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literatura?
TRADUÇÃO
Marcos Bagno
Marcos Marcionilo
Título srcinal:
Pourquoi étudier la littérature?
© Armand Colin, 2010
www.armand-colin.com
ISBN: 978-2-200-24989-2
EDIÇÃO BRASILEIRA:
EDITOR: Marcos Marcionilo
CAPA E PROJETO GRÁFICO: Andréia Custódio
REVISÃO: Karina Mota
CONSELHO EDITORIAL: Ana Stahl Zilles [Unisinos]
Angela Paiva Dionisio [UFPE]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]
Gilvan Müller de Oliveira [UFSC, Ipol]
Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]
Kanavillil Rajagopalan [Unicamp]
Marcos Bagno [UnB]
Maria Marta Pereira Scherre [UFES]
Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP]
Roxane Rojo [UNICAMP]
Salma Tannus Muchail [PUC-SP]
Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]
j76P
Jouve, Vincent
Por que estudar literatura? / Vincent Jouve ; Marcos Bagno e
Marcos Marcionilo, tradutores. - São Paulo : Parábola , 2012.
23 cm. (Teoria Literária)
Direitos reservados à
Parábola Editorial
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mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema
ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda .
ISBN: 978-85-7934-052-9
© da edição: Parábola Editorial, São Paulo, novembro de 2012
5
SUMÁRIO
PREFÁCIO......................................................................................................... 9
DA ARTE E DA LITERATURA................................................................... 13
A arte existe?............................................................................................... 13
Uma definição impossível?............................................................... 14
A arte e o belo.......................................................................................... 15
A arte e a história.................................................................................... 17
Uma prática transcultural ................................................................... 20
A literatura existe?.................................................................................. 29
O termo “literatura” .............................................................................. 29
Da forma ao conteúdo.......................................................................... 48
interlúdio 2
A iluminação da escrita....................................................................... 50
A narração: o apagamento das fronteiras entre o eu e o mundo...... 51
6 POR QUE ESTUDAR LITERATURA?
interlúdio 3
O sentido incerto ................................................................................................ 72
Uma fábula moral?................................................................................................. 73
Uma denúncia política?.......................................................................................... 75
Uma análise psicológica?....................................................................................... 78
Uma reflexão sobre a leitura?............................................................................... 79
A SIGNIFICAÇÃO ARTÍSTICA................................................................................ 81
A arte como prática............................................................................................ 81
A especificidade do sentido artístico .................................................... 84
interlúdio 4
Clarões na noite................................................................................................... 92
O poema como sinal ............................................................................................... 93
O poema como sintoma ......................................................................................... 95
O pensamento da forma ........................................................................................ 97
O VALOR....................................................................................................................... 113
Valor estético e valor artístico..................................................................... 113
Sumário 7
interlúdio 5
Humano, demasiado humano........................................................................ 126
O essencial ................................................................................................................ 128
O inédito: a linguagem como remédio e fatalidade.......................................... 131
interlúdio 6
Estrela e carne ....................................................................................................... 138
A mulher cósmica.................................................................................................... 139
De Vênus a Cibele ................................................................................................... 141
Dor da criação .......................................................................................................... 143
A Natureza corrompida ......................................................................................... 144
Os meios ....................................................................................................................
145
Depreender o sentido (a investigação arqueológica).......................... 145
Perseguir o sentido (do bom uso da teoria) ............................................. 147
Controlar o sentido (as virtudes da coerência) ....................................... 152
interlúdio 7
Milagrosas fusões............................................................................................... 155
A leitura descritiva: um conto didático sobre a guerra das escolas ............... 156
Um conto de fadas bem realista ........................................................................... 158
A forma como expressão: o desejo de fusão ....................................................... 158
A leitura produtiva ................................................................................................. 159
CONCLUSÃO................................................................................................................ 163
cisa, assim, ser completada pelo exame de outros fatos linguísticos, que
remetem mais explicitamente a certos mecanismos de linguagem. Nes-
sa perspectiva, os estudos literários deveriam se fundir na linguística.
Artefato cultural
rário justifica umae abordagem
fato de linguagem entre outros, em que o texto lite-
específica?
A hipótese deste ensaio é que não se pode refletir sobre o interesse e o
valor de uma obra literária sem levar em conta seu estatuto de objeto
de arte. Esse posicionamento suscita, legitimamente, diversas questões.
Antes de tudo, podemos perguntar se não é francamente desarrazoado
falar da “arte literária”. Essa fórmula um tanto quanto obsoleta não re-
mete a questões de outro tempo? Já não é consenso que a “arte” (literária
ou outra) não é um absoluto, mas um dado relativo cujas declina
ç
ões va-
riam com a história? Falar da “arte” sem outra especifica
ção não é voltar
DA ARTE E DA LITERATURA
A arte existe?
A questão da existência da arte se confunde com a de sua defi-
nição. Haverá concordância (ou não) em incluir este ou aquele
objeto no campo artístico conforme ele corresponda (ou não) à
definição da palavra “arte” que se reconheça como pertinente.
Para dar um exemplo famoso, alguns recusarão o estatuto de
obra de arte para as caixas Brillo2 de Andy Warhol porque elas
não têm (segundo eles) nada de estético; outros, em contraparti-
da, concederão às caixas tal estatuto sem hesitar porque elas fa-
1 É a opinião, por exemplo, de F. Schuerewegen (Le début et la fin de l’art: sur Ar-
thur Danto.Poétique, no 147, 2006, p. 367-379).
2 Lembremos que se trata de um conjunto de caixas empilhadas umas sobre as
A arte e o belo
Quando se vincula a identidade artística ao sentimento do belo, a
discussão gira em torno da seguinte questão: o belo se deve a pro-
4 Ibid., p. 34.
16 POR QUE ESTUDAR LITERATURA?
É preciso ensinar literatura? A pergunta pode parecer brutal. Mesmo assim, me-
rece ser feita. Diante de currículos de ensino sobrecarregados, é legítimo reser-
var priedades
tempo ao estudo
manifestasde textos de natureza
da obra incerta
ou à aprecia ção e cuja função
subjetiva nãoestá
de cada um?clara?
Conforme
Neste ensaio, aVincent
primeira concep
Jouve ção, existiriam
demonstra o papelobras objetivamente
imprescindível dosbelas.
estudos
Conforme
literários a segunda,
porque o belo é uma
eles participam questão dedaquilo
da consciência juízo pessoal.
que somos e inci-
dem sobre a formação do espírito crítico, motor de toda evolução cultural.
O segundo
A literatura ponto de vista – que queestá confere
na base legitimidade
de nossa “modernida-
de” – setem um valor
inscreve específico
na renova aos estudos
ção de perspectiva proposta por Kant: não
literários, porque
existe objeto o confronto
belo em si, mas com as obrasobjetos
unicamente enriquece nossao sujeito
nos quais existência
temao
abrir o campo dos possíveis.
um prazer estético. O belo não é um dado absoluto: é o resultado, sem-
A literatura, pela liberdade
pre contingente, de uma que
relaçaãofunda, exprime conteúdos
de conveniência diversos, es-
entre as proprieda-
senciais
des dee um
secundários,
objeto e o evidentes e problemáticos,
gosto daquele que o avalia. Ocoerentes
que definee acontraditó-
relação
rios, que frequentemente antecipam os conhecimentos vindouros. Em cada
estética, portanto, não é a natureza do objeto apreendido, mas o tipo de
época, textos estranhos e atípicos nos mostram (ou nos lembram) que o ser
olhar continua
humano que se lansendo
ça sobre ele. Como explica Genette, “não é o objeto que
um universo com vasta extensão a explorar.
torna estética a relação, é a relação que torna o objeto estético”5. Mais
precisamente, há relação estéticaFJ cada vez que uma atenção aspectual
Esta(isto
obraé,seque
dirige aossobre
incide pesquisadores
a aparência emde teoria
um literária,
objeto) éem teoria da por
sustentada arte,
e, primeiramente,
uma apreciaçãoaos professores
6. Podemos, assim,e estudantes de literaturatanto
apreciar esteticamente interessados
a tela
em pensar sua prática de ensino e de estudos, além de se dirigir a todos os
de um mestre quanto um cartaz publicitário.
amantes da literatura.
Os “subjetivistas” deveriam logicamente chegar à conclusão de que a arte
não existe. No entanto, diante da evidência de que as obras de arte, sim,
existem concretamente (basta passear num museu para se convencer dis-
so), eles propõem o seguinte deslocamento:uma obra de arte nãoproduz
necessariamente o sentimento do belo (o que impediria toda generaliza-
ção), masvisa sempre a produzir o sentimento do belo. Em sua reflexão