterem inserções
mais qualificadas no mercado de trabalho, a partir do ensino técnico
profissionalizante, confiando que mais escolaridade, pelo menos superior à de seus
pais, melhoraria suas condições sociais.
Quanto à rede de ensino que concluiu o ensino fundamental, na Tabela 13 lê-
se que 96,49% desses sujeitos cursaram esse nível de ensino na rede pública e
apenas um aluno cursou na rede privada ou em ambas redes de ensino. Desses,
96,25% frequentaram esse nível de ensino na idade compatível com esse nível de
escolarização, sendo que somente um aluno cursou capacitação profissional
equivalente ao nível de ensino em pauta95.
98Embora o número de trabalhadores-alunos seja de 22, os alunos autônomos e bolsistas podem ter
respondido a essa questão, o que explica o total de 36 respondentes.
164
Por fim, analisam-se as relações dos alunos entre suas atividades escolares e
seus trabalhos. Foram pesquisadas: a opção pelo curso no qual estão matriculados;
a relação entre o curso escolhido e o trabalho que exercem; o número de horas
dedicadas aos estudos fora da escola; os fatores que os levaram a escolher o curso
técnico; a avaliação sobre a escola e a sua pretensão de estudos futuros, após
concluírem o curso técnico. Nessa perspectiva, propôs-se a verificar se as condições
de trabalhadores assalariados lhes possibilitariam conciliar com os estudos,
permitindo que eles alimentassem projetos voltados para o aperfeiçoamento de suas
atividades profissionais.
Atinente aos motivos que os levaram a escolher o curso técnico que estavam
frequentando, 24,66% afirmaram que optaram por ele devido à afinidade ou vocação
pela área; 19,18% responderam que era para se aperfeiçoarem profissionalmente.
A respeito dos motivos pela escolha da instituição e do curso, 24,66%
disseram que tinham afinidade ou vocação pela área de construção civil; 19,18%
depuseram estar buscando o aperfeiçoamento profissional; para 17,12%, era devido
à qualidade e a credibilidade do curso Técnico em Edificações; 17,12% afirmaram
que era devido à excelente qualidade da escola; 11,64% deveram à gratuidade;
6,16% pelos recursos oferecidos e sua boa infraestrutura; e, por último, 2,74%
responderam ser devido à localização da escola. Informa-se que nessa questão os
alunos poderiam marcar mais de uma das alternativas propostas.
Em relação à afinidade entre as atividades de trabalho que exerciam e o
curso que frequentavam, 60,00% não reconhecem haver relação entre ambos;
25,71% responderam que as áreas eram muito relacionadas; 8,57% consideraram
que elas eram pouco relacionadas; e 5,71% alegaram que existia razoável relação
entre ambos. Verifica-se, então, que cerca de 70,00% dos alunos atuavam
profissionalmente em área não afim, o que permite apreender, então, que pela
maioria das respostas não havia relação entre as atividades do trabalho e o curso
que estavam frequentando.
166
Pelos dados coletados, indaga-se sobre a opção dos alunos pesquisados por
um curso profissionalizante fora de sua área de trabalho. Estariam eles procurando
mudar de campo de trabalho, cursando um curso centrado em outra área? Ou teriam
eles a intenção de ampliar seus campos de possibilidades como uma estratégia de
superação das condições precárias em que trabalhavam, buscando melhores
alternativas?
Considera-se que a opção pelo referido curso técnico poderia estar
relacionada, primeiramente, à possibilidade de mudar de área de trabalho para
obterem melhores salários. Em segundo lugar, a escolha teria sido feita pela
valorização da profissão conferida ao Técnico em Edificações. Em terceiro lugar,
pela possibilidade de melhorarem seus salários. Em quarto lugar, a possibilidade de
terem chances de obterem melhor atividade laboral. Por último, por ter sido uma
exigência da empresa. O fato de terem vocação pela área, seguir estudando em
nível superior e adquirirem alto nível de conhecimento também foram citados pelos
alunos, embora tenham sido posicionamentos pessoais e restritos a certos
estudantes.
Nota-se, portanto, uma contradição dessas respostas com o nível de
satisfação em relação ao trabalho atual, ou seja, se por um lado o trabalhador-aluno
deseja a mudança de trabalho para obter bons salários, por outro 56,75% deles se
consideraram satisfeitos ou muitos satisfeitos com seus trabalhos. Apenas 5,40% se
sentiam insatisfeitos ou muito insatisfeitos. Essa contradição é documentada na
pesquisa de Marques (1995), que constatou que o jovem na escola noturna não
estaria ali para “melhorar ou subir na vida”, mas com o objetivo de buscar construir
consideram que a escola não vem contribuindo para que o trabalhador-aluno tenha
condições de conciliar estudo e trabalho. Assim, esse sujeito optava por priorizar o
trabalho.
Entre os respondentes, ocorreram perspectivas de continuidade dos estudos
após conclusão do ensino técnico. As opções dos alunos apresentaram certa
diversidade, pois desejavam ser engenheiros civis ou arquitetos. E também
manifestaram vontade de cursar outras áreas da Engenharia, tornarem-se
empresário, topógrafo, técnico em edificações, gestor de pessoas, mestre de obras
e professor de AUTOCAD.
A maioria dos alunos ressaltou que admirava e gostava da instituição devido
ao seu reconhecido nível de boa qualidade e ao seu método de ensino, do bom nível
da educação ministrada e da proximidade e contato com os professores, das
amizades que foram criadas, das aulas práticas, assim como dos laboratórios e das
aulas de modo geral. Foi também elogiada a alimentação considerada como de boa
qualidade. Para os estudantes, essa alimentação era considerada importante para
assegurar suas permanências na instituição. Como pontos negativos foram
lembrados: o horário das aulas; a distância existente entre a escola e suas casas; a
dificuldade de realizarem suas tarefas escolares; a carência de recursos de
infraestrutura no prédio e nos laboratórios; a falta de professores; a não realização
de visitas técnicas; o escasso tempo para estudar; a ocorrência frequente de greves;
a necessidade de terem de levar régua “T” para as aulas de Desenho; e a
dificuldade na utilização dos ônibus após o final das aulas.
Enfoca-se que 69,81% dos estudantes respondentes se prontificaram a
participar da continuidade desta pesquisa, aquiescendo em responder às questões
das entrevistas. Contudo, continuaram sendo sujeitos da pesquisa os que trabalham,
têm CTPS assinada ou contrato formal de trabalho e, reitera-se, aceitaram participar
da etapa posterior deste estudo. Assim, 22 alunos concordaram em continuar sendo
sujeitos da pesquisa.
101A educação de jovens e adultos (EJA) foi incluída na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN), Lei nº 9394/96, como uma modalidade de educação, ou seja, modalidade ou
forma de se oferecer o ensino diferentemente da forma tradicional, tendo o mesmo valor garantido
pela legislação.
170
com amplo acervo de livros e revistas que dão suporte teórico aos diversos cursos
ofertados.
As instalações do prédio 12, localizado no Campus II, que abriga o curso
Técnico em Edificações, está instalado em uma área construída que totaliza 2.450
m², no qual constam oito salas de aula, gabinetes para os professores, quatro salas
para coordenação e secretaria, uma sala para professores, com banheiro, uma
pequena cozinha, instalações sanitárias e um auditório com 98 m², com capacidade
para 84 pessoas assentadas. Ao todo estão disponibilizados seis laboratórios de
informática, dois laboratórios de materiais e componentes da construção e dois
laboratórios de desenho com pranchetas. Tem, ainda, laboratórios de
comportamento mecânico de materiais, solos, meio ambiente e recursos naturais,
análise especiais de solos, pesquisa de solos e análise térmica.
Os horários de aula nos cursos ofertados no prédio 12 variam de acordo com
o nível e a modalidade de cada curso. Nos cursos técnicos integrados, as aulas são
ministradas nos turnos da manhã e da tarde, respectivamente, nos horários das 7:00
às 12:20 e das 13:00 às 18:20 horas. Nos cursos superiores e integrados do
PROEJA as aulas acontecem no turno da noite, das 19:00 às 22:40 horas. Ressalta-
se que no CEFET-MG os cursos técnicos são ofertados em módulos que, de acordo
com o projeto político-pedagógico de cada um deles, podem ser anuais ou
semestrais. No caso específico do curso técnico em Edificações na modalidade
PROEJA, a oferta é anual e seriada.
Para o ingresso na instituição investigada, os alunos dos cursos técnicos são
submetidos a um processo seletivo unificado para todos os campi, realizado em fase
única, com uma prova constituída de questões de múltipla escolha, obedecendo à
forma de oferta e ao período destinado para a conclusão.
Os campi I e II do CEFET-MG ofereceram, em 2015, 472 vagas para os
cursos no turno da noite, correspondendo a 43,87% do total de vagas para os cursos
técnicos, que foi de 1.076103. Salienta-se que os dados são referentes ao Edital para
o ano de 2015, pelo fato de esses alunos comporem a amostra deste estudo, pois os
que se matricularam encontravam-se, em 2016, na 2a série, compondo a turma
EDI.PROEJA.2N.
ofertados pelo CEFET-MG. Ele pode ser acessado de qualquer computador com acesso à internet,
permitindo aos alunos e servidores consultar as condições acadêmicas dos alunos, por intermédio de
uma senha pessoal.
174
Diante disso, no tocante aos altos índices de evasão dos alunos do referido
programa na instituição pesquisada, questiona-se se esse fenômeno ocorreria
também em outros cursos oferecidos no turno da noite. O problema da evasão
refere-se ao programa ou ocorreria no ensino noturno como um todo?
De forma específica, a coleta dos dados para esta pesquisa diz respeito ao
total de alunos que estiveram presentes nas salas de aulas no dia de aplicação dos
questionários. Em síntese, 29 alunos responderam aos questionários, do total de 25
alunos frequentes106 entre os 40 matriculados. Assim sendo, conforme consta na
Tabela 18, o percentual de respondentes em relação ao percentual de alunos
frequentes atingiu o somatório de 111,11%, sendo, portanto, maior do que se
esperava em relação aos alunos pesquisados.
Realça-se que não havia algum aluno novato matriculado no 1º ano, uma vez
que o número de inscritos para o processo seletivo para o ano letivo de 2016 não
atingiu o número de candidatos suficientes para formar a turma107.
106 Essa nomenclatura refere-se aos alunos que cursavam as disciplinas no período de realização da
pesquisa de campo.
107 Essa norma foi estabelecida de acordo com o Edital nº 109 de 09/09/2015: “o CEFET-MG reserva
a si o direito de cancelar o processo seletivo para o ano letivo de 2016, para os cursos da Educação
Profissional Técnica de nível médio para o(s)curso(s) em que o número de candidatos seja
177
que exerciam atividades laborais, que possuíam como característica mais marcante o trabalho
assalariado, a partir de registro em carteira profissional ou contrato formal de prestação de serviços e
que se encontravam matriculados no curso Técnico em Edificações.
178
Após análise dos dados, percebeu-se que a faixa etária compreendida entre
15 e 18 anos poderia ter sido excluída ou alterada, uma vez o PROEJA exige, como
requisito de ingresso, o mínimo de 18 anos de idade, conforme o que foi disposto
nos Editais referentes aos processos seletivos, que tomaram como base de
referência o Decreto nº 5.840/06 (BRASIL, 2006b).
Em síntese, os números mencionados evidenciam a distribuição etária
predominante que se posiciona na faixa acima de 31 anos, correspondendo a
51,71% do total dos respondentes. Se for considerada a faixa etária entre 27 e 30
anos, esses valores totalizam 68,95% dos respondentes. A partir desses dados,
constata-se que o público ingressante no curso Técnico em Edificações apresentava
179
109Referência estabelecida para o salário mínimo publicada no Diário Oficial da União (DOU) em
30/12/2015 era no valor de R$ 880,00.
181
seja, entre um e cinco salários. Na faixa referente aos estudantes que recebiam
acima de seis salários mínimos situaram-se 27,59%; e na faixa dos recebiam menos
de um salário mínimo estavam 6,90% das famílias dos alunos pesquisados.
(BRASIL, 2007), que prevê, entre outras ações, a assistência aos estudantes por
meio de bolsas de permanência110. A concessão dessas bolsas pode ter contribuído
para promover elevação média da renda per capita dos trabalhadores-alunos,
mesmo para os que se encontravam trabalhando, que recebiam auxílio no valor de
R$ 300,00 e a gratuidade da alimentação estudantil. No entanto, não é objeto de
estudo desta pesquisa analisar o efeito da concessão de bolsas para os alunos,
podendo ser um tema a ser contemplado em futuras pesquisas voltadas para esse
fim.
110 De acordo com o MEC, o Programa de Bolsa Permanência – PBP é uma ação do Governo Fede-
ral de concessão de auxílio financeiro a estudantes matriculados em instituições federais de ensino
superior em situação de vulnerabilidade socioeconômica e para estudantes indígenas e quilombolas.
O recurso é pago diretamente ao estudante de graduação por meio de um cartão de benefício.
183
Esses dados mostram que a trajetória escolar dos genitores dos estudantes se
traduzia em uma situação precária, pois grande parte desses sujeitos não chegou a
concluir o ensino fundamental ou não possuía escolarização.
Os dados obtidos nesta investigação levam a inferir que os alunos
pesquisados estavam se capacitando para conseguirem inserções mais qualificadas
no mercado de trabalho por meio do ensino técnico profissionalizante, que os
levaria, teoricamente, a alcançar status social superior ao dos seus pais.
A Tabela 27 mostra as redes de ensino nas quais os estudantes concluíram o
ensino fundamental; assim, 89,66% dos respondentes o cursaram em escola pública
e apenas três alunos o cursaram em escola privada, com ou sem bolsa de estudos.
Desses, 68,97% frequentaram esse nível de ensino na idade com ele compatível e
33,03% cursaram o ensino na modalidade de jovens e adultos (EJA). Detectou-se,
também, que entre os sujeitos da pesquisa, 55,17% cursaram o ensino fundamental
no turno diurno, 31,03% no noturno e 13,79% em ambos os turnos.
111Embora o número de trabalhadores-alunos totalize 11, os alunos autônomos e bolsistas podem ter
respondido a essa questão, o que explica o total de 22 respondentes.
188
TOTAL112 5 9 3 4 1 22
% 22,73 40,91 13,64 18,18 4,55 100,00
Fonte: Elaborada pelo autor.
alunos podem ser acometidos pela fadiga, pelo estresse e pela impossibilidade de
se dedicarem aos seus estudos, como relataram em suas pesquisas Pucci e
Sguissard (1992a).
TOTAL113 16 1 3 3 2 25
% 64,00 4,00 12,00 12,00 8,00 100,00
Fonte: Elaborada pelo autor.
certos estudantes, foram também citados outros motivos: preparar-se para adentrar
em um curso de Engenharia Civil; preparar-se para conseguir aposentadoria
satisfatória; construir suas próprias moradias; e por ser um diferencial, caso venha a
cursar o ensino superior. Em resumo, os alunos buscavam o certificado de técnico
visando, entre outras, a uma formação profissional em uma instituição reconhecida,
que se distingue pela notória qualidade de ensino, além da possibilidade de
obtenção de um emprego.
Capta-se, portanto, certa contradição dessas respostas com o nível de
satisfação em relação ao trabalho atual: o trabalhador-aluno deseja que sua
profissão seja valorizada e também busca a possibilidade de mudança de trabalho
para obter bons salários. Em contrapartida, 54,14% deles se consideraram
satisfeitos ou muitos satisfeitos com seus trabalhos e apenas 9,52% se sentiam
insatisfeitos ou muito insatisfeitos. Essa contradição foi também identificada na
pesquisa de Marques (1996), quando reportou que o jovem inserido no turno da
noite não estava ali para “melhorar ou subir na vida”, mas tinha o objetivo de buscar
construir ou afirmar sua identidade, que se constitui em uma característica cultural e
política da juventude atual.
Essa incongruência entre a satisfação com o trabalho atual e a opção de
buscar o curso técnico também pode ser explicada pela crença de que ele poderia
possibilitar mais oportunidades de inserção no mercado de trabalho. Entre os alunos
respondentes, 65,52% responderam positivamente a essa questão. Apenas 34,48%
responderam que talvez possibilitaria, sendo que nenhum aluno respondeu que o
curso técnico não possibilitaria uma oportunidade.
Os alunos sujeitos desta pesquisa de doutorado, ao serem questionados
sobre o número de horas semanais dedicadas ao estudo fora da escola, afirmaram
estudar menos de uma hora (34,48%); estudar uma a três horas (34,48%); dedicar
três a quatro horas (13,79%); estudar quatro a seis horas por semana (3,45%); e
dedicar seis a oito horas aos estudos fora da escola (6,90%). Possivelmente, essas
duas últimas respostas estariam relacionadas aos alunos que não trabalhavam. Por
consequência, a maioria dos alunos não conseguia acompanhar o desenvolvimento
dos conteúdos escolares, por não dedicarem tempo suficiente para a realização de
estudos extraescolares.
Quanto à dificuldade de conciliar trabalho e estudos, 38,46% afirmaram que
os seus estudos ficavam prejudicados; 30,77% conseguiam fazer boa conciliação;
192
23,00% não trabalham fora e 7,69% declararam que tanto o estudo quanto o
trabalho ficavam prejudicados; nenhum deles respondeu que o trabalho ficava
prejudicado. A informação de que o trabalho não era afetado pela dupla jornada leva
a se considerar que ocorreu mais centralidade no âmbito do trabalho, em detrimento
do estudo.
A maioria dos alunos ressaltou que admirava e gostava da instituição devido à
qualidade do ensino ministrado; aos competentes professores; às aulas técnicas/
práticas; às bolsas de permanência; às amizades e aos colegas. Foi, também,
elogiada a alimentação, considerada de boa qualidade. Acresce-se que dois
respondentes afirmaram que não gostavam da escola, explicitando alto nível de
insatisfação e frustração relativas ao curso ofertado pelo CEFET-MG.
Podem ser considerados aspectos negativos: a falta de interesse e
comprometimento de alguns alunos; a desorganização da instituição; as conversas
paralelas entre os alunos; a falta de respeito entre os alunos; a ineficácia da
administração/coordenação do curso; as aulas aos sábados; a falta de
profissionalismo e de comprometimento de alguns professores; a deficiência de
atendimento administrativo no período noturno; o descaso da instituição para com o
PROEJA; e a falta de informação da escola em relação às indagações dos alunos.
No tocante à perspectiva de continuidade dos estudos após a conclusão do
ensino técnico, houve certa diversidade, pois esses sujeitos desejavam ser
engenheiros civis ou arquitetos e também afirmaram a vontade de cursar outras
áreas da Engenharia ou se tornarem empresários, psicólogos ou se dirigirem para a
área de humanas.
Destaca-se que 69,23% dos estudantes respondentes se prontificaram a
participar da pesquisa qualitativa, que também subsidia este estudo. E 30,77% não
quiseram participar. Em síntese, os estudantes que desejaram continuar como
sujeitos da pesquisa se constituíam em trabalhadores-alunos que tinham carteira de
trabalho assinada ou contrato formal de trabalho, totalizando, portanto, 34,48% dos
alunos, equivalente ao total de 10 trabalhadores-alunos.
4.3 A análise comparativa entre os perfis dos sujeitos dos dois loci de pesquisa
Neste item, faz-se uma comparação entre os perfis dos sujeitos das duas
instituições, buscando traçar os perfis dos 57 alunos do curso Técnico em
193
114 Adota-se o conceito do INEP referente ao abandono, como a condição do aluno que deixa de
frequentar a escola durante o andamento do ano letivo.
196
Para esses autores: “[...] filhos de mulheres mais velhas e com mais anos de estudo
têm maiores chances de permanência na escola.” (SOARES et al, 2015, p. 767).
Assim, os alunos que possuem pais com alto nível de escolaridade tendem a
ser mais bem-sucedidos nas escolas por possuírem certa familiaridade com os
códigos escolares, porque tiveram acesso por intermédio dos seus genitores a esses
códigos que os colocaram em posição de vantagem em relação aos alunos cujos
genitores têm pouca ou nenhuma escolaridade.
Considerando as redes de ensino, 93,07% dos respondentes cursaram o
ensino fundamental em escola pública. A média, nesse item, nas duas instituições,
foi de 82,61% que frequentaram esse nível de ensino na idade compatível com esse
nível de escolarização; 67,93% estudaram no turno diurno; e 21,78% no noturno.
Esses dados certamente foram mais determinados pelos alunos do IFMG-OP que
possuíam média de idade inferior à dos alunos do PROEJA do CEFET-MG. Em
relação ao ensino médio, 28,01% cursaram no turno diurno e 35,66% o cursaram ou
estavam cursando no turno da noite.
Abordando reprovação em suas trajetórias escolares, 55,44% na média dos
alunos afirmaram terem sido reprovados. Ao se focar nos alunos do PROEJA do
CEFET-MG, entende-se que esses valores atingiram 79,31% para os que afirmaram
terem sidos reprovados em sua trajetória escolar.
Houve, portanto, significativa diferença entre os perfis escolares quanto à
descontinuidade escolar. Assim, os alunos do IFMG-OP evidenciaram certa
regularidade em termos da idade/série e os alunos do PROEJA apresentaram
inadequação entre o tempo/espaço de escola, caracterizando seu perfil como aluno
excluído devido à evasão, descontinuidade e repetências.
A grande maioria dos alunos (87,87%), em média, pretendia continuar seus
estudos após a conclusão do curso técnico, sendo que os alunos do IFMG-OP,
tinham mais pretensão para seguir os estudos (92,98%). Os alunos, em sua maioria,
aspiravam a seguir seus estudos nos âmbitos da Engenharia Civil ou da Arquitetura,
entre outras pretensões, como: Engenharias, Paisagismo, Urbanismo, Administração
e Psicologia.
Em média, 59,68% dos alunos trabalhavam recebendo salário e, em média,
22,00% trabalhavam como autônomos. A maioria dos respondentes (52,10%) atuava
no setor terciário em atividades de prestação de serviços. Destaca-se que 20,59%
197
115 Considera-se que uma das dimensões importantes da qualidade do emprego é a jornada de
trabalho. Ela contribui para o déficit de trabalho decente quando há excesso de horas trabalhadas. No
relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe/ Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento/ Organização Internacional do Trabalho (CEPAL/PNUD/OIT, 2008, p. 58),
foram consideradas excessivas as jornadas semanais superiores a 44 horas, limite fixado pela
Constituição Federal de 1988.
198
entre ambos; 18,85% tinham muita relação; e 8,85% declararam que existia razoável
relação entre ambos. Concluiu-se, portanto, que a maioria dos pesquisados atuava
profissionalmente em área não relacionada ao curso, o que permitiu afirmar a
inexistência de relação entre as atividades de trabalho e o curso de Edificações.
Os motivos da escolha do curso técnico não tiveram relação entre as
respostas dos trabalhadores-alunos das duas instituições, o que se explica pelas
diferenças de objetivos entre eles por causa de suas especificidades. No caso dos
alunos do IFMG-OP, a opção ocorreu primeiramente devido à valorização da
profissão de técnico em Edificações; em segundo lugar pela possibilidade de mudar
de emprego para obterem melhores salários; e em terceiro lugar, para melhorarem
os próprios salários. Para os trabalhadores-alunos do CEFET-MG, o principal motivo
foi a possibilidade de mudar de trabalho e obter bons salários; o segundo foi a
valorização da profissão de técnico; e em terceiro lugar a possibilidade de melhorar
seus salários.
Dessa forma, os trabalhadores-alunos buscaram na instituição um certificado
de técnico que os levaria a ter uma formação profissional que viabilizaria a
possibilidade de obtenção de um emprego ou de melhoria das suas condições de
trabalho. Nesse sentido, 77,49% dos alunos acreditavam que o curso técnico
ampliaria suas possibilidades de inserção no mercado de trabalho; 20,75%
consideravam que talvez ampliaria as possibilidades; e nenhum aluno respondeu
negativamente a essa pergunta.
Entre os alunos do IFMG-OP, 89,47% acreditavam que o curso técnico lhes
proporcionaria mais oportunidades de inserção no mercado laboral. Esse percentual
foi bem superior aos dados relatados pelos alunos do PROEJA do CEFET-MG, que
totalizou 65,52%. Esses dados justificariam o alto índice de evasão dos alunos do
PROEJA do CEFET-MG, uma vez que ocorre mais descrédito no curso técnico.
Ao serem questionados sobre o número de horas por semana dedicadas aos
estudos fora da escola, 34,78% referiram estudar entre uma e três horas; 34,40%
estudavam menos de uma hora por semana; e apenas 5,23% dedicavam mais de
seis horas aos estudos. Inferiu-se que cerca de 70,00% dos alunos estudavam
menos de três horas por semana fora da escola, o que pode significar interferência
negativa no acompanhamento dos conteúdos escolares.
Quanto à dificuldade de conciliação entre trabalho e estudo, 27,22% dos
trabalhadores-alunos responderam que os estudos ficavam prejudicados; 26,99%
200
conseguem conciliar bem a dupla jornada de trabalho e estudo; e para 11,88% tanto
o trabalho quanto os estudos eram prejudicados pelo fato de trabalharem e
estudarem. Ressalta-se que nenhum dos respondentes das duas instituições
afirmou que o trabalho ficava prejudicado pela dupla jornada, indicando mais
centralidade no trabalho em detrimento dos estudos.
Em ambas as instituições os alunos tinham a perspectiva de continuar os
estudos após o curso técnico, preferencialmente na área de construção civil ou
arquitetura, embora tenham pretensões de prosseguirem os estudos também em
áreas diversificadas.
Como pontos positivos das duas instituições, os alunos citaram a qualidade
do ensino; a competência dos professores; as aulas práticas nos laboratórios; as
bolsas de incentivo estudantil; a boa qualidade da refeição; e as amizades entre os
colegas.
Como pontos negativos, salientaram o horário do início e término das aulas; a
oferta de aulas aos sábados – especificamente no caso do CEFET-MG; a falta de
comprometimento de alguns professores e da direção da escola; a deficiência no
atendimento administrativo aos alunos no período noturno; a desorganização e
deficiência no processo de informação/comunicação - no âmbito do CEFET-MG; a
falta de professores; a inexistência de visitas técnicas; e o descaso da instituição
para com o PROEJA.
Nesta análise dos dados quantitativos, buscou-se conhecer as
especificidades dos perfis do alunado que vem frequentando o ensino
profissionalizante noturno no curso de Edificações em ambos os loci de
investigação, com o objetivo de vislumbrar alternativas de intervenção que
possibilitem o aprimoramento do atendimento a essa clientela específica.
116De acordo com Bardin (2011, p. 127), para atender à regra da representatividade: “a análise pode
efetuar-se numa amostra desde que o material a isso se preste. A amostragem diz-se rigorosa se a
amostra for uma parte representativa do universo inicial, neste caso os resultados obtidos para a
amostra serão generalizados ao todo”.
202
117 Bardin (2011, p.133) define codificação como a transformação – efetuada segundo regras
precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta que, por recorte agregação e enumeração,
permite atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão; suscetível de esclarecer o
analista acerca das características do texto, que podem servir de índices.
118 Bardin (2011, p. 135) define tema como uma unidade de significação que se liberta naturalmente
do texto analisado, segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura. É geralmente
utilizado como unidade de registro para estudar as motivações e opiniões.
119 Bardin (2011, p. 43) afirma que esse procedimento é o método das categorias, espécie de
120Diagrama ou gráfico de Pareto se constitui em gráfico de barras que ordena as frequências das
ocorrências, da maior para a menor, permitindo a priorização dos problemas ou temas. Mostra, ainda,
a curva de porcentagens acumuladas. Sua maior utilidade é a de permitir fácil visualização e
identificação das causas ou problemas mais importantes, possibilitando a concentração de esforços
sobre os mesmos. Para a confecção do gráfico lançou-se mão do software estatístico MINITAB®.
208
estudar, mas não tinha condições, meus pais não tinha condições então eu
tive que ir pro campo de trabalho pra poder me sustentar e ajudar eles
também, né? (TA 3 do IFMG-OP).
Bairro Avaí, Belo Horizonte, a família lá somos... éramos seis, igual o livro,
meu pai faleceu já tem uns 19 anos, e somos quatro irmãos - dois rapazes e
duas moças. Minha mãe é viva e mora com meu irmão na casa lá. (TA 7
CEFET-MG).
[...] O que me motiva é ela né. Quero dar um futuro melhor para todo mundo
lá. [...] Acaba que eles é que me ajudam. [...] o dinheiro dá, mas assim no
aperto. Porque as questões das faltas que eu tenho que faltar lá, então já
me atrapalham demais. Eu ganho menos da metade do salário quase. Fica
difícil, mas é pra gente viver mesmo e vim pra escola. (TA 2 do IFMG-OP).
Incentivavam porque eles porque eles pagavam minhas despesas, né, eles
pagavam bancavam, mesmo sendo uma escola pública a gente sempre tem
gasto, né? Então eles contribuíam com esse gasto, sem eles também eu
não ia conseguir nada, entendeu? (TA 3 do IFMG-OP).
210
Minha mãe e meu pai nunca incentivou a trabalhar não. Nunca eles sempre
queria que eu estudasse, estudasse. Sempre. Sempre incentivou. (TA 4 do
IFMG-OP).
Meu pai assim, ele sempre... não deixava a gente a faltar, só quando tinha
muita necessidade... (TA 5 do CEFET-MG).
Ah, sim... mas não com... assim... [pensando] com um apoio que... pudesse
me fazer enxergar adiante, nunca imaginei, né, é chegar a uma graduação e
tudo, apesar que eu já comecei e parei, mas limitado, a gente preocupava
mais com o pão de casa dia. (TA 7 do CEFET-MG).
E era uma coisa que meu pai sempre incentivou foi a gente a estudar.
“Meus filho, você estuda!” Porque eu perdi meu pai eu tinha 13 anos de
idade, mas ele sempre falava pra gente. “Meus filho, vocês estuda, eu não
tive estudo”. Meu pai e minha mãe não teve escola, mas sempre me
incentivou. (TA 8 do CEFET-MG).
Moro no Morro do Santana. Nos somos sete. Não, não. Só tem conta conta
três, quatro, quatro irmãos. Sou a acima da mais nova, a mais nova é
estudante aqui também. [...] Moro... Fica na saída para Mariana, lá no altão,
não tem um...lá no altão. Ai eu moro na saída pra... entrando ali na saída
pra Mariana. (TA 1 do IFMG-OP).
Em Mariana, mas moro no distrito de Mariana. [...] Pra baixo pro lado de
Cachoeira do Brumado Ponte Nova, indo pra Ponte Nova. [...] Eu moro com
primos e um irmão. São cinco pessoas na casa. (TA 2 do IFMG-OP).
Somos sete. Sou o terceiro. Eu moro na Serra. Vim pra cá na faixa de seis
pra sete anos. (TA 9 do CEFET-MG).
Meu pai é falecido, né, e minha mãe é como se diz... é aposentada, né? É
do lar e aposentada. [...] Meu pai trabalhava numa empresa de extração de
minérios... de não era nem de minério, aqui em Cachoeira do Campo, né,
no Cornélio [não entendi bem esta palavra] que era extração de mármore.
(TA 3 do IFMG-OP).
Não, minha mãe trabalhou até abril desse ano que ela é professora da rede
municipal, né, ela aposentou então ela parou, meu pai continua, meu pai é
aposentado também, mas meu pai continua como recepcionista de hotel.
(TA 4 do IFMG-OP).
Meu pai sempre foi caminhoneiro, minha mãe não era é.... era tipo uma
noviça, porque ela não tinha família e morava num orfanato lá no bairro
Eldorado lá em Contagem. (TA 6 do CEFET-MG).
Meus pais era lavrador, né? O nome que a gente dá lá, né, de lavrador. (TA
8a do CEFET-MG).
Meu pai trabalhava fora, ele trabalhava viajando. Meu pai ele trabalhava na
antiga...[...] é... fazia manutenção de das rodovias e minha mãe era.. era
doméstica. (TA 9 do CEFET-MG).
Olha, na realidade família tem faltado um pouco [risos], família tem faltado
pouco, faltado muito... ou até um pouco mais... (diminuindo o tom da voz).
Mas eu tenho feito o seguinte, trabalhar, eu tenho que trabalhar, né, eu
preciso trabalhar, mas...é... assim que eu saio do trabalho às vezes na, na
correria e tal eu vou na minha casa, eu tomo um banho e tal, naturalmente
arrumo para eu poder vim para aula, às vezes eu dou uma estudada, mas,
família mesmo é mais só final de semana. E quando eu tenho prova nem
isso [risos]. (TA 1 do IFMG-OP).
É claro que eles têm que reconhecer um pouco, assim, eu agradeço a eles
porque eles compreendem a minha ausência dentro da minha casa, né,
porque, mesmo com o trabalho já seria 12 horas fora de casa, com mais as
quatro ou cinco horas de escola, então, é 17 horas fora da esc.. de casa. Eu
chego em casa tar.. tem dia que eles estão acordados, mas normalmente
eles estão dormindo, quando eu saio eles tão dormindo. (TA 3 do IFMG-
OP).
É muito pouco tempo pra família que... que sobra, né, e eu tenho sentido
isso até pelo fato deu ter menina pequena, menino pequeno. [...] Sim. Então
ela... eu tenho sentido que eles querem mais a minha minha presença,
principalmente a minha menina. (TA 9 do CEFET-MG).
[...] ninguém gosta de vim aqui no sábado, ninguém, porque é um dia que
você poderia estar com sua família. Ah, eu não sou... tenho muito fluxo com
minha família, não, é mais eles pro canto deles e eu no meu. [...] Então
deve ter o que... tem mais de um ano que eu não vou lá, uns dois anos mais
ou menos que eu não vou lá, mas todo ano ela vem aqui, agora em
novembro ela vem pra cá. (TA 8 do CEFET-MG).
Eu acho que eu não tive uma vida de rei, né, igual meus filhos têm,
entendeu? Eu falo: hoje vocês têm uma vida de rei, vocês têm tudo na mão,
213
Na verdade eu comecei na roça, né, com 11 anos porque a minha ideia era
estudar, mas não tinha condições, meus pais não tinha condições, então eu
tive que ir pro campo de trabalho pra poder me sustentar e ajudar eles
também, né? Trabalhava pro pra outros fazendeiros. Ai já era na área rural,
entendeu? [...] Então eu fiquei uns seis meses procurando depois que eu
formei, aí entrei no Correios e fiquei lá até agora, deixa eu sossegar,
entendeu, é um emprego bem tranquilo. (TA 3 do IFMG-OP).
[...] assim durante o dia meu pai levava todos os irmãos e irmãs pra
trabalhar na roça. Aí a gente... como tinha filho homem, a gente fazia cerca
e... [...] Assim, primeiro eu fui pra cidade. Aí eu fiquei trabalhando na casa
de uma mulher lá por nove meses eu só limpava. [...] aí vei eu e minha irmã
que é abaixo de mim, eu tava com 20 anos. (TA 5 do CEFET-MG).
[...] fez agora dia 1º de abril, apesar de ser o dia da mentira, fez 30 anos que
eu trabalho, comecei em 86. De COPASA [Companhia de Saneamento de
Minas Gerais], tem 14 anos. [...] No CEFET mesmo. Formei em 97, aí eu
tive uma carreira melhor profissional na área técnica eu trabalhei, fiz estágio
na CEMIG [Companhia Energética de Minas Gerais], na PRODABEL
[Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte], na
FIAT [Fabbrica Italiana de Automobili Torino], depois eu trabalhei na
empresa de um professor até aqui do CEFET, se chamava Rezende e Silva
Engenharia. [...] Já na área de Eletrotécnica já como técnico. É... depois eu
fui para a Mannesmann, fiquei lá cinco anos na área de manutenção chão
de fábrica, sofrendo com temperatura alta, barulho e calor, aí eu passei no
concurso da COPASA. (TA 7 do CEFET-MG).
Ah... Eu trabalho desde... 2000 e... [pensando] desde dois mil e...
[pensando] desde 2009, assim eu trabalhava, mas eu trabalhava lá no
interior, às vezes a gente ia na casa de uma pessoa, fazer uma faxina e tal,
mas assim na cidade eu trabalho desde 2009. [...] 2012 quando eu vim pra
cá eu trabalhei no restaurante. Eu trabalhei lá no restaurante lá por volta de
quase dois anos, [pensando] quatro, cinco, seis... tem uns seis anos que eu
trabalho. (TA 8 do CEFET-MG).
Antes eu era babá. Eu peguei o Augusto com quatro anos e hoje ele já está
com 10 anos, já tá grande. E hoje eu faço comida, limpo, essas coisas
assim, levo ele pro Minas, faço as duas coisas. Oito horas. (TA 5 do
CEFET-MG).
trabalho da casa mesmo, e não faço comida também não. Oito horas, seis a
oito horas. (TA 8 do CEFET-MG).
Eu pego às 7h, largo 16:40. Dá por volta de nove horas. Já deve ter uns
seis meses que eu tô ralando lá. [...] Pago aluguel e é caro, não é barato, a
gente tem que comprar o alimento e a gente não ganha nada. [...] Porque as
questões das faltas que eu tenho que faltar lá, então já me atrapalham de
mais. Eu ganho menos da metade do salário quase. Fica difícil, mas é pra
gente viver mesmo e vim pra escola. (TA 2 do IFMG-OP).
De oito às 17. Normalmente não, mas tem plantões de dois em dois meses
no sábado e domingo. (TA 7 do CEFET-MG).
[...] 7 horas e 20. Assim, tem sempre aquela hora extra, né, no comércio a
gente nunca sai no horário, sempre tem alguma coisa pra fazer, sempre tem
algo a mais. (TA 9 do CEFET-MG).
Nenhum. Não. Eu até cheguei a conversar com ela a questão de deu estar
faltando nas terças-feiras e se vê o que podia fazer por mim... mas nada.
Não ajudam mesmo. (TA 2 do IFMG-OP).
Há até hoje tipo assim, já falei com meu encarregado, o supervisor, que eu
estou fazendo o curso é porque caso aparecer uma oportunidade pra frente,
né? Mas, por enquanto tá na mesma coisa. Não tem essa perspectiva. (TA
4 do IFMG-OP).
Não. Não. É... Quando eu consigo é quando algum colega pode cobrir o
plantão, eu não tenho benefício nenhum, se não tiver ninguém eu tenho que
ir fazer o plantão se não for... (TA 7 do CEFET-MG).
Não. Incentivo não. Ela eu acho com 30% se caso eu fizesse Faculdade,
né, mas assim... (TA 9 do CEFET-MG).
Sim. Sim. [...] eu tava trabalhando à noite antes do curso e trabalhava de dia
e ficava à noite também. Aí minha patroa foi e me inscreveu no CEFET, eu
só escolhi o curso, ela pagou a inscrição e tudo... (TA 5 do CEFET-MG).
aqui é só você dá uma lida que você consegue fazer isso aí. (TA 8 do
CEFET-MG).
4.4.2.7 Trajetória escolar: início da atividade/ idade/ local/ desempenho geral/ turno/
interrupção
Comecei lá na roça, né, e aí todo dia tinha que andar muito porque... [...]
Era um pouquinho... Não era que tão longe assim, perto, hoje eu não vou
mais, era coisa de uns 45 minutos andando a pé e com sete anos todo dia...
[...] A gente ia de manhã. Era o ensino fundamental e à tarde a gente ia pra
roça e à noite que a gente fazia o para casa, estudava e fazia essas coisas
assim. (TA 5 do CEFET-MG).
Foi, com sete anos. [...] Não. Eu concluí a 8a série aqui. [...] Comecei lá, aí
eu fiquei parada foi o tempo que eu casei muito nova ai eu... (TA 8 do
CEFET-MG).
De dia à noite. Eu fiz o segundo grau à noite [...] É lá na roça que tinha tudo,
tinha tudo lá. [...] Não, nunca. Sempre quis dar continuidade direto. (TA 2 do
IFMG-OP).
foi por volta foi nos anos 70. Aí em vim pro... eu queria fazer Agronomia,
mas só tinha em Viçosa pra mim e era inviável. Aí eu vim pra escola técnica,
antiga escola técnica e fiz o curso de Matalurgia. E formei em 83 demorou...
Era 3 anos, mas eu tomei pau um ano aí eu repeti um ano e fiz com quatro
anos em 83, aí eu procurei um estágio ou emprego naquela época. (TA 3 do
IFMG-OP).
Com sete anos. Com sete anos. [...] Olha, desde que minha mãe morreu
era... foi bem mais complicado lá em casa, então... a gente tinha que ajudar
desde sete anos, seis, tinha que ajudar em casa . Mas...minha vó que foi
criar... criar a gente... foi morar com a gente ela incentivava bem, mas
assim, era você por você e você por você, porque a gente escola à pé, a
gente, sabe? [...] Concluí o ensino médio a ...Deixa eu ver... tem uns 24
anos atrás. Já trabalhava. Eu que financiei. (TA 6 do CEFET-MG).
Aí naquela época era diurno, né, o dia inteiro integrado, aí eu acho que, eu
achei que eles puxam muito no ensino de dia. Ai eu não aguentei muito não,
aí eu sai fora porque segundo ano. Depois da segunda bomba, que eu
tomei no primeiro ano e uma no segundo. (TA 4 do IFMG-OP).
A escola fica é.. próximo, assim a gente ia a pé, né, porque na época não
tinha ônibus, essas coisas toda, mas ficava um pouquinho longe. É no
bairro Santa Efigênia minha primeira escola, no Santa Efigênia, e eu... como
eu morava na Serra e eu moro lá até hoje, aí eu tinha que andar a pé, né?
(TA 9 do CEFET-MG).
[...] o marido não deixava eu estudar, aí eu tive que ficar parada, aí depois
quando eu separei dele é que vim aqui pra Belo Horizonte mesmo que eu
comecei a estudar. Fiquei parada por volta de uns seis anos, sete anos,
mais ou menos. (TA 8 do CEFET-MG).
Então, eu... eu eu tinha muitos anos, eu tinha 15 anos que eu tinha... que
eu.formei, né, que eu tinha formado e... eu, assim, eu tinha vontade de de
estudar e voltar a estudar de novo aí. (TA 9 do CEFET-MG).
Quase um ano em casa mesmo. [...] O ensino médio meu, o que acontece
eu comecei ele na rede municipal, né, aí quando... é mentira, o ensino
220
[...] pode ser um incentivo para acreditar que tem sentido tentar ser sujeitos
de novos percursos, como pode ser a última tentativa de saída. Do percurso
que tantos jovens-adultos fazem de volta à escola podem sair encontrando
sentido de conhecimento e do estudo como podem sair mais convencidos
de que as trajetórias escolares são incompatíveis com suas trajetórias
humanas e que não acrescentam novas luminosidades para sua
compreensão e menos para a mudança. (ARROYO, 2004, p. 107).
Parece uma loucura, questionado por muitos, mas era as condições que eu
tinha. É..., durante esse período que eu estava na PUC também aconteceu
uma coisa interessante que eu sofri dois acidentes, eu fiquei 11 meses
afastado, bati a cabeça, apaguei... [...] falei assim: enquanto eu tô dando um
tempo, eu vou procurar um curso voltado para a Engenharia, e eu sempre
lembrei do CEFET, eu tenho o maior carinho e respeito pelo CEFET, pra
mim é uma instituição muito séria, em que o conhecimento aqui é fantástico,
sabe, eu gosto muito daqui, eu indico pra várias pessoas, é... leva-se a sério
Ah... não tô fazendo isso por causa da empresa que eu trabalho não. Eu tô
fazendo isso por conhecim... interesse próprio, eu gosto dessa área, eu
acho fantástico a Engenharia Civil, né, porque eu tô pensando lá na frente,
em continuar o curso e os conhecimentos adquiridos aqui só vão agregar lá
na frente pra mim. (TA 7 do CEFET-MG).
Ah! Quando é... gente, preciso mesmo época de prova a gente tem que
varar noite, e consequentemente a gente não dorme. (TA 2 do IFMG-OP).
Ah! Eu tento tipo assim, deixar o mínimo de coisa possível da escola pra
deixar no final de semana. Quando tem alguma coisa pra fazer em casa, eu
procuro fazer na hora do almoço no serviço, então estudar pra prova na
viagem que eu faço de ida e volta todo dia, no ônibus então eu tento
eliminar muitas dessas coisas do sábado domingo pra ficar mais tranquilo.
[...] É chego em casa depois do serviço, depois da aula pego mais um
pouquinho pra fazer umas atividades. (TA 4 do IFMG-OP).
Consigo. Eu fico até quatro horas, três e meia, cinco horas da manhã
sentada lá, mas sempre eu faço lá. [...] Ah só final de semana mesmo. Que
aí muitas das vezes aos domingo eu pego e tiro às vezes no sábado eu
chego em casa e tem trabalho pra fazer, aí eu chego em casa e faço à noite
e no domingo eu sempre costumo tirar um tempinho pra mim sentar e
revisar alguma coisa. Aí eu devo ficar por volta de uma hora, meia hora por
aí. [...] Mas e... muitas das vezes que se tenho prova, aí eu costumo tá indo
pro serviço e dando uma olhada na matéria dentro do ônibus. [...] inclusive,
na terça eu tenho folga, então vocês têm que marcar alguma coisa marca
na terça, porque na terça eu posso, aí sempre elas trata de combinar com
todo mundo pra ver se na terça dá por conta do meu caso. [...] No sábado
não. Aí eu tenho a terça em casa e o sábado até meio dia em casa. (TA 8
do CEFET-MG).
223
[...] mas um segredo que eu descobri essa semana, manter o ritmo, não... é
uma dica que eu falo com os alunos, com os colegas, não percam o ritmo,
sequência de estudo tem que ser sempre, é deu a matéria faz os exercícios
sempre acompanhando, se tem exercícios preparatórios pra prova, faça-os
porque é aquilo que vai te ajudar na prova e você vai bem nas provas,
segue essa sequência. (TA 7 do CEFET-MG).
Detecta-se que o fator “tempo” tem sido uma questão de extrema relevância
para se enfrentar a dupla jornada de trabalho e estudo, pois, como constataram
Leão (1998) e Haddad (1991), a inadequação entre o tempo e o cotidiano dos
trabalhadores-alunos reflete-se na falta de tempo para esses alunos se dedicarem
aos estudos fora da escola. Reforça-se, portanto, que esses trabalhadores-alunos
não dispõem de tempo necessário tanto para o estudo, quanto para desenvolver
atividades extras e de lazer. Sabe-se que um curso técnico requer do aluno
dedicação, além de assistir às aulas presenciais, uma vez que os professores são
exigentes e requerem a realização de tarefas extras e, em decorrência, os alunos
pesquisados estudavam à noite, não tinham tempo para realizarem trabalhos em
casa, o que certamente afeta suas formações.
Olha, para ser sincera pra você, o nível de dificuldade mais corrido é
Desenho. É a matéria que é mais corrida e que eu tenho dificuldade e que a
professora, tipo assim, joga meio que a matéria no quadro e é quase que
um “se vira”...[...] Olha, o Flávio é um professor muito bom, os... a
distribuição de notas dele é pesada, mas ele é um professor excelente,
explica pra caramba, a Sandra também, a distribuição de pontos dela é
mais tranquila e ela explica para caramba. (TA 1 do IFMG-OP).
Muitas das vezes sim. Eu só tenho uma questão pra reclamar, que é só
do... mesmo de Estruturas, mas das outras nenhum. [...] Eu já gostei muito
de História. Só que a História que eu vejo hoje em dia, pra mim... eu não sei
a partir de agora, mas até onde eu vi eu não gostei da matéria, aqui não,
mas lá... [...] Eu acho que era devido ao professor mesmo, porque ninguém
tipo, ninguém ia muito bem... Os textos dele eram muito difíceis, era coisa lá
da graduação lá. Ele pegava os textos de lá e trazia. (TA 8 do CEFET-MG).
Eu também nunca coloquei isso, não expor assim, tentei, ah, o pessoal fala
assim, tá dando de vítima essas coisas, todo mundo trabalha e estuda, eu
nunca levei pra esse lado, eu fico na minha, sabe, eu não gosto de ficar... o
problema que é meu é meu, sabe? (TA 5 do CEFET-MG).
Olha, eu nem questiono a dificuldade, não. Eu, eu peço até que não, eu não
é pra me facilitar em nada, eu não estou aqui pra ter facilidade, muito pelo
contrário, exijam bastante e façam de mim um técnico muito bom, né? (TA 7
do CEFET-MG).
Para esses alunos, é importante que eles sejam tratados de forma igualitária,
sem diferenciação, por terem consciência de que a sua condição de trabalhador-
aluno não deveria ser vista como diferente e desconfortável, requerendo tratamento
específico. Acreditam que o fato de estudarem no turno da noite não significa que
225
Mas eu vou pra ser... para não falar que eu sou muito radical eu vou dividir
50% do aluno e 50% do CEFET. Porque à noite a gente não tem apoio
nenhum mesmo. [..] Ninguém nunca veio nem aqui na porta pra perguntar
como estavam as coisas. (TA 6 do CEFET-MG).
Claro que se pudesse mudar alguma coisa aqui, a gente mudaria alguns...
Algumas matérias a mais que a gente tem que acha que não é tão
necessário, que é o caso lá de Desenho Técnico que eu reduziria pra fazer
mais arquitetônico, porque é mais na realidade da gente, né, pra gente
voltar mais na realidade. (TA 2 do IFMG-OP).
Olha, vou ser sincera, eu não tenho apoio da, da direção nem contato com a
direção, pra ser sincera pra você. (TA 1 do IFMG-OP).
Tipo assim, a gente chega aqui tem dia que não tem professor, aí o
professor não manda e-mail, não avisa e nada e eu gastei dinheiro de
passagem eu tô gastando do meu bolso eu venho e pago passagem do
meu bolso, chego aqui e não tem professor e aí eu vou embora. [...]
Comunicação. [risos] Não dá atenção nem nada disso. Se a gente... for o
caso de professor pra gente, nas outras salas de curso superior... Eles
tiravam o nosso professor e levava pra lá e deixava a gente sem aula. [...]
Eu tô mentindo no início, primeiro ano quando a supervisora era a Raquel,
ela assumia tudo, ela corria nas salas, preocupava mais com os alunos,
dava atenção e tudo, e passava mesmo nos corredores e perguntava se
tava bem essas coisas, tinha aquela aquela preocupação, agora nada disso.
(TA 5 do CEFET-MG).
Olha, é... tanto no ano passado, quanto este ano a gente tem sentido meio
frustrado com relação a isso porque tanto as tanto informações do outro
campus não chegam aqui quanto a informação daqui não chaga lá... (TA 7
do CEFET-MG).
Você chega à noite aqui, a administração está fechada, você chega pra
pegar uma carteirinha só até as seis horas se seu ônibus atrasou, você não
pega a carteirinha, então, assim, não tem apoio, então isso eu acho que
deveria, não é só pra gente do PROEJA não, eu acho que deveria olhar
para os alunos da noite. (TA 6 do CEFET-MG).
227
[...] a gente fica na sala de aula perdidos, não sabem o quem seguir, tudo
que tem problema numa determinada matéria, falta de professor e tudo
demora a se resolver, é uma tristeza muito grande, é uma pena porque
numa instituição desse porte que pra mim é a melhor de todas, não tenho
dúvida, era pra ser... era pra se esperar uma... uma agilidade maior e não é
isso que acontece. (TA 7 do CEFET-MG).
Eu acho que... como já foi comentado, acho o EJA está um pouco assim
abandonado, sabe, é assim o meu ponto de vista, eu acho que é acho que
não tem uma devida é sei lá uma informação, sabe, às vezes a gente fica
sabendo das coisas em cima da hora não tem comunicação entre o
coordenador e os alunos... (TA 9 do CEFET-MG).
[...] esse ano, por exemplo, eu quase desisti, quando chegou aqui no início
do ano faltando professor, faltando professor, isso desestimula a gente, eu
igual eu te falei, eu pego seis ônibus por dia e chego aqui e não tem
professor, eu estou deixando de curtir minha família, duas crianças
pequenas, pra dedicar e chego aqui e não tem professor. (TA 7 do CEFET-
MG).
Aqui não... Pra gente principalmente agora que é a reta final, 4o ano, deveria
ter aula de laboratório até o ano está terminando e não tivemos nenhuma.
[...] Porque a professora de Solos, a Fernanda, tentou marcar laboratório no
sábado aqui pra gente, informaram pra ela que tava em manutenção e não
liberou. [...] Nem visita técnica. (TA 6 do CEFET-MG).
Acho que ficou muito preso ali, é muito sedimentar, sempre caneta e papel
a gente teria... porque hoje a gente a tecnologia hoje a gente tem que tá...
ela tem que ser nossa amiga, né, querendo ou não facilita muita coisa. (TA
2 do IFMG-OP).
Zainko, Pinto e Bettega (1989), expresso na frase: o ensino noturno não se constitui
em prioridade, pois sobrevive nos espaços ociosos.
Embora o CEFET-MG não atenda adequadamente o disposto na Constituição
Federal de 1988, ele contempla a determinação do documento base, que dispõe
sobre o PROEJA, especialmente em relação à concessão de bolsas-permanência
para os alunos, direito assegurado pelo Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE) veiculado no ano de 2007.
[risos] Não... [...] Quando me dava a bolsa, né? Quando eu tinha bolsa, aí
sim. Três anos. Sim, na passagem na alimentação. (TA 5 do CEFET-MG).
Ah... Eu tenho uma bolsa, né? Então pra mim isso é uma ajuda boa. [...] É
permanente. Aí eu posso almoçar e jantar e não precisa tá colocando
crédito no seu cartão nem nada. [...] Recebo 300 reais, isso é além deu
receber o dinheiro eu posso almoçar e jantar. (TA 8 do CEFET-MG).
Sim. O CEFET, assim... Ele, ele, ele é em questão assim de até da bolsa,
porque.. [...] Eu recebo a bolsa que me ajuda até na passagem que é muito
bom e outro é o almoço, a janta, né, no caso. Não pago, então pra mim
assim é uma mão na roda. (TA 9 do CEFET-MG).
Eu acho que uma das coisas que eu imagino, não tenho certeza, é que é
por causa da bolsa. É o CEFET dá uma bolsa aí pra alguns alunos e tem
uns que vêm acho aqui mais por causa da bolsa mesmo, 300 sei lá quanto
ou 400 reais que é esse negócio eu acho um absurdo isso porque a vida lá
fora poderia estar sendo mais útil pra eles. [...] Agora vir aqui pra não
estudar e ainda atrapalhar quem quer estudar é isso pra mim é pecado. (TA
7i do CEFET-MG).
Com relação ao desempenho em Desenho. Acho que foi todo mundo. Foi
geral (TA 2 do IFMG-OP).
Cálculo. [risos] Eu acho muito difícil, só que vamos ver, né? [...] Tem
algumas. As que eu mais interesso sim, outras pelo fato dos professores ser
um professor chato, aí dificulta um pouco, né, mas as que eu gosto sim. (TA
5 do CEFET-MG).
Ah... Muitas das vezes eu tenho dificulidade pra poder pensar pra colocar a
cabeça pra funcionar, pra pensar assim. [...] Não... de Cálculo e em
Português. [...] Português é porque eu não gosto tanto de ler é isso que eu
penso que se eu tenho dificuldade é porque eu não leio, se você tem aquela
incentivação de ler, então, sua mente vai abrindo mais, e Cálculo é porque
eu sou ruim mesmo de Cálculo mesmo. (TA 8 do CEFET-MG).
Sim. As mais difíceis pra mim são Português, né, é agora vai entrar História
e Geografia no ano que vem, isso pra mim que é difícil, porque o Português,
por exemplo, agora voltado pra arte, né, pra essas coisas aí.. [...] É
Literatura, eu não tenho muito acesso no dia-a-dia, então pra gente é difícil.
(TA 7 do CEFET-MG).
Tem certas matérias que a gente tem certa dificuldade, né? [...] Eu tenho
muita dificuldade em Matemática, Matemática eu tenho muita dificuldade.
Se eu for reprovado. Aí eu vou parar de estudar. (TA 9 do CEFET-MG).
Tem até um fator muito importante que eu falto ao trabalho toda terça-feira
porque eu tenho aula de Topografia à tarde... Não teria como eu vim, então,
eu perco um dia de serviço lá pra tá aqui na terça. (TA 2 do IFMG-OP).
Não, nenhuma. [...] Sim. Todas desde os primeiros anos. (TA 6 do CEFET-
MG).
Então, às vezes, às vezes a gente tem um pouco assim de de ... não é... o
tempo é muito curto, mas dá pra fazer, dá pra conciliar tranquilo. (TA 3 do
IFMG-OP).
Eu nunca tive muito problema não. Apesar de... eu falo muito com minha
turma que a minha turma é uma turma jovem, né, 21, 22 anos e eu com 55,
então estou muito defasado. [...] Por eu ser mais velho eu brinco com todo
mundo, respeito todo mundo e todo mundo me respeita e brincam comigo e
até pedem ajuda. Não sei se é por causa da experiência, né, mas... fazer o
que eu acho assim é... (TA 3 do IFMG-OP).
A turma com certeza tem os seus grupinhos, né, todo lugar tem uma pessoa
que não vai muito com a cara da outra, mas eu gosto. (TA 4 do IFMG-OP).
Nós temos colegas em sala de aula que estão lá, a gente não sabe o que
eles estão fazendo aqui até hoje, porque não estudam, conversam a aula
toda e atrapalha todo mundo, isso é uma vergonha numa instituição séria
desse jeito. (TA 7 do CEFET-MG).
Mas sinceramente os que não trabalham só estão com dificuldades por falta
de interesse. Falta de interesse, porque tipo, quem não trabalha tem tempo
pra poder chegar em casa estudar, rever a matéria, sabe? Refazer exercício
e se dedicar. (TA 1 do IFMG-OP).
[...] o que eu não gosto daqui do CEFET que eu acho que tem precisa ser
tomada uma atitude séria, é com a questão das pessoas que estão aqui por
outros motivos a não ser estudar [...] E não está querendo fazer e que está
atrapalhando a gente. Essas pessoas o CEFET... peço mais uma vez,
olhem isso o que que tá acontecendo, vocês estão prejudicando a quem
quer estudar, o CEFET tem que enxergar isso aí e tomar uma atitude, o que
esses alunos estão fazendo aqui, se não estão querendo estudar, tá
prejudicando quem está estudando. [...] Porque imagina a professora ter
que coordenar lá quase 20 alunos é... Se fosse todo no mundo no mesmo
ritmo já seria difícil, imagina dar aula pra alunos em três ritmos diferentes,
tem uns que estão muito adiantados, uns estão no ritmo normal e uns que
estão lá atrás. [...] Uai, cola. Na internet tem tudo. [...] Usa escondido e tudo.
E isso é uma vergonha, porque além de tá tirando vantagem em relação aos
outros alunos tá se formando um péssimo profissional amanhã sai aí fora
olha um viaduto caindo aí de novo! Aí o que o cara fez de errado? Não
calculou uma estrutura direito e aí, né? (TA 7 do CEFET-MG).
Para Togni (2007), nas classes do ensino médio noturno convivem alunos
situados na faixa ligada à juventude, que convivem com outros estudantes mais
amadurecidos que se matriculam buscando novas oportunidades de adentrar na
escola, geralmente após muitas frustrações nas suas trajetórias escolares. Na fala
de alguns trabalhadores-alunos, essa situação foi evidenciada, na qual foram
percebidas as diferenças entre os alunos que trabalhavam e os que apenas
estudavam.
Marques (1996) explicita que os trabalhadores-alunos buscam a escola não
mais como uma forma de “melhorar de vida”, “subir na vida”, pois eles estão
buscando construir situações propiciadoras de afirmação de suas identidades. Essa
autora recomenda que a análise da escola noturna deva ir além das relações entre
trabalho e escola.
Ah, a diferença lá é porque lá eu sou mais sozinha, né? Tipo não tem
ninguém pra ficar tá conversando, assim não tem ninguém pra mim poder
discutir uma questão de um trabalho, então eu vejo muito essa coisa de
interação assim, e aqui não esse, aqui às vezes você chega um colega ali
cê começa a conversar... (TA 8 do CEFET-MG).
234
Daqui. Ah, é o que eu mais gosto daqui é esse... esse contato com os
colegas, sabe, essa distração que você tem, essa pressão que às vezes
você sai do do serviço e vem pra cá, você entendeu? É um meio de de me
distrair também entendeu. (TA 9 do CEFET-MG).
Muito boa, vei, com relação aos estudos é as melhores, né, tentar formar
aqui eu acho vejo uma grande área pra mim um grande mercado de
trabalho, acho que o curso que em si te proporciona isso, porque é um
curso muito amplo, né, as áreas de trabalho é muito ampla e o estudo eu
235
não quero parar também, né, eu acho... [...] Engenharia Civil. [...] É eu
pretendo fazer aqui ou fazer fora para ganhar um tipo de conhecimento
diferente, metodologia diferente, estar mais ligado ao mundo também, né?
(TA 2 do IFMG-OP).
Ah, eu tava querendo Engenharia, só que ainda estou pensando [risos]. Ah,
eu pensei em Arquitetura. (TA 5 do CEFET-MG).
Eu faço esse curso, igual eu tô fazendo, igual eu falei, eu não sei se eu vou
seguir na área e eu penso muito em fazer Paisagismo, pra mexer com
negócio de planta, esse negócio de jardim, né, porque eu gosto muito de
planta, de verde eu gosto, então. [...] Eu tô pensando em fazer outros
técnicos só. [...] Eu não sei se tem técnico de Paisagismo. E penso em fazer
um técnico em Enfermagem também. (TA 8 do CEFET-MG).
O trabalho que você faz tem alguma relação com o curso que você cursa
aqui? Não. Não. [...] Não tem nenhuma relação. Porque é totalmente
diferente, Turismo com Edificações... (TA 1 do IFMG-OP).
Não. Nada a ver! Porque lá é mesmo é peças voltado pra mineração, né,
não tem muita coisa, mas é lógico que tem uns negocinhos que bate, mas é
muito pouco, então... (TA 2 do IFMG-OP).
Na verdade nenhum dos cursos que eu fiz tem nada a ver com os Correios.
Se eu fosse fazer um curso, o ideal seria o que uma Contabilidade, uma
Administração, que seria uma coisa voltada para os Correios. (TA 3 do
IFMG-OP).
O desenho técnico tem tinha a ver com o serviço meu, né, o desenho com
Topografia a gente acaba tendo um pouco, eu mexia com projetos, essas
coisas. [...] Tem, né, porque aqui na região não tem curso de Agrimensura,
então as empresas exigem pro... pra... trabalhar em Topografia o curso
técnico que esteja envolvido com Topografia. Então... Mineração,
Edificação, então, eu tô fazendo Edificações mais por causa disso e por
causa que também tem Elétrica, eu fiz Eletrotécnica, então tem projeto. [...]
Eu acredito que sim, eu acredito que caso uma redução, caso uma
promoção, talvez eles podem avaliar isto, né? (TA 4 do IFMG-OP).
Não. Eu escolhi Edificações, não tem... assim nem foi por causa da minha
empresa, foi porque há muito tempo atrás desde..., eu já era casada na
época e tal, eu.. eu gostava de reformar minha casa e comecei a... É. E eu
comecei a... a ter mais gosto mesmo pela Edi... pela Civil, porque eu
comecei a comprar casas muito velhas e tal, comecei a reformar, mesmo
com outra empresa. Então, às vezes eu fazia, morava lá... (TA 6 do CEFET-
MG).
Não. È bem diferente. Muito pouco, não tem muito fundação pra isso lá não.
(TA 8 do CEFET-MG).
237
Olha, vamo dizer, é bem puxado. [...] Chega aqui em Mariana por volta das
seis horas, porque pra voltar é mais difícil, tem um trânsito mais pesado...
Eu tenho em torno de meia hora pra tomar banho e vim pro IF pegar o
ônibus, condução pra vim pro IF. [...] Consequentemente eu chego aqui
atrasado todo dia. De linha, de linha, e consequentemente eu chego aqui
atrasado todo dia eu perco meia hora de aula, mas não tem muito que fazer
correr a traz, fica puxado um pouco porque eu saio daqui 11 horas, aí cê
chega em casa, cê dorme meia noite já e tem de acordar no outro dia 5h,
vou falar procê, viu.. [...] cinco horas, isso quando dorme, quando você
dorme bem... [...] A gente tem que lutar com o que tem, né, mano? [...] A
gente tenta dar término, né, tudo dentro de sala, porque durante o dia é
imp... muito complicado. (TA 2 do IFMG-OP).
Hoje em dia a rotina é pesada. [...] Aí eu tento trocar o plantão, quando não
dá eu tenho que perder aula. Já aconteceu, aí infelizmente, né, acho que foi
até no 1º bimestre aí ou no 2º, eu tive que perder aula de Desenho Técnico
e tudo e me complica um pouco, né, porque eu não gosto de perder aula.
(TA 7 do CEFET-MG).
Pago aluguel e é caro, não é barato, a gente tem que comprar o alimento e
a gente não ganha nada. [...] Porque as questões das faltas que eu tenho
que faltar lá, então já me atrapalham demais. Eu ganho menos da metade
do salário quase. Fica difícil, mas é pra gente viver mesmo e vim pra escola.
[...] Hoje? É. Eu tento conciliar o estudo com a família, porque,
consequentemente, aqui eu termino... eu passo a maioria do meu tempo na
escola e no trabalho, família é só final de semana, mas... (TA 2 do IFMG-
OP).
Só que para mim acho que é mais difícil porque eu trabalho no campo.
Então, tipo assim, para eu sair mais cedo tem que deslocar minha equipe
toda que eu trabalho com ela para eu deslocar para eu chegar no horário
pra eu ir pra aula, então, eu acho que vai ser meio difícil deu ir. (TA 4 do
IFMG-OP).
239
Vai ter uma visita esse... O professor de Hidráulica agendou para outubro,
ele até tinha agendado uma que era durante o dia, numa quarta-feira, mas
aqui todo mundo trabalha acabou que não... Ninguém compareceu... (TA 6
do CEFET-MG).
Até que não. Tipo assim, pra mim só é um pouco mais cansativo, mas pra
mim falar assim eu vou parar de trabalhar por conta da escola ou vou parar
de estudar por conta do serviço, nesse ponto pra mim eu nunca cheguei a
esse extremo não. (TA 8 do CEFET-MG)
[silêncio] Estou cansada nos dois é a semelhança né? Aqui é melhor aqui
porque passa mais rápido a hora, aqui é quatro horas, né, e lá é mais. [...]
Eu trabalho mais do que estudo. (TA 5 do CEFET-MG).
Olha, é... o cansaço é o... [pensando] o mais difícil. Hoje aqui mesmo... eu
tento render o máximo eu procuro até manter um ritmo de... de pergunta de
questionamentos, como professor pra eu nem dormir é o jeito deu ficar
acordado, se não eu durmo, é minha artimanha é essa, eu não posso ficar
calado que eu durmo, eu tento ficar acordado é difícil... (TA 7 do CEFET-
MG).
Ah... Consigo, mesmo com o, né, o cansaço e tudo mais.. dá pra levar. Ah..,
acho que o cansaço em si ele, ela, meu trabalho em si já é muito
desgastante, né, então, assim, tem hora que você chega aqui, igual eu falo,
se eu chegar em casa e deitar e descansar, eu não acordo mais não.
Entendeu? É pelo fato a... do próprio cansaço, mas... também assim... acho
que... há um... tem que haver um esforço do meu lado também, entendeu?
240
questão de obra esse negócio, eles te ensina aqui a planejar qualquer coisa
não só em materiais de construção. (TA 2 do IFMG-OP).
Tem porque teve uma matéria da Sandra, que foi a de terraplanagem, né?
Que deslocava terra de caminhão prá lá e lá tem muito disso de mineração.
(TA 4 do IFMG-OP).
Igual o trabalho de ontem que eu tive que tirar foto de esquadrias, aí eu tirei
lá do trabalho porque eu tava lá, né, aí eu trouxe pra aqui, isso alguma coisa
assim, que eu pego é lá, medida de bancada, tô lá eu pego medida de pia
essas coisas assim. (TA 5 do CEFET-MG).
A única coisa que eu levei pra lá foi o dia que eu dei uma ideia pra eles que
eles tava querendo montar uma mesa de escritório e eles não sabia como
montar, porque eles achava que o espaço era pequeno, eu falei assim pega
uma trena e mede o espaço primeiro, aí foi onde que eles falaram, ah, é se
bem que nós temos uma técnica aqui em casa, né, a gente não sabe... Aí
eu falei mede o espaço primeiro, muitas das vezes que ela que mudar
alguma coisa de lugar, aí eu peço pra ela, vamo medir o espaço primeiro
pra depois a gente mudar, porque a gente não vai tirar isso daqui pra levar
pra lá sem saber se vai caber naquele lugar lá. (TA 8 do CEFET-MG).
Acho que... que... a diferença é que aqui todo dia a gente tá vendo uma
coisa nova e lá, querendo ou não quando aparece, tem atividade, cada dia
que passa aparece que não tem atividade diferente, mas é bem pouco,
sabe, às vezes chega um equipamento novo. Aqui não sempre tô vendo,
nunca vi, coisa que eu não espera vê, lá não lá é mais rotina. [...] Acho que
pode sim, porque muita coisa que a gente aprende aqui que talvez
querendo ou não tem um pouco há ver com relação ao serviço da gente,
qualquer atividade, né, talvez você aprende a ou começa a vê uma
atividade que você achava boba e vê de outra forma, pode melhorar uma
atividade. Entendeu? (TA 4 do IFMG-OP).
[...] você vê, o conhecimento de uma pessoa que está fazendo o 2º grau de
novo, igual eu, ampliou meu conhecimento, apesar deu ter o 2º grau no
Marconi, aqui vai além, sabe todas as matérias. [...] Não só lá como na vida
pessoal. (TA 7 do CEFET-MG).
Tipo assim, ah, minha atividade é... é... mais rotineira, então, é muito... não
tem nada de diferente não, mas, eu acho que.. dependendo da visão, né?...
Isto talvez possa tá melhorando minha visão lá no serviço. (TA 4 do IFMG-
OP).
243
Eu acordo cinco horas. [...] Aí, se acorda cinco a gente sai 6:30, a gente
pega o ônibus, vai para Barra Longa, ultimamente a gente tá lá, a gente
pega o ônibus, a gente.......[...] Perto de Ponte Nova também, mais ou
menos a distância de 60 km só para ir. [...] Uma hora e meia de viagem. [...]
É ônibus da empresa. Aí a gente pega o ônibus, a gente chega lá. A gente
sai de lá quatro horas e tem que voltar de novo. (TA 2 do IFMG-OP).
Eu levanto por volta de umas cinco horas da manhã, aí vou trabalhar, né?
Pego o ônibus ali em Saramenha por volta de seis, 6:15 . [...] Especial da
empresa Gardênia que faz o transporte. Aí chego lá em Congonhas por
volta de 07:30, aí dou entrada no cartão, faço minha atividade o dia inteiro,
paro pra almoçar, retorno do mesmo jeito, retorno, chego em casa por volta
de15 pras sete; sete horas e venho para a escola de carro próprio. (TA 4 do
IFMG-OP).
Eu acordo por volta das 5 e meia e a minha esposa nesse momento ela já
saiu de casa já foi trabalhar e eu fico com as duas meninas pra eu poder
arrumar e levar até a casa da minha mãe que é no quarteirão seguinte e
ficam aguardando o especial, e eu vou correndo pro ponto do ônibus pra
pegar o ônibus seis e 20 da manhã num deslocamento de uma1 hora e 40
pra chegar no trabalho. [...] Não, eu pego ônibus de linha mesmo, são três
ônibus pra ir e três pra voltar. [...]...eu pego 9211, 83 D e o outro ônibus lá, o
que passar. [...] Uma hora e 40. De deslocamento. Na volta na mesma
forma, mas interrompendo porque eu tenho que parar aqui no CEFET. [...] a
verdade que a dificuldade que eu sofro é o cansaço mesmo, sabe, é chegar
aqui muito cansado, devido a esse deslocamento muito alto, né, eu não
tenho carro pra ajudar a deslocar, é tudo de ônibus, a moto tá abandonada
devido a esses acidentes, eu tô com muito medo, eu venho de vez em
quando de moto, no sábado, mas hoje eu nem vim, trouxe o capacete
porque eu peguei uma carona, é a dificuldade, é o cansaço, o cansaço é o
grande problema. (TA 7 do CEFET-MG).
Eu saio... eu levanto às... hoje em dia eu levanto às seis horas. Aí... saio de
casa seis e meia, saio do trabalho, não tenho muito horário pra sair do
trabalho, tem dia que eu saio seis, tem dia que é às cinco, tem dia que é
quatro e meia. [...] Vou de ônibus. Uma hora e meia mais ou menos. [...]
Dois ônibus. Um pro centro e outro do centro até lá. Eu chego mais ou
menos umas 11 horas, por aí. (TA 8 do CEFET-MG).
Então. Minha rotina é acordar cinco horas da manhã todo dia, é... pegar o
ônibus é... eu pego dois ônibus até chegar na Pampulha, que eu moro do
outro lado da cidade. [...] Chego em casa umas 10 e meia, 11 horas. E
levanto cinco horas no outro dia. (TA 9 do CEFET-MG).
/ idade / natureza
local e incentivo
RELATIVAS AO TRABALHO
/ local e área
há FAMILIARES,
e estudar
Pretensões
persistência na continuidade dos PROSSEGUIREM NOS ESTUDOS,
futuras
estudos apesar dos problemas e APESAR DE SUAS DIFICULDADES
discriminações ocorridas em suas o percurso escolar é marcado
trajetórias escolares. pelos rumos de suas trajetórias
sociais;
retomada de trajetória escolar.
não atuam na área ligada ao 18. BUSCA DE NOVAS
com o trabalho
Relação curso
se autossustentarem; PARA SE NO
dificuldades de participarem de ENTANTO, ESTÃO CIENTES DE QUE O
atividades extracurriculares; CANSAÇO OS IMPEDE DE PARTICIPAR
o cansaço por enfrentarem a DE ATIVIDADES EXTRACURRICULARES
dupla jornada de trabalho e estudo E DIFICULTA A CONCENTRAÇÃO E O
que interfere no aproveitamento APROVEITAMENTO ESCOLAR
escolar; fatores de ordem
o ensino noturno acirra as socioeconômica interferem
diferenças e as distâncias culturais negativamente na permanência e
entre os trabalhadores-alunos e as no bom aproveitamento escolar;
outras camadas/classes sociais a escola funciona com base em
regras específicas e com uma
linguagem particular homogênea
que deve ser, inclusive, pelos
trabalhadores-alunos
ausência de diálogo entre a 20. PERCEPÇÃO DAS DIFERENÇAS
conhecimentos: para
o trabalho, estudo e
escola. DA ESCOLA
atividades escolares e laborais
a vida
5 CONCLUSÃO
Pode-se afirmar que nos governos Lula e Dilma a EJA foi adquirindo mais
importância, na medida em que seus participantes foram tratados como sujeitos de
direitos, tendo também recebido níveis mais altos de investimentos do governo
federal.
Especificamente no campo da educação profissional, que se constitui como
tema e loci desta investigação, foram criados o PRONATEC em 2011 e o PROEJA
em 2005, que se constituiu como o programa investigado nesta tese, em um dos
campi.
Pode-se considerar que esses programas se inserem no âmbito das políticas
públicas de inclusão social, que objetivaram resgatar uma dívida histórica com os
sujeitos que foram excluídos tanto social quanto educacionalmente.
E, dessa forma, os referidos governos procuraram atender aos preceitos
explicitados e assegurados ela Constituição Federal de 1988, cognominada de
Constituição Cidadã.
Essa Lei Maior avançou, garantindo uma série de disposições que
objetivaram assegurar os direitos dos homens/cidadãos, a partir da ação civil
pública, o mandato de injunção, mandato de segurança coletivo, entre outros.
Sendo o Brasil um Estado Democrático de Direito, compreende-se a intenção
dessa Constituição de contemplar a dignidade da pessoa humana como seu
pressuposto básico, tendo em vista a instauração de uma sociedade democrática,
igualitária, justa e solidária, capaz de diminuir, ou mesmo extinguir, as
desigualdades sociais.
Acrescenta-se, também, que o país, por possuir, reitera-se, grandes
desigualdades sociais e econômicas, as políticas inclusivas se constituem como
estratégias que objetivam assegurar a universalização de direitos civis, políticos e
socioeducacionais121. Todavia, os avanços alcançados pelos governos Lula e Dilma,
que se consubstanciaram na diminuição das desigualdades sociais e na busca de
assegurar os direitos dos cidadãos, vêm sendo desmantelados pelo governo Temer.
E, assim, a mencionada Constituição Federal de 1988 vem sendo violentada,
na medida em que os direitos por ela assegurados têm sido extintos e o Ministério
Público, até então, não vem atuando efetivamente na exigibilidade dos direitos
Essas são as questões que valem a pena serem retomadas como objeto de
futuras investigações, tomando-se diferentes instituições, considerando-se suas
diversidades e particularidades.
266
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10 mar. 2013.
285
Prezado(a) aluno(a),
CURSO: ______________________________
MODALIDADE: ( ) concomitante ( ) subsequente ( ) PROEJA ( ) outro______
ANO DE ENTRADA: ________________
Este questionário foi elaborado com o objetivo de obter algumas informações a respeito da
realidade social dos alunos do ensino profissional noturno desta escola. Os dados não serão
tratados isoladamente, mas no conjunto das informações dos respondentes. É importante
destacar também que o seu nome, como dos demais participantes da pesquisa, não será
revelado.
INSTRUÇÕES
I – CARACTERÍSTICAS DO RESPONDENTE
7. Qual é a renda familiar dos que residem com você? (Para esta questão, considere a
soma dos salários das pessoas que residem na mesma casa)
( ) Menos de 1 salário mínimo ( ) 1 a 2 salários mínimos ( ) 3 a 5 salários mínimos
( ) 6 a 8 salários mínimos ( ) 9 a 10 salários mínimos ( ) 11 a 12 salários mínimos
Outros______________________
II – PERCURSOS ESCOLARES
17. Cursou ensino fundamental (1º grau) em escola regular? ( ) pública( ) particular
20. Qual a ÚLTIMA SÉRIE que você concluiu no curso “regular” DIURNO?
Ensino fundamental (1º grau): ( ) 1ª série ( ) 2ª série ( ) 3a série ( ) 4ª série ( ) 5ª série
( ) 6ª série ( ) 7ª série ( ) 8ª série ( ) 9ª série
Ensino Médio (2º grau): ( )1ª série ( ) 2ª série ( ) 3ª série
( ) não cursei alguma série no curso “regular” diurno ( ) não me lembro
24. Você deixou de estudar durante algum tempo na sua vida? ( ) sim ( ) não
Se sim, por quanto tempo? _____________ Em que série(s)? _______________
Por que motivo? ______________________________________________
27. Em caso de trabalhar fora de casa, qual a área de atividade de seu trabalho?
( ) primária: retira da natureza as matérias-primas (mineração, agrícola, pecuária, etc.)
( ) secundária: transforma, modifica ou beneficia a matéria-prima(indústria)
( ) terciária: aproxima o produtor do consumidor e distribui bens (comércio e prestação de
serviço)
28. Por que NÃO trabalha fora de casa com atividade remunerada?
( ) Não encontro trabalho ( ) Não tenho necessidades financeiras
( ) Obrigações em casa ( ) Trabalho por conta própria
( ) Estudo durante o dia ( ) outros motivos.
Quais?___________________________________
122Utilizamos como critério de classificação do porte das empresas o número de empregados que o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) usa para a indústria, para fins bancários, ações
de tecnologia, exportação e outros.
289
40. Qual a relação entre o curso que você faz e o seu trabalho?
( ) não tem relação ( ) pouco relacionada ( ) razoavelmente relacionada
( ) muito relacionada ( ) totalmente relacionada
41. Você acredita que com o curso técnico você obterá mais chances no mercado de
trabalho? ( ) Sim ( ) Não ( ) Talvez
42. Quantas horas por semana, aproximadamente, você estuda fora da escola?
( ) nenhuma ( ) menos de 1 hora ( ) 1 a 3 horas ( ) 3 a 4 horas
( ) 4 a 5 horas ( ) 5 a 6 horas ( ) 6 a 8 horas ( ) mais de 8 horas
43. Em relação ao fato de estudar e trabalhar: (Esta questão deve ser respondida
apenas pelo(a) estudante que trabalha e estuda).
( ) Não vejo problema ( ) Os estudos ficam prejudicados ( ) O trabalho fica prejudicado
( ) Tanto trabalho como estudo ficam prejudicados
44. Que fatores levaram você a escolher o curso técnico que frequenta?
( ) possibilidade de melhorar no trabalho ou na profissão escolhida
( ) mudança de emprego/carreira
( ) valorização da profissão no mercado de trabalho
( ) possibilidade de ter um bom trabalho
( ) exigência da empresa em que trabalha
( ) facilidade dos alunos formados nesse curso para conseguir emprego
( ) outros - Quais? ____________________________________________
Nome: ______________________________________________________________
Telefone: ______________________________________________________________
e-mail: ______________________________________________________________
Início da Entrevista
Cumprimentar o entrevistado; explicar o objetivo da entrevista; garantir a
confidencialidade dos dados recolhidos; e pedir autorização para gravar a conversa.
Informar que todas as informações dadas serão usadas apenas para fins
acadêmicos, sem identificação do entrevistado.
PERFIL DO ENTREVISTADO
1. História de Vida:
Infância;
Lugares onde morou;
291
4. Relação trabalho-escola
De que forma você vem conseguindo conciliar trabalho, estudo e família?
O curso no qual você está matriculado tem relação com o seu trabalho? Explique.
Quais são suas expectativas frente tanto em relação aos estudos, quanto ao
trabalho?
Você considera que a sua aprendizagem na escola ajuda em alguma ação
desenvolvida em seu trabalho? Dê exemplos.
E o contrário? Ações desenvolvidas no trabalho ajudam na sua aprendizagem na
escola?
Você vê diferenças ou similaridades entre sua rotina no trabalho e na escola? Quais?
Fim da Entrevista
Agora que a entrevista acabou, deseja dizer algo que ainda não explicitou e gostaria de
salientar?
Obrigado por ter aceitado o convite para participação, que muito contribuiu para a
pesquisa que estou realizando!
292
Declaração de Consentimento
_________________________________________________________
Nome do participante da pesquisa (em letra de forma)
DADOS DO PARECER
A presente proposta tem como objetivo identificar e descrever as políticas públicas de inclusão e os
princípios pedagógicos estruturantes do ensino noturno da educação profissional de nível médio. O
projeto foi organizado sob três matrizes orientadoras: a identificação do perfil deste aluno, a
identificação e descrição das políticas públicas de inserção na educação profissional e na função
social da escola de ensino profissionalizante na formação de um cidadão ativo, tendo como pano de
fundo o projeto societário dominante. O locus de investigação estrutura-se na organização de
trabalho e processos formativos de uma escola profissionalizante da rede federal de educação
tecnológica de nível médio pertencente à rede pública de ensino, uma vez que o percurso formativo e
histórico desta rede de ensino profissional técnico vem sendo marcado pela perspectiva de
superação ou de manutenção de um caráter assistencialista. O desenvolvimento do projeto se
alicerçará metodologicamente em aspectos qualitativos que viabilizem o alcance do objetivo proposto.
Alguns dados quantitativos serão incorporados à análise para proporcionar mais riqueza de
informações e aprofundamento interpretativo. Como procedimentos e instrumentos serão adotados: o
estudo bibliográfico, o trabalho de campo, a observação, a aplicação de questionários e a realização
de entrevistas com os sujeitos da pesquisa.
Endereço: Av. Dom José Gaspar, 500 - Prédio 03, sala 228
Bairro: Coração Eucarístico CEP: 30.535-901
UF: MG Município: BELO HORIZONTE
Telefone: (31)3319-4517Fax: (31)3319-4517 E-mail: cep.proppg@pucminas.br
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O eixo teórico que fundamenta este trabalho está voltado para as pesquisas políticas e sociais que
procuram entender os desafios da escola moderna na perspectiva do trabalho e educação, com
apreciação das políticas públicas para a educação profissional inclusiva na possível promoção do
status sociocultural de alunos trabalhadores que frequentam o ensino profissionalizante noturno.
Objetivo da Pesquisa:
Objetivo Primário:
- Delineamento e análise do perfil do trabalhador aluno do turno da noite e análise dos princípios
sociais (filosóficos, científicos e pedagógicos) norteadores desse ensino em duas instituições de
educação profissional.
Objetivos Secundários:
- Historicizar, de forma crítica, a trajetória do ensino noturno no Brasil dando-se destaque à oferta do
ensino profissional de nível médio;
- historicizar a trajetória da educação profissional no Brasil, dando-se ênfase ao período
compreendido entre a Reforma Capanema em 1942 e as Diretrizes Curriculares para essa
modalidade de educação, realizada em 2012;
- identificar e contextualizar a introdução do ensino noturno no país;
- traçar o perfil dos trabalhadores alunos que frequentam a formação profissional de nível médio;
- traçar o perfil socioeducacional dos trabalhadores-alunos matriculados no turno da noite;
- investigar, nos cursos pesquisados, se os professores e gestores reconhecem e procuram atender
às características e peculiaridades dos trabalhadores-alunos.
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Adequada e pertinente.
Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:
Os termos de apresentação obrigatória foram anexados e estão de acordo com as normas vigentes.
Recomendações:
Situação do parecer:
Não
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