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RECUPERAÇÃO JUDICIAL
18/06/2018 13:05
Atualizado em 18/06/2018 às 14:38
Pixabay
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Nada obstante, a regra que prevê a exigência da certidão de regularidade scal para
a concessão da recuperação judicial (art. 57 e 58 da Lei 11.101/05), embora de
clareza indiscutível, foi afastada pelo Poder Judiciário, sob o fundamento de que não
havia ainda a instituição do parcelamento especial às empresas em recuperação
judicial, na forma mencionada pelo artigo 68 da referida lei (AgRg no CC 136130 / SP
e REsp 1.187.404/MT, dentre outros)1.
O golpe fatal na cobrança dos débitos scais, contudo, veio na sequência. Com
efeito, a 2ª Seção do STJ, responsável por analisar os con itos de competência entre
o juízo da recuperação judicial e os juízos scais, sedimentou o entendimento que,
embora o deferimento da recuperação judicial não suspenda a execução scal, os
atos de constrição e de alienação de bens sujeitos à recuperação submetem-se ao
juízo universal (CC nº 153.627/PE e AgInt no CC 145.089/MT, dentre outros). Esse
entendimento, na prática, acaba por paralisar milhares de execuções scais em todo
o país, eis que o juízo da recuperação, em regra, entende que penhoras e leilões
realizados no âmbito dos executivos scais colocam em risco a viabilidade do plano
de recuperação, razão pela qual não devem ser realizados.
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Responsável por analisar os casos em que não foi suscitado con ito de
competência entre recuperação judicial e execução scal, a seção de Direito Público
do STJ (1ª Seção), que tinha entendimento pelo prosseguimento das execuções
scais, sem a interferência do juízo recuperação judicial (AgInt no AgRg no REsp
1.525.114/PE), afetou, em 27/02/2018, o tema “possibilidade da prática de atos
constritivos, em face de empresa em recuperação judicial, em sede de execução
scal” para julgamento na sistemática dos recursos repetitivos (tema 987),
determinando a suspensão nacional de todos os processos pendentes, individuais
ou coletivos que versem sobre o tema (Art. 1.037, II, CPC).
judicial que não parcelaram seus débitos scais (arts. 187 e 191-A do CTN; arts. 5º e
29 da Lei 6830/80; art. 6º, §7º, da Lei 11.101/05).
Boa ou ruim, fato é que foi esta a ponderação de princípios que os Poderes
Legislativo e Executivo entenderam por bem adotar2, quando editaram a Lei
11.101/05. Afastar essa ponderação dependeria da declaração de
inconstitucionalidade das normas acima citadas, na linha do que dispõe a súmula
vinculante nº 10 do STF. Contudo, o judiciário tem afastado as citadas normas sem
declarar sua inconstitucionalidade, sob o fundamento de que se trata de mera
interpretação dos dispositivos legais.
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A situação mostra-se ainda mais grave quando se constata que apenas 5% (cinco
por cento) das empresas que pedem recuperação judicial voltam efetivamente a
operar. Com efeito, segundo um estudo do Instituto Nacional da Recuperação
Empresarial (INRE), desde que a lei foi criada, em 2005, até 2015, foram registrados
6.938 pedidos de recuperação judicial, mas somente 5% das empresas que
ingressaram com o pedido judicial voltaram a operar efetivamente como empresas
regulares4.
A Fazenda, por sua vez, assiste a tudo sem nada poder fazer, correndo sério risco de,
quando, nalmente, puder voltar a tocar suas execuções scais, não encontrar mais
patrimônio do devedor a ser atingido. Na prática, a concessão da recuperação
judicial sem a comprovação da regularidade scal e a paralisação das execuções
scais dos devedores equivale a uma moratória ou mesmo a uma remissão dos
créditos scais. Tudo isso com a chancela do Poder Judiciário!
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Por certo, considerando que o Brasil se insere dentre aqueles tipos de Estado onde a
principal fonte de receita advém da tributação, o não ingresso de recursos, em
virtude da paralisação de milhares de execuções scais, impõe, em contrapartida, a
restrição de despesas anteriormente previstas (por exemplo, com programas sociais
e investimentos) ou o aumento de tributos, para que seja compensada a frustração
das receitas anteriormente estimadas. É uma questão matemática: se o tamanho do
Estado continua o mesmo, despesas precisam ser cortadas ou tributos majorados,
pois a conta precisa fechar! Quem você acha que acaba pagando essa conta?
CONCLUSÕES
Ao nal desse pequeno texto, é possível apresentar as seguintes conclusões:
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recuperacao-judicial-vira-moratoria-tributaria-12122016
3 ALEXY, Robert. (2008). Teoria dos Direitos Fundamentais (2ª ed.). (Tradução de
4 Contábeis. O portal da pro ssão contábil: Brasil registra recuperação judicial para
5 Ganha cada vez mais destaque a gura das empresas zumbis. Trata-se de
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