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Exercícios aplicados de

Biofísica
Ex ercí
ci os apli cados de Biofí
sica

Organização: Audrey Heloisa Ivanenko Sa lgado

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 2


Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 3
COLABORADORES
Alice Coelho
Aline Medrado
Almyr Danilo Marx Neto
Bárbara Isadora V. Mussi Cruz
Fábio Araújo Gomes de Castro
Fernanda Vilela Dias
Gabriel Milhomem da Silva Mota
Gilvan Ferreira Vaz
Juliana Tavares Salgado
Karina Diniz Pereira
Marina Palhares
Rafael Peixoto
Raphael Ribeiro Teles dos Santos
Renato Fernandes

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Apresentação

Com o livro Exercícios aplicados de Biofísica pretendemos auxiliar no


aprendizado daqueles que estejam cursando a disciplina de Biofísica ou estejam
interessados por temas dessa área do conhecimento. Os textos introdutórios de cada
módulo foram elaborados com a finalidade de fazer uma revisão dos conceitos básicos
dos seguintes assuntos: 1) soluções, pH e tampão; 2) membranas biológicas e 3)

radiobiologia; além de buscar aproximar a Biofísica do dia a dia dos estudantes de


diferentes áreas. Os exercícios visam à familiarização com cálculos matemáticos que
são frequentes na área de Biofísica, estimular a revisão e fixação de conceitos, além de
apresentar uma visão aplicada ao cotidiano e à futura prática profissional.
Esta obra surgiu, srcinalmente, da necessidade de uma apostila de exercícios
que auxiliasse aos alunos na disciplina de Biofísica de diferentes cursos na
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como material de apoio para os
professores e monitores na tarefa de ensinar uma disciplina fundamentada em princípios
das ciências exatas aplicados aos cursos da área de ciências da vida.
Os livros de Biofísica disponíveis no mercado priorizam a parte teórica e
oferecem poucos exercícios que ajudam os estudantes a colocar em prática o que
aprenderam e a identificar suas dificuldades. Diante disso, a organizadora desse livro,
Profa. Audrey Heloisa Ivanenko Salgado , do Departamento de Fisiologia e Biofísica do
Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, propôs a nós, monitores de Biofísica, a
elaboração de uma apostila de exercícios inéditos que pudesse ser usada como um
estudo dirigido para os estudantes.
A apostila foi elaborada dentro do Programa de Monitoria. A ideia central desse
trabalho era que os estudantes se deparassem com uma nova informação a cada questão
lida.
O material, disponibilizado aos alunos da graduação dos cursos de Ciências
Biológicas, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Fisioterapia, Farmácia,

Enfermagem e Terapia Ocupacional no segundo semestre de 2009, sofreu modificações


após o olhar crítico de inúmeros estudantes, professores e dos próprios monitores da
disciplina. Após a complementação com textos referentes aos assuntos básicos de
Biofísica, realizada para a produção deste livro, ele se tornou um guia prático e simples
para estudantes de graduação e outras pessoas interessadas.

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Nós autores, na qualidade temporária de monitores de Biofísica, compartilhamos
da posição de nossa orientadora, Profa. Audrey, e entendemos a necessidade de
exercícios aplicados como fonte de aprendizado na disciplina.
Esperamos que cada estudante possa aprender com este livro, tanto quanto
aprendemos em sua elaboração.
Os autores.

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SUM RIO

Capítulo I: Soluções, Equílibrios Iônicos, Solução-Tampão, Difusão, Osmose, 7


Tonicidade e Compartimentação Biológica
1.1. Soluções 8
1.2. Equilíbrios iônicos 10
1.3. Solução-tampão 16
1.4. Difusão 17
1.5. Osmose 18
1.6. Tonicidade 20
1.7. Compartimentação biológica 21
Capítulo II: Membranas Celulares e Seus Mecanismos de Transporte 23
2.1. Funções 24
2.2. Composição e Estrutura 24
2.3. Mecanismos de Transporte 25
Capítulo III: Gênese dos Potenciais de Membrana: Potencial de Ação e Potencial de 40
Repouso
3.1. Equilíbrio Iônico Através da Membrana Plasmática 41
3.2. Equilíbrio de Gibbs-Donnan 44

3.3.
3.4. Transporte Ativo
Gradiente de ons de
e oÍons e o Potencial
Potencial de Repouso
de Repouso da Membrana 46
47
3.5. Variações do Potencial de Membrana: Respostas Sublimiares e 48
Potencial de Ação 48
3.6. Gênese do Potencial de Ação 49
3.7. Propriedades dos Potenciais de Ação 51
Capítulo IV: Introdução à Radioatividade, Emissões Primárias, Emissões Secundárias, 53
Transmutação Radioativa, A Energia Nuclear e Suas Aplicações, Radiações X e
Ultravioleta, Radiobiologia e Radioproteção.
4.1- Introdução à Radioatividade 54
4.2- Emissões Primárias 54
4.3- Emissões Secundárias 57
4.4- Transmutação Radioativa 58
4.5- A Energia Nuclear e Suas Aplicações 60
4.6- Radiações X e Ultravioleta 64
4.7- Radiobiologia 66
4.8- Radioproteção 66
Capítulo V: Exercícios resolvidos e Respostas comentadas 69

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Capítulo I:
Soluções, Equílibrios Iônicos, Solução-tampão, Difusão, Osmose, Tonicidade e
Compartimentação biológica

Sumário do capít ulo:


1.1. Soluções
1.2. Equilíbrios iônicos
1.3. Solução-tampão
1.4. Difusão
1.5. Osmose
1.6. Tonicidade
1.7. Compartimentação biológica

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1.1 Soluções
As principais expressões de concentração de soluções são título (em massa e em
volume), porcentagem (em massa e em volume), concentração em massa e concentração
em quantidade de matéria.

 Expressões de concentração de soluções:


 Título e Porcentagem:
 Título e Porcentagem em massa:
Título em massa (τp) é definido como a relação entre o número de unidades de
massa do soluto ( m1) e o número de unidades de massa da solução (m). Tanto a massa
do soluto (m1) quanto a massa da solução ( m) devem estar na mesma unidade, ou seja,
grama com grama, quilograma com quilograma, etc. Assim, pode-se escrever:

O título é um número puro (adimensional), já que relaciona dois termos de


mesma unidade. Quando se multiplica o título por 100, obtem-se a porcentagem em
massa do soluto (Pp):

Exemplo: Uma solução de cloreto de sódio (NaCl) apresenta título de 0,30. Isso
significa que, para cada 1,0 g de solução, há 0,30 g de NaCl no meio. Um título de 0,30
corresponde a uma porcentagem em massa de 30% (0,30 x 100). Assim, a solução de
NaCl de porcentagem em massa de 30% apresenta 30 g de NaCl para cada 100 g de
solução.

 Título e Porcentagem em volume:


O título em volume (τv) é a relação entre o número de unidades de volume do
soluto (v1) e o número de unidades de volume da solução v( ):

O volume do soluto e o da solução devem estar na mesma unidade. O título em


volume, como o título em massa, é um número puro. Quando se multiplica o título em
volume (τv) por 100, obtem-se a porcentagem em volume do soluto ( Pv):

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Exemplo: Uma solução de álcool etílico apresenta título de 0,70. Isso significa
que, para cada 1,0 L de solução, há 0,70 L de álcool etílico.

 Concentração em massa:
É definida como a massa de soluto ( m) dissolvida em um determinado volume
de solução (v):
Unidade: g/L (normalmente)

Exemplo: Uma solução possui concentração de 50 g/L de cloreto de potássio


(KCl). Isso significa que, a cada litro de solução, há 50 g de KCl dissolvidos.

 Concentração em quantidade de matéria:


É a relação entre a quantidade de matéria do soluto n( 1) e o volume da solução
(v) em litros:

Quantidade de matéria é uma grandeza cuja unidade é o mol (da mesma forma
que “massa” é uma grandeza cuja unidade, no Sistema Internacional de Unidades, é o

kilograma – kg). Logo, a unidade da concentração em quantidade de matéria é mol/L.


Exemplo: Uma solução de NaCl possui uma concentração de 5 mol/L. Isso
significa que, a cada litro de solução, há 5 mol de NaCl dissolvidos.

 Densidade:
É uma propriedade que caracteriza as substâncias. Ela é definida pela relação
entre a massa (m) e o volume (v) da solução:
Unidade: g/mL (normalmente)

Exemplo: A densidade do álcool etílico é de 0,8 g/mL. Isso significa que cada 1
mL de solução possui uma massa de 0,8 g.

 Diluição de soluções:
Quando se necessita diminuir a concentração de uma solução, é preciso realizar
uma diluição. Nesse processo, adiciona-se um solvente (normalmente, água) à solução.
Dessa forma, há uma redução da concentração da solução sem que haja alteração da
quantidade do soluto (a quantidade permanece constante). Baseado nisso, é possível

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desenvolver uma expressão matemática que relaciona as concentrações e volumes da
solução antes e após a diluição:

FIGURA 1 – Diluição de solução

Para as demais expressões de concentração, também é possível desenvolver


relações matemáticas análogas às realizadas acima. Além da expressão matemática que
envolve concentração em massa, uma outra bastante empregada é a que utiliza a
concentração em quantidade de matéria: .

1.2. Equilíbrios Iônicos

 Constante s de acidez e basicida de


Em uma solução, há um ácido genérico, HA, e água. Na presença desse
solvente, o ácido sofre ionização, como representado pela reação:

Quando se calcula a constante de equilíbrio em termos de concentração em


quantidade de matéria (K c), obtem-se:

Nesse caso, Kc é chamado de constante de acidez (Ka):

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Para bases, o raciocínio é análogo:

Nesse caso, Kc corresponde à constante de basicidade (K b).


Duas importantes conclusões podem ser realizadas a partir do valor da constante
de equilíbrio (Ka e Kb):
 Quanto maior o Ka, maior a força do ácido, já que ele apresenta uma maior
ionização.
 Quanto maior o Kb, maior a força da base, já que ela apresenta uma maior
dissociação.

 Força de um eletrólito (ácido ou base):


Como dito anteriormente, a força de um ácido e de uma base pode ser verificada
a partir da constante de equilíbrio da substância (K a e Kb). Além disso, é possível
verificar a força de um ácido ou de uma base pelo seu grau de ionização ou dissociação
(α), respectivamente:

O valor de α está compreendido entre 0 e 1 ou, se for expresso em porcentagem,


entre 0% e 100%. De uma maneira geral, ácidos e bases fortes apresentam um valor de
α próximo a 100%. Ácidos e bases fracas, de modo geral, possuem um valor de α
inferior a 5%.
As constantes de equilíbrio (Ka e Kb) e o grau de ionização ou dissociação (α)
dos eletrólitos são obtidas experimentalmente e, portanto, devem ser consultadas em
tabelas próprias sempre que necessário. Para a determinação da força de um eletrólito,
há, porém, regras práticas que possibilitam a verificação dessa característica sem a
necessidade de analisar a constante de equilíbrio ou o grau de ionização (ou de
dissociação):
 Ácidos:
Os ácidos inorgânicos podem ser divididos em dois grupos: hidrácidos e
oxiácidos.
Os hidrácidos são ácidos que não apresentam oxigênio em sua fórmula química,
como o ácido clorídrico (HCl) e o ácido iodídrico (HI). Nesse grupo, são considerados

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fortes, em ordem decrescente de força ácida, o HI, HBr (ácido bromídrico) e HCl. O HF
(ácido fluorídrico) é semiforte e todos os demais hidrácidos são fracos.
Os oxiácidos são ácidos que apresentam o oxigênio em sua fórmula química,
como o ácido sulfúrico (H2SO4) e o ácido nítrico (HNO 3). Para a determinação da
acidez, utiliza-se a seguinte regra: dado um ácido de um elemento E genérico, H xEy Oz, e
fazendo a subtração z-x =R, obtem-se:
 R ≥ 2: Ácido forte. Exemplo: HNO3 z=3 x=1  R=3-1=2
 R < 2: Ácido semiforte ou fraco.Exemplo: H3BO3 z=3 x=3  R=3-3=0
Os ácidos orgânicos, de uma maneira geral, são fracos.
 Bases:
De modo geral, pode-se afirmar que são fortes as bases de metais alcalinos e
metais alcalinos terrrosos, como o hidróxido de sódio – NaOH e o hidróxido de
magnésio – Mg(OH)2. As bases fracas são as de metais de transição, de metais das
famílias 13, 14 e 15 da tabela periódico e o hidróxido de amônio, NH 4OH.

 Produto iônico da água (Kw)


A água sofre auto-ionização, como representado pela equação:

A água sofre auto-ionização em escala muito pequena. Dessa forma, como a


concentração de água – [H2O] – é praticamente constante, pode-se incluir seu valor no
valor de Kc:

O produto [H+][ OH-] é denominado produto iônico da água e é simbolizado por


Kw:

A 25ºC, Kw é igual a 1,01 · 10 -14.


 Potencial hidrogeniônico (pH) e hidroxiliônico (pOH)
O potencial hidrogeniônico (pH) é definido da seguinte forma:

O potencial hidroxiliônico (pOH) é definido do seguinte modo:

Uma importante relação que envolve pH e pOH é a seguinte:


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De acordo com o pH, uma solução pode ser classificada em neutra, ácida e
básica:
 Solução neutra: . Logo, como o Kw é igual a 1,0 · 10-14 a 25 ºC,

então: . Ao se calcular o pH nessas condições, obtem-


se:

Como pH + pOH = 14, o pOH de uma solução neutra será de 7. Assim, pode-se
afirmar que, em uma solução neutra, pH = pOH = 7, a 25 ºC.
 Solução ácida: . A partir do Kw a 25 ºC, pode–se deduzir que, em
uma solução ácida, e . Assim, uma solução
ácida a 25 ºC terá um pH < 7 e um pOH > 7.
 Solução básica: . A partir do Kw a 25ºC, pode-se deduzir que, em
uma solução básica, e . Assim, uma solução
básica a 25 ºC apresenta um pH > 7 e um pOH < 7.

Para se calcular o pH de uma solução ácida ou básica, é preciso, primeiramente,


identificar a força do eletrólito (ácido ou base forte; ácido ou base fraca):
 Ácido ou base forte: Como o grau de ionização ou dissociação (α) de um ácido
ou base forte, respectivamente, está próximo a 100%, pode-se considerar que o
eletrólito se ioniza ou dissocia completamente. Assim, a concentração de H + – [H+] - ou
de OH- - [OH-] - na solução será igual à concentração inicial do ácido ou base forte, em
mol/L, respectivamente.
Exemplo: O pH de uma solução de HCl 0,01 mol/L será:

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 Ácido ou base fraca: Como um ácido fraco ioniza parcialmente e uma base
fraca dissocia parcialmente, não se pode afirmar, como dito para ácidos e bases fortes,
que a concentração de H3O+ ou OH- será igual a concentração inicial do ácido ou base,
respectivamente. Para encontrar o valor de [H +] ou [OH-], é preciso utilizar a constante
de acidez (Ka) ou de basicidade (Kb) do eletrólito.
Exemplo: O pH de uma solução de ácido acético (CH3COOH) 0,01 mol/L será:

Se o número de mols de CH3COOH ionizados em 1 L de solução for chamado


de x, obtêm-se as seguintes concentrações das espécies envolvidas na reação:
Concentração inicial Variação na concentração Concentração no
Espécie
(mol/L) (mol/L) equilíbrio (mol/L)
CH3COOH 0,01 -x 0,01 - x
H+ 0 +x x
CH3COO- 0 +x x
-5
Dessa forma, a condição de equilíbrio será (K a=1,8 · 10 ):

Como o ácido acético é fraco, pode-se afirmar que o valor de x é muito menor do
que 0,01 (concentração inicial de CH 3COOH). Assim, como o valor de x é desprezível
em comparação a 0,01, pode-se considerar que a concentração de CH
3COOH em

equilíbrio é igual à concentração inicial desse ácido:

Como [H3O+] = x, então, [H 3O +] = 4,2 ·10 -4 mol/L. Assim, o pH da solução de

CH3COOH será:

 Titulação ác ido-base:

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Para se determinar a concentração de uma solução, é comum realizar uma
técnica chamado titulação. Para se analisar uma solução de um ácido de concentração
desconhecida, por exemplo, adiciona-se um volume desse ácido (titulado), medido
previamente, em um erlenmeyer (Figura 2). Acrescenta-se, a esse frasco, um indicador,
que é uma substância capaz de mudar de cor de acordo com o pH do meio. Em seguida,
é adicionada, ao frasco, uma solução de concentração conhecida (titulante) que, na
situação estudada, é uma base. O titulante é gotejado, com uma bureta, sobre a solução
de ácido analisada até que o indicador mude de cor. Quando ocorre essa alteração de
cor, a titulação é finalizada, pois foi alcançado o chamado ponto final da titulação. É a
partir do volume gasto de titulante nesse ponto que se realizam os cálculos para a
determinação da concentração do ácido analisado. Porém, o volume gasto de titulante
não corresponde à quantidade exata de base necessária para neutralizar o ácido, pois o
indicador não muda de cor exatamente no pH em que ocorre a neutralização total do
ácido. A neutralização completa do ácido ocorre no chamado ponto de equivalência.
É importante ressaltar que apenas titulações que envolvem ácidos fortes e bases
fortes resultam em uma solução neutra (pH=7) no ponto de equivalência. Se o ácido ou
a base for um eletrólito fraco, o ponto de equivalência terá um pH ligeiramente ácido

ou básico, já que o sal formado na titulação sofre hidrólise.


Exemplo: Uma titulação de 25 mL de HCl consumiu 55 mL de NaOH 0,1 mol/L. Qual
é a concentração, em mol/L, da solução de HCl?

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FIGURA 2 – Representação esquemática da montagem da titulação

1.3. Solução-tampão
É uma solução que sofre apenas pequenas variações de pH quando a ela são

adicionados um ácido ou uma base. Ele pode ser formado por um ácido fraco e seu sal
de mesmo ânion (exemplo: CH3COOH e CH3COONa) ou uma base fraca e seu sal de
mesmo cátion (exemplo: NH4OH e NH4Cl).
Para entender a ação do tampão, considere, por exemplo, uma solução de
CH3COOH e CH3COONa. Como o CH3COONa é solúvel, ele libera CH 3COO- na
solução e, assim, CH3COO - e CH3COOH estabelecem o seguinte equilíbrio:

Quando um ácido é adicionado a essa solução, os íons H +, provenientes da


ionização dele, provocam um deslocamento do equilíbrio do tampão para a esquerda.
-
De maneira análoga, quando uma base é adicionada à solução do tampão, os íons OH ,
+
srcinados da dissociação da base, consomem H e, assim, o equilíbrio é deslocado para
+
a direita. Dessa forma, nas duas situações, há um consumo dos íons H e OH- ,
provenientes, respectivamente, do ácido e da base, e, assim, o pH da solução tampão
não é alterado de forma significativa.
Para determinar o pH de uma solução-tampão, utiliza-se a equação de
Henderson-Hasselbalch:

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Em que: pKa = logaritmo negativo do Ka (-logKa); [A] = concentração, em
mol/L, do aceptor de prótons (H +); [D] = concentração, em mol/L, do doador de
prótons.
No exemplo dado (tampão CH3COOH/CH3COONa), o aceptor de prótons (A) é
o CH3COO- (derivado da dissociação do CH3COONa) e o doador de prótons (D) é o

CH3COOH.
Uma solução-tampão é eficiente na sua função, ou seja, ela é capaz de minimizar
as variações de pH, na seguinte faixa de pH: pK a ± 1. Assim, o tampão
CH3COOH/CH3COONa (pKa = 4,74) será eficaz na faixa de pH entre 3,74 (4,74 – 1) a
5,74 (4,74 + 1). Outro fator que caracteriza a capacidade de tamponamento é a
quantidade de aceptor e doador de prótons. Essa quantidade, por sua vez, depende tanto
do volume de tampão (fator extensivo) quanto da concentração da solução-tampão
(fator intensivo). Assim, quanto maior o volume de tampão, maior será a capacidade de
tamponamento dele. Da mesma forma, quanto maior a concentração da solução-tampão,
maior será a capacidade de tamponamento dela.

1.4. Difusão
Para entender o conceito de difusão, considere a Figura 3:

FIGURA 3 – Compartimentos A e B, separados por uma divisória removível

Nos dois compartimentos, foram colocadas moléculas de um mesmo composto,


de modo que a quantidade de partículas em A é muito maior do que aquela em B. Todas
as moléculas apresentam um movimento térmico aleatório, também denominado de
movimento browniano. Quando se remove a divisória, há uma movimentação contínua
de partículas. A probabilidade de uma molécula inicialmente em A mover-se para B é a
mesma de uma partícula srcinalmente em B dirigir-se para A. Como há um número
maior de moléculas em A, o total de partículas que se movem de A para B será maior do
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que a quantidade de moléculas que se dirigem de B para A. O fluxo resultante de A
(mais concentrado) para B (menos concentrado) é chamado de difusão.
Para se calcular a difusão por uma membrana, utiliza-se a primeira lei de Fick
para a difusão:

Em que:
J = intensidade da difusão (mols ou gramas por segundo);
D = coeficiente de difusão do soluto na membrana (cm2/s);
A = área da membrana (cm2);
∆C = diferença de co ncentração através da membrana (mol/cm3);
∆x = espessura da membrana (cm).

O coeficiente de difusão (D) é definido, de forma aproximada, para


macromoléculas esféricas, de acordo com a equação de Stokes-Einstein:

Em que:
-23
k = constante de Boltzmann (1,38 x 10 J/K);
T = temperatura absoluta;
r = raio da macromolécula;
η = viscosidade do meio.
Quando se analisa o fluxo de difusão nas membranas celulares, é comum
empregar o coeficiente de permeabilidade ( Ρ), o qual é específico para o soluto e a
membrana em questão:

P é expresso em cm/s.
1.5. Osmose
A osmose é um caso especial de difusão da água, na qual há um fluxo dessa
substância a favor de seu gradiente de concentração entre dois compartimentos,
separados por uma membrana semipermeável ou predominantemente permeável à água.
Uma membrana semipermeável permite a passagem apenas de água e impede, assim, o
transporte de solutos. Como a água movimenta a favor de seu gradiente de
concentração, ela está difundindo de um compartimento de menor concentração de
soluto para outro, de maior concentração de soluto.
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Na figura 4, estão representados dois compartimentos (A e B), separados por
uma membrana semipermeável. A água irá movimentar de A para B, ou seja, ela irá
difundir do compartimento de água pura para a solução. Ao se empurrar o pistão, o
fluxo osmótico irá diminuir, já que a concentração de moléculas de água em B irá
aumentar (como também, haverá o aumento da concentração de soluto). Caso a força
aplicada ao pistão continue a ser aumentada, chegará um momento em que a pressão em
B impedirá o fluxo resultante de água. Essa pressão responsável pela interrupção do

fluxo de água é denominada pressão osmótica da solução do lado B.

FIGURA 4 – Representação da definição de pressão osmótica

A pressão osmótica depende do número de partículas em solução. Por isso, é


importante conhecer os íons e/ou moléculas efetivamente dissolvidos na solução. Para
calcular a pressão osmótica, pode-se utilizar a seguinte forma da lei de Van´t Hoff:

Em que:
π = pressão osmótica (atm).
R = constante dos gases ideais (0,082 atm x L x mol-1 x K-1).
Φ = coeficiente osmótico.
i = número teórico de partículas livres por molécula de soluto.
= concentração, em mol/L, de soluto.

O coeficiente osmótico (Φ) representa o desvio da solução do ideal. Ele depende


da partícula dissolvida, da concentração dela e da temperatura. O valor de Φ pode ser
superior ou inferior a 1.
Um importante termo da equação de pressão osmótica é (Φ
i ). Ele representa
a concentração osmoticamente efetiva e é denominado osmolaridade, medida na

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unidade osmol por litro (Osm/L). Para estimar a osmolaridade de uma solução, é
comum utilizar o valor 1 para o coeficiente osmótico ( Φ):
.
Considerando Φ = 1:
Exemplo: Qual é a osmolaridade aproximada de uma solução de NaCl 1 mol/L?
O NaCl se dissocia na água em 2 partículas, Na+ e Cl-. Logo, o valor de i é 2.
Como se deseja calcular a osmolaridade aproximada da solução, pode-se considerar Φ =
1. Então:

É muito freqüente fazer comparações das pressões osmóticas de duas soluções.


Quando as pressões osmóticas de duas soluções (A e B, por exemplo) são iguais, elas
são chamadas isosmóticas. Quando a pressão osmótica de A é maior do que de B, a
solução A é hiperosmótica em relação a B. Se a pressão osmótica de A é menor do que
de B, a solução A é hiposmótica e m relação a B.

1.6. Tonicidade
Na seção anterior, observou-se que a osmolaridade é uma propriedade da
solução, que não depende, assim, da interação do soluto com a membrana osmótica.
Nos sistemas biológicos, porém, é importante caracterizar tanto as propriedades da
solução quanto a interação do soluto com a membrana, já que algumas substâncias são
permeáveis por essa estrutura celular. O conceito biofísico que engloba esses dois
parâmetros é a tonicidade. Assim, pode-se afirmar que a tonicidade depende da
osmolaridade da solução e de um fator que reflete a permeabilidade do soluto, o
coeficiente de reflexão (σ). O coeficiente de reflexão é específico para um determinado
soluto e uma determinada membrana. O valor de σ varia de 0, para solutos
extremamente permeantes, a 1, para solutos completamente impermeantes.
As membranas plasmáticas da maioria das células do corpo humano são
permeáveis a água, sendo, porém, relativamente impermeáveis a muitos solutos do
líquido extracelular. Dessa forma, as membranas celulares estão sujeitas aos fenômenos
de osmose. Para analisar esses eventos, é comum utilizar as hemácias, já que elas são
facilmente obtidas e estudadas.
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Quando se mergulham hemácias em uma solução de NaCl de aproximadamente
150 mmol/L (σ = 1, ou seja, o soluto é impermeável), observa-se que o volume dessas
células não é alterado. Assim, pode-se afirmar que a solução de NaCl 150 mmol/L é
isotônica à célula, já que não há fluxo osmótico nessa situação (as pressões osmóticas
da hemácia e da solução são iguais). Outra conclusão desse evento é que as hemácias
comportam como se, em seu interior, possuíssem uma solução de solutos impermeantes
a 300 mOsm/L, que é a mesma osmolaridade da solução de NaCl 150 mmol/L.

Uma solução de NaCl de concentração superior a 150 mmol/L é hipertônica à


hemácia, já que a pressão osmótica da solução é maior do que a da célula. Nessa
situação, há um fluxo de água para fora da hemácia e, assim, a célula irá murchar. Caso
as hemácias sejam mergulhadas em uma solução de NaCl de concentração inferior a 150
mmol/L, ocorrerá um inchamento dessas células. Esse fenômeno será observado nas
hemácias, em virtude do fluxo osmótico para dentro das células, o qual foi causado, por
sua vez, pela reduzida pressão osmótica da solução em relação às células.
Quando se colocam hemácias em contato com um soluto permeante, como a
ureia 500 mOsm/L (σ = 0,5), as células, inicialmente, irão murchar. Porém, ao longo do
tempo, ocorrerá a entrada de ureia nas hemácias e, em um determinado momento, essa
substância estará em equilíbrio, ou seja, a ureia terá uma concentração de 250 mOsm/L
dentro e fora das hemácias. Assim, no equilíbrio, os eritrócitos estarão inchados e parte
deles terá sofrido, até mesmo, lise. Dessa forma, pode-se definir a solução de ureia 500
mOsm/L como hipotônica em relação às hemácias.

1.7. Compartimentação biológica


A água presente no corpo de um indivíduo está distribuída em dois
componentes: líquido extracelular (LEC) e líquido intracelular (LIC). O LEC, como
sugere seu nome, está localizado fora das células e pode ser dividido ainda em outros
dois componentes: o líquido intersticial e o plasma sanguíneo. O líquido intersticial é a
parte do LEC que está situada fora do sistema vascular, o qual está banhando as células
do organismo. O LIC, como o próprio nome sugere, corresponde ao volume de água
localizado no meio intracelular.
O volume total de água presente em um indivíduo varia, entre outros fatores,
com a idade e o sexo. Um homem adulto jovem de estatura média apresenta um volume
total de água igual a 60% de seu peso corporal. A água está distribuída no organismo de
um indivíduo como representado na FIGURA 5:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 22


FIGURA 5 – Distribuição de água em um indivíduo

A água está em permanente movimento entre esses componentes corporais de


modo a manter os volumes deles praticamente constantes. Assim, por exemplo, quando
um indivíduo desidratado recebe soro fisiológico (solução de NaCl 0,3 Osm/L)
intravenosamente, há um fluxo de água do LEC para o LIC de forma a manter, nesses
componentes, os volumes de água de 40 % do peso corporal e 20 % do peso corporal,
respectivamente.

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Capítulo II:
Membranas Celulares e Seus Mecanismos de Transporte

Sumário do capít ulo:


2.1. Funções
2.2. Composição e Estrutura
2.3. Mecanismos de Tra nsporte

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 24


Membranas Celulares

As membranas celulares são envoltórios biológicos que delimitam compartimentos


específicos na estrutura celular. São representadas pela membrana plasmática
(membrana citoplasmática, sarcolema), membrana nuclear e pelas membranas que
envolvem diversas organelas intracelulares (como a membrana do retículo

endoplasmático e as membranas mitocondriais).

2.1 Funções

Os diversos compartimentos individualizados pelas membranas celulares (núcleo,


organelas intracelulares e citoplasma) apresentam características físico-químicas e
estados termodinâmicos diferentes em relação ao meio no qual estão inseridos. Isto
ocorre porque as membranas celulares agem como barreiras de permeabilidade,
permitindo a manutenção de composições químicas distintas nos meios por elas
interfaciados, e também a ocorrência de processos bioquímicos específicos em cada
meio.
Além disso, as membranas celulares contêm enzimas, receptores e antígenos em sua
estrutura, os quais são importantes na interação da célula com a matriz extracelular, com
outras células e com diversas substâncias reguladoras presentes no meio extracelular
(hormônios, neurotransmissores e citocinas, dentre outras).

2.2 Composição e Estrut ura

As membranas celulares apresentam uma constituição básica lipoprotéica.

A. Lipí deos das Membranas Ce lulares

 Fosfolipídeos - são os principais lipídeos constituintes das membranas


celulares. São substâncias que possuem caráter anfipático, apresentando em

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 25


sua estrutura molecular duas cadeias hidrocarbônicas apolares (caudas
hidrofóbicas, provenientes de moléculas de ácidos graxos) e um grupamento
terminal polar (cabeça hidrofílica) como ilustrado na Figuras 1.

Figura 1 Estrutura molecular de um fosfolipídeo.

A organização dos fosfolipídeos na estrutura da membrana celular, segundo


o modelo do mosaico fluido, ocorre por meio da formação de uma bicamada
fosfolipídica, na qual as cadeias hidrofóbicas de ácidos graxos estão
orientadas para longe do contato com a água, permanecendo o grupamento
polar hidrofílico em contato com o meio aquoso (Figura 2).

Figura 2 Representação esquemática da organização dos fosfolipídeos em


bicamada, situação que ocorre quando eles estão dispersos em meio aquoso.
(Observe a orientação das caudas hidrofóbicas para o interior da bicamada,
enquanto a disposição da molécula favorece o contato da cabeça hidrofílica
com a água).

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 26


 Colesterol – é uma substância pertencente à classe dos esteróides. Assim
como os fosfolipídeos, também possui caráter anfipático, apresentando em
sua estrutura molecular uma grande região apolar (consistindo em anéis
esteróides e uma cadeia lateral hidrocarbônica) e um pequeno grupamento
polar (consistindo em uma hidroxila) A figura 3 ilustra a estrutura do
colesterol.

Figura 3 Estrutura molecular do colesterol.

O colesterol está presente apenas nas membranas celulares dos animais.


Nestas células, a região apolar da molécula de colesterol interage com as
caudas hidrofóbicas dos fosfolipídeos, enquanto o grupamento polar do
colesterol interage com as cabeças hidrofílicas dos fosfolipídeos. As
interações hidrofóbicas existentes entre o colesterol e os fosfolipídeos e a
presença de anéis esteróides relativamente rígidos são importantes na
determinação da viscosidade das membranas celulares, reduzindo a fluidez
presente nas mesmas.

B. Proteínas das Membranas Celulares

 Proteínas integrais ou intrínsecas da membrana – estão embebidas na


matriz da bicamada fosfolipídica por intermédio de interações hidrofóbicas
envolvendo as cadeias hidrocarbônicas de ácidos graxos e cadeias laterais

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 27


apolares dos aminoácidos. Estas interações podem ser rompidas na presença
de detergentes (como o triton, octilglucosídio e o dodecilsulfato de sódio).

 Proteínas periféricas ou extrínsecas da membrana – estão associadas à


superfície da membrana, na maioria das vezes por intermédio de interações
por carga envolvendo as proteínas integrais da membrana. Alterações na

composição iônica do meio podem romper estas interações e remover as


proteínas periféricas da membrana.

Figura 4 Representação esquemática da estrutura de membranas celulares.

Os fosfolipídeos e as proteínas presentes nas membranas plasmáticas de células


animais podem estar associados a moléculas de carboidrato srcinando,
respectivamente, os glicolipídeos e as glicoproteínas. O conjunto das moléculas de
carboidrato presente nestas membranas forma uma estrutura denominada glicocálix (ou
glicocálice). Estas moléculas de carboidrato contêm domínios que funcionam como
receptores para substâncias presentes no meio extracelular, como é o caso da toxina do
cólera, que se liga a parte de carboidrato de um glicolipídeo especial, o gangliosídeo
(GM1). Além disso, outros domínios funcionam como imunógenos, como é o caso dos
antígenos A e B do sistema sanguíneo AB0.
Segundo o modelo do mosaico fluido, os diversos componentes das membranas
celulares (fosfolipídeos, colesterol e proteínas) estão livres para se movimentar no plano
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 28
da monocamada fosfolipídica srcinal (Figura 5). A movimentação destes elementos
(em particular dos fosfolipídeos) entre as duas camadas fosfolipídicas (flip-flop) ocorre
mais lentamente; entretanto, é improvável que um grande componente hidrofílico
consiga realizar tal movimento, visto que será necessário atravessar o interior
hidrofóbico da membrana. Certos elementos não são passíveis de sofrer deslocamento
na membrana celular, o que acarreta uma distribuição irregular destes pela estrutura da
membrana (assimetria das membranas celulares).

Figura 5 Representação esquemática dos tipos de movimentos possíveis das moléculas


de fosfolipídeos em uma bicamada fosfolipídica.

3.3 Mecanismos de Transporte

O transporte transmembranoso de substâncias ocorre por diversos mecanismos


dependentes das propriedades morfofuncionais das membranas celulares.
Algumas partículas são transportadas pelas membranas celulares sem, no entanto,
atravessá-las de fato. Os mecanismos envolvidos no transporte destes materiais resultam
na formação de vesículas (lipossomos) srcinadas das membranas celulares. Estas
vesículas contêm em seu interior as moléculas a serem transportadas entre os meios
interfaciados pelas membranas. Este tipo de transporte envolve o dispêndio de energia
metabólica sendo, portanto, classificado como transporte ativo. Os processos de
transporte realizados por Endocitose, exocitose que são mediados por vesículas não
serão aqui tratados.

Várias substâncias atravessam as interfaces membranosas por mecanismos que


independem da formação de vesículas. Nestes casos, o trânsito das partículas pode

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 29


ocorrer por: (1) difusão das partículas da substância por entre as moléculas constituintes
das membranas celulares ou (2) proteínas de transporte específicas localizadas nas
membranas celulares.

A. Difusão Simples

 Aspectos gerais – as partículas presentes em um meio são dotadas de

velocidade térmica (relacionada à temperatura), que pode ser estimada pela


relação:

onde: = velocidade térmica média da partícula


K = constante de Boltzmann
T = te mperat ura absoluta
m = massa da partícula

O processo de difusão das partículas no meio ocorre devido ao movimento


térmico aleatório (movimento browniano) que elas apresentam,
representado na figura 6.

Figura 6 Representação esquemática do movimento browniano de


partículas em um determinado meio.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 30


O fluxo resultante de partículas na difusão é direcionado da região onde elas
estão mais concentradas (maior potencial químico das partículas) para a
região onde é menor a sua concentração (menor potencial químico das
partículas), o que resulta em uma distribuição homogênea destas por todo o
meio.

A difusão de partículas por distâncias microscópicas é um processo

geralmente rápido; entretanto, quando as distâncias consideradas são de


ordem macroscópica, este processo ocorre muito lentamente. Isto porque o
intervalo de tempo necessário para a difusão de partículas no meio varia
com o quadrado da distância, como explicitado na relação de Einstein:

onde: ∆t = intervalo de tempo necessário para a difusão


∆x = distância média de difusão
D = coef iciente de difusão

O coeficiente de difusão é inversamente proporcional a raiz quadrada da


Massa molecular (MM)1/2 para moléculas pequenas e inversamente
proporcional a raiz cúbica (MM)1/3 para macromoléculas.

O coeficiente de difusão para as macromoléculas esféricas pode ser


calculado pela equação de Stokes-Einstein, já descrita no capítulo 1:

 Difusão simples de partículas através das membranas celulares- as


membranas celulares são impermeáveis à maioria das substâncias
hidrofílicas presentes nas soluções biológicas, visto que o interior da
bicamada fosfolipídica é essencialmente apolar (não permite o trânsito de
moléculas pouco solúveis em solventes não-polares). As substâncias
hidrofóbicas, por apresentarem boa solubilidade em solventes não-polares,
são mais permeantes nas membranas celulares. A capacidade de dissolução

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 31


de uma substância em solventes polares e apolares pode ser analisada por
meio do seu coeficiente de partição óleo/água, que é definido como a razão
entre as solubilidades da substância no óleo e na água. Assim, quanto maior
o coeficiente de partição óleo/água da substância, maior a sua solubilidade
no interior da bicamada fosfolipídica e, portanto, maior a sua capacidade de
difusão através das membranas celulares.
O tamanho das partículas constituintes da substância também influencia

significativamente no processo de difusão através das membranas celulares;


quanto menor a partícula, maior a permeabilidade das membranas à
substância.

Assim, os solutos mais permeantes nas membranas celulares são os que


apresentam elevado coeficiente de partição óleo/água e cujas partículas
componentes são menores, como as moléculas de O2.

Figura 7 Ilustração representando a permeabilidade das membranas


celulares a diferentes solutos presentes nas soluções biológicas.

Assim, os solutos mais permeantes nas membranas celulares são os que


apresentam elevado coeficiente de partição óleo/água e cujas partículas
componentes são menores, como as moléculas de O.
2

Algumas substâncias moleculares hidrofílicas cujas partículas possuem


pequeno raio, apresentam considerável capacidade de difusão através das
membranas celulares, como ocorre com as moléculas de água. Isto ocorre
porque estas moléculas conseguem atravessar as cadeias de ácidos graxos
dos fosfolipídeos sem, no entanto, sol ubilizarem-se nas moléculas lipídicas.
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 32
As moléculas de água ainda se beneficiam da existência de proteínas
transportadoras de membrana, denominadas aquaporinas, que funcionam
como canais para a passagem de moléculas de água em seu interior, o que
aumenta bastante a capacidade de transporte destas moléculas através das
membranas celulares.
A magnitude da difusão através das membranas celulares pode ser

determinada por meio da primeira lei de Fick, já descrita no capítulo 1:

O fluxo resultante da difusão também pode ser calculado considerando a


permeabilidade específica da membrana para solutos específicos, por meio
da equação:

onde: J = fluxo resultante da difusão


Ps = permeabilidade da membrana a determinado soluto (S)
∆C = diferença de concentração da substância através da
membrana

O processo de difusão de partículas através das membranas celulares não


envolve gasto de energia metabólica (transporte passivo).

B. Osmose

A osmose é um caso particular de difusão que ocorre através de uma


membrana semipermeável (não permite a passagem de solutos, apenas de
moléculas de água). Neste processo, o fluxo resultante das moléculas de água
é direcionado da solução que apresenta menor concentração de solutos (maior
potencial químico da água) para a que apresenta maior concentração de
solutos (menor potencial químico da água).

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 33


As membranas celulares, como falado anteriormente, são impermeáveis à
maioria das substâncias hidrofílicas presentes nas soluções biológicas. Assim,
alterações nas concentrações químicas de vários solutos (presentes nas
soluções interfaciadas pelas membranas) são acompanhadas de fluxo
resultante de água através das interfaces membranosas.

C. Transporte Mediado por Proteínas

Diversas substâncias hidrofílicas, eletrólitos e partículas grandes não são


passíveis de se difundirem através das membranas celulares, ou o fazem em
uma taxa extremamente baixa. Assim, o transporte destes solutos é mediado
por proteínas integrais das membranas. Estas proteínas podem ser de dois
tipos: (1) canais iônicos ou (2) proteínas transportadoras (carreadoras).

A maioria dos íons não atravessa as membranas celulares por difusão simples,
visto que o interior apolar da bicamada fosfolipídica impede a passagem de
substâncias pouco solúveis em solventes apolares (substâncias hidrofílicas,
íons). Assim, o transporte passivo de grande parte dos íons ocorre por
intermédio de proteínas integrais da membrana que apresentam, em seu
interior, um canal apropriado para a passagem destas partículas (canais
iônicos). Estes canais apresentam conformações podem estar abertos,
fechados ou ainda inativados. Uma parte da proteína constituinte do canal
funciona como comporta e alterações conformacionais aleatórias na proteína
determinam alternância da comporta entre os estados aberto e fechado. O
transporte por meio de canais iônicos apresenta magnitude maior que o
realizado por intermédio de proteínas carreadoras. Os canais iônicos podem
ser controlados por voltagem ou controlados por ligantes. No primeiro caso, a
probabilidade de um canal encontrar-se no estado aberto depende do valor da
voltagem transmembranar. No segundo caso, a concentração do ligante é que
influencia na probabilidade de um canal iônico encontrar-se no estado aberto
(Figura 8).

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 34


Figura 8 Representação esquemática de um canal iônico presente na membrana
plasmática.

Para substâncias que apresentam a mesma massa molecular e a mesma


solubilidade lipídica o transporte mediado por proteínas é muito mais rápido
quando comparado ao processo de difusão simples através das membranas
celulares Entretanto, ele apresenta a cinética de saturação, algo que não
ocorre na difusão (Figura 9). Assim, um aumento na concentração do soluto a
ser transportado é acompanhado de um aumento na taxa de transporte, mas a
partir de determinada concentração a taxa de transporte não mais se altera

(fluxo máximo) (Figura 10). Isto ocorre porque há uma saturação dos
sistemas de transporte com o soluto transportado.

Figura 9 Gráfico ilustrando a relação entre o fluxo (F) e a concentração (C)


do soluto no processo de difusão simples.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 35


Figura 10 Gráfico ilustrando a relação entre o fluxo (F) e a concentração (C)
do soluto no processo de difusão facilitada. (Observe a relação entre os
gráficos de difusão simples e facilitada, demonstrando a maior taxa desta
última - considerando as mesmas variáveis).

A taxa máxima de transporte mediado pode ser representada pela equação de


Michaelis-Menten, descrito para enzimas:
J máx .[ S ]
J 
K m  [S ]

onde: J = taxa de transporte do soluto (S)

Jmáx = taxa máxima de transporte do soluto (S)


[S] = concentração do soluto (S)
Km = co nstante aparente de Michaelis para o transportador

Quando [S] = Km, J = J máx / 2. Assim, o Km pode ser definido como a


concentração do soluto transportado necessária para a metade do transporte
máximo.

Outra propriedade importante do transporte mediado é a especificidade


química do transportador. Esta especificidade, porém, não é absoluta para a
maioria das proteínas transportadoras e é mais ampla que a especificidade
existente nas enzimas.

O transporte mediado por proteínas pode ainda sofrer competição por


moléculas estruturalmente semelhantes. Assim, a presença de um substrato
para o transportador irá reduzir a taxa de transporte de outro s ubstrato para o
mesmo transportador. Existem ainda, compostos estruturalmente relacionados
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 36
aos substratos do transportador que podem se ligar à proteína transportadora,
diminuindo a afinidade com o substrato normalmente transportado (inibidor).

 Transporte facilitado (difusão facilitada) – é um tipo de transporte


mediado por proteínas carreadoras no qual não há gasto de energia
metabólica (transporte passivo). Possui todas as propriedades acima
descritas, com a ressalva de que este transporte não é deprimido por

inibidores metabólicos. Neste processo, o substrato se liga à proteína


carreadora que, a seguir, sofre uma mudança conformacional (ping-pong)
que resulta no deslocamento do substrato para a outra face da membrana
(Figura 11), tendendo a igualar as concentrações do mesmo através da
interface membranosa (a favor do gradiente de concentração química).
Como exemplo temos a entrada de monossacarídeos nas células musculares
por meio do transporte facilitado.

Figura 11 Representação esquemática do processo de transporte facilitado


(difusão facilitada).

 Transporte ativo – é um tipo de transporte mediado por proteínas

carreadoras no qual há gasto de energia metabólica. Ao contrário do que


ocorre na difusão facilitada, neste tipo de transporte os substratos são
transportados contra o gradiente de concentração química. Além disso, os
íons podem ser transportados por estas proteínas carreadoras contra um
potencial eletroquímico (os canais iônicos, como será visto no capítulo 3,
transportam os íons a favor de um potencial eletroquímico). Este tipo de

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 37


transporte deve estar acoplado direta ou indiretamente ao metabolismo
energético da célula. Assim, podemos classificar o transporte ativo em:

a) Transporte ativo primário – está acoplado diretamente ao


metabolismo energético da célula como, por exemplo, pela utilização
do ATP como fonte energética.

O íon Na+ está mais concentrado no meio extracelular em


comparação ao interior da célula, o que favorece a sua entrada na
célula através de canais iônicos específicos presentes na membrana
plasmática. O contrário ocorre com o íon K+ que, estando mais
concentrado no meio intracelular, tende a sair da célula também por
canais iônicos específicos presentes na membrana plasmática. Estes
processos tendem a igualar as concentrações destes íons através das
membranas. Isto não ocorre porque todas as células apresentam a
Na+, K+ - ATPase (bomba de Na + e K+), uma proteína carreadora
responsável por realizar o transporte ativo (acoplado ao ATP, como o
nome sugere) destes íons contra os seus gradientes de concentração.
Assim, o Na+ é transportado para fora da célula enquanto o K+ é
transportado para o interior da mesma. Em cada ciclo de transporte 1
molécula de ATP é hidrolisada, 3 íons Na+ são transportados para o
meio extracelular e 2 íons K+ são transportados para o meio
intracelular. Quando as magnitudes dos transportes passivos (através
dos canais iônicos) e ativos (por meio das ATPases) destes íons
através da membrana plasmática são iguais, estabelece-se um estado
estacionário no qual as concentrações dos íons nos meios intra- e
extracelular não se alteram.

b) Transporte ativo secundário – está acoplado indiretamente ao


metabolismo energético da célula. Alguns tipos de substratos
(aminoácidos, glicose, etc.) podem ser captados pelas células por
transporte ativo secundário.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 38


A bomba de Na+ e K+ (transporte ativo primário) cria um gradiente
eletroquímico do Na + através da membrana plasmática, o que
possibilita o seu deslocamento para o interior da célula por transporte
através de canais iônicos (transporte passivo). Assim, o transporte
passivo do Na+ libera uma quantidade de energia que será utilizada
para transportar ativamente a glicose (maior concentração no meio
intracelular) para o interior da célula, portanto, contra o gradiente de

concentração química. Note que, neste caso, a energia proveniente da


+
hidrólise do ATP é utilizada no transporte ativo dos íons Na e,
consequentemente, no estabelecimento de um gradiente
eletroquímico deste íon através da membrana. Este gradiente, por sua
vez, impulsiona o movimento passivo dos íons Na + concomitante ao
transporte da glicose para o interior da célula.

Para co mplet ar o seu e studo:

 AIRES, M. de M. Fisiologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

 BERNE, R. M. et al . Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

 GANONG, W. F. Fisiologia médica. 22. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill


Interamericana do Brasil, 2006.

 HENEINE, I. F. Biofísica Básica. São Paulo: Editora Atheneu, 2000.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 39


Capítulo III:

Gênese dos Potenciais de Membrana: Potencial de Ação e Potencial de Repouso

Sumário do capít ulo:


3.1. Equilíbrio Iônico Através da Membrana Plasmática
3.2. Equilíbrio de Gibbs-Donnan

3.3. Transporte Ativo de Íons e o Potencial de Repouso


3.4. Gradiente de Íons e o Potencial de Repouso da Membrana
3.5. Variações do Potencial de Membrana: Respostas Sublimiares e Potencial de
Ação
3.6. Gênese do Potencial de Ação
3.7. Propriedades dos Potenciais de Ação

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 40


Potencial de Repouso

As células em geral apresentam, quando em repouso, uma diferença de potencial


elétrico (ddp, voltagem) entre as faces interna e externa da membrana plasmática; o
meio intracelular possui um potencial elétrico negativo em relação ao meio extracelular.
Esta voltagem existente através da membrana plasmática é denominada potencial de
repouso (potencial face interna – potencial face externa).

3.1 Equilíbrio Iônico Através da Membrana Plasmática

Conforme descrito no capítulo II, os íons são transportados passivamente através da


membrana plasmática por intermédio dos canais iônicos. Neste processo, 2 forças
propulsoras agem sobre os íons: uma de natureza química e outra de natureza elétrica.

O potencial químico de um determinado íon está relacionado à concentração deste


íon no meio. Quando uma interface membranosa separa dois meios que apresentam
potenciais químicos distintos para determinado íon, este tende a se mover do meio com
maior potencial químico (maior concentração química) para o meio que apresenta o
menor potencial químico (menor concentração química). Assim, a força propulsora de
natureza química é devido à existência de uma diferença de potencial químico
(diferença de concentração química) entre as duas faces da membrana plasmática.
Além disso, por serem partículas dotadas de carga elétrica, os íons estão submetidos
a uma força propulsora de natureza elétrica, srcinada da voltagem existente através da
membrana plas mática.
Então, o movimento resultante dos íons através da membrana plasmática depende de
qual efeito é maior, o efeito da diferença de concentração química ou o efeito da
diferença de potencial elétrico. Esta interação entre forças de naturezas distintas pode
ser descrita em termos do potencial eletroquímico (μ) de um determinado íon (X+ por
exemplo), como demonstrado na relação:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 41


[X  ]A
 ( X  )   A ( X  )   B ( X  )  R.T . ln  z.F .( E A  E B )
[ X  ]B

onde: Δμ = diferença de potencial eletroquímico do íon X+ entre os lados A


(intracelular) e B (extracelular) da membrana plasmática

R = constante dos gases ideais

T = temperatura absoluta


[ X ]A
ln 
= logaritmo natural da razão das concentrações de X+ nos dois lados da
[ X ]B
membrana plas mática

z = valência do íon

F = número de Faraday

EA – EB = diferença de potencial elétrico através da membrana plasmática (meio


intracelular – meio extracelular)


[ X ]A
O primeiro termo da equação (R.T.ln 
) representa a tendência dos íons se
[ X ]B

movimentarem devido à diferença de concentração química existente entre os dois lados


da membrana plasmática, enquanto o segundo termo, z.F.(E
A – E B), representa a

tendência dos íons se deslocarem devido à existência da diferença de potencial elétrico


ao longo da espessura da membrana.

O transporte resultante dos íons ocorre do meio que apresenta o maior potencial
eletroquímico para o meio que apresenta o menor potencial eletroquímico. Assim, se μA
> μ B, o Δμ é positivo e o deslocamento dos íons será orientado do meio A para o meio
B; se μA < μB, o Δμ é negativo e o transporte ocorrerá no sentido oposto.

Quando as duas forças propulsoras que agem sobre os íons possuem a mesma
magnitude e sentidos opostos, o Δμ = 0 e não há força resultante atuando sobre os íons.
Neste caso, diz-se que o íon encontra-se em equilíbrio eletroquímico:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 42


[ X  ]A
R.T . ln  z.F .( E A  E B )  0
[ X  ]B

R.T [X  ]A R.T [ X  ]B
E A  EB   . ln 
 . ln
z.F [ X ]B z.F [X  ]A

Esta última equação é denominada equação de Nernst e é utilizada para determinar a


condição de equilíbrio eletroquímico de uma espécie iônica através da membrana. Por
meio dela pode-se determinar qual é a diferença de potencial elétrico necessária para os
íons permanecerem em equilíbrio através da membrana plasmática. Uma forma mais
prática de utilizar a equação de Nernst é por meio da transformação da equação em
logaritmo decimal, considerando a temperatura fixa em 25oC , e substituindo os valores
para as constantes R e F

 60mV [X  ]A
E A  EB  log
z [ X  ]B

A equação de Nernst pode ser utilizada para predizer o sentido do fluxo espontâneo
dos íons:

 Se o EA – E B através da membrana for igual ao EA – E B calculado a partir da

equação de Nernst, o íon encontra-se em equilíbrio eletroquímico e não há


fluxo resultante entre os compartimentos;

 Se o EA – EB através da membrana tem o mesmo sinal (positivou ou


negativo) do EA – E B calculado pela equação de Nernst, mas é maior em
módulo, a força de natureza elétrica é maior que a força de natureza química
e, portanto, o movimento dos íons é determinado pela força elétrica;

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 43


 Se o EA – E B tem o mesmo sinal, porém é menor em módulo que o EA – E B
calculado pela equação de Nernst, a força de natureza química é maior que a
força de natureza elétrica e, portanto, o movimento dos íons é determinado
pela diferença de concentração química;

 Se o sinal do EA – EB através da membrana é oposto ao calculado pela


equação de Nernst, as forças de natureza elétrica e química estão orientadas
para o mesmo sentido. Desta maneira, os íons não estão em equilíbrio e o
fluxo é dado pela soma das duas forças propulsoras.

3.2. Equilíbrio de Gibbs-Donnan

As células apresentam em seu citoplasma algumas substâncias dotadas de carga


elétrica (proteínas, polifosfatos orgânicos, ácidos nucléicos etc.) que não são passíveis
de serem transportadas pelos canais iônicos devido ao seu tamanho. Assim, tais
moléculas impermeantes são responsáveis por um tipo de equilíbrio eletroquímico
estabelecido através das membranas plasmáticas denominado equilíbrio de Gibbs-
Donnan.
Observe a seguinte situação:

Figura 1: Dois compartimentos separados por membrana permeável a água, ao K + e


ao Cl-, mas não ao Y-.

A figura 1 representa um sistema constituído por dois compartimentos, A e B,


separados por uma membrana semipermeável. O compartimento A está preenchido por
uma solução aquosa dos íons K+ e Y -, e o compartimento B está preenchido por uma
solução aquosa dos íons K+ e Cl-. Esta membrana é permeável a água, ao K+ e ao Cl-,
mas não ao Y-.
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 44
Como a [Cl-]B > [Cl-]A , estes íons tendem a se movimentar do lado B para o lado A
devido à diferença de concentração química. Este fluxo iônico cria uma diferença de
potencial elétrico entre os dois lados da membrana, devido ao acúmulo de cargas
elétricas negativas (Cl -) no compartimento A. Isto resulta em um fluxo dos íons K + para
o lado A, orientados pela força propulsora de natureza elétrica. Após um determinado
tempo, os íons Cl- e K+ atingirão o equilíbrio, no qual o ΔμK+ e o ΔμCl- deverão ser
nulos.

Para atingir a situação de equilíbrio, duas condições devem ser satisfeitas:

 Os dois compartimentos devem apresentar neutralidade elétrica:

[ K  ] A  [Cl  ] A  [Y  ] A e [ K  ] B  [Cl  ] B

 Os íons permeantes na membrana devem satisfazer a seguinte relação:

   
[ K ] A .[Cl ] A  [ K ] B .[Cl ]B

Esta última equação é denominada equação de Gibbs-Donnan.

A partir destas equações pode-se determinar as concentrações finais dos íons nos
compartimentos A e B, ilustradas na figura 2.

Figura 2: Concentrações finais dos íons nos compartimentos A e B.

Como os íons permeantes (K+ e Cl-) estão em equilíbrio eletroquímico através da


membrana, podemos utilizar a concentração de qualquer destes íons nos
compartimentos A e B para, a partir da equação de Nernst, calcular a diferença de

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 45


potencial elétrico através da membrana. Vamos utilizar, como exemplo, as
concentrações do K+:

 1,333... 
E A  E B  60mV . log   60mV . log2  60mV
 . 0,3  18mV
 0,066... 

-
Podemos perceber que a presença de íons impermeantes (neste caso, o Y) implica
na geração de um potencial elétrico negativo no compartimento que os contêm. A
presença de tais solutos no interior da célula contribui em cerca de -10 mV para o
potencial de repouso na membrana plasmática em relação ao meio extracelular.

3.3 Transporte Ativo de Íons e o Pote ncial de Repouso

A Na+, K+ - ATPase presente na membrana plasmática das células é responsável


pela manutenção dos gradientes iônicos de Na+ e K+ ao longo da interface membranosa

(capítulo II). Neste processo, em cada ciclo de transporte 3 Na


+ são ejetados da célula
+
enquanto 2 K são transferidos para o citoplasma, o que acarreta um acúmulo de carga
positiva no meio extracelular em relação ao meio intracelular. Assim, o bombeamento
ativo de íons através da membrana plasmática contribui diretamente na gênese do
potencial de repouso da membrana plasmática (bomba eletrogênica). Na maioria das
células nervosas e musculares esqueléticas dos vertebrados, a contribuição direta da
bomba no potencial de repouso é cerca de -5 mV.
Além da participação direta na gênese do potencial de repouso da membrana
plasmática, esta ATPase possui uma importante participação indireta, por meio da
manutenção de gradientes dos íons Na+ e K+, o que possibilitará a ocorrência de fluxos
iônicos (o principal determinante do potencial de repouso, como será descrito no
próximo item).

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 46


3.4 Gradiente de Íons e o Potencial de Repouso da Membrana

A distribuição dos íons através da membrana plasmática acarreta fluxos iônicos


entre os compartimentos intra- e extracelular. Neste processo, cada íon tende a atingir o
equilíbrio eletroquímico e, consequentemente, trazer o potencial de repouso da
membrana (Em) para próximo do seu próprio potencial de equilíbrio (conforme
calculado pela equação de Nernst). Os principais íons envolvidos neste processo e o seu
respectivo potencial de equilíbrio, para concentrações usuais são os seguintes: +K(-105
mV), Na+ (+67 mV) e Cl- (-90 mV).
A condutância (g) da membrana plasmática a determinado íon determina o grau de
permeabilidade da membrana ao fluxo iônico. Assim, quanto maior a condutância da
membrana ao íon, maior será tendência do íon em trazer o potencial de repouso da
membrana para próximo do seu potencial de equilíbrio eletroquímico e, assim, mais
próximo ele estará do equilíbrio.
Os principais íons envolvidos na determinação do potencial de repouso da
membrana podem ser relacionados pela equação:

gK g Na g Cl
Em  EK  E Na  ECl
g g g

Esta equação é denominada equação de condutância de corda e é utilizada para


predizer a tendência do íon em trazer o potencial de repouso da membrana para próximo
do seu potencial de equilíbrio. Nesta equação, a soma das condutâncias dos íons é igual
a 1:

 g  ( g K  g Na  g Cl )  1

Em células musculares de vertebrados, o potencial de repouso da membrana é cerca

de -90 mV. Assim, podemos concluir que a condutância da membrana ao íon Cl- é
maior em relação aos outros 2 íons, visto que o potencial de repouso da membrana
plasmática se aproxima do potencial de equilíbrio para o Cl -. No mesmo caso, a
condutância do Na+ é a menor dos 3 íons, pois ele possui um potencial de equilíbrio
mais afastado do potencial de repouso da membrana.
Assim, podemos concluir que a difusão iônica é o principal mecanismo pelo qual o
potencial de repouso da membrana plasmática é estabelecido.
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 47
Potencial de Ação

O potencial de ação pode ser definido como uma alteração rápida e transitória do
potencial de repouso da membrana plasmática, a qual é passível de ser transmitida
através da extensão celular mantendo constante o seu tamanho e forma durante o
processo. A gênese e a transmissão do potencial de ação é a base biofísica da
capacidade celular de transmissão de sinais nas células excitáveis (ex.: neurônios, fibras
musculares lisas e estriadas).

3.5 Variações do Potencial de Membrana: Respostas Sublimiares e Potencial de


Ação

Como foi descrito no tópico anterior, o potencial de repouso da membrana


plasmática é cerca de -90 mV. A aplicação de pulsos de corrente elétrica à membrana
pode alterar este valor aumentando-o (por exemplo, para -50 mV), tornando-o mais
positivo ou diminuindo-o (por exemplo, para -110 mV), tornando-o mais negativo; no
primeiro caso, ocorre uma despolarização da membrana, enquanto no segundo ocorre
uma hiperpolarização da mesma.
Quando pequenos pulsos despolarizantes são aplicados à membrana plasmática, eles
propagam-se pela célula com uma redução em seu tamanho e alteração da sua forma
inicial, fenômeno denominado condução com atenuação. Assim, quando mais afastada a
região do lugar no qual ocorreu a aplicação do pulso, menor será a alteração do
potencial de membrana srcinal existente na região. Estes pulsos que são transmitidos
com atenuação acarretam uma resposta celular local (resposta sublimiar), visto que eles
são “perdidos” durante o processo de condução, não sendo capaz de provocar alterações
por toda a célula.
Quando o pulso aplicado acarreta despolarizações acima de determinado valor
limiar (potencial limiar de membrana), um potencial de ação é disparado e transmitido
ao longo da célula. Este potencial é uma resposta muito maior, na qual ocorre reversão
da polaridade da membrana (o interior da célula se torna positivo em relação ao
exterior) e, durante a sua propagação, não ocorre atenuação do mesmo, que mantém a
sua forma e tamanho durante todo o processo. Assim, os potenciais de ação são capazes

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 48


de desencadear respostas em toda a célula, e não apenas em uma região celular restrita
(resposta local) (Figura 3).

Figura 3 Gráfico explicitando as alterações possíveis do potencial de membrana da


célula.

É importante notar que um estímulo despolarizante deflagra ou não um potencial de


ação (em caso negativo, ocorrerá uma resposta sublimiar). Por isso, o potencial de ação
é descrito como uma resposta tudo-ou-nada.

3.6 Gênese do Potencial de Ação

Os fluxos iônicos de Na+ e K+ são fundamentais na gênese do potencial de ação nas


células excitáveis. Como foi descrito anteriormente, os íons transitam através da
membrana plasmática do meio com o maior potencial eletroquímico para o meio com o
menor potencial eletroquímico. Durante este processo, tendem a trazer o potencial da
membrana para próximo do seu próprio potencial de equilíbrio. Os movimentos iônicos
através da membrana plasmática ocorrem por meio de canais iônicos específicos. Estes
possuem comportas de ativação e comportas de inativação, que são responsáveis pela
alteração da condutância (g) do íon em questão.

D. Neurônios

No início do processo, a condutância para o Na + (gNa) eleva-se rapidamente


e o potencial de membrana tende a aproximar-se do potencial de equilíbrio
do Na+ (+67 mV) (despolarização da membrana). A condutância para o
sódio atinge o pico quase ao mesmo tempo em que o potencial de ação
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 49
atinge o valor máximo. Apesar disso, o potencial de membrana não chega a
atingir o potencial de equilíbrio do sódio, pois desde o início do processo
ocorre um aumento do gK,que se processa de forma mais lenta e, portanto,
“segura o potencial” para este não atingir valores tão elevados. O rápido
retorno do potencial aos valores de repouso é causado pela rápida redução
do gNa e pela elevação progressiva do gK. Assim a membrana repolariza-se,
visto que o potencial tende a aproximar-se do potencial de equilíbrio do K +

(-105 mV). Da mesma forma, o potencial da membrana não chega a atingir


o potencial de equilíbrio do K+, visto que a condutância do potássio vai
reduzindo-se lentamente e, portanto, o potencial retorna ao seu valor de
repouso. O intervalo no qual o potencial da membrana é menor que o seu de
repouso e maior que o potencial de equilíbrio do K+ é denominado pós-
potencial hiperpolarizante (Figura 4).

Figura 4 Representação do potencial de ação em neurônios. (Observe a


presença do pós-potencial hiperpolarizante indicado pela fase 3).

E. Músculos Cardíaco e Liso

A gênese do potencial de ação nas fibras musculares cardíacas e lisas


apresenta certas particularidades que diferem da srcem do mesmo nos
neurônios. Nestas fibras musculares, após o pico do potencial de ação, este
não retorna rapidamente ao seu valor de repouso, mas sim mantém um platô
de potencial elevado. Isto ocorre porque, enquanto há um aumento rápido no

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 50


gNa, ocorre também um aumento do gCa, pela abertura dos canais lentos de
cálcio. Assim, quando ocorre diminuição da gNa, os canais de Ca2+ ainda estão
abertos, o que sustenta o potencial de ação no platô. Depois, o Ca
g diminui de
forma lenta e ocorre a abertura rápida dos canais de K +.

Figura 5- Representação do potencial de ação em fibras musculares


cardíacas e lisas. (Observe a presença do platô após o pico do potencial).

3.7 Propriedades dos Potenciais de Ação

 O potencial de ação somente ocorre após atingir um valor limiar de


potencial porque há a necessidade de recrutar um número mínimo de
canais para o fluxo iônico rápido.

 A redução da condutância dos íons que ocorre após o seu aumento ocorre
devido à inativação por voltagem dos canais iônicos (por meio das
comportas de inativação). Após a inativação, os canais devem ser
submetidos à repolarização de repouso para serem aberto de novo.

 Durante a maior parte do potencial de ação, a célula é refratária à geração


de novos potenciais. Assim, ela é incapaz de disparar um segundo
potencial de ação, independente da intensidade do estímulo aplicado.
Este estado é denominado período refratário absoluto.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 51


 Durante a parte final do potencial de ação, a célula é capaz de disparar
um novo potencial, mas um estímulo mais intenso é necessário. Neste
tempo, uma parte dos canais de Na+ ainda está inativo, portanto é
necessário um estímulo maior para abrir um número crítico de canais de
Na+ necessário para desenvolver o potencial de ação.

 Quando uma célula excitável é despolarizada lentamente, o limiar pode

ser ultrapassado sem que um potencial de ação seja desencadeado. Neste


processo, os canais de sódio que são abertos pela despolarização são
inativados antes que o número crítico de canais para ter o potencial seja
atingido. Além disso, ocorre abertura dos canais de K +, que tendem a
repolarizar a membrana, evitando a despolarização acentuada e rápida da
mesma.

Para co mplet ar o seu e studo:

AIRES, M. de M. Fisiologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2008.

BERNE, R. M. et al . Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,


2004.

GANONG, W. F. Fisiologia médica. 22. ed. Rio de Janeiro:


McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2006.

HENEINE, I. F. Biofísica Básica. São Paulo: Editora Atheneu, 2000.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 52


Capítulo IV
Introdução à Radioatividade, Emissões Primárias, Emissões Secundárias, Transmutação
Radioativa, A Energia Nuclear e Suas Aplicações, Radiações X e Ultravioleta,
Radiobiologia e Radioproteção.

Sumário do ca pít ulo:

4.1- Introdução à Radioatividade


4.2- Emissões Primárias
4.3- Emissões Secundárias
4.4- Transmutação Radioativa
4.5- A Energia Nuclear e Suas Aplicações
4.6- Radiações X e Ultravioleta
4.7- Radiobiologia
4.8- Radioproteção

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 53


4.1- Introdução à Radioatividade

A radioatividade é o fenômeno baseado na emissão de partículas ou de energia


por um radioisótopo, também chamado de radionuclídeo, átomo com excesso de matéria
(partículas) ou de energia no núcleo. Assim, as radiações nucleares podem ser de duas
naturezas: partículas ou ondas eletromagnéticas. As partículas possuem massa e carga,
além de sua velocidade variar de acordo com sua energia. Já as ondas são desprovidas

de massa e de carga e sua velocidade é de 300.000 Km/s.


Como conseqüência desse fenômeno, que é espontâneo, tais elementos adquirem
um estado de maior estabilidade. Diversos elementos com tais características são
encontrados na natureza, como o Urânio235, cujo tempo de meia-vida é de 713 milhões
de anos, enquanto outros apresentam uma existência efêmera, a exemplo do Polônio 212
(meia-vida de 3x10-7 segundos). Já outros são obtidos artificialmente em reatores
nucleares e aceleradores de partículas.

A população mundial está constantemente exposta à radiação, tanto oriunda (1)


dos raios cósmicos; (2) do solo, que varia de acordo com as características geográficas
de cada região, como o exemplo de Guarapari-Es, onde as areias monazíticas elevam a
radiação ambiental; e (3) radiação de srcem interna, devido ao acúmulo de
radionuclídeos em tecidos e órgãos adquiridos através de alimentos, água e inalação. A
radiação emitida por um radioisótopo pode ser classificada em primária ou secundária,
da seguinte maneira:

4.2- E missões Primárias

 Partículas Alfa
Assemelham-se ao núcleo do átomo de hélio e,
dessa forma, possuem dois prótons e dois nêutrons, o

que lhe confere a carga 2+ (figura 1). A interação


dessa partícula com o ser humano é limitada pelo
poder mínimo que tem de penetração, ou seja, ao
incidir sobre a matéria, qualquer que seja ela, essa
partícula tem sua trajetória desviada por espessuras
tão finas quanto as de uma folha de papel (figura 6).
Figura 1- Emissões primárias

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 54


Durante sua propagação, as partículas alfa (α) podem interagir com a matéria, trocando
energia. Há atração eletrostática, associada a uma elevada energia cinética, entre as
partículas α e elétrons, estes presentes nos orbitais de átomos que encontra em sua
trajetória, podendo promover a retirada dos elétrons e, assim, as partículas alfa são
capazes de ionizar a matéria com a qual interagem.
Sendo X e W elementos químicos genéricos, a equação geral que gera uma
partícula α, também conceituada como equação de decaimento α (porque há diminuição

de 4 unidades de massa e de 2 no número atômico) é a seguinte:

2- 2+
→ +

 Partículas Beta
A emissão de partículas beta
decorre do excesso de nêutrons em
relação a prótons ou do excesso de
prótons em relação a nêutrons no núcleo.
Na primeira situação, há a conversão de

um nêutron em um próton e a liberação Figura 3- Exemplo de emissão de partícula beta


de uma partícula negativa, partícula beta
Figura 2- Exemplo de emissão beta negativa.
negativa (β-) ou elétron, como pode ser
visto na figura 2. Em contrapartida, no segundo caso, há a transformação de um próton
em um nêutron e a liberação de uma partícula beta positiva (β+), pósitron ou anti-
elétron. As partículas beta apresentam maior poder de penetração (podem atravessar
vários centímetros de camadas de ar e folha de papel) em relação às partículas alfa.
Podem interagir com a matéria de maneiras distintas. Assim, partículas β-, ao passarem
nas proximidades de orbitais atômicos, causam ionização por repulsão eletrostática,
porém são menos ionizantes do que partículas alfa. A partícula β+, por sua vez, pode se
chocar com um elétron, o que promove a conversão da matéria em radiação gama,
fenômeno conhecido comoaniquilação .
Sendo X e W elementos químicos genéricos, as equações gerais do decaimento
de partículas β são as seguintes:

Equação geral do decaimento β-:


1+
→ + β-
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 55
Equação geral do decaimento β+:
1-
→ + β+

 Radiação Gama
É emitida geralmente após a emissão de partículas alfa ou
beta, quando há ainda excesso de energia no núcleo. É constituída
por ondas eletromagnéticas, sendo altamente penetrante (para ser
barrada, é preciso uma parede de chumbo com muitos centímetros de
espessura, como mostrado na figura 6). Da sua interação com a
matéria, resultam o efeito fotoelétrico e o efeito Compton e também a
formação de par iônico. Sabe-se que a radiação gama é a menos
Figura 3- Emissão de
ionizante das emissões radioativas. radiação gama.
O efeito fotoelétrico resulta da absorção de um fóton
(quantidade de energia a ser absorvida para que ocorra ionização) por um elétron
orbital, o que causa ionização.
Já o efeito Compton ocorre quando a energia da radiação gama é maior do que a

necessária para provocar a ejeção de apenas um elétron. Dessa forma, o excesso de


energia é absorvido por outros elétrons, que abandonam o domínio orbital (figura 4). O
fóton incidente pode ser desviado de sua trajetória por um elétron situado em uma órbita
mais externa de um dos átomos do meio no qual ele incidiu. A transferência de energia
do fóton para o elétron é parcial, assim o fóton continua transferindo sua energia para
outros elétrons. Os elétrons ejetados passam a ionizar a matéria.

Figura 4- Efeito Compton.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 56


Ao passar próximo a um núcleo atômico, a radiação gama (semelhante ao raio-X), pode
interagir com ele, sendo convertida em um par eletrônico, β+ e β-, fenômeno contrário
ao da aniquilação, representado na figura 5. Para que a produção de um par ocorra é
necessário que o fóton tenha energia maior ou igual a 1.022 keV (quiloelétrons-volt), a
saber: a energia de repouso do elétron é igual a 511 keV. As partículas são criadas
simultaneamente em sentidos opostos. O elétron criado pode continuar ionizando o
meio, já o pósitron se recombina com um elétron livre do meio, emitindo dois fótons e
estes tem a capacidade de continuar ionizando o meio. A criação de pares ocorre para
altas energias e elementos de Z elevado.

Figura 5- Formação do par Elétron-pósitron. Figura 6- Poder de penetração das radiações


alfa, beta e gama.
A figura 6 acima compara o poder de penetração das radiações produzidas por emissão
primária α, β, e γ em rela
ção a uma folha de papel, uma mão de um ser humano, uma
viga de aço e uma parede de chumbo com muitos centímetros de espessura.

4.3- E missões Secundárias

Em determinadas situações, o núcleo atômico captura um elétron orbital,


geralmente do nível K e, com menos freqüência, dos níveis L e M, o que resulta em
emissão de radiação gama pelo núcleo devido ao excesso de energia do elétron. Pode
ocorrer rearranjo orbital, ou seja, elétron de orbital mais externo ocupar a vacância do
nível K e, como conseqüência, haver emissão de raio-X. O elemento que sofrer esse
processo se transforma em outro com número atômico uma unidade menor.
Quando o núcleo atômico encontra-se com excesso de energia, pode haver o
rearranjo de suas partículas e a emissão de radiação gama como conseqüência, fato
conhecido como transição isomérica . Nesse processo, a radiação gama emitida pode ser
absorvida por elétrons orbitais, que são ejetados do domínio orbital. O preenchimento

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 57


dessas vacâncias por elétrons vindos de níveis mais externos promove, por sua vez, a
liberação de raio-X orbital.
As radiações que apresentam menor energia são capazes de ejetar apenas
elétrons de camadas mais externas, de modo que, quando essa vacância é ocupada por
um elétron mais externo, ocorre a liberação de raios ultravioleta (UV) ou luz visível.

4.4- Transmutação Radioativa

Como consequência da emissão de partículas alfa e beta, ocorre a alteração do


número atômico, fenômeno conhecido como transmutação radioativa, desintegração
radioativa ou decaimento radioativo. Assim, um átomo-pai dá srcem a um átomo-
filho, tendo este maior grau de estabilidade.
Considerando-se uma amostra de isótopos instáveis, sabe-se que no tempo 0 (t =
0), haverá N0 átomos. Em razão da instabilidade energética, átomos dessa amostra
sofrerão transmutação radioativa com o passar do tempo. Assim, após um intervalo de
tempo t, a quantidade de átomos do elemento srcinal na amostra será N = N 0 · e-λ · t ,
sendo λ a constante de decaimento radioativo.
A constante de decaimento radioativo (λ) refere-se ao percentual de átomos que
se desintegram por unidade de tempo. A unidade do Sistema Internacional (SI) para a
constante de decaimento é s -1 (segundos -1), mas pode também ser representada por
minutos -1 , dias -1 e tc.

 Atividade Radioativa (A)


É definida como o número de emissões radioativas por uma amostra radioativa
ou a quantidade de átomos que sofrem transmutação, por unidade de tempo.
Pode ser calculada das seguintes maneiras:

(1) A= λ.N
ou
(2) A = A0 · e –λ · t

Sendo:
A = atividade da amostra no tempot
A0 = atividade da amostra no tempo 0 (t=0)
λ = constante de decaimento radioativo

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 58


N = número de átomos no tempo t
As unidades para a atividade radioativa são:
I- Becquerel: número de desintegrações por segundo (dps). É a unidade do
Sistema Internacional (SI).
1Bq = 1dps
II- Curie: número de desintegrações a partir de 1 g de rádio 226 ( 226Ra)
Em 1 Ci = 3,7 x 1010 dps ou 2,2 x 1012 dpm (desintegrações por minuto)

Frequentemente, são usados submúltiplos da unidade Ci, a saber:


1 mCi (miliCurie) = 3,7 x 107 dps
1µCi (microCurie) = 3,7 x 104 dps

–λ · t
É importante ressaltar que, ao se utilizar a equação A = A
0· e , A e A0
deverão possuir a mesma unidade, que seja compatível com as unidade do tempo e da
constante de decaimento. Por exemplo, se A e A 0 são expressos em desintegrações por
segundo, o tempo (t) deverá ser convertido para segundos, bem como a constante de
-1
decaimento (λ) deverá estar explicitada em segundo .
Meia-Vida ( t½) fí sica de um Ele mento Radioativo

Pode ser definido como o tempo necessário para que metade dos átomos de uma
amostra radioativa sofra decaimento, o que pode ser explicitado na eq uação:

Relação entre meia-vida e constante de decai mento

Na equação N= N 0 . e -γ · t, quando , tem-se: N = N0/2. Logo, N 0/2 = N 0 . e -γ · t.


Aplicando-se o logaritmo ln à equação, tem-se:

ln N = ln (N0 . e-λ. t½)

ln = ln (N0. e-λ. t½)

ln N0 – ln 2 = ln N0 + ln (e-λ. t½)

- ln 2 = ln (e-λ. t½)

- ln 2 = -λ. t½ . ln e

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 59


- ln 2 = -λ. t½ . 1

ln 2 = λ. t½

=λ ou λ=

14
 Aplicação prática do decaimento radioativo: datação com C (carbono 14)
Nas camadas mais altas da atmosfera,
átomos de nitrogênio absorvem nêutrons
provenientes dos raios cósmicos e, desse
14
processo, resultam átomos de C, um
radioisótopo. Estes se combinam, então, com
oxigênio, o que srcina dióxido de carbono
(CO2), que é, por sua vez, absorvido pelos
vegetais. Dessa forma, ao ingerirem vegetais, os
animais incorporam 14C ao longo da vida. Após

a morte, esse processo cessa e ocorre o Figura 7 - Decaimento de uma amostra de


10g de carbono-14.
decaimento do radioisótopo sem que haja, no
entanto, sua reposição (figura 7). Ao se saber que a meia-vida do14C é de 5600 anos, o
estudo da proporção 14C/12C, que é fixa para seres vivos, permite a datação de fósseis,
uma vez que nestes a proporção cai exponencialmente com o decorrer do tempo.

4.5- A E nergia Nuclear e Suas Aplicações


O fato de radioisótopos emitirem radiação torna a energia nuclear de grande
utilidade para áreas como a medicina, a indústria e a agricultura. O emprego dessa
energia baseia-se na propriedade de que a radiação pode ser absorvida ou simplesmente

atravessar a matéria.
O deslocamento de um radioisótopo por um sistema biológico pode ser
monitorado por meio da radiação emitida que, ao atravessar a matéria, é captada por
detectores de radiação. Nesta situação o radioisótopo age como traçador ou marcador
radioativo. Um exemplo é a utilização do radioisótopo Fe59 para estudos hematológicos,
o que permite a avaliação de anemias ferroprivas, em que o isótopo é rapidamente

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 60


retirado da circulação, ou anemias em que há baixa eritropoiese, ficando o metal na
circulação por várias horas.
Outros empregos de marcadores são: a utilização de glicose contendo 14
C para
verificação do metabolismo celular, ou CO2 também contendo C14 para verificar
processo de fotossíntese em plantas; a datação de substratos orgânicos pela relação C 14/
C12; a verificação de transmissão nervosa em neurônios e comportamento do sódio em
sistemas biológicos utilizando Na24; a radioimunofluorescência, dentre inúmeras outras.

Na agricultura, a energia nuclear é utilizada, dentre outras formas, mediante a


irradiação de produtos agrícolas com raios gama, raios X e feixes de elétrons. Esse
procedimento leva à formação de íons que interrompem reações biológicas (como
mudanças conformacionais em enzimas) responsáveis pelo apodrecimento dos
alimentos, e destrói microorganismos, o que permite armazená-los sem que ocorra
deterioração ou brotamento do alimento.
Na indústria, a esterilização de materiais médicos-cirúrgicos como luvas
cirúrgicas, seringas e gazes utilizando-se radiação é uma alternativa útil ao emprego de
métodos convencionais que, por necessitarem de altas temperaturas, danificariam tais
materiais.
Na medicina, radioisótopos administrados a pacientes tendem a se concentrar em
órgãos pelos quais exibem maior afinidade. A intensidade da radiação emitida nesses
órgãos tem relação com a intensidade de absorção do elemento pelos órgãos, o que pode
ser um parâmetro útil para a avaliação de sua função.
131
Como exemplo, pode-se citar a utilização de doses pequenas de I (iodo 131),
radioisótopo absorvido, concentrado e metabolizado pela glândula tireóide. Ao detector
de radiação é acoplado um sistema que permite o mapeamento da glândula e a
identificação de áreas hipoativas, normoativas ou hiperativas, técnica conhecida como
cintilografia. Áreas que exibem maior cintilância são consideradas normais ou
hiperfuncionantes (hipertireoidismo). Em contrapartida, áreas com menor cintilância,
por serem geralmente neoplásicas, possuem células muito jovens e deficientes na
captação do 131I.
Doses maiores do radioisótopos podem ser utilizadas na destruição de células
malignas, técnica chamada de radioterapia. Nesse caso, pode ser utilizada tanto a
irradiação do tecido neoplásico, por meio de aparelhos que geram feixes radioativos
(teleterapia), como a implantação de um radiocomposto no tecido alterado
(braquiterapia). Obviamente, na radioterapia, devem ser avaliadas as características do

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 61


tumor a ser tratado, como maior absorção do radioisótopo, taxa de divisão celular, além
de sua sensibilidade e dos tecidos vizinhos à radiação. Outro ponto a ser observado é
que a braquiterapia torna o i ndivíduo uma fonte emissora de radiação.
Tendo-se em vista a administração e a interação de radioisótopos com sistemas
biológicos, há que se levar em conta que sua meia-vida em tais sistemas (meia-vida
biológica) diferirá da meia-vida fora deles (meia-vida física). Por exemplo,
radioisótopos que se acumulam em ossos, geralmente possuem meia-vida biológica

longa.
Ao se trabalhar com a meia-vida biológica, deve-se considerar a meia-vida
efetiva, de acordo com a equação:

=
Sendo:

= meia-vida efetiva

= meia-vida biológica
Pode-se concluir que quanto maior for a meia-vida biológica de um

radioisótopo, maior será sua permanência no organismo, assim como a possibilidade de


danos a este.

É importante ressaltar a diferença entre irradiação e contaminação por material

radioativo. A irradiação pressupõe a exposição de objetos ou corpos a uma fonte


radioativa. No entanto, caso haja a presença de material radioativo na matéria, diz-se

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 62


que esta se encontra contaminada (figura 8). Radioisótopos podem contaminar a pele ou
penetrar o organismo por inalação, ingestão ou por meio de lesões na pele. Indivíduos
contaminados emitem radiação e podem contaminar outras pessoas e o meio ambiente.

Os efeitos biológicos de contaminação incluem: efeitos agudos , que


caracterizam a síndrome aguda da radiação, mostrados na tabela 1. Carcinogênese,
envelhecimento precoce, cataratas, depressão do sistema imunológico, e malformações

estão entre os principais efeitos tardios da radiação.

Tabela 1 – Efeitos de uma radioexposição aguda em adulto.


Forma Dose absorvida Sintomatologia
Infra-clínica Inferior a 1 Gy Ausência de sintomatologia na maioria dos
indivíduos.

Figura 8 – Contaminação à esquerda e irradiação à direita.

Reações gerais 1-2 Gy Astenia, náuseas, vômitos (3 a 6 hs. Após a


leves exposição; sedação em 24 hs.)
Hematopoiética 2-4 Gy Função medular atingida: linfopenia,
leve leucopenia trombopenia, anemia; recuperação
em 6 meses.
Hematopoiética 4-6 Gy Função medular gravemente atingida.
grave
DL50 4-4,5 Gy Morte de 50% dos indivíduos irradiados
Gastro-intestinal 6-7 Gy Diarréia, vômitos, hemorragias, morte 5 ou 6
dias.
Pulmonar 8-9 Gy Insuficiência respiratória aguda, coma e
morte entre 14 e 36 h.

Cerebral superior a 10 Gy Morte em poucas horas por colapso.


Gy: Gray (unidade da dose de radiação absorvida)
Alguns fatores devem ser considerados no uso de radioisótopos na medicina
nuclear:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 63


Um desses fatores é o efeito de massa, o qual pressupõe que reações químicas se
processam em velocidades dependentes das massas dos reagentes. Por exemplo, para os
isótopos H1, H2 e H3, a velocidade das reações é maior para o isótopo menos pesado.
Outros fatores a serem levados em conta são a meia-vida física e a meia-vida
biológica, como já visto. Sua importância reside na determinação da quantidade de
radioisótopo a ser utilizado.
Finalmente, o tipo de radiação e a quantidade de energia associada é de

fundamental importância; por exemplo, radiação α tem alto poder ionizante, tendo, pois,
seu uso restrito.

4.6- Radiações X e Ultravioleta


As radiações gama, radiações X e ultravioleta fazem parte do espectro das
radiações eletromagnéticas. Enquanto as duas primeiras possuem alta energia e são

Figura 9 – Ampola de produção de raio-X.


ionizantes, o efeito da última é o de excitação.
Os raios-X podem ter duas srcens: Raios-X orbital (veja em Emissões
Secundárias) e raios-X de frenagem. Estes podem ser produzidos em ampolas com
vácuo. Um filamento metálico aquecido (cátodo) desprende muitos elétrons. A
aplicação de uma diferença de potencial elevada entre cátodo (eletrodo negativo) e
ânodo (eletrodo positivo) promove a aceleração dos elétrons em direção ao ânodo. A
colisão dos elétrons contra um anteparo posicionado neste eletrodo promove a emissão
de raios-X. A figura 9 ilustra o processo de formação de raios-X de frenagem. Sabe-se
que quanto maior a diferença de potencial entre cátodo e ânodo, maior será a energia do
raio-X. Além disso, quanto mais aquecido o cátodo mais elétrons se desprenderão, o
que conferirá maior energia ao raio-X emitido.

De acordo com o conteúdo energético, os raios-X podem ser classificados como


duros (altamente energéticos) ou moles (pouco energéticos). O emprego de raios-X em
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 64
radiografias baseia-se no fato de que diferentes estruturas orgânicas absorvem raios-X
de maneiras distintas. Assim, estruturas mais densas, como ossos, podem ser
atravessadas apenas por raios-X duros, enquanto raios-X moles atravessam tecidos
pouco densos como músculos, vísceras e tecido adiposo. Como conseqüência desse
fato, estruturas densas aparecem como uma sombra em imagens radiográficas, por
absorverem mais radiação (menor transparência aos raios-X) e aparecem mais claras em
chapas negativas, como esquematizado na figura 10. Ao passo que pulmões, quando

repletos de ar, e músculos, por exemplo, aparecem como uma imagem escura por

Figura 10 – Utilização de raios-X para realização de radiografia.

exibirem maior transparência aos raios-X e são as estruturas mais escuras em chapas
negativas.
Na formação de radioimagens, um fenômeno conhecido como efeito Compton
(reveja também em Radiação Gama) pode interferir de forma negativa. Tal fenômeno
ocorre naqueles casos em que a energia da radiação, como a do raio-X, é superior
àquela necessária para ejetar um elétron das camadas mais externas, sendo o excesso de
energia desviado na forma de um fóton de menor energia. Esse efeito é prejudicial à
formação de radioimagens, visto que esse desvio de energia acaba expondo diferentes
áreas dos tecidos a diferentes quantidades de energia, tornando sobrepostas as interfaces
entre diferentes tecidos, além de aumentar a exposição do profissional responsável pela
realização de exames como na radioscopia.
A luz ultravioleta (UV), por sua vez, é produzida da seguinte maneira: ao se
utilizar calor, radiação gama, radiação X ou eletricidade, elétrons podem absorver essa
energia e saltar para níveis mais externos. Ao retornarem para seus níveis de srcem, o
excesso de energia é liberado mediante a emissão de luz UV; esta, ao ser absorvida por
átomos, torna-os excitados. Substâncias expostas a UV são mais reativas, o que aumenta

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 65


de forma geral a taxa de reações bioquímicas. Além disso, podem participar de novas
vias bioquímicas, fato que pode ser prejudicial ao organismo.
Vale ressaltar que o sol é uma grande fonte de radiações ultravioleta (raios
UVA, UVB e UVC), sendo os dois primeiros os grandes responsáveis pela alta taxa
mundial de casos de câncer de pele.
A radiação UV tem sido amplamente empregada em diversas situações. Por
exemplo, ela é utilizada para se acelerarem diversas reações químicas em laboratórios

(aceleração de reações fotossensíveis); no diagnóstico de lesões dermatológicas, por


meio da lâmpada de Wood (os raios UV produzidos permitem visualizar e caracterizar
lesões que não são vistas a olho nu) ; na indústria de plásticos (aceleração da reação de
polimerização). A luz UV também é muito utilizada na esterilização do ar em salas de
cirurgias.

4.7- Radiobiolog ia
A radiobiologia estuda os efeitos diretos e indiretos de emissões radioativas
sobre seres vivos. Os efeitos diretos decorrem do choque das emissões com
biomoléculas, com consequente quebra de ligações, formação de radicais reativos e
inativação de enzimas, por exemplo. Os efeitos indiretos são devidos à absorção das
emissões por moléculas de água, as quais liberam radicais. Estes, por serem altamente
reativos, logo interagem com biomoléculas, lesando-as e alterando sua participação no
metabolismo cel ular.
Diferentes tecidos apresentam sensibilidades distintas aos efeitos das radiações.
Os fatores associados à susceptibilidade dos tecidos aos efeitos nocivos das radiações
são, em ordem decrescente de importância: maior teor de água, maior quantidade de
DNA, maior taxa de replicação celular e menor grau de diferenciação das células.
Assim, pode-se concluir que os tecidos neoplásicos são um dos mais sensíveis aos
efeitos da radiação, já que apresentam um alto grau de divisão celular e a maioria de
suas células são pouco diferenciadas.

4.8- Radioproteção
Tendo-se em vista a ampla utilização das radiações em diagnósticos e
tratamentos médicos, alguns importantes parâmetros devem ser obedecidos, a fim de
minimizar possíveis danos biológicos quando há exposição às radiações.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 66


Assim, a distância do organismo à fonte radioativa deverá ser a maior possível,
ao contrário do tempo de exposição, que deverá ser o mínimo possível, já que os efeitos
nocivos são cumulativos. Além disso, a blindagem (uso de barreiras absortivas entre a
fonte radioativa e o organismo vivo) mostra-se de muita importância na proteção contra
radiações alfa e beta; para a proteção contra radiações gama e raios X, a blindagem
ocorrerá apenas se a espessura da barreira absorvente for compatível com a energia da
radiação.

Figura 11 – Símbolo da presença de radiação acima dos valores encontrados no meio ambiente.

Para co mplet ar o seu e studo:

HENEINE, I. F. Biofísica Básica. São Paulo: Atheneu, 2006.

GARCIA, E. A. C. Biofísica. São Paulo: Sarvier, 2002.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Comissão Nacional de Energia Nuclear.


Apostila Educativa: Aplicações da Energia Nuclear. Rio de Janeiro. 18 p.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Comissão Nacional de Energia Nuclear.


Apostila Educativa: Radiações Ionizantes e a Vida. Rio de Janeiro. 42 p.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Comissão Nacional de Energia Nuclear.


Apostila Educativa: Radioatividade. Rio de Janeiro. 19 p.

Alimentos irradiados. Disponível em:


http://www.fcf.usp.br/Ensino/Graduacao/Disciplinas/LinkAula/MyFiles/alimentos_irrad
iados.htm. Acesso em: 26 de janeiro de 2010.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 67


Química Nuclear na Medicina. Disponível em:
http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/nuclear/medicina.html. Acesso em: 26 de
janeiro de 2010.

KASSIS, A. I.; ADELSTEIN, S. J. Radiobiologic Principles in Radionuclide


Therapy. The Journal of Nuclear Medicine, 2005, 46: 4S-12S.

KASSIS, A. I.; Therapeutic Radionuclides: Biophysical and Radiobiologic


Principles. Semin Nucl Med. 2008 ; 38(5): 358–366.

SHARMA, N.; NEUMANN, D.; Roger MACKLINS,R.; The impact of functional


imaging on radiation medicine,Radiation Oncology, 2008, 3:25.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 68


Capítulo V - Exercícios Aplicados e Re spostas Comentadas

1 Uma criança chega ao posto de saúde com desidratação. A mãe da criança afirma que
apesar de ter dado soro caseiro, a desidratação piorou. Quando questionada sobre o
modo que preparou o soro, percebeu-se que ela usou uma colher de café de açúcar para
duas colheres de sal. Qual foi o erro no preparo?

R: A quantidade de sal utilizada no preparo foi muito superior ao desejado, assim, a


solução preparada, que deveria ser isotônica às células, estava hipertônica. Quando em
contato com as células, essa solução provocou osmose (movimento de solvente/água)
do meio intracelular para o meio extracelular, agravando ainda mais o estado de
desidratação da criança. Contudo, vale ressaltar que o preparo caseiro de soro deve ser
evitado pelos riscos de erro de concentração. Assim, deve-se procurar os postos de
saúde, onde envelopes de soro são distribuídos gratuitamente. Colheres-padrão também
podem ser adquiridas, para o preparo em casa. Medidas: 40 g de açúcar comum (dos
quais 20 g são de glicose) + 3,5 g de sal + 1 L de água filtrada e/ou fervida.

2 Uma suspensão de antibiótico, para uso oral, tem concentração de 500 mg/10 mL. A
dose para crianças é de 30 mg/10 kg de massa corpórea. a) Quantos mL devem ser
administrados a uma criança de 20 kg? b) Se a dose é administrada a cada 6 horas, qual
o total administrado após uma semana?
R: Devem ser administradas 1,2 mL de antibiótico por dose e 1680 mg deste
medicamento por semana à criança. Resolução:

30 mg de antibiótico / 10kg de massa → 60 mg antibiótico / 20 kg de massa corporal


500 mg --- 10 mL 1 dose de 6 em 6h = 4 doses/dia x 7 dias = 28 doses
60 mg --- x 28 doses de 60mg = 1680 mg
x= 1,2 mL

3 O ácido fosfórico e seus derivados têm aplicação na formação de soluções tampão. As


equações abaixo mostram as estruturas dos compostos correspondentes às três
dissociações do ácido fosfórico, com as respectivas constantes de dissociação e valor de
pK. Lembre-se que o valor de pK indica valor de pH, quando existem 50% de reagentes
e 50% de produtos.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 69


pK1= 2,15

pK2= 6,82

pK3= 12,38

a) Qual dos pares tamponantes acima (A e B, B e C ou C e D) seria o mais eficiente na


manutenção do pH fisiológico (7,4)?
b) Sobre o par tamponante escolhido no item anterior, qual dos compostos estaria em
maior quantidade no pH fisiológico?
c) Considerando que diariamente o metabolismo produz uma série de ácidos, ter esse
composto em maior quantidade é vantajoso ao organismo? Justifique sua resposta.
d) A composição de uma solução tampão é 0,12 mol/L de K2HPO4 mais 0,08 mol/L de
KH2PO4. Utilizando a equação de Henderson-Hasselbach e considerando os valores
de constante de dissociação e pKa fornecidos acima, calcule o pH desta solução.
R:
a) O par B e C (H2PO4 / HPO 4) constituem o tampão mais eficiente, pois, dentre os
três pares, este é o tampão cujo pKa (6,8) está mais próximo do pH fisiológico (7,4).

b) O componente C (HPO4) estaria em maior quantidade. Veja cálculo:


pH-pKa 7,4-6,82
A/D = 10 → HPO4/ H2PO 4 = 10 HPO4/ H2PO 4 = 3,80
HPO4 = 3,80.H2PO4 HPO4 + H2PO4 = 100% 3,80.H2PO4 + H2PO4 = 100%
4,80.H2PO4 = 100% H2PO4 = 20,8% HPO4 = 79,2%

c) Sim. O componente que está em maior quantidade é o HPO4, que é o aceptor de


prótons do tampão fosfato, ou seja, há mais justamente do composto que é o
responsável pelo tamponamento dos ácidos (aceptor).

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 70


pH > pKa → A > D, melhor tamponamento de ácidos (HPO4 + H+ → H2PO4)
pH < pKa → A < D, melhor tamponam. de bases (H2PO4 + OH- → H2O + HPO4)
pH = 7,4 e pKa = 6,82 → HPO 4 > H2PO4

d) Resposta: pH = 7,0.

pH= pK + log pH= 6,82 + log pH= 7,0

4 Uma enzima chamada anidrase carbônica regula a acidez do sangue através da


reação:
H O + CO H CO HCO ¯ + H
Anidrase carbônica

Os alpinistas, quando sobem elevadas altitudes, podem experimentar os efeitos do


chamado “mal das montanhas”. Os sintomas deste mal incluem: dores de cabeça,
vômitos e dispneia, podendo evoluir para quadros mais graves, como edemas pulmonar
e cerebral. A fim de evitar esses problemas, os alpinistas se previnem tomando
acetazolamida, um inibidor da anidrase carbônica presente nos túbulos convolutos
proximais dos néfrons. Veja esquema do seu mecanismo de ação:

a) Como a alteração da respiração influencia o pH do sangue?


b) Como a respiração dos alpinistas é alterada em função da altitude alcançada?
c) Quais as alterações fisiológicas promovidas por esse medicamento?
d) Justifique a escolha deste medicamento pelos alpinistas.
R:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 71


a) Na frequência respiratória normal, há um equilíbrio dinâmico entre o dióxido de
carbono e o bicarbonato, de modo que o pH é mantido próximo de 7,4. Quando a
frequência respiratória aumenta: a eliminação de CO 2 é maior e o nível sanguíneo de
ácido carbônico é reduzido, havendo menor quantidade de íons hidrogênio livres; o
sangue é então alcalinizado (alcalose respiratória). Já na hipoventilação, há menor
eliminação de CO2, deslocando a reação para direita, o que acidifica o sangue.

Hipoventilação = ↑PCO2 ↑[H+] ↓pH (H2O + ↑CO2 → ↑H2CO3 → ↑H+ + HCO3-)


Hiperventilação = ↓PCO2 ↓[H+] ↑pH (H2O + ↓CO2 ← ↓H2CO3 ← ↓H+ + HCO3-)
b) Quanto maior a altitude escalada, menor é a PO2 atmosférico, o que leva à
hiperventilação, como mecanismo compensatório.

c) A inibição da anidrase carbônica induzirá uma acidose metabólica, por reduzir a


reabsorção de bicarbonato, e aumentará a diurese (volume de urina produzido), por
reduzir a reabsorção de cloreto de sódio e, consequentemente, de água. Veja o
esquema do mecanismo de ação.

d) Como visto no item b, o alpinista aumentará a frequência respiratória na tentativa de


compensar a menor PO2 atmosférica. Contudo, a hiperventilação resultará em
alcalose respiratória. Desse modo, a administração preventiva de acetazolamida se
justifica pelo fato de que ela irá induzir uma acidose metabólica, compensando os
efeitos da escalada que são gerados pela alcalose.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 72


5 Os medicamentos designados por A, B C e D são indicados para o tratamento de
uma paciente. Adicionando-se água a cada um desses medicamentos obtiveram-se
soluções que apresentam as seguintes propriedades:
Solúveis no sangue A, B, C
Iônicas A, B
Moleculares C, D
Pressão osmótica igual à do sangue A, C

Pressão osmótica maior que a do sangue B, D

Assinale a alternativa que só contém os medicamentos que poderiam ser injetados na


corrente sanguínea, via acesso periférico, sem causar prejuízos aos tecidos.
a) A, B, C e D
b) A, B e D
c) B, C e D
d) B e D
e) A e C

R: Resposta letra e. O sangue é composto essencialmente por água (≈ 90%), de modo


que medicamentos administrados por via intravenosa devem ser solúveis neste meio (A,
B e C). Contudo, se a solução medicamentosa for hipertônica, recomenda-se a
administração por via central, pois a administração por via periférica pode provocar
uma irritação venosa e a desidratação dos tecidos adjacentes. Já uma solução hipotônica,
reduziria a pressão osmótica do plasma, levando ao edema, pelo excesso de filtração do
líquido vascular para o interstício. Assim, como a tonicidade é dada pela pressão
osmótica da solução, e considerando o acesso (periférico), devem ser escolhidos os
medicamentos solúveis no sangue e que têm pressão osmótica igual ao mesmo: A e C.

tecido Edema! tecido Desidratação!


H2O H2O

vaso hipotônico vaso hipertônico

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 73


6 Uma empresa de cosméticos, na tentativa de desenvolver uma linha de hidratantes
para os pés, convocou um farmacêutico com ênfase em cosméticos para o
desenvolvimento do produto. Dentre as substâncias abaixo, qual deve ter sido a
opção do farmacêutico para que o produto tenha a maior eficácia em seu objetivo de
hidratar?
Coeficiente de
Substância
reflexão

A 1,0
B 0,4
C 0,85

R: Substância B. O coeficiente de reflexão (0 ≤ σ ≤ 1) nos indica o quão permeável (σ


mais próximo de zero) ou impermeável (σ mais próximo de 1) uma substância é em
relação à célula. Já o efeito hidratante é dado pela entrada de água nas células, o que é
promovido quando a solução é hipotônica. Há, então, duas opções: usar um soluto
impermeante em baixíssima concentração; ou usar soluto permeante, o qual levará
obrigatoriamente à hipotonicidade. Assim, o melhor efeito hidratante será obtido com o

da substância mais permeante, ou seja, a de menor coeficiente de reflexão.


(Pressão Osmótica: π = R . T . Osm . σ)

7 O soro fisiológico é uma solução que contém 0,9% (p/v) de NaCl em água destilada,
sendo isotônica em relação aos líquidos corporais. Essa solução é utilizada para
reposição se íons sódio e cloreto, limpeza de ferimentos, higienização nasal, entre
outros procedimentos.

a) Um farmacêutico precisa preparar 400 mL de uma solução de soro fisiológico a


partir de uma solução de NaCl 30% (p/v). Qual volume da solução inicial ele deve
usar?

b) Caso esse farmacêutico resolvesse usar NaCl sólido 100% (p/p), qual a massa que
ele deveria usar para preparar 1 L de solução de soro fisiológico?

R: Resolução:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 74


a) C₁ V₁= C₂ V₂
30 x V₁ = 0,9 x 400

V₁ = 12mL
b) 0,9 g NaCl ----- 100 mL solução
x ------------- 1000 mL
x = 9 g de NaCl

8 Um farmacêutico preparou uma solução de glicose 10% (p/v) que será


comercializada em bolsas de 250 mL.

a) Qual a massa de glicose presente na solução contida em uma bolsa?


b) Quantas bolsas de 100 mL a 5% (p/v) esse farmacêutico conseguirá preparar
utilizando a massa encontrada no item a?

R:
a) 10 g glicose ---- 100 mL solução

x ------------ 250 mL
x = 25 g glicose

b) 5 g glicose ----- 100 mL solução


25g glicose ----- y
y = 500 mL solução
ou 5 bolsas de 100 mL

9 Um farmacêutico precisa preparar uma solução de glicose para uso medicamentoso


por injeção intravenosa. Qual a massa de glicose necessária para preparar 1 mL de
uma solução isotônica à célula sanguínea (0,3 Osm)? ( MM Glicose = 180g/mol).
R: Glicose: 0,3 Osm = 0,3 mol/L
1 mol glicose ------ 180g 1 mL = 0,001L
0,3 mol glicose ---- x 54g x 0,001 = 0,054 g/mL
x = 54 g/L Resposta: 0,054 g

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 75


10 Um farmacêutico que realiza controle de qualidade resolveu verificar se a massa de
ácido acetilsalicílico indicado no rótulo da aspirina estava correta. Após realizar
uma titulação, com uma solução padronizada de NaOH, ele obteve os seguintes
dados:
Volume titulado 1: 5,56 mL Sol. padronizada de NaOH = 0,5 mol/L
Volume titulado 2: 5,58 mL RÓTULO: M (aspirina) = 500 mg
Volume titulado 3: 5,54 mL MM (aspirina)= 180g/mol

A partir dos dados conclua: a massa da aspirina fornecida pelo rótulo está correta?

R: Sim, a massa titulada equivale à indicada no rótulo. Veja resolução:

Vmédio = (V1+ V2+ V₃) ÷ 3 → Vmédio = (5,56 + 5,58 + 5,54) ÷ 3 → Vmédio = 5,56 mL

0,5mol NaOH ---- 1000mL


x---------- 5,54mL
x = 2,78 x 10-³ mol

Considerando-se a proporção de 1:1 da reação (NaOH + HA → H ₂O + Na⁺ + A-), o


número de mols de NaOH será igual ao número de mol da aspirina. Assim...

1 mol aspirina ---- 180g


2,78 x 10-3 mol --- y
y = 0,5 g aspirina = 500 mg

11 Um paciente chega à farmácia se queixando de febre alta e apresenta uma receita


prescrevendo aspirina. Ao se deparar com duas apresentações do fármaco, o
paciente questiona o farmacêutico, o qual explica que uma das formas é a aspirina
comum e a outra é a aspirina tamponada. Sabendo que se trata de um ácido fraco
(pKa=3,5), o que se espera do tamponamento desse fármaco (aspirina + CaHCO 3)?

R: O transporte dos fármacos através da membrana é determinado por características


físico-químicas das moléculas e das membranas. Fármacos lipossolúveis, não ionizados,
ou na forma molecular, difundem mais efetivamente através da membrana (bicamada de
fosfolipídios), que aqueles que são hidrossolúveis, ionizados, ou na forma dissociada.
Para a aspirina comum, em sendo um ácido fraco de pKa = 3,5, portanto, maior que o

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 76


valor do pH estomacal (pH ≈ 1,0), tem-se que pH < pKa, logo, A < D, prevalecendo a
forma molecular da aspirina, de modo que sua absorção é favorecida neste órgão.
Contudo, para a aspirina tamponada, o agente (CaCO3) leva à formação de
bicarbonato (HCO3-), reduzindo a acidez estomacal. Isso se traduz em aumento do pH e,
por conseguinte, em maior dissociação do fármaco, reduzindo, portanto, sua absorção.
Por que, então, existe aspirina tamponada? Apesar de seus efeitos analgésico,
antipirético e anti-inflamatório, a absorção da aspirina causa o rompimento dos capilares

presentes na mucosa do estômago, produzindo desde pequenos sangramentos, até


hemorragias. Alguns fabricantes adicionam o tampão para que, ao passar pelo
estômago, a aspirina esteja o mínimo possível na sua forma molecular, para que seja
mínima a absorção neste local, reduzindo assim os efeitos adversos. A absorção fica,
então, por conta do intestino delgado. Veja o efeito do agente tamponante sobre a acidez
estomacal e sobre a absorção do fármaco:
CaCO3 ↔ Ca2+ + CO 32-
CO32- + H+ ↔ HCO 3- ↓[H+] ↑pH ↑A-/HA
HCO3- + H + ↔ H2O + CO2 ↓absorção ↓sangramentos

12 A produção de urina no corpo é regulada através da osmolaridade. Se há um excesso


de água no plasma sanguíneo, esse excesso passa para a urina de modo a diminuir a
osmolaridade da mesma (ficando menor que a do plasma). Certo medicamento é
ingerido e metabolizado, liberando um sal (NaCl) na corrente sanguínea, que deverá
ser parcialmente eliminado. Suponha que a concentração de NaCl no plasma após a
ingestão desse medicamento seja 1,0 mol/L e que essa pessoa esteja produzindo uma
urina que possui 0,1 mol de NaCl em 40 mL, devido à excreção desse sal. Nesse
caso, ocorrerá transporte de água para a urina? Justifique.
R: Sim. Devido à diferença de tonicidade entre a urina e o plasma (πurina > π plas ma), a
osmose ocorrerá do plasma para a urina, aumentando o volume desta.

Quanto ao plasma: NaCl = 2 Osm


[NaCl]plasma = 1 mol/L ou 1 M.....................2Osm............(NaCl ↔ Na + + Cl-)

Quanto à urina: NaCl = 5 Osm


0,1 mol NaCl ---- 40 mL x = 2,5 mol/L ou 2,5 M

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 77


x----------- 1000 mL Osm = 2 x M = 5,0

Pressão Osmótica: π = R . T . Osm


- do plasma: π = 2RT
- da urina: π = 5RT

13 Uma mulher entrou em uma farmácia alegando ter hipotensão, e propranolol foi o
medicamento prescrito pelo médico. Esse medicamento diminui a corrente de
influxo de Ca²⁺ e Na⁺ para as células do nodo sino atrial (marca-passo cardíaco). O
farmacêutico disse à mulher que seu médico estava errado e que, na verdade, ela
deveria fazer uso de outro medicamento, que aumente a concentração intracelular de
Ca²⁺. Com base nos seus conhecimentos sobre o transporte iônico, pergunta-se: qual
dos dois profissionais está correto? Justifique

R: Os potencias de ação das células musculares cardíacas dependem do influxo dos íons
sódio e cálcio, de modo que do medicamento irá agravar o quadro de hipotensão da
paciente. Assim, o farmacêutico estava correto.

Esquema de um PA em célula cardíaca, evidenciando a relação entre as fases e seus


respectivos fluxos:

14 Um paciente com edema (acúmulo anormal de líquido no espaço intersticial devido


ao desequilíbrio entre a pressão hidrostática e osmótica) foi à farmácia e perguntou
ao farmacêutico se o medicamento que lhe foi prescrito realmente seria eficiente em
seu tratamento. O medicamento é um diurético que atua nos túbulos renais. Qual foi
a resposta do farmacêutico quanto à eficiência do medicamento? Justifique com
base na ação do medicamento.
R: Sim. Devido à diferença de tonicidade entre a urina e o plasma (πurina > π plas ma), a
osmose ocorrerá do plasma para a urina, aumentando o volume desta.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 78


Quanto ao plasma: NaCl = 2 Osm
[NaCl]plasma = 1 mol/L ou 1 M.....................2Osm............(NaCl ↔ Na + + Cl-)

Quanto à urina: NaCl = 5 Osm


0,1 mol NaCl ---- 40 mL x = 2,5 mol/L ou 2,5 M
x----------- 1000 mL Osm = 2 x M = 5,0

Pressão Osmótica: π = R . T . Osm


- do plasma: π = 2RT
- da urina: π = 5RT
+
O medicamento prescrito age reduzindo a reabsorção de íons como o Na, Cl - e K+, que
ficam na luz tubular, aumentando a pressão osmótica. Disto resulta que a água é atraída
para o túbulo renal, havendo, assim, uma eliminação de água para além do fisiológico,
que reverte o quadro edematoso.

15 Em um medicamento constituído de solução para perfusão usou-se as seguintes


concentrações em 1 litro de solução:
120,0 mmol de glicose
25,7 mmol de lactato de sódio
2,5 mg/mL de NaCl (MMNaCl = 58,5g/mol)

a) Determine a osmolaridade do medicamento;


b) Classifique o medicamento quanto à sua osmoticidade. (Hemácias = 300 mOsm)

R: a) Osmolaridade = 256,8; b) hiposmótica.

a) Resolução:
- Glicose: 120 mmol/L = 120 mOsm
- Lactato de sódio: 25,7mmol/L = 51,4mOsm
(CH3CH(OH)COONa+ ↔ CH3CH(OH)COO- + Na+)
- Cloreto de sódio: 2,5 mg/mL = 2500 mg/L = 2,5g/L
nº mols = massa ÷ MM n = 2,5 ÷ 58,5 n = 0,0427 mol/L ou M

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 79


Osm = 2 x M Osm = 0,0854 mOsm = 85,4

Osm total: 120 + 51,4 + 85,4 =256,8 mOsm

b) Hiposmótica (OSM SOLUÇÃO < OSM CÉLULA)

16 Um dos procedimentos pré-cirúrgicos é a utilização de álcool iodado para a


antissepsia local. A concentração do iodo na solução, para sua ação, é de 2% v/v.

Um enfermeiro observou que um frasco continha a seguinte informação: 40 mL de


iodo em 1 L de solução. A concentração do iodo está de acordo com a
recomendada?
R: A concentração não está de acordo com a recomendada, está mais concentrada. Mas,
para se obter a concentração desejada, basta apenas diluir a solução, dobrando o
volume. Veja os cálculos:
2% v/v = 2 mL de iodo para cada 100 mL de solução
2 mL/100 mL = 20 mL/1000 mL = 20mL/L
40 mL/LFRASCO > 20 mL/L

17 Considere a seguinte composição de 100 mL de soro: 0,06 M de NaCl e 0,22 M de


glicose. Dados: MMNaCl = 58,5 g/mol e MMglicose = 180 g/mol; Célula = 0,3 Osm.
a) Determine a massa de NaCl e de glicose necessárias para o preparo da solução;
b) Cite e explique qual a tonicidade da solução com relação à célula.

R:: a) 0,351 g de NaCl e 3,96 g de Glicose; b) hipertônica


a) Resolução:
NaCl: 0,06 mol/L = 0,006 mol/100mL → 0,006 mol x 58,5 g/mol = 0,351 g
Glicose: 0,22 mol/L = 0,022 mol/100mL → 0,022 mol x 180 g/mol = 3,96 g

b) Resolução:
Osm total = (0,06 x 2) + 0,22 = 0,34 Osm > 0,3 Osmcélula.
Para os solutos impermeantes (ex.: cloreto de sódio e glicose), a tonicidade equivale à
osmolaridade, pois apenas os impermeantes geram efeito osmótico e, no exemplo da
questão, a OSMSORO > OSMCÉLULA , logo, o soro preparado é hipertônico. Caso se
substituísse a glicose por 0,22 M ureia, um permeante, a solução ainda seria

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 80


hiperosmótica (0,34 Osm), mas seria agora hipotônica, pois haveria apenas 0,12 Osm de
impermeantes (NaCl), contra 0,3 Osm da célula.

18 O ácido acetilsalicílico (AAS) é um anti-inflamatório não-esteroidal, com


propriedades antipirética e analgésica, bastante conhecido pela população, sobretudo
pelo seu nome comercial, Aspirina. O AAS é um ácido fraco, de fórmula
C6H4(OCOCH3)COOH, com massa molecular de 180,16 g/mol e valor de pKa =
3,4. Dito isto, pergunta-se:
Em que parte do trato gastrointestinal a absorção do AAS é favorecida: no estômago ou
nas primeiras porções do intestino delgado? Dados: pHestômago = 1,4.........pHintestino = 5,0.
R: A absorção é favorecida no estômago. Veja resolução e comentários:

Resolução I: pH = pKa + log (Aceptor/Doador)

No estômago: 1,4 = 3,4 + log(A/D)


-2 = log(A/D)
A/D = 10-2
A = 0,01 D

No intestino: 5,0 = 3,4 + log(A/D)


1,6 = log(A/D)
A/D = 101,6
A= 40 x D
Resolução II: A/D= 10pH-pKa
No estômago: A/D = 10 -2 A= D÷100
No intestino: A/D = 101,6 A= 40×D

A partir da equação de Henderson Hasselbach, pode-se perceber que no


estômago há a prevalência da espécie protonada/doadora que é a forma molecular do
medicamento. Assim, é no ambiente ácido do estômago que a absorção do AAS é
favorecida. Contudo, há que se lembrar de que o esvaziamento gástrico é relativamente
rápido, de modo que o medicamento permanece por muito pouco tempo neste órgão.
Já no intestino (apesar de prevalecer a forma ionizada do fármaco), o tempo de
permanência é consideravelmente maior e a superfície de absorção é 200 vezes maior

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 81


que a do estômago. Assim, ainda que em menor quantidade, a forma molecular tem
bastante tempo e área para a sua absorção.
Conclui-se, então, que o AAS é absorvido em parte pelo estômago, mas na sua
maioria pelos segmentos proximais do intestino.

19 Quem já sentiu dor de garganta e teve de tomar injeção de Benzetacil® sabe a dor
intensa, aguda e persistente que esse antibiótico causa. O remédio é indicado não só
no tratamento de infecções do trato respiratório superior, mas também no de
infecções venéreas, como a sífilis. Sabe-se que o medicamento apresenta uma
solubilidade extremamente baixa, que a suspensão injetável tem alta concentração
da droga, e que os níveis séricos são muito baixos, porém prolongados. Explique o
porquê da intensa dor e por que a quantidade no sangue é tão baixa, porém contínua.
R: A extrema baixa solubilidade dificulta a difusão do medicamento que acaba
apresentando um espalhamento lento a partir do local de administração. Isso explica
porque o medicamento não atinge altos níveis séricos, que são mantidos baixos por
tempo prolongado. A alta concentração da droga e sua permanência prolongada no local
da aplicação explica a dor aguda e persistente.

20 A ingestão de alguns medicamentos, como nimesulida e naproxeno, é feita


exclusivamente por via oral. Em pacientes submetidos à nutrição enteral, a
administração de tais medicamentos deve ser evitada. Caso o medicamento não
possa ser substituído, é responsabilidade do farmacêutico fazer as diluições
necessárias, pois os medicamentos são normalmente hiperosmolares em relação às
secreções gastrintestinais (0,1 a 0,4 Osm). Foi prescrita, a um paciente que recebe
nutrição enteral, a administração de nimesulida, porém, o fármaco é oferecido à
farmácia hospitalar com osmolaridade igual a 1,0 Osm.

a) Qual a diluição que o farmacêutico deve realizar, considerando 0,3 a osmolaridade


do trato gastrintestinal?
b) Para se preparar 5 mL da solução de nimesulida a 0,3 Osm, qual o volume do
medicamento a 1,0 Osm deve ser medido?
R: a) A diluição será na proporção de 1 parte de nimesulida para 2,333 partes de água.
Veja o cálculo:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 82


C1 .V1 = C 2 .V 2
1,0 Osm × 1 mL = 0,3 Osm × Vfinal → Vfinal = 3,333 mL
Vadicionado = Vfinal - Vincial
Vadicionado = 3,333 mL - 1 mL → Vadicionado = 2,333 mL
Para cada 1 mL nimesulida a 1,0 OSM, adiciona-se 2,333 mL água.

b) Para o preparo de 5 mL a 0,3 Osm serão necessários 1,5 ml. Veja cálculo:
C1 .V1 = C 2 .V 2
1,0 × V1 = 0,3 × 5 → V1 = 1,5 mL

21. O tempo de duração de um anestésico local é determinado pelo tempo que o fármaco
permanece no local de ação, em contato com as fibras nervosas, sem ser difundido para
a corrente sanguínea. Com base nos parâmetros que influenciam a difusão de solutos,
discuta como um laboratório farmacêutico pode aumentar o tempo de duração de um
anestésico local.
R: Lembrando que...
Fluxo: J = -D.A.∆C ou J = P.∆C
∆x

Coeficiente de difusão: D = KT .
6πrη

Coeficiente de partição = solubilidade em óleo / solubilidade em água

Sabe-se que a resistência do meio (viscosidade), o tamanho das moléculas e a


concentração do soluto, dentre outros, são fatores que influenciam o fluxo de difusão.
Assim, é possível ao laboratório reduzir a velocidade de difusão reduzindo a
permeabilidade do fármaco, o que pode ser obtido através: a) do aumento da
viscosidade do produto; b) do aumento do tamanho da molécula do analgésico, por
exemplo, ligando cadeias carbônicas maiores a mesma; e c) reduzindo a concentração
do remédio.

22. O Captopril é um anti-hipertensivo utilizado no tratamento da hipertensão arterial


crônica, leve ou moderada, e de insuficiência cardíaca congestiva. Sabe-se que ele
apresenta dois valores de pKa (3,7 e 9,8) e que o uso de antiácidos reduz a absorção

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 83


desse medicamento em até 30%. O mesmo ocorre quando da presença de alimentos no
estômago, momento em que 40% da absorção do Captopril fica comprometida.

a) Qual o percentual de ionização do Captopril no estômago (pH = 1,2) e no intestino


delgado (pH = 6,5)?

b) Como a informação do percentual de ionização pode auxiliar o farmacêutico na


previsão das características farmacocinéticas do medicamento no tocante à sua

absorção?
c) Em que região do trato gastrintestinal a absorção do Captopril é favorecida?

d) Na bula do Captopril, o paciente é advertido a tomar o medicamento 1 hora antes


ou duas horas depois das refeições. Explique o motivo dessa orientação e relacione
sua resposta aos dados apresentados no enunciado desta questão.

R: a) pH = pKa + log (Aceptor/Doador) → A/D= 10pH-pKa

No estômago:
pKa = 3,7 1,2 = 3,7 + log (A/D)
A/D = 10-2,5 A= 10-2,5 D → A= 0,00316 D
A+D = 100% A= ?%
0,00316D + D = 100 A = 0,32%
D = 99,68% Perc. Ionização = 0,32%

pKa = 9,8 1,2 = 9,8 + log(A/D)


A/D = 10-8,6 A = 10-8,6D
A + D = 100% A = ?%
-8,6
10 D + D = 100% A ≈ 0%

D ≈ 100% Perc. de Ionização ≈ 0%

No intestino:
pKa = 3,7 6,5 = 3,7 + log(A/D)
A/D = 102,8 A= 102,8 D
A+D = 100% A= ?%

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 84


102,8D + D = 100 A = 99,84%
D = 0,16% Perc. Ionização = 99,84%

pKa = 9,8 6,5 = 9,8 + log(A/D)


A/D = 10-3,3 A = 10-3,3D
A + D = 100% A = ?%
-3,3
10 D + D = 100% A = 0,050%
D = 99,95% Perc. Ionização = 0,05%

b) O percentual de ionização é de fundamental importância na previsi bilidade da


absorção de um fármaco, uma vez que o grau de ionização é inversamente
proporcional à lipofilicidade, de forma que as espécies não ionizadas, por serem
mais lipofílicas, conseguem atravessar as membranas biológicas por transporte
passivo; já as espécies carregadas são polares e, além disso, normalmente se
encontram solvatadas por moléculas de água, dificultando o processo de absorção
passiva.

c) A absorção é favorecida onde prevalece a forma não ionizada do fármaco, logo, no


estômago.
d) De modo geral, tem-se que, durante as refeições, com a chegada do alimento ao
estômago, o conteúdo deste fica diluído, aumentando seu pH que, por sua vez,
aumenta o percentual de ionização do fármaco. Por esse motivo é que a absorção do
Captopril fica reduzida em 40% no estado alimentado. O mesmo raciocínio se aplica
ao uso concomitante de antiácidos e Captopril. Os antiácidos reduzem a acidez
estomacal, de modo a aumentar a dissociação do fármaco, consequentemente,
reduzindo a s ua absorção.

23. Um farmacêutico está formulando um creme e deseja conhecer o fluxo de absorção do


creme para a pele. Ele utilizará como substância principal a ureia, um composto
largamente encontrado em hidratantes da classe dos umectantes, que são substâncias
hidrofílicas, que não adicionam umidade à pele, mas auxiliam na sua hidratação,
mantendo sua umidade natural. Sabe-se que, em condições normais, a concentração de
ureia dentro das células é nula. Considerando, então, que a permeabilidade da

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 85


membrana celular à ureia é de 2×10-5 cm/s, numa área de 0,01mm², qual a velocidade
inicial da difusão da ureia, estando esta a uma concentração de 10 mg/mL?

R: A difusão iniciará com uma velocidade de J = 2,0 × 10-8 mg/s.


J = P.A.(Ca - Cb) → fluxo = permeabilidade x área ([ureia] extra – [ureia]intra)

J = 2×10-5cm x 1×10 -4
cm2 x (10 – 0) mg
s mL

J = 2,0 ×10-8 x cm3x mg 1 L = 1000 cm 3

s x mL 1000 mL = 1000 cm3 → 1 mL = 1 cm3

J = 2,0 × 10-8 mg/s

24. A um farmacêutico foram enviadas amostras de um soro glicosado para controle de


qualidade. Sabendo que a temperatura normal do corpo é 37°C e que a pressão osmótica
do sangue humano é de 7,8 atm, qual a quantidade (em gramas) de glicose o

farmacêutico usará para a preparação de 100 mL de soro fisiológico isosmótico ao


sangue? (MMglicose = 180,16 g/mol)

R: Serão usados 5,53 g de glicose para o preparo de 100 mL do soro glicosado.


Considerando a pressão osmótica teórica, temos:
π = R × T × Osm
7,8 = 0,082 × (273 + 37) × Osm
Osm = 0,307
-1
Como a glicose não dissocia: Glicose a 0,307M ou 0,307 mol.L
Para preparo dos 100 mL do soro ....... 0,0307 mol de Glicose

Massa = nº mols × Massa Molecular


Massa = 0,0307 × 180,16
Massa = 5,53 g

25. O uso do ácido ascórbico (vitamina C) em cosméticos com finalidade hidratante,


clareadora, antioxidante e estimuladora da síntese de colágeno vem crescendo muito nos

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 86


últimos anos. Assim, qual a quantidade de ácido ascórbico (Ka = 6,70×10 -5) um
farmacêutico deve utilizar no preparo de 250 mL de um creme que possua o pH igual ao
da pele humana? Considere que todo o ácido do creme provém do ácido ascórbico e que
o pH da pele é 5,0. (MMácido arcórbico = 176,13 g/mol)

R: Deve-se utilizar 0,0656 mg do ácido ascórbico.

HA ↔ H+ + A- Ka = [H+] × [A -] pH = 5
[HA] [H+] = 10-5

6,70 × 10-5 = 10-5 × 10-5 [HA] = 1,49 × 10 -6


mol/L
[HA]

Para 250 mL................................HA = 3,725 × 10 -7 mol


Massa = nº mols × MM Massa = 6,56 × 10-5 g
= 0,0656 mg

26. O ácido glicólico é uma substância muito utilizada em produtos dermatológicos para
melhorar a aparência e a textura da pele, no tratamento de acnes e pele ressecada,
manchas, podendo até ser usada no peeling químico. Este fármaco é um alfa-
hidroxiácido, encontrado naturalmente em frutas como a cana-de-açúcar e o abacaxi.
Normalmente, o ácido glicólico é encontrado a 70% em solução alcoólica ou em gel,
cujo pH = 0,6. (Dados: pKa = 3,83; MMác. glicólico = 76g/mol; MMglicolato = 98g/mol)

a) Para o uso dermatológico doméstico, é preciso neutralizar parcialmente o ácido para


que este fique com pH entre 3,0 e 5,0. Qual a quantidade máxima de base que deve
ser adicionado àquela solução comercial (ácido glicólico 70%) para que fique

próprio para o uso?


b) Após o procedimento do item “a”, qual a nova concentração do ácido glicólico?

R: a) Como, para o uso dermatológico doméstico, o pH do ácido deve estar entre 3,0 e
5,0, o máximo de base que pode ser adicionado é de 8,627 mols, considerado o volume

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 87


de 1L do ácido glicólico a 70%; b) Após a adição de 8,627 mols de base, a concentração
do ácido varia de 70% para 4,43%.

a) Resolução:

Ác. Glicólico ↔ H+ + Glicolato- pH = pKa + log (Gli -/Ác)

Inicialmente...

Ác. 70% → 70 g/100 mL → 9,21 mols/L nº mols = massa / MM

-
0,6 = 3,83 + log (Gli
/ 9,21) Ác = 9,21 mols
- -3 -
Gli = 5,42×10
mols em 1L Gli = 5,42×10-4 mols

Acrescentada a base...
5,0 = 3,83 + log 5,42×10-4 + b . → 5,42 × 10 -4
+ b .= 14,79
b 9,21 – 9,21 –b

b = 8,627 mols

b) Resolução:
[Ác]inicial = 70% p/v → 9,21 M
9,21mols de Ác. Glicólico – 8,627 mols de base = 0,583 mol de Ác. Glicólico restante
0,583 mol em 1L → 44,31 g/L → 4,43%
Concentração varia de 70% para 4,43%

27. O ácido glicólico pertence a um grupo de ácidos orgânicos chamados alfa-hidroxiácidos


(AHA’s), que têm em comum o hidróxido na posição alfa (ou posição 2). Os AHA’s
têm sido amplamente utilizados na composição de cosméticos destinados a diversos
tipos de tratamento de pele. O ácido glicólico é o alfa-hidroxiácido de menor molécula,
com fórmula C2H4O, e é o AHA mais usado. De acordo com os seus conhecimentos
sobre difusão, dê uma possível causa para a preferência pelo ácido glicólico, dentre os
outros AHA’s, para a formulação de um cosmético destinado àpele.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 88


R: Um dos fatores que favorece a difusão é o tamanho da molécula do soluto, como
pode ser verificado abaixo:
J = - D.A. ∆C D= KT . r = raio da molécula
∆x 6πrη ↓r ↑D ↑J

Quanto menor o seu tamanho, maior é o fluxo difusional da substância. Dessa maneira,
o ácido glicólico é o preferido entre os demais AHA’s, pois é o alfa
-hidroxiácido de
menor tamanho molecular, sendo assim, o que mais rápido se difundirá pela pele.

28. Uso cosmético do ácido glicólico requer concentração entre 2 a 10% e parapeelings de
30 a 70%. Em pH = 6,0, o ácido glicólico é um excelente agente hidratante. No entanto,
à medida que o pH aumenta, diminui a capacidade hidratante. Em valores de pH mais
ácidos, como, por exemplo, pH = 3,8, o ácido glicólico torna-se um agente esfoliante e
despigmentante. Explique porque dessa diferença. (Obs.: Consulte os dados das
questões anteriores e os resultados para a resolução desta).
R: Como já calculado na questão anterior, observa-se que:
pH = 0,6 → Ác 70% → 9,21 mols Ác / 0,000542 mols Glicolato

pH = 5,0 → Ác 4,43% → 0,583 mols Ác / 8,63 mols Glicolato


Pode-se perceber, então, que quanto menor o pH, menos o ácido glicólico se dissocia,
logo, maior será sua quantidade no produto. Esta alta concentração do ácido no
cosmético é que lhe confere o efeito esfoliante. Já em pH mais básicos, prevalece a
forma ionizada, de modo que cai bastante a concentração do ácido. Este, em baixa
concentração, é menos agressivo à pele, não chegando à esfoliação, mas (por ser uma
molécula pequena e sem carga – o menor dos AHAs) o pouco ácido presente difunde
para a pele hidratando-a.

29. Um farmacêutico, responsável pela produção do medicamento de nome comercial

Mylanta Plus, queria determinar a quantidade do componente hidróxido de magnésio


em um lote desse medicamento para confirmar se estava em conformidade com a
indicada na embalagem (110 mg de Mg(OH)2). Dessa forma, o farmacêutico realizou
uma titulação com um ácido forte, utilizando para isso 41 mL de HCl, até atingir o
ponto de equivalência. Sabendo-se que 1 mL de HCl neutraliza 2,9 mg de Mg(OH) 2,

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 89


responda se a quantidade de hidróxido de magnésio presente nesse lote está de acordo
com a indicada pelo fabricante.

R: Não, a quantidade de Mg(OH)2 é superior ao indicado na embalagem.


1 mL de HCl neutraliza 2,9 mg de Mg(OH) 2
41 mL de HCl neutraliza x → x = 118,9 mg de Mg(OH) 2

30. As formas farmacêuticas sólidas orais de liberação prolongada caracterizam-se pela


liberação gradual do fármaco e manutenção da sua concentração plasmática em níveis
terapêuticos, durante um período de tempo prolongado, a fim de evitar concentrações
subterapêuticas ou tóxicas. Como é possível que essa liberação seja gradual e não
ocorram picos de concentração a cada ingestão do fármaco?

R: Empregando-se tecnologias de matrizes poliméricas tais como fil mes e microesferas,


promove-se a difusão gradativa. As matrizes são dispersões ou soluções de um fármaco
em uma ou mais substâncias capazes de modular a sua liberação. Nas matrizes

insolúveis, constituídas de ceras (matrizes hidrofóbicas) ou polímeros insolúveis em


água (matrizes inertes), o fármaco é liberado essencialmente por difusão. Observa-se
que na matriz insolúvel, após a ingestão, a água presente nos fluidos do trato
gastrointestinal penetra na forma farmacêutica e dissolve o fármaco. Como
consequências são formados canais na estrutura da matriz, através do qual o fármaco é
gradualmente liberado por difusão. Os objetivos dessa tecnologia podem ser prolongar o
efeito farmacológico ou liberar o fármaco em um sítio específico do trato
gastrointestinal após um período definido de tempo.

31. Um indivíduo que se queixava de cefaleia, alterações visuais, náuseas e vômitos foi
diagnosticado com hipertensão intracraniana. Como tratamento, foi indicado o uso de
manitol 20%, 1908 mOsm/L, intravenoso.

a) Para que o medicamento tenha eficácia, é recomendado que o paciente receba uma
dose média de 500 mL a cada 24 horas. Um indivíduo recebe infusão IV de
exatamente 84 mL por dose. Ao final do dia, quantos gramas de manitol terão sido
administrados?

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 90


b) Considerando-se a osmolaridade da solução de manitol, como ele pode ajudar a
reduzir a pressão intracraniana?

R: 10,08 g b) Manitol = hipertônico → osmose , ↓ pressão intracraniana. Veja os


cálculos e comentário abaixo:

a) Resolução:
Cálculo das doses diárias: 500 mL / 84 mL = 5,95 doses → 6 doses por dia.

Cálculo da massa de manitol administrada:


20 g de manitol estão presentes em 0,1 L de solução
X g .................................................0,504 L de solução (6 doses de 84mL)
X = 10,08 g de manitol

b) Comentário:
O manitol, um álcool derivado da manose, é um agente hiperosmolar, já que sua
osmolaridade, de 1,908 Osm/L, é bem superior à osmolaridade celular, de 0,3 Osm/L.
Ao aumentar a osmolaridade sérica, o composto promove a reabsorção do líquido
cefalorraquidiano, que se difunde do meio menos concentrado para o mais concentrado,
contribuindo para reduzir a pressão intracraniana. Ele também é um diurético osmótico,

uma vez que não é reabsorvido no túbulo renal e, portanto, induz a diurese por aumentar
a osmolaridade do filtrado glomerular.

32. O Rivotril® é um ansiolítico amplamente utilizado. Recomenda-se uma dose de 0,01


mg do medicamento a cada 10 Kg do paciente por dia. A meia-vida de eliminação do
fármaco é em torno de 36h. Aproximadamente 2% do medicamento são eli minados pela
urina e 0,5% pelas fezes. Considerando que uma criança de 10 Kg ingeriu uma
superdosagem de 0,06 mg do ansiolítico, calcule a quantidade de Rivotril® eliminada
pela urina após 6 dias de ingestão, considerando a meia-vida desse fármaco.
R: Será eliminado pela urina, após 6 dias de ingestão, uma quantidade de 0,000075 mg
do Rivotril®. Veja:
36h _____________ 1 meia-vida
144h (6dias)_______ X → X = 4 meias-vida

1a meia-vida: 0,06/2 = 0,03


2a meia-vida: 0,03/2 = 0,015
3a meia-vida: 0,015/2 = 0,0075
4a meia-vida: 0,0075 = 0,00375 mg eliminados após 6 dias.
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 91
Como 2% são eliminados pela urina, tem-se:
0,00375 mg x 0,02 = 0,000075 mg eliminados pela urina.

33. Um paciente chegou em estado muito grave ao hospital e, dentre os exames


laboratoriais, foi solicitada a gasometria venosa, que mede o pH e a concentração de
bicarbonato (HCO-) no sangue. Em 5 ml de sangue o laboratorista obteve os seguintes
valores:
- Resultados do paciente: - Valores de referência:
+ -7
[H ] = 1,07X10 pH normal do sangue = 7,32 – 7,42
- -
HCO
= 0,06
3 mmol HCO 3 =24 – 28mmol/L

a) Qual o pH do sangue desse paciente?


b) Qual a concentração em mmol/L de bicarbonato?
c) Comente os resultados comparando com os valores de referência e a partir de
conhecimentos prévios.

R: a) pH = 6,97 b) 12 mmol.L- c) ↓HCO3- ↑[H+] ↓pHfisiológico

a) Resolução:
pH = - log (1,07 x 10-7)
pH = 6,97

b) Resolução:
0,06mmol________5 mL
x mmol________1000 mL
x =12mmol.L⁻

c) O papel do HCO 3- é capturar H + do meio, mas, no caso do paciente, houve um


grande decaimento do bicarbonato, o que levou ao aumento da concentração de
prótons H + no sangue. Assim, o pH caiu bruscamente, promovendo uma série de

alterações (quadro de acidose metabólica) que repercutiram no grave estado de


saúdo desse paciente. Como o valor mínimo do pH compatível com a vida nas
acidoses é de 6,85, este paciente poderá ir à óbito se não for rapidamente socorrido.
(Obs.: o valor máximo de pH tolerado pelo organismo, nas alcaloses, é de
aproximadamente 7,95; assim, a faixa de pH compatível com a vida, em média, vai
de 6,85 a 7,95).

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 92


34. Sabe-se que o leite de magnésia é facilmente comprado nas farmácias. Ele é largamente
utilizado devido as suas ações laxante e antiácida. Explique como ocorrem esses
processos no organismo.
R: O leite de magnésia é uma suspensão de hidróxido de magnésio em água. Sua ação
laxante se deve a reação com o ácido clorídrico do suco gástrico formando o MgCl 2,
que absorve muita água, lubrificando os intestinos e neutralizando a prisão de ventre.
Em doses moderadas, serve também como um antiácido devido à sua propriedade
alcalina, diminuindo, portanto, a acidez estomacal.

35. Do ponto de vista farmacêutico, uma formulação deve ser compatível com os princípios
ativos, aditivos especiais, não ser irritante, nem se degradar. Além disso, deve
apresentar estabilidade, que é a capacidade que o produto tem num determinado período
de tempo, do inicio ao final de sua vida útil, e em determinada embalagem, de manter as
mesmas propriedades e características que tinha no momento em que finalizou a sua
fabricação, por meio de um procedimento padronizado. O Cetaconazol é um agente
antifúngico, que pode ser incorporado em diferentes formas farmacêuticas, como por

exemplo, xampus e cremes. Para manter a estabilidade destas formulações o pH destas


tem que estar na faixa de 4-5. Durante a preparação de um xampu de cetoconazol em
um laboratório de manipulação, percebeu-se que após a solubilização do fármaco, o pH
da formulação estava elevado (fora da faixa de 4 a 5). O que pode ser feito para corrigir
o pH de modo que não haja perda de estabilidade ou mesmo perda de produto?

R: O farmacêutico pode valer-se de uma solução ácida, por exemplo, de ácido cítrico,
para corrigir este valor de pH elevado. A adição do ácido cítrico aumentará a
concentração de H+ na formulação, abaixando pH (pH= -log[H+]), que ficará próximo
da faixa requerida para a ação e estabilidade do fármaco.

36. O creme vaginal Nistatina é usado no tratamento de infecção da pele e da mucosa


vaginal causada por espécies de Candida spp. Tal fármaco age no pH = 4,0
(aproximadamente o vaginal) e, para ter certeza que este pH será mantido, utiliza-se o
tampão acetato (CH3COOH). Para isso é usado 0,30 M de CH 3COO - (a base conjugada)
e 1,76 M de CH3COOH. Verifique se esse tampão é eficaz, sabendo que seu valor de
pKa é de 4,76.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 93


R: Para as quantidades de ácido acético e acetato usadas, o tampão será eficaz, pois o
pH exigido para a sua ação farmacológica será mantido (pH ≈ 4,0), não afetando as
condições fisiológicas da vagina. Além disso, o tampão é considerado eficiente por
apresentar valor de pKa próximo ao do pH em questão (pKa = 4,76 ≈ pH = 4,0).

CH3COOH ↔ CH 3COO- + H+

pH = pKa + log [CH3COO -] /[ CH 3COOH]

pH=4,76 + log 0,30/1,76


pH=3,99

37. Medicamentos que são administrados por via intravenosa devem possuir pH neutro e
serem isotônicos. Durante o preparo de uma solução de Buscopan® para ser
administrado via intravenosa, houve pequeno erro de concentração e a solução tornou-se
levemente hipotônica, sem grande diferença do que seria a isotonicidade ideal. Esse
medicamento foi administrado por via intravenosa em um paciente internado que
imediatamente apresentou reação ao fármaco, sendo esta uma resposta não proveniente
de alergia e sim à leve hipotonicidade da solução farmacológica. Ainda assim, o
paciente se recuperou sem danos sérios. Explique porque essa reação não causou sérios
danos à saúde do paciente.

R: Quando soluções hipotônicas são administradas via intravenosa, há entrada de água


por osmose nas hemácias, causado lise das mesmas. Entretanto, quando a solução
apresenta apenas leve hipotonicidade, o volume de água que entra no interior das células
não é suficiente para romper a mebrana celular, já que o equilíbrio osmótico é
rapidamente atingido. O paciente apresentou reação ao Buscopan® devido à ocorrência
dos efeitos osmóticos nas suas hemácias, mas como o volume de água que entrou não
foi suficiente para lisar as hemácias não houve sérios danos a saúde.

38. Um paciente diabético, com distúrbios psiquiátricos, ingeriu 68 comprimidos de 500mg


de cloridrato de metformina. Foi encaminhado ao pronto socorro e apresentou pH
sanguíneo menor que 7,4 e lactato de 5mmol/L. (Obs.: o valor de referência do lactato
no plasma é de 0,5 a 2,22 mmol/L)

a) Como um farmacêutico, descreva o mecanismo de ação do medicamento.


b) Qual conduta a ser realizada nesse paciente?

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 94


R:
a) A metformina reduz a hiperglicemia através de: aumento da sensibilidade periférica
à insulina e da utilização celular da glicose; inibição da gliconeogênese hepática; e
retardo na absorção intestinal da glicose.
b) A alta concentração de lactato revela que houve uma grande liberação de íons H +
(ácido lático ↔ lactato + H+), o que repercute na acidificação do plasma sanguíneo.
Por esse motivo, deve-se proceder rapidamente com a infusão de bicarbonato (para
elevar o pH do sangue), uma que o paciente apresenta uma concentração de lactato
que é mais de 2 vezes superior a concentração máxima normal.

39. Desodorantes e talcos para os pés são amplamente produzidos pelas indústrias
farmacêuticas. A bromidrose é o suor com cheiro desagradável, que ocorre nas axilas ou
nos pés. A causa é a atuação de bactérias presentes nestas regiões sobre o suor,
provocando o odor característico. Explique, com base nos conhecimentos biofísicos,
como são formulados esses produtos.
R: Esses produtos possuem em sua composição carbonatos e outras substâncias básicas,

que quando utilizadas alteram o pH. Assim a alcalinização do meio dificulta a


proliferação das bactérias causadoras do mau cheiro.

40. Soro fisiológico é uma solução isotônica em relação aos líquidos corporais que contém
0,9%, em massa, de NaCl em água destilada. Um farmacêutico precisa preparar 300 mL
de uma solução de soro fisiológico a partir de uma solução NaCl 30% (p/v). Qual
volume de partida ele deve usar?
R: Deve-se usar 9 mL como volume de partida.
C1V1 = C2V2
30% x V1 = 0,9% x 300 mL
V1 = 9 mL

41. Para um paciente em tratamento será necessário a administração de um total de 985 mg


de dipirona, em 4 dias. Ele deverá receber doses contendo 10 mL do medicamento, 2
vezes ao dia. No hospital onde está internando, há frascos com concentrações iguais a

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 95


1,2% p/v, 1 % p/v e 1,5% p/v. Qual deles o enfermeiro deve escolher para medicar esse
paciente?

R: O enfermeiro deve escolher o frasco de concentração 1,2% p/v, já que cada dose que
o paciente irá receber deve ter aproximadamente 1,2g de dipirona.

985mg/4 = 246,25 mg/dia 0,123 g ______ 10 mL

246,25mg/2 = 123,125mg/dose x _______ 100 mL → x =1,23 g

42. Um paciente chega ao hospital com dor de cabeça, febre, dor de garganta, entre outros
sintomas. Foi diagnosticada uma amigdalite bacteriana. Como forma de tratamento, o
médico prescreveu o antibiótico amoxicilina, que deveria ser consumido de 8 em 8
horas, na dosagem de 500 mg, durante 5 dias. Na hora de comprar o produto, o paciente
depara-se na farmácia com um frasco que possui 200 mg de princípio ativo a cada 5 mL
da solução. Qual é o mínimo volume que o paciente deverá comprar para realizar todo o
tratamento?

R: O paciente deverá adquirir pelo menos 187,5 mL do remédio para se medicar


corretamente. Veja resolução:

15 doses de 500 mg = 7,5 gramas ou 7.500mg de amoxicilina.


remédio da farmácia: 200 mg para cada 5 mL do produto

200mg-----------5 ml
7.500mg--------x → x = 187,5 mL

43. Uma paciente deu entrada no pronto socorro, com quadro de desidratação, após ter
dormido dentro de uma sauna. Calcule o volume e a os molaridade dos LIC e LEC dessa
paciente, antes e depois do ocorrido. Considere que a paciente pesa 60 kg e que a

transpiração gerou uma perda de 3 litros de água apenas.


R: Em condições normais, tem-se que 60% do peso corporal se devem à composição de
água no corpo. Este percentual é o total dos 40% do peso corpóreo, equivalente à água
dos líquidos intracelulares (LIC), somado aos 20% do peso do corpo que corresponde
ao volume dos líquidos extracelulares (LEC = interstícios, espaços vasculares, etc.).
Tanto o LIC, quanto o LEC, em condições saudáveis, apresentam concentração de 300

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 96


miliosmóis.L- (0,3 Osm). Qualquer desequilíbrio hidroeletrolítico pode levar a
alterações nas concentrações dos líquidos biológicos, bem como pode alterar a
distribuição de água no corpo. No caso particular, tem-se que:

Antes da desidratação:

LIC(40%)= 24 L. OSM= 300mOSM 7,2 osmóis


LEC(20%)= 12L. OSM= 300mOSM 3,6 osmóis

Depois da desidratação: alterações na homeostase


LEC – 3 L = 9 L
Como a osmolaridade = n° osmóis / volume (em litros) e houve apenas perda de água,
ou seja, não se perdeu eletrólitos, o n° de osmóis permanece o mesmo, havendo apenas
uma redistribuição de água em decorrência do aumento da pressão osmótica no LEC.
LEC = 3,6 osmóis em 9 L = 0,4 Osm
OsmLEC > OsmLIC → haverá osmose com passagem de água do LIC par o LEC

Depois da desidratação: atingido o novo equilíbrio


Volume total = 24 L + 9 L = 33 L
N° total de osmóis = 7,2 + 3,6 = 10,8
Osmolaridade do equilíbrio = 10,8 osmóis / 33 L = 0,327 Osm
VolumeLIC = 7,2 osmóis / 0,327 Osm = 22 L
VolumeLEC = 3,6 osmóis / 0,327 Osm = 11 L
Resposta: Antes, os volumes eram LIC = 24 L e LEC = 12 L, ambos com 0,3 Osm.
Depois, os volumes passaram a ser de LIC = 22 L e LEC = 11 L, ambos com 0,327
Osm.

44. Para se realizar a desinfecção do ambiente hospitalar, é necessário o uso de álcool


70ºGL. Quando foi realizar esse procedimento, um enfermeiro deparou-se com apenas

um frasco de 750 ml de álcool a 85ºGL.


a) O que ele deve fazer para poder realizar a desinfecção adequadamente?
b) Qual o volume máximo de álcool 70°GL pode ser obtido?

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 97


R: O enfermeiro deverá realizar a diluição da solução inicial, adicionando-se água, até
que a concentração se iguale a 70ºGL. b) A partir da solução inicial é possível preparar,
no máximo, 910 mL de álcool 70°GL.
C1V1 = C2V2
85°GL x 750 mL = 70 °GL x V2
V2 = 910 mL

45. Para pacientes muito alcoolizados, recomenda-se o uso de glicose. Porém, a via para a
administração da mesma depende da osmolaridade da solução. Para valores de
osmolaridade abaixo de 0,9 Osm, utiliza-se a via periférica, enquanto para valores
acima disso se utiliza o acesso central. Foi prescrito para um paciente de 70 kg, 4 litros
de solução de glicose a 10% m/v. Qual será o acesso a ser utilizado?
R: Deverá se utilizada a via de acesso periférica, pois a osmolaridade da solução de
glicose é menor que 0,9 Osm. Veja cálculo da osmolaridade da solução:
10g-------100 mL 1Mol de glicose------180g
x¹--------1000 mL x²------------------100g
x¹ = 100g x² = 0,56 mol de glicose.

Glicose – não dissocia →Osm = M


Solução glicose 10% m/v = 0,56 M = 0,56 Osm

46. Certo paciente procura um dentista com queixa de dor de dente. Segundo ele, a dor
havia começado há poucos dias, mas, acreditando não ser nada sério, aplicou xilocaína
(um anestésico local). Num primeiro momento, a dor foi aliviada, entretanto, passado
algum tempo, o paciente percebeu a formação de pus no local e que o fármaco já não
estava surtindo efeito. O dentista o avaliou e percebeu que se tratava de um abscesso
periodontal (inflamação purulenta nos tecidos que envolvem o dente). Sabendo que o
processo inflamatório reduz o pH no local inflamado (pH pus = 4,5 a 5,5), explique o

porquê da ineficiência do fármaco.


R: Lembrando que os anestésicos locais são bases fracas e que o pH e o pK das bases se
relacionam da seguinte forma:
pKb > pH → B+ > BOH
pKb = pH → B+ = BOH
pKb < pH → B+ < BOH

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 98


Tem-se que, quanto mais ácido fica o meio: ( pKb > ↓pH → ↑B + > BOH), maior é a
dissociação da base e, portanto, maior será a quantidade da forma ionizada, que não
favorece a difusão do fármaco, alterando sua eficiência. Foi o que aconteceu com o
paciente: no tecido normal, espera-se valores de pH próximos de 7,4, mas no tecido
inflamado esse valor cai pra cerca de 5,0, logo, mais ácido, aumentando a proporção da
forma catiônica do anestésico.
47. Em instituições de saúde e laboratórios de pesquisa, os profissionais devem sempre se
preocupar com a assepsia do seu local de trabalho. Sabe-se que o álcool tem melhor
ação antisséptica a 70º GL (Graus Gay-Lussac - º GL – equivale a % v/v). Para a
obtenção desse álcool etílico diluído, há disponível um frasco contendo 500 mL de
álcool a 98º GL. A partir dessas informações, calcule:

a) A concentração em massa (g/L) do álcool a 98º GL. (MM = 46 g/mol; d = 0,8


g/mL)

b) A concentração em massa do álcool a ser obtido (70º GL).

c) O volume de água, em mL, necessário para a diluição do álcool.

d) A porcentagem de água que foi adicionada em relação ao volume final do álcool


etílico diluído.

R:
7,84  10 4 g
c 
98L 100 L
% 1
100 L málcool  98  10  8,0  10  7,8  10 g 7,8  10 2 g / L
3 4
a)

5,6 10 4 g
c 
70 L 100 L
%  1
100 L málcool  70  10  8,0  10  5,6  10 g 5,6 10 2 g / L
3 4
b)

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 99


c1 v1  c2 v2
7,8  10 2  500  5,6  10 2  v2
c)
v2  700mL
v H 2O  700  500  200mL

200
d)  100  28,6%
700

48. Um pesquisador utiliza em suas análises de dosagem da enzima TGP


(Transaminase Glutâmico-Pirúvica) uma solução de NaOH 50 % p/v com um
grau de pureza de 73 % p/p, segundo o fabricante. Essa solução é adicionada à
amostra a ser analisada, sendo essencial para a correta dosagem do TGP.
Quando o pesquisador começou a utilizar a solução de NaOH, ele ficou
intrigado com os resultados obtidos e decidiu realizar uma titulação da solução
com HCl 37% p/v para verificar se o grau de pureza presente no rótulo estava
realmente correto. O pesquisador diluiu 5 vezes o NaOH 50% p/v e titulou 50
mL da solução diluída. Ao final da titulação, ele gastou um volume de HCl de
5,2 mL. Considere que as impurezas presentes na solução de NaOH são inertes
ao HCl. Com base nessas informações, responda:

a) O pesquisador verificou alguma alteração no grau de pureza da solução de


NaOH 50% p/v? Justifique sua resposta.

b) Com base nas informações do enunciado e na resposta do itema, explique o


motivo para que os resultados da dosagem da enzima TGP intrigassem o
pesquisador.
R:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 100


a)
50g 500 g
NaOH 50% p/v :   500 g / L
100mL 1000mL
73g NaOH  100g
x g NaOH  500 g x  365g NaOH
365
n NaOH   9,1 mol
40
37g 370 g
HCl 37% p/v :   370 g / L
100 mL 1000mL
370
n HCL   10,1mol
36,5

M 1V1  M 2V2 m
n
M 1  50  10,1  5,2 M  1,05  5  5,25m o/ L MM
M 1  1,05mol / L m  5,25  40  210 g

210g NaOH p uro  500g NaOH impuro


x g NaOH puro  100 g
x  42 % pureza

De acordo com os cálculos, verifica-se que o grau de pureza do NaOH (42%) é


menor do que o presente no rótulo do reagente (73%).

b) Os resultados intrigaram o pesquisador, porque o grau de pureza do NaOH


estava abaixo do esperado. Assim, os resultados de suas análises foram
diferentes do que era esperado.

1. Um laboratorista realizou um teste de glicemia no jejum de um indivíduo.


Para tanto, ele analisou 0,5 mL do soro sanguíneo do paciente e encontrou
0,7 mg de glicose. Sabendo que indivíduos não-diabéticos apresentam
valores para a glicemia inferiores a 99 mg/dL, responda: O paciente é
diabético? Justifique sua resposta.

0,5mL  0,005dL
R: 0,7mg
 140mg / dL
0,005dL
O paciente é diabético, porque sua glicemia é superior ao valor de referência (99
mg/dL).

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 101


49. Em unidades de saúde, é freqüente o preparo de medicações para se obter a
dosagem presente na prescrição médica. A partir de cada uma das situações abaixo,
responda o que se pede:

a) Foi prescrita 30 gotas de dipirona, VO (via oral) de 6 em 6 horas. Na unidade de


saúde, há um frasco de dipirona a 50% p/v. Qual a massa de dipirona, em mg,
que será administrada nas 30 gotas? Sabe-se que 20 gotas correspondem a
aproximadamente 1 mL de solução.

b) Foram prescritos 200 mg de fenitoína, IM (via intramuscular). Há fenitoína em


ampolas a 5% p/v. Qual volume, em mL, deverá ser administrado ao paciente?

c) Foi prescrita uma injeção de heparina com dose inicial de 7500 UI (Unidade
Internacional) para um paciente cardíaco adulto e, em seguida, uma infusão de
20000 UI/dia. A unidade de saúde possui um frasco de heparina na concentração
de 5000 UI/ 5mL. Qual volume, em mL, deve ser administrado ao paciente no

primeiro dia de tratamento?

R:
20 gotas  1mL 50.000mg  100mL
a) 30 gotas  x x  1,5mL
x  1,5mL x  750mg

5000mg → 100mL
b) 200mg → x
x = 4mL

7500 + 20000 = 27500 UI


5 mL → 5000 UI
c)
x mL → 27500 UI
x = 27,5 mL

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 102


50. Um pesquisador necessita de 100 mL de HCl com pH=3 para seus experimentos.
Em seu laboratório, há uma solução de HCl 1 mol/L. Ele decide diluir a solução
existente para obter o HCl com pH=4. Com base nessas informações, responda:

a) Qual será o vol ume, em mL, da solução de HCl 1 mol/L necessário para se obter
100 mL de HCl com pH=4?

b) Quantas vezes serão necessárias diluir a solução de HCl 1 mol/L?

R:

a)
HCl pH  4
1× Vi = 10-3  1
 
3 = - log H +
Vi = 10-3 L = 1mL
[H + ] = 10 -3 mol/L

1
b) Diluição = -3
= 103 = 1.000 vezes
10

51. Uma titulação de 50 mL de ácido acético 0,1 mol/L (CH3COOH, ácido fraco)
com NaOH 0,1 mol/L foi realizada, registrando-se os volumes de NaOH gastos em
2 momentos da titulação: 1) quando o pH da solução titulada atingiu o pKa do
ácido acético e 2) no término da titulação (ponto final). Em seguida, foi feita uma
outra titulação de 50 mL de ácido clorídrico 0,1 mol/L (ácido forte) com NaOH 0,1
mol/L, anotando-se os volumes de NaOH gastos da mesma forma realizada na
titulação anterior (quando pH da solução titulada= pKa do ácido acético e no ponto
final da titulação). Com base nessas informações e em outras sobre o assunto,

responda:
Dado: Ka ácido acético = 1,6 x 10-5

a) Qual o pH das soluções iniciais (CH3COOH 0,1 mol/L e HCl 0,1 mol/L,
respectivamente)?

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 103


b) Utilizando a tabela abaixo, escolha o melhor indicador para acompanhar cada
uma das titulações realizadas, ou seja, de CH3COOH e de HCl com NaOH,
respectivamente. Justifique sua escolha.
Indicador Faixa de Vi ragem pH < viragem pH > viragem
(pH)
Vermelho de 8,87,2 – Amarelo Vermelho
cresol
Alizarina 7,25,6 – Amarelo Vermelho
Fenolftaleína 9,88,2 – Incolor Violeta

c) Considerando que os indicadores escolhidos no item b sejam usados para


acompanhar as titulações descritas no enunciado, complete o quadro abaixo co m
os termos MAIOR, MENOR ou IGUAL. Justifique sua resposta.
Volume de NaOH registrado (VNaOH)
Situação Titulação de CH3COOH Titulação de HCl
pH da solução
titulada = pKa do VNaOH ____ ___________ __________ VNaOH
CH3COOH
No ponto final da
VNaOH ____ ___________ __________ VNaOH
titulação

d) Se substituirmos o HCl por ácido sulfúrico (H 2SO4), mantendo os mesmos


volume e concentração iniciais (50 mL e 0,1 mol/L, respectivamente), as
respostas anteriores (itens a, b e c) seriam diferentes? Justifique sua resposta.

e) A partir das situações trabalhadas, diferencie: ponto de equivalência e ponto

final; acidez aparente e acidez total.

R: a)
-1
HCl : pH = -log [10 ]
pH = 1

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 104


CH 3COOH : [H +
]= K a × [CH 3COOH]i

[H + ] = 1,6 × 10 -5 × 10 -1 pH = -log[1,26 × 10-3 ]

[H ] 1,6 10 -6
+ pH = 3 - 0,1 = 2,9
= ×

[H + ] = 1,26 × 10 -3 mol/L

b) O melhor indicador para acompanhar a titulação do HCl é a Alizarina e para o


CH3COOH, é a Fenolftaleína. Como o pH no ponto de equivalência para a
titulação do HCl é 7, observa-se que a Alizarina irá determinar o ponto final com
o menor erro. Para a titulação do CH3COOH, verifica-se que a Fenolftaleína irá
determinar o ponto final com o menor erro, porque o pH de seu ponto de
equivalência é maior do que 7 (pH=9,7; valor tabelado).

c)
Quando pH= pKa do CH3COOH, o VNaOH para a titulação do CH3COOH é MENOR
do que o VNaOH para a titulação do HCl. No ponto final, o VNaOH para a
titulação do CH 3COOH é IGUAL ao VNaOH para a titulação do HCl. Quando

pH= pKa do CH 3COOH, ou seja, pH=4,8 , será gasto um maior volume de


NaOH na titulação de HCl, pois a solução inicial nessa situação tem um pH
inferior ao da presente na titulação de CH3COOH. Assim, será necessário um
volume de NaOH maior para deslocar o pH de 1,0 (pH da solução de HCl 0,1
mol/L) para 4,8, do que para aumentar o pH de 2,9 (pH da solução de
CH3COOH 0,1 mol/L) para 4,8. Ao final das duas titulações, os volumes de
NaOH gastos serão iguais, já que os dois ácidos apresentam as mesmas
concentrações e volumes iniciais. Dessa forma, no ponto final da titulação, os 2
ácidos terão fornecidos a mesma quantidade de íons H+ e, assim, terão
consumidos volumes iguais de NaOH.

d)
 pH solução inicial :

H2SO4  2H+ + SO42-

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 105


1 mol H 2SO 4 → 2 mol H + pH = - log[H + ]
0,1 mol H 2SO 4 → x mol H + pH = - log 0,2
x = 0,2 mol H +
pH = 0,7

 Melhor indicador para a titulação:

Como o ponto de equivalência da titulação do H 2SO4 e NaOH é 7,0 (titulação


de ácido e base fortes), o melhor indicador será a Alizarina, pois ela irá
determinar o ponto final com o menor erro. Esse indicador também foi
escolhido como o mais adequado para a titulação do HCl.

 pH = pKa CH3COOH:

Como no item c, o volume gasto de NaOH para titular o CH3COOH seria

menor do que o usado na titulação de H2SO4. Como será necessário um volume


menor de NaOH para deslocar o pH de 2,9 (pH do CH3COOH 0,1 mol/L) a 4,8
ao se comparar com a mudança de pH necessária para o H2SO4 (∆pH=4,8-
0,7=4,1), pode-se afirmar que o gasto de NaOH será menor na titulação do
CH3COOH.

 pH no ponto final:

1 H2SO4 + 2 NaOH  1 Na2SO4 + 2 H2O

1 mol H 2SO 4 → 2 mol NaOH

1n → 2 n
H 2SO 4 NaOH

0,1× 50 = 2(0,1× V)
V = 25 mL

No ponto de equivalência, são gastos 25 mL NaOH. Esse volume é menor do que o


gasto para a titulação do CH3COOH. Logo, quando há substituição do HCl para o
H2SO4, o volume de NaOH consumido é diferente.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 106


e)
Ponto de equivalência: é o ponto, durante uma titulação, em que não há excesso de
ácido nem de base. Para uma reação em que os reagentes interagem na proporção
de 1:1, o ponto de equivalência ocorre quando há uma igualdade do número de
mols do ácido e da base titulados.

Ponto f inal: ocorre quando há a “viragem” do indicador, ou seja, a mudança de cor


dessa substância.

Acidez aparente: é determinada por técnicas que não afetam as quantidades dos
íons H+ presentes na solução, por exemplo, medições com pHmetro e fita de papel
+
indicador. Essa acidez reflete, assim, a concentração de H presente na solução no
momento da determinação do pH.

Acidez total: é a soma da acidez aparente mais a acidez potencial. Ela é


determinada por titulação. Assim, é possível dosar, por exemplo para um ácido
fraco, as quantidades de ácidos ionizado (acidez aparente) e não ionizado (acidez
potencial), presentes em um momento anterior à titulação.

52. A absorção de fármacos no organismo requer a passagem através da membrana


plasmática do conjunto de células de um determinado local. A taxa de absorção
deles depende, dentre outros fatores, da polaridade da molécula administrada.
Assim, pode-se afirmar, ao analisar apenas a polaridade do fármaco, que moléculas
ionizadas não atravessam a membrana celular ou se difundem vagarosamente,
enquanto que moléculas não-ionizadas atravessam essa barreira rapidamente. A
aspirina, um dos analgésicos mais consumidos no mundo, é um ácido fraco com
pKa de 3,5. Sua ação farmacológica ocorre na sua forma não ionizada. Ela é
absorvida através das células da superfície do estômago e das primeiras porções do
intestino delgado. O pH do suco gástrico está próximo de 1,5 e o pH das primeiras
porções do intestino delgado está ao redor de 6,0. Com base nessas informações e
em outras sobre esse tema, responda: A aspirina será melhor absorvida no estômago
ou no intestino delgado? Justifique.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 107


R: A aspirina será melhor absorvida no intestino delgado. Como esse órgão
apresenta uma grande área de superfície, proporcionada pelas microvilosidades, é
nele que ocorrerá a maior parte da absorção da aspirina, em sua forma não-
ionizada. No estômago, haverá uma maior quantidade de aspirina na forma não-
ionizada, devido ao pH ácido desse órgão. Porém, a melhor absorção ocorrerá no
intestino delgado, pelo motivo descrito anteriormente.

53. Em um indivíduo saudável, a produção diária de suco gástrico é de 2,5 L e a


concentração de íons H+ no estômago, liberados pelo HCl srcinado da secreção
gástrica, é de aproximadamente 5 x 10-3 mol x L-1. Um determinado indivíduo, em
+
um período entre refeições, apresentou uma concentração de íons H de 1 x 10-2
mol x L-1. A partir dessas informações, determine a massa (em g) de hidróxido de
alumínio - Al(OH)3 - que deve ser ingerida pelo indivíduo em questão para
neutralizar o seu excesso de acidez estomacal.
R:
H  excesso  10-2 - 5  10-3
nH   7 10-3  2,5  17,5 10-3 mol
H  excesso  10  10-3 - 3  10-3
H  excesso  7  10-3 mol/L Al(OH)3  3HCl  AlCl 3  3H 2 O

1 mol Al(OH)3  3 mols HCl


m  5,83 10 3  78
x mol Al(OH)3  17,5  10-3 mol HCl
m  0,45 g
x  5,83  10-3 mol

54. O tampão fosfato (H2PO4-/HPO42-) é usado em laboratório na faixa de pH entre


5,8 e 7,8 , combinando-se os sais Na2HPO4 (MM = 142 g/mol) e NaH2PO4 (MM =
120 g/mol). Quando se prepara um tampão com 45 mL de Na2HPO4 0,2 M e 55 mL
de NaH2PO 4 0,2 M, qual será o pH encontrado? (pKa H2PO4- = 6,8)
R:

0,009
n Na 2 HPO4 = 0,2 × 0,045 = 0,009 mol pH = 6,8 + log
0,011
n NaH2PO4 = 0,2 × 0,055 = 0,011 mol
pH = 6,8 - 0,1 = 6,7

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 108


55. O tampão borato (H3BO3 /NaH2BO3) é utilizado como veículo de alguns
fármacos presentes em colírios. Este tampão pode ser preparado misturando-se
200,0 mL de uma solução 0,15 mol x L-1 de ácido bórico (H3BO3) com 300,0 mL
de uma solução 0,3 mol x L-1 de borato de sódio (NaH2BO3). (Ka do ácido bórico =
7,3 x 10 -10)

a) Qual o pH desse tampão ?

b) Qual é a quantidade de borato (em mol) que deve ser adicionados a 200,0 mL
da solução de ácido bórico (0,15 mol x L-1) para obter um tampão de pH 9,0?

c) Determine o pH se fossem adicionados 0,01 mol de NaOH a 200,0 mL do


tampão originalmente preparado.

d) Qual será o volume máximo de HCl 0,1 mol/L que poderá ser adicionado ao
tampão srcinalmente preparado de modo que sua capacidade de
tamponamento seja mantida?

e) Quando se adiciona 500 mL de água destilada ao tampão srcinalmente


preparado, qual será o pH resultante? Justifique.

R:

nH 3BO3  0,2  0,15  0,03 mol


0,09
n NaH 2 BO3  0,3  0,3  0,09 mol pH  9,1  log
a) 0,03
pKa  -log [7,3  10 -10 ]
pH  9,1  0,5  9,6
pK a  10 - 0,9  9,1

n NaH 2 BO3
9,0  9,1  log
0,03
n NaH 2 BO3 n NaH BO  0,03  0,79
b) - 0,1  log 2 3

0,03 n NaH BO  0,0024 mol


2 3

 0 ,1
n NaH 2 BO3
10 
0,03

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 109


nH3 BO3  0,2  0,15  0,03 mol
n NaH 2 BO3  0,3  0,3  0,09 mol 500mL  0,09mol
c) 500mL  0,03mol 300mL  x
300mL  x x  0,054mol NaH 2 BO3
x  0,018mol H 3 BO3


pH  9,1  log 0,054 0,01
0,018 - 0,01
0,064
pH  9,1  log
0,008
pH  9,1  0,9  10,00

0,09 - n H 
0,09 - n H  0,1
8,1  9,1  log 0,03  nH 
0,03  nH 
d) 0,09 - n H   0,003  0,1nH 
0,09 - n H
log  1 1,1 nH   0,087
0,03  nH 
nH   0,079 mol

0,079
0,1 
VHCl
0,079
VHCl 
0,1
VHCl  0,79 L ou 790 mL

e)
O pH não será alterado, porque, quando se adiciona água, o número de mols do
aceptor e do doador não são alterados.

56. O equilíbrio ácido-base do organismo é garantido por tampões sanguíneos, bem


como pela atividade pulmonar e renal. O principal sistema de tamponamento do
sangue é o tampão bicarbonato (H2CO3/HCO3-), o qual é responsável por
aproximadamente 75% da capacidade tamponante do plasma sanguíneo. Com base

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 110


no papel desempenhado pelo tampão bicarbonato e considerando-o como o único
tampão sanguíneo, responda:

a) Escreva as reações do tampão bicarbonato quando há um excesso de acidez


(H+) no sangue.

b) Calcule o pH sanguíneo quando [CO 2 dissolvido] = 1,5 mmol/L e [HCO 3-] =


30mmol/L. Considere pKa do ácido carbônico (H2CO3) de 6,14.

c) Após um exercício físico intenso, detecta-se 5 mmol/L de lactato no sangue de


um atleta, formado pela ionização do ácido láctico (HAc). Esse ácido, por sua
vez, foi produzido durante o metabolismo anaeróbico do indivíduo em
atividade física. Com base nessas informações, calcule a variação do pH
sanguíneo desse indivíduo após o exercício físico, adotando o pH determinado
em b como o padrão de repouso do atleta.

d) Considera-se que a faixa de pH sanguíneo tolerada por um indivíduo está

compreendida entre 6,80 a 8,00. Valores de pH que ultrapassam esses limites,


quando mantidos por um tempo considerável, podem levar ao óbito de uma
pessoa. Com base na faixa de tamponamento do tampão bicarbonato e em
outras características dele, elabore uma hipótese que justifique a importância
desse tampão no controle do pH sanguíneo.

R:a) HCO3- + H+  H2CO3  CO2 + H 2O

30
pH  6,14  log
b) 1,5
  
pH 6,14 1,3 7,44

30 - 5
pH  6,14  log
1,5  5
25
c) pH  6,14  log pH = 7,44 - 6,72 = 0,72
6,5
pH  6,14  0,585  6,725

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 111


d)
A faixa de tamponamento do tampão bicarbonato (6,44 a 8,44) cobre a faixa de
pH sanguíneo suportável para a vida (6,8 a 8,0). Assim, o tampão bicarbonato é
eficiente no tamponamento do sangue.

57. O ácido benzóico, C6H5COOH, é usado como conservante em vários produtos

da área alimentícia, principalmente em refrigerantes. Ele é utilizado com essa


finalidade, porque inibe o crescimento de bactérias.

a. Sabendo que o pKa do ácido benzóico é 4,2, você diria que este ácido é fraco?
Justifique a sua resposta.

b. Os sais da base conjugada (benzoato) não apresentam a mesma atividade


bacteriostática da forma livre do ácido benzóico. Por isso, o ácido benzóico só
pode ser usado em pH no qual a concentração do ácido livre exceda a da base
conjugada. Isso ocorrerá em solução ácida ou básica? Justifique sua resposta.

c. Calcule o pH em que são iguais as concentrações de ácido benzóico e de


benzoato.

R: a)
pKa = 4,2 [H + ][C 6 H 5 COO- ]
Ka =
K a = 6,31×10 -5
[C H COOH]
6 5

Como o Ka do ácido benzóico é pequeno, pode-se afirmar que esse ácido ioniza
pouco, porque, em um determinado meio, há uma grande quantidade de
C6H5COOH e uma pequena quantidade de H+ e C 6H5COO-. Assim, pode-se dizer
que o ácido benzóico é fraco.

C6 H 5COO-
b) pH = 4,2 + log
C6 H 5 COOH

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 112


O ácido benzóico terá uma adequada ação de conservante em pH ácido. Como a
quantidade de C6H5COOH deve ser maior do que a de C6H5COO-, o pH da solução
deve ser menor do que 4,2. Assim, a solução deve ser ácida.

C 6 H 5 COO- pH = 4,2 + log1


c) pH = 4,2 + log
C6 H 5 COOH pH = 4,2

58. No gráfico abaixo, explique o significado da inclinação das retas a, b e c,


considerando que elas foram obtidas em células de mesma área de membrana
plasmática (A). Adotando ainda que o processo de difusão ocorra apenas pela
matriz lipídica da membrana, dê três causas prováveis para essas diferenças da
inclinação das retas.

– Fluxo de difusão de S através da membrana celular:


Js – Fluxo de difusão de S através da membrana celular
∆C – Diferença de concentração de S através da membrana
celular

R: As diferentes inclinações das retas estão demonstrando as diferentes


permeabilidades da membrana celular a uma substância nas situações a, b e c. As
três causas prováveis para essas diferenças são: diferentes coeficientes de difusão,
coeficientes de partição ou espessuras da membrana em cada uma das situações.

59. O processo de difusão é essencial para o transporte de nutrientes para as células,


a partir da membrana plasmática. O fluxo de difusão através da membrana é

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 113


determinado por características tanto da membrana celular quanto do soluto
transportado. Com base nesse assunto, responda:

a) Considere 2 moléculas esféricas difusíveis pela membrana plasmática de uma


determinada célula. Uma delas tem raio igual aX, a outra, tem raio igual a 4X.
Qual das 2 moléculas se difundirá mais rapidamente pela membrana?

b) Cite pelo menos 3 características da membrana celular que influenciam na


intensidade do fluxo de difusão (J). Justifique sua resposta.

R:

kT C
D (Equação de Stockes-Einstein) J  DA (1ª Lei de Fick)
6r x

a) De acordo com a equação acima, quanto maior o raio, menor é o coeficiente de


difusão. Além disso, de acordo com a 1ª Lei de Fick para a difusão, quanto menor o

coeficiente de difusão, menor será a intensidade do fluxo de difusão. Assim, a


molécula de raio 4X apresenta um coeficiente de difusão menor do que a molécula
de raio X. Dessa forma, a molécula de raio X apresenta um maior fluxo de difusão
ao compará-la com a de raio 4X e, assim, a molécula de raio X se difundirá mais
rapidamente pela membrana celular.

b)
Área da superfície da membrana (A): Quanto maior a área da membrana, maior é a
velocidade do fluxo de difusão. Espessura da membrana (∆x): Quanto maior a
espessura da membrana, menor é a intensidade do fluxo de difusão. Viscosidade do
meio (  ): Quanto maior a viscosidade da membrana, menor o coeficiente de
difusão e, assim, também será menor o fluxo de difusão.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 114


60. Com a finalidade de verificar como o organismo realiza suas tarefas
respiratórias, é comum utilizar testes para medir a capacidade de difusão dos
pulmões para o monóxido de carbono (CO). Esses testes permitem verificar a
transferência dos gases inspirados para as hemácias sanguíneas. Um deles é o
Método de Respiração Única, no qual é feita uma única inspiração de uma mistura
contendo 0,3% de CO, uma retenção da respiração por 10s e, finalmente, há uma
expiração. Esse procedimento permite determinar a capacidade de difusão para CO
(DLCO):
Sendo:

VCO = volume de CO transferido dos


alvéolos para o sangue por unidade
de tempo (mL/min)

PACO = pressão parcial alveolar do


CO (mmHg)

A capacidade de difusão é um termo que engloba o coeficiente de difusão de um


gás (D); a área da superfície (A) e a espessura (∆x) da membrana. Essas variáveis
estão presentes na Lei de Fick aplicada para a difusão de gases:

Sendo:
P1-P2 = gradiente de pressão na
membrana

Um paciente com enfisema pulmonar (doença caracterizada por destruição


progressiva das paredes capilares e alveolares) realizou o Método de Respiração
Única. Ele obteve os seguintes resultados: PACO = 0,1 mmHg; Volume inspirado de
CO = 0,50 mL; Volume expirado de CO = 0,25 mL. Com base nessas informações,
responda:

a) Calcule a D LCO do paciente em questão.

b) Sabendo que a faixa de variação normal para a D LCO é de 20 a 30


mL/min/mmHg, relacione o valor encontrado ema com as características do
enfisema pulmonar.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 115


R:

0,5 - 0,25 mL 0,25mL


a) VCO = = = 1,5 mL/min
10s 10
min
60
1,5
D LCO = = 15 mL/min × mmHg
0,1

b) O valor encontrado para a D LCO do paciente está abaixo da faixa normal de D LCO
(20 a 30 mL/min x mmHg). Como ele apresenta enfisema pulmonar, pode-se
relacionar essa diminuição da D LCO com a diminuição da área de superfície
pulmonar (“A” da Lei de Fick).

61. Na fase pré-clínica de um estudo de medicamentos, aplica-se o fármaco em


animais de laboratório para se analisar, de maneira preliminar, a atividade
farmacológica e a segurança do fármaco. Vários testes são feitos para se
determinar, entre outros fatores, a absorção, metabolização, distribuição e
eliminação de um fármaco. Suponha que uma substância, em ensaio pré-clínico,
deva difundir por uma célula-alvo de 10-6 cm2 de área. Considerando que o
coeficiente de permeabilidade dessa substância é 8 cm/s, calcule o tempo de difusão
de 1 µL de uma solução desse fármaco a 300 mol/L
R:

J   pA (Ci - C e )
J  [8 cm / s  10 6 cm 2  (-300mol/L)
  300 mol  1000 mL  300 mol
J   8  10 6 cm3 / s    
  1000 cm 3  0,001 mL  x
J  8  10 6 cm 3 / s   3  10 1 mol / cm 3  x  3  10 -4 mol
7
J   24  10 mol / s 
J  2,4  10 6 mol / s

2,4  10 -6 mol  1s
3  10-4 mol  x
x  125 s

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 116


62. Considere a hemácia com Cosm = 0,3 Osm, Coeficiente de reflexão (σ) da ureia =
0,5; σ(Na Cl ) = 1 e t = 25 °C, mergulhada nas seguintes soluções:
I- H2O IV-NaCl = 0,6 Osm
II- NaCl = 0,2 Osm V- Ureia = 0,6 Osm
III- NaCl = 0,4 Osm VI-NaCl = 0,2 Osm + Ureia = 0,2 Osm

a) Determine, em cada um dos casos, a osmoticidade e a tonicidade da solução em


relação à célula.

b) Qual é a pressão osmótica teórica de cada uma das soluções?

c) Considerando as propriedades de transporte dos solutos diretamente pela


membrana celular, discuta, para cada uma das situações do enunciado (I a VI),
se a pressão osmótica teórica calculada emb será confirmada em uma situação
real.

R: a)

Substâ ncia Osmotici dade Tonicidade

I) H2O Hiposmótica Hipotônica

II) NaCl 0,2 Osm Hiposmótica Hipotônica

III) NaCl 0,4 Osm Hiperosmótica Hipertônica

IV) NaCl 0,6 Osm Hiperosmótica Hipertônica

V) Ureia 0,6 Osm Hiperosmótica Hipotônica

VI) NaCl 0,2 Osm + Ureia 0,2 Osm Hiperosmótica Hipotônica

b)

i. H2O:   R  T  Cosmolar   0,082  298  0  0 atm


ii. NaCl 0,2 Osm:   0,082  298 0,2  4,89 atm

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 117


iii. NaCl 0,4 Osm:   0,082  298 0,4  9,77 atm
iv. NaCl 0,6 Osm:   0,082  298  0,6  14,66 atm
v. Ureia 0,6 Os m:   0,082  298  0,6  14,66 atm
vi. NaCl 0,2 Osm + Ureia 0,2 Osm:   0,082  298 0,4  9,77 atm

c)

vii. H2O:   0,082  298  0  0 atm . A água não exerce pressão osmótica.
viii. NaCl 0,2 Osm:   0,082  298  0,2  4,89 atm . Essa pressão será
confirmada em uma situação real, porque o fluxo osmótico previsto
indiretamente pela pressão osmótica teórica não será alterado em uma
situação real.
ix. NaCl 0,4 Osm:   0,082  298  0,4  9,78 atm . Essa pressão será
confirmada em uma situação real, porque o fluxo osmótico previsto
indiretamente pela pressão osmótica teórica não será alterado em uma
situação real.
    
x. NaCl 0,6 Osm: 0,082 298 0,6 14,67 atm . Essa pressão será
confirmada em uma situação real, porque o fluxo osmótico previsto
indiretamente pela pressão osmótica teórica não será alterado em uma
situação real.
xi. Ureia 0,6 Osm:   0,082  298  0,6  14,67 atm . Essa pressão não
será observada em uma situação real, porque o fluxo osmótico previsto
indiretamente pela pressão osmótica teórica será maior do que o
observado em uma situação real. Assim, em uma situação real, a
pressão osmótica observada será menor do que a calculada
teoricamente.
xii. NaCl 0,2 Osm + Ureia 0,2 Osm:   0,082  298  0,4  9,78 atm . Essa
pressão não será observada em uma situação real, porque o fluxo
osmótico previsto indiretamente pela pressão osmótica teórica será
maior do que o observado em uma situação real. Assim, em uma
situação real, a pressão osmótica observada será menor do que a
calculada teoricamente.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 118


63. A concentração das soluções no interior e exterior das células pode variar. O
conceito de tonicidade indica que a resposta celular a modificações na concentração
do meio extracelular se manifesta sob a forma de variação de volume da célula, de
tal forma que essa variação é função da pressão osmótica do meio externo. Além
disso, a resposta celular depende da variação da concentração extracelular e da
permeabilidade da membrana aos solutos do meio externo.

a) Durante uma aula prática de Biofísica sobre tonicidade, seis soluções foram
apresentadas aos alunos em tubos de ensaio. Complete a tabela seguinte com as
informações sobre essas soluções (considere Φ = 1 para todos os solutos).

Soluções para prática de tonicidade


Molaridade Osmolaridade Osmoticidade
Solução σ1 Tonicidade3
(mol/L) (Osm) π2

1)Água 0 hiposmótica
2) NaCl 1 0,05 hipotônica
3)NaCl 0,30

4)NaCl 0,30
5)Ureia 0 0,30
0,60M (solução
6) Mistura de 0
inicial de ureia)
10mL de Ureia (ureia)
-0,30M (solução
com 10mL de 1
inicial de NaCl)
NaCl (NaC)l

Observações: 1 σ: coeficiente de reflexão do soluto – medida indireta da permeabilidade


de membranas.
2e 3
Osmoticidade e tonicidade da solução, respectivamente, em relação à

concentração intracelular usual: 0,30 Osm.

b) Durante a aula prática, foram adicionadas gotas de sangue em cada solução. As


soluções 1, 2 e 5 se tornaram soluções róseas transparentes enquanto as demais
se tornaram róseas, porém turvas. Como você identificaria a ocorrência de

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 119


hemólise em uma solução de um experimento de laboratório em que hemácias
precisam ser misturadas na solução?

c) Com base na tabela preenchida no item a, formule uma regra geral para solutos
não permeantes relacionando Osmoticidade e Tonicidade.

d) A hiponatremia dilucional é uma condição clínica frequente em indivíduos que


trabalham no sol ou que exercem diariamente grandes esforços. Esses
indivíduos apresentam taxa de sudorese elevada, perdem quantidades
significativas de água, sal e ureia no suor e geralmente bebem água quando
sentem sede. Que soluções, dentre as citadas na tabela do item a, você
recomendaria para que uma pessoa saudável com hiponatremia dilucional
ingerisse todos os dias quando sentisse sede?
R: a)

Soluções para prática de tonicidade

Solução δ Molaridade Osmolaridade Osmoticidade Tonicidade


(M) (Osm) π2
1) Água 0 0 0 hiposmótica hipotônica
2) NaCl 1 0,05 0,10 hiposmótica hipotônica
3) NaCl 1 0,15 0,30 isosmótica isotônica
4) NaCl 1 0,30 0,60 hiperosmótica hipertônica

5) Ureia 0 0,30 0,30 isosmótica hipotônica


6) Mistura 0 -0,60 -0,60 hiperosmótica isotônica
de 10mL de (ureia) (solução (solução
Ureia com inicial de inicial de
10mL de NaCl 1 ureia) ureia)
(NaCl)
-0,30
(solução -0,60
(solução
inicial de inicial de
NaCl) NaCl)
-0,45 -0,60
(mistura)
(mistura)

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 120


Observações: 1) δ: coeficiente de reflexão do soluto – medida indireta da
permeabilidade de membranas.

2 e 3) Osmoticidade e tonicidade da solução em relação à concentração


intracelular usual: 0,30 Osm.

Embora existam diversas partículas dissolvidas na água, para facilitar, podemos


considerar, neste caso, que a Molaridade e a Osmolaridade da água pura sejam iguais a
0.

Para o cálculo de Osmolaridade do NaCl, que é uma substância que se dissocia


formando íons em solução aquosa, basta multiplicar a Molaridade pelo número de
partículas srcinadas durante a dissociação. Como cada fórmula unitária de NaCl
srcina dois mols de íons, deve-se multiplicar a Molaridade por 2. Para obter a
Molaridade, basta efetuar cálculo inverso: dividir a Osmolaridade por 2.

A ureia não se dissocia, logo, os valores de Molaridade e Osmolaridade para a ureia


serão idênticos.

A Molaridade da mistura na última linha da tabela é obtida pela soma das Molaridades
parciais de NaCl e de ureia na mistura. Quando misturamos volumes iguais das soluções
de NaCl e ureia, a concentração de cada substância na mistura cai pela metade devido à
diluição: é como se o volume de cada solução inicial dobrasse. Temos então:

 Concentração de ureia: solução inicial → 0,60M; concentração na mistura →


0,30M;
 Concentração de NaCl: solução inicial → 0,30M; concentração na mistura →
0,15M.
A soma das Molaridades na mistura é 0,45M.

A Osmolaridade da mistura pode ser calculada de forma análoga: trata-se da soma das

Osmolaridades parciais dos componentes da mistura após a diluição. Temos:


 Osmolaridade de ureia: solução inicial → 0,60Osm; Osmolaridade após a
diluição → 0,30Osm.
 Osmolaridade de NaCl: solução inicial → 0,60Osm; Osmolaridade após a
diluição: 0,30Osm.
Soma: 0,60Osm.
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 121
A Osmoticidade (π) é determinada comparando-se as Osmolaridades das soluções em
relação à do meio intracelular (0,30Osm). Se a Osmolaridade da solução for inferior à
do meio intracelular, a solução é considerada hiposmótica em relação ao meio
intracelular; se a Osmolaridade da solução for igual à do meio intracelular, a solução é
isosmótica; se a Osmolaridade da solução for superior à do meio intracelular, a solução
é classificada como hiperosmótica.

Com relação à Tonicidade, uma forma simples de raciocinar é pensar no efeito da


solução sobre as forças de interação entre os componentes da membrana celular. Se
quando células forem colocadas em contato com a solução existir fluxo resultante de
fluido para dentro da célula, aumentando seu volume, essa solução afastará os
componentes da membrana. Consequentemente, a interação entre as cadeias apolares da
bicamada lipídica se tornará menos intensa: a solução será classificada como hipotônica.
Se a solução propiciar um fluxo resultante de fluidos para fora da célula, reduzindo o
volume da célula, essa solução aproximará os componentes da membrana, tornando a
interação entre eles mais intensa: a solução será classificada como hipertônica. Por fim,
quando células estiverem em contato com a solução e não houver fluxo resultante entre
os compartimentos intra e extracelular, a solução não alterará o volume celular.
Consequentemente, não há alteração na força de interação entre os componentes da
bicamada lipídica: a solução será considerada isotônica.

b) As soluções 1, 2 e 5 provocam hemólise por serem hipotônicas. Portanto, a


identificação de ocorrência de hemólise pode ser feita através da análise da solução: se
ela se tornar rósea transparente, provavelmente, ocorreu hemólise.

c) Para solutos não permeantes, Osmoticidade = Tonicidade; ou seja, se a solução do

soluto não permeante é isosmótica, ela será também isotônica em relação a células; se a
solução do soluto não permeante é hiposmótica, ela será também isotônica em relação a
células; se a solução do soluto não permeante for hiperosmótica, ela será também
hipertônica em relação a células.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 122


d) Como a ureia é um produto de excreção do organismo, sua reposição não procede. A
ingestão apenas de água não repõe sal e dá srcem à condição clínica citada. O ideal é a
ingestão de solução isotônica de NaCl que repõe tanto sal quanto água. A solução
hipotônica de NaCl também pode ser utilizada, já que repõe sal em alguma proporção.
A solução hipertônica de NaCl não deve ser utilizada diariamente, pois representa
aumento de carga ingerida de NaCl, determina reabsorção renal de água e aumento de
volume extracelular o que pode culminar em hipertensão arterial.

64. Um método para reidratação de atletas é a ingestão de soluções hipotônicas


contendo, por exemplo, NaCl. Um atleta de 80,0Kg ingeriu 1,00 L de uma solução
a 0,100M de NaCl. Qual será o volume e a osmolaridade no meio intracelular e
extracelular quando os líquidos corpóreos tiverem atingido equilíbrio após a
ingestão da solução? Desconsidere a desidratação leve decorrente da prática
esportiva. Considere Φ = 1 para o NaCl.

R: Os líquidos corpóreos se dividem em dois compartimentos principais: o intracelular e


o extracelular. Os volumes intra e extracelular serão tratados neste texto como VIC e
VEC, respectivamente. VIC→ 2/3 do volume de líquido do organi smo que é dado por
60% do peso corporal, logo, VIC = 40% do peso. VEC → 1/3 do volume de líquido do
organismo que é dado por 60% do peso corporal, logo, VEC = 20% do peso.

Em um homem de 80,0 kg, VIC é 32,0 L e VEC, 16,0 L. Ao se ingerir 1,00 L de uma
solução 0,100 M de NaCl, altera-se o volume e a osmolaridade do líquido extracelular
de tal forma que ocorrerá movimento de água através das membranas celulares do meio
hiposmolar para o meio hiperosmolar. O movimento de soluto não ocorre, porque o
NaCl não é capaz de atravessar as membranas celulares.

O primeiro passo para a resolução deste exercício é, portanto, o cálculo do novo volume

e da nova osmolaridade do meio extracelular.


O novo volume é: 16,0 + 1,00 = 17,0 L.

A nova osmolaridade pode ser obtida através da fórmula “volume x osmolaridade = n o


de partículas”, como se segue:

1,00 L x 0,100 osm / L = 0,100 osm→ partículas que vieram da solução ingerida.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 123


16,0 L x 0,300 osm / L = 4,80 osm → partículas que já estavam no meio extracelular.

0,100 + 4,80 = 4,90 osm→ total de partículas no meio extracelular após a ingestão.

A osmolaridade do meio extracelular é portanto: 4,90 osm / 17,0 L = 0,288 Osm.

A ingestão da solução em questão fez com que o meio extracelular ficasse ligeiramente
hipotônico (0,288 Osm) em relação ao meio intracelular que, inicialmente, permanece

com concentração de 0,300 Osm. Logo, o fluxo de água ocorrerá do meio extracelular
para o intracelular.

X L de água sairá do meio extracelular e irá para o meio intracelular.

Organizando o raciocínio:

Para o líquido extracelular, temos: V1 = 17,0 L; V2 = (17,0 - X) L; C1 = 0,288 Osm; C2 =


? Osm.

Para o líquido intracelular, temos: V1 = 32,0 L; V2 = (32,0 + X) L; C1 = 0,300 Osm; C2 =


? Osm.

Aplicando a fórmula “C1 x V1 = C2 x V2” para os meios intra e extracelular, temos as


seguintes equações:

Meio intracelular: 0,300 x 32,0 = C2 x (32,0 + X)

Meio extracelular: 0,288 x 17,0 = C 2 x (17,0 - X)

Como, no equilíbrio, as concentrações finais serão as mesmas tanto para o meio


intracelular quanto para o meio e xtracelular, C2 é a mesma incógnita nas duas equações.
Por isso, podemos utilizar o método de substituição para resolver o sistema de equações
acima:

Meio intracelular: 0,300 x 32,0 = C2 x (32,0 + X) → C2 = 0,300 x 32,0 / (32,0 + X)

Substituindo:

Meio extracelular: 0,288 x 17,0 = [0,300 x 32,0 / (32,0 + X)] x (17,0 - X)

4,90 = [9,60 / (32,0 + X)] x (17,0 – X)

156,8 + 4,90X = 163,2 – 9,60X

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 124


14,5X = 6,40

X = 0,441

Resolvendo a equação, temos que X = 0,441 L.

Portanto, já sabemos que os volumes finais intra e extracelular são 32,441 L e 16,559 L,
respectivamente.

Para descobrir o valor de C2, isto é, da concentração final nos meios intra e extracelular,
basta substituir o valor encontrado para VIC na equação referente ao meio intracelular
ou o encontrado para VEC na equação correspondente ao meio extracelular. Fazendo
isso, encontra-se uma concentração final de equilíbrio de 0,296 Osm que é ligeiramente
menor que a osmolaridade inicial dos compartimentos biológicos (0,300 Osm).

O resultado encontrado é coerente já que o indivíduo ingeriu uma solução cuja


concentração em partículas era menor (0,100 Osm) que a concentração dos líquidos
corpóreos (0,300 Osm).

65. Em crianças com diarréia, pode ocorrer uma severa desidratação. Em 24 h, essas
crianças podem perder água na proporção de 100 mL/Kg de peso corporal e 90 mmol de
Na+/L de água perdida (os íons K+ e Cl- são também perdidos nessa proporção). Nessa
situação, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda a ingestão da solução de
Sais para Reidratação Oral (SRO). Nas primeiras 4h, érecomendável que uma criança
de 20 Kg ingira 1.500 mL dessa solução. A composição da solução de SRO é a
seguinte:

Substância Massa molar Concentração


(g/mol) (g/L)

Cloreto de sódio 58,4 2,6


Cloreto de potássio 74,5 1,5
Citrato trisódico diidratado 294,1 2,9
Glicose 180,2 13,5

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 125


a) Calcule a osmolaridade da SRO. O número de partículas do Citrato trisódico
diidratado é 4. Considere Φ = 1 para todas as substâncias da SRO.

b) Com base na osmolaridade calculada em a, explique como a SRO pode reidratar


e repor os sais perdidos por uma criança desidratada.

c) Uma criança de 20 Kg está com diarréia e uma severa desidratação. Durante


24h, ela perdeu água, Na+ e Cl- nas proporções descritas no enunciado desta
questão. Após esse período, a criança recebeu 1500 mL da solução de SRO.
Com base nessas informações e considerando que a água e os íons foram
perdidos apenas do meio extracelular, calcule a osmolaridade final e os
volumes extracelular e intracelular finais. Considere o organismo divido em
dois compartimentos: extracelular e intracelular; [Na+] meio extracelular = 140
-
mmol/L; [Cl ] meio extracelular = 100 mmol/L; uma criança saudável possui um
volume total de água igual a 60% de seu peso corporal.

66. Na fase inicial de uma queimadura de grandes proporções em um indivíduo, é

comum observar a formação de edemas e um quadro de hiponatremia sérica


(diminuição da concentração de Na+ no soro sanguíneo). Para reverter esses
sintomas, injeta-se normalmente na veia do paciente uma solução de NaCl a 3,5%
p/v. Com base nessas informações, responda:

a) Calcule a osmolaridade da solução de NaCl a 3,5% p/v (considere Φ = 1).

b) Com base na osmolaridade calculada no item a e nos conhecimentos sobre


tonicidade, explique como a solução de NaCl pode reverter os sintomas
apresentados pelo paciente.

R:

a)

NaCl:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 126


2,6 M  0,04 mol/L
n  0,04 mol
58,4 OSM  0,04  2  0,08 Osm

KCl:

1,5 M  0,02 mol/L


n  0,02 mol
74,5 OSM  0,02  2  0,04 Osm

Citrato trisódico:

2,9 M  0,0099 mol/L


n  0,0099 mol
294,1 OSM  0,0099  4  0,04 Osm

Glicose:

13,5 M  0,0749 mol/L


n  0,0749 mol
180,2 OSM  0,0749 1  0,07 Osm

Osmolaridade da SRO: 0,08+0,04+0,04+0,07=0,23 Osm

b)

Como a SRO é hipotônica em relação às células de uma criança desidratada, a


água irá fluir do meio extracelular para o intracelular, reidratando o indivíduo.
Quanto à reposição dos sais perdidos, eles irão se difundir do meio extracelular
para o intracelular. Assim, os sais perdidos pela criança serão também repostos.

c)

H 2 O perdid a : 20  100  2000 mL  2 L H 2 O total  0,6  20  12L



Na perdid o : 90  2  180 mmol H 2 O int ra  0,4  20  8L
 
Cl perdid o  Na perdid o  180 mmol H 2 O extra  0,2  20  4L

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 127


Osm extra início  4  300  1200 mOsm
Osm extra perda  1200 - 2(180)  840 mOsm
Osm intra início  8  300  2400 mOsm

Ingestão SRO : 1,5L



Na  [0,08  3(0,04)] 1,5  0,30 Osm
Na 
 300 mOsm
Cl -
 0,08  0,041,5  0,18 Osm
Cl -  180 mOsm

Osm extra final  840  300  180  1320 mOsm


Osm intra final  2400 mOsm 323,5 mOsm  1L
Osm total  1320  2400  3720 mOsm 1320 mOsm  Vextra final
Vtotal final  12  2  1,5  11,5L Vextra final  4,1 L
3720
Osmolaridade   323,5 mOsm/L
11,5

323,5 mOsm  1L
2400 mOsm  Vintra final
Vintra final  7,4 L

67. Uma doença inflamatória grave foi detectada em um indivíduo, sendo recomendado
o uso da nutrição parenteral para o seu quadro. Nesse tipo de nutrição, uma solução
nutriente é infundida por via intravenosa em um acesso periférico (pequena veia,
geralmente no braço) ou central (grande veia com alto fluxo sangüíneo). Um dos

critérios para definir o acesso a ser utilizado é a osmolaridade da solução parenteral.


Para soluções com osmolaridade inferior a 900 mOsm/L, utiliza-se o acesso
periférico. Para uma osmolaridade superior a esse valor, deve-se necessariamente
empregar o acesso central. O indivíduo em questão deve receber uma infusão de
2400 mL, durante 24h, a uma taxa de 100 mL/h, com a seguinte composição:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 128


Componentes Massa (g) Massa Molar
(g/mol)
Glicose 400 180
Aminoácido 100 100
(valor médio)
NaCl 4,7 58,5
NaCH3COO 6,6 82
KCl 3,0 74,5
K2PO4 5,2 173
MgSO4 0,6 120

Com base nessas informações e em outras sobre esse tema, responda:

a) Calcule a osmolaridade da solução parenteral. (Número de partículas do


Aminoácido = 1; considere Φ = 1 para todos os componentes da solução).

b) Com base na osmolaridade calculada em a, responda: Qual acesso de nutrição


parenteral deve ser utilizado para infundir a solução descrita? Justifique.

c) Caso fosse empregado o acesso inadequado para infundir a solução descrita,


qual seria um possível sintoma que o paciente apresentará? Justifique.

d) Com base na velocidade de infusão da nutrição parenteral (100 mL/h), descreva


as implicações na distribuição de líquidos no organismo do indivíduo.

e) Caso a velocidade de infusão fosse 10 vezes maior (1000 mL/h), quais seriam as
implicações na distribuição de líquidos no organismo do indivíduo?

f) Se a velocidade de infusão fosse 10 vezes menor (10 mL/h), haveria alguma


alteração no processo de nutrição e m relação à infusão a 100 mL/h? Justifique.

R:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 129


3,5g 35g
NaCl 3,5%    35g / L
100 mL 1000 mL
M MNaCl  58,4 g / mol
35
n  0,60 mol
58,4

M  0,60 mol/L
OSM  M  x
OSM  0,6  2  1,2 Osm/L

b) Como o NaCl 3,5% é hipertônico aos tecidos do organismo (1,2 Osm/L), ele
irá provocar um fluxo de água para fora do compartimento intersticial do tecido,
revertendo, assim, os edemas corporais. O quadro de hiponatremia sérica também será
revertido, porque o NaCl 3,5% está sendo injetado diretamente na corrente sanguínea,
fornecendo Na+ para o plasma sanguíneo.

68. .

a)
400 g  2,4L
166,67
Glicose: x g  1L n  0,93 mol/L
x  166,67 g/L 180

OSM  0,93  1
OSM  0,93 ou 930 mOsm/L

Para os outros componentes da solução parenteral, utiliza-se o mesmo


raciocínio. Assim, obtêm-se:

Componente Molaridade (mmol/L) Osmolaridade (mOsm/L)

Aminoácidos 417 417

NaCl 33,5 67

NaCH3COO 33,5 67

KCl 16,8 33,6

MgSO
2,14 4,2

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 130


Osmolaridade total = 930 + 417 + 2(67) + 33,6 + 4,2 = 1518,8 mOsm/L

b)

O acesso central. Como a osmolaridade da solução parenteral é superior a 900


mOsm/L, deve-se necessariamente utilizar o acesso central.

c)

Caso se empregasse a solução parenteral no acesso periférico, poderia surgir um


quadro de flebite no paciente. A flebite é um processo inflamatório do vaso
sanguíneo que, no caso em estudo, seria causada pela grande perda de água na
veia periférica.

d)

Como a velocidade de infusão é baixa, não ocorrerá uma perda excessiva de


água na via de acesso central. Assim, o corpo consegue equilibrar a grande
osmolaridade presente na solução, sem prejudicar nenhum tecido do organismo.

e)

Nessa situação, provavelmente, o paciente teria uma flebite na via de acesso


utilizada. Assim, ocorreria uma grande perda de líquidos pelo vaso sangüíneo.
Além disso, seriam esperados efeitos sistêmicos, como a formação de edemas
em algumas áreas corporais. Sobrecarga de alguns órgãos, em especial os rins.

f)

Não haveria uma nutrição adequada do indivíduo. Como a quantidade presente


dos nutrientes na infusão é pequena, não ocorrerá um suprimento adequado para
o paciente em tempo adequado.

69. - As células do organismo estão em equilíbrio dinâmico com o meio


extracelular. Isso significa dizer que, continuamente, existe fluxo de substâncias
através das membranas celulares.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 131


a) O que é uma membrana semipermeável? E o que significa o termo
permeabilidade seletiva?
b) Conceitue osmose e difusão.
c) Defina os limites numéricos (valor mínimo e valor máximo possíveis) do índice
ou coeficiente de reflexão e comente os valores definidos.
d) O que é um soluto osmoticamente ativo?

R: a) Membrana semipermeável: permite passagem apenas de moléculas de água.


Permeabilidade seletiva: permeabilidade a substâncias específicas, além da água.

b) Osmose é o fluxo de água, através de uma membrana semipermeável, de um


compartimento onde a concentração do soluto é menor para um onde a concentração de
soluto é maior. Mais simplificadamente: o fluxo de solvente do meio menos
concentrado em partículas para o meio mais concentrado em partículas.

Difusão é o processo onde os átomos ou moléculas se misturam devido ao seu


movimento térmico ao acaso (browniano). Mais simplificadamente: o fluxo de soluto do
meio mais concentrado em partículas para o menos concentrado em partículas.

c) Os limites do coeficiente de reflexão são 0 e 1 ou 0% e 100%. O índice de reflexão de


0 ou 0% indica que a substância não é refletida pela membrana celular, ou seja, a
membrana é totalmente permeável à substância. Em contrapartida, o índice de reflexão
de 1 ou 100% indica que a substância é totalmente refletida pela membrana: a
membrana é impermeável à substância.

d) Solutos osmoticamente ativos são aqueles incapazes de atravessar uma membrana


semipermeável. Presos em compartimentos separados por essas membranas, exercem
pressão forçando a passagem de água para onde estão em maior concentração.

70. Uma substância cujas concentrações intracelular e extracelular são iguais está em
equilíbrio? Justifique detalhadamente sua resposta com base nas forças que podem
agir sobre partículas carregadas ou não carregadas localizadas no líquido
extracelular (LEC) e líquido intracelular (LIC).

R: Não necessariamente. Uma partícula carregada sofre ação de duas forças: elétrica e
de concentração. Desta forma, não basta não haver força de concentração (as duas

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 132


concentrações – interna e externa – serem as mesmas) para que haja equilíbrio; antes
disso, é necessário que não haja também forças elétricas. Partículas não carregadas
estariam, sim, em equilíbrio na situação descrita (igualdade de concentrações interna e
externa), uma vez que elas não estão submetidas a forças elétricas.

71. . As proteínas são macromoléculas constituídas por inúmeros resíduos de


aminoácidos ligados por meio de ligações covalentes. Desta forma, elas constituem
substâncias muito grandes para atravessarem membranas celulares; seu transporte pela
membrana é feito por endocitose ou exocitose. Além disso, como os monômeros
(aminoácidos) desses polímeros são unidos por ligações covalentes, as proteínas não
dissociam em partículas menores, a menos que sofra ação enzimática. Dispondo dessas
informações, responda:

a) As proteínas são substâncias osmoticamente ativas? Justifique com base nas


informações do e nunciado e em seus conhecimentos sobre o assunto.
b) A permeabilidade dos poros capilares às proteínas plasmáticas é, em geral,
muito baixa. Desta forma, as proteínas ficam confinadas no espaço vascular e exercem a
pressão oncótica sobre o compartimento de líquido intersticial. A pressão oncótica é
especialmente importante na extremidade venosa dos capilares, promovendo a volta,
para o leito vascular, do líquido que saiu do vaso na extremidade arterial. O que é a
pressão oncótica? Com base nas informações fornecidas, qual seria a principal
conseqüência de um quadro de hipoproteinemia em um indivíduo?

R: . a) Sim. Como as proteínas possuem grandes dimensões, as membranas biológicas


são impermeáveis a elas. Presas em um compartimento delimitado por membrana
semipermeável e estando em maior concentração nesse compartimento que nos outros
em contato com ele, as proteínas são capazes de exercer pressão osmótica sobre os
outros compartimentos e determinar o fluxo de água para o compartimento onde estão
em maior concentração.

b) Pressão oncótica é a pressão osmótica exercida por proteínas plasmáticas sobre o


compartimento extravascular.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 133


Formação de edema por redução de pressão oncótica e não retorno de líquido
plasmático para o leito vascular na extremidade venosa do capilar. Com isso, líquido
plasmático se acumula no interstício.

72. 4. A célula não é um compartimento isolado: sua sobrevivência e funcionamento


dependem da entrada e saída de muitas substâncias, entre as quais, nutrientes e
metabólitos. Sabendo que nem toda substância pode atravessar a camada apolar
representada pela membrana plasmática, responda:

a) Quais os tipos de transportadores existentes?

b) Caracterize os transportadores mencionados no item anterior e o mecanismo de


transporte de cada um deles.

c) Diferencie transporte ativo de transporte passivo.

d) Cite e caracterize os dois tipos de transporte ativo existentes.

R: a) Transportadores do tipo canal e do tipo carreador.

b) - Proteínas transportadoras do tipo canal atravessam a membrana lipídica e formam


poros hidrofílicos na membrana que possibilitam a passagem de substâncias pouco
lipossolúveis. Esses poros são, em geral, revestidos por resíduos de aminoácidos com
carga elétrica e a carga predominante no poro está relacionada à seletividade do canal a
cátions ou a ânions. Esses poros também possuem uma região de maior constrição ou
estreitamento que está relacionada à seleção do tamanho da substância a ser
transportada.

- Proteínas transportadoras do tipo carreador interagem com a substância a ser


transportada e, mudando de conformação, translocam essa substância de um lado para

outro da membrana. Essa é a etapa mais lenta do transporte. Em seguida, a interação se


desfaz e a substância é liberada no local de destino.

c) O transporte ativo (TA) ocorre com gasto de energia contra gradientes de potencial
eletroquímico e o passivo, sem gasto de energia e a favor dos gradientes de potencial
eletroquímico.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 134


d) O transporte ativo é dividido em primário e secundário. TA primário é caracterizado
por obter energia de uma reação química (de hidrólise de ATP ou de oxirredução). TA
secundário se caracteriza pela utilização do gradiente de potencial eletroquímico de um
íon para o transporte de uma substância qualquer.

73. O transporte através das membranas biológicas pode ou não depender de


proteínas transmembrana que facilitam a travessia de substâncias através da camada
apolar. A facilidade com que uma molécula atravessa a bicamada lipídica depende de
muitos fatores, entre eles, da lipossolubilidade da molécula. Moléculas lipossolúveis
atravessam membranas independentemente de proteínas transportadoras, ao passo que
as hidrossolúveis necessitam dessas proteínas.

a) Quais são as características que permitem às substâncias atravessarem facilmente


membranas lipídicas? Considere apenas o trânsito através da bicamada lipídica e
desconsidere outras formas de passagempela membrana como endocitose e exocitose.

b) Observe o gráfico e as fórmulas estruturais representadas abaixo:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 135


O gráfico acima representa a dinâmica do fluxo de difusão do oxigênio molecular (O 2) e
da glicose (C6H12O6) através de membranas celulares em função da diferença de
concentração dessas substâncias nos compartimentos intracelular e extracelular.

Observando as fórmulas estruturais das duas substâncias e as curvas representativas da


difusão de cada uma delas através da membrana, o que se pode concluir sobre o
transporte dependente e independente de proteínas transportadoras específicas?

c) Em situações normais, a glicose sanguínea é filtrada nos glomérulos renais e é


totalmente reabsorvida no túbulo contorcido proximal dos néfrons, não estando presente
na urina. No diabetes melitus tipo 1 ou 2 a concentração de glicose no sangue se eleva.
Proporcionalmente a essa elevação, mais glicose é filtrada nos glomérulos. Considere os
seguintes dados:

 A reabsorção de glicose na membrana apical das células tubulares proximais dos


néfrons é ativa e o subsequente transporte de glicose através da membrana basolateral
para o interstício é passivo por difusão.
+
 O transporte ativo da glicose é efetuado por uma proteína que transporta Na e

glicose, simultaneamente, do lúmen do túbulo proximal para o interior da célula que o


reveste, utilizando, para isso, o gradiente eletroquímico do íon Na +.
 Quando o índice de reflexão (σ) da glicose é 1, ela se comporta como uma
substância osmoticamente ativa.

c.1) Considerando as características do transporte dependente de proteínas


transportadoras específicas (características analisadas no item anterior) e sabendo que
no diabetes melitus o volume urinário aumenta, o que acontece com o transporte de
glicose nos néfrons em indivíduos com essa doença? Justifique.

c.2) Classifique o transporte realizado pela proteína da membrana apical das células

proximais do néfron quanto ao sentido do transporte de substâncias e quanto ao gasto


energético.

R: a) Lipossolubilidade alta, tamanho pequeno, ausência de carga e de polaridade. No


caso de a substância possuir lipossolubilidade baixa, carga ou polaridade e ter grandes
dimensões, a facilidade do transporte através das membranas biológicas depende da

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 136


presença da proteína transportadora na membrana, além da quantidade em que essa
proteína está presente e de seu estado (caso a proteína possua mais de um): aberto,
fechado, inativado.

b) Observando as fómulas estruturais, pode-se perceber que a glicose é uma molécula


bastante hidrofílica (muitos grupos OH que interagem com a água por meio de inúmeras
ligações de hidrogênio) de lipossolubilidade baixa que necessita de proteínas

transportadoras específicas para atravessar membranas celulares. Diferentemente, o


oxigênio molecular é uma molécula apolar de lipossolubilidade elevada e que pode se
difundir por entre as moléculas de lipídios da membrana sem necessidade de proteínas
transportadoras.

A difusão do oxigênio é linear: diretamente proporcional à diferença de concentração


nos meios intra e extracelular; já a difusão de glicose é uma curva que tende a se tornar
uma reta horizontal. Essa conformação das duas curvas indica que, para a glicose, existe
fluxo máximo de difusão, o que não acontece no caso do oxigênio.

Observando o gráfico e as fórmulas estruturais pode-se perceber a natureza saturável do

transporte dependente de proteínas transmembrana.

c.1) Transporte se satura.

O transporte dependente de proteínas transportadoras específicas é saturável


(informação do item anterior). A elevada carga filtrada de glicose nos indivíduos com
diabetes faz com que o transporte de glicose nos túbulos proximais se sature (glicose
não atravessa a membrana → δ = 1). Com isso, a glicose que não é reabsorvida é
eliminada na urina e puxa água com ela (glicose osmoticamente ativa), por isso o
volume urinário aumenta.

c.2) Quanto ao sentido → co-transporte ou simporte: duas substâncias são transportadas


num mesmo sentido.

Quanto ao gasto energético → transporte ativo secundário: utiliza


-se o fluxo passivo do
Na+ para energizar o transporte ativo de glicose.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 137


74. A doença hipertensiva específica da gravidez (pré-eclâmpsia e eclâmpsia) é uma
patologia caracterizada pela elevação da pressão arterial em mulheres grávidas a partir
da 20ª semana de gestação. Na pré-eclâmpsia, os vasos sanguíneos da gestante se
contraem (tornando-se estreitos), diminuindo o suprimento de sangue e oxigênio ao
feto, à placenta, aos rins, ao fígado, aos olhos, ao cérebro e a outros órgãos da mulher. A
eclâmpsia, uma complicação da pré-eclâmpsia, surge quando crises convulsivas se
adicionam à sintomatologia da pré-eclâmpsia. A terapêutica farmacológica consiste na
utilização de anti-hipertensivos (pré-eclâmpsia) e anticonvulsivantes (eclâmpsia).

a) O íon Ca+2 é fundamental para o acoplamento excitação-contração no músculo liso.


Sabe-se que, nesse tecido, as reservas intracelulares de Ca +2 parecem não ser muito
importantes para o processo de contração, o qual depende da entrada desse íon na
célula. Ca+2 pode entrar nas células musculares lisas por dois tipos de canais: canais
de Ca+2 dependentes de voltagem e canais de Ca+2 acionados por ligantes (hormônios,
neurotransmissores, medicamentos). Sabendo que o problema chave na pré-eclâmpsia
é a contração do músculo liso vascular, proponha um mecanismo de ação para a
nifedipina, um anti-hipertensivo utilizado em pacientes com pré-eclâmpsia.
b) Analise o mecanismo de transmissão neuromuscular típico do músculo esquelético
apresentado a seguir:

 Os músculos esqueléticos são inervados por neurônios motores.


 Após um estímulo, o neurônio motor se despolariza e essa despolarização é
conduzida até a porção distal do axônio pelo potencial de ação.
 Na porção distal do axônio (terminal pré-sináptico), a membrana contém canais de
+2
Ca dependentes de voltagem que se abrem quando o potencial de ação chega.
 Os canais de Ca+2 são canais seletivos para cátions bivalentes.
 A abertura desses canais permite ocorrência de fluxo de Ca +2 para o interior do
terminal pré-sináptico.
 O aumento local de Ca+2 promove a liberação de vesículas contendo acetilcolina, um
neurotransmissor.
 A placa motora, local da membrana da célula muscular que está em contato com a
terminação nervosa, contém receptores nicotínicos de acetilcolina.
 Esses receptores de acetilcolina são canais de Na + que se abrem na presença do
neurotransmissor permitindo a despolarização e consequente contração muscular.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 138


Uma das estratégias terapêuticas utilizadas na prevenção de crises convulsivas em
pacientes com eclâmpsia é a administração de sulfato de magnésio (MgSO 4). Com base
nas informações fornecidas acima sobre a transmissão neuromuscular, justifique a
estratégia terapêutica utilizada na eclâmpsia.

c) Sabendo que a manutenção do tônus muscular, ou seja, o controle da contração


muscular no estado de repouso, depende da neurotransmissão colinérgica, qual seria um

efeito colateral do sulfato de magnésio?

R: a) O mecanismo de ação da nifedipina envolve o bloqueio de canais de Ca +2 de


células musculares lisas vasculares.

b) MgSO4 libera íons magnésio (Mg2+). Tais íons, por serem bivalentes como os íons de
cálcio (Ca2+), competem, por excesso de substrato, com os íons Ca+2 para entrar nas
terminações nervosas através dos canais de cálcio que são seletivos para íons bivalentes.
Tal competição resulta em menor entrada de cálcio nas terminações. O efeito final é a
inibição da neurotransmissão que culminaria na contração do músculo esquelético.
Portanto, doses adequadas de sulfato de magnésio, revertem o sintoma crítico da

eclâmpsia: as crises convulsivas.

c) O efeito colateral dessa substância é a fraqueza muscular da gestante e do feto.

75. A fosforilação oxidativa é um processo no qual transporte ativo e passivo estão


acoplados e o resultado final da associação dos transportes é a produção de ATP. A
membrana interna da mitocôndria é a sede do processo. As etapas são as seguintes:

I. NADH e FADH2, situados na matriz mitocondrial, transferem elétrons para uma


proteína da membrana mitocondrial interna.
II. A partir dessa proteína, os elétrons são transferidos a outras proteínas da
membrana mitocondrial interna, numa sequência, o que dá srcem a uma corrente
elétrica no interior da membrana.
III. Essa corrente elétrica energiza o transporte de íons H+ da matriz mitocondrial
para o espaço entre as membranas interna e externa da mitocôndria. Esse transporte de
H+ é efetuado pelas próprias proteínas receptoras/doadoras de elétrons; obviamente,
apenas as proteínas integrais podem fornecer poro hidrofílico através do qual os prótons
se movimentam.
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 139
IV. O destino final dos elétrons é o oxigênio molecular (aceptor final de elétrons)
situado na matriz mitocondrial.
V. A energia do gradiente de pH é dissipada por outra proteína intrínseca da
membrana, a ATP sintase, que utiliza a energia do gradiente para sintetizar ATP a partir
de ADP e de fosfato inorgânico (P i).

As transferências de elétrons ocorrem, de uma proteína a outra da membrana

mitocondrial, até o oxigênio molecular, por meio de reações de oxirredução. As reações


que sintetizam o processo são as seguintes:

- NADH + H+ + ½ O2 → NAD+ + H2O

- FADH2 + ½ O2 → FAD + H2O

- ADP + Pi → ATP

Esse processo é conhecido como cadeia respiratória e sua ocorrência é fundamental para
a síntese de ATP.

a) Classifique os transportes que ocorrem nas etapas III e V.

b) O 2,4-dinitrofenol é uma s ubstância que se insere na membrana mitocondrial interna


e permite passagem de H + através dessa membrana. Cite a principal implicação do uso
dessa substância.

c) O íon cianeto (CN-), substância conhecida pelo seu caráter letal quando em
organismos vivos, é um íon que bloqueia o transporte de elétrons realizado pela última
proteína da cadeia respiratória (complexo IV ou citocromo oxidase). Cite a principal
implicação do uso dessa substância.

R: a) III → Transporte ativo primário: utiliza-se energia proveniente de uma reação


química de oxirredução para a realização do transporte.

V → Transporte passivo: a favor do gradiente eletroquímico.

b) Perda do gradiente de pH através da membrana mitocondrial interna. Prejuízo para a


síntese de ATP.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 140


c) Interrupção da cadeia respiratória. Prejuízo para a síntese de ATP.

76. A compreensão de como ocorrem os movimentos de fluidos no organismo é de


fundamental importância para o entendimento da homeostasia. Por essa razão, o
transporte de substâncias através das membranas biológicas é um assunto vasto e

muito estudado pelos pesquisadores. O Prêmio Nobel da Química do ano de 2003 foi
atribuído a Peter Agre pela descoberta das aquaporinas.

a) O que são aquaporinas?

b) Se a água tem trânsito livre na membrana, qual o papel fisiológico das aquaporinas?

c) As aquaporinas estão presentes em membranas de todas as células do organismo?


Comente sua resposta incluindo os mecanismos que regem a constância ou inconstância
dessas proteínas nas membranas.

d) Com base na resposta ao item c, como você modificaria a resposta dada no itemb,

(qual a função das aquaporinas no movimento dos fluidos no organismo)?

e) Defeitos genéticos envolvendo genes que codificam as aquaporinas têm sido


associados a várias doenças humanas, uma delas é o Diabetes insipidus causado por
uma mutação no gene codificador da aquaporina do tipo 2, que é a isoforma renal. Qual
é o principal sintoma apresentado por indivíduos com essa alteração genética? Cite
outra causa possível para esse sintoma com base no mecanismo de ação das
aquaporinas.

R: a) Aquaporinas são proteínas transmembrana compostas por quatro subunidades


protéicas (cada subunidade funciona como um canal) que transportam água

seletivamente. Existem diversas isoformas de aquaporinas e algumas permitem a


passagem de glicerol juntamente com água (gliceroaquaporinas).

b) Otimizar ou aumentar o fluxo de água através da membrana.

c) Não. Estudos já confirmaram a presença das aquaporinas em diversos tecidos, mas


não em todos. Além disso, nos tecidos onde essas proteínas são expressas, elas parecem

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 141


ser recrutadas de reservatórios intracelulares para a membrana plasmática em situações
em que as células do órgão precisam ter fluxo aumentado de água pela membrana para
executar a função do órgão (reabsorção de água nos rins, secreção de água nas glândulas
salivares...). Os mecanismos mais conhecidos que regulam a quantidade de aquaporinas
nas membranas incluem mecanismos hormonais (bem conhecidos para as células renais:
vasopressina aumenta a quantidade de aquaporinas nas membranas) e genéticos
(indução/repressão da transcrição gênica).

d) Como as aquaporinas não ficam o tempo todo na membrana, elas participam do


processo de MODULAÇÃO do fluxo de água pelas membranas celulares.

e) O principal sintoma dessa doença é a eliminação excessiva de água pela urina já que
faltam aquaporinas para promover reabsorção de água nos néfrons. Outra causa para
esse sintoma seria a hipofunção da glândula secretora do hormônio que recruta
aquaporinas para as membranas (vasopressina). Outra causa seria a ausência ou defeito
no receptor desse hormônio nas células onde ele atua.

77. . Os ionóforos são agentes químicos que interagem com as membranas biológicas e
promovem o transporte de íons. São utilizados amplamente como antibióticos que,
misturados na ração de ruminantes, eliminam certas bactérias fermentadoras que
prejudicam a digestão e, consequentemente, crescimento desses animais. O
mecanismo de ação dos ionóforos não está completamente estabelecido. Uma hipótese
é a de que eles fornecem poros hidrofílicos na membrana celular permitindo o fluxo
passivo de íons.

a) Em doses acima das indicadas, os ionóforos podem causar a morte, não só de


bactérias, mas também dos próprios ruminantes. Considerando as células eucariotas dos

bovinos e sabendo que os ionóforos podem “invadir” a membrana de qualquer


compartimento celular, além da membrana plasmática, cite possíveis danos às células
que podem ocorrer em decorrência dessas substâncias.

b) Observe a figura que representa uma célula eucariota.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 142


Três proteínas da membrana celular estão ilustradas; o transporte ativo está indicado por
“ATP” e o sentido do fluxo de alguns íons, por setas. Compare os potenciais
eletroquímicos nos meios intracelular (µi) e extracelular (µe) para todos os íons
representados na figura (maior, menor, igual) e indique a direção do fluxo de cada um
através do ionóforo.

R: - Desacoplamento entre transporte ativo e passivo de prótons durante a fosforilação


oxidativa a nível da membrana mitocondrial;

- Entrada e saída descontrolada de diversos íons na célula: a entrada de Ca +2 prejudica

processos de sinalização dependentes desse íon;


- Perda de gradientes de potencial eletroquímico que seriam dissipados com finalidade
específica de energizar algum transporte ativo secundário.

b) Na+→ µi < µe ; fluxo do meio extracelular para o intracelular.

K+→ µi > µe ; fluxo do meio intracelular para o extracelular.

H+→ µi < µe ; fluxo do meio extracelular para o intracelular.

78. Uma das formas de comunicação entre diferentes partes de um organismo multicelular

ocorre através da variação do potencial elétrico transmembrana. Ela é possível devido à


existência de potenciais elétricos através das membranas celulares; tais potenciais são
mantidos em um valor aproximadamente constante durante o tempo, mas podem variar,
sendo essa variação utilizada para transmitir informações de uma célula para outra.

a) Qual a origem do potencial de membrana das células?

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 143


b) Elabore hipótese(s) para explicar as diferenças de potencial elétrico de repouso
de um fenótipo celular para outro. Por exemplo, células musculares esqueléticas podem
ter potenciais de -90mV, neurônios de -65 mV e algumas células epiteliais tem
potenciais de -40 mV.

R: a) O potencial de membrana é mantido por meio da movimentação de íons através da


membrana lipídica tornando o meio externo predominantemente positivo e o interno
predominantemente negativo. Esse movimento pode ser passivo ou ativo, sendo que o
fluxo passivo de íons (fluxo de eletrodifusão) é o que mais contribui para a manutenção
do potencial de repouso nos níveis usuais. Ao contrário do que somos induzidos a
pensar, a bomba de Na/K eletrogênica não é a principal formadora e mantenedora do
potencial de membrana. Dependendo da célula, muito ou pouco ativa, a contribuição da
bomba para formação e manutenção do potencial de membrana é maior ou menor,
respectivamente. É importante ressaltar que, mesmo em se tratando de células muito
ativas, a contribuição da bomba nunca é maior que a dos fluxos passivos dos íons. No
máximo, a bomba contribui em 20% do potencial de membrana de repouso.

b) Diferente composição da membrana celular em termos de quantidade e tipo dos


diversos canais. Essa diferença numérica e qualitativa nas proteínas canal da membrana
podem estar relacionadas à expressão, em cada tipo celular, maior ou menor de
determinados genes e à expressão de isoformas diferentes de uma mesma proteína
canal.

79. Sobre as substâncias que participam da geração do potencial transmembrana,


responda:

a) Qual é a diferença entre um íon que está em equilíbrio eletroquímico e um que se


encontra em estado estacionário?

b) Em que situação a equação de Nernst é válida?

c) Utilize a equação de Nernst {Es = [ R x T x ln ( Ce / Ci ) ] / ( Zs x F )}para calcular o


potencial de equilíbrio para os seguintes íons hipotéticos a 20 oC: A + → [A+]e= 20 mM;
[A+]i= 9 mM; B-2 → [B-2]e= 100 mM; [B-2] i= 1 mM. (R é a constante dos gases ideais;
R = 8,31 J x K-1 x mol-1. T é a temperatura absoluta, em Kelvin; T = t + 273. t é a

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 144


temperatura em graus Celsius. ln é o logaritmo natural. Zs é a valência da substância
“s”. F é a constante de Faraday; F = 96500 C x mol-1)

R: a) Em ambas as situações, as concentrações e potenciais eletroquímicos dos íons se


mantêm constantes ao longo do tempo. A diferença é que, na situação de equilíbrio
eletroquímico, o fluxo do íon através da membrana é praticamente nulo, enquanto que
no estado estacionário fluxos ativo e passivo do íon coexistem para manter a

concentração e potencial eletroquímico do íon constantes.


b) Quando o íon está em equilíbrio eletroquímico.

c) EA = [ 8,31 x 293 x ln ( 20 / 9 ) ] / ( +1 x 96500 ) = 20,15 mV.

EB = [ 8,31 x 293 x ln ( 100 / 1 ) ] / ( -2 x 96500 ) = -58,09mV.

+
80. Considerando uma célula no estado estacionário com concentrações de K de 158
mM; Na+, 12 mM; Cl-, 4mM; em uma solução com K+ a 4 mM; Na+, 124 mM; Cl-, 128
mM, responda:

Dados: Os resultados devem ser arrendondados para o número inteiro mais próximo.
Vm = -87 mV; R = 8,31 J.K-1.mol-1; F = 96500 C.mol-1; t = 20oC. Equação: Vs =
[R.T.ln (Cse / Csi)] / Z s .F.

a) Existe algum íon em equilíbrio?


b) Indique o sentido do fluxo de eletrodifusão para os íons que não estejam em
equilíbrio.

R: . a) Para saber se existe algum íon em equilíbrio, calculamos o potencial de equilíbrio


de cada íon e comparamos com o valor do potencial de membrana. Assim:

VK + = [8,31 x 293 x ln (4/158)] / (+1 x 96500) = -93mV;

VNa+ = [8,31 x 293 x ln (124/12) / (+1 x 96500) = +59mV;

VCl- = [8,31 x 293 x ln (128/4) / (-1 x 96500) = -87mV.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 145


-
Como o potencial de membrana vale -87mV, concluímos que o íon Cl está em
equilíbrio.

b) i) Os íons que não estão em equilíbrio (K + e Na+) tendem a se movimentar de tal


forma a tentar fazer com que E m adquira o mesmo valor de seu potencial de equilíbrio
(Em = Es ), situação de maior estabilidade para os íons.

+ +

K tende a fazer (-87mV) ficar igual a seu potencial de de equilíbrio:


Em E m+=
=- EK
93mV. Para isso, o interior da célula deve ficar mais negativo e, portanto, K deve sair
da célula.

Na+ tende a fazer Em (-87mV) se igualar ao seu potencial de equilíbrio: E m = ENa+ =


+59mV. Para isso, o interior da célula deve ficar mais positivo e, portanto, Na + deve
entrar na célula.

ii) Outra resposta possível, cujo raciocínio é mais quantitativo, é a seguinte:

Esta sugestão de resposta envolve demonstração por meio da seguinte fórmula:μs i – μs


e = Zs x F (Vm – Vs ); nesta fórmula:

- μs i = potencial eletroquímico da substância “s” no meio intracelular;

- μs e = potencial eletroquímico da substância “s” no meio extracelular;

- Zs = carga da substância em questão;

- F = constante de Faraday, dada no exercício;

- Vm = potencial da membrana da célula em questão;

- Vs = potencial de equilíbrio da substância “s”.

+
O fluxo de eletrodifusão para os íons que não estão em equilíbrio (Na e K+) pode ser
calculado comparando-se o potencial eletroquímico de cada íon dentro e fora da célula.
Assim:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 146


μNa+ i – μNa + e = +1 x 96500 x (-87 – 59) < 0 → μNa+ i – μ Na+ e < 0 → μNa + i < μNa+ e. Como
o fluxo ocorre do local de maior potencial para o de menor, conclui-se que o Na+ flui do
meio extracelular para o meio intracelular.

μK+ i – μK+ e = +1 x 96500 x (-87 + 93) > 0 → μK+ i – μK+ e > 0 → μK+ i > μ K+ e . Como o
fluxo ocorre do local de maior potencial para o de menor, conclui-se que o +Kflui do
meio i ntracelular para o meio extracelular.

81. Calcule a relação entre as condutâncias (g) dos íons K + e Na+ numa célula cujo
potencial de membrana depende apenas dos íons Na+ e K+ e vale – 88 mV. Considere:
ENa+ = + 58,8 mV; EK + = - 92,7 mV e a relação: Is = gs x ( E m – Es ), onde “s” representa
uma substância qualquer, como o Na + ou o K+. Desconsidere a contribuição da bomba
de Na+/K+ na formação do potencial de membrana.

R: Como Em se mantém constante ao longo do tempo, podemos concluir que as


correntes (I) de Na + e de K+ têm a mesma intensidade e sentido contrário. Só essa
situação é compatível com o movimento de íons através da membrana sem que haja
variação de Em.

Temos, então:

INa + = gNa+ x ( - 88 – 58,8 ) = - 146,8 gNa+

IK + = gK+ x ( - 88 + 92,7 ) = 4,7 gK+

INa + = - IK+ → - 146,8 gNa+ = - 4,7 gK + → gK+ / gNa+ = 31,23

82. Em uma célula não excitável cujo Em é determinado essencialmente pelo íon K+,
+
como varia Em se a concentração externa de K diminui de 10 mM para 4mM?
R: Fica mais negativo. Se Em é deter minado apenas pelo K+, E m acompanha as variações
no EK+. Reduzindo-se a concentração externa de potássio, podemos concluir, através da
fórmula abaixo, que o EK+ diminui “puxando” consigo o E m.

Es = [ ( - R x T ) / ( Z s x F ) ] x ln ( Csi / Cse )

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 147


Se CK+e diminui, Csi / Cse aumenta e ln ( Csi / Cse ) aumenta. Como o termo [ ( - R x T ) /
Zs x F ] é negativo, o aumento em ln ( C si / Cse ) faz com que EK+ fique mais negativo.
E m acompanha EK +, ou seja, fica mais negativo.

83. Observe os seguintes gráficos de potenciais de ação em diferentes células.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 148


Além de os canais iônicos presentes na membrana serem importantes para definir o
potencial de membrana de repouso, eles também determinam o perfil do potencial de
ação. As diferenças nos potenciais de ação entre as células, representadas acima, se
devem a diferenças qualitativas e quantitativas na composição proteica da membrana.

a) Uma das diferenças entre o potencial de ação das fibras de Purkinje e o de


células do nodo sinusal e neurônios é a existência de um platô após a despolarização

que impede a repolarização imediata. Sabendo que a abertura de canais de Ca +2 é

responsável pela formação do platô, qual deve ser a diferença entre a membrana das
células que apresentam platô e a de células que não apresentam?
b) Uma das proteínas de membrana presentes nos cardiomiócitos e que
desempenha função importante nessas células é o trocador Na + - Ca2+. Obviamente, esse
transportador também está presente em outros tipos celulares, mas exerce função muito
especial nos cardiomiócitos comuns e fibras de Purkinje. Considerando a existência da
fase de platô no potencial de ação dessas células, que função especial poderia ser
atribuída ao trocador Na + - Ca+2?
c) O transportador mencionado no item anterior (trocador Na +-Ca2+) realiza um
+
transporte ativo secundário energizado pelo gradiente eletroquímico do Na através da
membrana. Sua peculiaridade é a possibilidade de funcionar e m intensidades diferentes
e, até mesmo, em dois sentidos (tanto pode colocar Ca +2 para dentro da célula, como
pode remover esse íon do meio intracelular) dependendo das condições eletroquímicas
dos íons envolvidos no transporte. Intensidade e sentido do transporte podem ser
previstos por relações matemáticas: FD = E m – 3E Na + 2E Ca. Se a força diretora para o
transporte (FD) é negativa, ocorre efluxo de Ca+2 e influxo de Na+; quando FD é
positiva, o transporte ocorre em sentido contrário. Quanto maior o módulo da força
diretora, maior o fluxo iônico.

Calcule a força diretora e indique o sentido do transporte Na + - Ca +2 em cardiomiócitos

nas seguintes condições apresentadas.


1) Célula em repouso ([Ca 2+] i = 0.2 M, Em = -80 mV);

2) Célula durante o platô (fase 2) do potencial de ação ([Ca2+]i = 0,8 M, Em = -10
mV).

Considere: [Na+]i = 8 mM, [Na+]e = 140 mM, [Ca2+]e = 1,5 mM, 37 oC.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 149


R: a) Existência de canais de Ca +2 que se abrem antes que repolarização significativa
ocorra.

b) Transporte do Ca+2 (que se acumulou durante a fase de platô) para o meio


extracelular normalizando a concentração intracelular desse íon.

c) 1) Célula em repouso ([Ca2+]i = 0.2 M, Em = -80 mV).

FD = Em – 3ENa + 2E Ca

Calculando: ENa = [ 8,31 x 310 x ln ( 140 / 8 ) ] / ( + 1 x 96500 ) = 76,41 mV;

ECa = [ 8,31 x 310 x ln ( 1,5 / 0,2 x 10-3 ) ] / ( + 2 x 96500 ) =119,10mV ;

FD= -80 – ( 3 x 76,41 ) + ( 2 x 119,10 ) = -71,03mV.

O valor negativo encontrado nos indica que a bomba funciona no sentido de influxo de
sódio e efluxo de cálcio.

2) Célula durante o platô (fase 2) do potencial de ação ([Ca2+]i = 0,8 M, Em = -10
mV).

FD = Em – 3ENa + 2E Ca

Calculando: ENa = [ 8,31 x 310 x ln ( 140 / 8 ) ] / ( + 1 x 96500 ) = 76,41 mV;

ECa = [ 8,31 x 310 x ln ( 1,5 / 0,8 x 10-3 ) ] / ( + 2 x 96500 ) = 100,59 mV;

FD= -10 – ( 3 x 76,41 ) + ( 2 x 100,59 ) = -38,05mV.

Mantém a direção de influxo de sódio e efluxo de cálcio, mas com menor intensidade,
pois o módulo da força diretora é menor.

84. Sabe-se que a ação de diversas substâncias (hormônios, fármacos,


neurotransmissores) envolve a interação com proteínas da membrana das células. A
fisiologia e farmacologia das crises convulsivas, cujo mecanismo está relacionado à
despolarização neuronal, é um bom exemplo de tais interações ao nível da membrana.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 150


a) O ácido gama-amino-butírico (GABA) é um neurotransmissor inibitório
(hiperpolariza células) que interage com canais de Cl - fazendo com que esses canais se
abram e permitindo o fluxo de eletrodifusão de Cl - através da membrana. Com base
-
nessas informações, compare os potenciais eletroquímicos do Cl nos meios intracelular
(µCl- i) e extracelular (µCl-e).

b) Os fármacos do grupo dos barbitúricos foram os primeiros fármacos utilizados

na terapêutica anticonvulsivante. Eles agem de forma análoga ao neurotransmissor


GABA, pois também interagem com os canais de Cl - promovendo a abertura desses
canais e o fluxo de eletrodifusão de íons Cl-. Represente (num gráfico potencial de
membrana em função do tempo) o potencial de membrana de repouso seguido de um
potencial de ação (PA) para ambas as situações: com e sem os fármacos mencionados.
Para fins comparativos, esboce ambas as curvas em um mesmo gráfico. Considere mE=
-80mV e ECl- = -90mV; Elimiar = -60mV.

c) Com base no gráfico esboçado na resposta do item anterior, justifique o efeito


anticonvulsivante dos barbitúricos.

- -

R:. a) µCl i < µ Cl e .


b)

Explicação para o PA com fármaco:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 151


Como os fármacos hiperpolarizam os neurônios, o Em na presença dos fármacos é
menor. Com maior permeabilidade da membrana ao Cl-, o potencial de membrana tende
a se aproximar do potencial de equilíbrio desse íon.

Se um potencial de ação é deflagrado, seu limite superior é o mesmo que o do potencial


de ação na ausência dos fármacos, pois o limite superior do PA é determinado pela
sensibilidade dos canais de Na+ e K+ à voltagem. Num mesmo tipo celular, os canais de
+ +
Na permanecem abertos até que um potencial limite os inativa; e os canais de K
permanecem fechados até que um potencial limite os abre. Nesse potencial limite (pico
do PA), o potencial de membrana começa a diminuir devido à inativação dos canais de
Na+ e à abertura de canais de K +. O pico do PA depende apenas da natureza dos canais
de Na+ e K+.

A fase de repolarização ocorre normalmente, talvez até mais rapidamente, devido ao


fluxo de Cl- es timulado pelos fármacos.

Na fase de hiperpolarização, o potencial diminui devido à maior saída de K + (normal


nessa fase) e à maior entrada de Cl- (decorrente da presença do fármaco). Quando o
+

potencial de membrana atinge o valor X, os canais de K se inativam,


independentemente da presença de fármaco. O que ocorre na presença de fármaco é
que, nesse momento, o potencial de membrana não volta a aumentar como ocorre na
ausência do fármaco. Devido aos canais de Cl - abertos pelo fármaco, o potencial de
membrana continua reduzindo até que atinge os novos valores de potencial de
membrana de repouso.

c) Esses fármacos, ao reduzirem o potencial de membrana de repouso (E


mr), distanciam

E mr do valor limiar. Desta forma, um estímulo maior é necessário para deflagrar um PA.
A probabilidade de despolarizações neuronais ocorrerem “fora de hora” (convulsão) é
menor.

85. A maioria das células apresenta uma diferença de potencial elétrico através da
membrana mantida praticamente constante ao longo do tempo (potencial de membrana
de repouso). Nas células excitáveis, esse potencial de repouso possui magnitude
suficiente para permitir a ocorrência do potencial de ação, forma de comunicação entre
as células excitáveis.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 152


a) O que determina o valor do potencial de membrana de repouso?
b) Qual a diferença de uma resposta despolarizante local para potencial de ação?
c) A hipocalemia (redução dos níveis plasmáticos de potássio) pode ser causada
por ingestão deficiente e aumento da perda deste íon, como no hiperaldosterismo, fluxo
urinário aumentado, alcalose metabólica, dentre outros. Qual o seu efeito na
excitabilidade do neurônio?

R: a) Concentrações intra e extracelular dos íons que colaboram para a geração do


potencial de membrana e permeabilidade da membrana aos íons.

b) Na resposta despolarizante local, a despolarização desencadeada pelo estímulo não é


suficiente para variar o potencial de membrana até um valor limiar a partir do qual a
despolarização se auto-alimenta. Desta forma, a variação de potencial de membrana não
se propaga. Ao contrário, o potencial de ação resulta de um estímulo que altera o
potencial de membrana até (ou além de) um valor limiar a partir do qual a
despolarização se auto-alimenta; o potencial de ação se propaga.

c) O efeito é o de reduzir a excitabilidade do neurônio. Quando existe concentração de


K+ no plasma abaixo da normal, existe menor concentração de K
+
no meio extracelular
e, desta forma, maior tendência desse íon em sair das células. Essa maior saída de K +
faz com que o potencial de membrana dos neurônios fique mais negativo. Tal redução
do potencial de membrana de repouso do neurônio torna mais difícil o início do
potencial de ação já que distancia o potencial de membrana do limiar.

86. Observe a figura:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 153


a) Considerando que o EK+ = - 80 mV e ENa+ = + 40 mV, qual o íon mais permeável no
repouso? Justifique.

b) Ainda durante o repouso, qual íon tem maior tendência em se movimentar, o Na + ou


o K+? Justifique.

c) Que alterações ocorrem durante a despolarização e repolarização que permitem a


elevação e diminuição, respectivamente, do E m? Responda considerando o conceito de
condutância.

d) Por que existe hiperpolarização? Justifique, considerando, ainda, o conceito de


condutância.

e) Como Em volta, do ponto mais baixo do gráfico, ao nível correspondente ao repouso?


Responda indicando os fluxos responsáveis por essa volta.

f) Ocorre fluxo de K + para fora da célula durante a despolarização? Justifique.

g) Ocorre fluxo de Na+ para dentro da célula durante a repolarização? Justifique.

R: a) O íon mais permeável no repouso é o K +. O E m se aproxima do potencial de


equilíbrio do íon mais permeável e E m é mais próximo de EK+ durante o repouso.

b) O Na +, pois este íon é o que está mais longe de seu equilíbrio (tem maior força
diretora), já que o potencial de membrana está muito longe de seu potencial de
equilíbrio.

c) - Despolarização: canais de Na+ dependentes de voltagem se abrem aumentando a


condutância da membrana a esse íon. Na+ entra na célula aumentando Em.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 154


- Repolarização: os canais de Na+ dependentes de voltagem são inativados e os de K+,
também dependentes de voltagem, se abrem aumentando a condutância da membrana ao
K+. Esse íon sai da célula e faz com que E m diminua.

d) A hiperpolarização acontece porque quantidade significativa de canais de K +


dependentes de voltagem só se fecha quando o potencial de membrana chega a níveis
bem baixos, abaixo dos níveis normais de repouso. Desta forma, a condutância ao K +
+
permanece alta e íons K continuam saindo até que E m chegue a um+ nível baixo tal
(ponto mais baixo do gráfico) que seja capaz de fechar os canais de Ke interromper o
fluxo deste íon. A interrupção do fluxo do K+ i nterrompe a queda do E m.

e) E m volta aos níveis do repouso devido a fluxos passivos (de eletrodifusão) de íons
pelos canais permanentemente abertos. Esses fluxos são os mesmos que acontecem no
repouso e são os responsáveis pelo ajuste do E m.

f) Sim. Os canais de K+ permanentemente abertos permitem a saída de K + durante todo


o potencial de ação. O que ocorre durante a despolarização é um fluxo predominante de
Na+ para dentro da célula.
+ +
g) Sim. Os canais de Na permanentemente abertos permitem a entrada de Na durante
todo o potencial de ação. O que ocorre durante a repolarização é um fluxo predominante
de K+ para fora da célula.

87. A bomba de sódio e potássio trabalha permanentemente, inclusive durante o


potencial de repouso.

a) Esta afirmação está correta? Explique.

b) Sabe-se que em algumas situações, como isquemia ou intoxicação por metais pesados

(chumbo e mercúrio), o funcionamento da bomba de sódio e potássio é comprometido.


Quais seriam as conseqüências da inibição da bomba sobre o potencial de repouso (PR)
e sobre o potencial de ação (PA)?

R: a) Sim. A bomba de sódio e potássio transfere, de forma ativa e em situações


normais, 3Na+ para fora da célula e 2K + para dentro. Como existem fluxos passivos de

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 155


eletrodifusão de Na+ para dentro da célula e de K + para fora, o potencial da membrana
permanece constante, durante o repouso, mesmo com a ATPase Na/K ativa.

b) A contribuição da bomba de sódio e potássio para o potencial de membrana de


repouso (Em r) é pequena: muito pequena para algumas células e um pouco maior para
outras, mas sempre inferior à contribuição dos transportes passivos. Desta forma, a
inibição dessa bomba não altera muito o E m r. A pequena alteração é no sentido de

aumentar o Em r, ou seja, no sentido de torná-lo menos negativo já que algum fluxo


efetivo de carga positiva para fora da célula, que era realizado pela bomba, foi
interrompido.

Os fluxos iônicos que ocorrem durante o potencial de ação e que, efetivamente,


determinam a variação de potencial de membrana são todos passivos. A inibição da
bomba afeta apenas indiretamente o potencial de ação: como o po tencial de membrana
de repouso fica mais alto, estímulos menores podem desencadear potencial de ação.

88. Os anestésicos locais como a Lidocaína são fármacos que bloqueiam


reversivelmente a condução dos impulsos nervosos, entre eles, aqueles envolvidos co m

estímulos nociceptivos (dolorosos). Estes fármacos têm ampla aplicação na clínica


médica e odontológica, promovendo anestesia local com intensidade que, muitas vezes,
dispensa o uso de anestésicos gerais. Sabe-se que o mecanismo de ação dessas
substâncias envolve o bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem pela
ligação da molécula do fármaco a um sítio do canal que fica exposto ao citoplasma
apenas quando esse canal está aberto ou se abrindo.

a) Faça um gráfico de potencial de membrana (mV) em função do tempo (ms) e


represente um potencial de ação. Considere E m = -85mV; EK + = -95mV; ENa + = +55mV.
b) No gráfico construído no item anterior, trace linhas verticais que separem as
principais etapas do potencial de ação. Nomeie as etapas e, para cada uma delas,
compare as condutâncias (g) da membrana aos íons Na+ e K+.
c) Indique a fase que contém canais de Na+ dependentes de voltagem
principalmente no estado aberto.
d) Em que fase pode-se esperar maior efeito do anestésico?

R: a)

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 156


b)

a → repouso: gNa + < gK +

b → despolarização: gNa+ > gK+

c → repolarização: gNa+ < gK +

d → hiperpolarização: gNa+ < gK +

e → repouso: gNa + < gK +

c) Fase de despolarização.

d) Na fase de despolarização.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 157


89. A respeito do potencial de ação, responda:

a) Quais são os 2 fatores principais que determinam a existência de uma corrente de


entrada de Na+ durante a fase de despolarização do potencial de ação?

b) No pico do potencial de ação, o potencial de membrana atinge valor igual, inferior,


ou superior ao potencial de equilíbrio do Na +? Comente a sua resposta justificando o
valor encontrado.

c) Por que, na fase de repolarização, o potencial de membrana tende a voltar para um


valor próximo do potencial de equilíbrio do K +?

d) Canais de K+ dependentes de voltagem são conhecidos como canais lentos de K


+
.
Isso se deve ao fato de eles serem sensíveis apenas a uma grande variação de potencial
de membrana (Em) e se abrirem com certo atraso em relação aos canais de Na +
dependentes de voltagem. Qual a importância dessa diferença de sensibilidade elétrica
entre os dois tipos de canais?

R: a) - Abertura de canais de Na + voltagem dependentes aumentando a condutância da


membrana ao Na+;

- Gradiente de potencial eletroquímico ( μ Na e > μNa i ).

b) Inferior. Porque, nesse momento, assim como durante toda a fase de despolarização,
embora a permeabilidade da membrana ao Na+ aumente muito, a membrana não se
torna totalmente permeável a esse íon.

c) Porque a permeabilidade da membrana ao K+ aumenta muito (abertura de canais de


K+ dependentes de voltagem). Além da abertura de canais de K+ dependentes de
voltagem, também são importantes para a aproximação entre Em e E K+ durante a
repolarização: fluxo de K+ através de “canais de vazamento” – canais de K+
permanentemente abertos – e redução da permeabilidade da membrana ao Na+ (devido à
inativação de canais de Na+ dependentes de voltagem).

d) Canais de Na+ se abrem no limiar, após pequena variação no Em.

Canais de K+ só se abrem no pico do potencial de ação, após grande variação no Em.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 158


A abertura de canais de K+ com certo atraso em relação à abertura de canais de Na+
permite a existência de fluxo resultante de carga positiva (Na +) para dentro da célula
durante a fase de despolarização. A abertura não simultânea decorrente da diferença de
sensibilidade elétrica dos canais possibilita a existência do potencial de ação.

Se os canais se abrissem ao mesmo tempo (mesma sensibilidade elétrica), a fase de


despolarização não existiria, pois o fluxo de cargas positivas (Na+) para dentro da célula
+
seria contrabalanceado pelo fluxo de cargas positivas (K ) para fora da célula.

90. As variações do potencial de membrana que ocorrem durante o potencial de ação


resultam de variações da condutância da membrana ao Na+ e ao K +. Essas variações da
condutância são resultado da abertura, do fechamento e da inativação de canais
dependentes de voltagem, específicos para cada tipo de íon, que existem na membrana
celular.

a) Cite os estados possíveis para os canais de Na + dependentes de voltagem. Para cada


estado, descreva a situação em que estão as comportas de ativação e inativação (fechada

ou aberta).
b) Considere os seguintes valores para os potenciais de membrana:

 E m = -85mV (estado de repouso)

 +20mV (limiar) < Em < +50mV (pico do potencial de ação)

 E m = +48mV (fase de repolarização)

Para cada valor de potencial de membrana apresentado, indique o estado mais provável
em que se encontram os canais de Na+.

c) Defina e caracterize os períodos refratários.

d) A propagação do potencial de ação ocorre apenas em um sentido. Por que isso


ocorre?

R: a) Canal de Na+ fechado → comporta de ativação fechada e comporta de inativação


aberta;

Canal de Na+ aberto → comportas de ativação e inativação abertas;

Canal de Na+ inativo → comporta de ativação aberta e comporta de inativação fechada.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 159


b)

o E m = -85mV (estado de repouso) → estado fechado.

o +20mV (limiar) < Em < +50mV (pico do potencial de ação) → estado aberto.

o E m = +48mV (fase de repolarização) → estado inativado.

c) No período refratário absoluto, a membrana se encontra absolutamente refratária a

estímulos; por mais fortes que os estímulos sejam não se consegue gerar um novo
potencial de ação. Isso ocorre porque, nesse período, uma fração considerável de canais
de Na+ encontra-se inativada por voltagem. Poucos canais de Na+ estão fechados e,
portanto, apenas esses poucos podem responder ao estímulo, mas não são suficientes
para deflagrar potencial de ação.

O período refratário relativo é um período em que a membrana pode responder a


estímulos fortes, mas ainda é refratária a estímulos normais. A causa é a existência de
alguns canais de Na+ inativados por voltagem. Apenas estímulos muito fortes podem
abrir quantidade suficiente de canais de Na + que estavam fechados e deflagrar novo
potencial de ação.

d) Porque a membrana do local pelo qual o potencial de ação passou encontra-se em


período refratário.

91. Considere o sistema, separado por uma membrana semipermeável, onde as proteínas
(o grupo R-) e os íons sódio NÃO são difusíveis. As concentrações dos dois lados da
membrana, no equilíbrio, são as indicadas.

Compartimento A Compartimento B

145 mM Na + 15mM Na +

30 mM R- 156 mM R-

5 mM K + YmM K +

X mM Cl - Z mM Cl -

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 160


Sabendo que os íons cloreto e potássio são difusíveis, que os íons sódio e as proteínas
não são difusíveis e que este sistema pode atingir o Equilíbrio de Donnan, determine as
concentrações de cloreto e de potássio, em cada compartimento no equilíbrio.

R: Dois princípios devem ser obedecidos para a resolução deste exercício: princípio da
iso-osmolaridade para aqueles íons que podem atingir o equilíbrio entre os
compartimentos e princípio da neutralidade dentro de cada compartimento.

Considerações:

Quantidade de cargas = q.

 = potencial eletroquímico.

s = o + R x T x ln Cs  onde “s” é uma substância qualquer e C representa sua


concentração.

Aplicando o princípio da neutralidade ao compartimento A, obtemos X (concentração


de íons cloreto):

q+(A) = 145 + 5 = 150;

q-(A) = 30 + X.

Como, no equilíbrio, o compartimento A está neutro, q+ (A) = q-(A)  150 = 30 + X  X


= 120 mM.

Para descobrir as demais concentrações, algumas observações devem ser feitas a


respeito da condição de equilíbrio entre os compartimentos:

No estado de equilíbrio, os potenciais eletroquímicos nos compartimentos A e B devem


ser iguais. Os potenciais eletroquímicos dos dois compartimentos são calculados
considerando-se apenas os íons que podem se difundir. Assim, temos:

(A) = K+(A) + Cl -(A)

(B) =  K+ (B) + Cl- (B)

o K +(A) = o K+ + ( R x T x ln CK +(A) )
o Cl -(A) = o Cl- + ( R x T x ln CCl- (A) )

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 161


o K +(B) = oK+ + ( R x T x ln CK+(B) )
o Cl -(B) = o Cl- + ( R x T x ln CCl-(B) )
Equilíbrio  (A) = (B), então:

oK+ + ( R x T x ln CK+(A) ) + oCl- + ( R x T x ln CCl-(A) ) = oK+ + ( R x T x ln CK+ (B) ) +


oCl- + ( R x T x ln CCl-(B) )

Simplificando, temos:

( R x T x ln CK+(A) ) + ( R x T x ln CCl-(A) ) = ( R x T x ln CK+(B) ) + ( R x T x ln CCl- (B) )

Colocando o termo “ R x T” em evidência,temos:

R x T x ( ln CK+(A) + ln C Cl-(A) ) = R x T x ( ln CK+(B) + ln CCl- (B) )

Simplificando, temos:

ln CK+(A) + ln C Cl-(A) = ln CK +(B) + ln C Cl-(B)

Aplicando a propriedade de logarítimo, temos:

ln ( CK+(A) x CCl-(A) ) = ln ( CK +(B) x CCl- (B) )

Simplificando, temos:

CK+(A) x C Cl-(A) = CK+(B) x C Cl-(B)  Esta é a expressão mais geral e conhecida do


equilíbrio de Donnan e será aplicada neste exercício para obtenção das concentrações
que ainda faltam:

CK+(A) x CCl-(A) = CK +(B) x CCl- (B)  5 x 120 = Y x Z 600 = Y x Z Y = 600 / Z (1)

Aplicando o princípio da neutralidade, temos:

q+(B) = 15 + Y

q-(B) = 156 + Z

Sendo que q+(B) = q-(B)  15 + Y = 156 + Z (2)

Substituindo (1) e m (2), temos:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 162


15 + ( 600 / Z ) = 156 + Z  ( 15 x Z ) + 600 = ( 156 x Z ) + Z2  Z 2 + ( 141 x Z ) –
600 = 0  Z = 4,13 mM.

Substituindo o valor de Z na equação (2), obtemos o valor de Y:

15 + Y = 156 + 4,13  Y = 145,13 mM.

Compartimento A Compartimento B

145 mM Na 15mM Na
-
30 mM R 156 mM R-
5 mM K + 145,13 mM K +
120 mM Cl - 4,13 mM Cl -

Enunciado 1 – A dor pode ser definida como uma sensação desagradável, criada
por um estímulo nocivo, e que atinge o sistema nervoso central por meio de vias
específicas. Estas vias são compostas de neurônios sensitivos que se comunicam através
das sinapses de modo a levar a informação dos nociceptores (“receptores da dor”) até o

centro de integração, onde ocorre de fato a percepção da dor, ou seja, onde o estímulo
doloroso torna-se uma sensação consciente.

92. A dor rápida, descrita como aguda e localizada, é transmitida rapidamente por fibras A-
δ (A-delta), que são fibras pequenas e mielinizadas. A dor lenta, descrita como difusa e
espalhada, é levada por fibras C que são pequenas e desmielinizadas.

Velocidade de
Tipo de Fibra Nervosa Diâmetro (µm) Mielinização
Condução (m/s)
fibras A-δ 3a6 presente 15 a 35
fibras C 0,3 a 1,3 ausente 0,7 a 1,3

Explique a diferença de velocidade de condução entre as fibras segundo as


características apresentadas;

R: Quanto ao diâmetro:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 163


Quanto maior o diâmetro do axônio, menor será a resistência oferecida pela
membrana à passagem da corrente despolarizante do Potencial de Ação. Assim, quanto
maior o diâmetro, maior a velocidade de condução.

Quanto à mielinização:
Embora os nódulos de Ranvier permitam uma condução saltatória e, por isso,
rápida, a corrente que chega ao nódulo implica em: despolarização de membrana,
abertura de canais de Na+, influxo de Na+ no axônio e reforço da despolarização que, se
por um lado evita o decaimento do sinal, mantendo a amplitude do Potencial de Ação,
por outro torna mais lento o fluxo da corrente. Assim, os nódulos são necessários, mas
quanto maior a extensão mielinizada, mais rápida será a condução.

Conclusão:
Como as fibras C têm menor diâmetro e não se apresentam envolvidas pela
bainha de mielina, elas conduzem o Potencial de Ação com menor velocidade que as
fibras A-δ (A-delta), que têm maior diâmetro e são mielinizadas.

93. Ao caminhar descalço pela praia na noite de Ano Novo, você pisa em um caco de vidro
bastante fino e pontiagudo, resto de uma garrafa de champagne. Primeiro, você sente
uma dor aguda (dor rápida), exatamente no local onde o vidro penetrou o pé, seguida de
uma dor latejante (dor lenta) persistente.

a) Com base no que foi dito sobre as fibras nervosas aferentes, por que primeiro se sente
a dor aguda e só depois é que vem a dor latejante?

b) Como um estímulo nocivo no pé pode ser percebido como dor no SNC, na cabeça,
distante 1,70 metros do local da lesão tão rapidamente? Explique isto através de uma
comparação entre potenciais graduados e potenciais de ação.

a) R: A dor aguda é sentida primeiro porque usa vias aferentes cujas fibras são do tipo
A-δ (A-delta), que são cerca de 30 vezes mais rápidas na condução do Potencial de
Ação do que as fibras C, que constituem as vias da dor latente.

b) Se o estímulo que partiu do pé alcançou o encéfalo e foi capaz de informar a lesão,


com consequente percepção da dor, é porque o estímulo foi forte o suficiente para
gerar um Potencial de Ação, ou seja, a penetração do caco de vidro gerou um

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 164


estímulo supralimiar, deflagrando o Potencial de Ação. Não se pode dizer que a dor
é resultado de potencial graduado, porque este, ao se propagar, perde a amplitude,
decaindo o sinal. O Potencial de Ação, ao contrário, é deflagrado por um estímulo
tal que gera uma amplitude suficientemente forte para vencer a resistência e se
propagar de modo constante. Isso acontece porque a corrente despolarizante do
Potencial de Ação é regenerada ao longo do axônio nos nódulos de Ranvier.
Transmissão de sinais à distância tão longa somente são possíveis pelas
propriedades do Potencial de Ação.

Enunciado 2 – Já conhecemos um pouco dos mecanismos neurofisiológicos que


levam à percepção da dor, mas vamos conhecer agora um pouco mais sobre uma droga
que impede essa sensação, mas sem deixar o paciente inconsciente: os anestésicos
locais. Este tipo de anestesia permite a realização de pequenos procedimentos
cirúrgicos, terapêuticos ou até diagnósticos que, sem o uso do anestésico local, seriam
inviabilizados pelo grande desconforto associado. Exemplos de sua aplicação são os
anestésicos usados pelos dentistas antes da extração do dente siso ou de uma obturação.
A anestesia local também precede desde procedimentos médicos mais corriqueiros

como as suturas, até outras menos comuns como as traqueostomias. Vejamos, então, um
pouco do mecanismo de ação desses anestésicos.
Os anestésicos locais agem reduzindo a permeabilidade ao sódio nas membranas
excitáveis, porque estes canais iônicos funcionam também como receptores para o
anestésico. Trata-se dos canais voltagem-dependentes que mudam de conformação
segundo variações no potencial de membrana. Quando os canais estão na conformação
“aberta” ou “inativada”, a ligação dos anestésicos locais aos canais de Na+ é favorecida.

94. Proponha um possível mecanismo de ação para os anestésicos locais que explique como
este fármaco evita a sensação da dor no local de aplicação.
R: Os anestésicos locais se ligam ao canal de sódio bloqueando o mesmo, disso resulta
que os canais se tornam “impermeáveis” ao sódio. Ainda que se produza um estímulo
supralimiar, não haverá o influxo de sódio necessário à despolarização súbita que
deflagra o potencial de ação, logo, este não ocorre. Desse modo, não haverá propagação
do impulso elétrico que informaria o estímulo doloroso.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 165


95. Como potenciais de ação e despolarizações repetidas podem favorecer a ligação do
anestésico ao canal?
R: O potencial de ação e as repetidas despolarizações levam à abertura dos canais de
sódio, configuração que favorece a ligação do anestésico ao canal, bloqueando-o. Do
próprio decurso do potencial de ação também resulta a inativação dos canais, outra
conformação que leva à ligação AL-canal Na+.

96. Uma das características dos anestésicos locais é o “bloqueio frequência


-dependente” ou
“uso-dependente” que diz que quanto mais estimulado um nervo (ou outra membrana
excitável qualquer), maior será o efeito bloqueador de dor do anestésico. Explique.
R: Os canais de sódio se abrem e/ou se inativam, proporcionalmente à intensidade do
estímulo, de modo a facilitar a entrada do anestésico local que prefere estas
configurações. Assim, o bloqueio é mais intenso (profundo) à medida que a frequência
+
da estimulação aumenta. Quanto mais se estimula uma membrana, mais canais de Na
serão abertos, logo, mais anestésicos locais penetrarão nestes canais, impedindo sua
reabertura numa próxima estimulação. Em outras palavras, é preciso expor o tecido ao

estímulo doloroso para que o anestésico funcione nesse local.

97. Qual o impacto do uso dos anestésicos locais sobre a excitação das terminações
nervosas?
R: Como a cada despolarização/excitação da membrana menos canais estão
“disponíveis” para o influxo de Na+, há redução da excitabilidade das terminações
nervosas.

Enunciado 3 – Já dissemos que os anestésicos locais reduzem a permeabilidade


ao sódio por bloquearem os canais voltagem-dependentes deste íon na membrana.
Contudo, o que ainda não dissemos é que estes canais são receptores intracelulares para
os anestésicos locais e que quem efetivamente se liga ao canal é a forma catiônica do
anestésico. Considerando estas informações e que os anestésicos locais são bases fracas
que têm valores de pKa geralmente acima do pH fisiológico, responda:

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 166


98. Que percentual da tetracaína (anestésico local de pK = 8,5) está sob a forma molecular
no pH fisiológico (pH = 7,4)?
R: Em pH = 7,4, um total de 94% da tetracaína está na forma não ionizada.
pH = pK + log(A/D) A + D = 100%
(pH-pK)
10 = A/D 0,08D + D = 100%
10(7,4 - 8,5) = A/D 1,08D = 100%
A = 0,08D D = 93%

99. O percentual calculado no item anterior favorece a ação do anestésico local? Responda
considerando o transporte através de membranas.
R: Sim, como o AL precisa atingir seu receptor intracelular (que nada mais é que a
porção intracelular do canal de Na +), primeiro é ele difundir do local de aplicação para o
interior do neurônio, através da membrana. Logo, se prevalecer a forma molecular, a
difusão será favorecida, já que a forma não-ionizada, a molecular, é mais lipossolúvel.

100. Mas, como foi dito no enunciado, a forma que interage com essa porção

intracelular do canal é a forma catiônica (ionizada). Explique como isso se dá se a forma


molecular é a que difunde para dentro da célula.
Dados: pka tetracaína = 8,5; pHfisiológico = 7,4; pHintracelular = 6,9.
1. R: Quanto mais ácido o meio, mais a reação de dissociação da base (BOH ↔ B+ +
OH-) se desloca para a direita, no sentido de liberar hidroxilas. Assim, como do LEC
para o LIC há redução do pH, (pois o ambiente intracelular é mais ácido que o
extra), o anestésico na forma molecular que difundiu para dentro da célula, neste
+
ambiente, se ioniza, liberando a forma catiônica que se liga ao canal de Na.

pKb > pH → B+ > BOH


pKb = pH → B+ = BOH
+
pKb < pH → B < BOH

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 167


BOH
BOH BOH
+
B
+
B
BOH → B+
BOH pH=6,9
BOH B+
pH=7,4

Já vimos que no pH de 7,4 a tetracaína está 93% na forma molecular, que é mais
lipossolúvel e por isso difunde melhor. Ao chegar ao meio intracelular, o pH é mais
ácido e o anestésico se ioniza, liberando forma catiônica (B +) que pode se ligar ao canal
de sódio (Na+).

101. Valium® e Lexotam® são exemplos de benzodiazepínicos conhecidos


comercialmente. Trata-se de um grupo de fármacos depressores do Sistema Nervoso

Central com efeitos ansiolítico e miorrelaxante, dentre outros. Hoje se sabe que essa
classe de medicamentos atua reforçando a ação de um neurotransmissor chamado
GABA (ácido gama-aminobutírico). O GABA se liga ao seu receptor na membrana pós-
sináptica e muda a conformação deste de modo a abrir canal seletivo a íons cloreto. Os
benzodiazepínicos são chamados comumente de tranquilizantes, sedativos, e são
indicados alívio sintomático da ansiedade, agitação e tensão nervosa. Dito isto,
pergunta-se:

a) Qual o tipo de sinapse envolvida na questão?


b) Sobre o GABA, como se classifica o seu receptor?
c) Qual parece ser o efeito pós-sináptico do neurotransmissor GABA neste caso?

d) Por que o uso dos benzodiazepínicos leva aos efeitos descritos?


R:
a) Sinapse química, pois fala de neurotransmissor, receptor de membrana;
b) Como se trata de um receptor de membrana que atua como um canal para íon
segundo a ativação por um ligante, o receptor é do tipo ionotrópico;

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 168


c) Considerando efeitos farmacológicos e que o canal é seletivo ao Cl -, o efeito pós-
sináptico é inibitório;
d) Como os benzodiazepínicos aumentam a ação do GABA e este leva à abertura de
canais de cloreto, o uso do medicamento leva a maior influxo de Cl - na célula pós-
sináptica. Isso hiperpolariza o neurônio, tornando mais difícil o desenvolvimento do
potencial de ação. Assim, embora exista o estímulo ansiogênico (como vôo de
avião), os sintomas não aparecerão, pois o efeito inibitório do medicamento evita o
processamento de uma resposta pelo SNC.

102. A Síndrome de Gordon (também denominada pseudo-hipoaldosteronismo do


tipo II) é uma tubulopatia hereditária autossômica dominante rara, diagnosticada
geralmente na infância ou na adolescência. Essa síndrome caracteriza-se pela
reabsorção excessiva de cloreto pelo túbulo renal distal reto (hipótese do “shunt” de
cloreto), o que resulta na redução do potencial negativo luminal do túbulo renal, e
promove o aumento da reabsorção de sódio e hipervolemia. Dessa forma, os pacientes
apresentarem hipertensão arterial sistêmica e supressão da produção de renina e
aldosterona. A diminuição dos níveis séricos de aldosterona causa redução da excreção
+ +
de íons H e K , e conseqüentemente acidose metabólica e hiperpotassemia. O
tratamento consiste na restrição da ingestão de sal e no uso de diuréticos como a
furosemida. Explique por que.
R: A furosemida é antipertensivo, da classe de fármacos dos diuréticos de alça e atua
+ +
sobre o ramo ascendente espesso da alça de Henle inibindo o transportador Na/K /2Cl-
o que aumenta a excreção de água e íons. No pH fisiológico, esses fármacos são ânions
que se prendem ao sítio de fixação do Cl-, impedindo-o de ciclar e com isso aumentam a
oferta de sódio nos túbulos renais, resultando na maior eliminação de água por gradiente
+2
osmótico. Por cauda da medicação também ocorre o aumento da eliminação de Ca e
Mg+2 (pois o co-transportador Na +/K+/2Cl- é responsável por gerar uma carga positiva
no lúmen do túbulos renais o que favorece a reabsorção desse íons). A dieta com
redução da ingestão de sal tem como objetivo reduzir as concentrações plasmáticas de
sódio e dessa forma reduzir o volume de sangue circulante o que auxiliará no controle
da pressão arterial.

103. Um pescador faleceu com a suspeita de intoxicação após ingestão de um peixe


conhecido como Baiacu. Após análises clínicas de exame de sangue, confirmou-se a

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 169


suspeita pela detecção da presença de tetrodotoxina (TTX)– toxina produzida nas
gônadas e outros tecidos viscerais de alguns peixes da classe dos Tetraodontiformes.
Sabendo-se que a intoxicação pela TTX provoca paralisia da vítima, qual será o
mecanismo de ação dessa toxina que o levou à morte?
R: A tetrodotoxina é uma neurotoxina que atua bloqueando os canais de sódio
voltagem-dependentes, impedindo a despolarização e a propagação do potencial de ação
nas células nervosas. Esta ação ocorre nos nervos periféricos motores, sensoriais e
autonômicos, tendo ainda ação depressora no centro respiratório e vasomotor do tronco
encefálico. Dessa forma a provável causa de morte é devido à paralisia muscular, que
leva à depressão respiratória e falência circulatória, além de bradicardia severa.

104. A toxina botulínica é produzida pela bactéria Clostridium botulinum e foi


inicialmente estudada em alimentos contaminados. Ao ser ingerida, essa toxina induz
efeitos graves, especialmente musculares, produzindo fraqueza e paralisia, podendo até
mesmo ser fatal. Hoje a toxina botulínica tem aplicações clínicas devido a suas
propriedades. Primeiramente, foi utilizada no tratamento de estrabismo; nos anos 80, na
terapêutica de distúrbios musculares, como blefarospasmo, e outras distonias focais. Na

última década, tem-se usado toxina botulínica tipo A e B como relaxante muscular, em
terapêutica de distúrbios musculares e de produção de secreções, assim como se tem
revelado muito popular em aplicações estéticas, (eliminação de rugas e imperfeições),
sendo mais conhecida como BOTOX®. Como ela exerce esse efeito de relaxante
muscular?
R: A toxina botulínica atua degradando uma proteína presente na vesícula que carrega o
neutransmissor. Essa proteína, a sinaptobrevina, é responsável por promover a fusão da
membrana da vesícula sináptica dentro do neurônio com a membrana sináptica. Em
suma, essa toxina impede a liberação do neurotransmissor na fenda sináptica e assim
interrompe a transmissão de impulsos nervosos na placa motora promovendo o
relaxamento muscular.

105. Xylestesin é o nome comercial de um fármaco usado como a nestésico local, cuja
composição química consiste em Cloridrato de Lidocaína, e o vasoconstritor, epinefrina.
A lidocaína estabiliza a membrana neuronal por inibição dos fluxos iônicos necessários
para o início e para a condução dos impulsos, efetuando deste modo a sua ação de
anestésico. Com qual objetivo é adicionado um vasoconstritor à formulação?

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 170


R: O efeito de vasoconstritores, como a epinefrina, promove um tempo de ação mais
prolongado dos anestésicos locais, pois reduz a sua eliminação. Além disso, evita que o
que anestésico atinja a circulação sanguínea em concentrações elevadas diminuindo o
risco de toxicidade sistêmica. Outra fato importante é que o vasoconstritor permite a
utilização de menores concentrações do anestésico para produzir o bloqueio da
condução nervosa e também ajudam a diminuir a hemorragia local. Por outro lado,
podem causar estimulação do coração e irritabilidade, ou isquemia local principalmente
em extremidades corpóreas onde o fluxo sanguíneo já é diminuído.

106. As sulfonilureias pertencem a uma classe de fármacos muito utilizada no


tratamento de Diabetes Tipo II. Essas drogas exercem seus efeitos ao se ligarem e
bloquearem canais para potássio. Como esse bloqueio pode levar a uma resposta
hipoglicêmica?
R: As sulfonilureias possuem ação hipoglicemiante ao facilitar a liberação de insulina
pelas células beta do pâncreas. Esses fármacos são capazes de se ligarem aos canais de
K+ sensíveis a ATP nas células beta-pancreáticas, bloqueando esses canais. Com isso,
2+
ocorre a despolarização da membrana e consequente influxo de Ca pelos canais de
2+ 2+
Ca sensíveis a voltagem. O aumento da concentração intracelular de Ca , por sua vez,
promove a exocitose de vesículas contendo insulina, um hormônio hipoglicemiante.

107. Um jovem de 18 anos foi ao consultório médico queixando-se de fraqueza


muscular todas as manhãs ao realizar esforços físicos leves como subir escadas ou
pequenas caminhadas. Relatou também apresentar sonolência e desmaios esporádicos.
O médico iniciou o tratamento com o fármaco piridostigmina, contudo não houve
melhoras no quadro clínico. O médico indicou, então, uma nova abordagem baseado na
dieta alimentar e indicou que o paciente procurasse um nutricionista. Dessa vez então, o
tratamento foi eficaz. Explique a função da piridostigmina e porque não houve melhora
no quadro. Qual exame laboratorial deveria ter sido feito para diagnosticar a suspeita
inicial?
R: A suspeita inicial do médico era que o paciente era portador de uma doença
autoimune, a miastenia gravis, que possui sintomas como debilidade muscular
generalizada que piora com o uso da musculatura afetada e melhora com o repouso. Na
miastenia gravis , são produzidos anticorpos contra os receptores para acetilcolina, nas
placas motoras dos músculos esqueléticos. O bloqueio dos receptores impede a

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 171


despolarização das fibras musculares, conseqüentemente, não haverá contração e
mobilidade. O diagnóstico é feito pela administração de fármacos que aumentam o
tempo da acetilcolina na fenda sináptica como a piridostimina (um fármaco que
bloqueia a ação da acetilcolinesterase) acompanhado da melhora do quadro clínico.
Outras provas de diagnóstico consistem em medir a função dos nervos e dos músculos
através de um eletromiograma, ou fazer análise sanguínea para detectar anticorpos para
a acetilcolina. No caso em questão, como não houve melhora clínica com a
administração do fármaco, o médico suspeitou então de um quadro de hipoglicemia que
foi confirmado quando se observou a melhora do paciente ao aderir uma dieta adequada.

108. Um paciente chega ao PA queixando-se de dificuldades na mastigação


acompanhada de rigidez muscular na região cervical. O exame clínico do paciente
constatou a presença de uma ferida com secreção purulenta, que teve amostras
recolhidas para análise laboratorial. Foi então, confirmada a contaminação pelo bacilo
Clostridium tetani . Como o bacilo atua para gerar os sintomas apresentados? Qual a
terapêutica?
R: O bacilo, após colonizar a ferida e encontrar ambiente favorável, com baixa pressão

de oxigênio, libera a sua toxina tetanospasmina. . Esta é uma neurotoxina e todas as


manifestações conhecidas do tétano resultam da capacidade da tetanospasmina de inibir
a liberação de neurotransmissores, na fenda sináptica, em neurônios inibitórios,
desregulando, assim, a inibição de neurônios excitatórios. O sistema motor responde ao
estímulo aferente, resultante dos impulsos excitatórios, não controlados por mecanismos
inibitórios, com contração intensa, simultânea e sustentada dos músculos agonistas e
antagonistas (espasmo tetânico), havendo uma paralisia espasmódica generalizada,
característica do tétano. Como tratamento é administrado antídoto, um anticorpo que se
liga à toxina e inibe a sua função. São também administrados fármacos relaxantes
musculares, como curare. A penicilina e o metronidazol eliminam as bactérias, mas não
têm efeito no agente tóxico que elas produzem. Os depressores do sistema nervoso
central como o Diazepam e a vacina DTP também são dados, reduzindo a ansiedade e
resposta espásmica aos estímulos.

109. O androsterona é um hormônio responsável pelo aumento da excreção de


potássio para o filtrado urinário. Um indivíduo que possui hipoaldosteronismo apresenta
fraqueza muscular. O exame de sangue demonstrou concentrações séricas de potássio

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 172


elevadas. Explique qual seria a relação entre o quadro clínico de fraqueza muscular e o
resultado do exame de sangue.
R: A repolarização durante o potencial de ação ocorre devido a corrente de efluxo de
K+. Quando a concentração extracelular de K + está aumentada, conforme indicado no
exame, o gradiente de concentração fica comprometido, o que dificulta a saída K+ da
célula e diminui a velocidade de repolarização durante o potencial de ação. Dessa
forma, haverá um quadro de fraqueza muscular.

110. Uma mulher, 55 anos, em acidose diabética, é tratada com insulina. Essa
substância interfere no transporte de K+ gerando uma diminuição desse íon no plasma
sanguíneo. a) Essa hipopotassemia pode causar fraqueza muscular. Explique.
b) E como um enfermeiro pode atuar a fim de diminuir os efeitos da fraqueza muscular?
R:
a) A hipopotassemia (ou hipocalemia) promove a fraqueza muscular por hiperpolarizar
as células, deixando o potencial de membrana ainda mais distante do limiar para o
potencial de ação. Hiperpolarizada, a célula se torna menos excitável, e xplicando a
fraqueza muscular. Tal hiperpolarização se deve ao aumento do gradiente de

concentração do potássio entre os meios intra e extracelular, em função da redução


na [K+]extracelular que caracteriza a hipocalemia.

b) O enfermeiro terá um importante papel checando a dieta do paciente, sempre se


certificando de que ele receberá uma quantidade maior de K+ em sua alimentação.
Além disso, pode recomendar exercícios diários ao paciente visando um
fortalecimento muscular. Outra conduta possível seria comunicar ao médico a
evolução do quadro e se possível sugerir uma diminuição nas quantidades de
insulina.

111. A fibrose cística é uma doença genética que altera proteína CFTR (regulador de

condutância transmembranar de fibrose cística). E tal como a proteína, o próprio canal


de Cl- vai sofrer uma mutação da qual vai resultar um transporte anormal de íons Cl -
através dos ductos das células sudoríparas e da superfície epitelial das células da
-
mucosa. Vai ocorrer, então, uma alteração no transporte dos íons Cl através das
glândulas exócrinas apicais, resultando dessa anormalidade, uma permeabilidade
diminuída ao Cl -, fazendo com que o muco da fibrose cística fique cerca de 30 a 60

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 173


vezes mais viscoso. A água por sua vez, como vai seguir o movimento do sódio de volta
ao interior da célula, vai provocar um ressecamento do fluído extracelular que se
encontra no interior do ducto da glândula exócrina. Como um enfermeiro pode auxiliar
um paciente com essa patologia durante seu tratamento?
R: O enfermeiro pode auxiliar de modo a recomendar a reidratação e a reposição de
sódio, especialmente nos dias de calor. Além disso, outras medidas:
 Uso de drogas moduladoras do transporte iônico: Amiloride – um diurético que,
utilizado por via inalatória, bloqueia a reabsorção de sódio, aumentando sua
concentração e, consequentemente, a de água na secreção brônquica, diminuindo a
sua viscosidade;
 Boa nutrição do paciente, por meio de dieta rica em calorias sem restrição de
gorduras;
 Suplementação de enzimas pancreáticas para auxiliar a digestão;
 Reposição das vitaminas lipossolúveis A, D, E, K;
 Inalações diárias com soro fisiológico, broncodilatadores ou mucolíticos,
conforme as características da secreção.

112. A lidocaína injetável é um anestésico local parenteral (anestésico tipo amida;


cloridrato de lidocaína). Com base nos conhecimentos biofísicos acerca de canais de
membrana (sobretudo os canais de Na +) explique o mecanismo de ação desse
anestésico.
R: O anestésico age bloqueando o impulso nervoso (a iniciação e a condução do
impulso). O anestésico local diminui a permeabilidade da membrana neuronal aos íons
sódio; a membrana fica estabilizada, pois impede a despolarização, inibindo assim, a
propagação do impulso nervoso.

113. Um paciente é encaminhado à unidade de pronto atendimento queixando-se de


fraqueza, falta de ar e tontura. Ao se verificar a frequência cardíaca, foi diagnosticada
uma bradicardia. Baseando-se nos seus conhecimentos sobre biofísica, a enfermeira
relatou ao médico a necessidade de se administrar um fármaco que elevasse a
condutância da membrana aos íons cálcio. Por que ela concluiu isso?
R: A redução da frequência cardíaca abaixo de valores fisiológicos é chamada de
bradicardia. A entrada íons cálcio na célula é fundamental para que ocorra a contração
cardíaca. Essa entrada ocorre por meio da abertura dos chamados canais lentos de

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 174


cálcio. Assim, a administração do fármaco fará com que ocorra aumento da entrada de
íons cálcio, gerando aumento da frequência cardíaca e da forca de contração.

114. M.C.B. chegou ao hospital apresentando um ferimento profundo no braço


direito. Devido à necessidade de se realizar uma sutura, o médico solicitou à enfermeira
a administração do anestésico local procaína no paciente. Qual o mecanismo de ação
dos anestésicos locais, como a procaína?
R: Os anestésicos locais bloqueiam os canais de sódio. Dessa forma, se impede a
condução do potencial de ação pelo axônio neuronal, deixando a área anestesiada.

115. A Miastenia grave é uma doença de cunho imunológico caracterizada pela


destruição de grande parte os receptores de acetilcolina presentes na placa motora da
musculatura esquelética. Isso causa uma fraqueza muscular e fadiga profunda nos
portadores dessa doença. Mas, quando se administra um inibidor da acetilcolinesterase
em um afetado, o paciente melhora quase que magicamente dos sintomas. Por que isso
ocorre?
R: O inibidor de acetilcolinesterase reduz a taxa de degradação da ACh na placa motora.

Dessa forma, ocorre um aumento da concentração de ACH, o que compensa a pequena


quantidade de receptores presentes na placa motora.

116. Houve nos anos 90, grande interesse mundial pela irradiação de alimentos tanto
pelo público como pela indústria alimentícia, sendo hoje uma prática adotada em
diversos países ao redor do mundo, incluindo o Brasil.

a) Existem riscos associados à utilização de alimentos irradiados pelo consumidor?


Justifique.

b) Qual tipo de radiação deve ser usado para a irradiação de alimentos?

c) Exemplifique alguns dos benefícios de tal procedimento?

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 175


R: a) Ainda não foram encontrados riscos associados à irradiação de alimentos. O
processo realizado não torna o alimento uma fonte de radiação e pouco altera suas
propriedades nutricionais, não acarretando danos à saúde do consumidor.

b) Devem ser utilizadas radiações ionizantes, como raios γ, raios X ou feixes de


elétrons. Isso se deve ao fato de que a ionização induz a formação de íons capazes de
interromper algumas reações biológicas que levam ao apodrecimento dos alimentos,

como mudanças conformacionais em enzimas, além de promover a morte de bactérias e


fungos.

c) Além da eliminação de microorganismo que contribuem no processo de


apodrecimento dos alimentos, a irradiação desses aumenta o tempo de armazenamento e
reduz o uso de substâncias químicas que deixam resíduos nos alimentos.

117. Elementos radioativos podem emitir tanto matéria como energia. Identifique as
possíveis emissões e também as características necessárias para que ocorra cada uma
destas emissões.

R: Elementos instáveis podem emitir espontaneamente partículas ou energia a partir do


núcleo.

Elementos que apresentam excesso de energia (ex: Ra226 e Po214) emitem partículas ,
de massa atômica 4 e carga elétrica +2. É altamente ionizante, além de apresentar
mínima penetração.
14
Já os elementos que apresentam excesso de nêutrons (ex: C ) podem emitir partículas
-, que apresentam mesma massa e carga do e-. São menos ionizantes do que as
partículas , e apresentam maior poder de penetração.

Elementos que apresentam excesso de prótons (ex: C 11) podem sofrer transformação por
emissão de partículas +, cuja massa é idêntica ao e-, porém de carga positiva. Sua
existência é extremamente curta (10 -9seg), ocorrendo logo após sua emissão o processo
de aniquilamento.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 176


Por fim, elementos que apresentam excesso de energia no núcleo (ex: todos os
elementos metaestáveis) podem emitir fótons , altamente penetrantes, porém com
pouco efeito ionizante.

118. Os raios-X podem ser utilizados em diagnóstico, a partir das imagens formadas
quando a energia incide sobre a matéria. A qualidade da imagem formada depende da
absorção da energia associada aos raios-X.

a) Diferencie a qualidade da imagem formada quando esta incide sobre tecido ósseo
daquele visceral.

b) Classifique os raios-X moles e raios-X duros e relacione com seus respectivos


comprimentos de onda, energia, poder de penetração e indicações de uso para se
radiografarem ossos e tecidos moles.

c) Quais as medidas tomadas para evitar os efeitos nocivos da exposição aos raios-X
tanto em pacientes quanto em profissionais responsáveis pela manipulação da
aparelhagem radiográfica.

R: a) O uso de radiações X e também γ para exame de sistemas biológicos se baseia na


absorção diferencial dos tecidos: A absorção da radiação aumenta com o aumento da
densidade estrutural dos tecidos. Assim, ossos e cartilagens absorvem mais radiação do
que músculos, tecido adiposo, vísceras, e dão uma sombra na imagem. Na chapa
negativa, eles aparecem mais claros, porque absorvem mais radiação. A pequena
absorção observada no parênquima pulmonar se deve à presença de ar.

b) Raios-X moles: apresentam maior λ, menor energia, menor poder de penetração,


usados para tecidos moles;

Raios x duros: apresentam menor λ, maior energia, maior poder de penetração, usados
para tecidos duros.

c) As diversas formas de proteção utilizam um ou mais desses três princípios:


Afastamento máximo entre a fonte e qualquer trabalhador no local de exames,

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 177


minimização da quantidade de radiação emergente e tempo de exposição à fonte. O uso
de blindagem tornou-se bastante comum.

119. Diferentes tecidos apresentam diferentes sensibilidades à exposição por radiação,


de acordo com suas propriedades.

a) Determine os fatores responsáveis por esta sensibilização diferenciada e


exemplifique 2 tecidos mais afetados.

b) Como os componentes dos tecidos podem ser alterados pelas radiações, e quais os
seus efeitos?

c) A exposição à radiação é dependente, dentre outros fatores, da dose e do sexo.


Descreva como esses dois fatores podem influenciar na determinação de esterilidade
nos indivíduos e xpostos.

R: a) A sensibilidade dos tecidos é determinada por:

1- Maior quantidade de água;

2- Maior concentração de DNA;

3- Taxa elevada de reprodução;

4- Baixo grau de diferenciação.

Estão entre os tecidos mais sensíveis estão os tecidos neoplásicos, assim como
hematopoiético, tecidos das linhagens germinativas e pele.

b) Pode haver uma ação indireta pela formação de radicais livres a partir da água

(OH*, H*), que são altamente reativos, podendo lesar diversas moléculas fundamentais
à célula. Além disso, existem os e feitos diretos sobre o DNA (como mutação, quebra de
uma das fitas, formação de dímeros da mesma fita e pareamento inadequado),
adicionados à inativação de enzimas e mudanças conformacionais em componentes de
membrana.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 178


c) A mulher pode sofrer redução da fertilidade após exposição à radiação, já que os
ovócitos não são capazes de se multiplicar por mitose, a fim de recompor a população
perdida devido à exposição à radiação. Processo que por sua vez ocorre no homem,
onde células primordiais da linhagem germinativa são capazes de gerar novas
espermatogônias. Entretanto, devido ao maior índice de replicação das células da
linhagem germinativa no homem (células em divisão são mais susceptíveis a danos no
DNA), ele poderá ficar completamente estéril quando exposto a uma dose menor de
radiação, em comparação a dose necessária para causar o mesmo efeito na mulher.

120. O efeito Compton pode interferir na formação da imagem provocando absorção


diferenciada entre as partes dos tecidos, além de aumentar a exposição do
profissional que realiza exames de radiografias. Explique como este efeito ocorre e
sua influência na formação de radioimagens.

R: O efeito Compton ocorre naqueles casos onde a energia da radiação, como a dos
raios-X, é superior àquela necessária para ejetar um elétron das camadas mais externas,
sendo o excesso de energia desviado na forma de um fóton de menor energia. Tal efeito
é prejudicial à formação de radioimagens, visto que esse desvio de energia acaba
expondo diferentes áreas dos tecidos a diferentes quantidades de energia, tornando
sobrepostas as interfaces entre eles, além de aumentar a exposição do profissional
responsável pela realização de exames como na radioscopia.

121. Nos exames de radiografia, a incidência de raios-X nos tecidos pode gerar outras
formas de energias secundárias. Explicite quais formas de energias são essas e seus
efeitos nas chapas de radioimagens e também nos tecidos.

R: Podem ser produzidos raios X secundários devido a seu choque contra os sistemas
biológicos, que ao se espalharem prej udicam a imagem. Além disso, elétrons do
material irradiado podem absorver energia e saltar para orbitais mais externos. Na volta,
a energia é devolvida como luz visível ou UV, que é excitante dos tecidos.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 179


122. Os elementos radiativos têm muitas aplicações. A seguir, estão exemplificadas
algumas delas.

I. O iodo é utilizado no diagnóstico de alterações da glândula tireóide, e pode ser obtido


pela seguinte reação:

11
II. O C pode ser utilizado para avaliação da atividade cerebral, assim como da
presença de diversos tumores e suas metástases. Seu decaimento é:

III. O fósforo é utilizado na agricultura como elemento traçador (radionuclídeo cujo


caminho dentro de um sistema biológico pode ser monitorado) para proporcionar a
melhoria na produção do milho, e pode ser obtido pela reação:

Sua reação de decaimento é:

IV. O radionuclídeo Tecnécio preenche quase todas as características de um


radioisótopo para uso diagnóstico, sendo usado na varredura de rins, fígado, cérebro,
bexiga e pulmões. Seu tempo de meia-vida é de 6 horas, e seu decaimento é
representado abaixo:

Quais são as partículas de a, b, c, d e e nas afirmativas I, II, III e IV ?


R: c = b= β+ a = d = β-1 e= 

123. Estudos mostram que a administração por via intravenosa , como terapia
adjuvante à retirada cirúrgica de adenocarcinoma de pulmão estádio III e carcinoma
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 180
epidermóide de pulmão, aumenta a taxa de sobrevida (em 5 anos) dos paciente em 36
e 30% , respectivamente, quando comparado com o tratamento cirúrgico. Se 100mCi
de radioisótopo são injetados em um paciente no pós-operatório da ressecção
de um desses tumores, quanto do isótopo permanece ativo após 2 semanas se :
a) Nenhuma quantidade é eliminada do corpo por meio biológico?(T 1/2= 2,7 dias)

b) Assumirmos que é de 5 dias?

R: a) = λ= = 0,255 dias-1

N= N0.e-λt N= 100 . e -0,255.(14)

N= 2,815mCi

-1
b) = λbio= = 0,138 dias
= = 0,138 + 0,255 = 0,393 dias-1
-0,393.(14)
N= N0. N=100e. =
N = 0,4 mCi

124. O fósforo radioativo tem como algumas de suas aplicações a detecção de tumores
oculares, câncer de pele ou tumores pós-cirúrgicos. Uma amostra de32P chegou ao
laboratório 12 dias depois de sua preparação. A atividade inicial era de 10 mCi.
a) Qual a atividade atual em KBq?
b) Qual a quantidade inicial de 32P, em gramas?

R: a) T1/2fis (32P) = 14,3 dias

ln

log A=5,6x103 Ci . 3,7x1010=

A=2,072x108kBq

b) 14,3 dias = 343,2 horas = 20.592 min


Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 181
10mCi = 2,2.1010dpm (vide atividade radioativa no texto)

0,693
= = 3,36.10-5 min-1
20.592

A0 =  . N0 N0= 2,2.1010/3,36.10-5 = 0,654.1015 átomos

1 mol ----- 6,02 x 1023 átomos X = 0,108.10-8 mol

X ----- 0,654.1015 átomos

1 mol ---------------- 32 g

0,108.10-8 mol----- X

X= 3,5 x 10-8 g

125. Um paciente recebeu uma dose de 131I e, ao fim de 10 dias, a atividade residual na
tireóide era de 12%. Calcule a meia-vida biológica do iodo na tireóide.
R: T1/2fis (131I) = 8,3 dias.

= 0,083 dias-1

ln (0,12) = . 10 = 0,21

λbio =0,21 – 0,083= 0,127 dias-1

24
126. O sódio radioativo Na que tem uma meia-vida de 15 horas é enviado de um
laboratório para um hospital, gastando no percurso 2 horas. Sabendo-se que sua

atividade deve ser de 20 mCi ao chegar ao hospital, calcule a atividade da fonte na saída
do laboratório.
R: T1/2= 15 h t=2 h A = 20 mCi A0 = ?

-λt -λ .2
A = A0 e ⇒ 20 = A0 e

-1
λ = 0,693/15 = 0,0462 h

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 182


20= A0.e -0,0462.2
-0,1386
A0 = 20 / e = 20 / 0,91 =

A0 = 21,98 mCi

14

127. Em 2004, foi noticiado um estudo americano, que, por meio de datação de C,
afirmava que um assentamento indígena na Carolina do Sul, EUA, era anterior há até
então aceita teoria de que a ocupação das Américas pelo ser humano começou há 13 mil
anos.

Suponha que tais pesquisadores encontraram restos de carvão, cuja análise revelava uma
atividade de 3,6x10-2 desintegrações/min/g. Quantos anos teriam as amostras coletadas,
levando-se em conta que toda madeira viva tem uma atividade de 15,3
desintegrações/min/g e que o tempo de meia-vida do carbono 14 é de 5600 anos?
-4 -1
R: λ = 0,693/ T1/2 =0,693/ 5600 = 1,2 10 anos
-λ t -λ t -λt
A = A0 e A/A0 = e ⇒ ln (0,036/15,3) = ln e

-6= -(1,2.10-4).t t= 50.000 anos.

128. O volume de um fluido extracelular pode ser medido injetando-se sulfato de sódio
35
marcado com S. Certa amostra tem uma atividade inicial de 2 mCi.

a) Sabendo-se que este isótopo tem uma meia-vida de 87 dias, calcule a atividade da
fonte após 60 dias em Ci e em Bq.

b) Após quanto tempo a atividade cai a 0,5 mCi?

-3
R: a) A0 = 2 . 10 Ci T1/2 = 87 dias t = 60 dias A=?

-1
λ . 87 = 0,693⇒ λ = 0,693/87 = 0,00797 dias
Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 183
-λ.t -3 - 0,00797 . 60 -3
A = A e ⇒ A = 2 . 10 e ⇒A = 1,24 . 10 Ci
-3 10
A = (1,24 . 10 )(3,7 . 10 ) =
7
A = 4,59 . 10 Bq

b) T=0 dias A=2mCi

T=87 dias A= 1mCi


T=174 dias A= 0,5mCi

ou

0,5mCi = 25% A0 ln A/A 0 = - λ.t

ln(0,25) = -0,00797.t

t = 174 dias

129. Quais características físicas e biológicas de um radioisótopo devem ser avaliadas


para utilizá-lo em medicina nuclear?

R: Alguns fatores devem ser considerados no uso de radioisótopos:

1- Efeito de massa; já que as reações químicas se processam em velocidades


dependentes da massa dos reagentes (ex: H1, H2, H3).

2- biológico e físico, determinando a quantidade de radioisótopo a ser


utilizado.
3- O tipo de radiação produzido; por exemplo, radiação α tem alto poder ionizante,
tendo, pois, seu uso restrito.

130. A utilização de marcadores radioativos é um processo trabalhoso, entretanto é


utilizado em pesquisa biológica, como, por exemplo, na marcação de enzimas, toxinas e
outras moléculas.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 184


a) Nesses casos, o pesquisador deve produzir pequenas ou grandes quantidades dessa
molécula marcada? Justifique a sua resposta.

b) Um exemplo é radioalbumina para a determinação do volume do compartimento


vascular. Descreva como é feito este estudo.

c) Para quais outros fins um pesquisador utiliza a marcação isotópica?

R: a) O pesquisador deve produzir pequenas quantidades, já que os radioisótopos


emitem radiação continuamente, principalmente quando se trata de radioisótopos com
meia-vida relativamente curta.

b) Utilizando-se uma amostra de radioalbumina com volume e atividade inicial


conhecidos, pode-se fazer uma infusão intravenosa, e, após certo tempo, faz-se uma
nova avaliação da atividade, tendo em vista a diluição da amostra no compartimento
sanguíneo e, portanto, redução da atividade por unidade de volume. Isso é possível
devido ao alto peso da radioalbumina, que não atravessa a parede dos vasos.
59
c) Pode-se utilizar Fe para estudos hematológicos, permitindo avaliar anemias
ferroprivas, em que o isótopo é retirado rapidamente da circulação, ou anemias em que
há baixa eritropoiese, ficando o metal na circulação por várias horas; utilização de
glicose contendo 14C para verificação de metabolismo celular, ou CO2 também contendo
14
C para verificar processo de fotossíntese em plantas; datação de substratos orgânicos
14 12
pela relação C / C; verificação de transmissão nervosa em neurônios e
24
comportamento do sódio em sistemas biológicos utilizando Na;
radioimunofluorescência, pesquisa de H. pylori utilizando ureia marcada com14 C
através de teste respiratório, dentre inúmeras outras.

131. Em certa região do interior de Minas Gerais, após um período de seca com
grande mortandade de peixes e plantas aquáticas, a população ribeirinha observou
grande quantidade de matéria orgânica no rio, e notificou o IBAMA a respeito. Após
14
coleta da água e análise da relação C/12C, o IBAMA concluiu que essa matéria
orgânica resultava de uma indústria petroquímica da região, e não da decomposição dos
peixes e plantas mortos na seca anterior. Sabendo-se que a relação 14C/12C é constante

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 185


nos seres vivos e que o tempo de meia-vida do 14C é de 5600 anos, como o IBAMA
chegou a esta conclusão?

R: Após morrer, os seres vivos param de incorporar 14C do meio ambiente e, portanto, a
14
relação C/12C cai exponencialmente. Caso tal matéria orgânica resultasse da
decomposição dos peixes e plantas mortos recentemente nesse rio, esperar-se-ia uma
relação 14C/12C praticamente idêntica à dos seres vivos. O IBAMA deve ter encontrado
um valor baixo para tal relação, sendo justificado pela presença de material orgânico de
milhões de anos, como petróleo (que não sofre a ação dos nêutrons dos raios cósmicos,
responsáveis pela transformação14N em 14C nas camadas altas da atmosfera) e que sofre
decaimento a milhões de anos.

132.A aproximação de uma amostra de radioisótopo de um tecido hígido por tempo


prolongado pode induzir a formação de uma lesão profunda, por meio da interação entre
radiação e matéria.

a) Explique a formação da lesão pelo radioisótopo.

b) Associe esta característica com a possibilidade de utilização de isótopos, como o


Rádio, para destruição de tecidos afetados por tumores cancerígenos.

c) A braquiterapia é uma modalidade de radioterapia utilizada no tratamento de


câncer, como em sarcomas de membros, câncer de próstata, e outros. Defina a
braquiterapia e sua indicação terapêutica.

d) Quais os elementos radioativos mais utilizados na braquiterapia.

e) Identifique as vantagens e desvantagens da braquiterapia.

R: a) Radiações ionizantes causam distorções de moléculas estáveis com liberação de


espécies quimicamente reativas, alterando moléculas importantes como DNA, enzimas
e lipídeos componentes de membrana. Tudo isso pode levar a morte celular, i nduzindo a
formação de uma ferida e processo inflamatório.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 186


b) Células tumorais são mais sensíveis, pois geralmente apresentam falhas nos
mecanismos de reparo do DNA (podendo ser esta a causa do tumor), além de
apresentarem maior atividade mitótica, conferindo-lhes maior susceptibilidade a
radiações ionizantes.

c) A braquiterapia é um tipo de tratamento na qual o material radiativo é colocado


diretamente em contato com o tecido tumoral. Podem ser utilizados tanto implantes

temporários ou permanentes, utilizando altas ou baixas doses de radiação. Ela permite


irradiar volumes muito pequenos com uma alta dose, além de minimizar os efeitos nos
tecidos saudáveis vizinhos, já que à medida que se distancia da fonte radioativa, a dose
de radiação decai rapidamente.

A braquiterapia pode ser utilizada como método adjunto após radioterapia externa,
aumentando-se a dose de radiação no local desejado, ou mesmo como um tratamento
exclusivo; de acordo com a doença.

d) Ela pode ser feita com vários isótopos, tais como Césio, Iodo, Rádio, Paládio, Ouro e
Iridium, sendo umas das principais características avaliadas a radiação emitida e o
tempo de meia-vida do radionuclídeo.

e) A principal vantagem da braquiterapia é a utilização de altas doses de radiação em


um pequeno volume, poupando os tecidos vizinhos e o organismo como um todo.

Sua principal desvantagem é a não uniformidade da dose desde que a radiação é muito
mais intensa perto da fonte, embora usando muitas fontes possa-se uniformizar a dose.

Outra desvantagem se relaciona com a segurança das radiações. O terapeuta deve estar
próximo à fonte enquanto elas estão sendo colocadas no local desejado. O paciente é
uma "fonte radioativa" durante os dias em que as fontes estão no lugar, e as enfermeiras
e outros estarão expostos assim à radiação.

133.A observação da atividade metabólica de grupos celulares ou tecidos pode ser


utilizada no diagnóstico por imagem, através de métodos não-invasivos como o PET
(positron emission tomography) que permite uma avaliação em tempo real e com
grande precisão.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 187


A descoberta de que o análogo da glicose, a fluorodeoxiglicose (FDG, cujo flúor é
radioativo) se acumula em diversos tipos de câncer humano devido à fosforilação
irreversível pela hexoquinase, sem que este produto siga qualquer caminho metabólico,
tem aumentado a utilização do PET como método adjunto no diagnóstico de câncer de
mama, pulmão, linfoma, melanoma e outros diversos.

a) Explique qual processo físico de interação da radiação e matéria permite a

formação da imagem por meio do PET.


b) Quais radionuclídeos poderiam ser usados para realização de exames por meio do
PET? Justifique.

R: a) O PET baseia-se no fenômeno em que o encontro de um elétron (das moléculas


adjacentes àquela marcada) com um pósitron (no caso acima emitido pelo FDG
marcado) leva a formação de 2 fótons com energia característica de 0,51 MeV e de
sentidos opostos, que ao se chocarem em aparatos detectores também em pontos
opostos, permitem a formação de uma imagem tridimensional.

b) Podem ser usados o F18, como no exemplo acima, que emite pósitron e apresenta
meia-vida de 110 minutos, ou mesmo N13 na marcação de amônia (t1/2=9,9 min) ou C11
(t1/2= 20,4 min), ambos emissores de β+ e elementos comumente presente em moléculas
do corpo humano.

Além, é claro, da emissão de pósitrons, é necessário que o radinuclídeo apresente


tempo de meia-vida pequeno, viabilizando a realização do exame sem tornar o paciente
uma fonte emissora de radiação por um longo período de tempo.

134.Pode-se administrar radionuclídeos por via intravenosa ou ingestão a fim de


avaliar-se a função de determinados órgãos e tecidos, assim como para tratamento de
hiperplasias e tumores.

a) Explique qual o principio de tais aplicações.


b) Qual fator deve ser essencialmente diferente entre a avaliação do órgão de um
indivíduo e o tratamento de tumores?

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 188


c) Identifique a problemática envolvida na radioterapia de hiperplasias e tumores
utilizando o método descrito no enunciado da questão, tendo em vista a dose dada ao
paciente e a interação deste com outros indivíduos.
d) Qual medida pode ser tomada para solucionar a problemática levantada no itemc?

R: a) Alguns radionuclídeos acumulam-se em determinados tecidos, o que permite a

detecção da radiação emitida e avaliação de diversos parâmetros correlacionados a seu


metabolismo. Aqueles administrados por via oral não são absorvidos, permanecendo no
interior do tubo digestivo.

b) A diferença essencial em cada método é a dose de radionuclídeo administrada.


Enquanto que para avaliação da função do órgão são utilizadas pequenas doses devido à
sensibilidade dos medidores de radiação, para o tratamento de hiperplasias e tumores
são utilizadas altas doses a fim de destruírem-se os tecidos hiperplásicos ou tumorais.

c) A ingestão de altas doses de radioisótopos torna o paciente uma verdadeira fonte de


radiação, além de não ser possível evitar completamente a radiação do tecido saudável
em torno do tecido neoplásico.

d) O paciente deve ser isolado até a redução da radiação para proteger tanto
profissionais de saúde como outras pessoas que poderiam entrar em contato com esse
paciente. Deve ser feito também o controle da dose.

135.O acidente radiológico de Goiânia foi um grave episódio de contaminação por


radioatividade ocorrido no Brasil. A contaminação teve início em 13 de Setembro de
1987, quando um aparelho utilizado em radioterapias foi furtado das instalações de um
hospital abandonado, em Goiânia. O instrumento roubado foi, posteriormente,
desmontado e o pó azul reluzente em seu interior (Césio134 radioativo) foi manipulado
por várias pessoas, contaminando-as, além de ruas casas, e causando 4 mortes. Quais
seriam os possíveis efeitos agudos e tardios da exposição ao Césio 134?

R: Os efeitos agudos caracterizam a síndrome aguda da radiação, podendo o paciente


apresentar manifestações gastrointestinais como náuseas, vômitos, hemorragia

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 189


digestiva, anorexia, diarréia, etc. Pode haver também febre e apatia, assim como
sudorese aumentada e cefaléia.

Carcinogênese, envelhecimento precoce, cataratas, depressão do sistema imunológico, e


malformações estão entre os principais efeitos tardios da radiação.

136.
No ano de 2008, o Ministério da Sáude distribuiu 3900 Testes de
Imonofluorescência para o HIV-1, utilizado no diagnóstico confirmatório de HIV em
indivíduos positivos no teste de ELISA (usado para triagem) para antígenos virais.

a) Qual o princípio da imunofluorescência?

b) Qual energia, ou transferência de energia é explorada em tal método?

c) Quais as vantagens desse método?

R: a) São utilizados fluorocromos como isocianato de fluorosceina e rodamina, dentre


inúmeros outros, que absorvem um determinado comprimento de onda e emitem outro
geralmente maior (ex: isocianato de fluorosceina que se excita com um comprimento de

onda de 450 nm[luz azul] e emite um comprimento de 514 nm), estando estes ligados a
um anticorpo anti-Ab virais ou anti-anticorpos contra antígenos virais. No caso do
diagnóstico de HIV, são utilizadas luz azul e violeta.

b) A excitação de elétrons por absorção de comprimentos de ondas específicos, de


modo que, ao retornar a sua camada de origem, há emissão de um comprimento de onda
característico daquele fluorocromo.

c) Alta especificidade dos anticorpos e alta sensibilidade dos fluorocromos.

137. O filtro solar é uma loção, spray ou produto tópico que ajuda a proteger a pele da
radiação ultravioleta do sol, o que reduz as queimaduras solares e outros danos à pele,
ultimamente ligado a um menor risco de câncer de pele.

a) Explique como a radiação UV pode gerar danos celulares.

b) Quais os princípios de proteção pelo filtro solar.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 190


c) A vitamina D é produzida endogenamente por nosso organismo, sendo importante na
absorção de cálcio pelo epitélio intestinal. Todavia, a primeira etapa de sua produção
requer exposição a raios UV. Explicite o mecanismo bioquímico pelo qual isso ocorre.

R: a) Os átomos e moléculas que absorvem a radiação ultravioleta se tornam


energizados e em estado de excitação. Essas substâncias participam com mais facilidade
de reações bioquímicas, havendo um aumento no ritmo geral das reações de um sistema

biológico. Pode também haver aparecimento de novos caminhos metabólicos


prejudiciais ao sistema.

b) Muitos protetores solares contêm tanto compostos orgânicos que absorvem a luz
ultravioleta (como o oxibenzeno) ou um material opaco que reflete a luz (como o
dióxido de titânio, o óxido de zinco), ou uma combinação de ambos.

c) A Pró-Vitamina D ou 7-dehidrocolesterol é produzida tanto pela derme quanto pela


epiderme. A luz ultravioleta entre 290 nm e 315 nm (UVB) conjuga duplas pontes de
hidrogênio nos carbonos C5 e C7, produzindo pré-Vitamina D.

138. A energia ultrassônica está entre as mais utilizadas pelo fisioterapeuta, para auxiliar
o tratamento das diversas disfunções dos tecidos moles, incluindo contraturas
articulares, tendinites, bursites, espasmos musculoesquelético e dor. Qual é o
mecanismo de ação do ultrassom terapêutico?

R: Existem dois mecanismos: térmicos e não térmicos. Os efeitos térmicos ocorrem


devido à conversão de energia cinética em energia térmica nos tecidos. A elevação da
temperatura tecidual pode trazer benefícios através de uma vasodilatação local, aumento
da atividade metabólica, aumento da extensibilidade do colágeno em estruturas tais
como tendões e articulações, alivio de dor e diminuição de espasmos musculares. Já os
efeitos não térmicos podem ser gerados pela modificação da posição de partículas
intracelulares e extracelulares ou mesmo a configuração normal da célula (microfluxo),
afetando a atividade celular. Esse microfluxo tem seu valor, uma vez que sua ação
facilita a difusão através da membrana. Dependendo do tipo de célula, a alteração iônica
produzida pode desenvolver modificações na motilidade, síntese ou secreção celular,
que podem acelerar o processo de reparo.

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 191


139. A termoterapia baseia-se na modificação da temperatura dos tecidos biológicos com
fins terapêuticos. Sua prática remonta ao tempo de Hipócrates, que já falava dos efeitos
benéficos do calor radiante.

a) Quais são as reações fisiológicas ao calor nos tecidos e sistemas que justificam sua
utilização na terapêutica?

b) Em q uais casos a termoterapia é indicada?

c) Quais são os efeitos maléficos do calor excessivo?

R: a) A estimulação por calor no tecido promove a liberação de acetilcolina, o que


favorece a vasodilatação e eliminação de produtos indesejáveis do metabolismo e
migração de macrófagos.

Ainda, por meio de uma ação sistêmica, o calor aumenta o fluxo de sangue circulante,
levando a um maior metabolismo celular e consumo de oxigênio e facilitando as trocas
hidroelétricas.

Há também ação calmante sobre o SNC.

b) Doenças inflamatórias das articulações e tendões, estiramentos e contusões


musculares, além de processos inflamatórios da pele e de outros. Também promovem
relaxamento muscular, efeito sedativo sobre o SNC e aumentam transporte e eliminação
de catabólitos pelo aumento do fluxo sanguíneo superficial.

c) Queimaduras (destruição celular) e insolação, cãibras musculares, tetania, náuseas e


vômitos (todos resultantes da perda excessiva de água e eletrólitos), além de anoxia e
trombose (resultante do aumento da viscosidade do sangue).

Exercícios Aplicados de Biofísica– Audrey Heloisa Ivanenko Salgado e Colaboradores 192

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