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Flavio Gordon » A administração das coisas: Olavo, Paulo Guedes e os ideólogos do pragmatismo

A administração das coisas: Olavo, Paulo


Guedes e os ideólogos do pragmatismo
por Flávio Gordon [ 20/03/2019 ] [ 1:00 ] Atualizado em [ 20/03/2019 ] [ 8:27 ]
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Presidente da República Jair Bolsonaro durante jantar com formadores de opinião, em Washington (EUA). Foto Alan Santos/PR.

 
Em Washington, no jantar na casa do embaixador
[0] Sergio Amaral, o ministro da Economia Paulo Guedes
dirigiu-se ao filósofo Olavo de Carvalho chamando-o
de “líder da revolução liberal no Brasil”. Se Guedes foi
sincero em sua avaliação – e a insinceridade não
parece ser um traço de sua personalidade –, sua fala
[0] põe em xeque uma narrativa insistentemente
martelada por parte da imprensa, segundo a qual
haveria no governo uma divisão fundamental entre
um núcleo ideológico (que virou moda alcunhar de
“jacobinista”), liderado por Olavo, e um núcleo
[]
pragmático, do qual o liberal de Chicago, com o seu
projeto de reforma da Previdência, seria o expoente.

Aparentemente (e felizmente!), o ministro Paulo


Guedes mostra ter alguma imunidade contra uma
concepção comum que o pensamento liberal partilha
com outras tradições intelectuais da modernidade,
inclusive aquelas – como é oCOcaso
LUdoNpositivismo
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marxismo – das quais, de resto, diverge
fundamentalmente. Por falta de melhor termo,
podemos chamá-la genericamente de progressismo
(que, aqui, não deve ser tomado como sinônimo de
esquerdismo). Trata-se da crença utópica de que, com
o progresso técnico-científico, chegará finalmente um
dia em que a política restará supérflua, já que a forma
mentis irracional e ultrapassada sobre a qual se
fundam as disputas político-ideológicas virá a ser
superada pelo avanço do conhecimento e a
universalização da razão.

Ironicamente, uma das formulações mais conhecidas


dessa concepção tem pedigree marxista. Está no Anti-
Dühring, publicado em 1878, no trecho em que
Friedrich Engels anuncia a utopia do fim do Estado,
que se seguiria à tomada do poder pelos proletários.
Nas palavras do fiel escudeiro de Marx: “Em todos os
domínios, a interferência estatal nas relações sociais
torna-se supérflua, e acaba por morrer de inanição; o
governo das pessoas é substituído pela administração
das coisas”.

Sim, o leitor não leu errado. Há, nessa ideia de que a


política possa dar lugar à administração, toda uma
ousada antropologia filosófica, que imagina uma
mudança fundamental da natureza humana
consubstancial ao avanço das ciências e das técnicas,
como se, em função do incremento universal da
racionalidade, os interesses pessoais, as controvérsias
morais, os conflitos de valores e visões de mundo,
enfim, pudessem ser gradualmente anulados. Eis aí o
ponto em que a utopia comunista da “sociedade sem
classes” se encontra com o sonho libertário do “fim do
Estado” (ou “da História”). Embora se vejam como
nêmesis uma da outra, essas duas utopias partem de
uma mesma premissa, que, junto com o positivismo
(daí muitos militares brasileiros também a adotarem),
herdaram do culto iluminista à razão: a noção de que
é possível conduzir a vida em sociedade de maneira
inteiramente racional e científica (consensual,
portanto), dispensando as paixões
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embates político-ideológicos. É esse fetiche de pairar
acima das ideologias – um fetiche altamente
ideológico, decerto – que transparece no elogio
contemporâneo ao pragmatismo, fazendo da reforma
da Previdência uma panaceia, e encarando os demais
enfrentamentos (quer políticos, quer culturais) como
reles distrações ideológicas.

Como, tempos atrás, demonstrou o próprio Olavo


num artigo intitulado A ideologia da anti-ideologia,
liberais, libertários e socialdemocratas costumam
incorrer naquele vício de pensamento, que o autor
define como “pragmatismo supra-ideológico”, e que
se caracteriza por um desinteresse por toda e
qualquer motivação humana que não possa ser
inteiramente explicada pela racionalidade econômica.
Escreve o filósofo: “Os pragmatistas supra-ideológicos
são tão inconscientes das implicações reais da sua
escolha que nem percebem que a hegemonia da
racionalidade econômica sobre os fatores ditos
ideológicos e ‘irracionais’ da vida social não traria
jamais a vitória da liberdade de mercado, mas a
expansão ilimitada da administração estatal. Um
mundo sem ideologias é o mesmo que um mundo
sem política – é o projeto da ‘sociedade administrada’,
isto é, totalmente controlada, para o qual tantos
liberais contribuem inconscientemente por meio de
sua adesão ao pragmatismo supra-ideológico”.

Os analistas que, no momento presente, têm adotado


o discurso pragmatista em defesa da reforma da
Previdência (e, antes que me entendam mal, deixo
claro que também a considero urgente), costumam
dizer que sua posição nada tem a ver com ideologia,
baseando-se apenas numa necessidade matemática:
ou se a aprova, ou o país quebra.

Num certo sentido, é óbvio que têm razão. Se a


reforma não for aprovada, iremos mesmo para a
bancarrota. O problema é que, em política, ter razão
não basta. A ideia de que a reforma tem de ser
aprovada por uma questão elementar
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racionalidade parte da premissa oculta de que todos
concordam que o país não pode quebrar. Ocorre que
não querer que o país quebre não é uma questão de
racionalidade matemática, mas de valor. Porque, para
a corrente política radical recém apeada do poder,
formada por partidos como PT, PCdoB, PSol e PDT,
quebrar o país é justamente o projeto, entendido
como meio de fomento do caos generalizado
necessário à sua volta ao poder. Não se trata, pois, de
uma simples disputa entre racionalidade e
irracionalidade, mas um verdadeiro confronto de
valores, de escolhas morais, de projetos de país. Um
confronto ideológico, portanto.

Progressistas em geral tendem a considerar os


adversários sob o simbolismo do atraso. Nisso, mais
uma vez, liberais, marxistas e positivistas concordam:
em qualificar os adversários de “atrasados”. No caso
particular do liberalismo, a certeza da própria
superioridade intelectual no tocante à economia
acaba gerando, curiosamente, uma certa inocência e
vulnerabilidade em face do adversário, que é visto
como alguém meramente ignorante, sobre quem
ainda não desceram as luzes da razão. Ao contemplar
os inimigos, o liberal é tentado a repetir Jesus Cristo:
“Perdoem-nos, eles não sabem o que fazem”.

Acontece que, em grande parte dos casos, sabem-no


muito bem. Não é uma questão de não saber, mas de
não querer. Os objetivos dos adversários esquerdistas
– e não apenas os meios, como pensa o liberal – é que
são radicalmente distintos. E essa diferença radical,
por sua natureza política e existencial, não pode ser
“superada” por meio do progresso da razão. Crer
nisso é promover a despolitização da política, como
se esta fosse feita de uma sucessão unilinear de
estágios evolutivos, e não, como é de fato, de uma
superposição de forças contrárias.
Adversários políticos não são versões “atrasadas” de
nós mesmos, cujas ideias, seCO LU N I STA
a história S o seu
seguisse   
 
curso “natural”, caminhariam inevitavelmente para
uma convergência com as nossas. Não, eles são os
nossos outros, e a distância que nos separa é de
natureza, não de grau. Precisamente, essa distância
é política, não evolutiva. E, em política, não há
soluções definitivas e sínteses superiores. A política é
um embate interminável num mesmo plano, uma
dialética sem síntese, por assim dizer, exercício de
convivência dos heterogêneos e contrários, zona de
perpétua coetaneidade, sem Aufhebung.

Ao contrário do que prega a autoilusão liberal,


adversários políticos raramente são convencidos por
meio de argumentos racionais, e muito menos graças
à simples passagem do tempo. Há que travar com eles
a luta política, que inclui necessariamente o confronto
de valores, de noções de moralidade, de concepções
de homem, de visões de mundo – tudo aquilo, em
suma, que os ideólogos do pragmatismo costumam
desprezar como reles “ideologia”. Com efeito, se há
algo de comum a todo ideólogo é a predisposição a
encarar todas as demais ideologias enquanto tais, e
apenas a sua própria como “ciência”.

A separação entre um núcleo ideológico e um núcleo


pragmático no atual governo é, portanto, artificial e,
ela própria, ideológica. Não faz sentido isolar a meta
da reforma da Previdência de todo o projeto político
que, resultado de um pacto estratégico entre liberais e
conservadores, se sagrou vitorioso no último pleito, e
cujo contexto histórico é o embate com a forças de
esquerda. Até porque, se tomada isoladamente,
desconectada da orientação ideológica mais ampla
que a sustenta (e cuja existência o próprio presidente
Jair Bolsonaro, como bom militar, não raro tenta
negar), a reforma acabará não sendo aprovada. E,
ainda que o seja, no futuro será retratada como um
processo cruel de manutenção de privilégios dos mais
ricos em detrimentos dos mais pobres.
A narrativa da esquerda já está pronta e, se essa
esquerda não for enfrentadaCO nasLU N I variadas
mais STA S frentes   
 
da luta política e cultural, se a sua versão dos fatos
terminar consagrada, a reforma de Paulo Guedes terá
sido a primeira e a última no Brasil a assumir um
caráter minimamente liberal. Não podemos nos dar a
esse luxo, pois novas reformas liberalizantes serão
necessárias. Foi provavelmente essa visão de
conjunto que, para o espanto (senão mesmo o horror)
de pragmatistas puro-sangue, levou o ministro da
Economia a ressaltar a importância da orientação
intelectual do filósofo. O encontro em Washington
parece ter mostrado, entre outras coisas, que a
oposição entre Olavo e Guedes não é mais que
um wishful thinking dos críticos.

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