Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Abstract
Even before the modern industrialization industrial production was expanding as total
product and total labor employed. Beginning with Franklin Mendels a group of authors
argued that this expansion fostered modern industrialization in many ways. Where the
proto-industry was more developed industrial revolution could breakthrough. This
theory raised a lot of criticism that need to be evaluated. This study begins by revisiting
the proto-industrial theory their arguments and subsequent developments. Then the
critics are presented as well as its consistency and relevance.
Por último, a alta mortalidade e o custo marginal menor de ter vários filhos
também contribuíam para que as famílias proto-industriais procurassem ter o máximo
de filhos possíveis para maximizar a produção. Isso implicaria em maior densidade
populacional e famílias maiores dentro da mesma casa em regiões proto-industrias vis-
à-vis regiões agricultoras. (KMS 1981)
Mendels, em seu estudo sobre Flanders no século XVIII, aponta que a maior
parte da terra era arrendada. O aumento do preço das terras teria incentivado os
senhores de terra a subdividir as propriedades em terrenos menores de maneira a ganhar
mais com a renda da terra. Propriedades menores por sua vez reduziam a capacidade de
sobrevivência das famílias somente através da produção agrícola. O crescimento
populacional seria em parte responsável pelo aumento do preço das terras nessa região
pelo lado da demanda, mas, para Mendels, o aumento de investimento no mercado de
hipotecas por classes urbanas, como magistrados e mercadores, seria o principal
causador do fenômeno de encarecimento das terras em Flanders e da consequente
fragmentação da propriedade. O encarecimento da terra facilitou a proto-
industrialização da região.
5 Pastos artificiais são pastos criados pelo homem que utilizam plantas próprias para o
consumo de animais aumentando a produtividade pecuária.
responsável pelo aumento da proto-indústria não havia necessidade da agricultura de
subsistência ser predominante na região para que a proto-indústria se desenvolvesse.
(MENDELS 1972; GULLICKSON 1983)
Mendels apontou que uma série de regiões como Alsácia e Renânia, localizadas
na França e Alemanha respectivamente, onde a proto-indústria se concentrava
previamente se desenvolveram para centros modernos industriais. Por outro lado,
regiões sem proto-indústria só se desenvolveram para centros industriais modernos caso
matéria prima abundante ou novas fontes de energia estivessem disponíveis como
Lorraine na França ou Krivoi Rog na Ucrânia.
Mendels e KMS enfatizam, todavia que isso não quer dizer que a proto-
indústria tivesse uma ligação de necessidade com a Revolução Industrial. A maioria das
regiões proto-industriais se desindustrializaram frente à competição com a Inglaterra
como Ulster na Irlanda, Silésia na Polônia e Bretanha na França. Mendels apontou que
condições além da proto-indústria eram importantes para que a proto-indústria, a
“primeira fase da industrialização”, passasse para a indústria moderna. Mendels
ressaltou a importância do acesso à matéria prima e a novas fontes de energia, mas
escreveu que o determinante seria “acima de tudo a estrutura sócio-política.”
(MENDELS 1972, p. 246) Entretanto Mendels não usou uma palavra sequer para
descrever o que seria essa estrutura sócio-política.
Segundo, a população que vivia nas cidades até o século XVIII era diminuta
em relação à população total e para atender a esse aumento de demanda era necessária
mais mão-de-obra que só podia ser encontrada no campo, onde estava a maior parte da
Terceiro, o campo oferecia ainda outras vantagens de custo que não estavam
relacionadas a mão-de-obra. No campo havia menos impostos, algumas matérias primas
eram mais baratas e a comida também era mais barata.
É possível perceber que KMS usaram parte da literatura que foi indicada por
Mendels para fazer uma interpretação mais clara das causas da proto-industrialização.
Além de especificar melhor as causas da protoindustrialização KMS adicionaram dois
fatores pelos quais a proto-indústria ajudariam no processo de industrialização moderno.
O segundo novo fator colocado por KMS foi a relação conflituosa entre a
proto-indústria e o sistema feudal. O monopólio sobre a força de trabalho exercido no
sistema feudal impedia que uma massa de trabalhadores se voltasse para a proto-
indústria. Os senhores feudais também impediam que os camponeses perdessem as suas
terras em caso de quebras de safra, pois tinham interesse em mantê-los nas terras como
forma de projetar poder e garantir força de trabalho. Sem perder ou reduzir suas terras
os camponeses tinham mais condição de se sustentar somente com a agricultura
evitando a produção industrial para o mercado.
Mesmo que por algum motivo fosse desejo dos camponeses dividir a
propriedade os senhores feudais ou a comunidade de aldeões poderia insistir na
indivisibilidade da terra suprimindo a emergência de um mercado de terras e
controlando o estabelecimento de aldeões. Finalmente, podia haver controle judicial de
casamentos ou do consentimento para que casamentos ocorressem de maneira que o
crescimento populacional ficasse restrito. Como foi visto, o crescimento populacional
segundo a teoria proto-industrial é fortemente conectado com o crescimento da proto-
indústria. O feudalismo reduzia assim o crescimento populacional e a diferenciação
entre os camponeses em produtores proto-industriais e agricultores.
Todavia não foi simplesmente a falta de inovação técnica que levou a exaustão
desse modelo produtivo embora tenha sido um fator importante. Como a produção
proto-industrial se expandia de forma extensiva e não de forma intensiva os mercadores
tinham que expandir a produção rural para áreas cada vez mais distantes e dispersas.
Isso encarecia o custo de transporte e tornava cada vez mais difícil controlar a produção.
Interrupções no processo produtivo, perda do produto e roubos por parte dos pequenos
9 Não fica muito claro em que sentido os pequenos produtores temeriam a inovação
por conta do desemprego. No sistema proto-industrial o próprio trabalhador controla o processo
produtivo, então por que ele ficaria desempregado usando uma técnica inovadora? Uma possível
explicação é que os pequenos produtores tivessem receio que outras pessoas perdessem o seu
emprego apresentando assim uma consciência de classe, mas não parece ser o caso. Outra
explicação seria que uma espécie de movimento ludista ameaçasse os produtores que usassem
máquinas modernas. Isso também parece pouco provável. KMS não tecem mais explicações
sobre esse ponto sendo impossível saber com certeza. Ao que tudo indica a falta de capital era o
principal motivo para não haver inovação técnica.
produtores se tornaram cada vez mais comuns. Isso aumentava a necessidade de um
sistema que centralizasse a produção e permitisse um controle efetivo do processo
produtivo por parte do empreendedor. O que levou a centralização do trabalho em
grandes manufaturas que permitiram maior controle da mão-de-obra e ganhos de
produtividade. (MENDELS 1972, KMS 1981)
Embora já tenha sido comentado é bom lembrar que essas fases do processo
produtivo podem ter se seguido passo a passo ou com saltos como também podem ter
sofrido regressões. Isso varia muito de região para região dependendo de uma série de
processos sócio-políticos e geográficos. O ponto central da teoria é que o avanço do
processo proto-industrial reforçava a possibilidade de uma revolução industrial.
5. Críticas
Isso não vai contra a teoria apresentada por KMS que enfatizaram que um dos
motores da proto-indústria era a demanda externa e que o salário médio na proto-
indústria deveria ser menor do que a média da economia. Nesse caso um período de
aumento salarial médio deveria incentivar a expansão protoindustrial como forma de
reduzir o gasto com mão-de-obra como KMS explicitam no seu trabalho. O
determinante de toda a maneira seria a demanda, especialmente a demanda externa, e a
incapacidade das cidades em atendê-la e não as flutuações do salário médio.
Pomeranz (2001) tem uma visão bem diferente sobre o papel desses mercados.
Pomeranz comenta estimativas de que o comércio intercontinental poderia ter
financiado 1/5 a 1/6 do investimento total na Europa no século XVIII. Um valor
significativo, especialmente se for considerado que o setor têxtil seria uma das
principais indústrias a ser desenvolvidas na primeira revolução industrial. 11 Pomeranz
(2001) também enfatiza que o algodão do novo mundo será central para a produção
Caso Houston e Snell tivessem prestado mais atenção ao livro de KMS veriam
que não é propriamente o aumento populacional que impõe os limites da proto-
indústria, mas a dispersão produtiva e a incapacidade de gerar ganhos significativos de
produtividade decorrentes da expansão extensiva da proto-indústria. Também não há
nada de contraditório em um elemento impulsionar a expansão e a retração de um
sistema quando determinado limite é alcançado, como é o caso da expansão militar
romana. Houston e Snell também falam que a competição interna na Inglaterra é
menosprezada como causa de “desprotoindustrialização” dentro da Inglaterra pela teoria
proto-industrial. Isso pode ser verdade, embora, além de pouco relevante, KMS e
Mendels sempre tenham reforçado a importância da competição com a indústria
moderna como causa de desindustrialização.
Embora seja interessante ter critérios mais rígidos para definir certos conceitos
sempre haverá uma zona cinzenta entre o “ser ou não ser”. Numa aula de lógica
costuma-se usar a pergunta “Quantos fios de cabelo alguém precisa perder para se
tornar calvo?” Embora todos saibam o que é uma pessoa calva e o que não é ninguém
saberá ao certo qual fio de cabelo fará a diferença entre ser e não ser calvo. Esse tipo de
pergunta parece inerente a um processo histórico de longo prazo e sugere uma área de
estudo não sendo propriamente uma crítica. Trazendo perguntas do mesmo tempo para
área de economia poderíamos propor: Quando exatamente um país passa a ser
desenvolvido? Quando exatamente aconteceu a Revolução Industrial? Quando
exatamente surgiu o capitalismo? O fato de não se saber exatamente o início do
capitalismo ou fim do feudalismo não é uma crítica a sua existência ou importância.
Houston e Snell (1984) também chamam atenção para o que considera uma
contradição entre um dos argumentos para o aumento populacional apresentados por
KMS. De um lado se procurava ter mais filhos para se sustentar na velhice por outro os
filhos tendiam a sair mais cedo de casa por conta da liberdade empregatícia gerada pela
proto-indústria. Uma tendência deveria anular a outra já que filhos fora de casa não
sustentariam os pais.
Finalmente a crítica que parece mais relevante é que a maioria das regiões
proto-industrias não se desenvolveram conforme avançava a Revolução Industrial, mas
se contraíram e se desindustrializaram. Esse ponto é colocado tanto por Coleman (1983)
quanto Houston e Snell (1984) e Ogilvie (1993; 2008).
No caso inglês, Coleman (1983) distingue dez regiões proto-industriais das quais
somente quatro se industrializaram. Houston e Snell (1984) falam de desindustrialização
na East Anglia, Kent, Sussex, partes de Lancashire, Cheshire, Normandia e outras partes
da França para citar somente alguns casos do Noroeste Europeu. 16 Qual seria a força
dessa teoria se o resultado mais comum é o inverso do que é previsto?
Reforçando esse ponto Robert Allen (2000) demonstrou que a maior presença
relativa e absoluta de proto-indústria não culminou em maior progresso para as nações
europeias de modo geral. Como pode ser visto no gráfico 1 abaixo, Polônia e Império
Austro-húngaro se destacam na participação e crescimento da proto-indústria, mas não
apresentaram crescimento significativo da produtividade agrícola, do salário,
urbanização ou tamanho proporcional do comércio que são os fatores enfatizados por
Allen no seu artigo. Podemos acrescentar que esses países também reagiram muito
lentamente a Revolução Industrial.
15 O que Mendels (1981) admite no seu trabalho embora acredite que isso não
alteraria o resultado.
0,45
0,4
0,35 Inglaterra
Império Austro-húngaro
0,3
Polônia
0,25 Bélgica
Holanda
0,2
Alemanha
0,15 Espanha
0,1 França
Itália
0,05
0
1300 1400 1500 1600 1700 1750 1800
Embora o estudo esteja apontando apenas a população rural não agrícola e não a
parcela da população dedicada a proto-indústria Allen considera essa uma boa proxy.
Isso leva Allen a concluir que outros fatores são mais relevantes que a proto-industria
para o desenvolvimento industrial moderno e o crescimento econômico.
Tanto KMS quanto Mendels sabiam que a proto-indústria não era fator
suficiente para a industrialização, mas ao que os dados apontam ela é menos relevante
do que esses autores fizeram parecer ser. Acrescenta-se que ao menos o crescimento
populacional e a geografia proto-industrial típica não parecem seguir o que é apontado
pela teoria.
Ogilvie (2008) fala que o capital proto-industrial não fluiu somente para a
indústria, mas para setores variados como agricultura e terras. Ogilvie também defende
que a proto-industria era somente uma das fontes de conhecimento empreendedor na
época e que muitas vezes esse conhecimento não chegou a ser criado.
Mokyr (1976) assim como Ogilvie (2008) enfatizou que o capital do mercador
proto-industrial foi somente uma das fontes de capital para a industrialização. Mokyr
ainda ressalta que o custo de capital inicial para a industrialização era muito baixo e que
não há evidência de que o capital dos mercadores fosse necessário. 17 Para Mokyr
conhecimento empreendedor gerado é um fator móvel e nada garante que ele tenha sido
usado na região em que foi desenvolvido. Por último Mokyr fala que o conhecimento
técnico que os trabalhadores acumularam na proto-indústria ajudou, mas não deve ser
superestimado, pois a habilidade necessária para operar as máquinas era muito pequena
o que se verifica pelo “uso de mulheres e crianças” no trabalho. O grande desafio seria
fazer a força de trabalho se acostumar com horas regulares, controle de qualidade,
disciplina e relações não familiares. Nesses pontos a proto-indústria não contribuiu.
17 Nesse aspecto Mendels (1972) e KMS (1981) estariam de acordo com Mokyr, o
capital para industrialização veio de muitas fontes e não somente da proto-indústria. A questão
seria o quão importante foi esse capital? Não há dados o suficiente para dar uma resposta clara a
essa pergunta. Chapman (1970) indica uma significativa presença do capital mercador nas
primeiras indústrias têxteis, mas não especifica que esses mercadores e seu capital teriam vindo
da proto-indústria. De fato a proto-indústria não era o foco do trabalho de Chapman embora seu
trabalho tenha sido indicado como prova da importância do capital mercador proto-industrial.
exclusivamente fora da produção artesanal. Migrações muito localizadas e a separação
de zonas proto-industriais e industriais modernas, em parte para fugir do ludismo,
seriam provas dessa interpretação.
HOBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções. São Paulo, Paz e Terra, 2014.
(1977)
JONES, Eric L. The agricultural origins of industry. Past and Present, n.40, p.
58-71, 1968.