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Informativo 624-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA SUBJETIVA DAS SANÇÕES
Súmula 615-STJ.
LICITAÇÃO
Flexibilização da Lei 8.666/93 no “Minha Casa, Minha Vida”.
SERVIDORES PÚBLICOS
Termo inicial do adicional de insalubridade.
VPNI: incorporação pelo subsídio e incidência do teto.
DIREITO CIVIL
SEGURO
Súmula 610-STJ.
CONDOMÍNIO
Ação de cobrança de débitos condominiais proposta contra o arrendatário.
PODER FAMILIAR
Adoção à brasileira e realização de perícia para constatar situação de risco.
ALIMENTOS
Dedução das despesas pagas in natura.
DIVÓRCIO
Mesmo já havendo um acordo homologado sobre a partilha de bens, é possível que seja feito um novo ajuste
posteriormente.
DIREITO AMBIENTAL
FATO CONSUMADO
Súmula 613-STJ.
DIREITO PENAL
LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS
Delito do art. 54 da Lei 9.605/98 é formal.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Súmula 612-STJ.
IPTU
Súmula 614-STJ.
PIS / COFINS
É ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF 247/2002 e 404/2004.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA
Segurado que tenha desempenhado serviço rurícola antes da Lei nº 8.213/91.
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Desligamento de participante e fim do direito ao rateio do superávit.
DIREITO ADMINISTRATIVO
O STJ comunga também desse entendimento exigindo sempre que a gestão sucessora tenha tomado as
providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. Por isso, editou a súmula 615:
Súmula 615-STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos
fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as providências
cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos.
2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município ou pelos
outros Poderes que não o Executivo
Além do caso acima explicado, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções pode ser aplicado
também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma autarquia) descumpriu as regras
do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como também o próprio ente
(Estado/Município) nos cadastros restritivos. Nesse sentido:
(...) O postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem jurídica superem a
dimensão estritamente pessoal do infrator. Em virtude desse princípio, as limitações jurídicas que derivam
da inscrição, em cadastros públicos de inadimplentes, das autarquias, das empresas governamentais ou das
entidades paraestatais não podem atingir os Estados-membros, projetando, sobre estes, consequências
jurídicas desfavoráveis e gravosas, pois o inadimplemento obrigacional – por revelar-se unicamente
imputável aos entes menores integrantes da administração descentralizada – só a estes pode afetar.
Os Estados-membros e o Distrito Federal, em consequência, não podem sofrer limitações em sua esfera
jurídica, motivadas pelo só fato de se acharem administrativamente vinculadas a eles as autarquias, as
entidades paraestatais, as sociedades sujeitas a seu poder de controle e as empresas governamentais
alegadamente inadimplentes e que, por tal motivo, hajam sido incluídas em cadastros federais (CAUC,
SIAFI, CADIN, v.g.). (...)
STF. Plenário. ACO 1848 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 06/11/2014.
LICITAÇÃO
Flexibilização da Lei 8.666/93 no “Minha Casa, Minha Vida”
Importante!!!
As regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas no Programa Minha
Casa Minha Vida, por força do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 10.188/2001, desde que se
observem os princípios gerais da administração pública.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.687.381-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/04/2018 (Info 624).
Lei nº 10.188/2001
A Lei nº 10.188/2001 criou o Programa de Arrendamento Residencial.
O objetivo desse Programa foi o de garantir moradia à população de baixa renda, sob a forma de
arrendamento residencial com opção de compra.
A gestão do Programa cabe ao Ministério das Cidades e sua operacionalização à Caixa Econômica Federal (CEF).
Tendo em vista o caráter social do programa, o legislador decidiu que as regras de licitação poderiam ser
flexibilizadas. Confira:
Art. 4º (...)
Parágrafo único. As operações de aquisição, construção, recuperação, arrendamento e venda de
imóveis obedecerão aos critérios estabelecidos pela CEF, respeitados os princípios da legalidade,
finalidade, razoabilidade, moralidade administrativa, interesse público e eficiência, ficando
dispensada da observância das disposições específicas da lei geral de licitação.
Pergunta: esse art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 10.188/2001, que flexibiliza as regras de licitação, pode
ser aplicado também para o programa “Minha Casa, Minha Vida”?
SIM.
As regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 podem ser flexibilizadas no Programa Minha Casa Minha
Vida, por força do art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 10.188/2001, desde que se observem os princípios
gerais da administração pública.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.687.381-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/04/2018 (Info 624).
SERVIDORES PÚBLICOS
VPNI: incorporação pelo subsídio e incidência do teto
O direito à percepção de VPNI não impede a sua eventual absorção pelo subsídio e, do mesmo
modo, não inviabiliza a aplicação do teto constitucional, que inclui a vantagem de caráter
pessoal no cômputo da remuneração do servidor para observância do teto.
STJ. 1ª Turma. RMS 33.744-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/04/2018 (Info 624).
TETO REMUNERATÓRIO
A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou seja, o valor máximo que os agentes
públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns agentes públicos
recebessem os chamados “supersalários”, que são incompatíveis com o serviço público.
Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos
Estados e Municípios (chamados de subtetos).
O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que, atualmente, está em R$
33.763,00 (bruto).
Exeções:
Estão fora do teto as seguintes verbas:
a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º da CF/88, tais
como 13º salário, 1/3 constitucional de férias etc. (Fernanda Marinela);
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§ 19 do art. 40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos. O STJ entende que se o servidor
acumular dois cargos públicos nas hipóteses previstas na CF/88, a remuneração de cada cargo não
poderá ser superior ao teto constitucional, sendo possível, no entanto, que a soma dos dois ultrapasse
esse limite (STJ. 2ª T. AgRg no AgRg no RMS 33.100/DF, Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado
em 07/05/2013). Ex.: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber
seu subsídio integral como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o
teto seria considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele recebesse acima do
limite previsto no art. 37, XI da CF, se considerarmos seus ganhos globais.
Obs.: esse quadro de exceções é a posição atualmente majoritária, mas o STF ainda irá examinar e definir
o tema em um recurso extraordinário sob a sistemática da repercussão geral e que aguarda julgamento.
Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto?
Sim. A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.
Dessa forma, na prática, o teto passou a vigorar no Brasil a partir da EC nº 41/2003, que foi publicada em
31/12/2003. Isso porque, como vimos acima, essa Emenda afirmou expressamente que, enquanto não
houvesse lei regulamentando o inciso XI, o valor do teto seria a remuneração do Ministro do STF na época.
O primeiro valor do teto remuneratório foi de R$ 19.115,19, remuneração do Ministro do STF naquele
momento.
Obviamente, tal situação gerou reação das pessoas prejudicadas, que recorreram ao Poder Judiciário
questionando a constitucionalidade dessa previsão. O que decidiu o STF? Era possível aplicar
imediatamente o teto previsto na EC nº 41/2003, reduzindo a remuneração de quem ganhava acima
desse valor?
SIM. O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o teto fixado pela EC nº 41/2003 é de eficácia
imediata e todas as verbas de natureza remuneratória recebidas pelos servidores públicos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem se submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo
com regime legal anterior.
A aplicação imediata da EC nº 41/2003 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o
princípio da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido.
Em outras palavras, com a EC nº 41/2003, quem recebia acima do teto fixado teve a sua remuneração
reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima.
STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 2/10/2014 (Info 761).
SERVIDORES PÚBLICOS
Termo inicial do adicional de insalubridade
Para os servidores públicos federais, esse adicional veio a ser regulamentado pela Lei nº 8.112/90 que, em
seus arts. 68 e 70 preconizam:
Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualidade em locais insalubres ou em contato
permanente com substâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida, fazem jus a um adicional
sobre o vencimento do cargo efetivo.
Art. 70. Na concessão dos adicionais de atividades penosas, de insalubridade e de periculosidade,
serão observadas as situações estabelecidas em legislação específica.
Por sua vez, o art. 6º do Decreto nº 97.458/89, que regulamenta a concessão dos adicionais de
insalubridade e periculosidade, estabelece textualmente que a “execução do pagamento somente será
processada à vista de portaria de localização ou de exercício do servidor e de portaria de concessão do
adicional, bem assim de laudo pericial, cabendo à autoridade pagadora conferir a exatidão desses
documentos antes de autorizar o pagamento”.
Como se denota, o pagamento do adicional de insalubridade é feito conforme laudo pericial expedido por
autoridade competente, estando os servidores que fazem jus ao referido acréscimo sujeitos à atualização
permanente do respectivo laudo.
Dessa forma, o STJ tem reiteradamente decidido no sentido de que “o pagamento do adicional de
insalubridade está condicionado ao laudo que prova efetivamente as condições insalubres a que estão
submetidos os Servidores. Assim, não cabe seu pagamento pelo período que antecedeu a perícia e a
formalização do laudo comprobatório, devendo ser afastada a possibilidade de presumir insalubridade em
épocas passadas, emprestando-se efeitos retroativos a laudo pericial atual” (STJ. 2ª Turma. REsp
1.400.637/RS, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 24/11/2015).
§ 6º, da CF/88), penal (prevaricação – art. 319 do CP; condescendência criminosa – art. 320 do CP),
administrativa (art. 117, XV, Lei nº 8.112/90 - proceder de forma desidiosa) e também por ato de
improbidade (art. 11, II, Lei nº 8.429/92 - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício).
Lei nº 8.112/90
Isso que foi explicado acima vale para todas as esferas da administração pública (União, Estados/DF e
Municípios). No caso da União, contudo, é importante ressaltar que existe previsão expressa na Lei nº
8.112/90:
Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a promover
a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, assegurada
ao acusado ampla defesa.
Desse modo, a Lei nº 8.112/90 prevê dois instrumentos para a apuração das infrações administrativas
praticadas pelos servidores públicos federais:
a) a sindicância e
b) o processo administrativo disciplinar.
Como explica Ivan Barbosa Rigolin, existem situações que são tão graves e evidentes “que nem mesmo é
preciso a sindicância para apontar a necessidade de processo disciplinar. Nessa hipótese, deve ser logo de
início instaurado aquele processo, convocando-se todas as pessoas, bem como invocando-se todos os
meios de provas necessários à boa condução do trabalho e à elucidação do fato apontado.” (Comentários
ao Regime Único dos Servidores Públicos Civis. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 350).
Esse art. 144 era muito utilizado como tese de defesa para tentar invalidar os processos administrativos
iniciados com base em denúncia anônima. O STJ, contudo, afasta esse argumento e afirma que:
(...) 3. Conquanto a Lei n. 8.112/1990, no art. 144, preveja a formulação por escrito, com identificação e
endereço do denunciante, não há expressa determinação legal para que denúncias anônimas sejam ignoradas
e simplesmente arquivadas, uma vez que a Administração dispõe do poder-dever de autotutela. (...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1126789/RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/08/2013.
Em suma, mesmo com o art. 144 da Lei nº 8.112/90, admite-se a denúncia anônima.
CGU
Vale ressaltar que a CGU possui um enunciado administrativo semelhante ao entendimento do STJ:
Enunciado nº 3-CGU: A delação anônima é apta a deflagrar apuração preliminar no âmbito da
Administração Pública, devendo ser colhidos outros elementos que a comprovem.
DIREITO CIVIL
SEGURO
Súmula 610-STJ
Súmula 610-STJ: O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de
seguro de vida, ressalvado o direito do beneficiário à devolução do montante da reserva
técnica formada.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/04/2018, DJe 07/05/2018.
Apólice (ou bilhete de seguro): é um documento emitido pela seguradora no qual estão previstos os riscos
assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido e, quando for o caso, o
nome do segurado e o do beneficiário.
Prêmio: é a quantia paga pelo segurado para que o segurador assuma o risco. O prêmio deve ser pago
depois de recebida a apólice. O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva
em consideração os riscos cobertos.
Indenização: é o valor pago pela seguradora caso o risco se concretize (sinistro).
SEGURO E SUICÍDIO
Imagine a seguinte situação:
João fez um seguro de vida por meio do qual paga R$ 50 por mês (prêmio) e, se vier a falecer na vigência
do contrato, a seguradora terá que pagar R$ 500 mil reais (indenização) ao seu filho (beneficiário).
O prazo de vigência do contrato é de 5 anos.
Se João se matar, mesmo assim a seguradora terá que pagar a indenização ao beneficiário? No seguro
de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo obrigação de pagar a indenização?
Depende:
Se o suicídio ocorreu ANTES dos Se o suicídio ocorreu DEPOIS dos
dois primeiros anos do contrato: dois primeiros anos do contrato:
NÃO SIM
O beneficiário não terá direito ao capital Se o suicídio ocorrer depois dos dois primeiros
estipulado quando o segurado se suicida nos anos do contrato será devida a indenização, ainda
primeiros dois anos de vigência inicial do contrato que exista cláusula expressa em contrário.
ou nos dois primeiros anos depois de o contrato
ter sido reiniciado (recondução) depois de um Obs: é nula a cláusula contratual que exclua a
tempo suspenso (art. 798 do CC). indenização da seguradora em caso de suicídio
ocorrido depois dos dois primeiros anos do
Obs: o beneficiário não terá direito à indenização, contrato (art. 798, parágrafo único). Assim, se o
mas receberá o valor da reserva técnica já formada, suicídio ocorre depois dos dois primeiros anos, é
ou seja, terá direito à quantia que o segurado pagou devida a indenização ainda que exista cláusula
a título de prêmio para a seguradora. A seguradora expressa dizendo que a seguradora não deve
será obrigada a devolver ao beneficiário o montante indenizar.
da reserva técnica já formada mesmo que fique
provado que o segurado premeditou o suicídio.
Acontecendo o suicídio nos dois primeiros anos de contrato, o beneficiário não terá direito à indenização,
quer tenha sido o suicídio premeditado, quer tenha ocorrido sem premeditação.
Essa escolha do legislador teve como objetivo conferir maior segurança jurídica evitando discussões sobre
o elemento subjetivo, ou seja, a respeito da intenção do segurado.
Esse é o entendimento do STJ. 2ª Seção. AgRg nos EDcl nos EREsp 1076942⁄PR, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 27⁄5⁄2015.
Enunciado 187
Cuidado com o enunciado 187 da Jornada de Direito Civil, que diz o seguinte:
187 – Art. 798: No contrato de seguro de vida, presume-se, de forma relativa, ser premeditado o suicídio
cometido nos dois primeiros anos de vigência da cobertura, ressalvado ao beneficiário o ônus de
demonstrar a ocorrência do chamado "suicídio involuntário”
O referido enunciado está em sentido contrário à jurisprudência do STJ e NÃO deve ser adotado em provas
de concurso. Risque ele dos seus materiais de estudo para não se confundir.
Reserva técnica
Vimos acima que, se o suicídio ocorrer nos dois primeiros anos, o beneficiário não terá direito à
indenização, mas receberá o valor da reserva técnica já formada, ou seja, ele terá direito de receber a
quantia que o segurado pagou a título de prêmio para a seguradora. Isso está previsto na parte final do
art. 798 c/c art. 797, parágrafo único do CC.
Importante ressaltar que a seguradora será obrigada a devolver ao beneficiário o montante da reserva
técnica já formada mesmo que fique provado que o segurado premeditou o suicídio.
O STJ, no dia 25/04/2018, ao aprovar a Súmula 610, decidiu cancelar a Súmula 61.
A Súmula 105 do STF, apesar de formalmente não estar cancelada, encontra-se superada.
As Súmulas 105-STF e 61-STJ foram aprovadas ainda sob a égide do CC/1916. Com a redação do art. 798
do CC/2002, tais súmulas passaram a estar em confronto com o ordenamento jurídico. Isso porque,
conforme já explicado, o critério adotado pelo Código Civil atual é meramente temporal (menos ou mais
de 2 anos). O CC/2002 abandonou o critério da premeditação. A premeditação do suicídio não serve para
nada e não deve nem sequer ser trazida para a discussão.
Alguns de vocês podem estar pensando: mas como o entendimento do STJ vai fazer com que uma súmula
do STF deixe de ser aplicada (torne-se superada)?
É simples. A Súmula 105 foi editada pelo STF em 13/12/1963. Nesta época, não existia STJ (que só foi
criado com a CF/88). Isso significa que a tarefa de interpretar a legislação federal (interpretar o Código
Civil, por exemplo) cabia ao STF. Com a CF/88, a competência para interpretar a legislação
infraconstitucional passou para o STJ. Logo, a competência para definir esse tema (interpretar se a regra
do Código Civil sobre suicídio e contrato de seguro) é atualmente do STJ, considerando que não há questão
constitucional envolvida.
Resumindo:
No seguro de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo obrigação de pagar a
indenização?
• Se o suicídio ocorreu ANTES dos dois primeiros anos do contrato: NÃO.
O beneficiário não terá direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos
de vigência inicial do contrato ou nos dois primeiros anos depois de o contrato ter sido reiniciado
(recondução) depois de um tempo suspenso (art. 798 do CC).
Obs: o beneficiário não terá direito à indenização, mas receberá o valor da reserva técnica já formada, ou
seja, terá direito à quantia que o segurado pagou a título de prêmio para a seguradora. A seguradora será
obrigada a devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada mesmo que fique provado
que o segurado premeditou o suicídio.
Principal precedente que deu origem à súmula: STJ. 2ª Seção. REsp 1.334.005-GO, Rel. originário Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 8/4/2015 (Info 564).
Está cancelada a Súmula 61 do STJ e encontram-se superados a Súmula 105 do STF e o Enunciado 187 da
Jornada de Direito Civil.
CONDOMÍNIO
Ação de cobrança de débitos condominiais proposta contra o arrendatário
A arrendatária de um imóvel pode figurar no polo passivo de ação de cobrança de débitos condominiais?
SIM.
A ação de cobrança de débitos condominiais pode ser proposta contra o arrendatário do imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.704.498-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018 (Info 624).
PODER FAMILIAR
Adoção à brasileira e realização de perícia para constatar situação de risco
Para que haja a decretação da perda do poder familiar da mãe biológica em razão da suposta
entrega da filha para adoção irregular (“adoção à brasileira”), é indispensável a realização do
estudo social e avaliação psicológica das partes litigantes.
Por envolver interesse de criança, a questão deve ser solucionada com observância dos
princípios da proteção integral e do melhor interesse dela e do adolescente, previstos na CF e
no ECA.
Para constatação da “adoção à brasileira”, em princípio, o estudo psicossocial da criança, do
pai registral e da mãe biológica não se mostra necessário. Contudo, como o reconhecimento
de sua ocorrência (“adoção à brasileira”) foi fator preponderante para a destituição do poder
familiar, a realização da perícia se mostra imprescindível para aferição da presença de causa
para a excepcional medida de destituição e para constatação de existência de uma situação de
risco para a infante, caracterizando cerceamento de defesa o seu indeferimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.674.207-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 17/04/2018 (Info 624).
ALIMENTOS
Dedução das despesas pagas in natura
Importante!!!
É possível, em sede de execução de alimentos, a dedução na pensão alimentícia fixada
exclusivamente em pecúnia das despesas pagas "in natura", com o consentimento do credor,
referentes a aluguel, condomínio e IPTU do imóvel onde residia o exequente.
Vale ressaltar que a regra geral é a incompensabilidade da dívida alimentar (art. 1.707 do CC)
e eventual compensação deve ser analisada caso a caso, devendo-se examinar se houve o
consentimento, ainda que tácito, do credor, e se o pagamento in natura foi destinado,
efetivamente, ao atendimento de necessidade essencial do alimentado e não se configurou
como mera liberalidade do alimentante.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.501.992-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/03/2018 (Info 624).
Diante disso, pediu para compensar (deduzir) esse valor que ele pagou in natura da quantia que ele deveria
pagar em espécie.
O exequente refutou o pedido afirmando que o executado pagou o aluguel porque quis e que essa mera
liberalidade não pode influenciar na dívida. O exequente invocou, ainda, o art. 1.707 do Código Civil:
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo
o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.
Neste cenário, deve ser relativizada a regra da incompensabilidade da verba alimentar para reconhecer a
quitação parcial do débito exequendo.
Ainda que não adimplida integralmente a parcela mensal fixada em pecúnia, o pagamento in natura
efetivamente foi destinado à subsistência do filho, mostrando-se razoável o seu abatimento no cálculo da
dívida, sob pena de obrigar o executado ao duplo pagamento da pensão, gerando enriquecimento ilícito
do credor.
Possibilidade de compensação deve ser analisada de acordo com as peculiaridades do caso concreto
O STJ enfatizou que eventual compensação deve ser analisada caso a caso, pois a regra continua sendo a
incompensabilidade da dívida alimentar.
Deve-se examinar se houve o consentimento, ainda que tácito, do credor, e se o pagamento in natura
realizado foi destinado, efetivamente, ao atendimento de necessidade essencial do alimentado e não se
configurou como mera liberalidade do alimentante.
DIVÓRCIO
Mesmo já havendo um acordo homologado sobre a partilha de bens,
é possível que seja feito um novo ajuste posteriormente
A coisa julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes maiores e
capazes, versando sobre a partilha de bens imóveis privados e disponíveis e que fora
homologado judicialmente por ocasião de divórcio consensual, não impede que haja um novo
acordo sobre o destino dos referidos bens.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.623.475-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018 (Info 624).
do mesmo modo que podem, por exemplo, dar início à fase de cumprimento da decisão judicial ou à
execução do título extrajudicial.
Diante desse cenário, não se afigura correto indeferir o pedido de homologação de acordo que versa sobre
o novo modelo de partilha de bens que as partes entenderam ser mais vantajoso e interessante para elas
próprias, ao fundamento de que haveria violação à coisa julgada, que se trataria de mero arrependimento
ou, ainda, que a modificação da avença estaria condicionada à propositura de ação anulatória, com
demonstração de existência de erro ou de vício de consentimento.
Em suma:
A coisa julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes maiores e capazes, versando
sobre a partilha de bens imóveis privados e disponíveis e que fora homologado judicialmente por ocasião
de divórcio consensual, não impede que haja um novo acordo sobre o destino dos referidos bens.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.623.475-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018 (Info 624).
ECA
PODER FAMILIAR
Adoção à brasileira e realização de perícia para constatar situação de risco
Para que haja a decretação da perda do poder familiar da mãe biológica em razão da suposta
entrega da filha para adoção irregular (“adoção à brasileira”), é indispensável a realização do
estudo social e avaliação psicológica das partes litigantes.
Por envolver interesse de criança, a questão deve ser solucionada com observância dos
princípios da proteção integral e do melhor interesse dela e do adolescente, previstos na CF e
no ECA.
Para constatação da “adoção à brasileira”, em princípio, o estudo psicossocial da criança, do
pai registral e da mãe biológica não se mostra necessário. Contudo, como o reconhecimento
de sua ocorrência (“adoção à brasileira”) foi fator preponderante para a destituição do poder
familiar, a realização da perícia se mostra imprescindível para aferição da presença de causa
para a excepcional medida de destituição e para constatação de existência de uma situação de
risco para a infante, caracterizando cerceamento de defesa o seu indeferimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.674.207-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 17/04/2018 (Info 624).
Vale ressaltar, entretanto, que, na prática, dificilmente alguém é condenado ou recebe pena por conta
desse delito. Isso porque, no caso concreto, poderá o juiz reconhecer a existência de erro de proibição ou,
então, aplicar o perdão judicial previsto no parágrafo único do art. 242 do CP.
É preciso, no entanto, que seja investigada a conduta porque, embora a “adoção à brasileira”, na maioria
das vezes, não represente torpeza de quem a pratica, pode ela ter sido utilizada para a consecução de
outros ilícitos, como o tráfico internacional de crianças.
O recurso dos requeridos deve ser provido? O estudo psicossocial era necessário neste caso?
SIM.
A destituição do poder familiar da mãe biológica e do pai registral de Júlia se deu em razão da ocorrência
da denominada “adoção à brasileira”, pois não ficou comprovado que a criança seria fruto da relação de
Francisca com Pedro.
Nesse caso, era indispensável a realização de estudo psicossocial e de avaliação psicológica dos envolvidos
na lide.
O estudo psicossocial é peça informativa extremamente útil ao juiz para aferir a possível existência de uma
situação de risco para o menor e balizar eventual pedido de aplicação de alguma medida protetiva à
criança ou ao adolescente.
Não se pode retirar a criança do local da casa da família onde ela convive e levá-la a um abrigo institucional
sem que exista prova de que ela estivesse em situação de risco, sendo esta uma medida drástica e
excepcional.
Por se tratar de medida extrema, a perda do poder familiar somente é cabível após esgotadas todas as
possibilidades de manutenção da criança no seio da família natural (art. 19 do ECA), pressupondo a
existência de um procedimento contraditório, no qual deve ser apurado se a medida efetivamente atende
o melhor interesse da criança ou do adolescente.
Por cautela e prudência, antes da análise meritória pelo juiz da causa, deveria ter sido realizado um estudo
psicossocial nos requeridos e na criança, de modo a verificar a atual situação em que ela se encontrava,
se efetivamente estava em situação de perigo e, principalmente a efetiva possibilidade, apesar dos indícios
de prática da “adoção à brasileira”, de se preservarem os deveres inerentes ao poder familiar.
Cabe ressaltar que a comprovação da prática de “adoção à brasileira” tem por consequência, em regra, a
possibilidade de condenação penal e a nulidade do registro civil do adotado, mas não enseja a destituição
do poder familiar por parte da mãe biológica que também figura no registro.
Em suma:
Para que haja a decretação da perda do poder familiar da mãe biológica em razão da suposta entrega
da filha para adoção irregular (“adoção à brasileira”), é indispensável a realização do estudo social e
avaliação psicológica das partes litigantes.
Por envolver interesse de criança, a questão deve ser solucionada com observância dos princípios da
proteção integral e do melhor interesse dela e do adolescente, previstos na CF e no ECA.
Para constatação da “adoção à brasileira”, em princípio, o estudo psicossocial da criança, do pai registral
e da mãe biológica não se mostra necessário. Contudo, como o reconhecimento de sua ocorrência
(“adoção à brasileira”) foi fator preponderante para a destituição do poder familiar, a realização da
perícia se mostra imprescindível para aferição da presença de causa para a excepcional medida de
destituição e para constatação de existência de uma situação de risco para a infante, caracterizando
cerceamento de defesa o seu indeferimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1674207/PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 17/04/2018.
DIREITO AMBIENTAL
FATO CONSUMADO
Súmula 613-STJ
Súmula 613-STJ: Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito
Ambiental.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/05/2018, DJe 14/05/2018.
Assim, de acordo com essa posição, se uma decisão judicial autorizou determinada situação jurídica e,
após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada, ainda assim não deve ser desconstituída,
para que não haja insegurança jurídica.
Em suma, trata-se de uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo.
Haverá a demolição mesmo que a construção irregular tenha sido feita com autorização dos órgãos
ambientais?
SIM. Constatado que houve edificação irregular em área de preservação permanente, o fato de ter sido
concedido licenciamento ambiental, por si só, não afasta a responsabilidade pela reparação do dano
causado ao meio ambiente, mormente quando reconhecida a ilegalidade do aludido ato administrativo
(STJ. 2ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 359.140/MS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em
07/12/2017).
A licença, espécie de ato administrativo autorizativo, está submetida ao regime jurídico administrativo.
Isso significa que se esta licença foi irregular, deve ser declarada a sua nulidade, o que significa, por sua
vez, que não poderão ser produzidos efeitos válidos nem se poderá aceitar que haja a consolidação de
qualquer direito adquirido. Vale dizer, declarada a sua nulidade, a situação fática deve retornar ao estado
ex ante, sem prejuízo de eventual reparação civil do lesado caso presentes os pressupostos necessários
para tal. Essa circunstância se torna ainda mais acentuada tendo em vista o bem jurídico tutelado no caso
em tela, que é o meio ambiente, e a obrigação assumida pelo Estado brasileiro em diversos compromissos
internacionais de garantir o uso sustentável dos recursos naturais em favor das presentes e futuras
gerações (STJ. 2ª Turma. REsp 1362456/MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 28/06/2013).
O STJ possui precedentes negando a aplicação da teoria mesmo em casos envolvendo residências
familiares localizadas em área de proteção ambiental
(...) 1. Os impetrantes buscam o reconhecimento da ilegalidade no procedimento de desocupação
perpetrado pelo Secretário de Administração de Parques do Distrito Federal, objetivando que a autoridade
coatora abstenha-se de praticar qualquer ato tendente a remover os moradores do Parque das Copaíbas.
(...)
6. Não prospera também a alegação de aplicação da teoria do fato consumado, em razão de os moradores
já ocuparem a área, com tolerância do Estado por anos, uma vez que tratando-se de construção irregular
em Área de Proteção Ambiental-APA, a situação não se consolida no tempo. Isso porque, a aceitação da
teoria equivaleria a perpetuar o suposto direito de poluir, de degradar, indo de encontro ao postulado do
meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo essencial à qualidade sadia de vida. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 28.220/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/04/2017.
Importante!!!
O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de
medicamentos nas demandas de saúde propostas contra os entes federativos, mesmo quando
se tratar de feitos contendo beneficiários individualizados, porque se refere a direitos
individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.682.836-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/04/2018 (recurso
repetitivo) (Info 624).
Delimitação da matéria
O presente julgado não trata sobre a possibilidade de o Ministério Público propor demandas envolvendo
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, até porque inexiste qualquer dúvida da sua
legitimidade nestes casos, sendo tema pacífico.
De igual forma, este julgado não trata sobre a legitimidade do Ministério Público para ajuizar ações em
favor de interesses de menores, incapazes e de idosos em situação de vulnerabilidade. Em tais hipóteses,
a legitimidade do órgão ministerial decorre expressamente da lei (art. 201, VIII, da Lei nº 8.069/90 e art.
74, II e III, da Lei nº 10.741/2003).
O presente julgado discute a legitimidade do Ministério Público para ingressar com demandas de saúde,
contra os entes federativos, em favor de beneficiários individuais.
Em outras palavras, o que se discute aqui é o seguinte: o Ministério Público poderia ajuizar uma ação
pedindo tratamento de saúde ou a entrega de medicamento em favor de uma só pessoa?
A resposta é SIM.
O pedido para tratamento médico ou para a entrega de medicamento em favor de uma pessoa é uma
demanda que envolve direito individual INDISPONÍVEL?
SIM. O direito à saúde é um direito indisponível. Isso porque está relacionado com o próprio direito à vida.
O direito à saúde foi previsto, pela Constituição Federal de 1988, como direito fundamental do cidadão,
corolário do direito à vida, bem maior do ser humano.
A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º, caput, e 196 da CF/88, consagrou o direito à saúde
como consequência indissociável do direito à vida, assegurado a todas as pessoas (STF. 2ª Turma. ARE
685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 25/03/2013).
Nesse contexto, conclui-se o caráter indisponível do direito à saúde, por estar diretamente associado ao
direito à vida.
Assim, o Ministério Público detém legitimidade ad causam para pleitear tratamento de saúde ou
fornecimento de medicamento a beneficiários individualizados, por força do disposto no art. 1º da Lei
8.625/93, que incumbiu ao Parquet a defesa dos direitos individuais indisponíveis.
O MP, nestes casos, não estaria “pegando o lugar” da advocacia privada e da Defensoria Pública?
NÃO. Conforme já decidiu o STF:
(...) A Constituição do Brasil, em seu artigo 127, confere expressamente ao Ministério Público poderes
para agir em defesa de interesses sociais e individuais indisponíveis, como no caso de garantir o
fornecimento de medicamentos a hipossuficiente.
2. Não há que se falar em usurpação de competência da defensoria pública ou da advocacia privada. (...)
STF. 2ª Turma. RE 554088 AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 03/06/2008.
Em suma:
O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos nas
demandas de saúde propostas contra os entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo
beneficiários individualizados, porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art. 1º
da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.682.836-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo)
(Info 624).
DIREITO PENAL
Importante!!!
Mudança de entendimento!
O delito previsto na primeira parte do art. 54 da Lei nº 9.605/98 possui natureza formal, sendo
suficiente a potencialidade de dano à saúde humana para configuração da conduta delitiva,
não se exigindo, portanto, a realização de perícia.
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar
em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição
significativa da flora. Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.417.279-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/04/2018 (Info 624).
SUJEITOS DO PROCESSO
Nomeação judicial de Núcleo de Prática Jurídica e dispensa de procuração
Importante!!!
A nomeação judicial de Núcleo de Prática Jurídica para patrocinar a defesa de réu dispensa a
juntada de procuração.
STJ. 3ª Seção. EAREsp 798.496-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/04/2018 (Info 624).
Guardadas as devidas proporções, apenas para que você entenda o sentido geral, os núcleos de prática
jurídica prestam um serviço assemelhado ao da Defensoria Pública. Vale ressaltar, contudo, que o modelo
oferecido pela Defensoria Pública é o ideal para o assistido porque se trata de um serviço mais organizado,
estruturado e com garantias institucionais que os núcleos infelizmente não possuem.
Apenas a título de curiosidade, veja o que diz a Portaria nº 1.886/94-MEC, que trata, entre outros temas,
sobre os núcleos de prática jurídica:
Art. 10. O estágio de prática jurídica, supervisionado pela instituição de ensino superior, será
obrigatório e integrante do currículo pleno, em um total de 300 horas de atividades práticas
simuladas e reais desenvolvidas pelo aluno sob controle e orientação do núcleo correspondente.
A alegação do MP está correta? Exige-se que a parte outorgue procuração para que o Núcleo de Prática
Jurídica atue em favor do réu no processo criminal?
SIM. Em regra, o advogado integrante do Núcleo de Prática Jurídica não está dispensado de apresentar
procuração, por ausência de previsão legal.
Neste ponto, não há equiparação com a Defensoria Pública.
A Defensoria Pública, por força de lei expressa, pode atuar na defesa de seus assistidos mesmo sem
procuração.
No caso dos Núcleos de Prática Jurídica, embora prestem relevantes serviços, não existe previsão legal
semelhante. Por essa razão, seus poderes de representação em juízo dependem necessariamente de
procuração.
O Núcleo de Prática Jurídica, por não se tratar de entidade de direito público, precisa apresentar
instrumento de mandato para comprovar que o réu hipossuficiente escolheu seu defensor, em
consonância com o princípio da confiança.
É possível que a procuração seja outorgada para o Núcleo de Prática Jurídica? Ex: em vez de outorgar a
Procuração para o Professor advogado, João poderia conferir o mandato para o Núcleo de Prática Jurídica?
NÃO. A procuração não pode ser outorgada para o Núcleo de Prática Jurídica.
O Núcleo de Prática Jurídica não possui capacidade para receber nomeação ou mandato. É necessário que,
na procuração, seja especificado o advogado a quem são atribuídos os poderes de representação (STJ. 6ª
Turma. AgRg no AREsp 11.931/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 19/03/2013).
E se fosse uma nomeação judicial, haveria necessidade de procuração? Ex: o juiz nomeou o advogado
Rui Salgado, Professor do Núcleo de Prática Jurídica, para fazer a defesa do réu no plenário do Tribunal
do Júri. Além desta nomeação, será necessário que o réu outorgue uma procuração?
NÃO.
A nomeação judicial de Núcleo de Prática Jurídica para patrocinar a defesa de réu dispensa a juntada de
procuração.
Isso porque, neste caso, não há uma atuação provocada pelo assistido, mas sim o exercício de um munus
público por determinação judicial.
STJ. 3ª Seção. EAREsp 798.496-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/04/2018 (Info 624).
Além disso, não se mostra razoável a exigência de procuração porque na maioria das vezes, em caso de
nomeação judicial, não há um contato prévio do advogado com o acusado. A exigência de procuração
acarretaria gravosos prejuízos à defesa da população necessitada, inviabilizando o acesso à Justiça.
Em suma:
O advogado integrante de Núcleo de Prática Jurídica, para representar os interesses do réu no processo
penal, precisará de:
• procuração outorgada pelo réu; ou
• ato de nomeação judicial.
O advogado integrante de Núcleo de Prática Jurídica, no que tange aos poderes de representação em juízo,
não está dispensado de apresentar procuração ou ato de nomeação apud acta, haja vista que somente é
equiparado à Defensoria Pública quanto à intimação pessoal dos atos processuais.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1199054/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 07/06/2018.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Súmula 612-STJ
Imunidade tributária
Imunidade tributária consiste na determinação feita pela Constituição Federal de que certas atividades,
rendas, bens ou pessoas não poderão sofrer a incidência de tributos.
Trata-se de uma dispensa constitucional de tributo.
A imunidade é uma limitação ao poder de tributar, sendo sempre prevista na própria CF.
Obs: apesar de a redação do parágrafo falar em “isentas”, a doutrina afirma que se trata, efetivamente,
de uma hipótese de imunidade. Não é um caso de “isenção”.
O § 7º do art. 195 da CF/88 traz dois requisitos para o gozo desta imunidade:
1) que se trate de pessoa jurídica que desempenhe atividades beneficentes de assistência social.
Obs: a assistência social é tratada no art. 203 da CF/88. O STF, contudo, confere um sentido mais amplo e
afirma que os objetivos da assistência social elencados nos incisos do art. 203 podem ser conseguidos
também por meio de serviços de saúde e educação. Assim, se a entidade prestar serviços de saúde ou
educação, também poderá, em tese, ser classificada como de “assistência social”.
Isso gera alguma confusão porque aprendemos, logo no início da faculdade, que, quando a Constituição
Federal fala apenas em "lei", sem especificar mais nada, ela está se referindo à lei ordinária. Ex: art. 5º,
XXXII ("o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor"). Trata-se do Código de Defesa do
Consumidor, uma lei ordinária (Lei nº 8.078/90).
Também aprendemos que a Constituição, quando quer exigir lei complementar, o faz expressamente. Ex:
art. 18, § 2º ("Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou
reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.").
O § 7º do art. 195, contudo, deve ser interpretado em conjunto com o art. 146, II. Assim, a Constituição exigiu
sim lei complementar, mas não diretamente no § 7º do art. 195 e sim na previsão geral do art. 146, II.
Além disso, o STF afirmou que a imunidade de contribuições sociais serve não apenas a propósitos fiscais,
mas também para a realização dos objetivos fundamentais da República, como a construção de uma
sociedade solidária e voltada para a erradicação da pobreza. Logo, esta espécie de imunidade não pode ficar
à mercê da vontade transitória de governos. As regras para gozar dessa imunidade devem ser respeitadas
por todos os governos, não sendo, portanto, correto que o regime jurídico das entidades beneficentes fique
sujeito a flutuações legislativas constantes, muitas vezes influenciadas pela vontade de arrecadar. Assim, um
tema tão sensível como esse não pode ser tratado por lei ordinária ou medida provisória.
Assim, diante da relevância das imunidades de contribuições sociais para a concretização de uma política de
Estado voltada à promoção do mínimo existencial, deve incidir nesse caso a reserva legal qualificada prevista
no art. 146, II, da CF/88 (lei complementar).
Existe alguma lei que preveja os requisitos que deverão ser atendidos pela entidade para gozar da
imunidade de que trata o § 7º do art. 195 da CF/88?
SIM. Os requisitos legais exigidos na parte final do § 7º, enquanto não editada nova lei complementar
sobre a matéria, são somente aqueles previstos no art. 14 do CTN.
Assim, para gozarem da imunidade, as entidades devem obedecer às seguintes condições:
a) não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título;
b) aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais;
c) manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de
assegurar sua exatidão.
Observação:
Este entendimento acima explicado (RE 566622) vale também para a imunidade prevista no art. 150, VI,
"c", da CF/88:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
VI - instituir impostos sobre:
(...)
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades
sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
Assim, a lei de que trata o art. 150, VI, "c", da CF/88 é uma lei complementar (atualmente, é o art. 14 do CTN).
No mesmo sentido:
Se a instituição de assistência social conseguiu, por meio de uma perícia contábil, provar que atende os
requisitos do art. 150, VI, “c”, da CF/88 e do art. 14, do CTN, ela terá direito à imunidade tributária, mesmo
que não apresente certificado de entidade de assistência social, documento emitido pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Não é possível condicionar a concessão de imunidade tributária prevista para as instituições de educação
e de assistência social sem fins lucrativos à apresentação de certificado de entidade de assistência social
na hipótese em que prova pericial tenha demonstrado o preenchimento dos requisitos para a incidência
da norma imunizante.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 187.172-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/2/2014
(Info 535).
IPTU
Súmula 614-STJ
Súmula 614-STJ: O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-
tributária de IPTU e de taxas referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses
tributos.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/05/2018, DJe 14/05/2018.
IPTU
O IPTU (Imposto sobre propriedade predial e territorial urbana) é um tributo de competência dos
Municípios, estando previsto no art. 156, I da CF/88:
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
I – propriedade predial e territorial urbana;
O fato gerador do IPTU é a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel localizado na zona urbana
do Município.
O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas
referentes ao imóvel alugado (1ª parte da súmula)
Imagine a seguinte situação hipotética:
João (proprietário) alugou seu imóvel para Pedro (inquilino).
No contrato, havia uma cláusula prevendo que a obrigação pelo pagamento do IPTU do imóvel competia
a Pedro (locatário).
Houve um aumento do valor do IPTU por meio de decreto do Prefeito.
Diante disso, Pedro ajuizou ação contra o Município alegando que este aumento violou o princípio da
legalidade tributária e pedindo a volta do antigo valor.
Esta ação terá êxito?
NÃO. Pedro não tem legitimidade ativa para a causa, uma vez que ele não é o proprietário do imóvel.
O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas
referentes ao imóvel alugado (1ª parte da súmula).
O locatário não possui legitimidade ativa para pedir a repetição de indébito do IPTU e das taxas
referentes ao imóvel alugado (2ª parte da súmula)
Exemplo: a empresa JM Ltda. é locatária de um imóvel. Pelo contrato, a obrigação de pagar o IPTU é dela.
Durante três anos, a JM Ltda. pagou ao Município o IPTU.
Ocorre que a lei municipal que fundamentava a cobrança do imposto foi declarada inconstitucional pelo
Tribunal de Justiça.
Com base nisso, a JM Ltda. ajuizou ação ordinária contra o Município pedindo a restituição dos valores
indevidamente recolhidos a título de IPTU nos anos de 2012, 2013 e 2014 em virtude da
inconstitucionalidade da lei.
Esta ação não será conhecida, considerando que a JM Ltda. é mera locatária.
O locatário não possui legitimidade ativa para pedir a repetição de indébito do IPTU e das taxas referentes
ao imóvel alugado (2ª parte da súmula)
Mas, nos dois casos, o contrato de locação diz que a responsabilidade pelo pagamento do IPTU e das
taxas é do locatário... O locatário é quem está pagando os tributos...
Isso não importa. O Fisco não tem nada a ver com isso, ele não participou desse ajuste. Um contrato entre
particulares não tem a força de interferir na relação jurídico-tributária com o Fisco. É o que prevê o art.
123 do CTN:
Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à
responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para
modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.
Em outras palavras, não se pode invocar contra o ente público o contrato firmado entre locador e
locatário, sendo o proprietário do imóvel o sujeito passivo da obrigação tributária.
Diante disso, alguns leitores podem estar pensando: o locatário detém a posse do imóvel. Logo, ele
também poderia ser considerado contribuinte do IPTU. Sendo contribuinte do imposto, teria legitimidade
para ajuizar ações questionando esse tributo.
Essa interpretação, contudo, não é acolhida pela jurisprudência.
O STJ, ao interpretar o art. 34 do CTN, afirma que a posse tributária é a que exterioriza o domínio, não
aquela exercida pelo locatário ou pelo comodatário.
Assim, o possuidor até pode ser considerado contribuinte do IPTU, mas, para isso, é necessário que ele
seja um possuidor que tenha animus domini.
Desse modo, contribuinte do IPTU, na visão do STJ, é:
• o proprietário do imóvel;
• o titular do domínio útil do imóvel; ou
• o possuidor do imóvel, a qualquer título, desde que tenha animus domini.
Posse animus domini (com ânimo de dono) é aquela posse demonstrada por quem se considera o dono
do imóvel. É a posse que gera direito à usucapião. Mesmo que o contrato de locação dure 20 anos e que
o locatário permaneça todo esse tempo no imóvel, ele não terá direito de adquiri-lo por usucapião. Isso
porque a sua posse não tem animus domini, ou seja, ele sabe que não é o proprietário do imóvel e que só
está na posse em virtude do contrato.
Logo, a súmula 614 do STJ não é incompatível com o art. 34 do CTN.
Seria possível que o locatário pedisse a repetição de indébito do IPTU com base no art. 166 do CTN,
alegando que foi ele quem sofreu o encargo econômico do tributo?
NÃO. O art. 166 do CTN prevê o seguinte:
Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do respectivo
encargo financeiro somente será feita a quem prove haver assumido o referido encargo, ou, no
caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a recebê-la.
Ocorre que este art. 166 do CTN é aplicado apenas para tributos indiretos, não sendo regra válida para os
tributos diretos, como é o caso do IPTU e das taxas que incidem sobre o imóvel. Nesse sentido:
O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento de que o art. 166 do CTN não tem aplicabilidade aos
tributos diretos, como via de regra, são o IPTU e as taxas incidentes sobre o imóvel, vez que referidas
exações não podem ser enquadradas no rol de tributos que comportem, por sua natureza, transferência
do referido encargo.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1294961/RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 12/04/2016.
PIS / COFINS
É ilegal a disciplina de creditamento prevista nas
Instruções Normativas da SRF 247/2002 e 404/2004
(Julgado que só interessa para quem estuda Direito Tributário
de forma muito profunda para a área federal)
É ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns. 247/2002
e 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de não-cumulatividade da
contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido nas Leis ns. 10.637/2002 e 10.833/2003 e
o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou
seja, considerando-se a imprescindibilidade ou a importância de determinado item - bem ou
serviço - para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo Contribuinte.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.221.170-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 22/02/2018
(recurso repetitivo) (Info 624).
Desse modo, a legislação autoriza que a pessoa jurídica abata do valor que irá pagar de PIS e COFINS
algumas despesas que ela realizou com determinadas atividades consideradas essenciais para a sua
atividade empresarial. Isso é chamado de “direito de creditamento de PIS e COFINS”.
Uma dessas despesas que podem ser abatidas são os bens e serviços “utilizados como insumo”.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA
Segurado que tenha desempenhado serviço rurícola antes da Lei nº 8.213/91
no respectivo órgão público empregador, para contagem recíproca no regime estatutário se,
com a certidão de tempo de serviço rural, acostar o comprovante de pagamento das
respectivas contribuições previdenciárias, na forma da indenização calculada conforme o
dispositivo do art. 96, IV, da Lei nº 8.213/91.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.682.678-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/04/2018 (recurso
repetitivo) (Info 624).
O art. 55, § 2º, da Lei nº 8.213/91, que dispensa o pagamento de contribuições previdenciárias para fins
de comprovação do tempo de serviço rural anterior à vigência da Lei nº 8.213/91, estende-se ao caso em
que o beneficiário pretende utilizar o tempo de serviço para contagem recíproca no regime estatutário,
ou está restrito ao regime geral de previdência?
Exemplo: João foi trabalhador rural de 1980 a 1990. Nesse período ele não recolheu contribuições
previdenciárias para o regime geral de previdência social (RGPS). Em 1995, João foi aprovado em um
concurso público e passou a ocupar cargo público, passando a ficar vinculado ao regime próprio de
previdência social (RPPS).
João poderá usar o tempo de serviço em que trabalhou como rural para somar com o tempo de
contribuição no regime próprio de previdência social? Ele poderá “aproveitar” esse tempo de serviço
rural quando for se aposentar como servidor público?
O segurado que tenha provado o desempenho de serviço rurícola em período anterior à vigência da Lei nº
8.213/91 terá direito de obter uma certidão do INSS para ser averbada nos seus assentamentos do órgão
público onde exerce suas funções.
Verificado o tempo rural, não pode o INSS abster-se de expedir a certidão de tempo de serviço.
Uma coisa é ter direito à certidão, a qual, simplesmente, atesta a ocorrência de um fato (o segurado
trabalhou como rural antes da Lei nº 8.213/91). Outra coisa, inteiramente diversa, é se esse tempo rural
poderá ser utilizado para fins da aposentadoria no RPPS.
O STJ decidiu que somente terá direito de computar esse tempo rural para contagem recíproca no regime
estatutário se o segurado recolher as contribuições previdenciárias relativas ao período em que trabalhou
como rural e que não haviam sido pagas. Isso por força do art. 96, IV, da Lei nº 8.213/91:
Art. 96. O tempo de contribuição ou de serviço de que trata esta Seção será contado de acordo
com a legislação pertinente, observadas as normas seguintes:
(...)
IV - o tempo de serviço anterior ou posterior à obrigatoriedade de filiação à Previdência Social só
será contado mediante indenização da contribuição correspondente ao período respectivo, com
acréscimo de juros moratórios de zero vírgula cinco por cento ao mês, capitalizados anualmente,
e multa de dez por cento.
Assim, para a contagem recíproca mediante a junção do período prestado na administração pública com
a atividade rural exercida sem pagamento de contribuição antes da Lei nº 8.213/91, faz-se necessária a
indenização do período rural exercido anteriormente à Lei nº 8.213/91.
Em outras palavras, nas hipóteses em que o segurado busca computar tempo de serviço prestado como
trabalhador rural para fins de contagem recíproca, faz-se necessário o recolhimento das contribuições
previdenciárias pertinentes que se buscam averbar.
PREVIDÊNCIA PRIVADA
Desligamento de participante e fim do direito ao rateio do superávit
Obs: existem alguns entes públicos que também oferecem plano de previdência privada aos servidores.
Neste caso, este ente público é que será o patrocinador.
A entidade patrocinadora oferece o plano de previdência privada por meio de uma entidade fechada de
previdência privada. Enfim, só existe entidade patrocinadora no caso de plano fechado de previdência privada.
Os benefícios mais comuns que são oferecidos pela previdência complementar fechada são os seguintes:
aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por invalidez e pensão por morte.
Participante
Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma
entidade fechada de previdência complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano,
tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do patrocinador).
O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de previdência é descontado de seu
salário no momento do pagamento.
Apesar dessa possibilidade legal de permanecer no plano de previdência, João optou por se desligar,
efetuando o resgate das respectivas contribuições. Isso porque caso uma pessoa que seja filiada a um
plano de previdência privada decida se desligar, ela terá o direito de resgatar (receber de volta) as parcelas
que pagou.
Em 2003, houve a liquidação extrajudicial do plano de previdência em virtude da retirada do patrocinador.
A possibilidade de retirada do patrocinador está prevista no art. 25 da LC 109/2001:
Art. 25. O órgão regulador e fiscalizador poderá autorizar a extinção de plano de benefícios ou a
retirada de patrocínio, ficando os patrocinadores e instituidores obrigados ao cumprimento da
totalidade dos compromissos assumidos com a entidade relativamente aos direitos dos
participantes, assistidos e obrigações legais, até a data da retirada ou extinção do plano.
Como o plano de previdência seria extinto, uma das medidas foi pagar todas as contas e fazer o rateio dos
valores que sobraram.
Assim, elaborou-se uma lista dos participantes aos quais seria destinado, em rateio, o excedente do ativo.
Nessa lista, não constou o nome de João.
Diante disso, ele ajuizou ação pedindo que também participasse desse rateio e recebesse o excedente do
ativo.
O pedido de João foi julgado procedente? Ele tem direito de participar do rateio?
NÃO.
O desligamento de participante de plano de previdência complementar faz cessar o direito ao rateio de
eventual superávit de ativos apurados em posterior liquidação extrajudicial da entidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.441.411-AM, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/04/2018 (Info 624).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos fundada em
irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à
reparação dos danos eventualmente cometidos. ( )
2) As regras gerais previstas na Lei nº 8.666/93 não podem ser flexibilizadas mesmo em se tratando do
Programa Minha Casa Minha Vida. ( )
3) O termo inicial do adicional de insalubridade a que faz jus o servidor público é a data do início do serviço. ( )
4) Desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou sindicância, é permitida a
instauração de processo administrativo disciplinar com base em denúncia anônima, em face do poder-
dever de autotutela imposto à Administração. ( )
5) O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o
direito do beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada. ( )
6) A ação de cobrança de débitos condominiais não pode ser proposta contra o arrendatário do imóvel. ( )
7) É possível, em sede de execução de alimentos, a dedução na pensão alimentícia fixada exclusivamente
em pecúnia das despesas pagas "in natura", com o consentimento do credor, referentes a aluguel,
condomínio e IPTU do imóvel onde residia o exequente. ( )
8) A coisa julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes maiores e capazes, versando
sobre a partilha de bens imóveis privados e disponíveis e que fora homologado judicialmente por ocasião
de divórcio consensual, não impede que haja um novo acordo sobre o destino dos referidos bens. ( )
9) Para que haja a decretação da perda do poder familiar da mãe biológica em razão suposta entrega da
filha para adoção irregular (“adoção à brasileira”) é indispensável a realização do estudo social e
avaliação psicológica das partes litigantes. ( )
10) Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental. ( )
11) O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos nas
demandas de saúde propostas contra os entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo
Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C 5. C 6. E 7. C 8. C 9. C 10. C
11. C 12. E 13. C 14. C 15. E 16. C 17. C