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Estudos e Cenários

| out. 2008 |
Observatório Político Sul-Americano
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Núcleo de Estudos sobre o Congresso


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Estudos e Cenários: Equador - Integração Econômica e Inserção Regional no


Governo de Rafael Correa1
Estudos e Cenários (out.2008)

Daniela Campello
(Ph.D, UCLA)

Introdução

O Equador situa-se entre os países mais pobres e menos desenvolvidos da América


Latina, à frente apenas da Colômbia, Bolívia e do Paraguai. Sua atividade econômica
concentra-se na produção agrícola (bananas, café, cacau, entre outros) e petroleira,
esta responsável por 55% das exportações, 20% do PIB e 30% das receitas do governo
central equatoriano. O setor petroleiro é também o maior destino do investimento direto
estrangeiro no país, recebendo em torno de 80% do capital investido. Empresas como
Repsol, Petrobrás, Perenco e Andes Petroleum respondem por aproximadamente 50%
da produção de petróleo do Equador, e o restante fica a cargo da estatal Petroecuador.

Do ponto de vista político, o Equador distingue-se por sua extrema instabilidade, evi-
denciada pelo fato de que, desde 1992, nenhum presidente eleito no país conseguiu
cumprir seu mandato até o final. O sistema partidário equatoriano encontra-se entre
os menos institucionalizados da América Latina; é volátil e fragmentado, um sistema
onde regras mudam constantemente e a capacidade de representação de interesses é
consideravelmente baixa, mesmo em comparação aos já baixos padrões regionais.

Desde o início do mandato do atual presidente Rafael Correa, em janeiro de 2007, o


Equador vem passando por mudanças políticas e econômicas relevantes, entre elas o
estabelecimento de uma nova constituição, aprovada por referendo popular com ampla
maioria em setembro de 2008. Pelo novo texto constitucional, o Equador se move no
1 A autora agradece as entrevistas concedidas por Osvaldo Hurtado (ex-presidente do Equador, e atual

presidente do CORDES), Cesar Robalino (ex-ministro das Finanças, atual presidente da Asobancos), Blasco
Peñaherrera Padilla (ex-vice-presidente do Equador), Eduardo Checa (vice-presidente da Analytica Securities),
Lenin Parreño (economista da CAF), e pelos dados cedidos por Jaime Durán Barba (presidente da Informe
Confidencial) e Sebastián Borja (presidente da Cámara de Industriais de Pichincha).
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sentido de uma maior participação do Estado na economia, não apenas intensificando a


regulação do investimento privado, como também estabelecendo um Estado empresário,
principalmente no que se refere aos setores petroleiro e minerador. A nova constituição
busca, outrossim, fortalecer o papel do poder Executivo no país, uma demanda reconhe-
cida da população equatoriana, mas cujo conteúdo democrático vem sendo duramente
questionado.

Todas essas mudanças identificam o Equador, atualmente, com o que se convencionou


chamar de "nova esquerda"latino-americana, juntamente com a Venezuela e a Bolívia,
países cujos governos têm demonstrado uma forte afinidade na priorização de políticas
públicas redistributivas, na revisão do papel do Estado como condutor do desenvolvi-
mento econômico, no distanciamento dos Estados Unidos e na busca do fortalecimento
de uma identidade latino-americana, aliada a uma estratégia de integração regional
voltada ao aumento do poder de barganha da América Latina com outras regiões do
mundo.

Entre as questões externas de maior relevância para o Equador, na atualidade, encontram-


se (1) as relações políticas com os Estados Unidos e com os vizinhos Venezuela e Colôm-
bia, (2) a integração econômica regional — principalmente no que tange ao tratado de
livre comércio com os Estados Unidos, o maior parceiro comercial, e (3) a perspectiva
do atual governo frente ao capital estrangeiro investido no país. Por esta razão, estes
constituem os eixos estruturadores do presente trabalho.

1 Antecedentes

O Equador é 4o país mais pobre da América Latina, à frente apenas da Colômbia, Bolívia
e do Paraguai. Seu produto interno bruto foi estimado em US$ 42,3 bi, em 2007, e seu
crescimento econômico per capita nas últimas duas décadas — 3,2% a.a. — coincide
com o crescimento médio da região.2 O Equador encontra-se também entre os países
latino-americanos de menor desenvolvimento humano, apresentando um IDH de 0,74
(Gráfico 3), sendo que aproximadamente 40% de sua população vivem em situação de
pobreza. Politicamente, o país é considerado um dos mais instáveis da América Latina,
tendo sido palco de inúmeros golpes de Estado desde sua re-democratização.

Estima-se que um quarto da população do Equador seja indígena, embora somente


2 Fonte: World Development Indicators Online, PIB em dólares correntes.

2
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7
América Latina
Equador

6
5
4
%
3
2
1
0

1960 1970 1980 1990 2000−2007

Figura 1: Crescimento Médio do Produto Interno Bruto


Fonte: World Development Indicators.

em torno de 7% dos equatorianos se tenham identificado desta forma no último censo


realizado no país (CEPAL 2005). A maior parte da população indígena concentra-se nos
Andes (72%), principalmente nas províncias de Chimborazo, Cotopaxi e Pichincha, onde
se localiza Quito, a capital do país.

Os movimentos indígenas organizados do Equador têm uma atuação política relevante


e são representados pela Confederação Nacional dos Povos Indígenas, a CONAIE. No
Congresso, a população indígena é representada pelo movimento Pachakutik, um partido
político que, embora mantendo vínculos, atua independentemente da CONAIE.

Foram movimentos indígenas organizados que, associados a grupos de esquerda e lide-


rados pelo então coronel Lucio Gutierrez, organizaram o golpe de 2000 que destituiu o
presidente Jamil Mahuad do poder. Posteriormente, em 2002, os indígenas estiveram
entre os principais apoiadores da vitoriosa candidatura de Gutierrez à presidência do
país. O auge do poder político do movimento indígena ocorreu no início do mandato
de Gutierrez, com a indicação de líderes indígenas para ministérios-chave no governo.
Exemplos são Nina Pacari e Luis Macas, líderes Pachakutik designados para os ministé-
rios de Relações Exteriores e Agricultura, respectivamente.

A mudança de direcionamento da gestão de Gutierrez, no entanto, levou ao enfraqueci-


mento da influência do movimento Pachakutik e, por fim, a sua saída do governo. Este
processo desembocou em uma crise de representação dos grupos indígenas organizados
no país, e que ainda persiste no atual governo.3
3 Fonte: Entrevista realizada pesquisador da FLACSO, em maio de 2008.

3
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Atualmente, os movimentos indígenas organizados no Equador mantêm uma atuação


importante em temas ligados à preservação ambiental, e com isso se vêem permanen-
temente envolvidos em questões relativas à regulação de setores extrativos tais como
o petróleo e a mineração, e por decorrência com as multinacionais que exploram estes
recursos no país. Como exemplo, tais movimentos obtiveram recentemente uma vitória
parcial em um processo, estimado em US$ 40 milhões, movido contra a Chevron por
danos ambientais. Além disso, os movimentos indígenas equatorianos vêm obtendo
sucesso, também, em sua sistemática oposição à assinatura de um tratado de livre co-
mércio com os Estados Unidos, considerado por eles desvantajoso para o país e uma
ameaça a seus recursos naturais.

Pouco menos da metade da população total do Equador vive na região Andina, cuja maior
província é Pichincha, enquanto metade vive na costa, a maioria destes na província de
Guayas. Somente 6% da população equatoriana vivem na Amazônia e nas cercanias
de Galápagos. Historicamente, observa-se no Equador uma diferenciação tanto econô-
mica quanto em termos de comportamento político entre as regiões costeira e serrana,
com os primeiros tradicionalmente envolvidos em atividades comerciais e de reconhe-
cido espírito empresarial e liberal, e os últimos voltados para a produção de produtos
primários e em geral mais favoráveis à presença do Estado na economia. A região de
Guayas predominou econômicamente no Equador até a metade dos anos 70. A acelera-
ção da produção petroleira, contudo, desde o início controlada pelo Estado, levou a um
fortalecimento do governo central e, por conseguinte, da região de Pichincha, onde se
encontra a burocracia estatal.4

Tabela 1: Votação Regional dos Partidos (Deputados Provinciais 1979-2002)

Partido Costa Serra Outras Total


Partido Social Cristiano 66,7 31,8 1,6 100,0
Izquierda Democratica 30,2 65,5 4,3 100,0
Partido Roldosista Equatoriano 75,3 23,4 1,4 100,0
Democracia Popular 28,3 66,4 5,3 100,0

Fonte: Tribunal Supremo Electoral del Ecuador, elaborado em Pachano (2007).

A clivagem entre costa e serra equatorianas manifesta-se claramente no comporta-


mento dos eleitores equatorianos, e produz uma notável regionalização partidária no
país, como pode ser observado na Tabela 1. Nesta, nota-se que, dos quatro partidos
mais estáveis da história recente do Equador, dois tem sua base eleitoral fundamental-
4 Fonte: Entrevista com ex-ministro das finanças do Equador, maio de 2008.

4
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mente consolidada na costa (Partido Social Cristiano e Partido Roldosista Ecuatoriano,


ambos identificados com a direita no espectro ideológico equatoriano) enquanto os ou-
tros dois tem seus eleitores concentrados na serra (Izquierda Democratica e Democracia
Popular, mais à esquerda). Este mesmo comportamento revela-se nas eleições presi-
denciais mais recentes, onde o candidato de esquerda Rafael Correa obteve 72% dos
votos de Pichincha, contra apenas 42% de Guayas, ou no fato de que sua popularidade
encontra-se em torno de 84% em Quito e 50% em Guayaquil.

Guayas
25 Pichincha

20

15

10

0
Esquerda Centro−Esq. Centro Centro−Dir. Direita

(a) Ideologia

30 Guayas Guayas
Pichincha 25 Pichincha
25
20

20
15
15

10
10

5
5

0 0
Estado 2 3 4 Empresa Indivíduo 2 3 4 Governo

(b) Estado-Empresa (c) Indivíduo-Governo

Figura 2: Clivagem Andes e Costa - Comparação entre Províncias de Pichincha e Guayas


Fontes:Latinobarômetro 2006.

É interessante notar que a clivagem entre costa e serra evidencia-se, também, em


pesquisas de opinião realizadas no Equador. O Gráfico 2(a) mostra a auto-classificação
ideológica da populações de Guayas e Pichincha, revelada pelo Latinobarômetro 2006,
e confirma a afinidade dos primeiros com a direita, e dos últimos com a esquerda do
espectro ideológico.

Os Gráficos 2(c) e 2(b), por sua vez, indicam o percentual dos equatorianos que apóiam

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as seguintes afirmações, respectivamente: "o Estado/a empresa privada é o/a principal


responsável pela geração de riqueza no país", e "cada indivíduo/o governo é o principal
responsável por assegurar o bem-estar individual". Enquanto o primeiro delineia uma
tênue preferência "público/privado"entre Pichincha e Guayas, o segundo apresenta re-
sultados mais difusos, mostrando Pichincha com uma preferência pelo indivíduo como
promotor de bem-estar, enquanto Guayas privilegiaria o Estado exercendo este papel.

Estes dados sugerem que, ainda que a clivagem Costa-Andes seja clara, no Equador,
ela não se aproxima, em termos de sua relevância para a compreensão da realidade
equatoriana, do que se passa atualmente em outros países sul-americanos, tais como
a Bolívia.

Antecedentes Políticos e Econômicos Assim como ocorrido com outros países latino-
americanos, a economia equatoriana limitou-se à exportação de bens primários até a
crise mundial dos anos 30,5 quando o colapso do mercado de cacau gerou um nível de
instabilidade tal que nenhum dos 21 governos estabelecidos entre 1931 e 1948 conse-
guiu completar um mandato. Com o fim da crise, a consolidação das exportações de
banana ocorreu em paralelo a doze anos de estabilidade política, que duraram até a
primeira metade da década de 1960.6 Neste período, o Equador consolidou um sistema
de produção que pode ser entendido como capitalista, incluindo o pagamento de salários
a camponeses que trabalhavam na lavoura, fato inédito até então.

Na década de 1950, o Equador iniciou um processo de industrialização via substituição


de importações tipicamente Cepalino,7 difundido em toda a América Latina com maior ou
menor sucesso neste período. Através desse modelo, buscava-se eliminar a importação
de bens de consumo e intermediários, sem abandonar o modelo agro-exportador de
produtos primários que caracterizou o país desde a independência, porém visando o
desenvolvimento econômico por meio da expansão da demanda interna (Uquillas 2007).

A exaustão do modelo de substituição de importações, aliada a um cenário internacio-


nal crescentemente desfavorável, no entanto, desacelerou o crescimento econômico e
acentuou a polarização política no Equador ao final da década. Este processo culmi-
nou com um golpe contra Jose Maria Velasco em 1961, seguido pela tomada de po-
der pelos militares em 1963. A re-democratização do Equador só veio a se consolidar
5 Período"cacaotero", ocorrido entre 1860 e 1920.
6 Auge"bananero", entre 1948 e 1965.
7 A CEPAL, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, teve atuação central na promoção do

modelo de substituição de importações na América Latina.

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em 1979, período de crise após anos de prosperidade impulsionada pela intensificação


da exploração petroleira, e que sustentara o processo de industrialização do país.8 O
centro-esquerdista Jaime Roldós foi o primeiro presidente equatoriano sob o novo regime
democrático. Morto em um acidente aéreo, Roldós foi sucedido por seu vice, Osvaldo
Hurtado, em maio de 1981.

A partir do início dos anos 80, o Equador passou a sentir fortemente os efeitos da alta
dos juros internacionais e da conseqüente desaceleração econômica dos países desen-
volvidos. Como resultado desse processo, os preços de produtos básicos apresentaram
forte queda, e a oferta de crédito internacional praticamente cessou. Além disso, o
Equador sofreu também seqüelas de um enfrentamento militar com o Peru, em 1981, e
os efeitos de devastadoras inundações provocadas pelo El Niño durante dez meses entre
1982 e 1983.

Em resposta à grave crise que se estabeleceu, o governo de Osvaldo Hurtado impôs um


programa de austeridade ao país, que buscou desregulamentar a economia e reduzir
o tamanho do Estado através de medidas tais como a elevação dos preços de com-
bustíveis, desvalorização da moeda, flexibilização do câmbio, eliminação de subsídios,
redução do gasto público, elevação de taxas de juros e de tarifas de serviços públicos.
O programa enfrentou forte contestação por parte da população e falhou em seu obje-
tivo de reativar a economia equatoriana, logrando, contudo, reduzir o desequilíbrio da
balança de pagamentos e da inflação, que caiu de 53% em 1983 para 20% em menos
de um ano.

Os governos seguintes, do conservador León Febres Cordero (1984-1988), até Lucio Gu-
tierrez (2003-2005), todos perseguiram, em maior ou menor grau, o aprofundamento
do modelo econômico de cunho neoliberal iniciado durante o governo de Hurtado. Entre
eles, destacam-se as gestões de Febres Cordero, e Gustavo Noboa que, assim como
Osvaldo Hurtado, cumpriram rigorosamente todas as condicionalidades impostas por
organismos multilaterais (Hurtado 2006). Duas décadas de estagnação econômica9 e
a persistência de altos níveis de desigualdade de renda, no entanto, angariaram pouco
apoio popular ao modelo neoliberal no Equador. Em 1998, a queda dos preços de pe-
tróleo, associada ao fenômeno do El Niño, levou a uma ampla crise no setor agrícola do
país, e que desembocou em um colapso sem precedentes do sistema bancário. Além de
cessar unilateralmente o pagamento de sua dívida externa, o governo de Jamil Mahuad
8 Este processo pouco avançou até a atualidade, já que apenas 15% do PIB do Equador provêm de atividades

industriais (Fonte: INEC).


9 De acordo com dados do Banco Mundial, a renda per capita do Equador variou em média -0,47 e 0,02%,

nas décadas de 1980 e 1990, respectivamente.

7
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tomou a decisão extrema de dolarizar a economia equatoriana após o colapso de 1999.

A crise econômica de 1999 fomentou um fluxo migratório sem precedentes no Equador,


tanto para nações vizinhas como, e principalmente, para a Espanha, onde se estima que
vivam, hoje, 500.000 equatorianos.10 Como conseqüência deste processo, as receitas
originadas de remessas do exterior multiplicaram-se desde o período. Hoje, essas re-
ceitas constituem a segunda fonte de divisas do país, atrás apenas das exportações de
petróleo, o que vem colocando o tema da migração em posição de destaque na agenda
externa do Equador.11

Os efeitos traumáticos da crise de 1999 culminaram com um golpe de Estado no ano se-
guinte, quando o coronel Lucio Gutierrez liderou um movimento destinado a sacar o pre-
sidente Jamil Mahuad do poder, com o apoio de organizações trabalhadoras e indígenas.
Dois anos após o fracasso do golpe, e já livre da prisão, em 2002 o coronel Gutierrez foi
eleito com um discurso de contundente crítica aos sistemas político e econômico equa-
torianos. Dentre suas promessas de campanha, incluíram-se a renegociação conjunta
da dívida externa de países latino-americanos, a desativação da ocupação americana da
base aérea de Manta, e prioridade à inclusão social e redistribuição de renda.

Uma vez empossado, contudo, Gutierrez governou de maneira oposta àquilo que havia
prometido, aprofundando não apenas o modelo econômico previamente criticado, mas
operando politicamente de uma forma nada distinta à adotada por seus antecessores. Da
perda de credibilidade decorrente deste processo, aliada à dificuldade de obter maiorias
no congresso e à adoção de medidas autoritárias, decorreu um golpe, no final de 2004,
em que Gutierrez foi substituído por Alfredo Palacio, seu vice-presidente.

Nas eleições presidenciais seguintes, em 2006, o Equador elegeu Rafael Correa, candi-
dato cujos discurso e apoio político são notoriamente comparáveis aos de Gutierrez. Em
uma decisão sem precedentes no país, o partido criado por Correa para disputar a elei-
ção presidencial (Alianza País) não apresentou nenhum candidato ao pleito legislativo,
enquanto uma de suas principais promessas da campanha consistiu na imediata convo-
cação de uma Assembléia Constituinte. Já eleito, e apoiado em preços historicamente
altos do petróleo, Correa vem cumprindo em grande parte suas promessas eleitorais,
não apenas mudando a configuração de poder no país, mas também os principais fun-
10 Fonte: Economist Intelligence Unit.
11 Em 2005, US$ 1,1bi de dólares foram enviados ao país por equatorianos residentes no exterior. Em 2008,
no entanto, o fluxo de remessas vem-se reduzindo, com quedas observadas nos dois primeiros trimestres
do ano (7.7% e 6.3% em relação ao ano anterior, respectivamente). Segundo o governo equatoriano, essa
redução se deve à desaceleração das economias americana e espanhola, que respondem por aproximadamente
87% das receitas totais. Dadas as expectativas de desaceleração de ambas as economias, não há expectativas
de que o volume de remessas se recupere no curto prazo. Fonte: Dow Jones Newswires, 25/09/08.

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damentos de seu modelo de desenvolvimento econômico.

É importante notar que, a partir da década de 1990, a instabilidade política que histo-
ricamente caracteriza o Equador voltou a revelar-se. Desde o governo de Sixto Durán
Ballén (1992-96), nenhum presidente eleito completou mandato no país.

O sistema político equatoriano destaca-se na América Latina por sua baixa identificação
ideológica de partidos e eleitorado, bem como pela indisciplina partidária que o caracte-
riza. O sistema partidário equatoriano é altamente fragmentado, e apresenta uma das
mais altas volatilidades eleitorais da região. Partidos freqüentemente se formam em
torno de uma candidatura presidencial, configurando uma prática política fortemente
personalista. Candidatos tendem a obter percentuais baixos de votos no primeiro turno
das eleições presidenciais e, após um segundo turno, em geral polarizado, encontram
imensa dificuldade de compor maiorias no Congresso.12 Este, por sua vez, detém bas-
tante poder no sistema político equatoriano, com o maior partido elegendo um líder que
ao qual se atribui significativo poder de agenda, podendo convocar sessões especiais no
Congresso e agir como intermediário entre as instâncias executiva e legislativa.

O Equador é, também, notável por seus altos níveis de mobilização popular, não apenas
no que se refere à destituição de presidentes, mas também orientada a questões de
comércio internacional (estabelecimento de tratado de livre comércio com os Estados
Unidos) e à exploração dos recursos naturais do país (pressões para suspensão da ope-
ração da petroleira Occidental), citando somente os temas mais recentes. Protestos, no
Equador, tomam geralmente a forma de ocupação de instalações públicas e privadas,
além de bloqueios de estradas que freqüentemente forçam o governo a decretar estados
de emergência.

Desde a primeira, em 1830, o Equador teve 20 diferentes constituições. O país também


presenciou inúmeras reformas constitucionais, a última tendo ocorrido em 1998, com o
objetivo de fortalecer o poder Executivo do país. Recentemente, a vigésima constituição
equatoriana foi concluída, e aprovada com larga maioria — 65% dos votos favoráveis —
por referendo popular, em setembro de 2008.

12 Ver Pachano (2004) e Pachano (2007) para uma análise detalhada do sistema político equatoriano, e

Penaherrera Solah (2002) para dados eleitorais desagregados.

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Chile Bolívia

México Colômbia

Argentina Peru

Venezuela Equador

Uruguai Paraguai

Brasil Uruguai

Peru Chile

Equador Argentina

Colômbia México

Paraguai Venezuela

Bolívia Brasil

0 2 4 6 8 10 12 0 10 20 30 40 50 60
US$ mil US$ per capita

(a) PIB per capita (b) Ajuda Bilateral

Brasil Chile

Argentina
Colômbia

Uruguai
Paraguai
México

Chile
Brasil

Argentina Venezuela

Colômbia
México

Peru
Peru
Equador

Equador
Paraguai

Venezuela Bolívia

0.40 0.45 0.50 0.55 0.60 0.60 0.65 0.70 0.75 0.80 0.85 0.90
Gini IDH

(c) Desigualdade (d) Desenvolvimento Humano

Figura 3: Indicadores Econômicos Comparados - América Latina


Fontes:World Development Indicators, Worldbank e Human Development Indicators, UNDP.

2 Cenário Atual

Professor de economia na Universidade de San Francisco, em Quito, e com um douto-


rado em economia pela universidade americana de Urbana-Champaign,13 Rafael Correa
13 Já em sua tese de doutorado, Rafael Correa escrevera sobre os problemas teóricos e as conseqüência

empíricas das políticas promovidas pelo chamado "Consenso de Washington- Ver Correa (2001).

10
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tornou-se popular no Equador durante o curto período em que foi Ministro de Finanças
do governo de Alfredo Palacio. Nos meses em que liderou o ministério, Correa rever-
teu parte dos fundos petroleiros que Lucio Gutierrez havia vinculado ao pagamento de
dívidas para despesas governamentais, confrontou o Banco Mundial, e mostrou-se um
crítico feroz do Fundo Monetário Internacional e do gerenciamento da dívida pública em
vigor até então no país. Essas iniciativas conquistaram o apoio de trabalhadores e orga-
nizações indígenas, e motivaram uma sucessão de protestos após a renúncia de Correa,
apenas três meses após sua indicação. Segundo o Latin American Weekly Report, na
época de sua saída do Ministério da Economia a popularidade de Rafael Correa era no-
tavelmente superior à do presidente Palacio (57,4% contra 38,1%, respectivamente).14

Um ano mais tarde, Correa apresentou-se na disputa presidencial como um candidato


anti-neoliberal e anti-sistema, e com uma retórica semelhante à de Gutierrez em 2002.
Durante a campanha, Correa foi aos Estados Unidos para encontrar-se com investidores
internacionais, avisando-lhes que consideraria uma suspensão unilateral do pagamento
da dívida externa do país, nos moldes argentinos, caso viesse a ser eleito.15

Adicionalmente, Correa referiu-se à dolarização da economia equatoriana como "o maior


erro jamais cometido na gestão econômica do país",16 e revelou suas intenção de, se
eleito, suspender as negociações de um tratado de livre comércio com os Estados Uni-
dos. Durante a campanha, o candidato não fez qualquer esforço para minimizar sua
proximidade do presidente venezuelano Hugo Chávez e, assim como ele, anunciou que
convocaria uma Assembléia Constituinte e que "se livraria"do Congresso, rejeitado na-
quele momento por 95% dos equatorianos.

Desde eleito, Rafael Correa vem mudando as relações entre governo e capital privado no
Equador, no sentido do fortalecimento do primeiro como condutor da economia nacional.
O presidente também vem liderando com sucesso o processo de mudança constitucional,
através do qual pretende consolidar tais mudanças.

Mesmo enfrentando taxas de crescimento econômico mais baixas do que as atingidas


nos últimos anos (1,5% previsto para 2007, comparado com 3,9% em 2006 e 6,0%
em 2005), e uma aceleração da inflação, pouco mais de um ano após o início do seu
mandato Rafael Correa detinha a aprovação de 80% dos eleitores da capital, fato inédito
na história recente do país — neste mesmo período, por exemplo, Lucio Gutierrez era
aprovado por menos de 50% dos quiteños.
14 Fonte: Latin American Weekly Report, 26/09/06.
15 Fonte: Latinnews, 09/14/06.
16 Fonte: World Markets Analysis, 04/22/05.

11
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100
Correa

90
80
Aprovação (%)
70
60
50
Gutierrez
40
30

5 10 15 20 25

Tempo

Figura 4: Popularidade Presidencial: Correa e Gutierrez

Fonte: Informe Confidencial - percentual da população que considera "muito bom"e "bom"o desempenho do
presidente, no período que vai do primeiro ao décimo sexto mês do mandato. O eixo "tempo"vai até 25 porque
há meses onde foi feita mais de uma observação.

2.1 A Nova Constituição

O processo de elaboração de uma nova constituição iniciou-se no princípio do mandato


de Rafael Correa quando, em janeiro de 2007, o presidente demandou do Congresso a
aprovação de um referendo para convocação de uma Assembléia Constituinte. A recusa
inicial do Congresso transformou-se em confrontamento quando 57 deputados tentaram
atrasar o processo de estabelecimento da constituinte através da retirada de um juiz
da Corte Eleitoral. A Corte, por sua vez, considerou a iniciativa ilegal e "demitiu"os
congressistas de seus cargos, substituindo-os por suplentes.

Posteriormente, o referendo foi convocado, e a assembléia aprovada por 81,7% dos elei-
tores em abril de 2007. Em setembro deste mesmo ano, os equatorianos elegeram um
corpo de assembleístas formado, em sua maioria, por membros do Movimiento Alianza
País (partidários do presidente).

A Tabela 2 mostra o percentual de votos e número de cadeiras obtidos pelos principais


partidos equatorianos nas eleições legislativas de 2006 e na Assembléia Constituinte, e
ressalta a perda de poder de outras forças políticas em relação ao partido do presidente
Correa na constituinte.17
17 Principais partidos equatorianos: MPAIS, Movimiento País; PSP, Partido Sociedad Patriotica; PRIAN, Partido

Renovador Institucional de Acción Nacional; PRE, Partido Roldosista Ecuatoriano; PSC, Partido Social Cristiano;
ID, Izquierda Democratica; MPD, Movimiento Democracia Popular; MUPP, Movimiento Unidad Plurinacional
Pachakutik.

12
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Tabela 2: Comparação: Eleições Legislativas 2006 e Assembléia Constituinte

Congresso 2006 Ass. Constituinte


% votos # cadeiras % votos # cadeiras var.
MPAIS - - 69,5 73 +73
PSP 18,6 23 7,3 18 -5
PRIAN 27,8 28 6,6 8 -20
PRE 7,7 6 0,8 1 -5
PSC 15,3 13 3,9 5 -8
ID 10,6 13 0,5 1 -12
MDP 4,0 3 1,7 3 0
MUPP 3,8 6 0,7 3 -3

Fonte: Adam Carr Elections Archive. Total de 100 cadeiras no Congresso e 130 cadeiras na Constituinte.

A vigésima constituição equatoriana foi votada e aprovada por referendo popular, por
larga e inesperada maioria, em setembro de 2008. Houve consenso entre analistas de
que a aprovação de 65% dos eleitores à nova carta constitucional evidencia o amplo
apoio dos cidadãos equatorianos ao projeto liderado por Rafael Correa. Note-se, no
entanto, que os 25% de votos de reprovação encontraram-se altamente concentrados
em Guayaquil, fortalecendo o prefeito Jaime Nebot, principal opositor político de Correa.
Segundo o plano de transição estabelecido, a Assembléia Constituinte fará as vezes do
Congresso por 120 dias, até que uma nova legislatura seja eleita.

A tônica da nova constituição gira em torno da substituição do que se usou chamar


de modelo de mercado, identificado com as políticas neoliberais adotadas nas últimas
décadas no Equador, por um modelo de "economia solidária".

Este modelo pressupõe uma profunda revisão dos papéis do Estado e do setor privado
como motores do desenvolvimento econômico do país, principalmente no que se refere
a setores considerados estratégicos da economia — petróleo, telecomunicações, eletri-
cidade, estradas, água e minerais. Segundo a nova constituição, estes setores devem
permanecer sob controle do governo, mesmo que não necessariamente sob sua admi-
nistração direta. Esta diretriz vem orientando a renegociação de contratos de exploração
de poços de petróleo e minas, além de concessões de telecomunicação, atualmente em
curso no país.

A nova constituição estabelece, adicionalmente, "direitos condicionais de propriedade",


fundamentados na noção de que direitos de propriedade devem ser compatíveis com
o bem comum e a preservação do meio ambiente, e prevê ações de expropriação em
casos de incompatibilidade entre tais direitos. Além disso, retira do Banco Central e

13
Estudos e Cenários | out. 2008

delega ao governo a condução do que resta de política monetária no Equador após a


dolarização de sua economia; estabelece bancos como "serviço de interesse público";
aumenta os custos de endividamento externo no país; cria um mandato para a universa-
lização de serviços sociais tais como segurança, saúde, educação gratuita (inclusive em
nível universitário) e previdência; estabelece aumentos progressivos do salário mínimo
até que este se torne compatível com o valor da cesta básica; e proíbe atividades de
terceirização, forçando a regulamentação do trabalho no país.

Do ponto de vista das relações externas do Equador, a nova constituição proíbe a pre-
sença de bases militares estrangeiras em território nacional, assim como a arbitragem
internacional em futuras disputas contratuais com empresas multinacionais. Ela declara
os recursos naturais do Equador como propriedade do Estado, prevendo a participação
privada (em sua maioria, estrangeira) na exploração desde que "os benefícios de apro-
veitamento do Estado não sejam inferiores aos da empresa exploradora".18 Por fim, a
nova constituição condiciona o pagamento da dívida externa à capacidade do governo
de investir em políticas sociais.

Todas essas medidas estão em linha com uma mudança na configuração de poder envol-
vendo a situação de trabalhadores, da população mais pobre do país e do empresariado
equatoriano. Por esta razão, a nova constituição vem recebendo duras críticas de enti-
dades empresariais do país, tais como a Associação de Bancos Privados do Equador, a
Câmara de Industriais de Pichincha, a Fedecâmaras de Comércio do Equador, e o Comitê
Empresarial do Equador, entre outras, apesar de contar com amplo apoio popular.

3 A Política Externa Equatoriana

A agenda externa do governo de Rafael Correa vem sendo marcada por iniciativas desa-
fiadoras com respeito aos Estados Unidos, seu principal parceiro comercial, diferenciando-
se daquela de seus antecessores tanto em termos de suas relações com empresas ame-
ricanas que investem no país, como do papel que deve ser exercido pelo Equador nas
operações americanas de combate ao narcotráfico na região. Além disso, o governo Cor-
rea suspendeu negociações para a assinatura de um tratado de livre comércio (TLC) com
os Estados Unidos, embora venha se esforçando por manter os termos comerciais fa-
voráveis assegurados pelo "Andean Trade Promotion and Drug Eradication Act"(ATPDEA)
com o país.
18 Fonte: O Globo, 29/09/2008.

14
Estudos e Cenários | out. 2008

A prioridade da agenda externa de Correa tem sido dada ao fortalecimento da integração


entre países latino-americanos, com novos projetos comuns na área de infra-estrutura e
energia com países como o Chile, Venezuela e Brasil. Essa priorização reflete-se, igual-
mente, nas relações com o investimento externo no Equador, onde empresas públicas
latino-americanas vêm, em geral, recebendo um tratamento mais conciliador por parte
do governo.19

A resolução de um conflito histórico com o Peru no final da década de 1990 abriu espaço,
na agenda externa do país, para a exploração de novos temas ligados à integração
regional. Por outro lado, esta agenda vem sendo recentemente dominada por questões
de fronteira com a Colômbia, principalmente depois da destruição de um acampamento
das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARCs) no Equador, e que deu início
a uma das mais sérias crises políticas na história dos dois países.

Um novo período na agenda externa equatoriana Desde o início de sua vida repu-
blicana, o Equador manteve uma disputa territorial com o Peru a respeito de demarcação
de oitenta quilômetros de fronteira. Esta disputa, que monopolizou a agenda interna-
cional do Equador desde a década de 1940 e levou os dois países à guerra em 1941 e
1995, solucionou-se em 1998, quando foi selado um acordo de paz dando fim ao conflito.
Desde o acordo, foi desenvolvida uma variedade de projetos comuns entre Equador e
Peru — mais de 500 deles executados na fronteira — e o comércio entre os dois países
multiplicou-se (US$ 1,2 bilhões em 2005, comparados com US$ 260 milhões em 1999).
Atualmente, a diplomacia equatoriana dedica-se a assegurar a completa implementação
dos Acordos de Paz de 1998 e a fortalecer a integração econômica com o país vizinho,
com ênfase na área de energia, turismo e comércio.20 É interessante notar, contudo,
que até 2006 o Peru ainda era considerado o país menos amigo do Equador, tendo
sido citado por 30% dos equatorianos entrevistados pelo Latinobarômetro (seguido dos
Estados Unidos, com apenas 12% das menções).

A solução da questão territorial com o Peru, que historicamente ocupou um papel cen-
tral na agenda externa equatoriana, motivou uma revisão das metas estratégicas da
política exterior do país, o que veio a se concluir entre novembro de 2005 e novembro
de 2006. Neste período, o Ministério de Relações Exteriores, Comércio e Integração do
Equador promoveu uma série de seminários com a participação das principais forças
19 Este aspecto foi ressaltado em entrevista com economista da Corporación Andina de Fomento, que deu

o exemplo do tratamento diferenciado concedido pelo governo equatoriano à estatal brasileira Petrobrás em
comparação à empresa americana Occidental. Esta questão é descrita mais adiante neste estudo.
20 Fonte: Governo Equatoriano, Plano Nacional de Política Exterior (PLANEX 2020).

15
Estudos e Cenários | out. 2008

econômicas e políticas do país, destinados à elaboração do "Plano Nacional de Política


Exterior"(PLANEX 2020), uma visão de longo prazo dos principais temas relativos às re-
lações exteriores do Equador. O Plano Estratégico produzido apresenta o que se propõe
a ser o consenso nacional sobre temas que envolvem as relações com os Estados Uni-
dos e a Colômbia, a integração sul-americana, o apoio a emigrantes equatorianos no
exterior, dentre outras questões debatidas por empresários, acadêmicos, meios de co-
municação, setores sociais, organizações não-governamentais e secretários de relacões
internacionais de partidos políticos.21

O PLANEX estabelece como principais objetivos da política externa equatoriana a defesa


da soberania e da integridade territorial do país; a proteção de cidadãos equatorianos e
suas famílias no exterior; a consolidação da democracia e dos direitos humanos através
da cooperação internacional; as relações com países tais como Colômbia, Peru, Estados
Unidos e Espanha; e relações econômicas internacionais, incluindo integração regional,
com prioridade para a América Latina e a União Européia. Alguns dos consensos pro-
duzidos durante sua elaboração foram a rejeição de tropas estrangeiras em território
equatoriano, a oposição a qualquer tentativa de regionalização de uma solução militar
para o conflito colombiano, e a priorização da proteção de emigrantes.

Emigração A emigração de equatorianos acelerou-se tremendamente a partir do co-


lapso bancário e da crise econômica que se seguiu, em 1999. Estimativas atuais suge-
rem que aproximadamente dois milhões e meio de equatorianos vivam no exterior. Este
número equivale a 15% da população ativa do Equador, e envolve cidadãos de todas
as regiões e variadas faixas de renda. Como conseqüência da forte migração ocor-
rida desde 1999, as receitas originadas de remessas do exterior multiplicaram-se desde
então, tornando-se a segunda fonte de divisas do país, atrás apenas das exportações
de petróleo, e colocando o emigrante como um dos focos centrais da política externa
equatoriana.

Na visão do governo do Equador, a livre circulação de trabalhadores é um aspecto fun-


damental da liberalização de serviços e complementa a livre circulação de produtos e
capital. Políticas restritivas à migração, além de pouco efetivas, ignoram a dinâmica da
economia mundial e geram impactos negativos sobre as condições de vida do emigrante.
O governo defende o princípio da livre circulação de pessoas e estabelece a proteção de
emigrantes equatorianos, bem como de imigrantes e refugiados residentes no Equador,
21 Uma lista dos participantes da elaboração do PLANEX encontra-se disponível no endereço eletrônico:
http://www.mmrree.gov.ec/mre/documentos/ministerio/planex/participantes.htm

16
Estudos e Cenários | out. 2008

como absoluta prioridade de sua agenda externa.

A postura oficial do governo equatoriano com relação à migração reflete um consenso


a respeito deste tema entre a população do país. Segundo o Latinobarômetro 2006,
65% dos entrevistados no Equador defendem tanto a livre circulação de equatorianos no
exterior como o direito de estrangeiros de viver no país. O livre trânsito de trabalhadores
encontra apoio, também, entre elites empresariais do país,22 e organizações sociais,
como por exemplo a CONAIE.

Estados Unidos: emigração e a base militar de Manta Um dos objetivos declara-


dos da política externa do Equador consiste na manutenção de relações de amizade e
de cooperação com os Estados Unidos, país de reconhecida influência na vida nacional,
além de receptor de um grande número de imigrantes equatorianos. O Equador vem
buscando aumentar as exportações para o mercado americano, embora reconheça que
o principal interesse dos Estados Unidos na região andina ainda passe por sua política
anti-drogas e de segurança.

Dois temas dominam a agenda equatoriana em termos de suas relações políticas com
os Estados Unidos. O primeiro deles refere-se às condições de vida e ao respeito aos
direitos humanos de cidadãos equatorianos lá residentes, bem como à regularização da
permanência desses cidadãos naquele país, por meio de ações diplomáticas. Com vistas
à consecução destes objetivos, o governo equatoriano mostra-se disposto a recorrer a
negociações com a sociedade civil americana e a submeter apelos a cortes americanas
e a fóruns internacionais de direitos humanos.

O segundo tema predominante nas relações entre Equador e Estados Unidos refere-
se às operações americanas na base militar de Manta. Em 1998, durante o governo
do ex-presidente Jamil Mahuad, foi firmado um acordo permitindo o acesso e uso das
instalações da base da Força Aérea equatoriana em Manta para operações americanas
anti-narcóticos. Segundo diretor da FLACSO Equador Adrián Bonilla, o convênio foi
firmado em um momento de desespero, por um governo que necessitava urgentemente
de um empréstimo do FMI.23

A Base de Manta situa-se a vinte minutos de vôo das principais áreas de conflito co-
lombiano e representa uma posição estratégica para o controle militar do conjunto do
Pacífico Sul, do Canal do Panamá e da América Central, o que desde o princípio do acordo
22 Fonte: Entrevistas realizadas para este estudo, setembro de 2008.
23 Fonte: Washington Post, 04/09/2008.

17
Estudos e Cenários | out. 2008

levou a suspeitas de que pudesse servir de apoio americano ao Plano Colômbia.

Durante os dez anos de sua operação, o governo americano reportou investimentos de


US$ 71 milhões na construção de um aeroporto em Manta, além de US$ 6,5 milhões
gastos anualmente na base.24 Em contrapartida, opositores do convênio ressaltam que
os Estados Unidos jamais pagaram aluguel para utilizar a base, o que é apontado como
exemplo dos termos favoráveis do acordo em relação aos americanos. Estima-se que em
torno de 450 funcionários da força aérea americana trabalhem em Manta atualmente.

A ocupação da base de Manta por parte do governo americano causou permanente


desconforto no Equador, desde seu início, em função de freqüentes denúncias de que
militares norte-americanos realizariam abordagens ilegais, e mesmo captura e afun-
damento de pequenos navios pesqueiros que transportavam imigrantes equatorianos
ilegalmente para os Estados Unidos, entre outras atividades indesejadas e não previs-
tas no convênio firmado. A oposição à base de Manta, no Equador, advém também da
preocupação de que esta esteja envolvida em operações contra as FARCs colombianas,
e que isto venha a forçar um envolvimento não voluntário do país nesta questão. Se-
gundo dados do governo americano, vôos partindo de Manta são responsáveis por 60%
das interdições de drogas realizadas pelos Estados Unidos no leste do Pacífico.

Durante a campanha presidencial de 2002, o futuro presidente Lúcio Gutierrez declarou


que romperia o convênio firmado com os Estados Unidos, mas abriu mão desta iniciativa
uma vez empossado. A não-renovação das operações em Manta foi, também, uma das
principais promessas eleitorais de Rafael Correa.

Em julho deste ano, o governo equatoriano notificou os Estados Unidos para que desa-
lojem as cerca de trezentas tropas instaladas na Base de Manta até novembro de 2009,
data em que o convênio deveria ser renovado. Especula-se que o governo americano,
em contrapartida, venha considerando a possibilidade de transferir suas operações de
Manta para países vizinhos tais como a Colômbia, ou o Peru.

Recentemente, tanto as diretrizes estratégicas do governo equatoriano para o setor ex-


terno, como a nova constituição do país, corroboraram a decisão de proibir a presença
de bases militares externas no Equador. Segundo o governo, há um consenso na socie-
dade equatoriana no que se refere à oposição à presença de forças militares externas
no território nacional, assim como ao princípio de não-intervenção em questões domés-
ticas de países vizinhos. Por esta última razão, as forças armadas equatorianas não
24 Fonte: Washington Post, 04/09/2008.

18
Estudos e Cenários | out. 2008

participarão em ações conjuntas, coordenadas ou combinadas com as forças armadas


colombianas, e manterão presença efetiva na fronteira com este país de forma a impedir
que confrontos ocorram em regiões fronteiriças.

Enquanto não existem pesquisas disponíveis que confirmem o consenso de cidadãos


equatorianos em torno do cancelamento da operação americana em Manta, é interes-
sante observar dados de pesquisas de opinião pública realizadas no Equador, e que
evidenciam a imagem controvertida dos Estados Unidos no país.

Segundo o Latinobarômetro 2006, os Estados Unidos são o país mais citado por equato-
rianos como maior amigo do país (16.2% da menções), seguido da Espanha (11,6%). Ao
mesmo tempo, o país é apontado, também, como o segundo menos amigo do Equador
(11,7% dos entrevistados), à frente apenas do Peru.
40

Boa
50
20

40
0

30

Ruim
−20

20
10

Ótima
−40

Péssima
0

ARG VEN BOL MEX BRA URU ECU CHI PER COL 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

(a) Aprovação dos Estados Unidos em 2006 (b) Opinião dos Equatorianos sobre os Estados Unidos

Figura 5: Opinião dos Equatorianos sobre os Estados Unidos


Fonte: Latinobarômetro.

Reconhecida essa contradição, contudo, é interessante notar que o percentual dos equa-
torianos que aponta os Estados Unidos como país mais amigo já foi de praticamente o
dobro (30,1%) em 1998, indicando uma tendência decadente da imagem americana no
Equador. Os Estados Unidos são adicionalmente citados como investidor preferido, com
26.8% das respostas, embora a maioria dos entrevistados afirme que o país tem pouco
ou nenhum interesse (69,0%), e tampouco respeito (68,0%), pelo Equador. A Figura
5(a) compara a opinião dos equatorianos sobre os Estados Unidos em 2006 com aquela
observada em outros países latino-americanos no mesmo ano, enquanto a Figura 5(b)
mostra a variação temporal desta opinião.25
25 O gráfico (a) refere-se à pergunta: "¿Tiene Ud. una muy buena, buena, mala o muy mala opinión sobre

19
Estudos e Cenários | out. 2008

Colômbia e a relação com as FARCs O Equador e a Colômbia possuem fortes laços


históricos, consolidados nos últimos cinqüenta anos em mecanismos de cooperação polí-
tica, econômica e cultural. A participação na Comissão do Pacífico Sul e no Tratado de
Cooperação na Amazônia são exemplos desta cooperação. Os fluxos comerciais entre os
dois países aproximaram-se de US$ 2 bilhões em 2005, o que faz da Colômbia o segundo
mais importante parceiro comercial do Equador, atrás apenas dos Estados Unidos. Além
disto, os investimentos de origem colombiana no país chegaram a quase US$ 8 bi em
2003.

Os conflitos internos da Colômbia, no entanto, vêm-se tornando crescentemente pro-


blemáticos para a relação entre os dois países e estão entre as mais preocupantes amea-
ças à segurança do Equador. Ressaltem-se os protestos, por parte de agricultores equa-
torianos, residentes na fronteira entre os dois países, contra sprays aéreos herbicidas
que, utilizados pelo governo colombiano com a intensão primordial de destruir planta-
ções de coca e ópio em seu território, terminam por destruir plantações e comprometer
a saúde de moradores da região fronteiriça.

Embora o uso desses sprays herbicidas já viesse, de longa data, gerando atritos entre os
dois países, estes têm aumentado tremendamente desde a posse do presidente Rafael
Correa. Isto se deve às acusações feitas, pelo governo colombiano, de que o atual
governo do Equador estaria concedendo apoio à operação das FARCs em seu território.

Historicamente, não é incomum que guerrilheiros das FARCs atravessem a fronteira com
o Equador em busca de proteção contra ataques do governo colombiano. Por outro lado,
o governo equatoriano sempre se mostrou relutante quanto a investir em segurança na
fronteira, creditando à Colômbia a responsabilidade de evitar essas travessias. Além dos
dissidentes, também o exército colombiano muitas vezes invade regiões fronteiriças do
Equador em seu esforço de deter a ação dos revolucionários de seu país, o que contribui
para o aumento da tensão entre os dois vizinhos.

O mais recente episódio da crise entre Colômbia e Equador em torno da questão das
FARCs ocorreu em março de 2008, quando o governo colombiano assassinou o líder Raul
Reyes, além de outras vinte e cinco pessoas, em um bombardeio a um acampamento
da organização em Angostura, território equatoriano. Depois desse ataque, houve uma
escalada dos conflitos entre Colômbia e Equador, primeiramente pela invasão do ter-
ritório equatoriano por parte do governo colombiano, o que por si só levanta questões
EE.UU.?", e o gráfico (b) mostra a diferença entre opiniões positivas ("buena"e "muy buena") e negativas
("mala"e "muy mala") a respeito dos Estados Unidos.

20
Estudos e Cenários | out. 2008

de soberania nacional. Some-se a isso o fato de que estudantes equatorianos, apa-


rentemente não ligados às FARCs, também foram mortos durante o episódio. Por fim,
após o ataque, a Colômbia declarou estar de posse de computadores, supostamente
recolhidos no acampamento de Angostura, que possuiriam provas da ligação entre a
organização revolucionária e o governo Correa. Diante das negativas de Correa e da
intervenção de Chávez em sua defesa, o caso foi contornado com o apoio de outros
países latino-americanos e da Organização dos Estados Americanos (OAS), tendo sido
provisoriamente resolvido com um pedido de desculpas da Colômbia.

Passados dois meses do incidente, no entanto, a Colômbia divulgou os resultados de


uma auditoria externa realizada pela Interpol nos computadores alegadamente apreen-
didos no acampamento equatoriano das FARCs. Segundo essa instituição, não houve
qualquer manipulação dos arquivos existentes nos computadores após sua apreensão
pelo governo colombiano, como havia sido acusado pelo governo equatoriano.

Em face dos resultados da mencionada auditoria, o governo equatoriano argumentou


que os computadores apreendidos não têm valor como evidência jurídica, uma vez que
a Colômbia não aderiu à chamada "cadeia de custódia", e por isso não pode oferecer
garantias de que o material tenha sido selado, garantido e protegido de manipulação
post hoc.

Em meio a este impasse, acredita-se que o veredito da Interpol deva prolongar a crise
diplomática entre os dois países, com a Colômbia fazendo uso do relatório para desa-
creditar o governo equatoriano, enquanto este se defenderia desqualificando a auditoria
externa. A crise vem tomando proporções internacionais, demonstradas pela presença
do Alto Comissário para Segurança e Política Externa da União Européia, Javier Solana,
na apresentação do relatório da Interpol em Bogotá. Sanções por parte das Nações Uni-
das ao Equador, no entanto, não são esperadas, já que a Rússia, aliada da Venezuela,
tenderia a vetá-las.

Analistas equatorianos esperam que surjam pressões para a investigação das relações
do governo Correa com as FARCs, com o intuito de descobrir se o ministério da segu-
rança de fato ofereceu um ambiente permissivo para o desenvolvimento de atividades
guerrilheiras no Equador ou, ainda, se as FARCs financiaram o partido do presidente
ou seus simpatizantes. Contudo, o fato de que o procurador público responsável pelo
caso foi indicado pela Assembléia Constituinte e alinha-se com o Executivo, reduz as
perspectivas de que tais pressões tenham desdobramentos reais.26
26 Fonte: Analytica, Equador Weekly Report.

21
Estudos e Cenários | out. 2008

Concretamente, acusações de contatos entre o ministro da defesa Gustavo Larrea e as


FARCs, realizados depois do bombardeio de março, e o tour realizado por Correa em
países membros da União Européia, com o intuito de dimiuir o impacto da auditoria da
Interpol, indicam que não há horizonte de curto prazo para o reestabelecimento das
relações entre Colômbia e Equador.

No que se refere à participação externa no conflito, enquanto a Espanha se ofereceu para


mediar a crise Andina, Javier Solana publicamente discordou de Correa quanto ao status
das FARCs como organização terrorista e expressou preocupação com os resultados
apresentados pela Interpol. Mais recentemente, a Colômbia voltou a acusar as FARCs
de seqüestrar investigadores colombianos na cidade de Pueblo Nuevo, no Equador. O
governo equatoriano, no entanto, nega essas ocorrências.

Do ponto de vista da população equatoriana, é importante notar que 62% acreditam


que o presidente Correa agiu de forma a defender a soberania equatoriana, em face da
ameaça imposta por ações colombianas em território nacional. O mesmo percentual crê
que os documentos alegadamente encontrados pelo governo colombiano nos computa-
dores das FARCs - os quais associariam o governo equatoriano ao grupo guerrilheiro -
são falsos.27 O princípio de não-intervenção em questões domésticas da Colômbia, bem
como o rechaço à invasão colombiana do território do Equador, também encontram
apoio entre as elites do país.28

Soma-se a isso o fato de que, apesar de sua relevância econômica para o Equador, a
Colômbia figura apenas em quinto lugar entre os países com os quais cidadãos equato-
rianos desejariam ver o governo estabelecer acordos de cooperação. O atual presidente
colombiano, Álvaro Uribe, é o segundo presidente latino-americano pior avaliado pelos
equatorianos, à frente apenas do peruano Alan Garcia.29

A crescente relevância da Venezuela As relações entre Rafael Correa e o presidente


venezuelano Hugo Chávez datam do período em que o primeiro foi ministro das Finan-
ças no governo de Alfredo Palacio (Lucas 2007). Durante a campanha presidencial de
2006, a afinidade ideológica entre os dois líderes tornou-se mais explícita, por conta das
repetidas referências de Correa a termos tais como "socialismo do século 21", cunhado
por Chávez durante seu governo na Venezuela. Uma vez eleito, a estratégia adotada
por Correa durante seu primeiro ano de mandato presta-se a naturais comparações com
27 Fonte: Analytica, Equador Weekly Report.
28 Entrevistas realizadas para este estudo, setembro de 2008.
29 Fonte: Latinobarômetro 2006.

22
Estudos e Cenários | out. 2008

o governo de Chávez, principalmente no que se refere ao foco na consolidação do poder


político presidencial em paralelo a um esvaziamento do Legislativo, além do redesenho
das instituições do país via convocação de uma Assembléia Constituinte.

Do ponto de vista da política regional, Chávez vem se mostrando, desde a posse de


Correa, um aliado incondicional do Equador em seu conflito com a Colômbia, saindo
imediatamente em defesa do presidente equatoriano após as alegações de que seu
governo apoiaria as FARCs. Como parte da colaboração política entre os dois países,
em maio de 2008 o Equador se propôs a exportar alimentos para a Venezuela, com
o objetivo de garantir "segurança alimentar ao país", reduzindo sua dependência em
relação a produtos colombianos. Segundo o acordo firmado entre os dois governos,
o Equador exportará US$ 67 milhões em leite, ovos, trigo, óleo de cozinha e arroz a
distribuidores venezuelanos. Por outro lado, o governo venezuelano vem se tornando
um comprador de títulos da dívida equatoriana, valendo-se das receitas advindas da
bonança petroleira para aumentar a interdependência financeira entre os dois países.

Nesse sentido, também na perspectiva comercial a Venezuela vem se transformando


em parceiro progressivamente mais relevante para o Equador. Em 2007, o comércio
entre os dois países foi da ordem de US$ 1 bilhão, e especula-se que em 2008 este
valor dobre, neste caso superando a Colômbia e tornando a Venezuela o segundo maior
parceiro comercial do país, atrás apenas dos Estados Unidos.30

Equador e Venezuela vêm expandindo sua cooperação também na área de energia,


por meio da elaboração de um plano de "integração energética", concretizado com a
criação da joint-venture Petronado. O plano prevê iniciativas tais como a construção
conjunta de uma nova refinaria no Equador, o complexo petroquímico do Pacífico, em El
Aromo, localizado na Província costeira de Manabí. A refinaria permitirá o refino local de
petróleo, atualmente realizado nos Estados Unidos, aumentando, assim, a autonomia
do Equador e da Venezuela em relação ao país. Com um investimento da ordem de US$
7 bilhões, a refinaria será construída por uma empresa mista, formada pelas estatais
PDVSA e Petroecuador. O complexo, que deve estar concluído até 2013, refinará cerca
de 300 mil barris diários de petróleo e permitirá ao Equador poupar até US$ 3 bilhões
anuais em importações de derivados de petróleo, segundo Correa.31

Por fim, é curioso notar que, apesar da notória aproximação política e econômica com a
Venezuela, o governo equatoriano vêm sistematicamente postergando sua entrada na
30 Fonte: Analytica, Ecuador Weekly Report.
31 Fonte: Folha de São Paulo, 16/07/2008.

23
Estudos e Cenários | out. 2008

"Alternativa Bolivariana para as Américas"(ALBA), iniciativa liderada por Chávez e que


o associaria ainda mais diretamente a países críticos dos Estados Unidos na região. Em
uma pesquisa de opinião realizada pela Quantum-Habitus Poll, nada menos do que 53%
dos quiteños avaliaram positivamente a adesão do Equador à Alba.32

Por outro lado, dados do Latinobarômetro 2006 mostram que Chávez divide as opiniões
dos equatorianos, com alto índice de aprovação — Chávez é hoje o segundo presidente
latino-americano melhor avaliado pelos equatorianos, com 21.6% de aprovação, super-
ado apenas por Fidel Castro, com 24.7% — mas também alta rejeição. Comparado a
outros países da América Latina, o apoio equatoriano à Chávez — diferença entre os que
aprovam e desaprovam o presidente — encontra-se acima da média da região (Figura
??).

Por fim, a Figura 6(b) indica que a avaliação de Chávez no Equador, em relação a outros
presidentes latino-americanos, é mediana. Ressalte-se, desta Figura, o fato de que o
líder mais rejeitado no Equador é o americano George Bush, enquanto o mais aprovado
é o presidente brasileiro Lula da Silva.
30

5
20
10

0
0

−5
−10
−20

−10
−30
−40

PER CHI COL MEX BRA BOL URU ECU ARG VEN Bush Garcia Uribe Chavez Morales Castro Lula

(a) Apoio a Chávez em Países Latinoamericanos (b) Avaliação dos Equatorianos a Respeito de Líderes
Regionais
Fonte: Latinobarômetro.

4 Comércio Exterior e Integração Regional

O Equador atribui atenção especial a relações econômicas internacionais, com o objetivo


central de abrir mercados para produtos equatorianos, atrair investimentos para setores
32 Fonte: Analytica, Ecuador Weekly Report.

24
Estudos e Cenários | out. 2008

econômicos de interesse nacional, aumentar o acesso à informação, ciência e tecnolo-


gia, ao mesmo tempo preservando a bio-diversidade e o meio ambiente.33 Contudo,
o governo equatoriano concebe o investimento estrangeiro como um complemento que
não deve substituir a poupança doméstica como base do desenvolvimento econômico.

No que concerne à integração econômica, o país tem por meta reduzir sua vulnerabili-
dade externa através da diversificação da pauta de exportações, bem como dos parceiros
no mercado internacional. Por meio da associação a países com interesses semelhantes,
principalmente os latino-americanos, o Equador pretende reforçar sua capacidade de
negociação em fóruns internacionais e alargar os mercados para seus produtos, de-
fendendo a eliminação de subsídios e medidas anti-dumping que comprometem sua
competitividade em mercados internacionais.

Com vistas à redução de sua vulnerabilidade internacional, o Equador vem buscando


diversificar destinos de seu comércio exterior, assim como de fontes de investimento
externo no país. O governo dá prioridade a países do Pacífico, entre eles China, Japão e
Índia, além de potenciais oportunidades oferecidas por países árabes e africanos, espe-
cialmente no caso da África do Sul. O Equador considera prioritários investimentos que
proporcionem trasferência de tecnologia e geração de empregos, e que respeitem o meio
ambiente e as condições de vida das populações indígenas. Da mesma forma, pretende
incentivar exportações que gerem inovação tecnológica com efeitos multilplicadores em
amplos setores da economia doméstica. Finalmente, o Equador privilegia a negociação
de questões econômicas em instâncias multilaterais, que permitam aumentar seu poder
de barganha em relação a nações desenvolvidas.

Tratado de Livre Comércio com Estados Unidos O tema predominante nas relações
econômicas entre Equador e Estados Unidos refere-se à perspectiva de assinatura de um
tratado de livre comércio (TLC) entre os dois países. Esta iniciativa fracassou durante
o governo de Lucio Gutierrez, e encontra-se suspensa após a posse de Rafael Correa,
que alega desvantagens para seu país, advindas da proteção de direitos americanos de
propriedade intelectual e da exposição do Equador à competição com produtos agrícolas
subsidiados pelo governo americano. Não obstante, interessa ao Equador firmar acordos
que assegurem um melhor acesso de produtos locais ao mercado consumidor americano
e que reduzam as incertezas envolvidas nas transações comerciais entre os dois países.

O Equador busca, adicionalmente, eliminar o uso discricionário e unilateral de medidas


33 PLANEX, International Economic Relations, p.34.

25
Estudos e Cenários | out. 2008

tarifárias e não tarifárias por parte dos Estados Unidos e de qualquer condição alheia
ao comércio — tal como cooperação em políticas anti-drogas, migração, entre outras —
nas negociações comerciais.

A decisão de suspender as negociações de um TLC com os Estados Unidos encontra


eco nas reações de grupos indígenas e pequenos agricultores, enquanto confronta as
preferências da elite empresarial do país.

Entidades como a Câmara Industrial de Pichincha, e as Associações Comerciais de Quito


e Guayaquil, defendem reiteradamente um acordo bilateral com os Estados Unidos, en-
quanto alegam que as poucas expectativas de realização de um TLC com o país já vêm
causando danos à economia local. Isto, na medida em que cresce a vantagem compa-
rativa de países como o Peru, cujo tratado de livre comércio com os Estados Unidos já
se encontra em vigor, ou a Colômbia, cujo TLC deve ser firmado em breve.

Segundo a Câmara de Industriais de Pichincha, sem o livre acesso ao mercado ame-


ricano, estariam em risco mais de 100.000 empregos equatorianos, gerados pela ex-
portação de atum, flores, madeira e manufatura, dentre outros. Ainda, de acordo com
o Comitê Empresarial Ecuatoriano (CEE), 70% dos empresários associados consideram
que o TCL contribuirá para o crescimento econômico, enquanto 77% crêem que o tratado
permitirá incrementar a competitividade das empresas nacionais através da redução de
preços de matérias primas e bens de capital. Por fim, 57% dos empresários acreditam
que o TLC nivelará as condições de competição entre Equador e outros países da região,
e 64% que melhorará o fluxo de investimento estramgeiro no país.

Do outro lado do debate, a Confederação Nacional dos Povos Indígenas (CONAIE) é a


entidade mais ativa na oposição a um tratado de livre comércio com os Estados Unidos
(embora não apenas com este país), por conta da "perda de soberania"e dos riscos am-
bientais que o tratado viria a acarretar. A entidade usa exemplos do México e do Canadá
para argumentar que as principais beneficiárias de um TLC seriam empresas multina-
cionais americanas, que poderiam, sob os auspícios desse tratado, explorar os recursos
naturais do país com mínimas exigências e regulação. Enquanto a assinatura de um TLC
com os Estados Unidos asseguraria a propriedade intelectual americana no país, princi-
palmente no que tange a medicamentos genéricos, ela ofereceria pouca contrapartida
para produtores equatorianos, expostos à competição de produtos agrícolas americanos
subsidiados pelo governo. A organização ressalta, por fim, a incoerência residente no
fato de que um TLC não assegura o livre trânsito de cidadãos, apenas de produtos e

26
Estudos e Cenários | out. 2008

capital.34

Quando perguntados pelo Latinobarômetro a respeito das vantagens de tratados de livre


comércio,35 os equatorianos mostram-se otimistas com relação a seu impacto no acesso
a produtos importados (22,7% de saldo entre opinões favoráveis e desfavoráveis), neu-
tros em relação a empregos (4% de saldo) e pessimistas quanto aos efeitos de TLCs
sobre o desenvolvimento do país (-2,9% de saldo).

Atualmente, o Equador ainda se encontra sob a vigência do Andean Trade Promotion and
Drug Eradication Act (ATPDEA). Segundo esse acordo, o país obtém acesso preferencial
para mais de cinco mil produtos ao mercado americano, sob as condições de colaborar
com o país na erradicação do narcotráfico na região. A vigência do ATPDEA termina ao
final de 2008, e o governo equatoriano vem renegociando sua extensão por mais um
ano. Esta, já foi aprovada pelo Congresso americano, mas ainda precisará ser ratificada
pelo Senado e pela presidência até sua oficialização.

Fatos como a não-renovação do contrato para uso militar americano da base equatoriana
de Manta, além dos processos movidos contra o Equador em instâncias internacionais
de arbitragem por empresas americanas tais como Occidental e Duke Energy, e do pro-
cesso que equatorianos movem contra a Chevron, contudo, sugerem que a renovação
do ATPDEA para o país não será um processo simples.

Recentemente, Rafael Correa denunciou a Chevron por fazer lobby no Congresso ame-
ricano contra a extensão do ATPDEA no Equador, buscando desencorajar o governo
equatoriano a apoiar o processo movido, contra a empresa, por comunidades amazôni-
cas.

Por fim, a assinatura de tratados de livre comércio entre Estados Unidos e Peru, e possi-
velmente com a Colômbia, além do precedente gerado pela rejeição do ATPDEA no caso
da Bolívia, também contribuem para aumentar as incertezas relativas à renovação deste
tratado no que concerne ao Equador.

Perspectivas Latinoamericanas A integração econômica, cultural e social da Amé-


rica Latina, bem como o estabelecimento de direcionamentos em nível regional com
relação à política internacional, são prioridades da política externa equatoriana. Em fun-
ção disto, o Equador visa ao fortalecimento da Comunidade Andina de Nações (CAN), da
34 Fonte: Sítio oficial da CONAIE, no endereço eletrônico: http://www.conaie.org
35 Pergunta genérica, não específica em relação ao TLC com os Estados Unidos.

27
Estudos e Cenários | out. 2008

Comunidade Sul-Americana (CASA) e do Grupo do Rio, como mecanismos de consenso


político em questões-chave no âmbito internacional. O governo equatoriano considera
primordial a coordenação de políticas macroeconômicas entre os países da CAN, com vis-
tas ao estabelecimento futuro de uma moeda comum, além da integração de mercados
sub-regionais de forma a aumentar a competitividade em nível internacional.36

Um problema que o Equador vem enfrentando, com respeito à CAN, refere-se ao esta-
belecimento de acordos entre países da Comunidade e terceiros, tais como o G-3, do
qual participam Colômbia, México e Venezuela.

Em um relatório do primeiro semestre de 2008, a Câmara de Industriales de Pichincha


ressalta que o estabelecimento do G-3 vem produzindo efeitos nocivos à economia equa-
toriana. Tais efeitos poderiam ser solucionados, segundo a instituição, pela da extensão
das mesmas preferências ao Equador.37

Como exemplo, o relatório cita o caso de extratos e concentrados de café, cujas ex-
portações foram substancialmente afetadas pela implementação do G-3. Depois de seu
estabelecimento, a Colômbia incrementou suas exportações para membros do grupo
em US$ 1,9 milhões, enquanto o Equador as viu reduzidas em US$ 2,3 milhões. Isso
se explica pelo fato de que as exportações colombianas encontram-se livres de taxas,
enquanto o Equador está sujeito a um imposto de 53%. Caso semelhante ocorreu com
camisetas de algodão, produto pelo qual a Colômbia não paga mais impostos, enquanto
o Equador paga uma taxa de 35%. Com isso, a Colômbia conseguiu aumentar suas ex-
portações de camisetas para o México de US$ 587 mil para US$ 3,3 milhões, enquanto
o Equador viu suas vendas reduzidas de US$ 431 mil para US$ 56 mil.

Outro objetivo central da política externa equatoriana consiste em contribuir para a


convergência entre CAN e Mercosul, criando um espaço político, cultural e social es-
sencialmente latino-americano, e executando projetos de infraestrutura contemplados
na "Iniciativa para la Integración de la Infraestructura Regional Suramericana"(IIRSA).
Ressalte-se, no plano estratégico para o setor externo do Equador, as especiais atenções
concedidas às relações com o Brasil, reconhecido como líder inconteste na região, com
vistas a ampliar e aprofundar o intercâmbio econômico, político e cultural entre os dois
países.

Por fim, juntamente com Venezuela, Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai, o Equador
36 PLANEX 2020, objetivos regionais, p.50.
37 Fonte: Cámara de Industriales de Pichincha, "Bases para un Ecuador Productivo".

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Estudos e Cenários | out. 2008

encontra-se envolvido na criação do Banco del Sur,38 iniciativa lançada pelo presidente
da Venezuela Hugo Chávez e destinada a promover a integração regional através do
financiamento de infra-estrutura e projetos na área energética. Com o Banco del Sur, os
governos envolvidos pretendem reduzir a influência política de instituições financeiras
internacionais (as chamadas IFIs) na América Latina, e eliminar o poder de veto de
países de fora da região quanto a empréstimos destinados à América Latina (como ocorre
no Banco Inter-Americano de Desenvolvimento e no Banco Mundial). A proposta vigente
consiste em levantar US$ 7 bilhões dos governos acionistas, sendo que a Venezuela
já ofereceu US$ 1,4 bilhões de sua parte. Caso esta proposta seja formalizada, as
contribuições latino-americanas para o Banco del Sur superarão àquelas feitas ao BID por
estes mesmos países. Várias questões ainda precisam ser definidas, contudo, para que
o Banco del Sur efetivamente entre em operação. Algumas delas são: sua estrutura de
governança, critérios para participação e empréstimos, garantias envolvidas, e políticas
de salva-guarda.

Outros Potenciais Mercados Uma vez determinado a não avançar com as nego-
ciações de um tratado de livre comércio com os Estados Unidos, o governo de Rafael
Correa anunciou o interesse de aproximar-se comercialmente de parceiros como a União
Européia, países do Oriente Médio e Ásia. Nenhum acordo comercial foi realizado, no
entanto, até o momento.

As negociações entre Comunidade Andina e União Européia (UE) encontram-se, atual-


mente, paralisadas como conseqüência das posições internas conflitantes entre os par-
ticipantes pró-mercado e outros mais céticos dos benefícios potenciais de uma aproxi-
mação entre os dois blocos.

De acordo com dados da Câmara de Industriais de Pichincha, o Equador manteve um


superávit comercial com a UE de US$ 247 milhões em 2007. A instituição sustenta que
este resultado poderia ser potencializado, por meio da negociação de acesso favorável
a exportações equatorianas de banana, frutos do mar, e produtos têxteis.

Em novembro de 2006, o Equador já havia entrado com uma representação na Organi-


zação Mundial do Comércio (OMC) contra o regime europeu de importação de bananas,
alegando que esse regime é discriminatório contra países da América Latina. Desde
então, as decisões da OMC vêm favorecendo o Equador, no entanto a União Européia
continua apresentando apelações e se recusando a modificar seu regime tarifário com
38 Formalizada em dezembro de 2007. Fonte: Financial Times, 10/12/2007.

29
Estudos e Cenários | out. 2008

relação a este produto.

O Retorno do Equador à OPEP Depois de participar da OPEP entre 1973 e 1997,


o Equador retornou à organização em dezembro de 2007. O país tem adotado uma
postura solidária às posições de Venezuela e Irã, considerados os mais anti-americanos
entre os membros da OPEP. Em seu discurso de "retorno", durante a 3a cúpula de Riad, o
presidente Rafael Correa defendeu que as transações mundiais de petróleo se realizem
em uma moeda estável, para evitar transferências de recursos a países ricos através
da depreciação do dólar. O presidente apoiou também a criação do Banco da OPEP
como um instrumento de financiamento e desenvolvimento dos países da organização e
mesmo dos países mais pobres do planeta. Por fim, Correa sugeriu que a OPEP assuma
a liderança do movimento contra o aquecimento global, impondo um imposto a ser pago
por países consumidores e que sirva para financiar pesquisas sobre mudanças climáticas
e compensar países mais pobres sujeitos a danos por conta dessas mudanças.

Recentemente, o Equador, que planejava aumentar a produção de 500 para 520 mil
barris/dia em 2009, acatou a decisão da OPEP de, ao invés disso, cortá-la em 7 mil
barris/dia. A medida foi tomada em função da queda abrupta dos preços do petróleo, e
suscitou críticas entre opositores da entrada do país na organização.39

5 O Investimento Estrangeiro no Equador

O governo de Rafael Correa vem mudando significativamente a relação entre Estado e


investidores estrangeiros no Equador. Desde o início de seu mandato, Correa anunciou a
revisão de concessões nos setores mineiro e petroleiro, visando estabelecer termos mais
favoráveis ao Estado equatoriano. O governo também foi um negociador intransigente
da concessão da America Movil, no setor de telecomunicações, e das exigências feitas
ao consórcio formado por Odebrecht-Alston-Vatech por conta da paralisação da usina
hidrelétrica de São Francisco.

Em termos gerais, a estratégia do governo Correa vem sendo a de sacrificar investi-


mentos no curto prazo, com o objetivo de obter termos mais vantajosos para o Estado
no longo prazo. A alta liquidez da economia equatoriana, decorrente da subida histórica
dos preços do petróleo e de outros produtos básicos comercializados pelo país, contribui
39 Fonte: Analytica, Ecuador Weekly Report, e entrevista com o ex-presidente Osvaldo Hurtado.

30
Estudos e Cenários | out. 2008

para aumentar a margem de manobra do governo, que busca compensar a redução dos
investimentos privados por meio de maiores injeções de capital na Petroecuador e em
outros projetos públicos de infra-estrutura.

Entre analistas e representantes de entidades empresariais equatorianas, as mudanças


que vêm ocorrendo são consideradas bruscas, e em muitos aspectos pouco atraentes
para o capital estrangeiro. Aponta-se a paralisação das atividades mineiras, assim como
a flagrante redução de investimentos privados no setor petroleiro como evidências da
insegurança jurídica percebidas pelas multinacionais que investem nestes setores. Entre
as críticas mais duras à atuação do governo com relação ao investimento externo,
encontra-se a de que o esquema legal da nova constituição é "intensamente estatista
e, na prática, abre pouco espaço para o investimento externo direto."40

Como já mencionado anteriormente neste estudo, movimentos sociais e indígenas vêm


oferecendo sistemática oposicão à atuação de investidores externos no país, especial-
mente em setores que potencialmente afetam o meio ambiente e comunidades locais.
Movimentos populares entraram com um processo contra a Chevron, por danos causados
ao meio ambiente pela Texaco (adquirida pela empresa) durante os anos em que operou
no pais, e acham-se envolvidos também nas pressões pela expulsão da multinacional
petroleira Occidental do país. Outros exemplos são os protestos contra a exploração
do lote 31 pela Petrobrás, e a suspensão da operação de empresas mineradoras tais
como a Ecuacorriente e a Ascendant Copper, ambos os casos motivados por questões
ambientais.

35 Petróleo
Mineração
30 Eletricidade

25

20

15

10

0
Nenhuma Minoritária Majoritária Total

Fonte: Latinobarômetro.

Figura 6: Visão dos Equatorianos sobre o Investimento Externo no País

Do ponto de vista da população equatoriana, dados do Latinobarômetro 2006 indicam


40 Entrevistas realizadas para este estudo, setembro de 2009.

31
Estudos e Cenários | out. 2008

que a maioria dos entrevistados não apresenta, a princípio, objeções à presença de in-
vestidores estrangeiros no Equador, mesmo em setores considerados estratégicos para
a economia, tais como energia e mineração. O Gráfico 6 resume o tipo de participação
estrangeira considerada desejável pelos entrevistados do Latinobarômetro 2006, e evi-
dencia a preferência dos equatorianos por relações de parceria entre capital externo e
nacional.

Esta seção resume as principais iniciativas do governo Correa em relação ao investimento


estrangeiro no Equador.

5.1 Setor Mineiro

A mineração ainda é uma atividade pouco desenvolvida no Equador, mas novos depósitos
foram descobertos recentemente, e estimados no valor de US$ 100 e 200 bilhões. Em
decorrência destas descobertas, o país vem se preparando para um boom minerador
que, calcula-se, poderá gerar exportações da ordem de US$ 3-4 bilhões por ano, na
próxima década.

Em abril de 2008, o bloco pró-governo na Assembléia Constituinte emitiu um "Mandato


Mineiro", revogando concessões que ainda não se encontravam em estágio de desenvol-
vimento - estimadas em 80% do total das concessões mineiras no país - e que deveriam
ser realocadas por meio de leilão público. Concessões já em processo de exploração ti-
veram sua operação suspensa durante seis meses, de acordo com o mandato, até que
a comissão legislativa responsável pelo tema na Assembléia Constituinte viesse a pro-
mulgar uma nova lei mineira.

Além disso, o mandato promulgado pela Assembéia Constituinte limitava em três o nú-
mero de concessões que uma mesma empresa poderia operar no Equador, impondo
com isto limites na exploração de larga escala por empresas multinacionais, além de
determinar a criação de uma empresa estatal de mineração, parcialmente financiada
pela Agência de Seguridade Social (IESS).

O argumento do governo para paralisar as atividades de uma parcela significativa das


empresas mineradoras presentes no país é de que inúmeras concessões vinham sendo
mantidas com propósito especulativo. Há controvérsias entre observadores, no entanto,
quanto aos critérios adotados pelo governo para especificar a noção de "uso especula-
tivo".

32
Estudos e Cenários | out. 2008

Estima-se que mais de quatro mil concessões tenham sido afetadas por esta decisão,
entre elas as operadas por empresas tais como a Cornerstone Metals, que ainda se
encontravam em fase exploratória. Outras mineradoras canadenses em operação no
país, entre elas a Canadian Juniors Ecuacorriente, Lamgold, Dynasty Metals e Aurelian,
tiveram suas concessões apenas suspensas, mas não revogadas. A reação das empre-
sas mineradoras foi a de pressionar o governo com a ameaça de demitir funcionários
por conta da paralisação de suas atividades, e eventualmente acionar o Equador em
instâncias de arbitragem internacional.

O governo, por sua vez, convocou as empresas a participar do desenho da nova institu-
cionalidade do setor de mineração, e vem respondendo a ameaças de demissão em larga
escala, e aos decorrentes protestos de organizações trabalhadoras, com a promessa de
realocar profissionais do setor no serviço público.

Analistas equatorianos vêm criticando a iniciativa da Assembléia Constituinte, e estimam


que as suspensões de concessões possam atrasar o boom minerador em pelo menos um
ano, paralisando investimentos no setor em um período de preços favoráveis.

Em julho, no entanto, o governo anunciou as linhas gerais da nova lei mineradora, e que
foi considerada por analistas econômicos como relativamente favorável a investidores
privados no setor. De acordo com a nova proposta, estabelece-se royalties na faixa
de 3-8% a ser pagos pelas mineradoras ao Estado equatoriano, e que devem cair com
a quantidade de minerais extraídos, variando com níveis de produção. Com o intuito
de evitar o veto de comunidades locais a novos projetos, a lei estabelece a consulta a
essas comunidades, antes de seu início.41 A lei também não exige, como temido por
empresários do setor, que empresas privadas necessariamente se aliem à recém-criada
estatal, como condição para presença no setor, e não estipula qualquer limitação ao
número de concessões exploradas por cada empresa.

São criadas, no entanto, áreas preferenciais onde a recém criada estatal terá prioridade
na exploração. Contratos serão estabelecidos em oito anos, e renováveis por mais dois,
e as disputas contratuais entre empresas mineradoras serão resolvidas por tribunais
latino-americanos.42
41 Analistas creditam à saída de Alberto Acosta da presidência da constituinte o enfraquecimento da posição

de ambientalistas nas leis aprovadas.


42 Fonte:Reuters, 20/09/2008. A íntegra da nova lei mineira encontra-se disponível no endereço eletrônico

http://www.cme.org.ec/portal/.

33
Estudos e Cenários | out. 2008

5.2 Setor Petroleiro

Desde o início de seu governo, o presidente Rafael Correa vem tratando como prioridade
a renegociação dos contratos de exploração de petróleo no Equador. A primeira iniciativa
neste sentido, ocorrida no início de 2008, foi o estabelecimento de um acordo entre o
Ministério de Minas e Energia e multinacionais petroleiras (Petrobrás, Repsol, Perenco
e Andes Petroleum). Este acordo, entretanto, foi vetado pelo presidente Rafael Correa
na metade de abril, e uma nova proposta foi apresentada, encontrando-se atualmente
em processo de negociação. Entre os grandes temas incluídos na proposta do governo
equatoriano para o setor petroleiro, estão:

Formato de contratos O governo pretende transformar concessões para exploração


do petróleo em contratos de serviço, onde empresas produzem petróleo para o Estado
em troca de uma taxa fixa de retorno sobre investimentos. Sob o atual acordo de
compartilhamento de produção (PSAs), as companhias produzem por conta própria e
transferem parte de suas receitas para o Estado, detendo maior controle sobre suas
operações e receitas.

Duração do período de transição entre contratos Enquanto o acordo pré-firmado


entre empresas e o Ministério da Energia estabelecia um prazo de transição entre contra-
tos de dois ano, a proposta posterior do governo pretendia que essa transição ocorresse
em seis meses. Atualmente, os acordos anunciados com empresas petroleiras vêm de-
finindo este prazo em um ano.

Arbitragem Internacional Para que novos contratos sejam negociados, o governo


exige que as empresas petroleiras renunciem a processos submetidos à arbitragem in-
ternacional contra o Estado equatoriano. Adicionalmente, pretende-se transferir a arbi-
tragem de litígios do Banco Mundial (ICSID), considerado viesado, para outras instâncias
multilaterais.

Receitas excedentes ("windfall revenues") A proposta inicial do governo equato-


riano foi a de taxar em 99% o percentual a ser apropriado pelo governo das receitas
referentes a preços de petróleo acima daquele estimado no orçamento das explorado-
ras.43 Os acordos anunciados mais recentemente, no entanto, envolvem um percentual
de 70%. Em princípio, este percentual deve ser adotado durante o período de transição
43 Uma lei aprovada em 2006 estabelecia esta apropriação em 50%.

34
Estudos e Cenários | out. 2008

entre contratos, uma vez que ele não é compatível com um contrato de prestação de
serviços.

A resposta das empresas com relação ao novo modelo do setor petroleiro tem sido va-
riada. Enquanto a Murphy Oil, que detém uma parcela minoritária no Bloco 16, decidiu
levar o Equador à arbitragem internacional, a City Oriente preferiu uma compensação
de US$ 69 milhões para transferir sua operação para o governo. Por outro lado, a Rep-
sol YPF, a Andes Petroleum e a Perenco já aceitaram firmar contratos de participação
compartilhada. Para isso a Repsol renunciou a três demandas de arbitragem que pos-
suía no ICSID do Banco Mundial, o que foi comemorado como uma vitória significativa
do governo equatoriano. A última empresa a fechar a renegociação de contratos com
o governo equatoriano será a Petrobrás. O acordo final vem sendo postergado pela
empresa, que, no entanto, em agosto de 2008, enviou uma delegação ao Equador para
aceitar os termos propostos pelo governo, inclusive dispensando um contrato transitório
e seguindo diretamente a um acordo de prestação de serviço.44

5.2.1 A Questão da Petrobrás

Atualmente, a Petrobrás explora o óleo descoberto no Bloco 31, opera o campo unificado
de Palo Azul e faz extração no Bloco 18. A empresa tem também participação de 11,42%
no Oleoduto de Crus Pesados (OCP), que transporta óleo da bacia do Oriente Equatoriano
até o Pacífico.

A operação da Petrobrás vem sendo questionada em ambos os blocos explorados no


Equador. No caso do Bloco 31, esta polêmica gira em torno de questões ambientais, já
que este fica localizado no Parque Nacional de Yasuní, uma das 25 reservas da biosfera
reconhecidas pela ONU. O Bloco 31 passou para a administração da Petrobrás depois da
aquisição da Perez Companq, em 2002, e o projeto da Petrobrás em Yasuní é tido como
o mais controvertido da Petrobrás nos 22 países em que atua.

Diferentemente do Brasil, onde é proibida a exploração de petróleo em parques nacionais


e territórios indígenas, em setembro de 2004, o Ministério do Ambiente equatoriano
concedeu à Petrobrás Energia Equador uma licença ambiental para a exploração de
petróleo no bloco 31, em área intocada da reserva com maior biodiversidade desse
país.
44 Fonte: sítio oficial da presidência do Equador.

35
Estudos e Cenários | out. 2008

Desde o início, essa operação provocou duras críticas de ambientalistas dentro e fora
do Equador. Localmente, ambientalistas e movimentos indígenas representados pela
CONAIE vêm impetrando ações judiciais que visam impedir a exploração petroleira em
Yasuní. As organizações contrárias ao projeto argumentam que este interferirá em uma
área de preservação ambiental e trará problemas tais como o manejo da água conta-
minada extraída junto como o petróleo. A Petrobrás, por sua vez, defende sua atuação
ressaltando que a área devastada em função do projeto será um pouco menor do que
cem hectares, ou cerca de apenas 0,007% da área total do parque, e que o projeto terá
impactos positivos para a população local.45

Sob a pressão da sociedade organizada, o governo de Alfredo Palácio havia cassado a


licença ambiental anteriormente concedida, forçando a Petrobrás a refazer o projeto.46
Em 2007, finalmente, a empresa obteve nova licença para explorar petróleo no Bloco
31. Contudo, após um longo período de negociações - dificultadas por divergências entre
empresa e o governo equatoriano a respeito de questões fiscais - e de investimentos da
ordem de US$ 200 milhões, a Petrobrás finalmente decidiu renunciar à exploração deste
bloco. Em contrapartida, o governo equatoriano comprou os direitos de uso da OCP que
se encontravam em posse da Petrobrás.

A segunda polêmica envolvendo a Petrobrás no Equador refere-se à trasferência de cerca


de 40% de seus direitos de exploração para a Japonesa Teikoku Oi Co. Ltd., realizada
sem a necessária notificação do governo equatoriano. Além da falha em notificar o
governo sobre a operação, o caso tornou-se ainda mais complicado pelo fato de que
a Teikoku, não sendo registrada no Equador, não teria permissão para explorar petró-
leo no país. A Petrobrás afirma, no entanto, que o Ministério de Minas e Energia do
Equador aprovou a transferência em 2007 e que o poder judiciário equatoriano também
considerou a transação legal.47

É importante ressaltar que a Occidental Petroleum teve suas operações de exploração


de petróleo canceladas no Equador por, entre outras acusações, haver vendido parte de
seus direitos no país, o mesmo que se atribui à Petrobrás. Sugere-se que o tratamento
diferenciado nos dois casos esteja associado a uma estratégia, por parte do governo
equatoriano, de privilegiar as relações econômicas estabelecidas entre governos latino-
americanos.
45 Fonte: Folha de São Paulo, 20/09/04 e 12/11/96.
46 O novo projeto exclui a construção de uma estrada, um dos pontos mais criticados na versão anterior, e
move a central de processamento para fora do Parque Nacional, o que, segundo a Petrobrás, atende a todas
as reinvindicações feitas por grupos de pressão através do governo.
47 Fonte: Reuters, 20/09/08.

36
Estudos e Cenários | out. 2008

Por fim, a operação da Petrobrás no campo de Palo Azul também foi questionada pelo
governo equatoriano, e encontra-se sob avaliação da consultoria Gaffney Cline.

5.3 Telecomunicações

O governo de Rafael Correa aprovou, em abril, a renovação por quinze anos do contrato
da Telefônica no país, depois que a empresa aceitou pagar US$ 200 milhões pela con-
cessão e investir US$ 400 milhões nos próximos dois anos. A espanhola Telefônica detém
1/3 do mercado equatoriano.

As negociações com a mexicana America Movil (Porta, no Equador), ao contrário, têm


sido consideradas pouco amigáveis. A empresa foi consistentemente ameaçada com a
não-renovação de sua licença para operar 2/3 do mercado equatoriano de telefones ce-
lulares, num total de seis milhões de usuários. O governo equatoriano estabeleceu um
valor de US$ 500 milhões para a renovação da concessão por 15 anos, assim como o pa-
gamento de US$ 153 milhões em taxas devidas. A America Movil ofereceu, inicialmente,
apenas US$ 320 milhões, o que não foi considerado aceitável pelo governo.

A recusa da terceira proposta da empresa, e a iniciativa do governo de acionar a Secre-


taria Nacional de Telecomunicações (SENATEL) para o início de auditoria dos ativos da
Porta, forçaram finalmente a America Movil a subir sua oferta de US$ 320 para US$ 480
milhões, pagando metade deste valor no primeiro ano da renovação.

O acordo significou uma vitória não apenas econômica, mas também política para Rafael
Correa. Do ponto de vista econômico, o governo demonstrou seu poder de barganha
renovando a concessão por um valor praticamente idêntico àquele de sua posição inicial,
e muito superior ao da primeira oferta feita pela empresa. Além disso, garantiu um fluxo
relevante de investimento externo para o país no curto e médio prazos.

Politicamente, o governo mostrou-se pragmático em relação ao investimento externo,


contrariando expectativas de que estivesse rumando para um processo mais amplo de
nacionalização ao estilo venezuelano. Domesticamente, a confrontação de uma multi-
nacional em prol de termos mais favoráveis ao país soou extremamente positiva junto
a seu eleitorado.48
48 Analistas especulam que a interseção do presidente mexicano Felipe Calderón foi decisiva na negociação

entre o presidente Rafael Correa e a Porta. Anteriormente, Calderón apoiou a resolução da OAS condenando o
ataque do governo colombiano ao acampamento das FARCs no Equador. Este evento exemplifica a crescente
interdependência entre esferas geopolítica e empresarial na América Latina. Fonte: Analytica, Ecuador Weekly
Report.

37
Estudos e Cenários | out. 2008

5.4 Construção - A Crise com a Odebrecht

Recentemente, o governo equatoriano expulsou a construtora brasileira Norberto Ode-


brecht do país, depois da paralisação das atividades da hidroelétrica de São Francisco
- responsável pelo atendimento de 9% da demanda equatoriana por eletricidade - a
qual fora construída pela empresa, em consórcio com a Alstom e a VaTech. Segundo
divulgado na mídia, o projeto estaria paralisado por razões diversas, dentre as quais
um problema em uma das turbinas, outro referente a um túnel de 11 km ligando a São
Francisco a outra usina, e um terceiro referente ao sistema de refrigeração.

Segundo a Odebrecht, ''os reparos necessários à usina hidrelétrica de San Francisco po-
deriam ser decorrentes de questões relacionadas a várias causas: o projeto, a constru-
ção, a operação ou até aos eventos da natureza, como o ocorrido com a erupção do
vulcão Tungurahua, situado a poucos quilômetros da hidrelétrica."49 A empresa afirma
que, ''independentemente das devidas averiguações das causas e respectivas respon-
sabilidades de todas as partes envolvidas, o Consórcio Construtor, com a liderança da
Odebrecht, tomou, imediatamente, as devidas providências. Por sua conta, mobilizou
todos os meios ao seu alcance para efetuar tais reparos dentro do prazo mais curto
possível, tendo concluído os trabalhos na primeira semana de outubro. Além disso, a
Odebrecht sempre se colocou e continua à disposição do Governo Equatoriano para que
tais averiguações sejam feitas por instituição independente."

O impasse resultante da disparidade entre as expectativas de reparação do governo


equatoriano e a oferta do consórcio resultaram na expulsão da Odebrecht do país. En-
quanto o Equador exigia US$ 43 milhões por conta da paralisação, além da responsa-
bilidade por todos os custos de reparação (incluídos na garantia de um ano do projeto)
e da devolução de um bônus de US$ 13 milhões por conclusão nove meses antecipada
da obra,50 a Odebrecht estaria disposta a arcar com os custos de reparação, mas só
aceitaria pagar US$ 35 milhões, aí incluídos os US$ 13 milhões do bônus de conclusão
antecipada.

Além da expulsão da Odebrecht, o governo promoveu uma ocupação militar das insta-
lações da hidroelétrica, impediu os principais executivos da empresa de sair do país e
ameaçou apropriar todos os ativos da empresa, que atua em projetos estimados em um
total de US$ 650 milhões, os quais empregam um total 3.800 funcionários no Equador.
49 Nota de Esclarecimento divulgada pela Organização Odebrecht em jornais de grande circulação no Brasil,

17/11/2008.
50 A Odebrecht nega haver recebido qualquer bônus, mas apenas o ressarcimento dos custos decorrentes da

aceleração do prazo.

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Após o endurecimento da posição do governo equatoriano, a Odebrecht terminou por


aceitar as demandas feitas, mas ainda assim a decisão de Correa não foi revertida.

Por fim, Rafael Correa acenou com a possibilidade de não pagar o empréstimo de cerca
de US$ 242 milhões realizado pelo BNDES para atividades de construção da hidroelé-
trica, o que pode vir a desencadear um conflito de sérias proporções com o governo
brasileiro, comprometendo os objetivos equatorianos de alinhar-se ao país com vistas
ao fortalecimento da integração regional.

Conclusão

Este estudo teve por objetivo expor os principais temas da agenda internacional do
Equador, bem como a perspectiva de diferentes atores políticos e econômicos sobre
estes assuntos — entre eles o grupo governante, associações empresariais e financeiras,
e movimentos indígenas e trabalhadores organizados. Entre as questões abordadas,
estiveram as relações do Equador com vizinhos estratégicos, tais como Estados Unidos,
Colômbia e Venezuela, a integração econômica regional, e a estratégia do atual governo
com relação ao capital estrangeiro investido no país.

A resolução de um conflito histórico com o Peru, ao final da década de 1990, abriu


espaço para a exploração de novos temas da política externa equatoriana, desde então.
A consolidação de um Plano Nacional de Política Exterior, com a participação de amplos
extratos da sociedade, bem como a eleição de Rafael Correa para a presidência do país,
foram fatores determinantes na consolidação desta nova agenda.

Com respeito às suas relações externas, evidenciou-se a crescente tensão política entre
Equador e Colômbia, agravada após o assassinato do líder Raul Reyes, em um ataque do
governo colombiano a um acampamento das FARCs em território equatoriano. Apontou-
se, também, para a importância adquirida por emigrantes equatorianos, cujos fluxos
aceleraram-se significativamente depois de 1999, e que hoje são responsáveis pela se-
gunda maior fonte de divisas do Equador. Por fim, ressaltou-se o impacto da não-
renovação das operações americanas contra o narcotráfico na base aérea equatoriana
de Manta, e a crescente aproximação política e econômica com a Venezuela.

Em termos de comércio exterior e integração regional, este estudo enfatizou a suspensão


das negociações em torno de um tratado de livre comércio com os Estados Unidos, em

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paralelo, contudo, a esforços pela renovação das vantagens comerciais promovidas pelo
ATPDEA. Enfatizou-se, além disso, a estratégia de fortalecimento das relações econômi-
cas do Equador com outros países latino-americanos, seja através de um esforço para
o aprofundamento da Comunidade Andina de Nações, de sua integração com o Merco-
sul, ou de iniciativas que visam a integração financeira via uma moeda comum, além
da participação na criação do Banco del Sur. Embora seja considerada uma prioridade
para a CAN, o estudo apontou também para as dificuldades envolvidas no avanço da
integração econômica com a União Européia. Estas ocorrem, não apenas em função
do protecionismo europeu no caso de produtos-chave da exportação equatoriana, mas
também das divergências, internas à CAN, com relação a que nível e forma de integração
seriam desejáveis.

Por fim, esta análise apontou para uma mudança substancial nas relações entre o go-
verno equatoriano e investidores externos sediados no país, especialmente no que se
refere a setores considerados estratégicos, tais como petróleo, mineração e concessões
de serviços públicos. O Equador vem atravessando um período de intensa revisão do
papel do Estado vis-à-vis empresariado na economia, e o governo vem se valendo dos
altos preços do petróleo e de abundantes receitas públicas para renegociar contratos de
forma vantajosa para o país no longo prazo. Note-se que nestas negociações, apesar da
postura em geral inflexível adotada pelo governo equatoriano, pode-se observar um tra-
tamento, até o momento, diferenciado em relação a multinacionais públicas e privadas.
Esta diferenciação vem se fazendo notar, também, quando se considera a prioridade
concedida pela política externa equatoriana a diferentes regiões/países, o que consti-
tui mais uma evidência da crescente interdependência entre as esferas geopolítica e
empresarial na América Latina.

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Estudos e Cenários | out. 2008

Referências

CEPAL. 2005. ''Poblacion indigena y afroecuatoriana en Ecuador: Diagnostico sociodemografico a


partir del censo de 2001.'' Documentos de Proyectos .
Hurtado, Osvaldo. 2006. Los Costos del Populismo. Quito: CORDES.
Lucas, Kintto. 2007. Rafael Correa - Un Extrano en el Carondelet. Quito: Planeta.
Pachano, Simon. 2004. ''El Territorio de los Partidos - Equador 1979-2002.'' Trabalho apresentado
na conferencia "Situacion actual de los partidos politicos en la region Andina".
Pachano, Simon. 2007. La Trama de Penelope: Processos Politicos e Instituciones en el Ecuador.
Quito: International IDEA.
Penaherrera Solah, Blasco. 2002. Trazos de Democracia - 22 Años de Elecciones. Quito: Mariscal.
Uquillas, Carlos A. 2007. ''Breve analisis historico y contemporaneo del desarrollo economico del
Ecuador.'' Observatorio de la Economia Latinoamericana 86.

Todo as referências jornalísticas foram obtidas através do Lexis Nexis, no endereço eletrônico
http://web.lexis-nexis.com/.

Os dados do Latinobarômetro podem ser encontrados no sítio: http://www.latinobarometro.org/.

Outras Referências

Presidência do Equador http://www.presidencia.gov.ec/


Ministério das Relações Exteriores, Comércio e Integração http://www.mmrree.gov.ec/
PLANEX 2020 http://www.mmrree.gov.ec/mre/documentos/ministerio/planex/planex.htm
Instituto Nacional de Estadística e Censos http://www.inec.gov.ec/
Comunidade Andina de Nações http://www.comunidadandina.org/index.htm/
Corporação Andina de Fomento http://www.caf.com/
Câmara de Industriais de Pichincha http://www.camindustriales.org.ec
Associação de Bancos Privados do Ecuador http://www.asobancos.org.ec/
Confederação das Nações Indígenas do Equador http://www.conaie.org/
Movimento Pachakutik http://www.pachakutik.org.ec/home/index.php
Alianza País http://www.alianzapais.com.ec
Comissão de Investigação da Dívida Externa http://www.divida-auditoriacidada.org.br/
Universidade Andina Simón Bolívar http://www.uasb.edu.ec/
FLACSO Equador http://www.flacso.org.ec/
Corporación de Estudios para el Desarollo http://www.cordes.org/
Ecuador Inmediato http://www.ecuadorinmediato.com/
El Nuevo Empresario, jornal de economia http://www.elnuevoempresario.com/
El Universo http://www.eluniverso.com/
El Comercio http://www.elcomercio.com/
Hoy online http://www.hoy.com.ec/

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