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| out. 2008 |
Observatório Político Sul-Americano
http://observatorio.iuperj.br
Daniela Campello
(Ph.D, UCLA)
Introdução
Do ponto de vista político, o Equador distingue-se por sua extrema instabilidade, evi-
denciada pelo fato de que, desde 1992, nenhum presidente eleito no país conseguiu
cumprir seu mandato até o final. O sistema partidário equatoriano encontra-se entre
os menos institucionalizados da América Latina; é volátil e fragmentado, um sistema
onde regras mudam constantemente e a capacidade de representação de interesses é
consideravelmente baixa, mesmo em comparação aos já baixos padrões regionais.
presidente do CORDES), Cesar Robalino (ex-ministro das Finanças, atual presidente da Asobancos), Blasco
Peñaherrera Padilla (ex-vice-presidente do Equador), Eduardo Checa (vice-presidente da Analytica Securities),
Lenin Parreño (economista da CAF), e pelos dados cedidos por Jaime Durán Barba (presidente da Informe
Confidencial) e Sebastián Borja (presidente da Cámara de Industriais de Pichincha).
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1 Antecedentes
O Equador é 4o país mais pobre da América Latina, à frente apenas da Colômbia, Bolívia
e do Paraguai. Seu produto interno bruto foi estimado em US$ 42,3 bi, em 2007, e seu
crescimento econômico per capita nas últimas duas décadas — 3,2% a.a. — coincide
com o crescimento médio da região.2 O Equador encontra-se também entre os países
latino-americanos de menor desenvolvimento humano, apresentando um IDH de 0,74
(Gráfico 3), sendo que aproximadamente 40% de sua população vivem em situação de
pobreza. Politicamente, o país é considerado um dos mais instáveis da América Latina,
tendo sido palco de inúmeros golpes de Estado desde sua re-democratização.
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América Latina
Equador
6
5
4
%
3
2
1
0
3
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Pouco menos da metade da população total do Equador vive na região Andina, cuja maior
província é Pichincha, enquanto metade vive na costa, a maioria destes na província de
Guayas. Somente 6% da população equatoriana vivem na Amazônia e nas cercanias
de Galápagos. Historicamente, observa-se no Equador uma diferenciação tanto econô-
mica quanto em termos de comportamento político entre as regiões costeira e serrana,
com os primeiros tradicionalmente envolvidos em atividades comerciais e de reconhe-
cido espírito empresarial e liberal, e os últimos voltados para a produção de produtos
primários e em geral mais favoráveis à presença do Estado na economia. A região de
Guayas predominou econômicamente no Equador até a metade dos anos 70. A acelera-
ção da produção petroleira, contudo, desde o início controlada pelo Estado, levou a um
fortalecimento do governo central e, por conseguinte, da região de Pichincha, onde se
encontra a burocracia estatal.4
4
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Guayas
25 Pichincha
20
15
10
0
Esquerda Centro−Esq. Centro Centro−Dir. Direita
(a) Ideologia
30 Guayas Guayas
Pichincha 25 Pichincha
25
20
20
15
15
10
10
5
5
0 0
Estado 2 3 4 Empresa Indivíduo 2 3 4 Governo
Os Gráficos 2(c) e 2(b), por sua vez, indicam o percentual dos equatorianos que apóiam
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Estes dados sugerem que, ainda que a clivagem Costa-Andes seja clara, no Equador,
ela não se aproxima, em termos de sua relevância para a compreensão da realidade
equatoriana, do que se passa atualmente em outros países sul-americanos, tais como
a Bolívia.
Antecedentes Políticos e Econômicos Assim como ocorrido com outros países latino-
americanos, a economia equatoriana limitou-se à exportação de bens primários até a
crise mundial dos anos 30,5 quando o colapso do mercado de cacau gerou um nível de
instabilidade tal que nenhum dos 21 governos estabelecidos entre 1931 e 1948 conse-
guiu completar um mandato. Com o fim da crise, a consolidação das exportações de
banana ocorreu em paralelo a doze anos de estabilidade política, que duraram até a
primeira metade da década de 1960.6 Neste período, o Equador consolidou um sistema
de produção que pode ser entendido como capitalista, incluindo o pagamento de salários
a camponeses que trabalhavam na lavoura, fato inédito até então.
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A partir do início dos anos 80, o Equador passou a sentir fortemente os efeitos da alta
dos juros internacionais e da conseqüente desaceleração econômica dos países desen-
volvidos. Como resultado desse processo, os preços de produtos básicos apresentaram
forte queda, e a oferta de crédito internacional praticamente cessou. Além disso, o
Equador sofreu também seqüelas de um enfrentamento militar com o Peru, em 1981, e
os efeitos de devastadoras inundações provocadas pelo El Niño durante dez meses entre
1982 e 1983.
Os governos seguintes, do conservador León Febres Cordero (1984-1988), até Lucio Gu-
tierrez (2003-2005), todos perseguiram, em maior ou menor grau, o aprofundamento
do modelo econômico de cunho neoliberal iniciado durante o governo de Hurtado. Entre
eles, destacam-se as gestões de Febres Cordero, e Gustavo Noboa que, assim como
Osvaldo Hurtado, cumpriram rigorosamente todas as condicionalidades impostas por
organismos multilaterais (Hurtado 2006). Duas décadas de estagnação econômica9 e
a persistência de altos níveis de desigualdade de renda, no entanto, angariaram pouco
apoio popular ao modelo neoliberal no Equador. Em 1998, a queda dos preços de pe-
tróleo, associada ao fenômeno do El Niño, levou a uma ampla crise no setor agrícola do
país, e que desembocou em um colapso sem precedentes do sistema bancário. Além de
cessar unilateralmente o pagamento de sua dívida externa, o governo de Jamil Mahuad
8 Este processo pouco avançou até a atualidade, já que apenas 15% do PIB do Equador provêm de atividades
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Os efeitos traumáticos da crise de 1999 culminaram com um golpe de Estado no ano se-
guinte, quando o coronel Lucio Gutierrez liderou um movimento destinado a sacar o pre-
sidente Jamil Mahuad do poder, com o apoio de organizações trabalhadoras e indígenas.
Dois anos após o fracasso do golpe, e já livre da prisão, em 2002 o coronel Gutierrez foi
eleito com um discurso de contundente crítica aos sistemas político e econômico equa-
torianos. Dentre suas promessas de campanha, incluíram-se a renegociação conjunta
da dívida externa de países latino-americanos, a desativação da ocupação americana da
base aérea de Manta, e prioridade à inclusão social e redistribuição de renda.
Uma vez empossado, contudo, Gutierrez governou de maneira oposta àquilo que havia
prometido, aprofundando não apenas o modelo econômico previamente criticado, mas
operando politicamente de uma forma nada distinta à adotada por seus antecessores. Da
perda de credibilidade decorrente deste processo, aliada à dificuldade de obter maiorias
no congresso e à adoção de medidas autoritárias, decorreu um golpe, no final de 2004,
em que Gutierrez foi substituído por Alfredo Palacio, seu vice-presidente.
Nas eleições presidenciais seguintes, em 2006, o Equador elegeu Rafael Correa, candi-
dato cujos discurso e apoio político são notoriamente comparáveis aos de Gutierrez. Em
uma decisão sem precedentes no país, o partido criado por Correa para disputar a elei-
ção presidencial (Alianza País) não apresentou nenhum candidato ao pleito legislativo,
enquanto uma de suas principais promessas da campanha consistiu na imediata convo-
cação de uma Assembléia Constituinte. Já eleito, e apoiado em preços historicamente
altos do petróleo, Correa vem cumprindo em grande parte suas promessas eleitorais,
não apenas mudando a configuração de poder no país, mas também os principais fun-
10 Fonte: Economist Intelligence Unit.
11 Em 2005, US$ 1,1bi de dólares foram enviados ao país por equatorianos residentes no exterior. Em 2008,
no entanto, o fluxo de remessas vem-se reduzindo, com quedas observadas nos dois primeiros trimestres
do ano (7.7% e 6.3% em relação ao ano anterior, respectivamente). Segundo o governo equatoriano, essa
redução se deve à desaceleração das economias americana e espanhola, que respondem por aproximadamente
87% das receitas totais. Dadas as expectativas de desaceleração de ambas as economias, não há expectativas
de que o volume de remessas se recupere no curto prazo. Fonte: Dow Jones Newswires, 25/09/08.
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É importante notar que, a partir da década de 1990, a instabilidade política que histo-
ricamente caracteriza o Equador voltou a revelar-se. Desde o governo de Sixto Durán
Ballén (1992-96), nenhum presidente eleito completou mandato no país.
O sistema político equatoriano destaca-se na América Latina por sua baixa identificação
ideológica de partidos e eleitorado, bem como pela indisciplina partidária que o caracte-
riza. O sistema partidário equatoriano é altamente fragmentado, e apresenta uma das
mais altas volatilidades eleitorais da região. Partidos freqüentemente se formam em
torno de uma candidatura presidencial, configurando uma prática política fortemente
personalista. Candidatos tendem a obter percentuais baixos de votos no primeiro turno
das eleições presidenciais e, após um segundo turno, em geral polarizado, encontram
imensa dificuldade de compor maiorias no Congresso.12 Este, por sua vez, detém bas-
tante poder no sistema político equatoriano, com o maior partido elegendo um líder que
ao qual se atribui significativo poder de agenda, podendo convocar sessões especiais no
Congresso e agir como intermediário entre as instâncias executiva e legislativa.
O Equador é, também, notável por seus altos níveis de mobilização popular, não apenas
no que se refere à destituição de presidentes, mas também orientada a questões de
comércio internacional (estabelecimento de tratado de livre comércio com os Estados
Unidos) e à exploração dos recursos naturais do país (pressões para suspensão da ope-
ração da petroleira Occidental), citando somente os temas mais recentes. Protestos, no
Equador, tomam geralmente a forma de ocupação de instalações públicas e privadas,
além de bloqueios de estradas que freqüentemente forçam o governo a decretar estados
de emergência.
12 Ver Pachano (2004) e Pachano (2007) para uma análise detalhada do sistema político equatoriano, e
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Chile Bolívia
México Colômbia
Argentina Peru
Venezuela Equador
Uruguai Paraguai
Brasil Uruguai
Peru Chile
Equador Argentina
Colômbia México
Paraguai Venezuela
Bolívia Brasil
0 2 4 6 8 10 12 0 10 20 30 40 50 60
US$ mil US$ per capita
Brasil Chile
Argentina
Colômbia
Uruguai
Paraguai
México
Chile
Brasil
Argentina Venezuela
Colômbia
México
Peru
Peru
Equador
Equador
Paraguai
Venezuela Bolívia
0.40 0.45 0.50 0.55 0.60 0.60 0.65 0.70 0.75 0.80 0.85 0.90
Gini IDH
2 Cenário Atual
empíricas das políticas promovidas pelo chamado "Consenso de Washington- Ver Correa (2001).
10
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tornou-se popular no Equador durante o curto período em que foi Ministro de Finanças
do governo de Alfredo Palacio. Nos meses em que liderou o ministério, Correa rever-
teu parte dos fundos petroleiros que Lucio Gutierrez havia vinculado ao pagamento de
dívidas para despesas governamentais, confrontou o Banco Mundial, e mostrou-se um
crítico feroz do Fundo Monetário Internacional e do gerenciamento da dívida pública em
vigor até então no país. Essas iniciativas conquistaram o apoio de trabalhadores e orga-
nizações indígenas, e motivaram uma sucessão de protestos após a renúncia de Correa,
apenas três meses após sua indicação. Segundo o Latin American Weekly Report, na
época de sua saída do Ministério da Economia a popularidade de Rafael Correa era no-
tavelmente superior à do presidente Palacio (57,4% contra 38,1%, respectivamente).14
Desde eleito, Rafael Correa vem mudando as relações entre governo e capital privado no
Equador, no sentido do fortalecimento do primeiro como condutor da economia nacional.
O presidente também vem liderando com sucesso o processo de mudança constitucional,
através do qual pretende consolidar tais mudanças.
11
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100
Correa
90
80
Aprovação (%)
70
60
50
Gutierrez
40
30
5 10 15 20 25
Tempo
Fonte: Informe Confidencial - percentual da população que considera "muito bom"e "bom"o desempenho do
presidente, no período que vai do primeiro ao décimo sexto mês do mandato. O eixo "tempo"vai até 25 porque
há meses onde foi feita mais de uma observação.
Posteriormente, o referendo foi convocado, e a assembléia aprovada por 81,7% dos elei-
tores em abril de 2007. Em setembro deste mesmo ano, os equatorianos elegeram um
corpo de assembleístas formado, em sua maioria, por membros do Movimiento Alianza
País (partidários do presidente).
Renovador Institucional de Acción Nacional; PRE, Partido Roldosista Ecuatoriano; PSC, Partido Social Cristiano;
ID, Izquierda Democratica; MPD, Movimiento Democracia Popular; MUPP, Movimiento Unidad Plurinacional
Pachakutik.
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Fonte: Adam Carr Elections Archive. Total de 100 cadeiras no Congresso e 130 cadeiras na Constituinte.
A vigésima constituição equatoriana foi votada e aprovada por referendo popular, por
larga e inesperada maioria, em setembro de 2008. Houve consenso entre analistas de
que a aprovação de 65% dos eleitores à nova carta constitucional evidencia o amplo
apoio dos cidadãos equatorianos ao projeto liderado por Rafael Correa. Note-se, no
entanto, que os 25% de votos de reprovação encontraram-se altamente concentrados
em Guayaquil, fortalecendo o prefeito Jaime Nebot, principal opositor político de Correa.
Segundo o plano de transição estabelecido, a Assembléia Constituinte fará as vezes do
Congresso por 120 dias, até que uma nova legislatura seja eleita.
Este modelo pressupõe uma profunda revisão dos papéis do Estado e do setor privado
como motores do desenvolvimento econômico do país, principalmente no que se refere
a setores considerados estratégicos da economia — petróleo, telecomunicações, eletri-
cidade, estradas, água e minerais. Segundo a nova constituição, estes setores devem
permanecer sob controle do governo, mesmo que não necessariamente sob sua admi-
nistração direta. Esta diretriz vem orientando a renegociação de contratos de exploração
de poços de petróleo e minas, além de concessões de telecomunicação, atualmente em
curso no país.
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Do ponto de vista das relações externas do Equador, a nova constituição proíbe a pre-
sença de bases militares estrangeiras em território nacional, assim como a arbitragem
internacional em futuras disputas contratuais com empresas multinacionais. Ela declara
os recursos naturais do Equador como propriedade do Estado, prevendo a participação
privada (em sua maioria, estrangeira) na exploração desde que "os benefícios de apro-
veitamento do Estado não sejam inferiores aos da empresa exploradora".18 Por fim, a
nova constituição condiciona o pagamento da dívida externa à capacidade do governo
de investir em políticas sociais.
Todas essas medidas estão em linha com uma mudança na configuração de poder envol-
vendo a situação de trabalhadores, da população mais pobre do país e do empresariado
equatoriano. Por esta razão, a nova constituição vem recebendo duras críticas de enti-
dades empresariais do país, tais como a Associação de Bancos Privados do Equador, a
Câmara de Industriais de Pichincha, a Fedecâmaras de Comércio do Equador, e o Comitê
Empresarial do Equador, entre outras, apesar de contar com amplo apoio popular.
A agenda externa do governo de Rafael Correa vem sendo marcada por iniciativas desa-
fiadoras com respeito aos Estados Unidos, seu principal parceiro comercial, diferenciando-
se daquela de seus antecessores tanto em termos de suas relações com empresas ame-
ricanas que investem no país, como do papel que deve ser exercido pelo Equador nas
operações americanas de combate ao narcotráfico na região. Além disso, o governo Cor-
rea suspendeu negociações para a assinatura de um tratado de livre comércio (TLC) com
os Estados Unidos, embora venha se esforçando por manter os termos comerciais fa-
voráveis assegurados pelo "Andean Trade Promotion and Drug Eradication Act"(ATPDEA)
com o país.
18 Fonte: O Globo, 29/09/2008.
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A resolução de um conflito histórico com o Peru no final da década de 1990 abriu espaço,
na agenda externa do país, para a exploração de novos temas ligados à integração
regional. Por outro lado, esta agenda vem sendo recentemente dominada por questões
de fronteira com a Colômbia, principalmente depois da destruição de um acampamento
das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARCs) no Equador, e que deu início
a uma das mais sérias crises políticas na história dos dois países.
Um novo período na agenda externa equatoriana Desde o início de sua vida repu-
blicana, o Equador manteve uma disputa territorial com o Peru a respeito de demarcação
de oitenta quilômetros de fronteira. Esta disputa, que monopolizou a agenda interna-
cional do Equador desde a década de 1940 e levou os dois países à guerra em 1941 e
1995, solucionou-se em 1998, quando foi selado um acordo de paz dando fim ao conflito.
Desde o acordo, foi desenvolvida uma variedade de projetos comuns entre Equador e
Peru — mais de 500 deles executados na fronteira — e o comércio entre os dois países
multiplicou-se (US$ 1,2 bilhões em 2005, comparados com US$ 260 milhões em 1999).
Atualmente, a diplomacia equatoriana dedica-se a assegurar a completa implementação
dos Acordos de Paz de 1998 e a fortalecer a integração econômica com o país vizinho,
com ênfase na área de energia, turismo e comércio.20 É interessante notar, contudo,
que até 2006 o Peru ainda era considerado o país menos amigo do Equador, tendo
sido citado por 30% dos equatorianos entrevistados pelo Latinobarômetro (seguido dos
Estados Unidos, com apenas 12% das menções).
A solução da questão territorial com o Peru, que historicamente ocupou um papel cen-
tral na agenda externa equatoriana, motivou uma revisão das metas estratégicas da
política exterior do país, o que veio a se concluir entre novembro de 2005 e novembro
de 2006. Neste período, o Ministério de Relações Exteriores, Comércio e Integração do
Equador promoveu uma série de seminários com a participação das principais forças
19 Este aspecto foi ressaltado em entrevista com economista da Corporación Andina de Fomento, que deu
o exemplo do tratamento diferenciado concedido pelo governo equatoriano à estatal brasileira Petrobrás em
comparação à empresa americana Occidental. Esta questão é descrita mais adiante neste estudo.
20 Fonte: Governo Equatoriano, Plano Nacional de Política Exterior (PLANEX 2020).
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Dois temas dominam a agenda equatoriana em termos de suas relações políticas com
os Estados Unidos. O primeiro deles refere-se às condições de vida e ao respeito aos
direitos humanos de cidadãos equatorianos lá residentes, bem como à regularização da
permanência desses cidadãos naquele país, por meio de ações diplomáticas. Com vistas
à consecução destes objetivos, o governo equatoriano mostra-se disposto a recorrer a
negociações com a sociedade civil americana e a submeter apelos a cortes americanas
e a fóruns internacionais de direitos humanos.
O segundo tema predominante nas relações entre Equador e Estados Unidos refere-
se às operações americanas na base militar de Manta. Em 1998, durante o governo
do ex-presidente Jamil Mahuad, foi firmado um acordo permitindo o acesso e uso das
instalações da base da Força Aérea equatoriana em Manta para operações americanas
anti-narcóticos. Segundo diretor da FLACSO Equador Adrián Bonilla, o convênio foi
firmado em um momento de desespero, por um governo que necessitava urgentemente
de um empréstimo do FMI.23
A Base de Manta situa-se a vinte minutos de vôo das principais áreas de conflito co-
lombiano e representa uma posição estratégica para o controle militar do conjunto do
Pacífico Sul, do Canal do Panamá e da América Central, o que desde o princípio do acordo
22 Fonte: Entrevistas realizadas para este estudo, setembro de 2008.
23 Fonte: Washington Post, 04/09/2008.
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Em julho deste ano, o governo equatoriano notificou os Estados Unidos para que desa-
lojem as cerca de trezentas tropas instaladas na Base de Manta até novembro de 2009,
data em que o convênio deveria ser renovado. Especula-se que o governo americano,
em contrapartida, venha considerando a possibilidade de transferir suas operações de
Manta para países vizinhos tais como a Colômbia, ou o Peru.
18
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Segundo o Latinobarômetro 2006, os Estados Unidos são o país mais citado por equato-
rianos como maior amigo do país (16.2% da menções), seguido da Espanha (11,6%). Ao
mesmo tempo, o país é apontado, também, como o segundo menos amigo do Equador
(11,7% dos entrevistados), à frente apenas do Peru.
40
Boa
50
20
40
0
30
Ruim
−20
20
10
Ótima
−40
Péssima
0
ARG VEN BOL MEX BRA URU ECU CHI PER COL 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
(a) Aprovação dos Estados Unidos em 2006 (b) Opinião dos Equatorianos sobre os Estados Unidos
Reconhecida essa contradição, contudo, é interessante notar que o percentual dos equa-
torianos que aponta os Estados Unidos como país mais amigo já foi de praticamente o
dobro (30,1%) em 1998, indicando uma tendência decadente da imagem americana no
Equador. Os Estados Unidos são adicionalmente citados como investidor preferido, com
26.8% das respostas, embora a maioria dos entrevistados afirme que o país tem pouco
ou nenhum interesse (69,0%), e tampouco respeito (68,0%), pelo Equador. A Figura
5(a) compara a opinião dos equatorianos sobre os Estados Unidos em 2006 com aquela
observada em outros países latino-americanos no mesmo ano, enquanto a Figura 5(b)
mostra a variação temporal desta opinião.25
25 O gráfico (a) refere-se à pergunta: "¿Tiene Ud. una muy buena, buena, mala o muy mala opinión sobre
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Embora o uso desses sprays herbicidas já viesse, de longa data, gerando atritos entre os
dois países, estes têm aumentado tremendamente desde a posse do presidente Rafael
Correa. Isto se deve às acusações feitas, pelo governo colombiano, de que o atual
governo do Equador estaria concedendo apoio à operação das FARCs em seu território.
Historicamente, não é incomum que guerrilheiros das FARCs atravessem a fronteira com
o Equador em busca de proteção contra ataques do governo colombiano. Por outro lado,
o governo equatoriano sempre se mostrou relutante quanto a investir em segurança na
fronteira, creditando à Colômbia a responsabilidade de evitar essas travessias. Além dos
dissidentes, também o exército colombiano muitas vezes invade regiões fronteiriças do
Equador em seu esforço de deter a ação dos revolucionários de seu país, o que contribui
para o aumento da tensão entre os dois vizinhos.
O mais recente episódio da crise entre Colômbia e Equador em torno da questão das
FARCs ocorreu em março de 2008, quando o governo colombiano assassinou o líder Raul
Reyes, além de outras vinte e cinco pessoas, em um bombardeio a um acampamento
da organização em Angostura, território equatoriano. Depois desse ataque, houve uma
escalada dos conflitos entre Colômbia e Equador, primeiramente pela invasão do ter-
ritório equatoriano por parte do governo colombiano, o que por si só levanta questões
EE.UU.?", e o gráfico (b) mostra a diferença entre opiniões positivas ("buena"e "muy buena") e negativas
("mala"e "muy mala") a respeito dos Estados Unidos.
20
Estudos e Cenários | out. 2008
Em meio a este impasse, acredita-se que o veredito da Interpol deva prolongar a crise
diplomática entre os dois países, com a Colômbia fazendo uso do relatório para desa-
creditar o governo equatoriano, enquanto este se defenderia desqualificando a auditoria
externa. A crise vem tomando proporções internacionais, demonstradas pela presença
do Alto Comissário para Segurança e Política Externa da União Européia, Javier Solana,
na apresentação do relatório da Interpol em Bogotá. Sanções por parte das Nações Uni-
das ao Equador, no entanto, não são esperadas, já que a Rússia, aliada da Venezuela,
tenderia a vetá-las.
Analistas equatorianos esperam que surjam pressões para a investigação das relações
do governo Correa com as FARCs, com o intuito de descobrir se o ministério da segu-
rança de fato ofereceu um ambiente permissivo para o desenvolvimento de atividades
guerrilheiras no Equador ou, ainda, se as FARCs financiaram o partido do presidente
ou seus simpatizantes. Contudo, o fato de que o procurador público responsável pelo
caso foi indicado pela Assembléia Constituinte e alinha-se com o Executivo, reduz as
perspectivas de que tais pressões tenham desdobramentos reais.26
26 Fonte: Analytica, Equador Weekly Report.
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Soma-se a isso o fato de que, apesar de sua relevância econômica para o Equador, a
Colômbia figura apenas em quinto lugar entre os países com os quais cidadãos equato-
rianos desejariam ver o governo estabelecer acordos de cooperação. O atual presidente
colombiano, Álvaro Uribe, é o segundo presidente latino-americano pior avaliado pelos
equatorianos, à frente apenas do peruano Alan Garcia.29
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Por fim, é curioso notar que, apesar da notória aproximação política e econômica com a
Venezuela, o governo equatoriano vêm sistematicamente postergando sua entrada na
30 Fonte: Analytica, Ecuador Weekly Report.
31 Fonte: Folha de São Paulo, 16/07/2008.
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Por outro lado, dados do Latinobarômetro 2006 mostram que Chávez divide as opiniões
dos equatorianos, com alto índice de aprovação — Chávez é hoje o segundo presidente
latino-americano melhor avaliado pelos equatorianos, com 21.6% de aprovação, super-
ado apenas por Fidel Castro, com 24.7% — mas também alta rejeição. Comparado a
outros países da América Latina, o apoio equatoriano à Chávez — diferença entre os que
aprovam e desaprovam o presidente — encontra-se acima da média da região (Figura
??).
Por fim, a Figura 6(b) indica que a avaliação de Chávez no Equador, em relação a outros
presidentes latino-americanos, é mediana. Ressalte-se, desta Figura, o fato de que o
líder mais rejeitado no Equador é o americano George Bush, enquanto o mais aprovado
é o presidente brasileiro Lula da Silva.
30
5
20
10
0
0
−5
−10
−20
−10
−30
−40
PER CHI COL MEX BRA BOL URU ECU ARG VEN Bush Garcia Uribe Chavez Morales Castro Lula
(a) Apoio a Chávez em Países Latinoamericanos (b) Avaliação dos Equatorianos a Respeito de Líderes
Regionais
Fonte: Latinobarômetro.
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Estudos e Cenários | out. 2008
No que concerne à integração econômica, o país tem por meta reduzir sua vulnerabili-
dade externa através da diversificação da pauta de exportações, bem como dos parceiros
no mercado internacional. Por meio da associação a países com interesses semelhantes,
principalmente os latino-americanos, o Equador pretende reforçar sua capacidade de
negociação em fóruns internacionais e alargar os mercados para seus produtos, de-
fendendo a eliminação de subsídios e medidas anti-dumping que comprometem sua
competitividade em mercados internacionais.
Tratado de Livre Comércio com Estados Unidos O tema predominante nas relações
econômicas entre Equador e Estados Unidos refere-se à perspectiva de assinatura de um
tratado de livre comércio (TLC) entre os dois países. Esta iniciativa fracassou durante
o governo de Lucio Gutierrez, e encontra-se suspensa após a posse de Rafael Correa,
que alega desvantagens para seu país, advindas da proteção de direitos americanos de
propriedade intelectual e da exposição do Equador à competição com produtos agrícolas
subsidiados pelo governo americano. Não obstante, interessa ao Equador firmar acordos
que assegurem um melhor acesso de produtos locais ao mercado consumidor americano
e que reduzam as incertezas envolvidas nas transações comerciais entre os dois países.
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Estudos e Cenários | out. 2008
tarifárias e não tarifárias por parte dos Estados Unidos e de qualquer condição alheia
ao comércio — tal como cooperação em políticas anti-drogas, migração, entre outras —
nas negociações comerciais.
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Estudos e Cenários | out. 2008
capital.34
Atualmente, o Equador ainda se encontra sob a vigência do Andean Trade Promotion and
Drug Eradication Act (ATPDEA). Segundo esse acordo, o país obtém acesso preferencial
para mais de cinco mil produtos ao mercado americano, sob as condições de colaborar
com o país na erradicação do narcotráfico na região. A vigência do ATPDEA termina ao
final de 2008, e o governo equatoriano vem renegociando sua extensão por mais um
ano. Esta, já foi aprovada pelo Congresso americano, mas ainda precisará ser ratificada
pelo Senado e pela presidência até sua oficialização.
Fatos como a não-renovação do contrato para uso militar americano da base equatoriana
de Manta, além dos processos movidos contra o Equador em instâncias internacionais
de arbitragem por empresas americanas tais como Occidental e Duke Energy, e do pro-
cesso que equatorianos movem contra a Chevron, contudo, sugerem que a renovação
do ATPDEA para o país não será um processo simples.
Recentemente, Rafael Correa denunciou a Chevron por fazer lobby no Congresso ame-
ricano contra a extensão do ATPDEA no Equador, buscando desencorajar o governo
equatoriano a apoiar o processo movido, contra a empresa, por comunidades amazôni-
cas.
Por fim, a assinatura de tratados de livre comércio entre Estados Unidos e Peru, e possi-
velmente com a Colômbia, além do precedente gerado pela rejeição do ATPDEA no caso
da Bolívia, também contribuem para aumentar as incertezas relativas à renovação deste
tratado no que concerne ao Equador.
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Estudos e Cenários | out. 2008
Um problema que o Equador vem enfrentando, com respeito à CAN, refere-se ao esta-
belecimento de acordos entre países da Comunidade e terceiros, tais como o G-3, do
qual participam Colômbia, México e Venezuela.
Como exemplo, o relatório cita o caso de extratos e concentrados de café, cujas ex-
portações foram substancialmente afetadas pela implementação do G-3. Depois de seu
estabelecimento, a Colômbia incrementou suas exportações para membros do grupo
em US$ 1,9 milhões, enquanto o Equador as viu reduzidas em US$ 2,3 milhões. Isso
se explica pelo fato de que as exportações colombianas encontram-se livres de taxas,
enquanto o Equador está sujeito a um imposto de 53%. Caso semelhante ocorreu com
camisetas de algodão, produto pelo qual a Colômbia não paga mais impostos, enquanto
o Equador paga uma taxa de 35%. Com isso, a Colômbia conseguiu aumentar suas ex-
portações de camisetas para o México de US$ 587 mil para US$ 3,3 milhões, enquanto
o Equador viu suas vendas reduzidas de US$ 431 mil para US$ 56 mil.
Por fim, juntamente com Venezuela, Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai, o Equador
36 PLANEX 2020, objetivos regionais, p.50.
37 Fonte: Cámara de Industriales de Pichincha, "Bases para un Ecuador Productivo".
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encontra-se envolvido na criação do Banco del Sur,38 iniciativa lançada pelo presidente
da Venezuela Hugo Chávez e destinada a promover a integração regional através do
financiamento de infra-estrutura e projetos na área energética. Com o Banco del Sur, os
governos envolvidos pretendem reduzir a influência política de instituições financeiras
internacionais (as chamadas IFIs) na América Latina, e eliminar o poder de veto de
países de fora da região quanto a empréstimos destinados à América Latina (como ocorre
no Banco Inter-Americano de Desenvolvimento e no Banco Mundial). A proposta vigente
consiste em levantar US$ 7 bilhões dos governos acionistas, sendo que a Venezuela
já ofereceu US$ 1,4 bilhões de sua parte. Caso esta proposta seja formalizada, as
contribuições latino-americanas para o Banco del Sur superarão àquelas feitas ao BID por
estes mesmos países. Várias questões ainda precisam ser definidas, contudo, para que
o Banco del Sur efetivamente entre em operação. Algumas delas são: sua estrutura de
governança, critérios para participação e empréstimos, garantias envolvidas, e políticas
de salva-guarda.
Outros Potenciais Mercados Uma vez determinado a não avançar com as nego-
ciações de um tratado de livre comércio com os Estados Unidos, o governo de Rafael
Correa anunciou o interesse de aproximar-se comercialmente de parceiros como a União
Européia, países do Oriente Médio e Ásia. Nenhum acordo comercial foi realizado, no
entanto, até o momento.
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Recentemente, o Equador, que planejava aumentar a produção de 500 para 520 mil
barris/dia em 2009, acatou a decisão da OPEP de, ao invés disso, cortá-la em 7 mil
barris/dia. A medida foi tomada em função da queda abrupta dos preços do petróleo, e
suscitou críticas entre opositores da entrada do país na organização.39
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para aumentar a margem de manobra do governo, que busca compensar a redução dos
investimentos privados por meio de maiores injeções de capital na Petroecuador e em
outros projetos públicos de infra-estrutura.
35 Petróleo
Mineração
30 Eletricidade
25
20
15
10
0
Nenhuma Minoritária Majoritária Total
Fonte: Latinobarômetro.
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que a maioria dos entrevistados não apresenta, a princípio, objeções à presença de in-
vestidores estrangeiros no Equador, mesmo em setores considerados estratégicos para
a economia, tais como energia e mineração. O Gráfico 6 resume o tipo de participação
estrangeira considerada desejável pelos entrevistados do Latinobarômetro 2006, e evi-
dencia a preferência dos equatorianos por relações de parceria entre capital externo e
nacional.
A mineração ainda é uma atividade pouco desenvolvida no Equador, mas novos depósitos
foram descobertos recentemente, e estimados no valor de US$ 100 e 200 bilhões. Em
decorrência destas descobertas, o país vem se preparando para um boom minerador
que, calcula-se, poderá gerar exportações da ordem de US$ 3-4 bilhões por ano, na
próxima década.
Além disso, o mandato promulgado pela Assembéia Constituinte limitava em três o nú-
mero de concessões que uma mesma empresa poderia operar no Equador, impondo
com isto limites na exploração de larga escala por empresas multinacionais, além de
determinar a criação de uma empresa estatal de mineração, parcialmente financiada
pela Agência de Seguridade Social (IESS).
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Estudos e Cenários | out. 2008
Estima-se que mais de quatro mil concessões tenham sido afetadas por esta decisão,
entre elas as operadas por empresas tais como a Cornerstone Metals, que ainda se
encontravam em fase exploratória. Outras mineradoras canadenses em operação no
país, entre elas a Canadian Juniors Ecuacorriente, Lamgold, Dynasty Metals e Aurelian,
tiveram suas concessões apenas suspensas, mas não revogadas. A reação das empre-
sas mineradoras foi a de pressionar o governo com a ameaça de demitir funcionários
por conta da paralisação de suas atividades, e eventualmente acionar o Equador em
instâncias de arbitragem internacional.
O governo, por sua vez, convocou as empresas a participar do desenho da nova institu-
cionalidade do setor de mineração, e vem respondendo a ameaças de demissão em larga
escala, e aos decorrentes protestos de organizações trabalhadoras, com a promessa de
realocar profissionais do setor no serviço público.
Em julho, no entanto, o governo anunciou as linhas gerais da nova lei mineradora, e que
foi considerada por analistas econômicos como relativamente favorável a investidores
privados no setor. De acordo com a nova proposta, estabelece-se royalties na faixa
de 3-8% a ser pagos pelas mineradoras ao Estado equatoriano, e que devem cair com
a quantidade de minerais extraídos, variando com níveis de produção. Com o intuito
de evitar o veto de comunidades locais a novos projetos, a lei estabelece a consulta a
essas comunidades, antes de seu início.41 A lei também não exige, como temido por
empresários do setor, que empresas privadas necessariamente se aliem à recém-criada
estatal, como condição para presença no setor, e não estipula qualquer limitação ao
número de concessões exploradas por cada empresa.
São criadas, no entanto, áreas preferenciais onde a recém criada estatal terá prioridade
na exploração. Contratos serão estabelecidos em oito anos, e renováveis por mais dois,
e as disputas contratuais entre empresas mineradoras serão resolvidas por tribunais
latino-americanos.42
41 Analistas creditam à saída de Alberto Acosta da presidência da constituinte o enfraquecimento da posição
http://www.cme.org.ec/portal/.
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Desde o início de seu governo, o presidente Rafael Correa vem tratando como prioridade
a renegociação dos contratos de exploração de petróleo no Equador. A primeira iniciativa
neste sentido, ocorrida no início de 2008, foi o estabelecimento de um acordo entre o
Ministério de Minas e Energia e multinacionais petroleiras (Petrobrás, Repsol, Perenco
e Andes Petroleum). Este acordo, entretanto, foi vetado pelo presidente Rafael Correa
na metade de abril, e uma nova proposta foi apresentada, encontrando-se atualmente
em processo de negociação. Entre os grandes temas incluídos na proposta do governo
equatoriano para o setor petroleiro, estão:
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Estudos e Cenários | out. 2008
entre contratos, uma vez que ele não é compatível com um contrato de prestação de
serviços.
A resposta das empresas com relação ao novo modelo do setor petroleiro tem sido va-
riada. Enquanto a Murphy Oil, que detém uma parcela minoritária no Bloco 16, decidiu
levar o Equador à arbitragem internacional, a City Oriente preferiu uma compensação
de US$ 69 milhões para transferir sua operação para o governo. Por outro lado, a Rep-
sol YPF, a Andes Petroleum e a Perenco já aceitaram firmar contratos de participação
compartilhada. Para isso a Repsol renunciou a três demandas de arbitragem que pos-
suía no ICSID do Banco Mundial, o que foi comemorado como uma vitória significativa
do governo equatoriano. A última empresa a fechar a renegociação de contratos com
o governo equatoriano será a Petrobrás. O acordo final vem sendo postergado pela
empresa, que, no entanto, em agosto de 2008, enviou uma delegação ao Equador para
aceitar os termos propostos pelo governo, inclusive dispensando um contrato transitório
e seguindo diretamente a um acordo de prestação de serviço.44
Atualmente, a Petrobrás explora o óleo descoberto no Bloco 31, opera o campo unificado
de Palo Azul e faz extração no Bloco 18. A empresa tem também participação de 11,42%
no Oleoduto de Crus Pesados (OCP), que transporta óleo da bacia do Oriente Equatoriano
até o Pacífico.
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Estudos e Cenários | out. 2008
Desde o início, essa operação provocou duras críticas de ambientalistas dentro e fora
do Equador. Localmente, ambientalistas e movimentos indígenas representados pela
CONAIE vêm impetrando ações judiciais que visam impedir a exploração petroleira em
Yasuní. As organizações contrárias ao projeto argumentam que este interferirá em uma
área de preservação ambiental e trará problemas tais como o manejo da água conta-
minada extraída junto como o petróleo. A Petrobrás, por sua vez, defende sua atuação
ressaltando que a área devastada em função do projeto será um pouco menor do que
cem hectares, ou cerca de apenas 0,007% da área total do parque, e que o projeto terá
impactos positivos para a população local.45
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Estudos e Cenários | out. 2008
Por fim, a operação da Petrobrás no campo de Palo Azul também foi questionada pelo
governo equatoriano, e encontra-se sob avaliação da consultoria Gaffney Cline.
5.3 Telecomunicações
O governo de Rafael Correa aprovou, em abril, a renovação por quinze anos do contrato
da Telefônica no país, depois que a empresa aceitou pagar US$ 200 milhões pela con-
cessão e investir US$ 400 milhões nos próximos dois anos. A espanhola Telefônica detém
1/3 do mercado equatoriano.
O acordo significou uma vitória não apenas econômica, mas também política para Rafael
Correa. Do ponto de vista econômico, o governo demonstrou seu poder de barganha
renovando a concessão por um valor praticamente idêntico àquele de sua posição inicial,
e muito superior ao da primeira oferta feita pela empresa. Além disso, garantiu um fluxo
relevante de investimento externo para o país no curto e médio prazos.
entre o presidente Rafael Correa e a Porta. Anteriormente, Calderón apoiou a resolução da OAS condenando o
ataque do governo colombiano ao acampamento das FARCs no Equador. Este evento exemplifica a crescente
interdependência entre esferas geopolítica e empresarial na América Latina. Fonte: Analytica, Ecuador Weekly
Report.
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Segundo a Odebrecht, ''os reparos necessários à usina hidrelétrica de San Francisco po-
deriam ser decorrentes de questões relacionadas a várias causas: o projeto, a constru-
ção, a operação ou até aos eventos da natureza, como o ocorrido com a erupção do
vulcão Tungurahua, situado a poucos quilômetros da hidrelétrica."49 A empresa afirma
que, ''independentemente das devidas averiguações das causas e respectivas respon-
sabilidades de todas as partes envolvidas, o Consórcio Construtor, com a liderança da
Odebrecht, tomou, imediatamente, as devidas providências. Por sua conta, mobilizou
todos os meios ao seu alcance para efetuar tais reparos dentro do prazo mais curto
possível, tendo concluído os trabalhos na primeira semana de outubro. Além disso, a
Odebrecht sempre se colocou e continua à disposição do Governo Equatoriano para que
tais averiguações sejam feitas por instituição independente."
Além da expulsão da Odebrecht, o governo promoveu uma ocupação militar das insta-
lações da hidroelétrica, impediu os principais executivos da empresa de sair do país e
ameaçou apropriar todos os ativos da empresa, que atua em projetos estimados em um
total de US$ 650 milhões, os quais empregam um total 3.800 funcionários no Equador.
49 Nota de Esclarecimento divulgada pela Organização Odebrecht em jornais de grande circulação no Brasil,
17/11/2008.
50 A Odebrecht nega haver recebido qualquer bônus, mas apenas o ressarcimento dos custos decorrentes da
aceleração do prazo.
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Estudos e Cenários | out. 2008
Por fim, Rafael Correa acenou com a possibilidade de não pagar o empréstimo de cerca
de US$ 242 milhões realizado pelo BNDES para atividades de construção da hidroelé-
trica, o que pode vir a desencadear um conflito de sérias proporções com o governo
brasileiro, comprometendo os objetivos equatorianos de alinhar-se ao país com vistas
ao fortalecimento da integração regional.
Conclusão
Este estudo teve por objetivo expor os principais temas da agenda internacional do
Equador, bem como a perspectiva de diferentes atores políticos e econômicos sobre
estes assuntos — entre eles o grupo governante, associações empresariais e financeiras,
e movimentos indígenas e trabalhadores organizados. Entre as questões abordadas,
estiveram as relações do Equador com vizinhos estratégicos, tais como Estados Unidos,
Colômbia e Venezuela, a integração econômica regional, e a estratégia do atual governo
com relação ao capital estrangeiro investido no país.
Com respeito às suas relações externas, evidenciou-se a crescente tensão política entre
Equador e Colômbia, agravada após o assassinato do líder Raul Reyes, em um ataque do
governo colombiano a um acampamento das FARCs em território equatoriano. Apontou-
se, também, para a importância adquirida por emigrantes equatorianos, cujos fluxos
aceleraram-se significativamente depois de 1999, e que hoje são responsáveis pela se-
gunda maior fonte de divisas do Equador. Por fim, ressaltou-se o impacto da não-
renovação das operações americanas contra o narcotráfico na base aérea equatoriana
de Manta, e a crescente aproximação política e econômica com a Venezuela.
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paralelo, contudo, a esforços pela renovação das vantagens comerciais promovidas pelo
ATPDEA. Enfatizou-se, além disso, a estratégia de fortalecimento das relações econômi-
cas do Equador com outros países latino-americanos, seja através de um esforço para
o aprofundamento da Comunidade Andina de Nações, de sua integração com o Merco-
sul, ou de iniciativas que visam a integração financeira via uma moeda comum, além
da participação na criação do Banco del Sur. Embora seja considerada uma prioridade
para a CAN, o estudo apontou também para as dificuldades envolvidas no avanço da
integração econômica com a União Européia. Estas ocorrem, não apenas em função
do protecionismo europeu no caso de produtos-chave da exportação equatoriana, mas
também das divergências, internas à CAN, com relação a que nível e forma de integração
seriam desejáveis.
Por fim, esta análise apontou para uma mudança substancial nas relações entre o go-
verno equatoriano e investidores externos sediados no país, especialmente no que se
refere a setores considerados estratégicos, tais como petróleo, mineração e concessões
de serviços públicos. O Equador vem atravessando um período de intensa revisão do
papel do Estado vis-à-vis empresariado na economia, e o governo vem se valendo dos
altos preços do petróleo e de abundantes receitas públicas para renegociar contratos de
forma vantajosa para o país no longo prazo. Note-se que nestas negociações, apesar da
postura em geral inflexível adotada pelo governo equatoriano, pode-se observar um tra-
tamento, até o momento, diferenciado em relação a multinacionais públicas e privadas.
Esta diferenciação vem se fazendo notar, também, quando se considera a prioridade
concedida pela política externa equatoriana a diferentes regiões/países, o que consti-
tui mais uma evidência da crescente interdependência entre as esferas geopolítica e
empresarial na América Latina.
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Referências
Todo as referências jornalísticas foram obtidas através do Lexis Nexis, no endereço eletrônico
http://web.lexis-nexis.com/.
Outras Referências
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