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Introdução
Sob a perspectiva da prática pode ser dito que o Budismo consiste de três
ensinamentos superiores, (adhisikkha): a ética, (sila), o desenvolvimento da mente
ou meditação, (bhavana) e a sabedoria, (pañña). Todos esses três elementos são
essenciais para alcançar a libertação do sofrimento. Apenas um ou dois deles não
será o bastante. Em linhas gerais, pode ser dito que a doutrina Budista contida
no Tipitaka,ou ‘três cestos’, está organizada de modo a correlacionar-se com esses
três elementos essenciais. Assim o primeiro ‘cesto’ da Disciplina, (Vinaya),
corresponde ao ensinamento da ética, os Discursos, (Sutta), correspondem aos
ensinamentos de meditação enquanto que o terceiro ‘cesto’, o Ensinamento mais
Elevado, (Abhidhamma), corresponde aos ensinamentos da sabedoria. Com base
nesse modelo, aqueles que têm como meta o objetivo máximo do Budismo
deveriam, além do cultivo da ética e da meditação, aprender também algo do
Abhidhamma. O estudo do Abhidhamma permite a formulação de um estrutura
filosófica prática que poderá ser empregada para vários fins: a investigação das
experiências na prática da meditação de insight e a interpretação dos ensinamentos
contidos nos outros dois ‘cestos’, os Suttas e o Vinaya, cuja exegese num nível
avançado é guiada pelos princípios do Abhidhamma.
A Origem do Abhidhamma
O Tipitaka ou Cânone em Pali foi compilado durante os três grandes concílios que
ocorreram na Índia depois da morte do Buda. O primeiro concílio ocorreu em
Rajagaha três meses depois do Parinibbana do Buda. Nesse concílio se reuniram 500
monges arahants liderados pelo Ven. Mahakassapa, onde foram recitados todos os
ensinamentos do Buda. A recitação do Vinaya pelo Ven. Upali foi aceita como o
Vinaya Pitaka; a recitação do Dhamma pelo Ven. Ananda ficou estabelecida como o
Sutta Pitaka. Cem anos após o Parinibbana do Buda houve o segundo concílio em
Vesali. O terceiro concílio ocorreu em Pataliputra duzentos anos depois do
Parinibbana do Buda e nesse concílio o Abhidhamma foi recitado. Mas essa
explicação não é suficiente para dar resposta à questão sobre como surgiram esses
textos. Ao contrário dos suttas e dos relatos das regras monásticas no Vinaya, os
livros do Abhidhamma não trazem qualquer informação quanto à sua origem. Os
comentários, no entanto, atribuem essa dissertação ao próprio Buda. O Atthasalini,
que traz o relato mais explícito, menciona que o Buda concretizou o Abhidhamma na
noite da sua iluminação e que a investigação em detalhe foi realizada durante a
quarta semana após a iluminação. Depois disso, durante o sétimo retiro das chuvas o
Buda ensinou o Abhidhamma para as divindades do Paraíso de Tavatimsa que incluía
uma divindade que havia sido antes a sua mãe. Como demonstração de gratidão
para com a sua mãe, que havia falecido sete dias depois do seu nascimento, o Buda
ensinou o Abhidhamma durante três meses, para que aquela divindade pudesse
alcançar a libertação final. A cada manhã, durante esse período, ele voltava ao plano
humano para a sua refeição diária quando então ensinava os métodos ou princípios
da doutrina que ele havia tratado para o seu discípulo principal Sariputta. A
elaboração detalhada dos ensinamentos do Abhidhamma a partir dos princípios
gerais definidos pelo Buda é atribuída a Sariputta que teria transmitido esses
ensinamentos aos seus discípulos diretos. O Anupada Sutta (MN 111) relata uma
análise detalhada dos processos mentais feita pelo Ven. Sariputta. Muitos outros
suttas como por exemplo o Madhupindika Sutta (MN 18) e
o Uddesavibhanga Sutta(MN 138) também ilustram situações em que o Buda
transmite um ensinamento de forma sumária cabendo aos seus discípulos mais
próximos analisar aquilo que foi dito de forma resumida. Sob o ponto de vista
Theravada o esquema exposto pelo Abhidhamma é considerado como pertencendo
ao domínio dos Budas, ou seja, não é a invenção do pensamento especulativo ou
discursivo, ou um mosaico de hipóteses metafísicas, mas a exposição da verdadeira
natureza da existência tal como foi compreendida por uma mente que penetrou a
totalidade das coisas tanto nos seus níveis mais profundos como no seus maiores
detalhes. Dado esse caráter, o Abhidhamma expressa do modo mais perfeito possível
o conhecimento onisciente do Buda. É a manifestação de como as coisas são,
compreendidas pela mente de um Buda, organizadas de acordo com os dois marcos
principais dos seus ensinamentos: o sofrimento e a cessação do sofrimento. Nos
países Theravada como o Sri Lanka, Myanmar e Tailândia, o Abhidhamma é
altamente apreciado e reverenciado como o pináculo das escrituras Budistas. Como
exemplo da estima que o Abhidhamma desfruta, o rei Kassapa V do Sri Lanka (séc. X
da era cristã) ordenou que todo o Abhidhamma fosse inscrito em placas de ouro e o
primeiro livro decorado com gemas preciosas.
Mesmo para os não Budistas que não consideram ter sido o Buda um ser onisciente,
mas apenas um eminente e profundo pensador, parece ser improvável que o Buda
não pudesseter ciência das implicações filosóficas e psicológicas dos seus
ensinamentos, mesmo que ele não falasse sobre isso desde o princípio para todos os
seus discípulos. Considerando a inegável profundidade do Abhidhamma, parece mais
provável que pelo menos os seus ensinamentos básicos derivam daquela intuição
profunda que o Buda chamava samma sambodhi, a Perfeita Iluminação. Parece,
portanto, plausível que a tradição Theravada atribua a estrutura e os elementos
básicos do Abhidhamma ao próprio Buda. Uma questão totalmente distinta, é claro, é
a origem da literatura ordenada do Abhidhamma tal como a conhecemos hoje. Os
textos do Abhidhamma, que foram apresentados no terceiro concílio em Pataliputra,
que constituíram o núcleo original do Abhidhamma Pitaka do Theravada, podem ter
continuado a evoluir por alguns séculos mais. No primeiro século antes da era cristã
o Abhidhamma Pitaka, juntamente com o restante do Cânone em Pali, foi registrado
em forma escrita pela primeira vez no Alokavihara no Sri Lanka. Essa versão
aprovada oficialmente marca o ponto terminal do desenvolvimento dos textos
canônicos do Abhidhamma Pitaka no Theravada.
Um outro elemento, que com freqüência é ignorado, é que ao fazer uma análise
comparativa do Abhidhamma com o Sutta Pitaka, são encontrados muitos suttas, em
particular no Samyutta Nikaya, que contêm uma quantidade considerável de análises
típicas do Abhidhamma. São discursos que fazem uso da linguagem sob a
perspectiva da realidade última, (paramattha), empregando estrita terminologia
filosófica e explicando a experiência como processos condicionados desprovidos de
uma entidade ou substância permanente; como exemplo, os suttas que tratam dos
cinco agregados, os dezoito elementos e os seis meios dos sentidos (khandhas,
dhatu, ayatana).
A Filosofia do Abhidhamma
A lei de kamma
Nos suttas, em geral, o Buda analisa um ser ou indivíduo sob a forma de cinco tipos
deparamatha, os cinco agregados: matéria, sensação, percepção, formações mentais
e consciência. No Abhidhamma a realidade última é organizada em quatro
categorias. As três primeiras – consciência, fatores mentais e matéria – abrangem
toda a realidade condicionada. Os cinco agregados mencionados nos suttas se
encaixam dentro desses três grupos. O agregado da consciência, (viññana,) está
representado no Abhidhamma pela consciência, (citta), sendo que a palavra citta em
geral é empregada para se referir aos diferentes tipos de consciência que se
diferenciam de acordo com os seus fatores mentais concomitantes. Os três
agregados intermediários são incluídos no Abhidhamma dentro do grupo de fatores
mentais, (cetasika), os estados mentais que surgem juntamente com a consciência e
que desempenham diferentes funções. O Abhidhamma enumera 52 fatores mentais:
os agregados da sensação e percepção são considerados cada um como um fator; o
agregado das formações mentais, (sankhara), é subdividido em 50 fatores mentais.
O agregado da matéria é idêntico ao grupo da matéria no Abhidhamma. No
Abhidhamma a matéria está dividida em 28 tipos de fenômenos materiais.
A esses três tipos de realidade condicionada é adicionada uma quarta realidade que é
incondicionada. Essa realidade que não está incluída nos cinco agregados é Nibbana,
o estado de libertação final do sofrimento inerente aos estados condicionados.
Portanto, no Abhidhamma existem ao todo essas quatro realidades últimas:
consciência, fatores mentais, matéria e Nibbana.
Análise da Consciência
Abhidhammattha Sangaha
Referências:
Gostaria de enfatizar que este trabalho representa apenas a compilação e edição dos
textos elaborados por eminentes autores que possuem conhecimento e erudição
neste tema muito mais amplo que o meu. Quaisquer deficiências neste texto devem
ser atribuídas a mim e os méritos devem ser atribuídos aos autores mencionados
abaixo. (Michael Beisert)
Nota:
Os termos em Pali kusala e akusala têm sido traduzidos geralmente como hábil,
benéfico, e inábil, prejudicial respectivamente. Neste trabalho optei por empregar
respectivamente saudável e insalubre. A idéia de empregar esses termos alternativos
foi de oferecer uma nova opção que permita aos leitores ampliar a compreensão
desses termos em Pali. Os termos saudável/insalubre parecem oferecer uma opção
com uma carga menor de conteúdo ‘moral’ do que benéfico e prejudicial, e também
indicam de uma forma mais intuitiva aquilo que vale a pena e o que não vale a pena.
Aquilo que normalmente tomamos por consciência é na verdade uma série de cittas,
atos momentâneos de consciência, que ocorrem numa sucessão extremamente
rápida, que não podem ser detectados pela mente comum.
Com relação à sua natureza, a consciência pode ser dividida em quatro classes:
insalubre, saudável, resultante e funcional. A consciência insalubre, (prejudicial,
inábil, akusalacitta), é a consciência que é acompanhada pelas três raízes insalubres
– cobiça, raiva e delusão. Esse tipo de consciência é chamada de insalubre porque
ela prejudica a saúde mental, é passível de crítica sob o ponto de vista ético e produz
resultados dolorosos. A consciência saudável, (benéfica, hábil, kusalacitta), é a
consciência que é acompanhada pelas três raízes saudáveis – não-cobiça ou
generosidade, não-raiva ou amor bondade, e não-delusão ou sabedoria. Esse tipo de
consciência favorece a saúde mental, não é passível de crítica sob o ponto de vista
ético e produz resultados prazerosos.
A tabela abaixo resume a classificação das cittas de acordo com o seu tipo, ( e são
89 tipos), conforme discutido até agora:
CITTAS MUNDANAS 81
Resultantes – insalubre 7
Resultantes – saudável 8
Resultantes – funcional 3
CITTAS SUPRAMUNDANAS 8
Caminho do não-retorno 1
Caminho do Arahant 1
Fruto do não-retorno 1
Fruto do Arahant 1
A palavra em Pali, lobha, inclui todas as variações de cobiça, desde a paixão mais
intensa e avareza até o apreço e o apego sutil. A consciência com raiz na cobiça está
dividida em oito tipos com base em três princípios de dicotomia. O primeiro é a
sensação concomitante, (vedana), quer seja uma sensação de alegria ou
equanimidade; o segundo é a presença ou ausência do entendimento incorreto; o
terceiro é baseado na consideração de se a citta é estimulada ou não estimulada. Da
permutação dessas três distinções surgem oito tipos de consciência mostrados na
tabela acima.
Existem dois tipos de consciência nesta classe, distinguidas como estimuladas ou não
estimuladas. As consciências com raiz na raiva surgem apenas com a sensação de
desprazer, (domanassa), uma sensação mental desagradável. Essa sensação
acompanha apenas a consciência com raiz na raiva. Ao contrário da consciência com
raiz na cobiça, a consciência com raiz na raiva não surge associada ao entendimento
incorreto. Embora o entendimento incorreto possa motivar atos com base na raiva,
de acordo com o Abhidhamma, o entendimento incorreto não surge simultaneamente
com a raiva, na mesma citta, mas antes, num tipo diferente de citta. A consciência
com raiz na raiva está associada à aversão, (patigha). Patigha inclui todas as
graduações de aversão, do ódio violento até a sutil irritação.Patigha significa em
termos literais “golpear contra,” indicando um atitude mental de resistência, rejeição
ou destruição.
Esta última classe de consciência insalubre compreende aquelas cittas nas quais as
outras duas raízes – cobiça e raiva estão ausentes. Somente a delusão está
presente. Este tipo de consciência está sempre acompanhada pela equanimidade,
por isso uma sensação mental agradável ou desagradável não surge em relação a
um objeto. Existem dois tipos de consciência nesta classe, uma associada à dúvida,
(perplexidade, ceticismo, indecisão), e a outra associada à inquietação, (distração
mental, agitação).
Exemplos:
A palavra ahetuka significa sem raiz e caracteriza aqueles tipos de consciência que
estão desprovidos dos fatores mentais chamados hetu, raízes. Esses tipos, dezoito
no total, não contêm nenhuma das três raízes insalubres – cobiça, raiva e delusão,
nem contêm nenhuma das raízes saudáveis – não-cobiça, não-raiva e não-delusão.
Como a raiz é um fator que ajuda a determinar a estabilidade
numa citta, as cittas que não possuem raiz são mais fracas do que aquelas que as
possuem. As cittas desta classe se classificam em três grupos: resultantes
insalubres, resultantes saudáveis e funcionais. A tabela abaixo mostra os dezoito
tipos de cittas sem raiz:
Compreende sete tipos de consciência que resultam de kamma insalubre. Esses tipos
de consciência não são insalubres em si, trata-se de consciências resultantes
produzidas porkamma insalubre; a palavra insalubre qualifica não esses estados de
consciência em si, mas o kamma do qual elas nasceram.
Este tipo de consciência não é resultado de kamma. Elas realizam tarefas que não
possuem potencial para gerar kamma. São, portanto, tipos de consciência que não
são nem resultado de kamma, nem produzem kamma.
As cittas saudáveis da esfera sensual estão divididas em oito tipos com base em três
princípios de dicotomia. O primeiro princípio é a sensação concomitante, que em
quatro casos é alegria, (somanassa), isto é, uma sensação mental prazerosa; e nos
outros quatro casos é a equanimidade, (upekha), isto é, uma sensação mental
neutra; o segundo é a presença ou ausência de conhecimento; e o terceiro é
baseado na consideração de se a citta é estimulada ou não estimulada.
Exemplos:
3 Alguém com alegria pratica um ato generoso, sem ser estimulado, mas sem
a compreensão de que essa é uma ação saudável.
5-8 Esses tipos de consciência seguem os exemplos acima, mas com uma
sensação neutra no lugar da alegria.
Esses oito tipos de consciência são denominados saudáveis porque elas inibem as
contaminações e produzem bons resultados. Elas surgem em seres
mundanos, (puthujjana),e seres em treinamento, (sekha), – nobres discípulos nos
três primeiros estágios do caminho espiritual – sempre que eles praticarem ações
corporais e verbais saudáveis e sempre que gerarem estados mentais saudáveis
relacionados com a esfera sensual. Essas cittas não surgem em arahants, cujas
ações estão desprovidas de potencial de kamma.
6 ocasionais
14 fatores insalubres
25 fatores belos
1.1 Universais
(1) Contato
(2) Sensação
(3) Percepção
(7) Atenção
1.2 Ocasionais
(11) Energia
(12) Êxtase
(13) Aspiração
2. Fatores Insalubres
(14) Delusão
(17) Inquietação
(18) Cobiça
(20) Presunção
(21) Raiva
(22) Inveja
(23) Avareza
(24) Ansiedade
(25) Preguiça
(26) Torpor
(27) Dúvida
3. Fatores Belos
(28) Convicção
(29) Atenção Plena
(32) Não-cobiça
(33) Não-raiva
3.2 Abstinências
3.3 Ilimitados
(50) Compaixão
3.4 Não-delusão
Esses sete universais são os cetasikas comuns a todas as consciências. Estes fatores
desempenham as funções cognitivas mais rudimentares e essenciais, sem as quais a
consciência de um objeto seria absolutamente impossível.
(1) Contato, (phassa): A palavra phassa é derivada do verbo phusati que significa
“tocar,” mas o contato não deve ser compreendido como o mero impacto do objeto
na faculdade do sentido. Ele é na verdade o fator mental através do qual a
consciência mentalmente “toca” o objeto que tenha surgido, dessa forma dando
início a todo o evento cognitivo.
(2) Sensação, (vedana): Sensação é o fator mental que sente o objeto: é o tom
emocional com o qual o objeto é experimentado. Assim, vedana é um tipo de
julgamento, não sob a forma intelectual mas sob um critério subjetivo de aceitação,
rejeição ou indiferença. A natureza da sensação em si não pode ser definida porque
toda definição tem que ser dada intelectualmente e o intelecto e as sensações não
são comensuráveis. Dessa forma as sensações possuem um certo caráter autônomo,
indicado pelo símile de um rei que devido àvirtude da sua nobreza, habilidade e
maestria, saboreia e desfruta de toda a refeição preparada por outros, e já que cada
cozinheiro esteve apenas parcialmente envolvido na preparação da refeição, eles não
são capazes de se dar conta disso. Ou seja, vedanadesfruta o sabor do objeto de
forma plena e completa. A palavra em Pali vedana não significa emoção, (que é um
fenômeno complexo envolvendo vários fatores mentais concomitantes), mas a
qualidade emocional básica de uma experiência, que pode ser prazerosa, dolorosa ou
neutra.
(3) Percepção, (sañña): O sufixo “ñña” pode ser interpretado como conhecimento
enquanto que “sa” significa juntar/reunir ou seja “juntar aquilo que conhecemos.” A
característica desañña é perceber as qualidades de um objeto. A sua função é fazer
uma marca ou sinal como condição para perceber, numa outra ocasião, que “é a
mesma coisa,” ou, a sua função é reconhecer aquilo já que havia sido percebido
antes. Ela se manifesta ao interpretar o objeto através das marcas ou sinais que
foram compreendidos. O seu procedimento se compara ao do carpinteiro que
reconhece os tipos de madeira pelas distintas marcas que fez nelas.
(4) Volição ou intenção, (cetana): Cetana, que possui a mesma raiz que citta, é o
fator mental que está relacionado com a realização de um objetivo ou de um
determinado resultado. Sua função é estimular ou dirigir os demais cetasikas numa
certa direção. Pode ser comparado a um comandante numa batalha, que ao começar
a lutar, estimula os seus comandados a lutarem também, assim ao realizar a sua
tarefa em relação ao objeto, cetana faz com que oscetasikas associados também
cumpram o seu papel. Volição ou intenção é o fator mental mais significativo na
geração de kamma.
(6) Faculdade vital, (jivitindriya): Existem dois tipos de faculdade vital, a mental, que
vitaliza ou mantém os fenômenos mentais associados, e a física, que vitaliza ou
mantém os fenômenos materiais. A sua função é fazer com que os fenômenos
ocorram.
Os seis cetasikas deste grupo são semelhantes aos universais por serem fatores
variáveis sob o ponto de vista ético, que assumem a qualidade moral
da citta, determinada por outros fatores concomintantes. Eles diferem dos universais
por serem encontrados apenas em tipos particulares de consciência, não em todas.
(8) Pensamento aplicado, (vitakka): Nos suttas, vitakka é com freqüência usado
como sinônimo para pensamento, mas no Abhidhamma ele é usado de um modo
tecnicamente mais preciso significando o fator mental que aplica a mente ao objeto.
A sua característica é dirigir a mente para o objeto. Vitakka pode ser comparado a
uma pessoa que tem amizade ou é parente do rei e estabelece uma conexão entre o
rei e uma outra pessoa que quer se encontrar com ele. Quando é cultivado através
da concentração, vitakka se torna um dos fatores de jhana, (inibindo o obstáculo da
preguiça e torpor), é a absorção da mente no objeto. Vitakka também é
chamado sankappa, e sammasankappa, (pensamento correto), é o segundo
elemento do Nobre Caminho Óctuplo.
(11) Energia, (viryia): Viriya é o estado ou a ação de alguém que tenha vigor. A
energia tem a natureza da perseverança. A energia suporta e mantém os demais
fatores associados e não permite que eles esmoreçam. Da mesma forma como
pilastras novas de madeira não permitem que a casa desabe ou como reforços numa
batalha permitem que o exército do rei derrote o inimigo.
(12) Êxtase, (piti): Piti é derivado do verbo pinayati significando “refrescar” e pode
ser explicado como o deleite ou prazer em relação ao objeto. Piti se diferencia
de vedana por ser uma sensação agradável intensa com distintos estímulos no corpo
físico. A tradução mais freqüente é êxtase, que é uma qualificação adequada quando
ele é um dos fatores de jhana,mas que pode não ser suficientemente ampla para
capturar todas as suas nuances. Os comentários distinguem cinco graus de piti que
surgem ao desenvolver a concentração: êxtase menor, êxtase momentâneo, êxtase
como uma ducha, êxtase que causa elação e êxtase impregnante. O êxtase menor
pode fazer subir os pêlos do corpo. Êxtase momentâneo é igual a lampejos de
relâmpagos. Êxtase como ducha atravessa o corpo como ondas do oceano. Êxtase
que causa elação pode fazer o corpo levitar. E o êxtase impregnante que inunda todo
o corpo como numa inundação que enche uma caverna. Este último é piti tal como
se apresenta em jhana. Como um fator de jhana, piti inibe o obstáculo da má
vontade.
(13) Aspiração, (chanda): Chanda significa o desejo de agir, isto é, realizar uma ação
ou lograr um resultado. Aqui foi traduzido como aspiração para diferenciar do desejo,
(tanha), e cobiça, (lobha). Estes dois últimos são sempre insalubres, (inábeis),
mas chanda é um fator variável sob o ponto de vista ético, que quando combinado
com concomitantes saudáveis pode funcionar como o desejo virtuoso de lograr um
objetivo digno.
(18) Cobiça, (lobha): Cobiça, a primeira raiz insalubre, abrange todas as graduações
de desejo egoísta, anseio, ligação sentimental e apego. A sua característica é
agarrar-se ao objeto. A sua função é grudar, como a carne que gruda numa frigideira
quente.
(19) Entendimento Incorreto, (ditthi): Ditthi neste caso significa ver de modo
incorreto. A sua característica é a interpretação das coisas sem sabedoria. A sua
função é pressupor. A sua manifestação é a crença ou interpretação incorreta.
(21) Raiva, (dosa): Dosa, a segunda raiz insalubre, compreende todas as graduações
da aversão, má vontade, raiva, irritação, aborrecimento e animosidade.
(22) Inveja, (issa): A inveja tem como característica o ciúme do sucesso dos outros.
A sua função é estar insatisfeito com o sucesso dos outros. Ela se manifesta como
aversão a isso.
(26) Torpor, (middha): Torpor é o estado deprimido dos fatores mentais. A sua
função é oprimir. A sua causa mais próxima é a mesma da preguiça.
(27) Dúvida, (vicikiccha): Neste caso significa dúvida espiritual, sob a perspectiva
Budista, a incapacidade de depositar confiança no Buda, Dhamma e Sangha e no
treinamento Budista. Ela se manifesta como indecisão e a toma de vários partidos. A
sua causa mais próxima é a atenção sem sabedoria.
Os fatores mentais belos estão subdivididos em quatro grupos, sendo que o primeiro
inclui dezenove cetasikas que estão sempre presentes em todas as consciências
belas.
(28) Convicção, (saddha): O primeiro dos cetasikas belos é a convicção, fé, certeza,
reverência, respeito, que possui a característica de depositar fé ou confiança. A sua
função é aclarar, como uma substância que clarifica a água e faz com que a água
barrenta se torne clara; ou colocar-se a caminho, como alguém que se ponha a
caminho para cruzar uma correnteza. Ela se manifesta como não obscuridade, isto é,
a remoção das impurezas da mente e de todos os obstáculos.
(29) Atenção Plena, (sati): A palavra sati é derivada de uma raiz que significa
“memória,” mas como fator mental significa presença de espírito, estar atento ao
presente, ao invés da faculdade da memória em relação ao passado. A sua
característica é a não vacilação, isto é, não se afastar do objeto. A sua função é a
ausência de confusão ou não-esquecimento. A sua causa mais próxima é a
percepção intensa ou os quatro fundamentos da atenção plena.
Quando a não-raiva aparece como qualidade sublime de amor bondade, (metta), ela
tem como característica a promoção do bem estar dos seres vivos. A sua função é
dar preferência ao bem estar dos outros. A sua manifestação é a remoção da má
vontade. A sua causa mais próxima é ver os seres como passíveis de serem amados.
(37, 38) Leveza, (lahuta): Tem como característica aplacar o peso no corpo mental e
na consciência. Ela se sua manifesta como não- indolência. Deve ser considerada
como o oposto das contaminações preguiça e torpor que causam peso.
(43, 44) Proficiência, (paguññata): Tem como característica a saúde do corpo mental
e da consciência. A sua manifestação é como a ausência de deficiência. Deve ser
considerada como o oposto à falta de convicção que provoca a insalubridade do
corpo mental e da consciência..
(45, 46) Retidão, (ujjukata): Tem como característica a integridade do corpo mental
e da consciência. Deve ser considerada como o oposto à hipocrisia e à fraude que
criam a desonestidade no corpo mental e na consciência.
Os viratis são três fatores mentais belos responsáveis pela abstinência deliberada de
conduta imprópria através da linguagem, ação e modo de vida. Na consciência
mundana, osviratis operam apenas no momento da existência da abstenção de uma
conduta imprópria e para a qual tenha surgido uma oportunidade. Quando uma
pessoa se abstém de atos impróprios, sem que tenha surgido uma oportunidade para
praticá-los, este não é um caso de virati, mas de pura conduta moral (sila).
Existem quatro atitudes em relação aos seres vivos chamadas de ilimitadas porque
elas se aplicam a todos os seres vivos, e dessa forma possuem uma abrangência
potencial ilimitada. Os quatro estados ilimitados são amor
bondade, (metta), compaixão, (karuna), alegria
altruísta, (mudita),e equanimidade, (upekkha). Esses quatro também são chamados
de moradas divinas, estados divinos ou brahmaviharas.
Com alegria, um menino, com a idéia de que não existe mal em roubar,
rouba espontaneamente uma maçã de uma feira.
Para finalizar este compêndio, vale a pena lembrar alguns aspectos importantes
destacados pelo Venerável Nyanaponika Thera no seu livro Abhidhamma Studies.
A palavra em Pali para matéria, rupa, é explicada como sendo uma derivação do
verbo ruppati, que significa “ser deformado, perturbado, golpeado, oprimido,
partido.” Os comentários afirmam que a matéria é assim denominada porque ela
está sujeita a alterações devido a condições físicas adversas tais como frio e calor,
fome e sede, moscas e mosquitos, vento e sol, etc.
3. Elemento Fogo
4. Elemento Ar
7. Sensibilidade no nariz
8. Sensibilidade na língua
9. Sensibilidade no corpo
13. Sabores
27. Decadência
28. Impermanência
V. Fenômeno do Coração
18. Alimento
matéria que possui natureza intrínseca porque cada tipo possui uma natureza
objetiva distinta, tal como a dureza no caso do elemento terra, etc.;
matéria que possui características reais porque eles possuem as três marcas:
impermanência, sofrimento e não-eu;
matéria produzida de forma concreta porque eles são diretamente produzidos por
condições como kamma, etc.;
matéria para ser compreendida através do insight porque eles devem ser
empregados como objetos do insight através da contemplação das três marcas.
(I) O elemento terra é assim chamado porque, como a terra, ele serve como
suporte ou fundação para os fenômenos materiais coexistentes. O elemento terra
tem a característica da dureza.
O elemento água ou fluidez, é o fator material que faz com que as diferentes
partículas da matéria fiquem coesas, evitando que elas se espalhem.
Em conjunto, os quatro elementos estão suportados pelo elemento terra, unidos pelo
elemento água, mantidos pelo elemento fogo e distendidos pelo elemento ar.
(III) Fenômenos objetivos são os cinco campos sensoriais, (objetos tangíveis), que
servem como suporte objetivo para a respectiva consciência nos órgãos dos
sentidos.
(V) Base do coração: Uma base é o suporte físico para a ocorrência da consciência.
A base do coração serve como o suporte físico para todos os tipos de consciência,
exceto aqueles originados nos cinco meios dos sentidos, que tomam os fenômenos
sensitivos como sua base.
(VII) Alimento tem como característica ser uma essência nutritiva, (ou em outras
palavras, todo alimento pode gerar energia). Sua função é dar sustento ao corpo
físico.
Os tipos de matéria contidos neste grupo são designados como não concretos porque
eles não surgem das quatro causas para a origem da matéria, (veja abaixo – A
Origem da Matéria), mas existem como modalidades ou atributos da matéria
concreta. O Abhidhammattha Sangaha traz mais detalhes deste tipo de matéria mas
isto não será objeto deste trabalho.
Toda matéria é desprovida de raiz, (delusão, aversão, cobiça), porque não está
associada com as raízes saudáveis, insalubres ou indeterminadas, a associação com
as raízes está limitada aos fenômenos mentais. Toda matéria possui condições
porque ela surge na dependência de quatro causas, (veja abaixo– A Origem da
Matéria). A matéria está sujeita às contaminações, porque pode se tornar um objeto
das quatro impurezas,(asavas). A matéria é condicionada e mundana porque não há
matéria que transcenda o mundo dos cinco agregados. Toda matéria é da esfera
sensual: embora a matéria exista no plano da matéria sutil, ela pertence, por sua
natureza, à esfera sensual porque é o objeto do desejo sensual. A matéria não
possui um objeto, pois ao contrário dos fenômenos mentais, a matéria não é capaz
de perceber um objeto. A matéria não pode ser abandonada, tal como as
contaminações que são abandonadas através dos quatro caminhos supramundanos.
3. A Origem da Matéria
Este capítulo trata da dinâmica da consciência tal como ela ocorre no processo
cognitivo. Todas as cittas em qualquer processo cognitivo ocorrem numa dada
seqüência de acordo com as leis da natureza. A ocorrência da consciência fora do
processo cognitivo, isto é, nas ocasiões do renascimento, bhavanga e morte estão
fora do escopo deste trabalho.
Seis processos:
Os seis processos cognitivos: A palavra vithi tem o sentido literal de rua, mas
aqui é empregada com o sentido de processo. Quando as cittas surgem no processo
de cognição de um objeto nas portas dos sentidos ou na porta da mente, elas não
ocorrem de forma aleatória ou isolada, mas como fases numa série de eventos
cognitivos discretos, cada um conduzindo ao seguinte numa ordem regular e
uniforme. Essa ordem é chamada cittaniyama,a ordem do processo da consciência.
Para que um processo cognitivo ocorra, todas as condições essenciais têm que estar
presentes. Para cada tipo de processo as condições essenciais são as seguintes:
Os seis tipos de processo cognitivo são divididos em dois grupos: os processos que
ocorrem em cada uma das cinco portas físicas; e os processos que ocorrem
exclusivamente na porta da mente. Como os processos nas cinco portas físicas
também emergem de bhavanga, estes são chamados de processos com portas
mistas já que envolvem ambas, a porta da mente e a porta de um órgão físico dos
sentidos. Os processos que ocorrem apenas na porta da mente são então chamados
de processos na porta da mente já que eles emergem debhavanga sozinhos, sem a
participação de uma porta dos sentidos. Como será visto mais adiante, os primeiros
cinco processos seguem um padrão uniforme apesar das diferenças nas faculdades
sensoriais através das quais eles ocorrem, enquanto que o sexto compreende uma
variedade de processos cuja única semelhança é que eles ocorrem independentes
das portas dos sentidos externas.
Apresentação dos objetos de seis formas: Isto significa a forma como um objeto
se apresenta para a consciência numa das seis portas, ou a ocorrência de estados de
consciência a partir da apresentação de um objeto. A apresentação de um objeto nas
cinco portas dos sentidos é analisada de quatro formas: muito intenso, intenso, leve
e muito leve. Na porta da mente existem duas alternativas: claro e obscuro. As
palavras intenso e leve não são usadas com referência ao objeto em si, mas em
relação à força do seu impacto na consciência. Que tão distinta é a impressão que o
objeto provoca. Por exemplo, se um objeto visível, com grande dimensão, se
apresenta na porta do olho, mas se a matéria sensível no olho for débil ou se a luz
for fraca, o objeto não irá criar uma impressão distinta e dessa forma irá cair na
categoria leve ou muito leve. Ou se por outro lado, uma forma pequena ou sutil
impacta o olho e devido à força da matéria sensível e à intensidade luminosa o
objeto criar uma impressão distinta, irá cair na categoria intenso ou muito intenso.
Dessa maneira, os termos qualificativos indicam não a característica do objeto em si,
mas o número de cittasque ocorrem no processo cognitivo que surge, do momento
em que o objeto impacta a porta do sentido, até o momento em que a apresentação
do objeto para a consciência cessa. O mesmo princípio se aplica à apresentação dos
objetos na porta da mente como claro e obscuro.
Fluxo de Bhavanga
6 *** Recebimento
7 *** Investigação
8 *** Determinação
9 *** Javana
10 *** Javana
11 *** Javana
12 *** Javana
13 *** Javana
14 *** Javana
15 *** Javana
16 *** Registro
17 *** Registro
Fluxo de Bhavanga
A conexão do processo cognitivo descrito até agora com as “seis classes com seis
elementos”, descritas acima na Enumeração das Categorias, pode ser compreendida
da forma descrita a seguir. Quando uma forma visível impacta a sensibilidade no
olho, então, suportada pela base do olho, surge a consciência no olho tomando como
objeto a forma visível que impactou o olho. Para a consciência no olho, a
sensibilidade no olho é a base e a porta, a forma visível é o objeto. As
outras cittas no processo – a advertência na porta do sentido, recebimento,
investigação, determinação, javanas e registro – são estados de consciência na
mente. Elas tomam a mesma forma visível como objeto e a sensibilidade no olho
como porta, mas elas surgem com o suporte da base do coração. Para todas
as cittasenvolvidas no processo, a bhavanga também é considerada uma porta já
que todo o processo emerge da bhavanga. Dessa forma, todos os processos que têm
origem nas portas dos sentidos são considerados como processos com duas portas, a
sensibilidade material como uma porta distinta, (de acordo com cada órgão do
sentido), e a porta da mente ou bhavangacomo uma porta comum. Os antigos
mestres do Abhidhamma ilustram o processo cognitivo que ocorre nas portas dos
sentidos com o símile da manga. Um certo homem foi dormir ao pé de uma
mangueira. E nisso, uma manga madura se desprendeu do galho e caiu ao solo
passando perto da orelha do homem. Despertado pelo ruído, ele abriu os olhos e viu;
em seguida esticou o braço, agarrou a fruta, apertou-a de leve e cheirou. Depois
disso, ele mordeu um pedaço da manga e engoliu-o desfrutando do seu sabor, em
seguida ele voltou a dormir. Enquanto o homem dormia ao pé da árvore equivale ao
momento de ocorrência dabhavanga. O instante em que a manga madura se
desprende do galho e passa perto do ouvido equivale ao instante em que o objeto
impacta um dos órgãos dos sentidos. O momento em que ele desperta equivale à
consciência de advertência dirigindo-se ao objeto. O momento em que ele abre os
olhos para ver equivale à consciência no olho desempenhando o seu papel de ver. O
momento em que ele estica o braço equivale à consciência de recebimento
recebendo o objeto. O momento em que ele aperta de leve a fruta equivale à
consciência de investigação. O momento de cheirar a manga equivale à consciência
de determinação. O momento de comer a manga equivale ao javana de
experimentar o sabor da fruta. Engolir a fruta apreciando o seu sabor equivale à
consciência de registro tomando o mesmo objeto da etapa de javana. E o homem
voltando a dormir equivale ao retorno à bhavanga.
Deve ser observado que todo o processo cognitivo ocorre sem que exista um eu ou
sujeito por detrás dele como um agente que experimenta ou controla o processo,
uma “consciência” que se encontre fora do escopo do próprio processo.
As cittas momentâneas exercem elas mesmas as funções necessárias para a
cognição, e a unidade do ato cognitivo deriva da coordenação entre as cittas por
meio da lei de interconexão condicionada. Dentro do processo cognitivo
cada citta surge de acordo com a lei natural da consciência, (cittaniyama).Elas
surgem na dependência de uma variedade de condições, incluindo
a citta precedente, o objeto, a porta e uma base física. Tendo surgido, ela realiza a
sua função única dentro do processo e depois se dissolve tornando-se uma condição
para a citta seguinte.
O Procedimento de Registro
Deve ser observado que enquanto que as cittas resultantes, (consciência nos
sentidos, recepção, investigação e registro), são governadas pela natureza do objeto,
as javanas não o são, e variam de acordo com o temperamento e inclinações de
quem as experimenta. Mesmo se o objeto for extremamente desejável,
as javanas podem ocorrer sob a forma de indiferença. E até mesmo é possível
que javanas acompanhadas pela aversão e desprazer surjam em relação a um objeto
extremamente desejável, ou que em relação a um objeto indesejável
ocorram javanas sob a forma mais apropriada para um objeto desejável. Assim, um
masoquista pode responder à dor física com cittas com raiz na cobiça e
acompanhadas pela alegria, enquanto que um monge dedicado à prática meditativa
poderá contemplar um corpo em decomposição com cittas saudáveis acompanhadas
pelo conhecimento e alegria.
Notas:
Os estados que são a sua condição: Uma condição é um estado que tem eficácia
no surgimento ou persistência de outros estados. Isso significa que uma condição,
quando estiver operante, irá causar o surgimento de outros estados a ela conectados
se ainda não tiverem surgido, ou, se já tiverem surgido, irá manter a existência
deles. Todos os fenômenos condicionados, bem como Nibbana, estão incluidos na
categoria de estados condicionadores.
E como eles estão relacionados: Isto se refere aos vinte quatro tipos de forças
condicionadoras que operam entre os estados condicionadores e os estados
condicionados. Essas forças condicionadoras são analisadas no Compêndio da
Condicionalidade.
(1) A condição de raiz se refere aos seis cetasikas chamados de raízes, (mula,
hetu), pois dão força e estabilidade aos fenômenos que eles condicionam, da mesma
forma que as raízes de uma árvore dão força e estabilidade a ela. Os estados
condicionados são: os estados mentais associados a cada raiz e os fenômenos
materiais co-nascentes. Os fenômenos materiais co-nascentes são aqueles
originários de kamma no momento da consciência de renascimento e aqueles que se
originam das cittas durante o curso da existência. Três raízes – cobiça, raiva e
delusão são exclusivamente insalubres. As outras três – não-cobiça, não-raiva e não-
delusão são saudáveis.
(2) A condição de objeto é um fenômeno que serve como uma condição para
as cittas ecetasikas ao ser tomado como objeto por elas. Todos os tipos
de cittas, todos os tipos decetasikas, tudo que é caracterizado como um conceito,
pode ser tomado como objeto. Na verdade, não existe uma única coisa que não
possa se tornar um objeto para a mente. Resumindo, a condição de objeto pode ser
de seis tipos: forma visível, som , aroma, sabor, objeto tangível e um objeto
puramente mental.
(6) Uma condição co-nascente é um fenômeno que ao surgir faz com que outros
fenômenos surjam junto, como a chama de uma vela que faz a luz, cor e calor
surgirem simultaneamente.
(7) Uma condição de mutualidade é um fenômeno que auxilia um outro por meio
de estímulo e estabilização mútua, semelhante a um tripé, onde cada perna auxilia
as outras duas permitindo que o tripé fique em pé. A relação de mutualidade é um
tipo específico de co-nascença, de modo que todos os fenômenos que funcionam
como condição mútua também funcionam como condição de co-nascença. Dessa
forma, em qualquer citta, todos os fatores mentais são tanto condições co-nascentes
como de mutualidade para todos os demais. O mesmo se aplica a cada um dos
elementos primários, (materiais), em relação aos demais, e aos fenômenos mentais
e materiais na relação entre si no momento da consciência de renascimento.