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EMBRULHADO PARA PRESENTE?

FOTOGRAFIA, CONSUMO E CULTURA VISUAL NO BRASIL (1930-1960)

Embrulhado para presente?


Fotografia, consumo e cultura visual no
Brasil (1930-1960)

Ana Maria Mauad


Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e Pós-doutorado no Museu Paulista
da Universidade de São Paulo (USP). Professora Associada do Departamento de História da UFF,
pesquisadora do LABHOI/UFF e do CNPq. Trabalho desenvolvido no âmbito do projeto: “Memórias do
Contemporâneo: narrativas e imagens do fotojornalismo brasileiro”, CNPq 2005-2008. É autora de,
entre outras publicações, Sob o signo da imagem: A produção da fotografia e o controle dos códigos de
representação social, da classe dominante, na cidade do Rio de Janeiro. 1. ed. Niterói: LABHOI/UFF, 2002.

RESUMO
O texto analisa a crescente influência cultural norte-americana nos padrões de consumo de
massa, enfatizando o estudo da relação entre fotografia e publicidade nas revistas ilustradas,
no período de 1930 a 1960. Abordam-se os aspectos políticos da elaboração da política da
Boa Vizinhança e suas relações com a cultura do consumo; destaca-se na análise das imagens
a dimensão intertextual da expressão visual na produção do imaginário consumista.
PALAVRAS-CHAVE: fotografia; publicidade; cultura do consumo.

ABSTRACT
The work analyses the increasing US cultural influence on the patterns of mass consuming,
stressing the study of the relationship between photographs and publicity at the illustrated
magazines, during the years 1930-1960. It is considered the political aspects of the Good
Neighbor Policy and its relations with the consumption culture; concerned to the analyses of
the images it is emphasized the intertextual dimensions of visual expression on the building of
consumption imaginary.
KEY WORDS: photography; publicity; consumption culture.

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Embrulhado para presente?


Fotografia, consumo e cultura visual no Brasil (1930-1960)

Primeiro fomos mais ou menos lisboetas, que não tem nada de espontânea e que
com o mundanismo. Depois londrinos e
contou com um massivo investimento de
parisienses, agora somos new-yorquinos e
hollywoodenses. O que chamava negócios e publicidade para que pudesse
antigamente de ‘sarau’ passou a ser ‘soirée’ resultar nesta quase unanimidade nacional.
e hoje em dia é ‘party’[...]. No tempo do O Tio Sam teve data e estratégia planejada
binóculo floresceu nossa primeira linhagem
de elegantes republicanos. O asfalto, depois de entrada no Brasil, impondo aos brasileiros,
o automóvel fizeram o resto[...]. Hoje desde sua chegada à adequação dos seus
poderíamos dizer: o Rio ‘grows well’ ou se padrões de consumo e sociabilidade à nova
acharem o adjetivo ‘smart’ também já foi
lógica da internacionalização cultural.
vocábulo elegante usado antes de 1914,
poderão fazer uma tradução mais moderna Com base na doutrina do destino
– ‘Rio grows swell’. (Revista Rio Ilustrado, manifesto a cultura norte-americana cunhou
n°170/171, agosto/setembro, 1953.) sua auto-imagem, fundamental para a
elaboração do mito americano. Um mito que
A capital brasileira em 1953, ano em que tinha como missão espalhar os verdadeiros
foi publicado este comentário já poderia ser sentimentos da América, através dos seus
considerada uma cidade cuja paisagem já sonhos de perfectibilidade. Tal estratégia
havia sofrido a mímesis do “american-way- pautava a política externa norte-americana
of life”. A nova paisagem tinha como ícone a numa moral, que concebe a América do
Cinelândia, cujos letreiros grandiosos dos Norte como o local da perfeição e que
cinemas anunciando o último lançamento de compreende a sua intervenção, em outras
Hollywood, não deixava o cidadão comum regiões do mundo, como a tentativa de
esquecer quem ditava as modas e os estender tal perfeição. Os pilares deste sonho
comportamentos up-to-date; ou ainda a av. de perfectibilidade seriam a Democracia e a
Presidente Vargas, a mais nova artéria dos Liberdade introduzidas pela homogeneização
negócios, cuja arquitetura calcada no cimento cultural (DONOGHUE, D. et al., 1993), como
armado das marquises e nas várias pistas de mais um produto a ser consumido.
rolamento para automóveis, não deixava o A influência que já vinha se delineando
pedestre esquecer, o ritmo acelerado dos dentro da perspectiva da doutrina Monroe,
novos tempos. com o avanço do nazi-facismo, ganhou um
Já se tornou quase um senso comum, hoje perfil institucional. Em 16 de agosto de 1940
em dia, falar da influência norte-americana foi criado o Office of Commercial and Cultural
nos nossos hábitos e comportamentos Relations between the American Republics,
cotidianos. No entanto, o que hoje passa a passando a se chamar a partir de 1941, Office
incomodar aos mais preocupados com a of the Coordinator of Inter-american Affairs,
homogeneização cultural, possui uma história chefiado por Nelson Rockfeller.

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Este órgão tinha como função redefinem o padrão publicitário da época


implementar a política de boa vizinhança atuando como um eficiente canal de
norte-americana na América Latina. Em linhas penetração cultural norte-americana, no mais
gerais a solidariedade hemisférica visava elementar da vida cotidiana: os hábitos de
garantir a posição estratégica dos aliados no consumo e padrão de sociabilidade.
Cone Sul, a partir do avanço das forças do Vale, ainda sim, uma ressalva em relação
eixo no Pacífico. No Brasil o Office of Inter- à forma que a transmissão e recepção de
American Affairs contava com o apoio da valores culturais de um país para o outro
embaixada norte-americana e com a assume. O debate sobre culturas subalternas,
participação de grandes firmas dos EUA, resistência cultural ou alienação foi
dentre as quais: General Eletric, a General amplamente renovado nos anos oitenta,
Motors, a Light and Power Co, The National desde um conjunto de reflexões latino-
City Bank of NY, entre outros. Todos americanas sobre a condição pós-colonial e
empenhados em ampliar os canais de a capacidade das culturas dominadas
intercâmbio entre o Brasil e os EUA. politicamente enfrentarem a dominação
A política da boa vizinhança surtiu os através de estratégias cotidianas de recepção
efeitos desejados, pois ao fomentar um e apropriação de valores culturais. O pano de
padrão de comportamento, no Brasil, em fundo destas discussões seria o já decantado
compasso aos critérios norte-americanos de debate, mas nem por isso superado, sobre a
modernidade, possibilitou o surgimento de um construção das identidades nacionais.
poder de compra, no país, que a indústria O fundamental a se reter do debate, nos
norte-americana do pós-guerra poderia limites deste trabalho, é a necessidade de se
satisfazer. A estratégia de criar um mercado mapear as estratégias e mecanismos através
latino-americano para os produtos dos EUA dos quais a transmissão dos novos índices
era perfeitamente explicitada entre os culturais é feita e como são aqui apropriados
diretores e figuras de relevo do Office e pelos diferentes agentes culturais. No marco
estimulada pela várias agências de específico da publicidade dentre os anos
publicidade aqui instaladas a partir dos anos 1930 e 1960, no Brasil, os principais itens a
1940. Agências tais como: a S.A. considerar seriam: a formação dos
Interamericana de Propaganda, Mc Cann- publicitários, o controle acionário das
Erickson, Lincoln, Standard, Grant, agências que se instalaram no Brasil no
Continental, para ficar entre as de maior período em questão e a forma que o discurso
destaque, foram as reponsáveis pelas do pan-americanismo é traduzido pela
campanhas publicitárias de empresas norte- propaganda através de diferentes grades de
americanas que invadiam o mercado interpretação cultural.
brasileiro, dentre as quais: a Standard Oil, a A revista Publicidade, editada a partir de
Coca-cola, RCA Victor. 1940, no Rio de Janeiro, utiliza-se das suas
capas para homenagear “os grandes da
A propaganda é a alma do negócio publicidade”. Nas capas figuravam nomes
como Armando Sarmento, diretor da MacCann-
No entanto, vale a pena, nos determos, Erickson no Brasil e na Argentina nos anos 40;
brevemente, sobre a forma como a política Waldemar Augusto da Silva, jornalista
da boa vizinhança e o pan-americanismo profissional e colaborador em periódicos

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internacionais, formado em Economia e “mídia” se tornasse o veículo propagador de


finanças na Columbia University e em vendas novos hábitos de consumo.
pela Salesman Training Asscociation de Chicago; O pan-americanismo na publicidade
T J O’Shea, um norte-americano radicado no também sofreu uma “tradução” necessária
Brasil desde 1914, quando tornou-se sub- para se chegar aos corações e mentes dos
gerente da Scott and Browne Inc., firma consumidores não como algo imposto, mas
produtora dos famosos produtos: Emulsão Scott necessário para a integração do Brasil na
e o sal de frutas Eno; F.C Scouville, outro norte- modernidade ocidental. Mesmo antes dos
americano radicado no Brasil e responsável pelo EUA entrarem na guerra já havia no meio
setor de publicidade da Light; só para citarmos publicitário uma noção clara de que o papel
alguns. Todos eles ou são norte-americanos do Brasil, no jogo das relações internacionais,
radicados no Brasil, ou tiveram sua formação iria modificar-se sensivelmente. Em matéria
profissional feita fora do Brasil, mas todos eles publicada em 1940, Manoel de Vasconcellos,
também fixaram residência no Brasil e um dos colaboradores da revista Publicidade,
procuraram, em seu trabalho, realizar a tarefa reflete sobre a relação entre propaganda e
de traduzir em dialeto local, os valores que se pan-americanismo:
querem universais. Ao mesmo tempo, todos se
A guerra impossibilitou completamente as
conheciam e atuavam num mesmo espaço
excursões turísticas ao Velho Mundo.
social, como editores e colaboradores de revistas Ficaram assim as companhias americanas
de publicidade ou integrantes de associações deste ramo de negócios com um único campo
profissionais, criando uma rede de sociabilidade a explorar, se não quisesse sofrer um
verdadeiro colapso. E lembraram-se então
necessária a elaboração de um campo da América Latina[...] são grandes os motivos
autônomo para a publicidade, capaz de de grande atração desde que a propaganda
conformar sua próprias regras de ação. os revele[...] A despeito de grande projeção,
dos Estados Unidos como força econômica,
As estratégias adotadas expressavam a
sobre a América latina, ela também tem
necessidade de orientar a publicidade para atraído e influenciado os Estados Unidos,
um público receptor que nada tem de passivo, mesmo antes da guerra os forçar a volver os
ao contrário, determina a adequação dos olhos para nós, com mais aguda capacidade
de ver. Bidú Sayão, Guiomar Novais (a quem
formatos de publicidade aos gostos e hábitos a imprensa norte-americana chamou de
já consolidados. Por outro lado, essa mesma maior pianista do mundo), Carmem Miranda,
publicidade, por utilizar a noção de novidade com o “Bando da Lua”, são aquelas duas ,
afirmação de que o Brasil pode mandar para
como base da estruturação da sua
a terra dos dólares artistas incontestáveis –
mensagem, imprime ao cotidiano um novo e esta última, a nossa “pequena notável” (ou
conjunto de comportamentos considerados miss Mai-randa, como dizem os americanos)
emergentes e adequados a um novo tempo uma prova de que temos ritmos exóticos e
originais, de uma cadência dolente ou cheio
que está por vir. dessas belezas de nossas paisagens. É tudo
Nos anos 1940 o mercado editorial de isso o que tem feito com que os norte-
publicações periódicas voltadas para um americanos passem agora a chamar ao Rio
de Janeiro: “the world gayest city”
público específico amplia-se. Anuários de
(Publicidade, Ano 1, março 1940, p.28-29)
publicidade, de imprensa, revistas como
Publicidade e Propaganda passam a ser O articulista continuava sua avaliação
editados com a missão de fazer com que a comentando sobre carnaval, das excelentes

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estações de águas, comparáveis aos seus americanismo durante a Segunda Guerra


congêneres franceses, entre outras belezas Mundial como expôs o jornalista Genival
naturais. Conclui destacando o papel Rebelo, redator do diário Carioca em 1942:
fundamental da propaganda no
entrelaçamento do pan-americanismo aos A idéia do pan-americanismo não é atual[...]
hoje a “good neighbor policy” é
interesses econômicos. Portanto, estabelecia-
simplesmente uma modernização da
se um padrão cultural claro para a divisão Doutrina Monroe [...] o que há de novo, hoje,
internacional da cultura, no qual, Brasil neste gigantesco movimento de maior
ratificava sua posição de país exótico e aproximação e cooperação entre os países
americanos, não é a idéia, que já tem mais
sensual, atualizando sua auto-imagem à luz de um século de existência; é a propaganda
dos padrões de como os outros esperam nos que se tem feito em torno dela (Publicidade,
ver. Fabrica-se um Brasil, neste momento, para Ano 3, fev/mar. 1942, p. 9).
americano ver.
A idéia de assimilar a publicidade comercial Mudança de hábitos....
ao ideário pan-americano foi elaborada através
de uma ativa participação de jornalistas/ O período que vai de 1930 a 1960
publicitários nos fóruns internacionais. No circunscreve uma fase que pode ser
conjunto o que unia as opiniões era o benefício caracterizada por uma gradual mudança no
que o estreitamento dos laços políticos e eixo de influência cultural no Brasil, de
comerciais iria trazer para ambos os lados, mas lisboetas passamos a americanizados,
o que as separava, era justamente o peso de assumindo neste entretempo, nossa fase
cada lado neste novo equilíbrio de forças. A afrancesada dos bulevares e soirées. É
entrada dos Estados Unidos na América justamente nos anos acima delimitados que
Latina, como um todo, sempre foi polêmica e a influência francesa é substituída pela norte-
nada consensual, ora saudada como o nosso americana, que vem calçada num padrão de
passaporte para a modernidade, ora rejeitada consumo de massa.
pela perda da nossa identidade diante do Esse novo modelo de cultura urbana,
imperialismo yankee. repleto de referências internacionais, teve no
Portanto se internamente, a busca pela entrelaçamento cinema/publicidade/
identidade nacional confundia-se com a fotografia, seus principais veículos, para como
valorização da cultura popular, expressa na disse o cronista “subverterem a ordem
equação: musicalidade + belezas naturais+ espiritual do mundo” (Careta, 6/6/1938). A
espírito criativo, externamente deveríamos cultura dos grandes centros urbanos e,
aproveitar a oportunidade dada pela guerra especialmente da Capital Federal, dos anos
para aprendermos, com os yankees, a trinta em diante, inspirava-se nos modelos
desenvolvermos nosso espírito prático, a sonoros de Hollywood, nas imagens da
sermos modernos e industrializados, publicidade de sabonete, cigarro,
aumentando nosso standard de vida através eletrodomésticos, refrigerantes e bebidas, e
de um novo padrão de consumo na sua projeção nas reportagens sociais, numa
O consumo, associado a uma atitude simbiose quase imperceptível entre os
moderna e atualizada e identificado como elementos de significação.
direito de todo o povo livre e democrático, é a “Aloof”, “glamour”, “sophisticated”, “it”,
bandeira da versão reeditada do pan- “sex-appeal”, “yampf”, “temperamental”

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eram imagens associadas à mulher, alvo remédios, indumentária, bebidas, cigarros e


predileto das propagandas que era vista como automóveis esportivos. De um modo geral
ultra-moderna, esportiva, cinematográfica, valorizam-se a juventude responsável, os
tostada de sol, que esconde os olhos nuns valores do trabalho e do lazer regrado.
óculos escuros enormes, faz ginástica pelo Buscou-se caracterizar a relação entre as
rádio em Copacabana, toma drinks no OK, imagens publicitárias (desenhos e/ou
dança no Carlton, freqüenta o sol e o mar fotografias) e as imagens fotográficas
com intimidade, como se vê, o tipo “modern veiculadas pelas revistas ilustradas Careta e
girl”. A mulher brasileira se equipara O Cruzeiro, associadas à representação social
culturalmente com a norte-americana, pois dos comportamentos urbanos, na elaboração
como nove entre dez estrelas de cinema, usa da cultura do consumo. A escolha das imagens
sabonete Lever, possui uma Bendix tem por objetivo demonstrar as homologias
automática, preserva a saúde da sua família na forma da expressão e do conteúdo entre o
num refrigerador GE, desfruta de horas de sistema visual da publicidade e o sistema
lazer com as amigas acompanhadas de uma visual da fotografia de reportagens sociais
coca-cola gelada, compra calças far-west para (coberturas de eventos associados as
seu marido descansar nas férias juntamente vivências das frações da classe dominante).
com as alpargatas Roda, garante uma cota Vale esclarecer que tais escolhas foram feitas
de saúde e alegria de seu filho dando-lhe com base em estudos anteriores (MAUAD,
Toddy que : “gelado no verão e quente no 1990, 2002), onde a análise quantitativa
inverno, proporciona ao organismo os subsidia o uso exemplar das imagens, neste
elementos que dão vigor e bem-estar...o único trabalho.
com extrato de malte” (Vida Doméstica, Observa-se que ao longo do período
dezembro de 1949). Portanto, a imagem da estudado ocorreu uma gradual substituição
mulher construída pela publicidade da época dos desenhos na publicidade, por imagens
é um misto de atriz de Hollywood com dona fotografadas, consolidando-se a forma de
de casa prática e responsável por prover o lar expressão visual de maior efeito de realidade
do conforto e das facilidades de uma vida para fins comerciais. Em entrevista com
doméstica moderna e feliz. fotógrafos profissionais que atuaram no
Em várias matérias publicadas na revista período constatou-se que muitos deles
Publicidade e depois na Propaganda e atuavam tanto no estúdio de retratos e
Negócios o público alvo das publicidades foi cobertura de eventos das camadas
tema de análises cuidadosas. Dentre os vários dominantes da sociedade, como eram
pontos destacados sobressai à mulher como contratados pelas agências de publicidade
o elemento diferenciador no consumo de para fotograr certos produtos. A valorização
produtos para casa, beleza, indumentária, da fotografia para fins publicitários está
alimentação e para os filhos, seguida pela associada a consolidação do campo
família que constitui a célula básica para a fotográfico no século XX, cujas relações de
qual a grande maioria da publicidade é força definiam-se em relação ao acesso ao
direcionada, principalmente a de equipamentos modernos, aos contatos
eletrodomésticos e automóveis. Ao gênero profissionais, a proximidade dos movimentos
masculino ficava reservada a propaganda de artísticos e a inserção na imprensa.

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(Nosso Século, Publicidade, capa interna e contra-capa interna. São Paulo, Abril Cultural, 1980)

Observa-se que nas primeiras décadas do publicitárias e as fotografias dos eventos era
século XX a relação entre imagens construída de forma direta associando o
produto ao evento planejado:

(Careta, 6 de junho de 1908) (Careta, 30 de Dezembro de 1922)

Entretanto, na medida em que o conjunto estética da imagem e a sua retórica,


de experiências “fotografáveis” e o universo incluindo-se homologias entre planos, eixos
de produtos oferecidos ao consumo se e enquadramento; quanto pela valorização
ampliavam, tal estratégia não poderia ser de certas vivências urbanas – como é o caso
mais aplicada. A opção, portanto foi operar carioca da valorização da praia e da região a
por sistemas de semelhanças tanto em beira mar; da juventude e de sua
termos de forma da expressão – associada a informalidade.

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(Careta, 24 de Janeiro de 1942) (Nosso Século, Publicidade, São Paulo, Abril Cultural, 1980)

(Cruzeiro, 7 de Janeiro de 1950) (Nosso Século, Publicidade, São Paulo, Abril Cultural, 1980)

(Cruzeiro, 7 de Janeiro de 1950) (Nosso Século, Publicidade, São Paulo, Abril Cultural, 1980)

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Por fim, o que se observou para o final do impressão, principalmente em cores. No


período, de meados dos anos 1950 em diante, entanto, a explicação estritamente técnica não
foi a valorização da fotografia na imagem é suficiente. Há de se reconhecer a capacidade
publicitária. Esse movimento pode ser explicado da fotografia em apresentar e representar ao
do ponto de vista tecnológico devido ao mesmo tempo, traduzindo fielmente, as formas
barateamento do custo das técnicas de imaginadas de um mundo moderno.

(Nosso Século, Publicidade, São Paulo, Abril Cultural, 1980)

(Nosso Século, Publicidade, São Paulo, Abril Cultural, 1980)

Nesse novo imaginário, o produto e a sua publicitária passa a catalogar objetos como
fruição valem mais do que a figuração, suporte de experiências sociais programadas
evidenciando-se a proeminência do objeto em pela cultura do consumo, associada aos
detrimento dos sujeitos sociais no espaço da padrões da sociedade burguesa ocidental,
representação do consumo. A imagem notadamente, nos desejos embrulhados para
presente pela mundialização.

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