Vous êtes sur la page 1sur 3

O MAL TEM ANTÍDOTO!

Vitor Pordeus sobre o livro “O Antídoto do Mal: Crítica de Arte e Loucura na


Modernidade Brasileira” de Gustavo Henrique Dionisio.

O livro “O Antídoto do Mal - crítica de arte e loucura na modernidade Brasileira” do


Psicanalista, Prof de Psicologia da Universidade Estadual de São Paulo - UNESP-Assis
Gustavo Henrique Dionisio constitui um importante documento da história do Brasil, sua cultura
e ainda mais de nossa medicina psiquiátrica e teoria da arte do século XX que forneceu
influências científicas e artísticas contemporâneas fundadoras, por exemplo, para meu próprio
trabalho médico e artístico desenvolvido no mesmo Hospício Pedro II do Engenho de Dentro no
Rio de Janeiro, desde 2000 nomeado Instituto Municipal Nise da Silveira.
Dionisio retrata e contextualiza, em um excelente e rigoroso trabalho de revisão da
literatura científica e artística internacional, a excepcional importância e até mesmo caráter
revolucionário dos principais movimentos de arte e saúde mental em nosso país no século XX
e na EUropa no século XIX e XX. Ele nos relembra dos importantes e pioneiros livros do campo
da arte e psiquiatria, como a edição seminal de 1857 de “Art and Madness” do médico escocês
Browne, até o trabalho que revolucionou e fundou efetivamente o campo de pesquisa
sistemática da teoria da arte e psiquiatria, publicado em 1922 em Heidelberg pelo psiquiatra,
artista, crítico de arte, músico, cantor, investigador psicodélico, entre outros Hans Prinzhorn:
Expressões da Loucura (Bildnerei der Geisteskranken) - a arte dos enfermos mentais. Ou seja
Dionísio presta inestimável valor de memória e patrimônio.
A personagem central do livro é o gênio brasileiro de Mario Pedrosa, o mais excepcional
crítico de arte - filósofo, ativista político - brasileiro da história recente, seguido juntamente com
a Dra. Nise da Silveira, que juntos e em uma incrível coletividade de artistas, críticos, médicos
psiquiatras, erigiram a prática e a teoria de uma verdadeira revolução artecientífica ainda a ser
conhecida e reconhecida pelos Brasileiros e a comunidade internacional, a materialização e
prova desta revolução é o próprio Museu de Imagens do Inconsciente hoje com mais de 70
anos de experiência contínua, e o arquivo vivo e crescendo de mais de 360 mil obras, o que
para mim, constitui um Mapa do Inconsciente Coletivo, uma prova da teoria de Jung com quem
Nise trabalhou pessoalmente. Não há coincidência, há sincronicidade.
Outra contribuição preciosa de O Antídoto do Mal é a recuperação da genial memória
de Osório Thaumaturgo Cesar, psiquiatra paraibano radicado em São Paulo, artista, violinista,
crítico de arte que no Hospital do Juquery em Franco da Rocha/SP realizou também uma
revolução psiquiátrica e artística silenciosa até hoje para a consciência coletiva brasileira.
Osório que se correspondia com Freud e aplicava suas teorias para a análise das obras dos
pacientes, fundou um museu no Hospital ativo até hoje e é o grande pioneiro brasileiro a
publicar pesquisas refletindo sobre manifestações artísticas e psiquiátricas em 1924 sob o título
“A arte primitiva dos alienados” no periódico Memórias do Hospício de Juquery. Gustavo
Dionisio narra com propriedade a envergadura do movimento cultural liderado por Osório em
São Paulo, no Brasil e no mundo, com numerosas exposições de arte, a publicação de
literalmente centenas, talvez milhares, de artigos em jornais e revistas de circulação geral.
Osório ele próprio era crítico de arte, escreveu sobre seus próprios trabalhos e dos amigos que
1
participavam no hospital, e estavam entre os nomes mais famosos da arte brasileira como
Mário de Andrade, Tarsila do Amaral (que foi casada com Osório), Flávio de Carvalho e tantos
outros importantes contribuidores para a formação de um embrião de uma identidade brasileira
singular que é a chave psicológica para a saúde mental do Brasil, segundo, conforme consigo
ler, as imensas e revolucionárias experiências científicas e artísticas desenvolvidas pelos
autores estudados no livro O Antídoto do Mal.
Se toda essa informação praticamente inédita e totalmente desconhecida do público
brasileiro já não fosse suficiente para o excelente valor desta obra, Dionísio demonstra sua
atenção com o campo e traz também outro revolucionário contribuidor desta trama que foi o
artista Jean Dubuffet que criou o termo “Arte bruta” no contexto da primeira metade do século
XX na Europa, este termo serve de perfeito objeto de comparação com o conceito de “Arte
virgem” cunhado por Mario Pedrosa a partir de suas pesquisas dentro do Museu de Imagens
do Inconsciente junto, ombro a ombro, por décadas a fio, com Nise da Silveira. Acredito que o
livro-obra de Gustavo Henrique Dionisio é um pavimento para a história brasileira, mostrando
experiências de teor original e com impacto direto na saúde mental de nossos pacientes,
famílias e comunidades conforme atesta minha experiência clínica e artística nos últimos nove
anos trabalhando no Engenho de Dentro no Rio de Janeiro na mesma população e
comunidade de Nise da Silveira e também a minha própria, e também em Montreal no Canadá
e em Cuernavaca no México observando o aparecimento das “Imagens do Inconsciente” em
populações diversificadas, e como funciona esta abordagem, quantos “Artistas-Mestres” como
Adelina Gomes, Fernando Diniz, Emygdio de Barros, Carlos Pertuiss, Aurora Cursino, Albino
Braz, Karl Brendel, August Klotz, Franz Pohl, Mirian Rodrigues, Jaci Oliveira, Reginaldo Terra,
Nilo Sérgio Fernandes de Oliveira, Milton Freire, Gilson Saldanha e tantos outros tenho tido a
honra e o privilégio de acompanhar, e aprender a ser médico, artista e ser humano. Claro, pois
se o que todos os Mestres tão bem pesquisados e apresentados em “O Antídoto do Mal”
fizeram foi de fato verdadeiro, útil, científico para seus pacientes, é certo que aqueles que
observarem importantes princípios artecientíficos - bem descritos por Dionisio em seu livro-obra
- irão encontrar as mesmas imagens do inconsciente nos seus pacientes e clientes, esperando
os estímulos adequados, do que Nise chamou de “afeto catalizador” para revelarem-se e
curarem-se.
Acredito que o livro de Dionisio é uma bela síntese mostrando a força e a redundância,
reprodutibilidade, desses achados históricos, possivelmente fundamentando cientificamente
novas práticas de promoção da saúde mental através da cultura. Conforme minha experiência
documentada e publicada dos últimos 9 anos, apreendida e desenvolvida no próprio Engenho
de Dentro sob orientação clínica de Gladys Schincariol, Lula Wanderley e Gina Ferreira, atuais
guerreiros continuadores desta luta de “chapéu de couro e peixeira” como advertia Nise.
Também devo privilégio de orientação dos psiquiatras transculturais Jacques Arpin, Jaswant
Guzder e Laurence Kirmayer, meus atuais orientadores da Divisão de Psiquiatria Transcultural
da Universidade McGill em Montreal, Canadá.
O livro O Antídoto do Mal de Gustavo Henrique Dionisio é leitura obrigatória para
estudantes e profissionais de medicina e todas as áreas de saúde que amem o Brasil e
queiram conhecer esta história tão fortemente brasileira e de impacto internacional, que irá nos
fornecer recursos práticos para trabalharmos com nossos pacientes/famílias/comunidades de

2
forma mais humana, compreensiva do drama do sofrimento e da subjetividade, e desse modo,
mais eficiente e promotora de saúde mental. No meu entendimento a prioridade mais urgente
no mundo contemporâneo de doentios Faustos abundantes por aí. Tem muito Nazi se
passando por Nise, mas, o Mal tem Antídoto.

O Antídoto do Mal de Gustavo Henrique Dionisio publicado em 2012 pela Editora FIOCRUZ,
Rio de Janeiro, Brasil.
https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/antidoto-do-mal-critica-de-arte-e-loucura-na-modernidade-b
rasileira-o

12 de fevereiro de 2018.
Vitor Pordeus MD, fundador
Universidade Popular de Arte e Ciência,
Montreal, Canada
upac.academia.edu/vitorpordeus
Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, Brasil.
www.upac.com.br

Vous aimerez peut-être aussi