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A prática da pesquisa em Comunicação:


abordagem metodológica como
tomada de decisões
José Luiz Braga

1 Preliminares 1/33
Resumo
O texto toma como eixo a questão prática de como Este estudo foi inicialmente escrito como base
fornecer, na realidade atual dos programas de
para participação em mesa redonda, no V
pós-graduação em Comunicação, apoio para o
encaminhamento metodológico adequado de teses e Seminário Interprogramas da Compós1. A tônica

Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.14, n.1, jan./abr. 2011.
dissertações. Assume que pesquisas empíricas são
um processo formativo essencial para mestrandos e do Seminário, mais que buscar uma acuidade
doutorandos. Considerando a ineficácia da adoção de
conceitual abstrata sobre os temas previstos,
regras metodológicas apriorísticas e rígidas e a grande
variedade de ângulos teóricos e de tipos de objeto na voltava-se para alguns desafios concretos que
área, propõe perspectivas básicas e transversais para
cuidados metodológicos, adequados à diversidade de podem afligir o desempenho formador dos cursos
pesquisas qualitativas. Observa que o abandono das de mestrado e doutorado no país. As outras
regras apriorísticas torna a tomada refletida de decisões
um elemento central do encaminhamento metodológico. duas mesas de debates trataram da seleção de
O artigo oferece reflexões sobre três elementos da
estudantes e das atividades de orientação.
pesquisa: problematização, fundamentação teórica e
observação empírica. Trata finalmente das objeções
como processo central no avanço do conhecimento. Para nosso tema – metodologias de pesquisa – é
Palavras-chave menos evidente, em si, a notação prática, pois
Pesquisa em Comunicação. Metodologias.
Currículo. Fundamentação teórica. Observação
comporta certamente uma apropriação conceitual
Sistemática. Objeções. e abstrata. Mas, considerando que os contextos
devem sempre ser significativos, assumimos
que o tema desdobra-se na seguinte pergunta:
como fornecer, na realidade atual de nossos
programas de pós-graduação em Comunicação,
apoio aos estudantes para o bom desempenho
de suas investigações, de modo a que suas teses
José Luiz Braga | jbraga@unisinos.br
Doutor em Comunicação pelo Institut Français de Presse (IFP). Professor e dissertações alcancem resultados relevantes,
Titular no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). com encaminhamentos metodológicos adequados?
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E, particularmente: de modo a que essa obra própria formação do pesquisador. Nessa formação,
seja o principal indicador da boa formação do o desenvolvimento de competências metodológicas
pesquisador que a produziu. e de formulação teórica é o núcleo organizador.

Essas questões dirigem seu desafio a todo Sabemos que toda discussão teórica,
o conjunto de atividades formativas em um epistemológica e metodológica é importante para
programa de mestrado ou doutorado – todas as a formação de uma “cultura de pesquisa”; e que
previsões curriculares recebem a incidência da a obtenção de um bom manejo de perspectivas,
questão. Uma parte das respostas relaciona-se às conceitos e abordagens diversificados nesse
tarefas da orientação; outra parte, a disciplinas âmbito é parte importante do programa pessoal
2/33
oferecidas em curso – sejam abrangentemente de formação continuada de todo pesquisador. Mas
voltadas para metodologia e pesquisa, sejam aqui se trata de outra coisa, mais próxima, mais
especificadas por algum ângulo teórico, temático urgente e mais concreta – que é a oportunidade
ou de encaminhamento. As demais previsões de usar a própria pesquisa de dissertação ou

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curriculares (seminários, publicação de textos, de tese como campo de prática, de formação
reuniões de grupos de estudo e pesquisa) recebem de experiência sobre modos de encaminhar a
também a incidência da questão metodológica. pesquisa e para aprender com seus desafios.

Nessa perspectiva, a questão das metodologias Três preliminares devem ser levadas em conta, neste
de investigação desdobra-se na questão dos ponto. A primeira, de ordem teórico-metodológica, e
procedimentos pertinentes para oferecer apoio – o pertinente à história do conhecimento nas Ciências
que é um problema de metodologia pedagógica. Humanas e Sociais (CHS), é o forte consenso
Uma formação metodológica, em mestrado ou atual de que não é possível assumir abstratamente
doutorado, não pode se restringir a informações abordagens prévias e “fechadas”, a serem aplicadas
sobre teorias e métodos. Deve-se fazer os a uma diversidade de pesquisas. Assim, diferentes
estudantes refletirem sobre o enfrentamento pesquisas solicitam diferentes aproximações,
da pesquisa, estimulando o desenvolvimento de conforme suas perguntas e objetos; e mesmo táticas
abordagens metodológicas como práticas sobre metodológicas comprovadas e pertinentes devem ser
seus próprios problemas de investigação. ajustadas a características concretas do objeto e ao
desenho específico da investigação. Mas isso não
Um dos objetivos centrais do trabalho de produção
deve ser pretexto para “vale tudo”. Ao contrário, as
da tese ou dissertação, mais que os resultados de
exigências se ampliam.
conhecimento produzidos sobre seus objetos, é a

1 V Seminário Interprogramas, dia 28 de outubro de 2008, realizado no PPG em Comunicação da PUC/SP. O texto sofreu revisões
posteriores, tanto para levar em conta questões surgidas no debate, como para incluir aspectos não tratados na versão preliminar.
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Não sendo o campo da Comunicação dotado de Como sabemos, a aprendizagem efetivamente se


um sistema positivista de objeto/método nem de transfere de um objeto para outro. Se aprendi
uma sedimentação consensual de referências a usar bem a abordagem “x” em uma pesquisa,
teórico-metodológicas enraizadas na tradição, amanhã saberei usar essa experiência para me
corre-se o risco frequente de improvisação, de apropriar mais facilmente da abordagem “y”
impressionismo, de espontaneísmo, de reduzido solicitada por outra pesquisa. Mas no espaço
rigor, de utilização de senso comum simplificador. em que inscrevo a presente reflexão, estamos
Torna-se assim relevante referir, a cada pesquisa, interessados em algum tipo de apoio mais
as bases teóricas e técnicas gerais de aproximação imediato, voltado diretamente para a pesquisa que
do objeto da pesquisa, não pela aplicabilidade o estudante tem diante de si. 3/33

imediatista, mas em favor de uma percepção


O que oferecer com eficácia, nestas condições?
razoável do que seja o trabalho de “fazer
Não apenas que possa ser adequado ao que
ciência” (com todas as ressalvas que se queira
cada estudante pretende pesquisar, mas também

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fazer quanto a este conceito). No espaço de um
que esteja minimamente dentro de nossas
mestrado, não fazemos jornalismo, literatura,
competências de docentes que, evidentemente,
arte, militância. Temos o objetivo de produzir
não podem abranger a formidável diversidade do
conhecimento, embora esse fazer científico, hoje,
que é teórica e metodologicamente disponível.
no espaço das ciências humanas, não se pretenda
puro, nem objetivo, nem neutro. Ainda que seja Diante de tal questão, uma terceira preliminar
possível e desejável desenvolver interações deve ser a de evitar meramente inculcar
instigantes com os fazeres acima referidos, o em nossos estudantes as nossas próprias
que especifica nosso trabalho é a produção de preferências teórico-metodológicas – o
conhecimento acadêmico. que corresponderia a ficar indiferente às
necessidades específicas, certamente
A segunda preliminar, de ordem histórico-
diferenciadas, de um grande número de
contextual, referida especialmente à pesquisa
mestrandos e doutorandos. Certamente as
no Campo da Comunicação, é a extraordinária
preferências teórico-metodológicas do professor
diversidade de temas, objetos, questões, ângulos,
− e sobretudo da linha de pesquisa − têm
conceitos, paradigmas e teorias que hoje são
um papel a cumprir. A terceira preliminar
acionados, conforme as escolas, as áreas de
assinalada apenas alerta que tais preferências
interesse e as linhas de pesquisa. A solicitação
não devem “se abater” sobre os estudantes, nem
de transferência do que seja aprendido, de uma
de modo autoritário nem em desconsideração
questão para outra, é mais ampla, talvez, do que
de necessidades específicas de sua pesquisa.
em outras disciplinas humanas e sociais.
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No conjunto de um programa e de uma linha, bem mais elementares que, se assegurados,


qualquer encaminhamento deve ser justificado poderiam dar sustentação adequada àqueles
por sua pertinência. encaminhamentos. Como toda investigação
comporta riscos, é preciso estar liminarmente
É claro que disciplinas específicas, voltadas
atento a sua ocorrência, sem o que não se estará
para um ângulo teórico-metodológico
preparado para buscar correções ou defesas.
determinado e oferecidas com essa visada,
devem mesmo encaminhar, com rigor e * * *
profundidade, suas perspectivas e processos
O que desenvolvo, no presente texto, não é
próprios. Como serão disciplinas optativas, vão
resultado de uma aproximação abstrata – decorre 4/33
cursá-las, esperançosamente, os estudantes
de alguma experiência no enfrentamento prático
que se percebam interessados, considerando
desse desafio. Por isso mesmo, as proposições
essa formação específica relevante para seus
que faço não se pretendem universais, a
objetivos de investigação.

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ponto de serem aplicáveis a qualquer situação
As três preliminares apontadas correspondem formadora, em apoio a qualquer tipo de pesquisa
a outros tantos desafios para o trabalho dos comunicacional. Mas estou convencido de que,
professores e dos estudantes nos PPGs. trabalhadas reflexivamente por colegas, em função
dos desafios pedagógicos e metodológicos em sua
Malgrado a superação de abordagens fechadas a
orientação e seu ensino, poderão estimular táticas
priori, apesar da diversidade de objetos e teorias
– por transferência, reajuste ou substituição –
e das preferências teórico-metodológicas variadas,
pertinentes para seu trabalho docente.
queremos abordar aqui a questão das necessidades
gerais, abrangentes e transversais de uma formação Essas pretensões distinguem-se, entretanto,
metodológica básica. O que se deve prever, nessa de uma “tática de manual de pesquisa”. Na
perspectiva, que corresponda a algo de produtivo perspectiva de manual, os autores oferecem
para toda uma diversidade de pesquisas? informações básicas para uma espécie de
“desenho médio” de uma pesquisa padrão. Minha
Deve-se tratar naturalmente de aproximações
preocupação, bem diferente, é a de oferecer
tão básicas que possam ser ajustadas a temas
ângulos a serem refletidos e cuidados pelos
e teorias bem diversos. Percebo que, às vezes,
professores e pelos pesquisadores-estudantes
aproximações muito sofisticadas e pertinentes
como pistas para seus próprios encaminhamentos,
aos objetos de pesquisa dos estudantes deixam de
diferenciados em função de seu objeto e de seus
render seus melhores resultados de investigação
fundamentos teóricos.
– justamente na falta de decisões e procedimentos
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* * * É bom enfatizar que não é “pesquisa empírica”


apenas aquela investigação explicativa,
Reiterando essa visada prática e um objetivo
realizada com controle rigoroso de variáveis e/
de tratar questões muito básicas, com alguma
ou desenvolvida por aproximação quantitativa. O
possibilidade de valor transversal a diferentes
trabalho de compreensão do objeto empírico, a
âmbitos teórico-metodológicos, organizei o
reflexão sobre “situações indeterminadas” (não-
presente texto em torno dos seguintes subtemas:
esclarecidas) do ambiente social, na pesquisa
– a importância da pesquisa empírica e a qualitativa, corresponde igualmente a pesquisa
necessidade de critérios “internos” de rigor; empírica – bastando que a motivação principal
do pesquisador se volte para efetiva descoberta 5/33
– uma reflexão sobre o próprio sentido de
de conhecimento sobre tais materiais, orientado
“metodologias” nas circunstâncias referidas;
por teorias pertinentes.
– os três principais elementos a serem articulados
Isso não significa que “pesquisas teóricas” sejam

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em uma pesquisa: problematização e hipóteses;
irrelevantes, no quadro abrangente de produção
fundamentação e tensionamento; o
da pesquisa em uma área de conhecimento.
trabalho de observação;
Mas apenas que os mestrados – e muitas vezes
– espaços mais habituais de risco em uma também os doutorados – não são o melhor
pesquisa de pós-graduação; momento para tal exercício exclusivo. Ao
contrário, processos exclusivamente centrados
– o trabalho de objeção como
no estudo de autores, para gerar dedutivamente
componente metodológico.
ainda outras ideias, parecem solicitar uma

2 A importância da pesquisa empírica experiência bem mais aprofundada do que nossos


mestrandos e doutorandos tipicamente possuem.
Defendo para nossa pós-graduação − e
Além disso, solicitam um tempo maior do que se
particularmente para os mestrados − a
dispõe na situação de formação.
importância da realização de uma pesquisa
empírica, a pesquisa que solicita uma efetiva Um argumento adicional – e talvez mais
observação de algum ângulo da realidade, importante – é que o mestrado e o doutorado
apresentando perguntas sobre aspectos de uma podem ser a única oportunidade apoiada que um
determinada situação ou “objeto” e procurando pesquisador em formação terá para se defrontar
respostas diretamente através de investigação com os desafios práticos e com as dificuldades
sistematizada de elementos concretos que metodológicas de organizar um trabalho de
compõem o objeto escolhido e construído. investigação que os ponha efetivamente a braços
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com uma realidade que resiste, que apresenta sistemática, de questionamentos, de articulação
fatos incontornáveis, que não se resolve apenas adequada entre os fundamentos teóricos acionados
com base em argumentação e especulação e as dúvidas postas pela construção do objeto.
abstratas. Em última análise, queremos “falar Fala-se às vezes em “originalidade” (sobretudo para
sobre o mundo” – mesmo quando se faz a filosofia a tese de Doutorado). Mas esta é relativamente rara
mais abstrata e sofisticada. Se o estudante tiver e depende de condições muitas vezes externas ao
a pretensão de entrar diretamente nesse mundo esforço investigativo. Mais importante é um esforço
rarefeito da especulação, que contato terá tido sistemático para a descoberta – o que é outra coisa.
com a resistência das coisas?
Note-se que defender a pesquisa empírica não
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Outro ângulo é o da importância da descoberta corresponde a uma visão empiricista desta –
como elemento relevante – tanto da contribuição que leve a proposições meramente descritivas,
para o conhecimento como do estímulo para limitando a investigação a uma factualidade
o árduo trabalho da pesquisa. Falo aqui das superficial ou “mecanicista”. Ao contrário. Não

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descobertas efetivas sobre características se trata de eliminar ângulos interpretativos, de
intrigantes do mundo real. O trabalho de elaborar descartar insights ou de fugir da construção
formulações teóricas sobre tais descobertas é uma conceitual ou da fundamentação que orienta o
experiência necessária para o bom pesquisador. Se olhar sobre o objeto. Uma boa pesquisa elabora
todo o trabalho de pesquisa corresponder apenas estas e outras démarches mais abstratas,
a elaborações dedutivas e ensaísticas – mesmo alimentadas pelo conhecimento teórico. Apenas,
sofisticadas – a partir do que outros autores aciona estes elementos menos materiais
escreveram, faltará esse aspecto fundamental à submetendo-os ao crivo do enfrentamento das
experiência de nossos mestrandos e doutorandos. coisas. Não podem ser desenvolvidos e elaborados
apenas com base em uma sabedoria verbal,
Não é preciso que as descobertas realizadas
argumentativa, especulativa e abstrata.
nas pesquisas empíricas se caracterizem como
a vanguarda do conhecimento na área – nossas O trabalho metodológico corresponde, na pesquisa
descobertas raramente o são. Trata-se mesmo empírica, a pôr tais elementos abstratos a serviço
de enfrentar a resistência da realidade, cercá- de um problema-eixo, voltado para efetivas
la com nossa problematização e ser capaz de descobertas. Essa experiência só ocorrerá através
perceber alguma coisa ali que, por mais modesta do desenvolvimento de pesquisas empíricas no
e singular, antes não era claramente percebida, mestrado e no doutorado.
agora encontra um esclarecimento produzido
A pesquisa empírica, que não elimina – ao
por nosso trabalho investigativo, de observação
contrário, solicita – a boa reflexão teórica,
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proporciona, durante o próprio trabalho, a de decisão na preparação e no desenvolvimento


possibilidade do exame refletido de seu rigor da pesquisa.
– justamente pelo tensionamento mútuo e
pelas articulações que se possam fazer entre 3 “Metodologias”
três elementos bem diferenciados que se A relevância das questões metodológicas na
apoiam e se cobram mutuamente: a construção pesquisa é inconteste. Entretanto, ocorre
e problematização do objeto; o trabalho de às vezes uma espécie de reconhecimento
fundamentação teórica; e a ida à realidade para automático que se exprime apenas no nível
sua observação sistemática. das considerações teóricas e abrangentes, sem
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produzir consequências sobre a prática da
O manejo reflexivo desses três elementos, na busca
pesquisa. Ou então, a prática é bem planejada, no
de uma construção harmônica, deve ser uma
nível das técnicas de observação, que são também
experiência fundamental para o futuro pesquisador
instâncias metodológicas, sem preocupação com
– sobretudo se este, mais adiante, pretende se

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os encaminhamentos da reflexão teórica.
aprofundar em formulações teórico-especulativas.

Às vezes parece haver a crença de que a presença


A prática da pesquisa empírica seria o único
de um “capítulo metodológico”, na tese ou
modo de gerar uma disciplina do pensamento,
dissertação, corresponderia a uma exigência
do conhecimento e do rigor reflexivo. A reflexão
formal, dando conta da questão seja pela
puramente ensaística, “a partir de autores”,
exposição das perspectivas teóricas habituais na
pede reflexões e debates de longo prazo, uma
área de interesse, seja descrevendo as práticas
séria experiência dos estudos e do mundo, por
adotadas para observar o objeto.
parte do pesquisador, e debates em círculos de
reflexão diversificados e em continuidade. Diferente de uma perspectiva sobre metodologia
Estamos falando da formação de pesquisadores como um conjunto de regras de encaminhamento
– nesse nível, se determinadas experiências não apriorísticas; ou como mero relato posterior de
forem oferecidas, provavelmente não haverá componentes adjetivos à substância do tema; ou
outras oportunidades. ainda como simples adesão a um quadro teórico
estabelecido; eu gostaria de enfatizar tais questões
Assumindo a importância da previsão de
como ações concretas e refletidas durante todo o
posturas transversais básicas para a diversidade
desenvolvimento da pesquisa, desde as primeiras
de aproximações possíveis e a ênfase a ser dada
hipóteses até os resultados finais.
ao trabalho de formação, sublinho a seguir, na
discussão sobre “metodologias”, os aspectos que O abandono consensual de “metodologia”
as caracterizam como uma lógica das tomadas como aparato rígido, como “máquina formal”
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para processar neutramente a investigação, singulares, que não serão “explicadas” em termos
poderia levar o estudante à perspectiva de de causa e efeito, mas sim “compreendidas” em
que a aproximação do objeto pode ser menos seu devir? Incluímos na busca de descobertas
rigorosa. Ao contrário – o abandono da injunção também uma angulação praxiológica? A visada
determinante do “a fazer” impõe maior atenção será positivista ou fenomenológica?
e cuidados quanto ao “em fazendo”. Nessa
As decisões tomadas sobre questões deste
perspectiva, a metodologia é uma sabedoria na
tipo devem ser coerentes com as visadas mais
tomada de decisões em que o pesquisador se vê
específicas da pesquisa e, ao mesmo tempo,
constantemente envolvido.
repercutem direcionamentos sobre todos os
8/33
No campo de estudos em Comunicação, tais outros processos da investigação.
cuidados são particularmente relevantes,
Este é apenas o nível mais geral e abrangente
uma vez que importamos teorias, conceitos e
das questões metodológicas. Encontramos
metodologias de múltiplos horizontes – que pedem

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em seguida as questões de fundamentação
transferências e harmonizações complexas para
teórico-metodológica. As teorias que adotamos,
funcionarem juntos.
normalmente, não apenas envolvem explicações
* * * da realidade, mas também fornecem os objetos-
tipo que em seu âmbito são constituídos e
O mestrando e o doutorando devem ser
alguma ordem de questões que lhes são dirigidas.
estimulados a perceber que a noção de
Costumo me referir a estas como “questões de
“metodologia” se relaciona a toda uma diversidade
horizonte”, pois ao trabalhar com uma teoria
de ações de encaminhamento, assim como a
assumimos como horizonte de reflexão a ordem
uma variedade de instâncias de reflexão; e que
de questionamento diante da qual construímos
as tomadas de decisão, passo a passo, implicam
nossas perguntas específicas de investigação.
a necessidade de fazer distinções entre níveis e
dentro de cada nível de elaboração. Aparece, portanto, já aí, um conjunto de questões
metodológicas, correspondente à escolha das teorias
No nível mais abrangente, encontramos questões
adequadas. Ou, alternativamente, diante de uma
de método na escolha de paradigmas e modelos
escolha já feita de autores (por serem os de nossa
epistemológicos. Vamos fazer uma pesquisa
preferência), devemos fazer opções pertinentes
nomotética, em busca de regularidades no âmbito
para a construção do objeto de pesquisa. Junto
em estudo? Ou vamos fazer uma busca indiciária?
com isso, naturalmente, vêm os conceitos a adotar
O objeto é suscetível de abordagem histórica,
e desenvolver, as premissas e, eventualmente, um
solicitando a apreensão de estruturas complexas e
âmbito de produção de hipóteses.
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Na própria construção do problema – perguntas de partida definido para as tomadas de decisão


específicas, objetivos, construção do objeto – nos na pesquisa – elas começam em qualquer ponto e
vemos a braços com decisões metodológicas se desenvolvem em todas as direções. Retornam
referentes ao ângulo, à acuidade, à própria geração em reiteração, de cada nível para todos os outros.
de perguntas. Construir um problema de pesquisa, O que importa, nesse espaço, é perceber que
em sua organização interna e suas vinculações em todos os níveis e a cada passo da pesquisa,
com as bases teóricas e com uma realidade o pesquisador é solicitado a tomar decisões,
observável, envolve decisões metodológicas. teórico-epistemológicas ou práticas – e geralmente
envolvendo articulações entre estas duas ordens.
Em seguida, os problemas metodológicos se põem
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também para a escolha dos observáveis, para a A exigência de reflexão metodológica sobre todos
construção de coerência entre estes e os objetivos esses elementos corresponde ao que considero
da pesquisa, o que envolve decisões tanto sobre um conceito geral de “metodologia”. Longe de ser
o tipo de materiais e situações; como sobre o um receituário de passos a serem dados, trata-se

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conjunto específico e concreto a ser observado do processo de encaminhamento de decisões –
(“recorte”, corpus, amostra, grupo, documentos, parte sendo conhecimento estabelecido, a que
situações, pessoas etc.). devemos recorrer com pertinência; parte, prática
incorporada, a ser desenvolvida durante toda a
E aí aparecem as questões de abordagem –
carreira do pesquisador; e parte invenção, a ser
metáfora que expressa bem a necessidade de
testada por sua coerência e seus resultados, no
enfrentamento muito concreto de realidades ora
próprio exercício da pesquisa.
esquivas ora “impenetráveis”. Manifesta-se a
necessidade de decisões referentes ao “olhar”, Não existindo receituário rigoroso e sintético,
aos critérios de seleção, às ponderações entre que possa ser usado como um check-list dos
diferentes indícios ou dados, às articulações pontos a serem cuidados, as dificuldades podem
entre componentes dispersos, aos procedimentos parecer insuperáveis. Entretanto, se levarmos
de interpretação, ao escopo e extensão das em conta aquela perspectiva de metodologia
inferências. Depois das seleções e organização como o acompanhamento refletido daquilo que
de dados e indícios, temos ainda decisões se está fazendo, podemos encontrar no próprio
interpretativas; e finalmente, o retorno dos desenvolvimento da pesquisa as pistas para seu
resultados ao âmbito da reflexão teórica, o que controle metodológico.
pede ainda novas decisões.
Costumo dizer a meus estudantes que a essência da
Embora apresentadas em uma espécie de reflexão metodológica se encontra na competência
sequência, acima, na verdade não há um ponto humana de, ao fazer qualquer coisa, termos a
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capacidade de observar e rever criticamente o A rigor, não precisamos de “regras” e critérios


que fazemos. Esse tipo de atenção nos oferece, metodológicos muito definidos para cada
então, a possibilidade de redirecionar, de reajustar, decisão a tomar − e dificilmente os teríamos
de corrigir. O processo metodológico básico não à disposição. Isso não significa que se tomem
é o de definir uma regra de encaminhamento e decisões exclusivamente na singularidade
depois segui-la estritamente; mas sim o de rever da pesquisa, desconhecendo a experiência
cada passo dado e refletir sobre a justeza de seu teórico-metodológica anterior. Conhecer essa
direcionamento, corrigindo-o no próprio andamento experiência, geralmente via disciplinas e estudos
da pesquisa. Planejar é replanejar. metodológicos, deve justamente permitir o
acionamento de decisões escoladas. 10/33
Como normalmente tomamos uma decisão porque
estamos convencidos de sua justeza, é preciso Agindo dentro de um corpo reflexivo geral,
dispor de alguns elementos de contraposição para teórico-metodológico, dispomos então de uma
testar sua efetiva adequação. Ora, uma pesquisa espécie de padrão geral sobre “coisas a fazer

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em andamento oferece toda uma variedade de e a não fazer”. Podemos complementá-lo – e
testes e critérios. A cada decisão tomada, a cada tensioná-lo produtivamente – pelo esforço de
encaminhamento previsto, podemos sempre manter articulações dinâmicas entre os diferentes
observar sua incidência sobre os demais pontos componentes de nossa pesquisa. E isso pode ser
da construção em processo. Como a escolha feito simplesmente relendo com frequência os
do problema repercute sobre a seleção dos textos parciais já escritos, refletindo criticamente
observáveis? Como o modo de observar tensiona sobre os passos já dados e revendo em continuidade
o modelo epistemológico preferido? Como as nossas decisões, controlando cada uma das partes
teorias adotadas pré-conformam o objeto? Como da pesquisa por sua articulação com as demais.
a observação prevista pede redirecionamentos do
É isso que caracterizo como uma aproximação
problema? E assim sucessivamente.
metodológica do “em fazendo”, por contraste
Como uma pesquisa é sempre um percurso com uma previsão rígida e prévia do caminho “a
iterativo entre suas partes, podemos “voltar atrás” fazer”. É claro que estar atento aos componentes
e rever as decisões anteriores. No momento da básicos de uma pesquisa – que são atravessados
observação podemos perceber que as perguntas da continuamente por aqueles níveis de tomada
pesquisa ainda não tinham desprendido todo seu de decisão – ajuda o pesquisador mestrando ou
potencial de descoberta – e uma revisão dessas doutorando a desenvolver acuidade para a revisão
perguntas pode permitir um desenvolvimento crítica daquilo que desenvolve.
qualitativo da investigação.
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4 Perguntas, objetivos, hipóteses – trabalho de observar e seus tensionamentos


o problema da pesquisa com a teoria. Assim, o problema da pesquisa não

Construir e problematizar um objeto de pesquisa se apresenta apenas como uma relação entre a

não é apenas escolher um tema, um “recorte curiosidade do pesquisador3 e o objeto empírico

da realidade”, e fazer-lhe algumas perguntas percebido. As perguntas específicas da pesquisa,

genéricas, buscadas no âmbito teórico. Bem diretamente voltadas para a realidade, devem

mais que isso, envolve todo um enfrentamento, igualmente se articular com as “questões de

no qual as escolhas feitas, a própria percepção horizonte teórico” relacionadas à fundamentação,

inicial sobre as coisas, são já elementos do para concretizá-las e/ou para tensioná-las.

processo construtivo – que, em certo sentido, A elaboração de perguntas pede também um 11/33

pede “invenção”. Mas essa invenção tem que enfrentamento exploratório prévio dos materiais –

sobreviver aos rigores da formulação conceitual e para preparar a “construção” – seleções, decisões

do enfrentamento da realidade. sobre o que deve ser “objeto” e o que deve ser

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“contexto”, sobre os ângulos mais promissores
Se construímos um bom problema de pesquisa, as para sua aproximação.
demais atividades da pesquisa articulam-se com
facilidade em torno. Mas isso não significa que se A explicitação dos objetivos da pesquisa

possa construir logo de início, de modo completo, complementa as perguntas e a formulação do

um problema e que este, uma vez “pronto”, passe a problema. É claro que o estudante e o orientador

comandar estaticamente o processo. A construção devem cuidar da estrita articulação entre o

do problema solicita de tal modo incursões nos problema e os objetivos – estes repercutem aquele

outros dois elementos processuais da pesquisa, na forma seguinte: dadas tais questões, estes

que deve ser frequentemente revista em função são os objetivos a que a pesquisa se propõe. O

destes. É sob esta condição que o problema se inverso seria válido, também: se estes são os meus

caracteriza como verdadeiro eixo da investigação.2 objetivos, o que devo perguntar ao objeto?

Nessa concepção dinâmica, o “problema da Não é raro encontrar uma disjunção entre os

pesquisa” não se esgota na “pergunta de partida”. dois componentes – o que evidencia uma reflexão

Envolve ainda os objetivos, as justificativas da insuficiente sobre a organização da pesquisa. Bem

abordagem proposta, suas articulações com o compreendidos em sua articulação, os objetivos


compõem, com o problema, o eixo da investigação.

2 A metáfora do “eixo” me parece mais produtiva que a do “recorte”. Essa última parece isolar o objeto, enquanto que o eixo
justifica todas as relações necessárias, inclusive contextuais, de materiais e de conceitos que, percebidos relevantes, podem ser
postos em rotação em torno e a serviço do problema

3 Que, aliás, é informada por sua experiência e por suas leituras.


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Os objetivos são frequentemente organizados desenvolvimento. No presente texto não volto


em dois patamares – gerais e específicos – a fazê-lo, preferindo complementar a reflexão
talvez mais pelo hábito que por necessidade. O com algum desenvolvimento sobre a questão das
fundamental para a pesquisa são os objetivos hipóteses, enquanto parte relevante da elaboração
efetivamente especificados. Os objetivos gerais do problema de pesquisa.
corresponderiam às questões de horizonte teórico;
No artigo referido, junto com aquelas indicações
e os específicos às perguntas voltadas para a
práticas, desenvolvo a perspectiva de que em
realização concreta da investigação. Deve-se
pesquisas qualitativas não precisamos, a rigor, de
evitar, por isso mesmo, um excesso de objetivos.
hipóteses – as perguntas e objetivos da pesquisa
Quando estes aparecem em excesso, cria-se a 12/33
costumam fornecer o necessário e o suficiente
impressão de que o pesquisador estaria tentando
para pôr em marcha uma investigação. Mantenho
“atirar para todos os lados” na expectativa de
essa convicção. Mas o que percebo agora é que,
captar alguma coisa meio por acaso. Além disso,
se não precisamos de hipóteses, difícil é não

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um excesso de objetivos resultaria no atendimento
tê-las; mais difícil ainda seria se livrar das que
apenas parcial da lista; ou em diluição resultante
nos surgem tão logo começamos a prefigurar um
de um tratamento superficial de todos.
projeto de pesquisa. As hipóteses nos surgem
Quanto às justificativas, frequentemente na forma de insights sobre o objeto, na forma
encontramos, em projetos, em teses e de visadas teóricas já presentes no acervo de
dissertações, justificativas que enfatizam a nosso conhecimento pessoal ou que aparecem
relevância do tema ou a importância social de nas leituras acionadas para desenvolver o
que tais e tais questões sejam pesquisadas. projeto, ou ainda através das relações que vamos
Sem desprezar tal informação, as justificativas desenvolvendo entre a abstração teórica e a
básicas de uma pesquisa devem corresponder aspereza das coisas.
à validade de seu problema específico e à boa
Nada contra essa “hipotetização espontânea”.
fundamentação dos encaminhamentos propostos
Nem seria possível investigar um segmento da
– e não ao interesse genérico de seu assunto. É
realidade de modo “neutro e indiferente”. Se não
nesse sentido que “justificativas” fazem parte da
tivéssemos ideias a respeito das coisas, nem sequer
construção do problema.
pensaríamos em investigá-las. O próprio formato
No artigo Para começar um projeto de pesquisa, de nossas dúvidas já é um começo de hipotetização
desenvolvi mais longamente a questão central sobre como devemos construir a curiosidade.
da construção do problema, em termos de
A questão, assim, é sobre o que fazer com tais
aproximação prática, sugerindo táticas para seu
percepções preliminares. O primeiro passo, é claro,
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é o de organizar, selecionar, elaborar as “ideias” Em princípio, uma hipótese de pesquisa é


a respeito do objeto e das teorias acionadas. Uma uma pré-resposta às próprias perguntas da
parte desse esforço vai direcionar as descrições pesquisa. Pré-resposta porque ainda dubitativa;
prévias que fazemos do objeto, as decisões sobre os e possivelmente porque imprecisa ou incompleta.
contextos que assumiremos pertinentes, sobre as O que desejaríamos, intuitivamente, do trabalho
relações objeto/contexto a serem construídas, sobre de observação, seria checar se essa pré-resposta
os ângulos conceituais a serem enfatizados. pode ser mesmo assumida como resposta.

Uma parte dessas hipóteses prévias será dirigida Isso leva, às vezes equivocadamente, a se dizer
à definição das premissas. Estas, como premissas, que a pesquisa pretende verificar ou confirmar
13/13
já não serão mais hipóteses, mas sim ponto as hipóteses. Efetivamente, as pesquisas
de partida assumido, para todos os efeitos da nomotéticas, que procuram leis e regularidades,
pesquisa. Assim, não serão investigadas, pois querem isso mesmo: verificar. São em geral
foram adotadas (é claro que devemos ter boas pesquisas quantitativas e/ou laboratoriais

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razões para isso). Outras ainda, serão “hipóteses que, por isso mesmo podem ser chamadas de
de trabalho” – proposições, ainda tentativas, que “verificacionistas”. Estas pretendem confirmar
direcionam nossa investigação. São igualmente ou infirmar uma proposição rigorosa e específica
prévias e, embora possam ser modificadas em inicial. Não sabemos, entretanto, no início da
curso, não devem ser confundidas com “aspectos pesquisa, se essa proposição efetivamente
do problema”: são antes processos metodológicos, corresponde a “relações necessárias que decorrem
de direcionamento para a busca de resposta. da natureza das coisas”.4 Tais hipóteses trabalham
sobre poucas variáveis, controladas, e são
Mas finalmente, algumas daquelas “ideias”
apreensíveis em formulação binária, por exemplo
iniciais sobre o objeto vão resistir e se
– “fumar provoca câncer (sim ou não)”. Quando
caracterizar, propriamente, como “hipóteses
o pesquisador não consegue, após tentativas
de pesquisa” – ou seja, apresentam-se como
controladas com esse fim, demonstrar a “hipótese
“proposições em dúvida” e que deveriam ser
zero”, contrária a sua “hipótese do pesquisador”,
esclarecidas através de investigação.
pode então considerar esta última “verificada” (em
Como se articulam essas proposições com as tais e tais condições).
perguntas de pesquisa? O que solicitam do
Entretanto, as hipóteses-insight que dão base a
trabalho de investigação propriamente dito que é a
pesquisa qualitativa dificilmente se comportam
observação sistemática?
assim. As variáveis são em maior número, menos

4 A fórmula é de Montesquieu, no “L’esprit des lois”, para conceituar leis naturais.


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controladas, não suscetíveis de verificação tipo adequadas ao conjunto de indícios disponíveis,


“sim/não”: apreendem as coisas em perspectiva sistematicamente levantados e articulados.
de compreensão mais que de explicação; e não
As hipóteses iniciais de apreensão geral do objeto
expressam, tipicamente, regularidades rigorosas.
– sua própria definição inicial, enquanto “questão
Nessas condições, “confirmar” ou “infirmar” não é
em investigação” – provavelmente baseiam-se
a meta para tais hipóteses.
nos indícios inicialmente mais evidentes; e/
Seria possível dizer (e os pesquisadores nessa ou em premissas dependentes do conhecimento
situação efetivamente o dizem): “mas talvez a gente estabelecido (teorias) sobre a classe de fenômenos
acabe provando que a hipótese não é verdadeira e, em que inscrevemos o caso. Assim, uma atitude
14/33
portanto, há realmente alguma coisa a investigar”. metodológica consistente deve ser a de resistir à
Além de ser frustrante fazer uma pesquisa apenas tentação de apenas confortar as hipóteses iniciais.
para provar que estamos errados, essa prova Se os insights são válidos, em perspectiva de
dificilmente ocorrerá. Primeiro, porque, motivados senso comum, não se trata de infirmar; mas é

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pelo insight, trabalharemos tendencialmente irrelevante apenas confirmar.
para “provar” essa ideia – gerando uma cegueira
Isso significa que aquelas ideias prévias devem ser
involuntária para todos os dados que a contrariem.
tensionadas pela reflexão teórica e pelo trabalho
Segundo, porque provavelmente uma ideia gerada
de investigação – não com a perspectiva de
por forte envolvimento com a coisa é mesmo
infirmar, mas de superar: de tornar as hipóteses
“verdadeira” (isto é – válida para o espaço e
mais complexas, mais abrangentes, mais finas,
conjuntura em que foi proposta) – e se sustenta
melhor formuladas; ou de encontrar outras
pela própria constatação “ao vivo”, sem precisar de
hipóteses derivadas que substituirão as anteriores
pesquisa para demonstrá-lo. O senso comum basta
com vantagens. Ou ainda, de obter maior precisão
para sustentá-la.
sobre o âmbito de sua validade, em formulação
O que podemos pretender, então? rigorosa. Isso pede resistir a uma valoração
universalizante de sua validade; e o desenho das
A démarche básica corresponderia a assumir que
condições em que a proposição é pertinente – com
as percepções “de partida” são excessivamente
explicitação dos limites dessa pertinência e das
simples ou relativamente equivocadas, em
cautelas no manejo da afirmação.
todo caso incompletas. O trabalho de pesquisa
envolve (em perspectiva oposta à nomotética), Simplesmente “confirmar uma hipótese
desenvolver, tornar mais complexas, aprofundar, de partida”, em uma pesquisa qualitativa,
ajustar ou mesmo substituir radicalmente corresponderia a um relativo fracasso, pois a
as hipóteses de partida por outras, mais rigor já pudemos chegar à proposição com base
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na experiência e na reflexão. A pesquisa teria incoerência da articulação hipotetizada. As


sido, então, de pouca relevância. Apenas infirmar objeções mais interessantes são aquelas que
as hipóteses seria abandonar a investigação em evidenciam a insuficiência da resposta proposta,
meio de caminho – pois as razões que nos levam a discutindo a coerência da articulação ou a
desconsiderar as proposições iniciais devem abrir pertinência do que foi inferido.
caminho para outras proposições em substituição.
Com essa perspectiva, compreende-se que
O que queremos, então, é que a pesquisa nos
nossas “ideias iniciais” a respeito do objeto em
ofereça condições de produzir, com base na
investigação fazem parte, diretamente, do trabalho
investigação, o aperfeiçoamento ou a superação
de problematização. É fácil perceber os vínculos
das hipóteses iniciais: melhores hipóteses. 15/33
construtivos entre perguntas, objetivos, hipóteses
Tais “hipóteses finais” serão, entretanto, e justificativas do encaminhamento.
submetidas a dois níveis de “teste”. Em um
primeiro nível – pela observação de sua própria 5 Fundamentação e tensionamento –

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os usos da teoria
competência para efetivamente estabelecer
relevância de indícios e para articular esses É importante considerar as relações entre

indícios em um “quadro perceptivo” do objeto. os textos teóricos, a que se fará referência

Podemos dizer que se trata de uma boa resposta se na pesquisa, e o trabalho propriamente

efetivamente articula os dados, confirmando sua de investigação (construção de problema,

relevância e apresentando coerência entre estes; e contextualizações, objetivos, observação etc.).

se faz interpretações evidentemente derivadas dos


Para além dos processos de observação e
dados assim organizados.
levantamento de dados ou percepção de indícios,

Entretanto, as respostas devem passar por um precisa-se, naturalmente, de fundamentos

segundo nível de teste: o enfrentamento da teóricos na base de uma pesquisa empírica.

falseabilidade decorrente de objeções. Não se Uma visão empiricista que pretenda extrair

trata, aí, de propostas de desacordo a partir de conhecimento diretamente do material ou

tal ou tal teoria estabelecida – uma vez que o situação observada, a “olhos nus”, não iria muito

desacordo seria mútuo, entre o modelo singular além de descrições superficiais, de senso comum

e a teoria, restando em suspenso e dependente ou em perspectivas idiossincráticas.

de avanços posteriores saber qual estaria mais


Por outro lado, chegar à pesquisa rigidamente
próximo de uma visão rigorosa das coisas. A
aparelhado de teorias irremovíveis também não
falseabilidade depende de se assinalar, no objeto,
promete grandes avanços de conhecimento. A
indícios contraditórios com o modelo; ou indicar
tendência, aí, seria a de “demonstrar” que a
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visão teórica pré-adotada é capaz de explicar assumindo que os conceitos têm o poder de moldar
totalmente o caso singular selecionado. Nesse a realidade – e só veremos o que já foi visto antes,
caso, a pesquisa se limitaria a ilustrar a teoria pelos autores das teorias e conceitos adotados.
com mais um caso. Nem se desenvolve a teoria,
O resultado, aqui, seria o de meramente usar a
nem se amplia o conhecimento do objeto em
teoria para explicar, sem restos, o objeto específico
sua especificidade – o resultado do estudo seria
de nossa pesquisa, assim como o faz em modo
apenas uma descrição do objeto “nos termos da
abrangente para a classe geral de objetos em que
teoria tal” ou sua categorização em um sistema
inscrevemos o nosso.
classificatório apriorístico.
A ideia de “fundamentação teórica” é tradicional e 16/33
O trabalho de relacionar conceitos e teorias,
rica – não deve ser abandonada. Devemos é evitar
de um lado, e questões concretas pertinentes
a impressão de que esses “fundamentos” podem
a uma investigação, de outro, não se faz sem
sustentar sozinhos (só-teoria, só-abstração)
dificuldades. Adoto a noção de “tensionamento”

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o trabalho de enfrentamento da investigação
como preferencial para esse trabalho.
no mundo empírico. A teoria é com certeza um
Outras palavras são corriqueiras, nesse âmbito: dos fundamentos básicos da pesquisa – pois
“aplicar” (perspectivas, conceitos e teorias à não pesquisamos a partir do zero e sim do
pesquisa); desenvolver a “fundamentação teórica” conhecimento estabelecido pertinente. Mas se
ou teórico-metodológica da pesquisa. Certamente não misturarmos, na massa de que se farão os
são válidas. Mas outros ângulos importantes alicerces da pesquisa, as questões e a espessura
do trabalho de articulação teoria/pesquisa não própria da realidade empírica, eles não terão
podem ser deixados na obscuridade, ou ser resistência e estrutura para sustentar o edifício5.
interpretados restritivamente.
Sem esse cuidado, poderíamos estar apenas
Se entendêssemos em modo restrito a palavra falando sobre o objeto no jargão teórico
“aplicar”, arriscaríamos pensar o trabalho adotado ou usando características do objeto
conceitual para a investigação como uma coisa para “ilustrar a teoria”. Como pesquisamos
meio mecânica, de adoção de teorias e conceitos para descobrir coisas a respeito do objeto em
diretivos, conformando o trabalho de investigação investigação (problematizado, portanto), tais
como uma técnica de “aplicação de regras e descobertas, mesmo singelas, por definição não
receitas”. “Aplicar”, portanto, deve ser visto em existiam, antes, no corpo conceitual adotado.
sentido mais sutil que o literal. Senão, estaríamos Devem ser feitas caber, depois, no corpo teórico

5 Apenas estendo, aqui, a metáfora evidente da palavra “fundamentos”, de notação arquitetônica, aliás frequente em pesquisa e
teoria do conhecimento, através do articulador “construção”.
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em que inscrevemos nossa pesquisa. Esse Decorre daí que nem toda teoria, nem toda oferta
esforço corresponde a um tensionamento entre bibliográfica se presta igualmente a esse exercício
objeto e teoria. de articulação central.

É preciso evitar, entretanto, uma interpretação De um lado, temos proposições teóricas de


restritiva para o trabalho de tensionamento. abrangência, que oferecem âmbitos gerais de
“Tensionar” não deve ser usado com o sentido “falas sobre o mundo”, no contexto mais amplo
de recusar, achar defeitos, fazer restrições da pesquisa, e que podem ser tomados como o
– mas sim de trabalhar os componentes da espaço de nossas crenças básicas com relação ao
articulação de modo a fazê-los relacionados conhecimento do tipo de objeto que nos interessa.
17/33
em convergência. Salvo na hipótese de total Tais proposições abrangentes (“de horizonte”)
ajuste harmônico entre as teorias adotadas e certamente não serão negociadas: são adotadas e –
as démarches de uma pesquisa (o que seria idealmente – expressas com clareza nos relatórios
raro ou artificial), trabalhar a articulação de de pesquisa. Entretanto, não se faz pesquisa para

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conceitos e abordagem implica negociações entre confortar doutrinas – por mais relevantes que nos
o abstrato e a ação de investigação. Uma parte pareçam. A teoria não pode, portanto, estacionar
dessa negociação (e talvez redirecionamentos) nesse nível de fundamentação.
se fará na prática da observação e da coleta
Em âmbito teórico próximo a este, encontramos
de dados. Quanto mais conscientemente o
a teoria como conhecimento já constituído sobre
pesquisador enfrente essas disjunções e expresse
aspectos de nosso objeto e seu contexto. Não
suas decisões a respeito, mais contribuirá para o
precisamos “pesquisar tudo” a respeito do objeto de
conhecimento em sua área.
nosso interesse – o que obrigaria a refazer, no âmbito
Outra parte do trabalho de articulação/ da pesquisa, todo o caminho do conhecimento
tensionamento deve, inevitavelmente, ser sobre o objeto.6 Deixaremos de problematizar
feita ainda nas fases preliminares – de diversos aspectos do objeto que, para os efeitos
problematização, de planejamento da pesquisa: da pesquisa, serão considerados secundários em
com aquelas teorias que, mais de perto, oferecem relação ao que questionamos. Para aqueles ângulos
estímulos à construção do problema, que “complementares”, usaremos normalmente o
fornecem premissas instigantes, em cujo âmbito conhecimento estabelecido – uma parte do qual
se põem conceitos a serem usados para construir nos vem de revisões bibliográficas e da pesquisa
o objeto e sugerir indicadores ou tratamento. Tais recente sobre objetos similares. Por definição, não
conceitos podem ser “testados” pelas resistências cabe problematizar nem tensionar tais proposições –
encontradas na pesquisa, em sua especificidade. assumimos, simplesmente, que “informam” o objeto.
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Esses dois âmbitos de referência bibliográfica – o a partir dos fundamentos adotados. Se


das teorias abrangentes, em cuja “fala sobre o determinados conceitos, premissas, hipóteses
mundo” nos inscrevemos; e o do conhecimento heurísticas7 forem adotadas, que desafios
estabelecido e aceito sobre a classe de objetos – e questões dirigem a esse objeto? Este é o
fornecem, sem dúvida, textos importantes para tensionamento do objeto pela teoria.
nossas pesquisas. Para além desses dois aportes,
Paralelamente, o objeto pode sempre desprender
porém, é que encontraremos as teorizações
questões, desafiar a teoria nos âmbitos do
mais centralmente relevantes para a pesquisa
concreto. Sendo abstração, e sendo provavelmente
específica: aquelas que tensionam o objeto e que
desenvolvida a partir de outras questões e
devemos inversamente tensionar pela pesquisa, 18/33
materiais do mundo, é pouco provável que uma
para extrair o melhor que podem nos oferecer.
teoria possa dar conta integralmente de todos
Ao pesquisar um objeto, para além de sua os aspectos que se desdobram de situações
inscrição possível em um âmbito teórico e/ou sua específicas outras. Aliás, se as teorias adotadas

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categorização, interna ou entre similares, com lograssem “explicar” completamente, isto é, à
base em um sistema classificatório estabelecido nossa satisfação, os objetos que nos interessam,
(démarches certamente válidas, mas parciais), não haveria razão para pesquisá-los. É assim que
temos também a expectativa de encontrar “restos”: o objeto pode sempre, de algum modo, tensionar
ângulos ainda não plenamente esclarecidos, as teorias adotadas. Não no sentido de negá-las,
espaços não totalmente cobertos pelas teorias mas de complementar com ângulos específicos; de
solicitadas. Esse tipo de esforço reflexivo é que observar diferenças na semelhança (realizações
pode ser caracterizado como de tensionamento singulares ainda não percebidas na proposição
mútuo entre teoria e objeto, potencializado pelo geral), ultrapassando o nível “geral” da proposição
modo como problematizamos o caso. abstrata e buscando perceber “variações internas”
desta; ou de observar semelhanças para além
Mais do que “aplicar” teorias e conceitos
das especificidades de cada variação. Tais
para apreender, categorizar ou “explicar”
tensionamentos permitem outras proposições
completamente um objeto ou situação empírica,
gerais hipotéticas para apreensão do objeto – que
trata-se de problematizar o objeto em estudo
não negam necessariamente a proposição geral de

6 Outra metáfora recorrente em pesquisa, a partir da própria etimologia da palavra “método” – caminho para uma meta a atingir.
Que, aliás, é informada por sua experiência e por suas leituras.

7 As hipóteses heurísticas correspondem a inferências abdutivas elaboradas a partir de dados parciais disponíveis, e que são
então assumidas – provisoriamente – como possíveis. Acionadas, para todos os efeitos de uma pesquisa, pode-se então perceber
o retorno obtido da realidade observada quando o fazemos na ótica dessa hipótese. Note-se que não se trata de uma “hipótese de
pesquisa”, mas de um instrumento de questionamento e de observação para gerar descoberta.
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partida, mas que podem assinalar perspectivas asseguradora de proposições ou descobertas


mais interessantes para o exame de casos desenvolvidas na investigação.
daquele tipo.
Teoria como acionamento metodológico
* * *
Percebemos dois ângulos principais de
Encontramos, na discussão acima quatro níveis acionamento metodológico:
diferentes de uso possível de teoria em uma
- teoria como reflexões que ajudam a construir um
pesquisa.
problema de pesquisa – a selecionar pertinências,

Teoria como visão de base (fundamentos) a perceber relações entre as coisas (e entre as
19/33
coisas e os conceitos) e portanto a problematizar
Teoria como proposições abstratas a respeito
o objeto segundo essas relações;
de determinados tipos de objeto, de questões
de conhecimento: é o espaço de nossas crenças - teoria como conjunto de conceitos que dá apoio ao

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fundamentais sobre o conhecimento e suas trabalho de observar sistematicamente um objeto,
possibilidades. Nesse nível, com relação à de direcionar as perspectivas para interrogá-lo.
pesquisa, a teoria precede o objeto – funciona
Nesse âmbito, não basta apenas “conhecer a
como “fundamento”. O gesto de acionamento é o
teoria” – é preciso acioná-la a serviço de nossa
da adoção.
pesquisa. O que podemos chamar de “construção
de aparato metodológico” de uma pesquisa é esse
Teoria como conhecimento estabelecido
trabalho sobre a teoria, fazendo-a dialogar com
Para além dos fundamentos propriamente
nosso objeto e nosso problema, para fornecer
ditos, utilizamos teorias pelo que elas explicam
encaminhamentos à pesquisa.
sobre nosso objeto e seu contexto. O fato de
dispor de tais conhecimentos já elaborados Nesse aspecto, as teorias, certamente poucas

nos dispensa de um esforço excessivamente e bem direcionadas, são efetivamente usadas

diversificado e abrangente de busca, permitindo e tensionadas pelo objeto. Elas não devem

a concentração do pesquisador nos aspectos explicar sem restos – pois se assim fosse, a

propriamente problematizados de seu objeto. O pesquisa seria desnecessária. Antes, fornecem

gesto de acionamento teórico é o de selecionar instrumentos que nos permitem interrogar

as informações teóricas disponíveis e de o objeto. O gesto de acionamento é o uso

organizá-las com pertinência, como suporte de teorias para perguntar, para planejar a

complementar para nos oferecer um objeto observação sistematizada e para apoiar o

parcialmente conhecido, e/ou como conexão trabalho de interpretação e inferências.


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Teoria produzida pela pesquisa os conhecimentos já estabelecidos que devem


(objetivo básico da pesquisa) ser importantes para dar forma ao objeto; no

Trata-se da teoria como diálogo produzido entre os terceiro, as teorias tensionadoras do objeto e

resultados de uma pesquisa específica e as teorias tensionadas pelas questões “em elaboração” – ao

estabelecidas (desde ângulos complementares, até mesmo tempo fornecendo bases para interrogar

revisões fundamentais da teoria). o objeto (e não para explicá-lo); no quarto,


redirecionamentos, revisões e complementos
Temos aqui outro diálogo, de certo modo
aportados à teoria estabelecida pelos resultados
inverso aos anteriores. As perspectivas teóricas
da pesquisa, conforme as possibilidades do objeto
resultantes da pesquisa – os resultados do
e das descobertas realizadas. 20/33
problema abordado na pesquisa – direcionam
o olhar para novos conhecimentos e reflexões Como é evidente, não são as teorias, per se, que se

a respeito da realidade considerada. Os dispõem a ser articuladas com a pesquisa em uma

conhecimentos obtidos estão, é claro, ou outra posição. Tudo depende de nosso objeto,

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relacionados com as teorias de partida e da problematização relacionada, dos objetivos da

as complementam. Essa produção pode pesquisa e do que foi assumido como eixo. Somos

ser definida como “a teoria específica do levados assim fazer distinções entre diferentes

objeto pesquisado”. Esta pode ter a forma de possibilidades do acionamento teórico e a tomar

proposições nomotéticas – se a pesquisa suporta decisões sobre o que faremos cada aporte teórico

tal tipo de afirmações; ou, mais provavelmente, fazer em nossa pesquisa.

de inferências, modelizações, “generalizações


para a teoria” (YIN, 2005), novas hipóteses de 6 A investigação propriamente dita –
o trabalho de observação
investigação, novas perguntas de horizonte etc.
O trabalho de observação sistematizada
O acionamento é a própria produção de teoria
corresponde à investigação propriamente dita, à
ou de articulação de hipóteses finais no
defrontação com a realidade, em que o pesquisador,
corpo de teorias que ofereceram apoio para o
munido de sua problematização e de suas bases
desenvolvimento da pesquisa.
teóricas, vai procurar elucidar suas questões através

* * * de um exame pertinente das coisas e situações.

Observamos, então, quatro níveis diferentes de Mas não basta, para “ir a campo”8, contar com um

relacionamento entre teoria e pesquisa – no bom problema e teorias adequadas. É relevante

primeiro, a escolha de grandes perspectivas, ainda desenvolver um bom planejamento e

de quadros gerais de inscrição; no segundo, organização do processo de abordagem dos


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materiais e/ou situações a serem investigadas. disponível pelo estudante. Uma previsão excessiva
Que conjunto específico de coisas, documentos, de materiais, ou uma diversidade de situações,
processos, situações e/ou pessoas deve ser que não conseguirão ser examinadas com a
observado? Tal decisão deve ser cuidadosamente acuidade requerida na duração do mestrado ou
elaborada, com previsão do que vai ser do doutorado, leva ao risco de uma observação
examinado, em que quantidades, variedade e superficial e impressionística; ou, pior ainda,
especificidade. Que critérios e características a uma amputação improvisada de parte das
agregam e dão consistência ao observável? Além observações previstas, quando o momento
desses critérios e características, que outras imperativo da conclusão cai repentinamente
decisões devem ser tomadas, quanto a dimensão, sobre o pesquisador. 21/33

locais, acesso, seleções, para a construção do


Outra questão relevante corresponde ao que
conjunto a ser observado?
deve ser observado no observável. Os materiais
Essa construção, naturalmente, deve ser e situações que interessam a uma pesquisa

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estabelecida em função do problema – prometendo em Comunicação são geralmente complexos
viabilizar as elucidações que este busca. Deve e abrangentes. Quando não trabalhamos com
ser também coerente com as premissas e com os poucas variáveis, extraídas de seu contexto e
fundamentos teóricos assumidos. controladas, nos defrontamos com uma grande
diversidade interna do objeto; e com relações
Como se caracteriza o material, em função das
contextuais múltiplas – e esse é geralmente
observações pretendidas? É relevante decidir se
o caso, nos estudos qualitativos. É claro que
o mais promissor para nossas dúvidas é o exame
a problematização elaborada, os objetivos da
acurado de um caso singular, se precisamos
pesquisa, as hipóteses norteadoras, servem
da representatividade de uma “população”
de critério para as decisões sobre os ângulos
(cuja amostra receberá, nesse caso, tratamento
preferenciais dos objetos e sobre os contextos
estatístico), se queremos observar uma
pertinentes – é relevante refletir sobre
diversidade de objetos pertencentes a uma mesma
essas articulações.
classe, se uma comparação entre duas situações
promete desprender as informações requeridas Mas, além disso, devemos pensar sobre as
para a descoberta. “perguntas” que faremos ao objeto. Estas
dependem das perguntas de pesquisa, mas não
Além da pertinência do observável, é claro que
se confundem com elas. Como ilustração dessa
sua constituição deve levar em conta o tempo

8 “Ir a campo”, em nossa área, pode ser uma metáfora. Se vamos investigar programas de televisão, o “campo” pode se encontrar
na sala do pesquisador.
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distinção, podemos assinalar o equívoco que seria, pensar antecipadamente na forma de coleta,
em uma pesquisa sobre recepção, por exemplo, sistematização e formulação dos dados
levar aos entrevistados, diretamente, nossas (informações, pistas etc.), de modo a ser possível,
perguntas de pesquisa. O que obteríamos aí não em continuidade, trabalhar interpretativamente
seriam indicações sobre como as pessoas veem e sobre estes.
interpretam tais e tais produtos midiáticos – e sim
Diferente de uma reportagem, não vamos ao
uma opinião a respeito dos ângulos hipotéticos
objeto apenas para alinhar e descrever fatos “que
que constituem nossa formulação. Se vamos
apareçam”, objetivamente. É preciso ainda, sobre
observar documentos, não vamos “forçá-los”
a observação – cujo modo adotado já deve ser
superficialmente na forma de nossas perguntas 22/33
uma decisão pertinente – relacionar, interpretar,
– devemos buscar sua lógica própria, tipicamente
inferir. Tal trabalho não pode ser nem improvisado
implícita, para então perceber as relações que vão
nem impressionístico: decorre diretamente
dessa lógica às nossas perguntas de pesquisa.
das provisões estabelecidas no problema e nos

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A observação material da situação procura as fundamentos. Assim, o planejamento sobre a
pistas, busca constituir “dados” – elementos coleta, a sistematização e a formulação dos dados,
factuais que nos ofereçam informações básicas a deve ser previsto para viabilizar e favorecer o
serem interpretadas para atender às perguntas da trabalho interpretativo.
problematização. “Perguntar ao objeto”, decidir
Um equívoco que às vezes ocorre é o de um
como organizar e sistematizar a observação
levantamento muito abrangente e diversificado de
corresponde a decidir que fatos, pistas,
dados mal sistematizados – sobre os quais não se
indicadores, dados, queremos fazer sobressair,
sabe, depois, como trabalhar interpretativamente
com a expectativa de que estes respondam às
ou como gerar ordem no caos informativo, para
perguntas da pesquisa.
poder desenvolver inferências.
Definidos esses “objetivos de levantamento de
Um último e importante ângulo sobre a questão é o
dados”, é importante prever o acesso ao segmento
trabalho de pré-observação.
de realidade pretendido – em dois aspectos: o
acesso prático (obter contato com as coisas e/ou Uma das dificuldades do planejamento – não só
pessoas); e o acesso informacional (obter/extrair, o plano de observação, mas todo o desenho da
do conjunto a ser observado, as informações pesquisa, com seu problema e sua fundamentação
específicas que interessam à pesquisa). teórica – é um eventual distanciamento da
realidade das coisas. No nível da reflexão prévia, é
Correlato a esse processo – que leva ao trabalho
relativamente fácil harmonizar todos os ângulos
sistemático da observação – é relevante
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e gerar um projeto de pesquisa bem torneado. que nos ocupa neste item, esse trabalho
Mas não é infrequente, quando se “vai a exploratório prévio parece ser uma condição
campo” para o trabalho prático da investigação, básica para o planejamento de uma observação
descobrir aspectos não previstos, que interferem sistematizada, um bom desenho da abordagem
em nosso planejamento. Não se trata apenas metodológica do objeto em seus aspectos mais
das dificuldades práticas: constatamos que a materiais.
realidade é renitente e não se comporta como
Um bom relatório de pré-observação não fala apenas
prevíamos. Se formos diretamente para o
sobre o encontro do pesquisador com a realidade –
trabalho de investigação da realidade, com o
elabora, a partir desse encontro, as injunções que a
projeto teoricamente estruturado, mas sem um 23/33
situação dirige a quem pretenda elucidá-la.
contato prévio com a situação ou os materiais
a serem investigados, podemos descobrir que * * *
algumas previsões não eram adequadas – em um
Nesse ponto, as articulações entre “problema”,

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momento no qual, diante de uma situação que
“teoria” e “observações” podem ser estudadas
“não obedece” ao desenho da pesquisa, já não se
como um teste do projeto.
possam mais fazer as correções exigidas.
A escolha dos observáveis e os protocolos para
Um dos passos iniciais da pesquisa, por isso
o que vai aí ser especificamente observado
mesmo, deve ser um trabalho de pré-observação
são coerentes com as teorias acionadas? São
que, mesmo sem seguir delineamentos muito
pertinentes para o problema da pesquisa,
rigorosos – o planejamento geral ainda não
prometendo dados e indícios favorecedores da
terá sido completado – faça o mestrando ou
descoberta segundo as perguntas feitas?
doutorando interagir com o espaço em que
futuramente vai pesquisar. Isso inclui pressentir As teorias acionadas dão suporte ao problema,

as resistências do real, a aspereza dos processos servem à elaboração de perguntas específicas?

não domados pela teoria, a indefinição dos Oferecem um horizonte adequado para a

contextos e das ocorrências confusas. curiosidade expressa no problema? Os objetos


abstratos abrangidos pela teoria (classes de
Assim, a pré-observação não é um
objetos, conceitos referentes ao mundo) acolhem
levantamento preliminar de dados – é um
adequadamente os observáveis específicos
processo exploratório para perceber melhor as
selecionados – sem, entretanto meramente
necessidades de abordagem, solicitações postas
categorizá-los em respostas apriorísticas? Evitam
à teorização, desafios dirigidos ao trabalho de
pré-explicar, sem resto, os observáveis?
problematização. Particularmente, na questão
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O problema da pesquisa refere adequadamente própria reflexão metodológica, os pesquisadores


a base teórica que lhe dá fundamento? podem fazer ajustes para superação.
Trabalha questões de horizonte oferecidas pela
a. “Substituição” de um verdadeiro problema de
fundamentação adotada? Articula bem tais
pesquisa pelo tratamento de um tema, às vezes
questões com perguntas específicas, voltadas para
com erudição, mas sem busca de respostas e
seu objeto de investigação? Dirige aos observáveis
conhecimento; dispersão de ângulos, ideias,
um plano de esquadrinhamento que efetivamente
falas sucessivas sobre o objeto, meramente
diz respeito às perguntas que caracterizam o eixo
agregadas por acumulação, em vez de
da investigação?
estruturadas por uma “questão a resolver”
24/33
São apenas exemplos de questões-teste para
b. Tratamento de teorias como mera resenha dos
checar a boa articulação do projeto. Ao fazer
autores, sem relacioná-los pertinentemente
perguntas desse tipo para checar as relações entre
com um problema específico em pesquisa;
estes componentes centrais, torna-se fácil perceber

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ausência de percepção da diferença entre
a necessidade de reajustes homeostáticos em um
estudar teoria e utilizar teorias a serviço de
ou outro aspecto da pesquisa.
uma pesquisa.

7 Alguns riscos de desvio c. Ausência de tensão entre teoria e

Na conjugação desses três elementos – problema, objeto empírico, seja porque a teoria é

teoria, observação – podem-se perceber algumas doutrinariamente usada para “explicar” a

armadilhas habituais. realidade, em vez de “perguntar”, seja porque


o dado empírico torna-se mera ilustração da
Com a convicção de que a simples percepção de
proposição teórica já dada como “verdade” (e
um risco já é um bom caminho para enfrentá-lo,
não tensiona a teoria). Nas duas alternativas
apresento a seguir uma listagem dos desvios que
há uma prevalência abstrata da teoria.
tenho encontrado com maior frequência. Como
se perceberá, a maioria desses riscos pode ser d. Como um desdobramento da ausência de

relacionada às reflexões apresentadas sobre os tensionamento teórico sobre o objeto, pode

três elementos principais na articulação de uma ocorrer que o trabalho de observar o objeto

pesquisa. empírico resulte em mero “descritivismo” ou


“classificacionismo”. Nesse caso, o objeto
Os modos de enfrentar os riscos serão muito
empírico é tratado impressionisticamente, sem
variados, e dependem dos projetos específicos,
referência a conceitos e teorias que o organizem
com suas problematizações, observáveis e
e construam enquanto “objeto de pesquisa”. Ao
aparatos teórico-metodológicos. Através de sua
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contrário do risco anterior, aparece aqui uma de vista sobre esse objeto “corresponde à
prevalência empiricista do objeto. Esse terceiro verdade”. A diferença do anterior seria apenas
desvio tende a coexistir com aquele apresentado de que, lá, trata-se de uma hipótese defendida;
no item “b”. e aqui, de uma “posição”, de uma “política” a
respeito da realidade social.
e. Exposição de um problema excessivamente
amplo, abrangente, não relacionado a um Observo que assinalar esse risco não
enfoque específico que possa ser diretamente corresponde a pretender que o pesquisador
investigado. Se o problema é tratado apenas deva trabalhar sem pontos de vista sobre
no nível abstrato, geral, arrisca direcionar a a sociedade, que o conduzem em sua
25/33
um ensaio, e não a uma investigação. Nesse investigação. A diferença é que, no trabalho
caso, o material empírico abordado não é adequado, usam-se os pontos de vista
efetivamente investigado, mas apenas tratado como guia para investigar o objeto e para
tematicamente, como mera “referência descobrir características suas (que podem

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empírica” de uma argumentação que se tanto confortar as posições como sugerir
desenvolve no abstrato. complementações e redirecionamentos). O
equívoco seria o de só enxergar no objeto
f. Elaboração argumentativa em defesa de insights
aquilo que confirma os pontos de vista
e posições prévias, uso de premissas como se
de partida, levando a um processo não de
fossem hipóteses – em vez de efetiva busca
descoberta, mas de argumentação para
de conhecimento – e resultando que o fim da
confirmar aquilo em que já se acreditava.
pesquisa, como consequência, apenas reafirma
o ponto de partida. O pesquisador passaria, h. Apagamento de uma efetiva abordagem
então a alegar “confirmação” das hipóteses metodológica em pesquisa, apenas
de partida, quando as teria apenas reiterado, imitada pela adoção de um jargão teórico-
tautologicamente. Devendo-se lembrar, ainda, metodológico estabelecido – sem que essa
que em pesquisa qualitativa dificilmente nosso alegação abstrata produza encaminhamentos
objetivo seria o de “confirmar hipóteses”. práticos de investigação.

g. Correlato ao anterior seria a simples i. Concepção de “pesquisa” e de texto


defesa militante de um ponto de vista já acadêmico como verbalização abstrata e
estabelecido, de uma posição prévia adotada pedante, acessível apenas a iniciados ou a
pelo pesquisador que, em vez de buscar uma companheiros de “credo teórico”, em vez
ampliação de conhecimento sobre um objeto, de busca de conhecimento compartilhável e
trabalhe apenas para “provar” que seu ponto dirigido a leitores que, embora certamente
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escolados, não são conhecedores da de cuidado com relação a pontos como estes, a
questão específica – e em função dos quais, probabilidade de que a pesquisa corra tais riscos
justamente, como gesto de compartilhamento, torna-se certamente reduzida.
se expõem os resultados de uma pesquisa.
8 Objeções
j. Pesquisa desenvolvida fora de enfoque
No item sobre “metodologias”, acima, assinalei os
comunicacional, inteiramente absorvida
cotejos internos ao próprio trabalho de pesquisa
por angulações teóricas, metodológicas ou
que oferecem base para revisões contínuas das
temáticas que, embora pertinentes como
articulações entre componentes – possibilitando,
aporte ou espaço de interface, terminam por
26/33
assim, assegurar um aperfeiçoamento da
desviar o estudo – levando a consequências
investigação pela construção de coerência interna
diversas, como o desencontro com as
entre os diversos processos.
possibilidades de interlocução oferecidas pelo
Programa de Pós-Graduação, a ausência do Outra linha de ação metodológica deve ser

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rigor específico da área vizinha mimetizada, a ativada, ao lado desta – a partir de um olhar
não-contribuição para o desenvolvimento do externo. Trata-se da submissão do trabalho (por
campo de estudos em Comunicação. seus produtos, mas também ainda na fase “em
processo”) à objeção dos pares e docentes.
Alguns desses riscos são mais frequentes, outros
menos. Alguns se articulam em círculo vicioso, Uma das características essenciais do trabalho
outros aparecem pontualmente. Normalmente, acadêmico é a de estar constantemente sujeito à
uma tese ou dissertação não se apresenta como crítica da comunidade de reflexão e investigação.
totalmente tomada pela presença deste ou daquele Quando um trabalho científico é publicado, está
desvio. Os debates de orientação, as apresentações sendo, com sua própria divulgação, submetido
preliminares e parciais de textos referentes à ao olhar perscrutador dos demais pesquisadores,
pesquisa em curso, do estudante, tendem a trazer que poderão não só examinar sua coerência
à luz aspectos menos claros, que podem assim ser interna, como também sua inserção no âmbito
facilmente corrigidos. mais vasto da área de conhecimento em que se
propõe inscrito. Pode aí ser cotejado com outras
Não pensamos essa “indicação de riscos” como se
perspectivas, outras teorias, outros modos de
fosse um check-list para análise de uma dissertação
aproximação – que assim apresentam suas
ou tese prontas – não creio que tivesse grande
interpretações, apropriações e críticas. Submete-
utilidade para isso. Penso, diversamente, no
se igualmente à crítica do acionamento que faz
próprio processo de produção. Na medida em que
do conhecimento estabelecido, ao exame sobre
o estudante e seu orientador adotem uma atitude
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o uso adequado ou não das teorias acionadas. cada área são o lugar principal de exposição da
Enfrenta a reflexão sobre a qualidade e os bons produção ao olhar crítico.
fundamentos dos resultados apresentados.
Outro âmbito relevante são os congressos e
É nesse processo que o empreendimento seminários de cada disciplina ou campo de
científico se justifica e legitima: pelo conhecimento. O objetivo de viabilizar a objeção
enfrentamento constante de todo e qualquer é aí tanto melhor servido quando a apresentação
argumento, demonstração ou exposição de textos ultrapassa o nível de mera exposição
factual que possa contestá-lo. As proposições e estes são submetidos ao crivo do debate. Uma
novas, as contribuições ao conhecimento, pesquisa em andamento oferece a possibilidade
27/33
para serem acolhidas, devem sobreviver a de elaboração de artigos que expressam estágios
esse exame rigoroso. Uma proposição aceita parciais do trabalho em curso. A simples
e acolhida permanece sempre diante do risco apresentação – e com maioria de razão, o debate
da falseabilidade, na ocorrência de novas sobre tais textos – viabiliza a percepção, pelo

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perspectivas que a superem. próprio pesquisador, desse olhar externo que
pode solicitar reformulações e contribui para a
Em síntese: faz parte intrínseca do processo
qualidade da pesquisa.
e dos resultados da pesquisa, assim como da
produção teórica, estarmos abertos à objeção. No espaço da Compós, acredito que nossas
Esse processo é também um aliado inestimável pesquisas em geral têm sido beneficiadas direta e
no próprio desenvolvimento da pesquisa, pois indiretamente pelos debates de que participamos.
as objeções feitas, longe de terem um cunho No trabalho de nossos mestrandos e doutorandos,
destrutivo, são um estímulo permanente ao é para obter tal tipo de enfrentamento que,
aperfeiçoamento. Certamente, todos os que crescentemente, estimulamos a submissão de
trabalham no campo acadêmico assumem tais trabalhos a seminários e congressos. Estes
perspectivas como estruturais, para a produção correspondem a uma ampliação necessária do
de conhecimento. Mas é preciso também realizar âmbito de objeções para fora do circuito interno
concretamente essa percepção no dia a dia da de cada PPG.
pesquisa e da formação de pesquisadores.
Mas dentro dos PPGs, também, as oportunidades
Para isso mesmo, o campo da formação de acolhimento do olhar externo ao trabalho
acadêmica inclui previsões para que o exercício devem ser intencionalmente elaboradas. É com
da objeção se realize e seja produtivo. Uma dessas essa preocupação que devemos organizar todos
previsões é justamente a injunção aos mestrandos os espaços que permitam ao estudante expor o
e doutorandos para publicarem – os periódicos de estado em que se encontra sua pesquisa – seja pela
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apresentação de textos parciais, seja pela exposição favoravelmente no andamento subsequente da


dos processos em que se encontra engajado. pesquisa, devido à incidência da arguição sobre
o estado da investigação, na medida mesmo
Frequentemente os PPGs incluem em sua
da qualidade das objeções apresentadas em
estrutura curricular atividades expressamente
um momento em que o trabalho, já mais ou
voltadas para tal oportunidade de enfrentamento
menos desenvolvido, se defronta com um olhar
– e isso é possível desde o início da formação,
“externo”; e quando tem ainda tempo disponível
uma vez que os estudantes ingressam já com
para reformulações significativas. É também um
uma proposta de pesquisa. O projeto pode ser
bom momento – com dramaticidade adequada
aperfeiçoado a partir de dúvidas e objeções dos
– para que os estudantes aprendam a incluir o 28/33
professores e dos colegas, desde que lhe seja dada
trabalho de objeção como parte integrante do
a oportunidade de se expor.
processo de conhecimento.
Ao lado de atividades expressamente desenhadas
Assim, ao lado da repercussão “imediata” das

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com esse fim, na estrutura curricular, diferentes
objeções sobre a qualidade da pesquisa em curso,
disciplinas, em diferentes formatos, costumam
interessa também (e talvez mais ainda, pois trata-
abrir a possibilidade de apresentação, no todo
se aqui do processo de formação do pesquisador)
ou em parte, de propostas e perspectivas dos
a aprendizagem das competências do estudante
estudantes sobre sua própria pesquisa. Nessas
para desenvolver o sentido das objeções que
ocasiões, submetê-las ao esquadrinhamento da
encontra; para saber triar aquelas que possam
análise crítica é uma contribuição relevante para a
efetivamente contribuir para seu trabalho; para
qualidade do trabalho.
realizar teórico-reflexiva no objetivo de enfrentar
Os exames de qualificação e/ou defesas de projeto, aquelas que não o convençam, pois não basta
que a maioria dos programas inclui como requisito recusá-las in limine.
de formação, têm igualmente esse objetivo de
Para além dessas aprendizagens, a serem
aquilatar o grau de avanço na competência dos
desenvolvidas no processo prático de enfrentamento,
estudantes pesquisadores para enfrentar objeções
o estudante deve sobretudo desenvolver sua
e para, depois, fazer um bom proveito das críticas
capacidade para prever objeções. Isso decorrerá,
e recomendações recebidas.
naturalmente, da prática de encontrar objeções ao
Nossa experiência no PPG em Comunicação que elabora, de compreender os âmbitos de reflexão
da Unisinos tem demonstrado que o exame e modos de investigar nos quais o seu trabalho de
de qualificação, realizado relativamente cedo pesquisa vai circular – em síntese, da capacidade de
no decurso da formação, repercute muito se inscrever no campo de estudos em Comunicação
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percebendo suas tendências e solicitações, assim O apoio a ser dado ao orientando, com o melhor
como as possibilidades de contribuição específica sentido metodológico, seria este, de prepará-lo e
para o desenvolvimento desse campo. a sua pesquisa, para as objeções que fazem parte
estrutural do processo de conhecimento. Como
Prever objeções é então uma capacidade
em toda formação prática, aprende-se a fazer
relevante para o pesquisador – que pode
fazendo. A formação do pesquisador através da
assim de antemão se organizar para aproveitar
elaboração de uma pesquisa é o exemplo mesmo
os aportes dessa previsão e para elaborar
desse tipo de formação. Aprende-se, portanto, a
argumentos e investigação um passo adiante, em
trabalhar com objeções enfrentando-as. Um dos
aperfeiçoamento prévio. É nesse espaço, creio,
principais papéis do orientador, mais significativo 29/33
que se evidencia com maior clareza a lógica
que a indicação de teorias e de caminhos, é a de
do processo de arguição de tese e dissertação.
oferecer uma atenção constante e uma disposição
Nesse evento, o estudante deve demonstrar,
permanente para, apreendendo o que o estudante
diante de uma diversidade de “leituras” de sua

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está elaborando, oferecer objeções instigantes.
obra de formação, certo grau de competência
para enfrentar objeções – que serão tanto
9 Conclusão
melhor trabalhadas quando, com bom domínio
As proposições apresentadas acima decorrem de
daquilo que ele próprio elaborou, pode prever os
situações concretas, trabalhadas em sala de aula
diálogos a que seus processos e resultados serão
ou em relações de orientação. Nas condições de
solicitados a participar.
origem, portanto, estiveram associadas a alguma
Correlatamente, a melhor arguição não é a que dificuldade concreta e específica, a alguma
se dispõe como avaliação escolar da qualidade percepção de efetivas relações entre questões de
do trabalho realizado, ou que opõe alternativas investigação e problemas teórico-metodológicos,
de investigação para o objeto; e sim a que a dúvidas sobre encaminhamentos práticos e
busca dialogar criticamente com aquilo que a justificativas para decisões a serem tomadas
foi efetivamente feito, percebendo as lógicas pelos estudantes.
internas do trabalho, para aí encontrar objeções e
No processo de sistematização para gerar
comentários voltados para sua superação.
alguma consistência e para manter uma
É a defesa da dissertação ou da tese que expressa dimensão aceitável de páginas, abstraímos
o grau de prontidão em que o estudante deve as circunstâncias concretas. Com isso, as
se encontrar ao final da formação. Representa, proposições ganham em generalidade – mas
também, por isso mesmo, o modelo que devemos ampliam seu distanciamento das questões
ter no trabalho de orientação. específicas que lhes davam substrato.
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Ao mesmo tempo, o endereçamento das Ao lado dessa vantagem com que o texto conta em
proposições se modifica. Na origem, foram seu endereçamento – o de ser desenvolvido pelos
esparsamente elaboradas nas situações próprios leitores – deve-se reconhecer que se põe
enfrentadas – gerando falas de sala de aula, também como sujeito a objeções. A experiência
pequenos textos repassados aos estudantes, vivida dos leitores pode sugerir, em suas situações
anotações diversas e debates com orientandos concretas e específicas, diferentes percepções,
sobre seus problemas de pesquisa, comentários no outros encaminhamentos. Pode sugerir ainda, à
contexto de arguições em bancas. leitura, uma interpretação diversa e inferências
variadas. Mas acredito, justamente, que esse
No presente texto, além de reunidas de
tensionamento, entre o que proponho e o que 30/33
modo mais ou menos sistemático, são
caracteriza a experiência e as preferências do
dirigidas aos colegas preocupados com o
pesquisador, é que deve ser propriamente produtivo.
trabalho de investigação de seus estudantes
– principalmente na pós-graduação em Minhas proposições podem, em um ponto ou

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Comunicação, mas possivelmente também nos outro, contrastar com perspectivas do leitor e com
trabalhos de conclusão de cursos de graduação; sua experiência diferenciada. Essa diversidade
e a pesquisadores em formação, no seu será produtiva tanto pela complementação mútua;
enfrentamento pessoal com os desafios diversos como pelas objeções que sejam apresentadas
de suas pesquisas. a este texto. Caso os leitores, sob o estímulo
desse tensionamento, queiram compartilhar
Posso contar, então, com a experiência do leitor
suas objeções, seus comentários, assim como
na própria atividade de ensino e orientação de
perspectivas complementares, agradeço o envio
pesquisa, ou de investigações em curso. No caso
destas. Serão bem acolhidas, como parte de um
de mestrandos e doutorandos, é o interesse
debate relevante em nosso trabalho comum de
específico de suas pesquisas que deve completar
desenvolvimento da pesquisa e da formação pós-
uma lógica de leitura. Tais experiências, de
graduada na área da Comunicação.
orientação ou de enfrentamento da pesquisa,
é que lhes permitirá acrescentar substância
Referências
material sobre o que aqui aparece em forma
O presente artigo não é uma reflexão desenvolvida
abstrata. O trabalho de concretização ajudará
a partir de material bibliográfico. Como expresso
a recolocar a visada de processos práticos que
no texto, as proposições apresentadas decorrem
deve estar associada a tais reflexões. O que
sobretudo da experiência prática do autor no
deve completar esse texto é o processo de sua
enfrentamento de questões que se põem em
reinscrição na prática.
disciplinas de metodologia de pesquisa em
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comunicação; e na análise de projetos de pesquisa, Denzin, Norman; Lincoln, Yvonna (Org.).


tanto no ambiente de formação, em PPGs, como na Handbook of qualitative research. California,
interlocução com agências de fomento à pesquisa. EUA: Sage Publications, 2000.

Por outro lado, somos certamente devedores, nas Eco, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo:
reflexões, de leituras que serviram para dar sentido Editora Perspectiva, 2007.
àquela experiência e para evitar descaminhos.
Ginzburg, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma
Incluímos assim, por reconhecimento de tal dívida,
indiciário. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e
as indicações a seguir. Estas servem também como
história. São Paulo: Companhia da Letras, 1989.
sugestão de leitura, em complemento às que os
31/33
eventuais interessados já acionam em seu trabalho Goldmann, Lucien. O Conceito de Estrutura
de pesquisadores. Significativa na História da Cultura. Dialética e
Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
Becker, Howard S. Métodos de pesquisa em

Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.14, n.1, jan./abr. 2011.
Ciências Sociais. São Paulo: Hucitec, 1993. Laville, Christien; Dionne, Jean. A construção do
saber. Porto Alegre: Artmed, 1999.
Bourdieu, Pierre; Chamboredon, Jean-Claude;
Passeron, Jean-Claude. A profissão de sociólogo: Martino, Luiz Cláudio. Interdisciplinaridade e
preliminares epistemológicas. Petrópolis: Vozes, objeto de estudo da comunicação. In: Hohlfeldt;
2002. Antonio, Martino, Luiz Cláudio; França, Vera Veiga
(Org.). Teorias da Comunicação: conceitos,
Braga, José Luiz; Calazans, Maria Regina.
escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001.
Comunicação e Educação: questões delicadas na
interface. São Paulo, Hacker, 2001. Piaget, Jean. A situação das ciências do homem
no sistema das ciências. Lisboa: Bertrand, 1971.
Braga, José Luiz; Lopes, Maria Immacolata Vassallo
de; Martino, Luiz Cláudio (Org.). Pesquisa empírica Popper, Karl. All life is problem solving. London,
em Comunicação. São Paulo: Editora Paulus, 2010. Routledge, 1999.

Braga, José Luiz. Para começar um projeto de ______. A vida é aprendizagem: epistemologia
pesquisa. Comunicação e Educação. São Paulo, v. evolutiva e sociedade aberta. Lisboa: Edições 70,
X, série 3, p. 288-296, 2005. 2001.

Coulon, Alain. Etnometodologia. Petrópolis: Lopes, Maria Immacolata Vassalo de. Pesquisa em
Vozes, 1995. Comunicação. São Paulo: Loyola, 1990.

DaMatta, Roberto. Relativizando: uma introdução Yin, Robert K. Estudo de caso: planejamento e
à antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. métodos. Porto Alegre: Artmed, 2005.
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The practice of research La práctica de la investigación


in Communication: a en comunicación: un
methodological approach enfoque metodológico para
to decision-making la toma de decisiones
Abstract: Resumen:

The text has in its core the practical question of El texto tiene como eje la cuestión práctica de

how to provide, according to the current reality of cómo proporcionar, en la realidad actual de los

the Graduate Studies in Communication, student programas de post-grado de Comunicación, apoyo

support for the referral of appropriate methodological para el encauzamiento metodológico adecuado de

theses and dissertations. It assumes that empirical tesis y disertaciones. Supone que la investigación

research is a formative process, which is essential empírica es un proceso formativo esencial para los

for master’s and doctoral students. Considering estudiantes de maestría y doctorado. Considerando 32/33

the ineffectiveness of the adoption of strict and a la ineficacia en la adopción de reglas metodológicas

priori methodological rules and also the variety of apriorísticas y rígidas y la gran variedad de

theoretical angles and object types in Communication ángulos teóricos y de tipos de objeto en el área,

Studies, it proposes perspectives for basic and cross- propone perspectivas básicas y transversales para

methodological care, appropriate to the diversity of cuidados metodológicos, adecuadas a la diversidad

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qualitative research. The absence of a priori rules de investigaciones cualitativas. Observa que el

makes the reflexive decision-making a central element abandono de las reglas apriorísticas torna la toma

of methodology. The article offers propositions on ponderada de decisiones en un elemento central

three elements of the research: research problems, de la conducción metodológica. El artículo ofrece

theoretical foundations and empirical observation. It reflexiones sobre tres elementos de la investigación:

deals, finally, with the objections as a central process problematización, fundamentación teórica y

to the advancement of knowledge. observación empírica. Finalmente trata de las


objeciones como proceso fundamental en el avance
Keywords:
del conocimiento.
Communication Research - Methodologies -
Curriculum - Theoretical Foundation – Systematic Palabras clave:

Observation - Objections. Investigaciones de la Comunicación - Metodología


- Problematización.- Fundamentación Teórica -
Observación Sistemática - Objeciones.

Recebido em: Aceito em:


1 de julho de 2011 1 de julho de 2011
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Expediente E-COMPÓS | www.e-compos.org.br | E-ISSN 1808-2599

A revista E-Compós é a publicação científica em formato eletrônico da Revista da Associação Nacional dos Programas
Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Pós-Graduação em Comunicação.
(Compós). Lançada em 2004, tem como principal finalidade difundir a Brasília, v.14, n.1, jan/abr. 2011
produção acadêmica de pesquisadores da área de Comunicação, A identificação das edições, a partir de 2008,
inseridos em instituições do Brasil e do exterior. passa a ser volume anual com três números.

CONSELHO EDITORIAL John DH Downing, University of Texas at Austin, Estados Unidos


Afonso Albuquerque, Universidade Federal Fluminense, Brasil José Afonso da Silva Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Alberto Carlos Augusto Klein, Universidade Estadual de Londrina, Brasil José Carlos Rodrigues, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Alex Fernando Teixeira Primo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil José Luiz Aidar Prado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Ana Carolina Damboriarena Escosteguy, Pontifícia Universidade Católica do José Luiz Warren Jardim Gomes Braga, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Rio Grande do Sul, Brasil
Juremir Machado da Silva, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Ana Gruszynski, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Laan Mendes Barros, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Ana Silvia Lopes Davi Médola, Universidade Estadual Paulista, Brasil
Lance Strate, Fordham University, USA, Estados Unidos
André Luiz Martins Lemos, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Lorraine Leu, University of Bristol, Grã-Bretanha
Ângela Freire Prysthon, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Lucia Leão, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil
Angela Cristina Salgueiro Marques, Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), Brasil 33/33
Luciana Panke, Universidade Federal do Paraná, Brasil
Antônio Fausto Neto, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Luiz Claudio Martino, Universidade de Brasília, Brasil
Antonio Carlos Hohlfeldt, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Malena Segura Contrera, Universidade Paulista, Brasil
Antonio Roberto Chiachiri Filho, Faculdade Cásper Líbero, Brasil
Márcio de Vasconcellos Serelle, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil
Arlindo Ribeiro Machado, Universidade de São Paulo, Brasil
Maria Aparecida Baccega, Universidade de São Paulo e Escola Superior de
Arthur Autran Franco de Sá Neto, Universidade Federal de São Carlos, Brasil Propaganda e Marketing, Brasil
Benjamim Picado, Universidade Federal Fluminense, Brasil Maria das Graças Pinto Coelho, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil

Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação | E-compós, Brasília, v.14, n.1, jan./abr. 2011.
César Geraldo Guimarães, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Universidade de São Paulo, Brasil
Cristiane Freitas Gutfreind, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Maria Luiza Martins de Mendonça, Universidade Federal de Goiás, Brasil
Denilson Lopes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Mauro de Souza Ventura, Universidade Estadual Paulista, Brasil
Denize Correa Araujo, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil Mauro Pereira Porto, Tulane University, Estados Unidos
Edilson Cazeloto, Universidade Paulista , Brasil Nilda Aparecida Jacks, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil
Eduardo Peñuela Cañizal, Universidade Paulista, Brasil Paulo Roberto Gibaldi Vaz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Eduardo Vicente, Universidade de São Paulo, Brasil Potiguara Mendes Silveira Jr, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil
Eneus Trindade, Universidade de São Paulo, Brasil Renato Cordeiro Gomes, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Erick Felinto de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Robert K Logan, University of Toronto, Canadá
Florence Dravet, Universidade Católica de Brasília, Brasil Ronaldo George Helal, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Francisco Eduardo Menezes Martins, Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil Rosana de Lima Soares, Universidade de São Paulo, Brasil
Gelson Santana, Universidade Anhembi/Morumbi, Brasil Rose Melo Rocha, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Gilson Vieira Monteiro, Universidade Federal do Amazonas, Brasil Rossana Reguillo, Instituto de Estudos Superiores do Ocidente, Mexico
Gislene da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Rousiley Celi Moreira Maia, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Guillermo Orozco Gómez, Universidad de Guadalajara Sebastião Carlos de Morais Squirra, Universidade Metodista de São Paulo, Brasil
Gustavo Daudt Fischer, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil Sebastião Guilherme Albano da Costa, Universidade Federal do Rio Grande
Hector Ospina, Universidad de Manizales, Colômbia do Norte, Brasil
Herom Vargas, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Brasil Simone Maria Andrade Pereira de Sá, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Ieda Tucherman, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Tiago Quiroga Fausto Neto, Universidade de Brasília, Brasil
Inês Vitorino, Universidade Federal do Ceará, Brasil Suzete Venturelli, Universidade de Brasília, Brasil
Janice Caiafa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Valério Cruz Brittos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Jay David Bolter, Georgia Institute of Technology Valerio Fuenzalida Fernández, Puc-Chile, Chile
Jeder Silveira Janotti Junior, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Veneza Mayora Ronsini, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
João Freire Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Vera Regina Veiga França, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil

COMISSÃO EDITORIAL COMPÓS | www.compos.org.br


Adriana Braga | Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
Felipe Costa Trotta | Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
Presidente
CONSULTORES AD HOC
Itania Maria Mota Gomes
Édison Gastaldo | Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil Universidade Federal da Bahia, Brasil
Gisela Grangeiro da Silva Castro, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil itania@ufba.br
Helio Kuramoto, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Brasil
Juliano Maurício de Carvalho, Universidade Estadual Paulista, Brasil Vice-presidente
Maria Helena Weber, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Julio Pinto
Paulo Carneiro da Cunha Filho, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil
Vera Regina Veiga França, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil juliopinto@pucminas.br

EDIÇÃO DE TEXTO E RESUMOS | Susane Barros Secretária-Geral


Ana Carolina Escosteguy
SECRETÁRIA EXECUTIVA | Juliana Depiné
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA | Roka Estúdio carolad@pucrs.br

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