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Relação entre a Actividade Física e

o Rendimento Escolar

Hélène Soares de Oliveira

Porto, 2009
Relação entre a Actividade Física e
o Rendimento Escolar

Monografia realizada no âmbito da disciplina


de Seminário do 5º ano da licenciatura em
Desporto e Educação Física, na área de
Recreação e Tempos Livres, da Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto

Orientador: Prof. José Carlos Ribeiro

Hélène Soares de Oliveira

Porto, 2009
Oliveira, H. (2009). Relação entre a Actividade Física e o Rendimento Escolar.
Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: ACTIVIDADE FÍSICA, RENDIMENTO ESCOLAR, EDUCAÇÃO FÍSICA,

APTIDÃO FÍSICA
AGRADECIMENTOS

A concretização deste trabalho só foi possível com a colaboração,


orientação, apoio e incentivo de várias pessoas, a quem gostaria de apresentar
a minha profundo gratidão. Deste modo, expresso os meus sinceros
agradecimentos às seguintes pessoas:

Ao Professor José Carlos, pela sua orientação, apoio e confiança


depositada.

Aos meus amigos, que tanto me apoiaram e motivaram.

Ao meu namorado, pelo seu amor, paciência, compreensão e apoio


incondicional.

Por fim, à minha irmã e aos meus Pais por tudo o que são e
representam na minha formação pessoal e por todos os sacrifícios realizados
para a concretização dos meus objectivos, a vós devo a conclusão do curso;

A todos, o meu sincero Obrigado!

III
ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ........................................................................................ III

ÍNDICE .............................................................................................................. IV

RESUMO............................................................................................................ V

RÉSUME ........................................................................................................... VI

ABSTRACT...................................................................................................... VII

LISTA DE ABREVIATURAS ……………………………………………………...VIII

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9

2. ACTIVIDADE FÍSICA ................................................................................... 12

2.1 CONCEITO DE ACTIVIDADE FÍSICA .................................................... 12

2.2 CONTRIBUTO DA ACTIVIDADE FÍSICA EM CRIANÇAS E JOVENS ... 14

3. RENDIMENTO ESCOLAR ........................................................................... 17

4. ACTIVIDADE FÍSICA E RENDIMENTO ESCOLAR .................................... 20

5. CONCLUSÕES ............................................................................................ 32

6. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 35

IV
RESUMO

Devido às profundas alterações dos hábitos de vida das populações, a


actividade física das crianças e jovens parece estar a decrescer
progressivamente, evidenciando-se uma tendência preocupante para a
inactividade física habitual da nossa sociedade (Mota & Sallis, 2002). É
consensual a noção de que a actividade física habitual é um comportamento de
grande importância para a promoção de um estilo de vida saudável na infância
e juventude.
Nettleton (1997) apresenta vários argumentos que sugerem uma
melhoria da performance académica, resultante da aplicação de períodos
diários regulares de Educação Física na escola.
Considera-se a hipótese da actividade física na escola poder melhorar o
desempenho escolar, aumentando o fluxo sanguíneo cerebral, melhorando o
nível de excitação e alterando a secreção hormonal (Shephard, 1997).
Neste sentido, esta revisão tem por objectivo examinar a relação
existente entre a actividade física e o rendimento escolar.
Esta relação tem sido objecto de investigação e especulações por
muitas décadas (Lindner, 1999).
Da análise efectuada constatamos que a educação física e outros
programas de actividade física, não afectam negativamente o desempenho
escolar. Além disso, benefícios a nível da saúde associados com a participação
regular na educação física escolar e com maiores níveis de aptidão física estão
relacionadas com o desempenho académico.
Considera-se que a prática de AF nas crianças e nos adolescentes
mereceria ser largamente encorajada tendo em conta os seus efeitos
benéficos, não só na saúde, mas também no rendimento escolar.

PALAVRAS-CHAVE: ACTIVIDADE FÍSICA, RENDIMENTO ESCOLAR, EDUCAÇÃO FÍSICA,

APTIDÃO FÍSICA.

V
RÉSUMÉ

Face aux changements majeurs des habitudes de vie, l'activité physique


des enfants et des jeunes semble baisser progressivement, montrant une
tendance inquiétante vers l'inactivité physique habituelle de notre société (Mota
& Sallis, 2002). Il est généralement accepté l'idée que l'activité physique est un
comportement d'une grande importance pour la promotion d’habitudes de vie
saines, dans l'enfance et la jeunesse.
Nettleton (1997) présente plusieurs arguments qui suggèrent une
amélioration des résultats scolaires, résultant de l'application régulière de
l'éducation physique quotidienne à l'école. Il est consideré comme hypothèse
que l'activité physique dans les écoles peux améliorer le rendement scolaire,
augmenter le débit sanguin cérébral, une amélioration du niveau d'excitation et
l'évolution des sécrétions hormonales (Shephard, 1997).
Ainsi, cette révision at pour objectif d’examiner la relation entre l'activité
physique et la performance académique.
Cette relation a été l'objet de recherches et de spéculations depuis de
nombreuses décennies (Lindner, 1999).
L'analyse a révélée que l'éducation physique et d'autres programmes
d'activité physique, n’affecter pas négativement les performances scolaires. En
outre, les avantages pour la santé associés à la participation régulière de
l'éducation physique et des niveaux supérieurs de condition physique, sont
liées à la performance académique.
Il est considéré que la pratique d’activités physiques chez les enfants et
les adolescents devraient être largement encouragée en raison de leurs effets
bénéfiques, non seulement sur la santé, mais aussi sur le rendement scolaire.

MOTS-CLÉS: ACTIVITÉ PHYSIQUE, RENDEMENT SCOLAIRE, ÉDUCATION PHYSIQUE,

CONDITIONNEMENT PHYSIQUE.

VI
ABSTRACT

Due the major changes in living habits, the physical activity of children
and young people seems to be gradually declining, showing a worrying
tendency for habitual physical inactivity in our society (Mota & Sallis, 2002). It is
generally accepted the notion that physical activity is a normal behaviour with
great importance to promoting a healthy lifestyle in childhood and youth.
Nettleton (1997) presents several arguments that suggest an
improvement in academic performance, resulting from the application of daily
regular physical education in school.
Is considered the hypothesis that physical activity in schools can improve
school performance, increasing cerebral blood flow, improving arousal and
changing hormone secretion (Shephard, 1997).
In this sense, this review examined the relationship between physical
activity and academic performance.
This relationship has been subject of research and speculation for many
decades (Lindner, 1999).
The analysis found that physical education and other programs of
physical activity, do not adversely affect school performance. In addition,
benefits to health associated with regular participation in physical education and
with higher levels of physical fitness are related to academic performance.
It is considered that the practice of physical activity in children and
adolescents ought to be widely encouraged in view of their beneficial effects not
only in health but also in school performance.

KEYWORDS: PHYSICAL ACTIVITY, SCHOOL PERFORMANCE, PHYSICAL EDUCATION,

PHYSICAL FITNESS

VII
LISTA DE ABREVIATURAS

AAPHERD American Alliance of Health, Physical Education and


Recreation and Dance.
AF Actividade Física
ApF Aptidão Física
DGS Direcção Geral de Saúde
ECLS Early Childhood Longitudinal Study
EUFIC European Food Information Council
IMC Índice de Massa Corporal
IRT Item response theory
Min. Minutos
n Número de sujeitos
QI Quociente de Inteligência
SPARK Sports, Play, and Active Recreation for Kids program
WHO World Health Organization

VIII
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

1. INTRODUÇÃO

O sedentarismo assume uma expressão assinalável na sociedade actual


e parece afectar mesmo os mais novos. Em meios eminentemente urbanos,
assistimos a importantes alterações no estilo de vida das crianças durante o
processo de desenvolvimento motor. Os novos contextos socioculturais vieram
introduzir novos hábitos, geralmente mais sedentários, condicionando as
experiências motoras destas crianças (Neto, 1994 e 1995).
Bailey (1988), citado por Mota (1997), verifica que uma grande parte do
tempo das crianças e adolescentes é empregue a ver televisão, brincar com
computadores ou a ouvir música, facto que se reflecte na desvalorização que é
atribuída à actividade física.
A evolução dos hábitos nas deslocações diárias tende ainda a agravar a
situação. De facto, o acesso crescente aos meios de transporte motorizado
veio reduzir o tempo empregue para andar a pé. O trajecto diário de uma parte
muito substancial de crianças e jovens é efectuado utilizando transportes
motorizados, desde a sua casa ou das imediações até à entrada da escola e
vice-versa.
Perante o exposto, a criação de hábitos de vida saudáveis apresenta-se
cada vez mais como uma necessidade da sociedade actual e constitui uma
meta de qualquer sistema educativo (Mota, 1997).
Os programas escolares podem fornecer aos alunos as informações
necessárias para levar uma vida saudável através da actividade física. Além
disso, as escolas podem influenciar fortemente o aluno, proporcionando
oportunidades para a prática de actividade física regular durante o dia na
escola (Byrd, 2007).
A influência positiva do exercício físico sobre a saúde é intuitiva. A
actividade física e a prática desportiva são essenciais para a nossa saúde e
bem-estar. Estas constituem um dos pilares para um estilo de vida saudável, a
par de alimentação saudável, da vida sem tabaco, assim como evitar outras
substâncias perigosas para a saúde. Toda a população, de todas as idades
beneficiam a nível físico, social e mental de uma prática regular de actividade
física e desportiva (DGS, 2009).

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

Uma investigação de Nettleton (1980) conclui que a actividade física,


seja ela estruturada ou não, constitui um factor de grande importância na vida
das crianças em idade escolar. Este autor apresenta, também vários
argumentos que sugerem uma melhoria da performance académica resultante
da aplicação de períodos diários regulares de Educação Física na escola.
Shephard (1997) afirma, que os programas diários de Educação Física
não devem ser introduzidos nas escolas na expectativa de que deles resultarão
os principais ganhos no rendimento académico. No entanto, os resultados da
investigação científica sugerem que os alunos com mais actividade física
apresentam uma maior aprendizagem académica por tempo de aula. Assim, a
diminuição do tempo dedicado ao currículo académico não deve servir de
desculpa, para negar às crianças um programa diário de actividade física de
qualidade.
Existem evidências para sugerir a actividade física durante o dia na
escola, tendo benefícios cognitivos a curto prazo, compensando o tempo
passado longe de outras áreas (Taras, 2005).
Taras (2005) aponta para alguns benefícios da actividade física,
nomeadamente, na melhoria da circulação sanguínea, da acção de
neurotransmissores, na redução do stress, na melhoria do humor, na produção
de um efeito calmante e como resultado, a melhoria do rendimento escolar.
Segundo Lindner (1999), a relação entre actividade física e rendimento
escolar tem sido objecto de investigação e especulações por muitas décadas.
Posições assumidas pelos estudiosos do desporto, sobre a influência da
participação em desportos ou actividades físicas no desempenho escolar
variaram de negativo para neutro e para positivo.
Numerosos estudos têm demonstrado relações positivas entre o
rendimento escolar e a actividade física (nomeadamente Sibley & Etnier, 2003;
Sallis et al. 1999) e o rendimento escolar e a prática desportiva (Dwyer et al.
2001), enquanto outros trabalhos mostraram uma relação inversa (Tremblay, e
tal., 2000).
A relação entre a Actividade Física e o rendimento escolar é de especial
preocupação, pois os programas de Educação Física podem ser questionados
quanto à sua contribuição da sua missão primária nas escolas (Shephard,
1997). Embora estes programas possam ser justificados com base nos seus

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

benefícios na saúde por si só, é importante compreender os seus efeitos no


rendimento escolar.
A prática de actividade física produz melhorias nas funções cognitivas,
mais particularmente na concentração e na memorização (Sibley & Etnier,
2003), que são de grande importância no processo de aprendizagem. Deste
modo, considera-se a hipótese da actividade física na escola poder melhorar o
desempenho escolar (Shephard, 1997).
Desta forma, o objectivo deste trabalho, será analisar os benefícios do
envolvimento em actividades físicas regulares nas crianças e nos jovens, mais
particularmente, a importância da prática de actividade física no rendimento
escolar.

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

2. ACTIVIDADE FÍSICA

2.1 CONCEITO DE ACTIVIDADE FÍSICA

O termo “actividade física” pode assumir diferentes significados para


diferentes pessoas. Para os profissionais de saúde pública constitui um
comportamento de reforço da saúde, outros utilizam-no como uma forma de
sintetizar uma grande variedade de desportos, actividades de lazer ou formas
de locomoção.
A actividade física (AF) é um comportamento humano complexo e
multidimensional, que inclui todo o movimento corporal a que se atribui um
significado diferenciado em função do contexto em que se realiza (Sallis e
Owen, 1999). Por razões de clarificação de conceitos, revela-se pertinente uma
conceptualização do seu conteúdo. Assim, a AF pode então ser entendida
enquanto conceito biológico, como “um qualquer movimento produzido pelos
músculos esqueléticos que resulta num aumento do metabolismo basal”
(Bouchard et al., 1991). Ou pode ser encarada, como a realização de qualquer
tipo de movimento produzido pelos músculos esqueléticos, que tenha como
resultado o dispêndio energético (Caspersen et al., 1985), englobando aqui,
toda e qualquer actividade realizada diariamente, que contribua para esse fim e
que modifique o consumo calórico diário.
Biddle (1991) utiliza igualmente o termo Actividade Física, para se referir
a todos os movimentos que resultem em energia despendida, incluindo desde
movimentos de baixa intensidade, não associados usualmente a ganhos na
condição física até ao desporto.
As definições referidas anteriormente, apontam no sentido da actividade
física englobar, qualquer actividade realizada diariamente, seja ela de lazer, de
trabalho, de prática desportiva ou de realização das tarefas domésticas, que
contribua para um fim e que modifique o consumo calórico diário, alterando o
dispêndio energético total dos indivíduos.
A AF deve ser vista, portanto, numa perspectiva multidimensional,
podendo englobar todo o tipo de movimento e incluir diversas variáveis como o
tipo (formais/estruturadas ou competitivas; informais/não estruturadas ou não

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

competitivas), a intensidade (dispêndio energético que se expressa em calorias


dispendidas por minuto ou por múltiplos valores de metabolismo basal, pela
frequência cardíaca ou pelo consumo de oxigénio), a duração (gasto na
actividade, podendo ser considerado como um momento isolado ou pelo
somatório de um valor obtido durante um dia ou uma semana) e a frequência (o
número de sessões diárias ou semanais). (Sallis e Patrick, 1994).
Segundo Montoye (2000), a AF pode ainda variar de acordo com a
idade, o sexo, a aptidão física, factores ambientais, culturais, sociais e
psicológicos. Bouchard (1994) e Montoye et al. (1996) acrescentam a estas
variáveis, a circunstância e o propósito da actividade, salientando que, quer as
circunstâncias em que esta se realiza, quer o conteúdo emocional ou
psicológico, poderão produzir alterações nos efeitos fisiológicos que dela
resultam.
A quantidade, a variedade e complexidade dos diferentes factores que
contribuem e estão relacionados com a AF fornecem-nos uma vasta gama de
opções para a sua classificação e categorização. Pode ser classificada de
acordo com diferentes períodos de tempos diários: actividade física durante o
sono, actividade física no trabalho e a actividade física no lazer. O somatório
destes três períodos traduz a actividade física total (Montoye, 1985).
Bouchard et al. (1990) categorizam as diferentes componentes da
actividade da seguinte forma: actividades diárias e/ou domésticas, tarefas
ocupacionais (trabalho), actividades de lazer (desporto, treino, exercício, dança
e jogo) e programas de educação física.
Segundo Caspersen et al. (1985), a AF pode ser classificada de acordo
com a sua intensidade, apresentando três categorias: fraca, moderada ou
intensa.
Existe, por vezes, alguma confusão conceptual no que diz respeito à
diferenciação da AF e exercício físico. Uma vez que, estes dois conceitos
implicam consequências diversas relativamente ao seu papel na vida diária das
pessoas, devem ser definidos de forma distinta. Assim, segundo Casperson et
al. (1985), exercício físico é entendido como uma subcategoria da actividade
física planeada, estruturada e repetitiva, tendo como objectivo a melhoria ou
manutenção da aptidão física. A actividade física é então realizada de forma
deliberada e intencional.

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

Neste sentido, torna-se igualmente relevante diferenciar o conceito de


AF do conceito de Aptidão Física (ApF). As diversas definições encontradas na
literatura variam entre si, fundamentalmente pela maior ou menor abrangência
do conceito, pelo seu objectivo, conceptualização, operacionalização,
especificidade e, até mesmo, pela linguagem utilizada (Pate, 1988).
Apf é frequentemente interpretada com sentidos diversos. Esta, é por
vezes definida quer “como capacidade de manter AF sem fadiga excessiva” ou
“como a capacidade para realizar todos os dias, actividades como reserva de
energia para situações de emergência” (Miller, 1998)
De acordo com Maia (1996), emergem duas orientações balizadas por
preocupações distintas que direccionam a noção de ApF para duas vertentes
aparentemente divergentes:
- a ApF relacionada à saúde, que está ligada a prevenção de doenças,
pela redução dos factores de risco, pela adopção de um estilo de vida activo e
melhoria da qualidade de vida e bem-estar, influenciadas pelos níveis de AF
habituais (AAHPERD, 1980, 1988; Corbin, 1991; Shephard, 1995).
- a Apf relacionada á performance, que está intimamente associada á
capacidade de realização óptima de trabalho muscular, com atributos
excelentes ao nível do desempenho das tarefas quotidianas, na prática
desportiva e maximização da performance atlética (Corbin, 1991; Shephard,
1995).

2.2 CONTRIBUTO DA ACTIVIDADE FÍSICA EM CRIANÇAS E JOVENS

A actividade física apresenta-se como uma das opções mais saudáveis


dentro do actual conceito de saúde, sendo cada vez mais evidentes os seus
benefícios. Segundo Kesaniemi et al. (2001), qualquer tipo de AF realizada em
circunstâncias variadas, demonstra ser um comportamento relacionado com a
saúde e cujas consequências são favoráveis para os sujeitos.
Para além destes factores relacionados com a associação de um estilo
de vida activo, com a saúde e bem-estar, há a considerar que a prática de

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

actividade física é um fenómeno de natureza multifacetada com forte impacto a


nível de factores de natureza afectiva, social e moral (Diniz, 1998)
Em termos gerais, a prática regular de actividade física, não é somente
útil dos pontos de vista da prontidão e dinamismo motor, como também
apresenta claros benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais.
De uma forma sucinta, os benefícios fisiológicos prendem-se com a
melhoria da circulação sanguínea, das funções cardíacas e pulmonares, do
aumento da resistência e da tonificação muscular, da melhoria da mobilidade
articular e da estimulação do metabolismo. Os benefícios psicológicos
relacionam-se com a promoção da auto-estima, da autoconfiança e da melhoria
dos estados de humor e consequentemente reduz os níveis de ansiedade e de
depressão. Em relação aos benefícios sociais, ocorre a promoção de um
incremento no relacionamento interpessoal (EUFIC, 2007).
No que concerne as determinantes da actividade física, características
individuais como a idade e o género, são consideradas as variáveis mais
estudadas (Sallis & Owen, 1999). Verifica-se constantemente uma relação
negativa entre a actividade física e a idade. A diminuição da actividade começa
a verificar-se durante a adolescência e estende-se à idade adulta (Araújo et al.
2005). Quanto ao género, os estudos apontam para os homens serem mais
activos do que as mulheres em todas as idades (Dischman & Sallis, 1994;
Sallis & Owen, 1999).
Na maioria das comunidades, as oportunidades para as crianças e
adolescentes serem fisicamente activas têm sido dramaticamente reduzidas
(Edwards & Tsouros, 2006), devido ao facto que muitas delas, devido à
distância ou às preocupações relacionadas com a segurança, vão para a
escola de carro, que os pais são cada vez mais relutantes em deixar as
crianças ir brincar no exterior ou para o parque da sua zona devido ao medo
dos comportamentos criminosos e do trânsito, e que o facto de não terem
alternativas fisicamente activas contribuem para a ocupação dos seus tempos
livres com actividades passivas, tais como jogar no computador ou ver
televisão (Sereno, 2008).
Na idade escolar, o propósito da AF não surge tanto no sentido de evitar
doenças, mas sim, apoiar um crescimento e desenvolvimento saudável e
normal como também, socializar para uma AF habitual que os acompanhe ao

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

longo de toda a vida (Telama, 1998). Como tal, todas as crianças e


adolescentes devem ser incentivados para a prática de AF, uma vez que é um
pré-requisito para que haja um crescimento e desenvolvimento óptimo (Sallis e
Patrick, 1994)
Marques (1997) considera que a AF abarca virtualidades que justificam a
generalização do envolvimento em programas educativos e recreativos: (1)
desenvolvimento motor e formação corporal; (2) desenvolvimento emocional;
(3) integração social; (4) desenvolvimento de traços positivos do carácter; (5)
aptidão física; (6) saúde e (7) prevenção da delinquência.
Segundo o U.S Departement of Health and Human Services (2000)
relativamente a crianças e jovens, a AF promove um crescimento saudável,
aumenta os níveis de desempenho escolar, enriquece o repertório psicomotor e
ajuda na prevenção e controlo de comportamentos de risco, como a
dependência de substâncias ilícitas e dietas pouco saudáveis.
Segundo a WHO (2009), os jovens deveriam realizar pelo menos 60
minutos de actividade física moderada a vigorosa, para que fosse garantido um
desenvolvimento saudável, obtendo benefícios quer a nível físico, mental como
social. Uma adequada prática de AF auxilia os jovens a um desenvolvimento
saudável dos tecidos, ossos e músculos, do sistema cardiovascular, ajuda a
desenvolver a consciência neuromuscular e a manter um peso saudável.
A participação na AF pode ajudar no desenvolvimento social dos jovens,
proporcionando oportunidades para a auto-expressão, a busca da auto-
confiança, interacção social e de integração. Também foi sugerido que os
jovens fisicamente activos adoptam outros comportamentos saudáveis (WHO,
2009a).

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

3. RENDIMENTO ESCOLAR

Definir rendimento escolar tem sido uma tarefa difícil para a investigação
educativa, dado o seu carácter complexo e multidimensional.
Segundo López (1994), na literatura educativa encontramos diferentes
enfoques para definir o conceito de rendimento escolar, sendo concedido uma
maior ou menor relevância numas ou noutras variáveis. De acordo com este
autor, o rendimento escolar pode ser definido segundo: (a) uma concepção
centrada no aluno, baseada na vontade ou na capacidade do mesmo; b) uma
concepção assente no resultado do trabalho escolar, isto é, no resultado de
uma conduta (aprendizagem do aluno) suscitada pela actividade do professor;
(c) e uma concepção teórico-prática, segundo a qual o rendimento escolar é
fruto de um conjunto de factores derivados do sistema educativo, da família e
do próprio aluno.
Nesta perspectiva, consideram-se como principais determinantes do
rendimento escolar do aluno, podendo influenciar positiva ou negativamente,
não só as questões relacionadas a ele, mas também as que envolvem a
instituição, professores e a família do aprendiz (Rodrigues, 1998).
De acordo com Pires et al. (1991), o problema do insucesso escolar tem
sido analisado sob três perspectivas: as carências do aluno, a estrutura escolar
e a estrutura social.
Uma primeira análise para explicar o insucesso convergiu para a variável
aluno, considerando o insucesso como sendo essencialmente do aluno. Mas
nesta análise centrada no aluno, há que distinguir duas tendências: uma
apontando os factores biológicos como causa do insucesso escolar
(nomeadamente o QI e os factores psicossomáticos), outra a apontar os
factores socioculturais como estando na origem das carências do aluno. Aqui
destaca-se o nível sociocultural e económico da família, bem como o seu
ecossistema.
Uma segunda análise centra a sua atenção na estrutura escolar,
considerando que as carências do aluno têm origem em factores escolares

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

(formação de professores com preparações diversificadas, a formação continua


pouco funcional, currículos, estrutura e métodos de avaliação).
Por ultimo, de referir uma terceira analise relacionada com “a própria
estrutura social no seu conjunto”. Esta corrente sociológica chama a atenção
para o facto da estrutura social não ser igualitária mas estratificada e
hierárquica, sendo os níveis mais elevados da hierarquia social ocupados por
estratos dominantes que, apesar de minoritários, exercem uma hegemonia
cultural e económica sobre todo o conjunto social. Nesta perspectiva a escola
funciona como um instrumento para “garantir a reprodução da estratificação
social”. A selecção escolar é no fundo um instrumento e o fracasso escolar dos
alunos oriundos de posições sociais mais baixas o seu efeito necessário (Pires
et al., 1991).
As pessoas procuram explicações para os seus êxitos ou fracasso no
desempenho. Esta situação está particularmente presente na escola em função
da frequência das avaliações e das oportunidades de confronto dos alunos com
os objectivos curriculares traçados ou com os desempenhos dos seus pares
(Mascarenhas e Almeida, 2005).
De acordo com Formiga (2004), o rendimento escolar é considerado
actualmente uma das grandes preocupações, não só no âmbito educacional,
como também no social e, ainda, no individual. Mas este problema insere-se
num amplo contexto, devendo-se considerar todas as possíveis variáveis
implicadas neste processo, principalmente quando se objectiva elaborar
programas preventivos, visando evitar o fracasso escolar (Fundación
Humanismo y Ciencia, 2001 cit. por Formiga, 2004).

Dwyer et al. (2001) examinaram possíveis indicadores do envolvimento


dos pais no desenvolvimento intelectual e físico dos seus filhos e constaram
uma maior habilidade escolar associada geralmente ao facto da criança ter
algo para comer antes de ir para a escola, ir para a cama mais tarde (para as
meninas), ser capaz de tocar um instrumento musical, ter um dos pais (a mãe
para as meninas e o pai para os meninos) que treina pelo menos duas vezes
por semana, e um elevado estatuto socioeconómico.

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

Segundo Laure & Binsinger (2009), diversos estudos foram propostos


para testar os resultados escolares. Alguns têm por objectivos melhorar os
métodos de aprendizagem ou de raciocínio (Pasnak et. al, 2006). Outros visam
a modificação dos comportamentos e modos de vida dos alunos, agindo sobre
a alimentação, por exemplo, o pequeno-almoço (Taras, 2005), sobre a duração
do sono (Taras & Potts-Datema, 2005), a utilização de substância psicoactivas
como a cafeína (Bramstedt, 2007) ou encorajando à prática de actividade
física.

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

4. ACTIVIDADE FÍSICA E RENDIMENTO ESCOLAR

Segundo Shephard (1996) (Cit. por Coe, et al., 2006) um aumento da


actividade física durante o período escolar pode induzir uma excitação e a
redução de tédio, que por consequência, pode conduzir a um aumento da
atenção e concentração. Este autor também sugere que um aumento dos
níveis de actividade está relacionado com uma melhoria na auto-estima,
ajudando no desenvolvimento das aprendizagens e no incremento do
rendimento escolar.
De acordo com Taras (2005), a actividade física melhora a circulação em
geral, aumenta o fluxo sanguíneo para o cérebro e aumenta os níveis de
noradrenalina e endorfinas, o que contribui na redução do stress, na melhoria
do humor, na produção de um efeito calmante após o exercício e talvez como
resultado, a melhoria do rendimento escolar.
A estrutura da actividade física nas escolas promove igualmente
benefícios a nível social, que podem influenciar os resultados escolares. As
crianças que aprendem a cooperar, partilhar e respeitar as regras do grupo e
aqueles que aprendem a descobrir e a testar as suas capacidades físicas,
mesmo em actividades individuais, tendem a sentir-se mais ligados à sua
escola e comunidade e sentirem o desejo de desafio próprio. (Taras, 2005).
Conforme evidenciam Trudeau e Shephard (2008), a AF produz efeitos
nos elementos considerados favoráveis para um bom desempenho escolar.
Factores como a auto-estima ou auto-imagem (Nelson & Larsen, 2006;
Kirkcaldy et al., 2002), imagem corporal (Hausenblas & Downs, 2001) são
muitas vezes associados com altos níveis de AF. Muitos estudos também
ligaram o desporto escolar ou programas de AF com outros factores
psicossociais, tais como a satisfação escolar e ligação com a escola (Brown &
Evans, 2002).
Considerando o exposto pelos autores anteriormente mencionados,
parece existir uma relação benéfica entre a actividade física e o rendimento
escolar.

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Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

No entanto, segundo Yu et al. (2006) a explicação desta relação é ainda


um processo complexo, dado a inconsistência das metodologias utilizadas na
recolha dos dados relativos à actividade física. Por exemplo, são utilizadas
diferentes medidas do nível de actividade, (intensidade ou frequência, ou
ambos) ou diferentes definições (obrigatória, actividades extracurriculares) que
podem levar a grandes disparidades nas relações entre esses conceitos. Se a
intensidade é o único indicador a ser medido, então, um estudante que se
envolve num desporto com grande intensidade, pode parecer ter um nível de
actividade física superior do que outro que se envolve com maior frequência
numa actividade menos intensa, mesmo que ambos alunos tenha tempos totais
de exercício similares.
Field et al. (2001) realça que se a correlação entre o nível de actividade
física e o rendimento escolar pode ser estabelecida, é difícil investigar se é a
actividade física que afecta o desempenho académico, ou este ultimo que
facilita ou dificulta a participação na actividade física, ou um terceiro factor que
determina tanto o desempenho escolar e a participação em actividade física.
Possíveis explicações para este facto incluem: (1) a participação em
actividades físicas leva a uma redução do desempenho escolar, (2) alunos com
fraco aproveitamento académico procuram encontrar a sua identidade através
da participação em mais actividades físicas (3), a AF melhora o funcionamento
do cérebro ou (4) alunos inteligentes obtêm uma boa realização académica e
possuem mais tempo livre para participar em actividades físicas (Field et al.,
2001).

Devido ao interesse no estabelecimento de uma relação entre actividade


física e rendimento escolar, diversas revisões têm sido realizadas para tentar
avaliar os efeitos globais relatados em diversos estudos (por exemplo, Etnier et
al., 1997; Sibley & Etnier, 2003; Taras, 2005).

Numa revisão qualitativa, Taras (2005) avaliou 14 artigos publicados


desde 1984, onde abordou a relação entre Actividade Física e / ou Educação
Física e o desempenho dos alunos. Esta autora concluiu que existem algumas
provas que suportam a existência de uma associação entre a Actividade Física
aguda e uma melhor concentração. No entanto, a revisão não indica que estas

21
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

melhorias se traduzem no aumento do rendimento escolar. A autora notou que


estudos longitudinais, com uma grande amostra, devem ser realizados para
melhor compreender o papel que a actividade física desempenha no
rendimento escolar dos alunos, assim como os efeitos que podem ser surtidos
e acumulados ao longo do tempo. Esse estudo foi realizado recentemente por
Coe et al. (2006), o qual será referenciado mais à frente no nosso trabalho.

Etnier et al. (1997) realizou uma revisão da literatura existente acerca da


AF e cognição, focando a ideia de que existe uma ligação entre o corpo e a
mente e que a exercitação do corpo acarreta benefícios no desempenho das
capacidades cerebrais. Os resultados obtidos indicam que a influência do
exercício nas capacidades cognitivas não tem consequências quando ocorrem
pequenas mudanças temporárias nos parâmetros fisiológicos, como resultado
do exercício agudo. No entanto, a influência torna-se maior quando o tamanho
ou a permanência destas mudanças aumenta. Assim, o exercício pode não ter
um impacto significativo sobre as capacidades cognitivas quando este é
administrado de forma esporádica, em contrapartida, quando administrado de
forma sistemática pode produzir ganhos a nível das capacidades cognitivas.
Deste modo, esta conclusão pode apoiar a explicação dos benefícios do
exercício nas capacidades cognitivas através dos mecanismos fisiológicos.
Esta conclusão sugere ainda que a adopção de um programa de exercícios
durante um longo período de tempo pode revelar-se útil para melhorar o
funcionamento cognitivo.

Sibley e Etnier (2003) desenvolveram igualmente uma meta-análise


para, quantitativamente, combinar alguns estudos efectuados e examinar os
efeitos da actividade física sobre várias medidas de funcionamento cognitivo
em idade escolar. Este estudo reforça a linha de pensamento seguida pelos
autores mencionados anteriormente, enfatizando a ideia de que a mente e o
corpo funcionam como um todo e tudo o que acontece num vai afectar o outro.
De acordo com estes autores a relação entre a AF e a função mental tem
particular interesse nos sistemas escolares, na medida em que grande parte do
dia-a-dia na escola é dedicado ao desenvolvimento do domínio cognitivo.

22
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

Numerosos mecanismos foram propostos para explicar esta relação,


distinguindo-se duas grandes categorias: os mecanismos fisiológicos (aumento
da circulação sanguínea no cérebro, alteração nos neurotransmissores
cerebrais, mudanças estruturais no sistema nervoso central, modificação dos
níveis de excitação) e mecanismos de aprendizagem/desenvolvimento (o
movimento e a actividade física proporcionam experiências de aprendizagem
que ajudam e que são necessárias para um correcto desenvolvimento
cognitivo) (Sibley & Etnier, 2003).
Após a análise dos diversos estudos, estes dois autores encontraram
evidências que sugerem que o efeito da actividade sobre o rendimento escolar
é superior em idades médias compreendidas entre os 11 e 13 anos.
Relativamente à avaliação da função cognitiva, o maior efeito da AF verificou-
se na avaliação das habilidades perceptivas. Relativamente à idade, é possível
que o efeito evidenciado esteja relacionado com a ansiedade vivida nestas
idades, as mudanças que ocorrem na fase pubertária e na maior valorização da
opinião dos pares. Assim, nestas idades, a actividade física tem uma influência
indirecta no desempenho cognitivo, através da diminuição da ansiedade e/ou
aumento da auto-estima.
As conclusões retiradas desta análise, sugerem que o tempo dispendido
na AF não perturba o desempenho cognitivo nem o rendimento escolar e
existem evidências de que a AF deve ser parte integrante do dia-a-dia nas
escolas, tanto pelos seus benefícios a nível físico como a nível cognitivo.
De acordo com Trudeau e Shephard (2008), qualquer influência positiva
da AF sobre as funções cognitivas das crianças é importante devido a pelo
menos 2 motivos: 1) É um argumento para aumentar o potencial da Educação
Física e/ou outro tipo de actividades físicas nas escolas em risco de diminuir o
progresso académico; 2) e pode oferecer uma maneira de reduzir
comportamentos disruptivos na escola e o abandono dos programas
educacionais.
Os poucos estudos que abordam a relação de aptidão física e cognição
em crianças têm se focado principalmente no desempenho escolar como uma
medida fundamental da função cognitiva (Mokgothu, 2007). Os estudos
também têm utilizado uma ampla variedade de medidas cognitivas, tais como
habilidades de percepção, QI, realizações académicas, aritmética, leitura,

23
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

testes de memória verbal (Sibley & Etnier, 2003), as classificações escolares


(Dwyer et al., 2001), leitura e matemática (Tremblay et al., 2000), a percepção
do estudante e do desempenho escolar (Lindner, 1999).

A educação física nas escolas representa uma oportunidade vantajosa


para promover a actividade física entre populações de crianças em idade
escolar. Vários estudos têm avaliado a relação entre educação física no
desempenho académico (Sattelmair & Ratey, 2009).
Até o momento, alguns estudos experimentais (Shephard, 1997, Sallis et
al., 1999, Coe et al., 2006, & Carlson et al., 2008) avaliaram os efeitos da
atribuição de tempo adicional para a instrução de Educação Física sobre o
rendimento escolar. Os resultados dos estudos demonstram claramente que a
actividade física não precisa de ser sacrificada para melhorar o desempenho
escolar.

Num estudo de dois anos, quase-experimental, Sallis et al. (1999)


seguiram 759 crianças californianas. As crianças realizaram as aulas de
Educação Física, sendo distribuídas por 3 subgrupos: com um professor
especialista (n = 178), sendo implementado um programa de actividade física
(SPARK), com um professor treinado para implementar o currículo (n = 312),
ou no programa normal (n = 165). Os especialistas, professores treinados e os
programas normais ofereciam, respectivamente, 80, 65 e 38 minutos de
Educação Física por semana. Como esperado, os autores observaram que os
alunos acompanhados pelos especialistas desenvolveram uma maior aptidão
física (cardiovascular e resistência muscular). Além disso, os grupos
ministrados por especialistas e professores treinados obtiveram quedas
menores no rendimento escolar apesar de conceder mais tempo à Educação
Física. Quatro das oito comparações estatísticas efectuadas demonstraram
uma vantagem para os alunos dos grupos experimentais e apenas uma
comparação foi vantajosa para o grupo controle. O grupo que passou a maior
parte do tempo nas aulas de Educação Física (isto é, aquele acompanhado
pelos especialistas) não mostrou nenhum efeito negativo no desempenho
escolar e de facto o declínio dos resultados escolares durante os 2 anos da
intervenção, foi menor que o observado no grupo controle. A participação dos

24
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

professores num programa, com intuito de melhorar os métodos e técnicas de


ensino da Educação Física parece ter generalizado efeitos positivos sobre o
rendimento escolar dos estudantes. Assim, constatou-se que um aumento
substancial de actividade física não tem efeitos prejudiciais sobre o rendimento
escolar dos estudantes. Estes autores reforçam que gastar mais tempo em
educação física não interfere com o desempenho escolar

Coe et al. (2006) utilizaram dados longitudinais para estudar a


associação entre Actividade Física, Educação Física e Rendimento Escolar, em
214 estudantes. Aproveitando um sistema de agendamento, distribuíram
aleatoriamente metade dos estudantes na aula de Educação Física durante o
primeiro semestre e a outra metade no segundo. Os autores compararam as
diferenças no desempenho dos alunos em função do envolvimento dos
mesmos nas aulas. Neste estudo, não foram encontradas diferenças
significativas. Infelizmente, nos 55 minutos de aula, observou-se uma
quantidade mínima de actividade nos estudantes, isto é, apenas 19 minutos de
AF moderada a vigorosa. Portanto, o nível de actividade dos alunos não foi alto
o suficiente para provocar qualquer efeito sobre o desempenho escolar. No
entanto, é importante denotar que quando os alunos foram distribuídos para a
Educação Física, em vez de um período de aula, o seu desempenho não
declinou. Esta constatação vai ao encontro de um estudo realizado por
Shephard (1997) onde demonstra que o aumento do tempo dispendido em
programas escolares não afecta o desempenho dos estudantes. Coe et al.
(2006) constatou ainda que os estudantes envolvidos em alguma actividade
vigorosa, como definido pelas directrizes na Healthy People 2010 (U.S.
Department of Health and Human Services, 2000), tinham notas
significativamente maiores do que aqueles estudantes que não relataram
nenhuma actividade vigorosa entre os dois semestres. Estes resultados podem
ser interpretados mostrando que um limiar de intensidade da actividade pode
ser necessário para provocar mudanças na criança e contribuir para melhorar o
rendimento escolar. A Actividade de intensidade vigorosa pode ser necessária
para atingir o limiar. No estudo, muitos participantes atingiram níveis de
actividade vigorosa através da participação em desportos. É possível que esta
participação proporcione um nível de intensidade suficiente para cumprir o

25
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

limite necessário para que se observe efeitos desejáveis da AF na aptidão


física e no rendimento escolar. Assim, neste estudo, o aumento do
desempenho escolar está associado com a uma AF vigorosa obtida fora do
contexto escolar. Infelizmente, os autores não levaram em conta as diferenças
nos estatutos socio-económicos dos alunos, constituindo esta omissão uma
limitação importante do estudo. Pesquisas demonstram que a condição
socioeconómica está relacionada com maiores níveis de actividade física e
uma maior participação em desportos (Raudsepp & Viira, 2000; Santos et al.,
2004). Isto pode explicar porque as crianças que participam em actividade
física vigorosa, como desportos, obtenham um melhor rendimento escolar.
Com base neste estudo, e tal como referem Sattlemair & Ratey (2009)
verificamos de forma clara que a qualidade da Educação Física é de vital
importância para os resultados cognitivos e académicos. A actividade física
prediz um desempenho escolar superior, mas as aulas de Educação Física
com níveis insuficientes de actividade, não. Isto sugere que a relação entre a
Educação Física e os resultados académicos tem sido limitada pela qualidade
dos programas sob investigação. Assim, é provável que os potenciais
benefícios diários e a qualidade das aulas de Educação Física têm sido
subestimadas.

Mais recentemente, Carlson et al. (2008) analisaram dados do Early


Childhood Longitudinal Study (ECLS) para avaliar a associação entre o tempo
gasto em Educação Física e o rendimento escolar, numa amostra
representativa de crianças a partir do jardim de infância até ao quinto ano (n =
5316). A frequência semanal (<1; 1-2; 3-4; diariamente) e duração média da
aula (1-15 min.; 16-30 min.; 31-60 min.; > 60 min.), com relatos dos
professores, foram combinados para formar níveis de educação física: baixo (0-
35 min. por semana), médio (36-69 min por semana), e alto (70-300 min. por
semana). O desempenho escolar na matemática e na leitura foram medidos
usando a item response theory (IRT), scores desenvolvidos para o ECLS pelo
the Nacional Center for Educational Statistics. Em análises transversais, após o
controle do rendimento familiar, etnia, educação maternal e tipo de jardim de
infância, as meninas receberam 70 minutos ou mais de educação física por
semana, apresentando um melhor rendimento na matemática e na leitura do

26
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

que estudantes que receberam tempos mais baixos de educação física. Na


análise longitudinal, após o controle dos ganhos, pontos de referência, tipo de
jardim de infância e variáveis demográficas, as meninas que receberam 70
minutos ou mais de educação física por semana apresentaram níveis de
desempenho significativamente superior na matemática e na leitura do que as
meninas que receberam 35 minutos ou menos de educação física por semana.
Por outro lado, em ambos os cruzamentos e análises longitudinais, uma maior
exposição à educação física não era positiva ou negativamente associada com
o desempenho escolar em meninos. O autor sugere que as diferenças
encontradas entre géneros podem ser atribuídas ao mais baixo nível de aptidão
nas meninas, em relação aos rapazes. Os rapazes geralmente apresentam
maiores níveis de aptidão física e o estímulo fornecido durante as aulas de
Educação Física pode não ser o suficiente para produzir nos rapazes o mesmo
efeito observado nas meninas.

O processo de inclusão de programas de Educação Física e outras


oportunidades de AF durante o dia na escola é consideravelmente fortalecida
por um substancial corpo de evidências científicas que ligam a participação
regular em actividades físicas com maiores níveis de desempenho escolar.

Nesta linha de pensamento, Lindner (1999) investigou a relação entre a


prática desportiva e a percepção do desempenho escolar em 4.690 crianças
em Hong Kong, com idades compreendidas entre os 9 e 18 anos. O índice de
prática desportiva foi obtido a partir de auto-relatos acerca da frequência,
duração, e meses de prática para até cinco desportos ou actividades físicas.
Os alunos participantes avaliaram o seu rendimento escolar como bom, médio,
abaixo da média, ou pobre. Os resultados da análise indicam que a prática
desportiva não pode ser considerada prejudicial para o rendimento escolar. Os
dados mostram que os alunos com melhores percepções do desempenho
académico, são os fisicamente mais activos e os mais frequente e
intensamente envolvidos em desportos. No entanto, existem algumas
evidências, nos dados obtidos, que mostram que uma participação muito
frequente e intensa estava associada a desempenhos insatisfatórios. Em
contrapartida, o exercício regular estava associado a bons desempenhos.

27
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

Esses relatos sugerem que a relação entre a AF e o desempenho


escolar é influenciada pelo tipo de estudantes e / ou a escola que frequentam.
Mais tarde, Lindner (2002) realizou um novo estudo com intuito de
examinar a relação existente entre o desempenho escolar e a participação na
actividade física, utilizando medidas mais objectivas para o desempenho
escolar e o efeito por níveis. O nível escolar dos alunos mostrou ser um
preditor significativo no tempo de participação, isto é, estudantes com melhores
níveis escolares demonstraram geralmente uma maior participação em
actividades físicas, do que estudantes com baixos níveis de desempenho
escolar.

Dwyer et al. (2001) desenvolveram um estudo transversal com 7961


alunos australianos com idades compreendidas entre os 7 e 15 anos, de
ambos os géneros. A actividade física foi avaliada através de um questionário,
onde os alunos informaram a frequência, duração e intensidade com que
andam de bicicleta ou andam no caminho para a escola, executam a aula de
educação física, participam no desporto escolar, ou se envolvem em outras
actividades físicas. Um item ainda perguntou aos alunos para relatar o seu
nível habitual de actividade durante hora do almoço. Dependendo do grupo,
uma análise de regressão linear demonstrou uma associação significativa entre
o desempenho escolar e a AF (uma combinação da AF realizada na hora do
almoço e os minutos de AF na semana anterior). Em todos os indivíduos dos 9-
12 anos, o desempenho escolar foi positivamente associado com a taxa de AF
durante a semana anterior. Nas meninas de 10-15 anos de idade e meninos 8-
15 anos de idade, o desempenho escolar também foi positivamente associado
com o estimado na AF da hora do almoço.
A conclusão que a aptidão e a actividade estão relacionadas com o
desempenho escolar é reforçada pela consistência com que cada medida das
componentes da aptidão (capacidade cardio-respiratória, e força muscular) ou
da actividade física foram correlacionadas com a avaliação do desempenho
escolar. Os coeficientes de correlação entre a AF e rendimento escolar foram
estatisticamente significativos, sugerindo que a AF estava a contribuir para o
rendimento escolar, em ambos os géneros.

28
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

Por sua vez, Tremblay et al. (2000) examinaram a relação entre a


actividade física e o rendimento escolar em cerca de 7000 alunos do sexto ano,
residentes em New Brunswick, no Canadá. A actividade física foi baseada em
quatro questões que avaliaram a frequência semanal de actividade física
moderada, actividade física vigorosa e a participação em actividades de reforço
da força e flexibilidade. O desempenho escolar foi medido por scores
padronizados em testes de leitura e matemática, administrado pelo
Departamento de Educação. Após o ajuste com o nível socioeconómico,
estrutura familiar e IMC, a actividade física foi negativamente associada com a
matemática e a leitura.
Contrariamente aos estudos anteriormente mencionados, Tremblay et.
al. (2000) constataram que a AF mostrou uma associação inversa com o
desempenho escolar, corroborando com os resultados de uma análise em
meninos pré-adolescentes, em Hong Kong, que demonstrou que um elevado
nível de AF na escola não foi associado com o rendimento escolar, mas com a
auto-estima elevada (Yu, 2006).

Para além, da relação do Rendimento Escolar com a Educação Física e


programas de AF, várias investigações (Dwyer et al. 2001, Castelli et al., 2007)
avaliaram esta relação com a aptidão física, em jovens. Esses estudos têm
consistentemente relatado uma significativa associação positiva entre a aptidão
física e desempenho escolar.

Mais recentemente, Castelli et al. (2007) investigaram a relação


entre as componentes da aptidão física relacionada com a saúde e o
rendimento escolar, em 259 alunos do terceiro e quinto ano de escolas
públicas. O desempenho escolar foi medido usando o Illinois Academic
Standards Achievement Test para a Matemática e a leitura. As diferentes
componentes da aptidão física, incluíram a capacidade aeróbia, índice de
massa corporal (IMC), força muscular e flexibilidade, que foram avaliadas
usando a bateria de testes Fitnessgram. O resultado chave deste estudo diz-
nos que a Aptidão Física estava relacionada com o rendimento académico nos
anos de escolaridade em questão, fornecendo um apoio geral para a noção de
que crianças com melhor aptidão física são mais propensas a terem um melhor

29
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

desempenho nos testes de desempenho académicos. Quando esta relação foi


decomposta pelas disciplinas e tipo de aptidão, os resultados identificaram que
o desempenho na leitura e matemática estavam relacionados com a aptidão
aeróbia e IMC. Mais concretamente, a aptidão aeróbia estava positivamente
associada e o IMC, negativamente associado com os resultados nas
disciplinas, considerando que a força muscular e a flexibilidade não estão
relacionadas com o desempenho nos testes. O presente estudo contribui para
a aptidão física e como base de conhecimento da cognição, apresentando
novas evidências de que componentes específicas da aptidão física são
globalmente associadas com o desempenho escolar durante a maturação.
Mais concretamente, apoia a importância da actividade aeróbia para melhorar a
função cognitiva. Neste sentido, as aulas de educação física que não
incentivam uma suficiente duração e intensidade da actividade aeróbia não são
susceptíveis de produzir melhorias notáveis no desempenho escolar
(Sattlemair & Ratey, 2009).

Um estudo realizado em alunos do quinto, sétimo e nono ano, também


revelou uma associação positiva entre o desempenho nos testes de aptidão
física e o desempenho em testes de leitura e matemática (Grissom, 2005). O
autor demonstrou, especificamente, que as raparigas que se encontravam na
zona saudável de aptidão física (definida pela bateria de testes da
Fitnessgram) exibiram melhores desempenhos escolares que os rapazes que
se encontram nessa mesma zona. Os resultados encontrados corroboram com
um estudo recente realizado por Elevand-Sayer et al. (2009), onde encontrou
uma forte relação entre os níveis de aptidão física e o desempenho escolares
em raparigas.

A complexidade da relação entre a actividade física e a aptidão física,


torna difícil identificar especificamente os possíveis mecanismos envolvidos. No
geral, a actividade física tem o potencial de melhorar a aptidão física. Etnier et
al. (1997) na sua meta-análise da relação entre a actividade física e cognição,
concluíram que as potenciais mudanças na cognição podem encontra-se a
partir dos seguintes mecanismos: (a) mecanismos fisiológicos que são
independentes da aptidão aeróbia; b) mecanismos fisiológicos dependentes da

30
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

aptidão aeróbia; (c) ou mecanismos psicológicos que são independentes da


aptidão aeróbia.
Por seu turno, Shephard (1997) identificou várias explicações
alternativas para o positivo relacionamento entre a aptidão física e
desempenho académico: (a) atitudes dos professores (nomeadamente a
qualidade da instrução); (b) atitudes de estudantes (relacionada com a auto-
estima); (c) dificuldades de aprendizagem (resultantes de problemas como a
hiperactividade, atenção limitada, impulsividade ou fraca auto-estima); (d) e a
política pública (qualidade dos programas de Educação Física).
Tremblay et al. (2000) ainda apontam como factores potenciadores
desta relação: uma aceleração no desenvolvimento psicomotor, a redução de
sentimentos de tensão, ansiedade e stress e uma elevada auto-estima.
Castelli et al. (2007) acrescentam que a motivação dos alunos poderá
ser uma possível explicação alternativa para os resultados encontrados. Os
alunos que apresentam melhor desempenho na escola e desfrutam da sua
experiência escolar podem ser mais propensos a exercer maior esforço em
testes de aptidão física e académicos. Esta preocupação continua a ser uma
explicação viável que deve ser contabilizada em futuras tentativas na
compreensão da relação entre aptidão e o rendimento escolar.

31
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

5. CONCLUSÕES

A actividade física está associada a melhoria da saúde em geral. Na


idade escolar, os programas de actividade física ajudam as crianças a
desenvolver habilidades sociais, melhorar a saúde mental e reduzir os
comportamentos de risco (Taras, 2005).
Existem evidências de que a actividade física pode melhorar o
desenvolvimento cognitivo e o desempenho académico, prevendo-se assim,
uma outra razão para a promoção da actividade física para crianças e
adolescentes.
De acordo com Sattlemair e Ratey (2009), a qualidade da educação
física é de vital importância para os resultados cognitivos e escolares.
Qualquer vantagem no desempenho escolar entre estudantes activos
pode reflectir uma mudança no desenvolvimento cognitivo. Possíveis
mecanismos incluem um aumento do fluxo sanguíneo cerebral, uma alteração
da excitação e associados equilíbrios neuro-hormonais, um reforço do estatuto
nutricional ou uma estimulação no crescimento das conexões inter-neuronais
(Shephard, 1997). Deste modo, o tempo dispendido na participação de
actividades físicas não afecta negativamente o desempenho escolar (Sibley &
Etnier, 2003). Assim, parece existir uma relação positiva entre a actividade
física e a função cognitiva. Etnier et al. (1997) reforça que a adopção de
programas com exercício crónico pode ser o meio mais útil para provocar
melhorias na função cognitiva.
Relativamente à AF promovida nas aulas de Educação Física, tempos
adicionais de participação, demonstram uma aceleração da aprendizagem das
habilidades académicas (Shephard, 1997).
Sallis et al. (1999) refere que utilizando o tempo consagrado fora das
aulas e substituindo-o pela participação na Educação Física, não afecta
adversamente o desempenho escolar, ou seja, consagrar substancialmente
mais tempo à Educação Física não provoca efeitos negativos no desempenho
escolar dos estudantes. Reforça-se assim, a ideia de que, despender mais
tempo nas aulas de Educação Física não interfere no rendimento escolar.

32
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

Numa comparação entre géneros, Carlson et al. (2008) verificam que as


raparigas obtiveram um reduzido benefício quando expostas a maiores tempos
de participação nas aulas de Educação Física, mas nenhuma associação foi
verificada nos rapazes. Apesar desta fraca associação, o autor sugere que um
maior tempo de participação nas aulas de Educação Física pode ajudar os
estudantes a melhorar o seu desempenho académico.
Sattlemair & Ratey (2009) destacam que as aulas que não promovam
uma duração e intensidade de actividade aeróbia suficientes, não são
susceptíveis de introduzir melhorias significativas na aptidão física, saúde,
controle de peso, ou no desempenho académico.
No estudo realizado por Coe et al. (2006) demonstram uma ligação clara
entre a melhoria do rendimento escolar e níveis de actividade física mais
vigorosos, principalmente através da participação em desportos fora da escola.
Deste modo, a actividade física vigorosa assume um papel potencial nas aulas
de Educação física.
Existe ainda uma clara tendência para estudantes com alta percepção
das suas capacidades, participarem mais frequente e intensamente na prática
de actividade físicas e obterem melhores resultados académicos (Lindner,
1999).
Por sua vez, numa análise mais orientada para as componentes da
aptidão física, Castelli et al. (2007) constatam que a capacidade aeróbia, em
especial, está relacionada positivamente com testes realizados na matemática
e na leitura. Neste estudo, o autor verifica uma relação positiva entre os
resultados nos testes de aptidão física e o rendimento escolar, sugerindo a
existência de uma forte relação entre os indicadores da aptidão física
(relacionada com a saúde) e o desempenho escolar dos alunos.

Deste modo, constatamos que a análise da relação entre actividade


física e o rendimento escolar mostra claramente que a educação física e outros
programas de actividade física, não afectam negativamente o desempenho
escolar. Além disso, benefícios a nível da saúde associados com a participação
regular na educação física escolar e com maiores níveis de aptidão física estão
relacionadas com o desempenho académico.

33
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

Perante as evidências encontradas, e realçando a ideia de Shephard


(1997), a AF pode ser introduzida (nas escolas) com compromissos no
rendimento académico.
A actividade física pode realmente estar relacionada com melhorias no
desempenho escolar, fornecendo argumentos para que esta seja parte
integrante do dia-a-dia nas escolas, pelos seus benefícios tanto a nível
cognitivo como relacionados com a saúde (Sibley & Etnier, 2003).
A Educação Física deve ser promovida pelos seus diversos benefícios, e
o medo de afectar negativamente o rendimento escolar não parece ser uma
legítima razão para a redução ou eliminação de programas de educação física
(Carlson et al., 2008).
Assim, a posição de que os programas de actividade física devem ser
eliminados ou significativamente reduzidos, para proporcionar mais tempo de
instrução em sala de aula, não pode ser justificada.
A oferta de programas de educação física concebidos para promover um
estilo de vida fisicamente activo e desenvolver a aptidão física, pode acarretar
contribuições significativas para o desempenho académico de crianças e
jovens (Harrington & Engels, 2009).
Segundo Mokgothu (2007), existem provas convincentes de que a
participação na actividade física e a aptidão física estão a diminuir e há
evidências de que as crianças de hoje em dia passam mais tempo em
actividades sedentárias (como assistir televisão e jogos de vídeo ) e menos
tempo em qualquer forma de actividade física. Como tal, as escolas necessitam
de aumentar a actividade física com intuito de incrementar a aptidão física e
não diminuir o tempo gasto em programas que o proporcionem, tais como a
educação física.
A promoção de actividades físicas entre as crianças e os adolescentes é
importante no sentido em que permitem o desenvolvimento de hábitos de
saúde e, como foi demonstrado, poderá ser um caminho para aumentar o
desempenho cognitivo ou invés de o inibir.
Neste sentido, a prática de AF nestas idades mereceria ser largamente
encorajada tendo em conta os seus efeitos benéficos anteriormente referidos.
Os pais, os educadores e profissionais da saúde deveriam ser informados
acerca deste facto (Laure & Binsinger, 2009).

34
Relação entre Actividade Física e o Rendimento Escolar

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