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ARTIGO ARTICLE 767

Violência e sofrimento social no itinerário


de travestis de Santa Maria, Rio Grande
do Sul, Brasil

Violence and social distress among transgender


persons in Santa Maria, Rio Grande
do Sul State, Brazil

La violencia y el sufrimiento social en el itinerario


de las personas transgénero de Santa María,
Río Grande do Sul, Brasil
Martha Helena Teixeira de Souza 1

Paulo Malvasi 2
Marcos Claudio Signorelli 3
Pedro Paulo Gomes Pereira 4

Abstract Resumo

1 Centro Universitário The authors conducted an ethnographic re- No ano de 2012, realizamos pesquisa etnográfi-
Franciscano, Santa Maria,
Brasil.
search with transgender persons in Santa Ma- ca com travestis de Santa Maria, Rio Grande do
2 Universidade Anhanguera ria, Rio Grande do Sul State, Brazil, in 2012, Sul, Brasil, por meio de observação participante,
de São Paulo, São Paulo, using participant observation, semi-structured entrevistas e acompanhamento de suas vidas co-
Brasil.
3 Universidade Federal do interviews, and following their everyday lives. tidianas. Durante esse período, percebemos que
Paraná, Curitiba, Brasil. These individuals invariably experienced physi- as violências física e simbólica e o sofrimento de-
4 Universidade Federal de
cal and symbolic violence and the resulting dis- las decorrentes eram invariantes, condição com
São Paulo, São Paulo, Brasil.
tress, a condition they had to deal with in their a qual tinham que lidar em seus itinerários, em
Correspondência careers and daily practices and tasks. The article suas práticas e afazeres diários. Este artigo dis-
M. H. T. Souza
discusses the violence experienced by transves- cute as violências vivenciadas nas trajetórias
Centro Universitário
Franciscano. tites (in the family, school, police precincts, and percorridas pelas travestis (família, escola, dele-
Rua Irmã Rosália 47, Santa health services), specifically seeking to under- gacias, serviços de saúde), procurando, sobretu-
Maria, RS
97060-267, Brasil.
stand how such violence relates to their experi- do, compreender como tais violências estão rela-
marthahts@gmail.com ences with health services and how the latter cionadas às experiências nos serviços de saúde e
respond. como os serviços de saúde por elas acessados rea-
giram às violências.
Travestism; Violence; Homophobia
Travestismo; Violência; Homofobia

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00077514 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(4):767-776, abr, 2015


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Introdução sexo, é mais agressiva do que a que tende a vi-


timar outros homossexuais, particularmente os
As análises sobre violência vêm se multiplican- que não exibem os sinais de diferença no corpo.
do e elucidando dimensões importantes da vio- A pesquisa que realizamos mostrou que, nos
lência contra crianças, adolescentes, mulheres itinerários das travestis, a violência é constan-
e idosos, inclusive, influenciando documentos te e ocorre de múltiplas formas, inclusive nos
importantes, tais como o Estatuto da Criança e serviços de saúde. Entendemos itinerário como
do Adolescente (ECA), a Lei Maria da Penha e o os diversos caminhos percorridos pelas pessoas
Estatuto do Idoso. O tema violência entrou com (sujeitos que edificam trajetórias por espaços, lu-
mais vigor na agenda da saúde no Brasil, na dé- gares, instâncias, instituições). Dadas as dimen-
cada de 1980, e, a partir de 1990, a Organização sões da violência nas experiências, no caso das
Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organiza- travestis, uma parcela significativa dos itinerá-
ção Mundial da Saúde (OMS) incluíram espe- rios é a busca por cuidados, ou seja, os tortuosos
cificamente a violência no endereçamento das caminhos percorridos pelas pessoas na tentativa
políticas públicas da saúde. Os reflexos da violên- de adequar seu corpo e de solucionar agravos,
cia na saúde da população mundial e brasileira incluindo os problemas de saúde 14,15,16.
vêm sendo estudados por diversos autores 1,2,3,4. Neste artigo, não há o reconhecimento de um
Acompanhando o movimento desses autores, conceito unívoco de violência; antes, a nossa in-
este artigo pretende discutir a violência contra tenção foi verificar como nossas interlocutoras
travestis – tema que, apesar de alguns meritórios definiam violência, considerando situações que
esforços, ainda tem recebido pouca atenção da envolvem agressões que o destinatário preferiria
academia, das organizações da sociedade civil e não sofrer 17. A abordagem não parte de um con-
dos governos. ceito de violência, mas busca destacar a violência
No campo da saúde coletiva, a noção de vio- nas narrativas de agressões físicas e psicológicas
lência recebe um tratamento abrangente, sen- sofridas pelas travestis em seus itinerários; agres-
do abordada como um conjunto que envolve: a sões que compõem relatos de sofrimento gera-
possibilidade ou a ameaça potencial de uso da dos pela escolha e pela condição de ser travesti.
força física; os abusos nas relações entre grupos Consideramos, portanto, a violência sofrida pe-
sociais; a opressão e o abandono de segmen- las travestis no seio de dinâmicas sociais mar-
tos populacionais; e o abalo causado por tortu- cadas por relações de poder, que caracterizam
ras físicas e emocionais 5. São acontecimentos a experiência das participantes do estudo com
que manifestam as tensões presentes em todas instituições que reproduzem uma ordem social
as sociedades humanas. Com efeito, a violência heteronormativa. Neste artigo, discutimos, en-
é um fenômeno de causalidade complexa, que tão, as violências vivenciadas nas trajetórias per-
envolve diversas dimensões da experiência hu- corridas pelas travestis, destacando-se contextos
mana. Tal fenômeno ganha contornos decisivos da família, escola, delegacias e serviços de saúde.
na contemporaneidade, pois dramatiza causas
emergentes e as situa no debate público. Embo-
ra não seja um problema específico da área de Metodologia
saúde, a violência, no entanto, afeta diretamente
a saúde 5,6. Baseamos este trabalho em metodologia qualita-
Em 2012, pela primeira vez no Brasil, foram tiva de estudo, por meio de proposta de pesquisa
divulgados dados oficiais sobre as violações de etnográfica, na qual foram adotados procedi-
Direitos Humanos da população de lésbicas, mentos de observação participante, entrevistas
gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), em profundidade e acompanhamento da vida
reportadas ao Poder Público Federal por meio do cotidiana das interlocutoras. Trata-se, portanto,
Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, de uma pesquisa qualitativa que buscou se apro-
Ano de 2011. Os dados desse relatório apontaram ximar do fazer etnográfico, procurando, acima de
que o número de homicídios de pessoas LGBT tudo, as concepções das interlocutoras sobre a
no Brasil aumentou 11,51% de 2011 para 2012. violência, tentando compreender a própria com-
Os resultados também apontaram que travestis e preensão das travestis de Santa Maria, Rio Gran-
transexuais seguem sendo as maiores vítimas de de do Sul, Brasil, sobre violência. A opção pela in-
violência homofóbica e das violências de maior vestigação etnográfica deveu-se à sua relevância
gravidade, como homicídios e lesões corporais 7. e à atualidade nas pesquisas em saúde 18,19. Etno-
Autores 8,9,10,11,12,13 que desenvolvem pesquisas a grafia não é definida pelas técnicas que empre-
respeito da hostilidade contra a população LGBT ga, como observação participante e entrevistas,
mostraram que a violência que atinge travestis, mas, por um tipo particular de esforço de “des-
sobretudo as que atuam como profissionais do crição densa” 20. Essa descrição, obtida por meio

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de imersão na vida diária do grupo pesquisado, sivamente. Desse modo, estabelece-se uma rede
focaliza detalhes e informações subjacentes, al- de interlocutores até que seja alcançado o objeti-
mejando explicar modos de vida e descrevendo vo proposto pelo estudo, denominado de “ponto
padrões de significado que informam as ações de saturação”. Tal ponto é atingido quando novos
sociais, assim como os tornam acessíveis. Na entrevistados passam a repetir os conteúdos já
pesquisa etnográfica, a proximidade permite um obtidos em entrevistas anteriores, sem acrescen-
olhar sobre o microcosmo de relações humanas. tar dados relevantes à pesquisa 22.
Cabe ressaltar que a pesquisa teve uma orienta- As observações e narrativas que emergiram
ção etnográfica, e, por uma opção na construção do campo foram transcritas, codificadas, cate-
deste artigo, aqui, privilegiamos as análises dos gorizadas tematicamente e cotejadas com acep-
depoimentos das interlocutoras. ções teóricas dos estudos de gênero, de violência
A descrição das causas externas que impac- e do campo da saúde coletiva no que tange às
tam na saúde amiúde não revela algumas das principais repercussões da violência nos itine-
complexas teias de significados construídas em rários vivenciados pelas travestis. Para escrever
torno da violência e, assim, dificulta a compreen- a etnografia, é significativo que o pesquisador se
são das experiências humanas em que a violên- aproprie dos dados coletados em campo, dando
cia ocorre 21. Portanto, defendemos a utilização um sentido às suas experiências 20. Como cate-
de métodos qualitativos, como a aproximação gorias emergentes neste estudo, destacaram-se:
etnográfica adotada neste estudo, para compre- (1) violência e sofrimento social na família; (2) na
ender essa complexa tessitura. escola; (3) na delegacia; e (4) nos serviços de saú-
Realizamos a pesquisa de campo no período de, que serão detalhadas na seção de resultados.
de janeiro a novembro de 2012, em distintos mo- O anonimato e confidencialidade das in-
mentos ao longo da semana e nos fins de sema- terlocutoras foram garantidos, sendo adotados
na, e também em diferentes horários, inclusive pseudônimos. Informamos todas as participan-
durante a noite e nas madrugadas. Acompanha- tes sobre os objetivos do estudo, e elas assinaram
mos, ao longo da pesquisa, 49 travestis residentes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
no Município de Santa Maria. Durante esse perí- sendo que esta proposta seguiu todos os procedi-
odo, participamos intensamente das atividades mentos éticos, tendo sido aprovada pelo Comitê
das travestis: festas, encontros, eventos por elas de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
promovidos, atividades nas casas de algumas tra- São Paulo (UNIFESP, processo 1937/11).
vestis e nas pensões em que vivem. Estivemos
com as travestis em suas residências, quando
com a família nuclear, e nas pensões; nos diver- Resultados e discussão
sos serviços de saúde (unidades básicas de saúde
– UBS, hospitais); fomos chamados em casos de Na região central do Rio Grande do Sul, localiza-
violência e, sempre seguindo nossas interlocu- se Santa Maria, município brasileiro com 270 mil
toras, fomos à delegacia; quando da busca de habitantes, onde residiam as travestis no perío-
transformação corporal, permanecemos com as do de realização desta pesquisa. As travestis são
travestis nas sessões com “bombadeiras”; à noite, provenientes de pequenas cidades do interior do
fomos às festas, às casas de santo, às reuniões estado, além de Santa Maria, com idade entre
e mesmo na “pista”. Enfim, procuramos seguir 18 e 53 anos e Ensino Fundamental incomple-
nossas interlocutoras em seus diversos e intrica- to. A maioria divide aluguel com outras travestis,
dos caminhos. espaços nos quais se identificam por “manas”
O contato da autora principal deste estudo – sendo uma constante o perambular na região
com as interlocutoras data desde as ações de pre- pela busca dos “pensionatos”. A saída precoce
venção das DST/AIDS promovidas inicialmente da família nuclear é uma das justificativas para
na Secretaria Municipal de Saúde de Santa Ma- a procura de parcerias das “manas”. Com relação
ria, no ano de 1996, e, na sequência, no projeto à atividade laboral, três participantes desta pes-
AIDS II, no Consórcio Intermunicipal de Saúde quisa atuam como mães de santo, uma como pai
(1999/2008). A partir desse contato inicial com de santo, duas são diaristas, uma realiza serviços
o grupo de travestis, as demais participantes do gerais na rodoviária e as demais são profissionais
estudo foram sendo indicadas pelas próprias tra- do sexo. É habitual, na busca por desviar situ-
vestis. Fomos inspirados aqui na técnica “snow- ações que geram constrangimento, evitarem os
ball sampling” ou “bola de neve” 22. Essa estra- espaços públicos, como a rua durante o dia, e ou-
tégia é adotada em pesquisas qualitativas e con- tros locais comuns, como a farmácia, o mercado,
siste na indicação, pelos participantes iniciais de a padaria, entre outros.
um estudo, de novos participantes que, por sua Desde o início do trabalho de campo, obser-
vez, indicam outros participantes e assim suces- vamos claramente a exposição a situações de

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violência física como uma constante no cotidia- “A maioria [das travestis] tem histórias tristes
no das travestis que, agredidas e feridas, como na família. Sempre teve um pai, um irmão, um tio,
demonstraremos no decorrer deste artigo, en- que xingou, bateu e expulsou a travesti de casa. É
contram, no atendimento nos serviços de saúde só começar a transformar o corpo que as coisas
e nas delegacias de polícia, uma extensão dessa pioram para o nosso lado”.
mesma violência. As travestis são também víti- Como muitas histórias que ouvimos duran-
mas de ofensas verbais em diferentes contextos, te a pesquisa, a de Victoria, 18 anos, também
como família, escola, pontos de prostituição e ressaltou, em julho de 2012, a associação entre
espaços públicos. As narrativas de nossas inter- transformação corporal e início da violência
locutoras descrevem processos que, atuando na família:
contra a diferença dos corpos das travestis, im- “Quando comecei a ingerir hormônios e usar
plementam e naturalizam a violência nas famí- roupas femininas, minha mãe foi embora, aban-
lias, nas escolas, nas delegacias e nos serviços de donou a família. Meu pai ficou morando nos
saúde. As narrativas das travestis fazem referên- fundos da casa dos meus avós, mas sempre que
cia a violências que perpassam suas trajetórias, chegava bêbado, me dava uma surra. E meus avós,
indicando um contexto que percebem como vio- até me aceitam, mas não querem que eu tome re-
lento. Na realidade, a violência se expressa como médios para ficar feminina. Preferiam quando eu
fenômeno que ocorre não em momentos excep- era neto, mas não me querem como neta. Dizem
cionais, mas, como parte constituinte das vidas que isso é pura sem-vergonhice. Fico pensando em
– a violência como fenômeno ubíquo, perpassan- que lugar vou morar se não tenho emprego e não
do diversas esferas da vida das travestis. Vamos consigo pagar um aluguel. Ouço piadas na escola
acompanhar então o itinerário dessas nossas e tento não dar muita atenção, pois, se parar de
interlocutoras, pela família, escola, delegacias e estudar, vai ser mais difícil ainda para arrumar
serviços de saúde. emprego depois”.
Quando a travesti resolve assumir seu pro-
Família cesso de feminilização, comumente, afasta-se da
família e da escola. No caso dos meninos e ado-
Das 49 travestis que participaram deste estu- lescentes gays, travestis e lésbicas, é dentro de
do, todas relataram ter vivenciado situações casa e na própria família que o preconceito e a
de agressão física e xingamentos em diferentes discriminação assumem características de cruel-
contextos e locais. Pelos relatos das interlocuto- dade, incluindo insultos, tratamentos compulsó-
ras, percebe-se que as agressões se iniciam no rios, humilhação, agressão física e até a expulsão
contexto da família nuclear e têm seguimento do lar 24.
no ambiente escolar, fazendo com que abando- A violência perpetrada pela família é uma das
nem esses espaços, formando novas “famílias” situações que as travestis evitam falar. A maioria
constituídas exclusivamente por travestis. Essas demonstrou desconforto ao falar de avós, pais
novas famílias são, em certa medida, formas de e irmãos. Em muitos casos, não conseguiram
lidar com a violência e com o sofrimento dela transformar o sentimento em discurso, e o silên-
decorrente. cio sobre essa discriminação em suas próprias
Após situações que envolvem a expulsão ou famílias de origem tornou-se um importante
mesmo a rejeição da família de origem e a di- dado da pesquisa. A intuição de que determina-
ficuldade de localizar moradia como qualquer dos abusos não podem ser verbalizados na vida
outro cidadão, as pensões de travestis tornam-se cotidiana está no reconhecimento de que não
os locais, quase exclusivos, onde elas são acei- se pode trabalhá-los no âmbito do cotidiano 25.
tas. Ao buscarem formar “casas” de convivência Essa violência traz à tona aquilo que constitui o
entre travestis, elas criam novos laços, muitas não-narrativo da violência: o que é indizível nas
vezes, ampliando a noção de família: ali elas formas da vida cotidiana.
constroem relações de afeto, sendo identificadas Quando as travestis precariamente conse-
por “manas” 23. guem falar sobre o tema, costumam confessar
As travestis vivenciam situações de opressão que um dos momentos de maior tensão nas
e discriminação desde quando suas escolhas e relações com seus familiares é o da “revelação”
mudanças corporais começam a se tornar co- aos pais. Os conflitos se agravam quando as tra-
nhecidas. A descoberta da sexualidade é o mo- vestis se assumem e se “montam” 26. Após anos
mento no qual convivem com surras, insultos e de sofrimento, no período em que o desejo de
diversos tipos de rejeição familiar. Não estar nos começar as modificações no corpo se evidencia,
padrões de gênero esperados pela família é um não há mais como esconder-se atrás de uma he-
dos primeiros obstáculos vivenciados pelas tra- terossexualidade desejada pelos familiares. Tam-
vestis, como observou Charlenne, 26 anos: pouco há como simular uma homossexualidade

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que, no dizer de algumas travestis, implicaria noção não exclui a violência física, mas visa, so-
em menor violência na família. Thalya, 24 anos, bretudo, fazer ver a objetividade da experiência
tentando resumir as diferenças entre esses dois subjetiva das relações de dominação, muitas ve-
quadros, salienta que é comum o pai dizer: “um zes efetivadas em agressões físicas e psicológicas.
filho gay até engulo, mas travesti, nunca!”. Situa- A dominação masculina é um exemplo, por ex-
ções de rejeição são evidenciadas, na maioria das celência, da submissão que decorre da violência
vezes, por parte do pai, conforme revela a fala de simbólica 28, e “feminilizar” outro homem é um
Penélope, 23 anos: modo de ser visto pelos pares com maior poder.
“Meu pai só voltou a falar comigo poucos dias A atribuição, na escola, do lugar de “veadinho”
antes de falecer. Já faz dois anos que o meu pai identifica essas crianças e adolescentes com o
faleceu. Na verdade, toda a minha família tinha lugar do feminino moralmente discriminado,
dificuldade de aceitar, mas meu pai sempre foi sendo, então, acusadas de serem “putas”, o que
pior, ele sempre me batia muito”. justificaria toda a sorte de violência às quais es-
Em alguns casos, a violência sofrida no espa- tão submetidas em ambientes de sociabilidade
ço familiar pode ser tamanha que leva ao desejo com os pares geracionais, como a escola 29. Mes-
de suicídio, como salientou Stelly, 32 anos: mo antes da transformação corporal, as traves-
“Eu já tentei me matar algumas vezes. No iní- tis narram a experiência nas escolas, valendo-se
cio, foi muito difícil. E não sou a única que tem de expressões como medo e pavor. As escolhas,
essa história de querer morrer. E depois, buscar estilos e modos de vida das travestis são utiliza-
um tratamento na saúde porque ficamos depri- dos para legitimar e rotinizar as violências contra
midas é difícil, porque as pessoas acham que, se elas.
queremos ser travestis, o azar é nosso. Então, para À medida que suas escolhas vão se consoli-
não adoecer, a gente busca outras formas de não dando, as formas de violação vão se multiplican-
se deprimir. Tentamos levar tudo na brincadeira, do. É uma constante o perambular das travestis,
travesti geralmente é muito divertida, faz piada de um município para outro, em busca de mora-
de tudo”. dias e trabalho 30. O direito a uma casa e à con-
As primeiras experiências de rejeição na fa- vivência é violado em grande parte dos espaços
mília, vivenciadas pelas travestis, dão início a um disponíveis para locação.
processo de enfraquecimento da autoestima 9. A dissidência das normas heterossexuais é
Essa fragilidade pode torná-las, inicialmente, condenada na maioria dos itinerários percorri-
confusas e desorientadas, sendo esse o momen- dos pelas travestis. Os discursos religiosos e mé-
to em que o sentimento de pertença leva à apro- dico-científicos legitimaram instituições e práti-
ximação de pessoas que coadunam de mesmos cas sociais baseadas em um conjunto de valores
gostos, desejos, sonhos, pessoas que, de certa heteronormativos, os quais levam à discrimina-
forma, compartilham suas experiências, neces- ção negativa e à punição de diversos comporta-
sidades, desejos e projetos 9. mentos sexuais, sob a acusação de crime, pecado
ou doença 31. A violência na vida das travestis é
A escola múltipla e normativa, resultado da interação de
mudanças de representações culturais, experiên-
A escola é outro espaço em que violência e sofri- cia social e subjetividade individual 32.
mento conformam as experiências das travestis.
Tefhy, 38 anos, narrou, em agosto de 2012, uma Delegacia
história dramática de quando era “um menino
no pátio da escola”: Todavia, uma das maiores experiências de sofri-
“Na escola, não era só eu que percebia ser dife- mento se dá quando a violência cotidiana é efe-
rente. Todos os meninos também notavam. Quan- tuada por instâncias que deveriam amenizá-la ou
do eu tinha uns 12 anos, resolveram arrancar mi- erradicá-la. O sofrimento social 22,33 está presente
nhas roupas no pátio, na hora do recreio, na frente nas respostas aos problemas humanos por parte
de todos. Minha mãe foi na escola para saber o das instituições de política e dos programas sociais
que havia acontecido. Então, depois disso, meus que são, em princípio, organizados para saná-
pais me colocaram em uma academia para eu fi- los. As ambiguidades das práticas institucionais
car musculoso. Não gostava de ir à academia, mas voltadas para abrandar o sofrimento dos sujeitos
só assim fiquei respeitada e consegui continuar tidos como excluídos e vulneráveis e que, para-
estudando: forte, parecendo um homem!”. doxalmente, resultam na sua intensificação 33.
O modo pelo qual o sistema educativo opera, Existem, por exemplo, várias delegacias de
inculcando como “naturais” e “universalmente polícia para delatar os casos de violência no
legítimos” conteúdos arbitrários, constitui um Município de Santa Maria: da mulher, do ido-
elemento central da violência simbólica 27. Tal so, da criança e adolescente. Para denunciar os

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diversos casos de violência contra as travestis, a possibilidade de fraturas e mesmo pequenas


algumas procuram a Delegacia Geral, na região cirurgias. No entanto, foi comum, em Santa Ma-
central do município (em teoria, destinada a es- ria, elas evitarem os serviços públicos de saúde
se fim). É comum não denunciarem as ofensas, para esse atendimento. Em várias circunstâncias,
pois, frequentemente, mesmo sendo vítimas, narraram histórias de dores, seja por problemas
são transformadas em agressoras nos boletins clínicos ou situações de violência enfrentadas.
de notificação. Luka, 24 anos, explica o moti- Mas, mesmo em casos de dor intensa, evitam os
vo do silêncio: “todas sabem: ninguém acredi- serviços oficiais de saúde, sempre sustentando
ta em travesti, então não adianta ir à delegacia serem discriminadas nesses espaços 23.
fazer queixa”. Em uma das visitas a um grupo de travestis
Mesmo com iniciativas como a criação da durante o trabalho de campo, em março de 2012,
Coordenadoria de Equidade e Gênero no muni- Laysa, 23 anos, sentava com muita dificuldade
cípio, no ano de 2007, são numerosos os relatos, em uma cadeira disposta na sala em que estáva-
como os da organização não-governamental mos. Explicou que levara “umas facadas na ná-
(ONG) Igualdade no Coração do Rio Grande dega esquerda na noite anterior” e que não havia
do Sul, que denunciam que as travestis e tran- procurado o serviço de saúde, pois seria motivo
sexuais, além de sofrerem agressões constantes de “chacota”. Comentou então “prefiro ficar com
por parte de clientes, de familiares, na escola, no dor e deixar a ferida colar sozinha em casa do que
momento em que se dispõem a registrar queixa, passar vexame no pronto-socorro”.
sofrem preconceito e discriminação nas próprias Na maioria dos casos, os serviços de saúde
delegacias. Uma das nossas interlocutoras, Gra- não rompem o ciclo da violência simbólica con-
cy, de 29 anos, comentou sobre essa situação: tra as travestis. Uma vez que os profissionais de
“Quando procuramos os serviços de saúde pa- saúde não tiveram, em sua formação, ferramen-
ra realizar curativos ou mesmo a delegacia para tas que lhes possibilitem compreender o univer-
denunciar as brigas, nos sentimos rejeitadas e dis- so travesti, é de se esperar que haja dificuldade
criminadas. Então, é comum nem darmos queixa, no acolhimento e situações de constrangimento
pois não dá em nada, no máximo, ainda sobra durante os atendimentos 34. Esse é um dos aspec-
para nós, de novo!”. tos de um amplo quadro de estigma, preconceito
Na construção de Gracy, o deslizamento en- e abjeção envolvidos na situação de acolhimento
tre as instâncias é significativo. A delegacia e os das travestis nos serviços.
serviços de saúde atuam da mesma forma e são São muitas as dificuldades no atendimento à
interpretados como pertencentes a uma mesma saúde das travestis nas instituições públicas de
máquina que reproduz a violência: “na delegacia saúde: o mencionado desconhecimento dos pro-
ou numa UBS, é a mesma discriminação, o mes- fissionais de saúde dos problemas que afetam as
mo tratamento”. travestis, a falta de resolutividade, a identificação
Apesar de avanços recentes na lesgislação de pelo nome masculino no momento do atendi-
enfrentamento à violência de gênero, sobretu- mento, entre outros. As travestis sentem-se in-
do após a aprovação da Lei nº 11.340 (Lei Maria comodadas pela forma como são tratadas, pelo
da Penha), em 2006, percebe-se que nem todas julgamento moral e pela distância denunciada
as questões que permeiam as assimetrias de gê- pelos gestos, olhares e falas dos profissionais
nero estão contempladas e efetivadas. Ao borrar que atendem nos serviços de saúde. Sobre isso,
as fronteiras de gênero tradicionais, as travestis Thalya, 22 anos, comentou:
acabam por sofrer a violência institucional nos “Experimenta chegar ao serviço de saúde toda
espaços das delegacias. As Delegacias Especia- quebrada?! Já te olham de cima a baixo com uma
lizadas no Atendimento à Mulher atuam como cara de quem diz: ela merece isso mesmo! Ainda
se as travestis fossem “menos mulheres”, sequer por cima exigem teu documento que está o nome
considerando-as como sujeitos de direitos. masculino e gritam bem alto o teu nome de antes.
Tem que levantar disfarçando que é tu. Já fica todo
Serviços de saúde o mundo rindo”.
Michelly, 28 anos, identifica, nos olhares e
Envoltas em violência na família, na escola e até gestos dos profissionais, uma repreensão pelas
nos espaços destinados a prevenir e impedir a suas escolhas:
violência, é natural que as travestis sintam, em “Eles olham para a gente e já pensam: onde
seus corpos, as marcas da violência. Muitas situa- já se viu estar vestida assim? Estão pedindo para
ções narradas pelas travestis com as quais convi- apanhar, monte de bandidos, safados, veados![...]
vemos durante a pesquisa descrevem ferimentos, Sem contar o olhar das outras pessoas que estão
os quais necessitariam de curativos, aplicação de esperando por atendimento. É como se não tivés-
suturas, realização de radiografias para verificar semos direito ao cuidado com a saúde!”.

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VIOLÊNCIA E SOFRIMENTO SOCIAL NO ITINERÁRIO DE TRAVESTIS 773

Segundo nossas interlocutoras, uma das ção”, “constrangimento”. A violência se revela na


maiores violências dos serviços de saúde é de- culpabilização das travestis pelas suas escolhas.
nominarem as travestis pelo nome masculino. Ao se revelarem espaços em que a violência sim-
Ashley, 29 anos, manifesta seu descontenta- bólica 26 é reproduzida, os serviços de saúde con-
mento em um atendimento no serviço público tribuem na intensificação do sofrimento social
de saúde: das travestis.
“Outro dia, fui fazer meu teste anti-HIV, e a Pesquisas 11,12 apontaram que a saúde das
sala estava cheia de gente. Todo o mundo já olha travestis é relegada à automedicação ou à ação de
atravessado, é como se tu já tivesse [AIDS], enten- “bombadeiras”. Em geral as “bombadeiras” são
de? Deixaram a porta aberta durante o atendi- travestis mais velhas, que adquiriram experiên-
mento. Levantei constrangida e tentei fechar a cia em injetar silicone industrial. A utilização de
porta. Disseram para eu deixar a porta aberta. hormônios e silicone é amplamente debatida, e
Pedi que colocassem meu nome de mulher no todas conhecem seus riscos. Alguns motivos são
prontuário. Mas que nada! Passei o maior cons- apontados para o silicone industrial ser a primeira
trangimento quando me chamaram pelo nome opção: facilidade de acesso, custo menor do que
de homem. Fiz de conta que não era comigo e saí cirurgia e não serem julgadas pelo procedimento.
disfarçada. Mas não adianta. Quem está ali perce- Portanto, não apenas os agravos causados
be que é tu. Além disso, é um descaso, não resolvem pelas situações de violência fazem com que as
o problema. Imagina, se o meu teste tivesse dado travestis necessitem de cuidados com a saúde.
positivo para o HIV, eu não iria mais lá. É por essas A própria construção do corpo da travesti exige
e outras que as pessoas não se tratam”. cuidados especiais, já que pressupõe técnicas
Ser identificado publicamente pelo nome como a implantação de próteses de silicone nos
que não corresponde à aparência é uma violên- seios e em outras partes do corpo (ordinariamen-
cia responsável pela evasão das travestis dos ser- te, efetuada por “bombadeiras”) e a tomada de
viços de saúde. Como nota o Grupo Pela Vidda 35, hormônios. Esse empenho na busca da femini-
é também a causa da evasão de mais da metade lidade pode ter consequências desastrosas, tais
das travestis dos bancos escolares. O depoimento como deslocamento do silicone para partes in-
de Victoria também narra a heteronormatividade desejadas do corpo (principalmente, pés e per-
manifesta entre profissionais de serviços de saú- nas), efeitos colaterais dos hormônios femininos.
de, reproduzindo a violência simbólica contra Não encontrar esse atendimento de forma inte-
as travestis: gral no sistema de saúde é uma das maneiras de
“Fui encaminhada para um ginecologista, dar continuidade à violência.
mas ele me deu pílula só para se livrar de mim na-
quele dia. Foi bem grosseiro e disse que só entendia
de ovários e vagina e que não conhecia mulher de Considerações finais
pênis e barba. Que eu fosse procurar ajuda em ou-
tro lugar. Claro que não vou voltar lá, né?! Então, As diversas formas de violência vivenciadas nas
vou fazendo do jeito que dá. Vou juntando um di- trajetórias percorridas pelas travestis interferem
nheiro para uma hora colocar silicone e ficar com diretamente nas suas condições de saúde. Além
o corpo que eu desejo”. de distanciá-las da família nuclear e das relações
A experiência das travestis, em Santa Maria, de parentesco, retirando suporte material e re-
mostra a atuação de serviços de saúde como re- lações afetivas, acabam por afastá-las, também,
produtores da violência social. Ao contrário de das escolas e dos serviços de saúde, que, como
atuar combatendo a violência, cuidando e aco- vimos, replicam a violência, conformando parte
lhendo integral e equanimemente, os profissio- de seu sofrimento. Os efeitos são devastadores e,
nais classificam as travestis em categorias rígi- durante o trabalho de campo, acompanhamos
das, heteronormativas, por meio de mecanismos casos de depressão, tentativa de suicídio, feri-
complexos de patologização, criminalização e mentos e agravos dos mais diversos.
exclusão. Mostra também o abismo existente en- Ao contrário de localizar a violência como fe-
tre o plano jurídico e de efetivação de leis, reso- nômeno homogêneo, as travestis de Santa Maria
luções e outras medidas que asseguram direitos insistem na particularidade da violência por elas
às travestis. sofrida, apontando seu caráter de gênero. A vio-
A recusa em procurar os serviços públicos lência é fruto de uma ordem moral, produzida
de saúde revela-se estratégia para lidar com a e sustentada dentro de um quadro de relações
experiência de sofrimento social. Nas próprias de poder, que replica formações culturais, mol-
palavras das nossas interlocutoras, elas evitam dando, torcendo, dobrando e, frequentemente,
os serviços de saúde para não sofrerem “discri- fraturando a vida de pessoas. A experiência das
minação”, “julgamento”, “chacota”, “humilha- travestis em Santa Maria revela como a violên-

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cia é crucial no processo social de legitimação, LGBT, a qual permite a identificação pelo nome
normatização e simplificação por meio das quais indicado pela travesti.
a heteronormatividade busca se impor à experi- O Ministério da Saúde previu, para o ano de
ência de pessoas à margem das normas hegemô- 2014, a notificação dos casos de violência contra
nicas de gênero. travestis no âmbito do SUS, no entanto, a nossa
A violência simbólica se manifesta de manei- pesquisa em Santa Maria nos permite questio-
ra sutil, nem sempre é visível, porém, permeia nar: como ocorreu essa notificação se, como de-
as relações de desigualdades presentes em uma monstramos, as travestis raramente frequentam
sociedade. Essa violência simbólica revela-se na os serviços públicos de saúde? As delegacias de
família, na escola e, comumente, nos espaços pú- polícia, por sua vez, quando procuradas pelas
blicos, em que, não raras vezes, classificam-se os travestis, têm dificuldade de compreender as su-
sujeitos em categorias rígidas, por meio de me- as queixas, concebendo-as como culpadas pela
canismos complexos de patologização, crimina- situação em litígio ou pelo conflito. Nas delega-
lização e exclusão. Ao ser replicada por instâncias cias, as travestis são responsabilizadas pela vio-
que deveriam amenizá-la ou erradicá-la, como lência contra elas cometidas. O mesmo ocorre
os serviços de saúde e as delegacias de polícia, os nos serviços de saúde. É por esse quadro que,
processos de violência simbólica atuam naturali- após o término de nossa pesquisa, iniciamos
zando as representações dominantes. agora uma nova etapa, com maior protagonis-
Em todas as situações etnografadas, nos ca- mo das travestis no próprio processo de conhe-
sos em que há uma procura pelos serviços públi- cimento e com a participação de profissionais
cos, tais como as delegacias de polícia e serviços de saúde, discutindo o cuidado e acolhimento
de saúde, a violência era replicada e formava par- nos serviços de saúde. Essa foi uma solicitação de
te agravante do sofrimento das travestis. É justa- algumas travestis no decorrer da pesquisa.
mente por reproduzir a violência que deveriam O quadro de violência e sofrimento social re-
conter ou amenizar que, como demostramos, as latado neste artigo sugere o quanto ainda se tem
travestis, mesmo na presença de ferimentos gra- que caminhar para que se possa romper com es-
ves ou com intensas dores físicas, dificilmente se campo de violência. Talvez, um primeiro passo
procuram as instituições públicas de saúde. Elas seja repensar a formação dos profissionais que
sabem, pela experiência nesses espaços, que te- atendem as travestis, principalmente, a forma-
rão dificuldades no atendimento e enfrentarão a ção dos profissionais de saúde. Quem sabe se
indiferença, a humilhação, o julgamento moral multiplicarmos meios de debater temas como
e a baixa resolutividade. Como já mencionado, sexualidade, gênero e diferença, possamos faci-
um dos maiores embaraços apontados é a iden- litar o atendimento adequado de forma mais in-
tificação pelo nome masculino, o que demons- tegral para as travestis, minimizando as situações
tra, no mínimo, o desconhecimento de parte dos de violência tais como as citadas ao longo deste
profissionais de saúde de Santa Maria da Políti- trabalho.
ca Nacional de Saúde Integral para a população

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VIOLÊNCIA E SOFRIMENTO SOCIAL NO ITINERÁRIO DE TRAVESTIS 775

Resumen Colaboradores

Hemos llevado a cabo una investigación etnográfica M. H. T. Souza contribuiu no desenho do estudo, na
con personas transgénero de Santa María, Río Grande condução da pesquisa de campo, na escrita e revisão. P.
do Sul, Brasil, durante el año 2012, a través de la ob- Malvasi, M. C. Signorelli e P. P. G. Pereira contribuíram
servación participante, entrevistas semiestructuradas y no desenho do estudo, no referencial teórico-metodo-
seguimiento de su vida cotidiana. Durante este período, lógico e na revisão do artigo.
se observó que la violencia física y simbólica y el sufri-
miento que resulta de ellos, eran invariables, una con-
dición que tenían que hacer frente en sus carreras, en
sus prácticas y actividades diarias. Este artículo descri-
be el panorama de la violencia experimentada en la ru-
tina de transexuales (familia, escuela, policía, servicios
de salud), con el objetivo particular de entender cómo
este tipo de violencia está relacionado con experiencias
en el cuidado de la salud y cómo los servicios de salud
reaccionaron a este tipo de situaciones de violencia.

Travestismo; Violencia; Homofobia

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