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PJLM4S

harold
decampo

tr\mdaQáoCasa de clorge Ánado


l9g9
Alle Achnng vor eurenMeinungen!Abcr kleine
abweizhendeHandlungensind mehr wert!

("Todo o respeitopor vossasopiniões! Mas pe-


quenasaçõesdivergenlesvalent mais!")

Nietzschz

e há um Droblemainstante e insis-
tente na historiografia literária brasileira,
esteproblemaé a "questãodaorigem".Nesse
sentidoé que sepode dizer - como eu o fiz
em"Da razãoantropofágica"- que estamos
diantede um "episódioda metafísicaociden-
tal da presença,transferido para as nossas
latitudestropicais,(...) um capítuloa apendi-
citar ao logocentrismoplatonizanteque Der-
rida, na Gramatologia,submeteua uma lúci-
da e reveladoraanálise,não por acasosob a
instigaçãode dois ex-cêntricos,Fenollosa,o
anti-sinólogo,e Nietzsche,o pulverizadorde de Brito e Lima pôde alcançar'(I,18). Muito
ss119265."(t) maistarde,já em pleno séculoXIX e depois
da independência,FerdinandDenis tampou-
No casobrasileiro,esseenÌedo metafísico co o mencionano Resumoda llistória Lite-
vê acrescidaà sua intriga uma componente úria de Portugal e do Brasil; a suainclusão
singular de "suspense":o nome do pai ("le nacronologialiterária do séculoXVII é, pois,
nom du père") apresenta-se(ou ausenta-se), um dosmaisespantosos exemplosde involun-
desdelogo, submetidoà rasurae em razão, tária mistificaçãohistórica que se podem
exatamente,de uma "perspectivahistórica". aPresentar'"(2)
Escreveuem l97OWilson Martins ("Gregó-
rio, o Pitoresco"):"Teria realmenteexistido Oswaldde Andrade ("4 Sátirana Literatu-
no séculoXVII um grandepoeta brasileiro ra Brasileira", 1945)opinavaem sentidodia-
chamadoGregório de Mattos?Não, com cer- metralmenteoposto:"Gregório de Mattosfoi
tez.a,pelo menosem termos de história lite- semdúüda uma dasmaioresfigurasde nossa
rária; como escreve,na Formaçáo da Litera- literatura. Técnica,riquezaverbal, imagina-
tura Brasileira, o sr. Antonio Candido,'em- ção e independência,curiosidadee força em
bora tenhapermanecidona tradiçãolocal da todosos gêneros,eis o que maÍcaa suaobra
Bahia, ele não existiu literariamente (em e indica desdeentão os rumos da literatura
perspectiva histórica) até o Romantismo, nacional."(3)
quandofoi redescoberto,sobretudograçasa
Varnhagen;e só depoisde 1882e da edição
Vale Cabralpôde ser devidamenteavaliado.
Antes disso,não influiu, não contribuiu para
formar o nossosistemaliterário e tão obscuro
permaneceusob os seus manuscritos,que
Barbosa Machado, o minucioso erudito da
Biblioteca Lusitana (174L-1758), ignora-o
completamente, emboraregistrequantoJoão
O PÂRADOXO BORGIANO paramelhor ativaro futuro, estáem jogo não
F/OU PESSOANO apenasa questãoda "existência"(em termos
de influênciano deúr factualde nossalitera-
Estamos,pois,diantede umverdadeiropa- tura), mas,sobretudo,a da própria noçãode
radoxo borgiano,já que à "questão da ori- "história" que alimentaa perspectivasegun-
gem" sesomaa daidentidadeoupseudoiden- do a qual essaexistênciaé negada,é dada
tidade de um autor "patronímico". Um dos como uma não-existênciâ(enquanto valor
maiorespoetasbrasileirosanterioresà Mo- "formativo" em termosliterários).(a)
dernidade, aquele cuja existência é justa-
mente maisfundamentalpara que possamos
coexistir com ela e nos sentirmoslegatários
de uma tradiçãoviva,parecenão ter existido
literariamente "em perspectiva histórica".
Como Ulisses,o mítico fundador de Lisboa,
que - no poemade FernandoPessoa- FOI
POR NAO SER EXISTINDO, tambémGre-
gório de Mattos,esse"ulterior demônioime-
morial" (Mallarmé), pareceter-nosfundado
exatamentepor não ter existido,ou por ter
sobre-existidoesteticamenteà força de não
ser historicamente.O MITO E O NADA
QUE É TUDO, completaFernandoPessoa
no mesmopoema.

Nessaaparentecontradiçãoentre presença
(pregnância)poéticae ausênciahistórica,que
faz de Gregório de Mattos uma espéciede
demiurgo retrospectivo,abolido no passado

10
PERSPECTIVA TISTÓRICA Ocidenteà buscade suanovamorada (a casa,
E IDEOI,OGIA SUBSTANCIALISTA o habitáculodo Í,ogos)em terrasamericanas,
duas séries metafóricas vão-se perfilando.
De fato, essa "perspectivahistórica" foi Uma "animista", outÍa "organicista".A pri-
enunciadaa partir de umavisãosubstancialis- meira, decididamenteontológica (ausculta-
ta da evoluçãoliterária, que respondea um
ideal metafísicode entificaçãodo nacional. ção da "voz do Ser", tema caro à "metafísica
dapresença").A outra,ligadaao pressuposto
Se procedermos,em modo"derridiano", a evolutivo-biológicodaquela historiografia
uma leitura desconstrutorade algunsdos tradicionalquevê reproduzir-sena literatura
pressupostos básicosdesseque é o maislúci- um processode floraçãogradativa,de cresci-
do e elegante(enquantoarticulaçãodo mo- mento orgânico,sejaregido por uma "teleo-
delo explicativo)ensaiode reconstruçãohis- logianaturalista",sejapela "idéia condutora"
toriográficade nossaevoluçãoliterária,a For- de"individualidade"ou "espíritonacional",a
maçãoda Literaturs Brasileira (Momentos
operar,semprecom dinamisrnoteleológico,
Decisivos),1959,de Antonio Candido,obra no encadeamentode uma sequênciaacabada
capital(e,porissomesmo,merecedoranâode de eventos (e a culminar necessariamente
culto reverencial,obnubilante,masde discus- num "classicismonacional",correspondente,
são crítica que lhe respondaàs instigações no plano político, a outro "instantede pleni-
maisprovocativas),veremosque o temasubs- tudè", a conquistada "unidadeda nação").{s)
tancialistacirculapor seutexto.Seupropósito
(anunciadono Préfacioà primeira edição)é, Ambas as sériesmetafóricas,assimindivi-
atravésda leitura "com discernimento",por duadas. se comunicam no substancialismo
meio da qual as obras"reüvem na nossaex- quelhesdá coloratura.Por issopode-seler na
periência",acompanhar"as aventurasdo es- Formaçáo:"A nossaliteraturaé galhosecun-
pírito": "Neste caso,o espírito do Ocidente, dário da portuguesa,por suavez arbustode
procurandouma novamoradanestaparte do segundaordem no jardim das Musas..."A
mundo" (I,10).Nesserastreioaventurosodas leitura dessa"literatura pobre e fraca" de-
andançasdo espírito (o Ilgos, o Ser) do manda"carinho e apreço" (semprejuízo do
"discernimento",atÍibuto do "espírito críti-
12 13
co"), pois:"Se nãofor amada,nãorevelaráa A ENCARNAçÁO LITERÁRIA
sua mensagem."A leitura "com discerni- DO ESPÍRITO NACIONAL
mento", desde que amorosa,"anima" as
obras.Vale dizer: dálhes anima, alma,fá-las O impasseseresolvepela adoçãoda "pers-
exprimir a voz do I-OGOS que emigrou do pectiva histórica". Se ao "espiríto do Oci-
Ocidente e se transplantoupara o não tão dente" coube encarnar-senas novasterras da
edênicoJardimamericano,ondesua"aclima- entãoAmérica Portuguesa,incumbeao críti-
ção" será"penosa"e requererá,paraserbem co-historiadorÍetraçaro itinerário de parou-
compreendida,o cuidado de nossa escuta sía desseIogos que, como uma árvore, ou,
(leitura amorosa):"Ninguém, além de nós, maismodestamente, um arbusto,teve de ser
poderá dar vida a essastentativas muitas replantado,germinar,florescer,para um dia,
vezesdébeis,outrasvezesfortes,sempreto- quiçá,copar-secomoárvorevigorosae plena-
cantes,em que os homens do passado,no mente formada: a literatuÍa nacional. O
fundo de uma terra inculta, em meio a uma conceitometafísicode história,segundoDer-
aclimaçãopenosada culturaeuropéia,procu- rida, envolve a idéia de linearidade e a de
ravam estilizarpara nós,seusdescendentes, continuidade:é um esquemalinear de desen-
os sentimentosque experimentavam,as ob- rolamentoda presenç4obedienteao modelo
servações quefaziam,- dosquaisseformaram "épico". Compreende-se,assim,por que se
osnossos." A dupla sériemetafóricamostra- torna necessário,para essa"perspectivahis-
se precatadamenteantiufanista,disfórica:o tórica", determinar"quando e como se defi-
galhotransplantadoé "secundário"e o arbus- niu uma continuidadeininterruptade obrase
to de que foi extraídoé "de segundaordem"; autores,cientesquasesempÍede integrarem
por suavez,a recolhado LOGOS transmigra- um pÍocessode formação literária" (I,25).
do e seucultivonanovamoradanãoterá nada Por que se busca individuar "uma tradição
deparadisíaco(palavraque significaetimolo- contínua"de "estilos,temas,formasou preo-
gicamente"jardim"): a terra ê "inculta" e a cupações".Por que é necessárioum "come-
"aclimação"(a aculturação)há de ser ..peno- ço":" Já que é precisoum começo,tomei
sa". comoponto de partida asAcademiasdos Se-

t4 15
lctos e dos Renascidose os primeiros traba- rcspondeà já sublinhada postura"disfórica"
lhos de Cláudio Manuel da Costa.arredon- rlr t'rÍlico,é ressalvadoque a mesmadisposi-
dando,para facilitar, a data de 1750,na ver- çÍìo proveitosa pode muitas vezesredundar
dadepuramenteconvencional"(I,25). rrost:scritores "em prejuízoe desnorteio,sob
() rspccto estético",o que, no limite, exclui
A "perspectivahistórica"é,pois, umapers- ccrlls de suasmanifestaçÕes do "terrenoes-
pectivaideológica.E como tal se manifesta, rrccílico dasbelasletras".
quandoo critério de pertinênciaque a rege é
explicitado:"O leitor perceberáque me colo-
quei deliberadamenteno ângulo dos nossos
primeirosromânticose doscríticosestrangei-
ros que,antesdeles,localizaramna fasearcá-
dica o início de nossaverdadeiraliteratura,
graçasà manifestaçãode temas,notadamente
o Indianismo,que dominarãoa produçãooi-
tocentista."Rever "na perspectivaatual" a
concepçãodessescríticos,queentenderam"a
literatura do Brasil como expressãoda reali-
dadelocal e, ao mesmotempo, elementopo-
sitivo na construçãonacional", - eis a tarefa
que se propõe a Formaçáo.Esseduplo "es-
forço" (ou articulação)de "construção"e de
"expressão"é visto (e a redundânciaenfática
estáno texto original,I,26) comouma "dispo-
sição do espírito, historicamentedo maior
proveito", que "exprime certa encarnaçãoli-
Por outro la-
tcrária do espírito nacional".(6)
do, num movimento de contrapartida,que

IO l7
O PRTVILÉGIO DA rlrrtrlrcs
literários,maisou menosconscientes
FUNçÃO REFERENCIAL rkr scu papel"); 2) recepçáo("conjunto de
E DA FUNÇÁO EMOTTVA Ícccptores,formando os diferentestipos de
gtriltlico,
sem os quaisa obra não vive"); 3)
Fica,assim,definido o caráter"convencio- lrnnsmissáo:"um mecanismotransmissor.
nal", convencionado(e, pois,já nesseprimei- (rlcmodogeral,umalinguagem, traduzidaem
ro nível,ideológico)da alegada"perspectiva oitilos),queligaunsaosoutros".Esseesque-
histórica".Essaperspectiva,além de não ex- nurtriádicode "elementos"respondea uma
cluir outras orientações,supostamentenão- klóiade literaturacomo "tipo de comunica-
históricas,- é o que estápostulado em I,25 çÍlo inter-humana"e "sistemasimbólico".
- não poderá,ademais,como adiantevere- NndumaisopoÍtunoe justificado,portanto,
mos, deixar de admitir a existênciade uma rkr que colacioná-locom outro modeloestru-
outÍa noçãonão-homogênea de história lite- IurirÌ,aqueledesenhado por RomanJakob-
rária, igualmente "sensívelà dinâmica das ron cm "Linguisticsand Poetics'í7)parao fim
obrasno tempo",masdispostaa encará-lapor dc cstudaras"funçõesda linguagem"e, entre
um enfoque nãolinear de evolução.Isto clus,definir o lugarda "funçãopoética".Es-
posto,cabepassara uma nova etapado tra- crcveJakobson:"Para se ter uma idéia geral
balho "desconstrutor". Impõe-seagoraexa- dcssasfunções,é mister uma perspectivasu-
minaro "modelodeleitura"quecorresponde nrdriados fatoresconstitutivos de todo pro-
a essa"perspectiva histórica",que the é soli- ccssolingüístico,de todo ato de comunicação
dário como o seu correspondente especular vcrbal. O REMETENTE envia uma MEN-
(de"espelho")no planoquechamarei"semi- SAGEM ao DESTINATÁRIO. Paraser efi-
ológico". cnz,a mensagemrequer um CONTEXTO a
que serefere(ou referente,em outra nomen-
Em "Literatura como sistema" (1,23-25), clutura,algoambígua),apreensível pelo des-
Antonio Candidoexpõeuma concepção es- linatário,e que sejaverbal ou suscetível de
truturalda literatura,articulada num esque- vcrbalização; um CÓDIGO, total ou parcial-
ma triádico:1) produçáo("conjuntode pro- nlcntecomumao remetentee ao destinatário

18 79
(ou, em outras palavras,ao codificadore ao niritcnra")com a de Literatura e Sociedade,
decodificadorda mensagem);e , finalmente, I t)(rS
("A literaturae a vidasocial", 1957-58);
um CONTACTO, um canal físico e uma oxtc último ensaio,com seu título original
conexãopsicológicaentÍe o remetente e o "^rtc e Sociedade",Boletim dePsicologia,n0
destinatário,que os capacitea ambosa entra- 35-36,Ano X, S.Paulo,1958,vern, aliás,ex-
rem ou permaneceÍemem comunicação,"O
t)rcssamentereferido em nota de rodapé ao
esquemajakobsonianoé o seguinte: "f'refácio" de 1962à2a. ed.da Formação,à
CONTEXTO(REFERENTE) nltura em que a "existênciado triângulo
'urtor-obra-público' em interaçãodinâmica"
REMETBNTE MENS^GEM DFSflNATÁFJo
ô thda como conditio sinequa non para uma
CONTACTO lltcratura"se configurarplenamentecomo
cóDrco rlfitcma articulado".Note-seque, na Forma-
11ío(I,23), entre os três elementosque se
Subsumindonele o de Antonio Candido. conjugamno modelo,a MENSAGEM (o tex-
teremos: to, a informaçãoestética,a obra) não é posta
RF-ÀLTDADE cm relevo;antes,a ela sealudemetonimica-
("dif.cntd dt É. d.
ftalidâ&", 1,2,{)
tncnte,pois a ênfaseé dada ao MECANIS-
PRODUIOR COMUNICADO(OBRAI5,2ó) RECEPTOE(COMUNI. MO TRANSMISSOR, ao veículo da trans-
(coMuNI-...............................
CANTqARTTS CONTACTO
......CANDO,PUAUCO,
15,2ó) mlssão, e não propriamenteà TRANSMIS-
('d@nto
TÀ l-'s'26) & @rtlclo
6186 h6d'L2,|) SÀOem si mesma.à MENSAGEM TRANS-
cóDco MITIDA, à sua materialidadeenquanto
("@.i.mlt.t$ls'. ,TEXTO.
't!tút ú. rd@iaLd
qli!o.-,I,z])

Prosseguindona comparação,temos que,


Paraexecutara operaçãoque nospropuse- puraJakobson,a cadaum dos seis"fatores"
mos,foi necessáriocomplementara termino- tlc seu modelo,correspondeuma dada"fun-
logia do vol. I da Formaçáo da Literatura
çÍlo da linguagem".Assim, à orientaçãocen-
Brasileira ("Introdução: l.Literatura como tÍudâ no REMETENTE. corresoondea

20 ,,'|
FUNÇÃO EMOTIVA OU EXPRESSIVA tuspíraçoesindividuaismaisprofundas,'.Até a
também chamadapor Karl Bühler KUND- cscolha,reiterada,da palavra"veleidades"é
GABEFUNKTION, função de "exterioriza- turprium bom índice da tintura emotivo-ex-
ção" ou de "expressão";funçãode "exteriori- prcssivaque colore a posturado COMUM-
zaçáopsíquica",comodiria J. MattosoCâma- C^NTE (PRODUTOR, ARTISTA) no mo-
ra Jr.(8).No modelo de Candido,ao pólo do dclo de Candido: "veleidade", no Pequeno
PRODUTOR ou COMUNICANTE corres- Âurélio, tem asacepçõesde ,,vontadeìmper-
ponderiaa funçãode exprimir "asveleidades fcita; intençãofugaz;capricho;leviandãde;
mais profundasdo indivíduo" (1,23-24);ou, utopia; volubilidade";no Dicionário Etimo-
como estáexplicitadoem II,364,numapassa- lóglco Nova Fronteira, registra-se..vontade
gem em que sefala da "crítica dos criadores" lmperfeita, hesitante",como acepçãoorigi-
e de seu aspectoprogramático:"definir as nal, e "pretensão"como acepçãoextensiva,
suaspróprias intenções,até então merasve- csclarecendo-se que setrata de adaptaçãodo
leidadesou impulsossubconscientes", o "so- fr, velleité,.do lat. velteitas,-atis,
de velle,
nho interior"; em LS, à p.26, a arte é definida "querer", Aquilo que Jakobsondenomina
como"comunicaçãoexpressiva, expressãode FUNçAO EMOTIVA, poderíamos,pois,
realidadesprofundamenteradicadasno artis- com apoio em Candido,chamarFUNÇÃO
ta, maisque transmissãode noçõese concei- COMUNICATIVO-EXPRESSIVA. Isto im-
tos"; nessemesmopasso,o papelessencialda plica uma translaçãopara outro.,fator',,o
"intuição"é frisado;aplaude-se entãona "es- CONTEXTO ou REFERENTE. noqual está
tética idealista" de Croce, perante a qual a ccntradaa FUNÇÃo REFERENCTÁLDE-
arte "exprime apenastraços irredutíveis da NOTATIVA COGÌ{TIIVA Trata-se, de fa-
personalidade",aquilo que constituiriao seu to, segundoCandido,de interpretaras,.dife-
"mérito" (sem embargodas objeçõesdo so- rcntesesferasda realidade"(á que,no ,.sis-
ciólogoàs"consequências teóricas"dessaes- tcma simbólico" que é a literatura, aquelas
tética):"assinalaresteaspectointuitivo e ex- "veleidadesmais profundasdo indivíduo se
pressivoda arte"; ainda em IJ,30, a obra é transformamem elementosde contactoentre
vistacomo "veículodassuas(NB: do artista) os homens,e de INTERPRETAÇÃO DAS

22 23
DIFERENTES ESFERAS DA REALI- tabelecimentodo contactolinguístico entre
DADE"). Ou seja,o queestáemjogoaquisão os membros de uma comunidade,mas, no
os "fatoresexternos"ou de "contexto" (I,1.6; "sistema simbólico" chamado "literatura".
I,S, 3-9), "fatores externos"que, como subli- afeta o RECEPTOR ou PÚBLICO "como
nha com toda a nzão o crítico, tornam-se alguémpara quem se exprimealgo" (LS,26).
"internos" no momento em que dialetica- A essaorientaçãovoltadaparao DESïNA-
mente, desempenham"um certo gapel na TARIO, Jakobsondenomina FUNÇAO
constituiçãoda estrutura"da obra. E a "ma- CONATIVA (do latim, conatum: impulso,
téria do livro" enquanto "fator da própria esforço,ação que procura impor-se a uma
construçãoartística"(I5,7). A funçãocentra- resistência ou suscitarumareação).É o cam-
da no fator CONTACTO (a função FATICA, po daAPPELFUNKTION de Bühler, tunção
designação queJakobsonfoi buscarna phatic de "apelo", "exortativa","persuasiva".Aqui
communion de Mallinowski) também é re- Candidoparecesituaro elemento"efeito" do
conhecidano modelo de Candido:como de- "processode comunicação"(LS,26),já que se
corre da citaçãoacima,na literatura,enquan- trataria,no casoda litetatura,de um processo
to "sistemasimbólico",a funçãoCOMUNI- de tomada de "consciência"da "existência
CATIVO-EXPRESSIVÁ"exercidapelo CO- espirituale social"de um povo (PUBLICO),
MUNICANTE através do MECANISMO II,369, e da conseqüenteformação de "pa-
TRANSMISSOR de que dispõe, engendra drÕes"de "pensamento"ou "comportamen-
"elementos de CONTACTO entre os ho- to" (r,24). A FUNÇÃO CONATIVA de Ja-
mens",vale dizer.,entre PRODUTOR (CO- kobsonpoderia,em Candido,com ênfaseno
MUNICANTE) e RECEPTOR (COMUNI- que lhe é distintivo,chamar-seFUNÇÃO
CANDO, DESTINATÁRIO, PUBLICO). CONSCIENTIZADORA.
Trata-se,no modelo de Candido,mais acen-
tuadamente,de uma funçãoTRANSIVO- ÌVaso modelo de Jakobsonreconheceain-
INTEGRADORA ou melhor dizendo, BI- da duas outras funQões:a METALIN-
TRÀNSITIVA urna vez que essafunção de GUÍSTICA, centradano fator CÓDIGO, e a
"vinculação"rru "elo" não ii-a apenasno es- POETICA, fulcrada na própria MENSA-

24 25
GEM, auto-referencialportanto,já que enfo- as funções EMOTIVA e REFERENCIAI.
ca o aspectosensível,a configuraçãomaterial acopla-das na função COMUNICATIVO-
do texto. No modelo de Candido,a função EXi'RESSIVA de exteriorizaçãodas "velei-
"metalinguística"é vistaapenasenquantoex- dadesmaisprofundasdo indiúduo" e de "in-
plicitação do que seja o MECANISMO terpretaçãodas diferentes esferasda reali-
TRANSMISSOR ("uma linguagem,traduzi- dade".
da em estilos"),cuja funçãoTRANSITIVO-
INTEGRADORA é enfatizada(l;?3: meca-
nismo"que liga uns a outros", ou seja,PRO-
DUTORES a RECEPTORES). A tunção
"poêtica" tambémnão é postaem relevo,já
que o próprio "texto" é introduzidometoni-
micamenteno modelo triádico, pondo-sea
ênfase,maisuma vez,no seu veículo,aquele
mesmo MECANISMO provido de função
TRANSITIVO-INTEGRADORA. Que a
FUNÇÁO POÉïCA e a FUNÇÃO META-
LINGUÍSTICA possamaliar-senuma práti-
ca literária com dominantelúdica ou crítico-
escritural,é algo que parecenão cabernessa
modelizaçãotriádicada literatura como "sis-
tema simbólico" de "comunicaçãointer-hu-
mana".(e)

Isto posto,já é possivelchegara uma pri-


meira conclusão.O modelo semiológico,ar-
ticuladopor Antonio Candidoparadescrever
a formaçãoda literatura brasileira,privilegia

26 27
A GENERALTzAçÁo
oo MoDELo ideal de uma naçãose desenvolviadesdeos
noruÁNncoE suAABsot.unzlçÁo seus começosquase-míticosaté sua plena
EM MODELO DA LITERATURA realizaçãonurn classicismonacional."(r0) As-
sim também poderia seÍ descrito o projeto
. O corolário dessaprimeira conclusãoé "dos nossosprimeiÍos românticose dos críti-
imediato:a literatura que priviìegiaa função cosestrangeiÍosque,antesdeles,localizaram
EMOTIVA é, na lição de Jakobson,a litera- na fasearcádicao início de nossaverdadeira
tura romântica,expressão do euJírico.Quan- literatura (I,25); projeto que Antonio Candi-
do ao privilégio dessafunçãoEMOïVA se do sepropõeultimar naFormaçáo,"revendo-
alia uma vocaçãoigualmenteenfáticapara a o na perspectivaatual". Trata-sede um pro-
funçãoREFERENCIAL (paraa literarurada jeto que o próprio crítico define como "pro-
34.pessoapronominal,objetiva,descritiva,tal cesso r etilíneo de abr asileir am ento"
como caracterizadapela épica), é possível . (LS,107),"processode construçaogenealógi-
dizer que estamosdiante de um modelo lite- ca" (LS,206),com o qual "o ponto de vista
rário de tipo romântico imbuído de aspi- moderno" tenderia a concordar.feitas, evi-
raçóesclassicizantes (aspiraçÕes a converter- dentemente,as ressalvasque deslocamum
se,num momentode apogeu,em "classicismo estágiode reÍlexãoda faseingênuae triunfa-
nacional").A constituição dessemodelo,re- listapara a fasepropriamentecrítica:"o que
pita-se,coincide, não por mero acaso,com o realmenteinteressaé investigarcomo se for-
esquemapropostopela historiografialiterá- mou aqui uma literatura, concebidamenos
ria do séculopassado, voltadaparao desvela- como apoteosede cambucáse morubixabas,
mento evolutivo-gradualista da "individuali- de sertanejose cachoeiras,do que como ma-
dadenacional".E o que refereJauss:"A nova nifestaçãodosgrandesproblemasdo homem
História das LiteraturasNacionaisentrava do OcidentenasnovascondiQões de existên-
em concorrência no plano dasidéiascom a cia" (LS; 108).
históriapolítica,pretendendomostrar,me-
diante o encadeamentocoerentede todos os É óbvio que, nem por se definir expressa-
fenômenos literários.comoa individualidade mente como orientado por uma aparente-

28 29
mente isenta "perspectivahistórica",esse Âqui secolocaa questãoda "objetividade"e
projeto deixa de se manifestar,ainda nesse do que nestapossahaverde relativo (de ilu-
nível, como ideológico. De fato, o projeto sório, portanto).(tt)"Perspectiva histórica",
converteo interesseparticular do Romantis- "ponto de vista histórico" (I,24),"orientação
mo nacionalista(a perspectivaromântico- histórica" (I,25) são expressõesque não po-
missionária)em "verdade" (interesse)histo- dem ser aceitascomoverdadesobjetivas,do-
riográficageral("nossaVERDADEIRA lite- tadasde unicidadede sentido,apodíticas.
raïura",I,25).Por essaópticadirigida é enfo- Antes,devemser reexaminadas em seusele-
cadona Formaçãoo que seja"literatura" en- mentos lexicais constitutivos.Como "pers-
quanto "sistema simbólico"; todavia, ao pectiva", "ponto de vista" ou "orientação",
conceitoassimresultante.se conferecaráter outra coisanão definem senãoum enfoque
definitório geral.Ou seja,no conceitodefini- particularizante:aquele peculiar ao projeto
dor, as características
distintivasdo que seja historiográficode nossoRomantismonacio-
"literatura" sãotomadasde empréstimoà vi- nalista; enquanto "histórico" (o "ponto de
sãoespecíficae particularizanteque,do fenô- vista") ou "históricas"(a "perspectiva"ou a
meno literário, se faz o próprio Romantis- "orientação"),só o são na medida em que
mo... Estamos,pois, em pleno "círculo her- respondema um conceitotambémparticular
menêutico":o modelode explicação, que co- e também ideológicode história: a história
meçapor definir,num plano de generalidade, retilínea,comprometida comumaconcepção
o que sejaliteratura como "sistemasimbóli- metafísicada própria história,a culminar na
co", extraiasnotasdistintivasdessadefinição, entificaçãoda idéia de nacionalidade,segun-
que se propõe como universal,do próprio do o "esquemalinear do desenrolamentoda
fenômeno literário singularizadoque pre- presença"deslindadopor Derrida na Grama-
tendeexplicar(a evoluçãoda literaturabrasi- tologia,o mesmoesquemasubstancialista da
leira do arcadismopré-romântico,até o ad- marchalinear e contínuada evolução literá-
vento,com Machadode Assis,do momento ria, questionadopor Jaussem nossocampode
crítico do nacionalismopós-romântico,já, estudos.(12)
porassimdizer,decantado em"classicismo").

30 31.
O EFEITO SEMIOLÓGICO r0tura empenhada",com"sentimentode mis-
t0o" em grau tão elevadoque chegava,por
A exclusão- o "seqüestro"- do Barroco na vozcs,a tolher o "exercícioda fantasia",mas
Formaçâo da Literatura Brasileira não é, quc, por outro lado, era capazde conquistar
portanto,meramenteo resultadoobjetivo da
"rcntido históricoe excepcionalpoder comu-
adoçãode uma "orientaçâo histórica", que nlcativo"e, assim,de tornar-sea "línguageral
timbra em separarliteratura,como"sistema", dumasociedadeà buscado autoconhecimen-
de "manifestaçôes literárias"incipientese as- lo". Nessemodelo, à evidência,não cabe o
sistemáticas.Tampouco é "histórica", num Burroco,em cuja estéticasão enfatizadasa
sentido uúvoco e objetivo, a "perspectiva" Í[nçóo poéticae a funçáometalingüística,a
que dá pelainexistênciade Gregório de Mat- 0uto-reflexividade do texto e a autotematiza-
tosparaefeito daformaçãode nosso"sistema
ç0o inter-e-intratextualdo código (meta-so-
literârio" (1,24).Essaexclusão- esse"seqües- nctosque desarmame desnudama estrutura
tro" - e também essainexistêncialiterária, do sonèto,por exemplo;citação,paráïrasee
dadoscomo "históricos" no nível manifesto, truduçãocomo dispositivosplagiotrópicosde
são, perante uma visão "desconstrutora", dlulogismoliterário e desfruteretórico de es-
efeitos,no nívelprofundo,latente,do próprio lllcmas codificados).(t3)
Não cabeo Barroco,
"modelo semiológico"engenhosamente arti- olttéticada "superabundância e do desperdí-
culadopelo autor da Formaçáo.Modelo que clo", comoo definiu SeveroSarduy:"Contra-
confere à literatura como tal, tout court, as rlsmente à linguagemcomunicativa,econô-
característicaspeculiaresao projeto literário mica,austera,reduzidaà suafuncionalidade
do Romantismo ontológico-nacionalista.
- servir de veículo a uma informação - a
Modelo queenfatizao aspecto"comunicacio- llnguagembarrocase comprazno suplemen-
nal" e "integrativo" da atividadeliterária, tal to, na demasiae na perdaparcialde seuobje-
como este se teria manifestadona peculiar to."(r{)O Barroco,poéticada "vertigemdo
síntesebrasileirade classicismo e romantis- lúdico",da "ludicizaçãoabsolutade suasfor-
mo ("misturado artesãoneoclássico ao bardo mas",comoo tem conceituadoentre nósAf-
romântico",I,28), da qual emerge"uma lite- fonsoÁvila.(ls)O Barroco oue - na conceD-
2)
llgor!!,não-críticos,a-históricos,na medida
ção de Octaüo Paz,referindo-sea Sor Juana que aferidospor um cânon axiológico
Inés de la Cruz, contemporâneade nosso lm são
Gregório, - produziu,no espaçoamericano, lbtoluto,alçadoà condição deverdadeatem-
umpoemacrítico,reflexivoe metalingüístico, Poral:o do Romantismo de aspiraçõesclassi-
um "poema da aventurado conhecimento", Olantes,ondejá começaÍia a latejarumavo-
Primero Sueío (ca.1685),que se anteciparia, Ole[o"realista"- outro nome, maispalatá-
como tal, a essepoema-limite da Moderni- vcl,para"classicismo nacional";um Roman-
dadeque é o Coup de Désde Mallarmé...(t6) tllmo purgado de sua indisciplinae de suas
flxaçÕes localistas(no "pitoresco"e no "ma-
A seguir,o que é efeito semiológicoimpli tarlalbrutodaexperiência") graçasao"rigor"
cito na estruturado modelo,converte-seex- | à "contensãoemocional" do arcadismo
plicitamente em juízo de valor (dubitativo, ttÊoclássicoquelhe serviu devestíbulonati-
restritivo) na Presençada Literatura Brasi- Vl8ta.Na mesmaobra,na parte da antologia
leira (vol.I, "Das origensao Romantismo'r), f0Ecrvada a Gregóriode Mattos,a contribui-
1964.Nessaobra, quandojá ia em mais da glo denossomaiorpoetabarroco(e um dos
metadeo séculomesmoda revalorizaçãodo maioÍesde toda nossaliteratura)é julgada
Barroco (Dâmaso Alonso, Gerardo Diego, loveramente: "Como hoje a conhecemos, a
Garcia Lorca na Espanha;Eliot e os "meta- luaobraéirregular,valendoporumaminoria
physical poets" em língua inglesa; Walter dc versos."(Essejulgamentoecoaoutro,de
Benjamine a reavaliaçãoda "alegoria" como 1955,doensaio"O Escritore o Público":"...o
dispositivoestéticono "auto fúnebre" da lite- grandeirregular sem ressonância nem in-
raturaalemãdo período;LucianoAnceschie fluênciaque foi Gregóriode Mattosna sua
a polêmicaanti-Croceno quadro do "Erme- fasebrasileira",LS,92).('n
tismo" italiano), coloca-seem dúvida,à vista
dos "extremosdo barroco literário'j tanto a
"autenticidade" quanto a "permanênciada
sua comunicação".Aqui, "autenticidade" e
"permanência"pôem-secomovalores"aurá-

51
35
O MODELO LINEAR EA leçôcsliterárias" por oposiçãoà "literatura"
TRADIçÁO CONTÍNUA
PÍopriamentedita,à literaturaenquanto"sis-
loma". Aqui, para garantir a eficáciado mo-
A Formaçáoprivilegia - e o deixa visível dolo, reforça-sea sualógicainterna com um
como uma glosaque lhe percorre as entreli-
lflumento "quantitativo".Jáque nãosepode
nhas- um certo tipo de história: a evolutivo- no80ràquelas"manifestações"um mínimode
linear-integrativa,empenhadaem demarcar,
0tÍáter sistemáticoe de interaçãotriádica -
de modo encadeadoe coerente,o roteiro de polshouve"produtores",e notáveis,do porte
"encarnação literária do espírito nacio-
dc Gregório na poesia e do Pe. Vieira na
nal"(l;26); um certo tipo de tradiçáo,ou me-
lhor, "uma certa continuidadeda tradição" Prosa;houve"textos"- e dosmaioresde nossa
lltcratura- aindaque "veiculados"por "me-
(I,16):aquelaque, "nascidano domíniodas
0!nismostransmissores"peculiaresà época:
evoluçõesnaturais",foi "transpostapara o do
I publicidadeda comunicaçãooral; a "mala
espírito",ordenandoas produçõesdestenu-
dlrcta" dos"códicesde mão"; e houve"públi-
ma "continuidadesubstancial",harmoniosa. oo": Gregório, escreveSegismundoSpina,
excÌudentedetodaperturbaçãoquenãocaiba rtíol,semdúvida,o primeiro prelo e o primei-
nessaprogressãofinalista(r8) (veja-se,no caso to jornal que circulou na Colônia"; e mais:
do próprio Romantismoque lhe servede pa-
radigma,a minimizaçãode Sousândrade, "Gozou de extraordinária reputação a sua
por mordacidadeliterária: o Pe. Manuel Ber-
sinal "barroquizante"em largosaspectosde nurdesa elaserefere(NovaFloresta)e Vieira
suadicção,notadamenteno Guesa);uma cer- Ccrtavez se queixoude que maior fruto pro-
ta concepçãoveicularde Iiteratura:a "emoti- duziamas sátirasde Gregório do que seus
vo-comunicacional",que preside à vertente
lormões";já que tudo isso é inegável("... o
"canonizada"de nossoRomantismo.(re) Com poctaandarilhonão é propriamenteum mar-
basenessespressupostos, constituio seumo- jlnal: ao contráÍio, parece inserir-secom
delo de descriçãoe de explicação.O modelo muito maior pertinênciana sociedade,na
é necessariamente redutor: o que nele não quBlidade de cantadortransmissor de poesia
cabeé postoà parte,rotuladoàe "manifes- o notícia,comunicador...", J.M.Wisnik),en-
36 37
tão releva mostrar, do ângulo quantitativo, UMA LITERATURA INTEGRADA
comoé relativoessepúblico ("ralase esparsas
manifestações semressonância", I,16;"os cír- O problemado público(da "recepção"e do
culospopülaresde cantigase anedotas",LS, "cfcito") na Formaçáoda Literatura Brasi-
Sóassima metáforaontológicada sim-
92).(20) lclrn - obra que poderia também chamar-se
plicidade da "origern", convencionalmente lllrtória Evolutiva do Romantismono Bra-
datável(1750),e a metáforagenealógicada rll, já que nela o Barroco não tem porta de
seqüênciacoeÍentede eventos,regidospelo eccsso- acabasendotratadopor um critério
tropismodeum telosou zênitecomum,pode- h0rmonizador,de concordância,que dá ên-
rão sustentaÍ-see afirmar-se,tout court, co- Íülc aoaspectointegratiyodoprocessorecep-
mo "perspectivahistórica". clonal.

Polemizandocom a sociologialiterária de
Robert Escarpit,Jausspondera:"Não se es-
Sotaa relaçãoentre literatura e público di-
tcndo que toda obra tem seupúblico especí-
flco quepodeserdefinidopela históriae pela
tociologia; que todo escritor dependedo
meio, das concepçõese da ideologiade seu
público, e que a condiçãodo êxito literário
38tánum livro que 'exprima o que o grupo
oEperava, que reveleo grupo a si mesmo'."A
lNso,a essa"concordânciaentre o projeto da
obra e a expectativado grupo social",Jauss
chamaconcepçãoresultantede um "objeti-
vlsmo redutor", vendo nela um embaraçoà
oxplicaçãoda "açãoretardada"ou "durável"
dusobras.A essaperspectivasociológicade-

38 39
terminista, prefere outra, que considera Com uma perspectivamais flexível, não
"muito maisambiciosa":a de Auerbach,que encerradanessa"clausura metafísica"(que
se lhe afigura capazde dar contadas "múlti- supóe também um fechamentoepocal,um
plasrupturasepocaisnarelaçãoentreescritor ciclo evolutivoconcluso),poderiaganharou-
e Públics".(2r) tra luz o enfoquedo casoGregóriode Mattos.
Um poetaque teveum primeiro público efe-
Público,na Formaçáo,é um "conjunto de tivo e documentadamente o afetou (não im-
receptores"organicamentevinculado a um porta se esse público era reduzido, nas
"conjuntode produtores"por um "mecanis- condiçõesdo tempo,que não eram apenas
mo" queassegura a "transmissão"de um "sis- Um poeta cuja produção é
brasileiras).{21)
tema de obras" ligadaspor (destaque-se) marcantementerepresentativade um estilo
"DENOMTNADORES COMUNS" (r,23).É (o Barroco) que por suavez a transcendee
público visto como componentede um siste- que se prolongaem seusefeitos (estilemas)
ma homogêneo,reconciliadoe, assim,defini- para além dela no espaçoliterário, mesmo
do em funçâode uma literatura descritana depoisque essaobra e seu autor, como tais,
perspectivada série acabada(na linha das tenhamexperimentadoum processode ocul-
"HistóriasdaLiteratura Nacionais"do século taçãoe passadode ostensivosa recessivosno
passado)e que aspiraao classicismo verocên- horizonterecepcional.
trico do sentidopleno (aquela"língua geral
dumasociedadeà buscade autoconhecimen- Por outro lado, uma concepção"objetivis-
to", I,28).A essepúblico de "agregação',cor- ta-reducionista", guiada pelo critério de
respondea constituiçãoprogressivade um concordânciaintegrativae pelaverificaçãode
cânon preferencialde obras e autores,cuja uma "densidadeapreciável"(I,16) na relação
reconstituiçãoincumbe a uma historiografia público-autor("vida literária"), teria dificul-
que se dá por tarefa "representar,atravésda dade em lidar com o problema da recepção
históriadosprodutosde sualiteratura,a es- das literaturasantigas,quando se têm de
sênciadumaentidadenacionalem buscadela considerar"obras de autoria desconhecida,
mesma".(22) propósitosautoraisnão claros,relaçõescom

40 4l
fontes e modelosapenasindiretamentedis- dita e digna de registro- não haveráhistória
cerníveis";quando,enfim, os leitoresvirtuais avaliávelem termosformativos- mastão-so-
estãoinscritosno próprio texto, sob a forma mente "manifestaçõesliterárias", cénario
do "contextodasobrasque o autor supunha, "ralo" e "esparso",limbo afônico ("sem res-
explícita ou implicitamente,conhecidasdo sonância")onde a voz do Ser ainda não se
público que lhe era contemporâneo".(24) No "encorpou",pré-história in-formei nexistente
casode Gregório e de nossoBarroco do pe- em "perspectivahistórica"...Que aconteceria
ríodo colonial essasquestÕessão muito me- setìvéssemos de avalizarpor um semelhante
nos complexas,pois, embora não haja uma critério "sistêmico" a existêncialiterária de
verdadeira ediçáo crítica de nosso grande produçõestão remotasno tempo (e só recu-
avoengodo Recôncavo,há a tradiçãooral, há peradaspelos eruditosdepoisde séculosde
os apógrafos,há a atestaçãode um público e olvido) como as da poesia provençal, por
dasreaçõesquejunto a estesuscitoua língua exemplo?
ferina do "Boca do Inferno"; há,sobretudo,o
próprio Barroco, que, como grande código Mas, no caso de Gregório de Mattos, há
universal da literatura do tempo, dominou aindauma circunstânciarelevantea conside-
nossacenaliteráriadesdeCamões@) e sepro- rar e queaguçao paradoxo:comopodeinexis-
longou em nítidos traços barroquizantesna tir em "perspectivahistórica"um autor que é
poesiados próprios árcades,nas"monstruo- fonte dessamesmahistória?"E por intermé-
sidadesescritasem portuguêsmacarrônico" dio delese dos cronistasda épocaque pode-
do "pai rococó" Odorico Mendese na implo- remos reconstruir com grande fidelidade o
sãosubversivade Sousândrade, que arruína, retrato da sociedadebrasileira do século
excêntrico,a construçãoharmoniosade nosso XVII", assegura S.Spina,falandode Gregório
Romantismooficial. Resolver tais questões e Vieira. "Talvez a fonte que melhor revelaa
no plano recepcionalnão pode consistirem opinião da épocasobre os desembargadores
simplesmentepostularque,ondenãohajaum e a Relaçãonão sejaa informaçãohistórica
público "sistêmico" (denso,concorde,inte- tradicional,mas a poesiado baiano satírico
grado), não haverá literatura propriamente Gresório de Mattos e Guerra", salienta

+J
Stuart B. Schwartz.(26)
Como se pode procla- executarcom traçoharmoniosoo seuprogÍa-
maressevaziohistoriográfico,contestadopor ma: "descrevero processo"(EVOLUçAO
umainscriçãohistorialqueo textogregoriano LITERARIA dotadade uma certa"CONTI-
exibe gozosamenteem sua trama, seÍrr,no NUIDADE DA TRADIçÃO" e de "INTE-
mesmopasso, pôr emquestãoapróprianoção GRAçÃO ORGÂNrCA" _ou "COERÊN-
de história que condicionaessaperspectiva CIA" quantoàs'PRODUÇOES") "por meio
excludente? do qual os brasileiros" (PUBLICO) "toma-
ram consciência"(FUNÇAO CONATIVO-
Isso tudo se explica,entretanto,como en- PERSUASIVA) "da suaexistênciaespiritual
saio (admiravelmentebem conduzidono ní- e social ATRAVÉS da literàtur a"
vel estrito de sua proposta) de escrevera (coNcEPÇÃovErcuLARDASOBRAS
histórialiterária promovendoa primeiro pla- COMO "MECANISMO TRANSMISSOR"
no a "função ideológica"- no casobrasileiro, de um "COMUNICADO"), "combinandode
o objetivo missionáriode conscientizaçãodo modo vário os valores universais" ( os
"nacional", peculiar ao projeto romântico. GRANDES TEMAS.'PADRÓES UNI-
Essafunção,dentre as três do conjuntodeli- VERSAIS", CODIFICADOS NUMA "TÓ-
neadoem LS,53-56,é dadacomo "impor- PICA" unificadoÍadas "LETRAS DO OCI-
tante para o destino da obra e para a sua DENTE) "com a realidade local" (FUN-
apreciaçãocrítica". Mas dela tambémse diz, ÇÃo coGNTTIVO- REFERENCT AL)
em relação à produção literária , que "de "e,destamaneira,ganhandoo direito de ex-
modo algum é o âmago do seu significado, primir" (FUNÇÃOEMOTTVO-COMUNI-
como costumaparecerà observaçãodespre- CACIONAL, colorida indiretamente por
venida". uma alusãoà FUNÇÃO POÉTICA, embora
apenas em termosde"ESTILIZAÇÃO"; "es-
O autordaFormaçáotevenecessariamente tilizar para nós (...) os sentimentos
de propenderpara a integração,descurando observaçôes", I,10): "o seusonho,a sua dor,
da diferenciaçáo(LS, 27), a fim de poder o seu júbilo, a suamodestavisãodascoisase
configurá-lano desenhoque lhe deu e, pois, do semelhante" (II,369).

44 45
O BAÌROCO DTIVIDOSO çãoliterária, é imitaçãoou transposição").A
seguir,o crítico - os críticos,pois a obra é de
Essatarefa,ao que se pode imaginar,terá co-autoria,- semostramdispostosa ressalvar,
sido facilitada pela reservaque o autor da "parcialmente",o "sentimentonatiüsta" ou a
Formaçáo,simpáticoa uma "literatura emi- "lenta definiçãode uma consciênciacrítica"
nentemente interessada"(I,18), ainda que (vale dizer, aquilo que, em nossoBarroco,a
menor ("pobre" e "fraca", I,1Q)('z?),
manifesta despeitode suaalegadafragilidadeno plano
quantoao aspectoauto-reflexivoe lúdico da estético,poderia já anunciar características
obra literária,pondo-nosde sobreaviso,sem- que mereceriamdestaqueno projeto român-
pre que vem a calhar,quanto à incomunica- tico-nacionalista...). Essejuízo avaliativo,
bilidadeperanteosleitores,que resultariada marcadopela cautela e pela difidência, no
conversãoda arte em "mera experimentação qual parecemesmoinsinuar-se(no matiz de-
de recursostécnicos"(I,28); ou, ainda,aler- preciativo de termos como "imitação" e
tando-noscontraas"pretensõesexcessivas do "transposição")algo do argumentosilvioju-
formalismo",queimportariam,"nos casosex- lista do "plâgio", a esta altura dos estudos
tÍemos, em reduzir a obra a problemasde intertextuaisdificilmente sustentável(3), de-
linguagem,sejano sentidoamplo da comuni- safoga-semais completamentequando tem
cação simbólica,seja no estrito da língua" em mira um poetaconsideravelmente menos
(I,33).€3) importante do que Gregório, mas de inegá-
veis méritos artesanais,Botelho de Oliveira.
Essaatitude de suspeiçãoirá depoisinspi- Deüa-seentãoexprimirclaramentecomore-
rar, na Presença(I,15-16),a relutância,as jeição:"Estamos,antes,no âmbitodo Barro-
hesitações judicativas,na abordagemdo Bar- co vazio e malabarístico,contra o quai se
roco brasileiro. Numa primeira apreciação erguerãoos árcades,e que passouà posteri-
generalizadora, asrealizaçõesdo períodose- dadecomo índice pejorativoda época" (LS,
rão implicitamentedesvalorizadas comopou- Uma rejeição que não vacila em
L1.l-1,12).
co originais no plano da "criação literária" acomodar-se,sem crítica,aos termos de um
("Mas o que ocorre,como expressãode cria- clichê questionável:gongorismoigual a mau

46 47
tllfÍcil, a não ser a dificuldadefácil do rebus-
gosto,estilo rebuscadoe oco. (kia-se o ver-
câmcntoverbal" (LS, 101).Que quer dizer
bete "culteranismo"no Diccionario Manual
al0tamenteestafórmula? O Pe.Vieira, com
da "Real Academia Espaúola", edição de |!u "discursoengenhoso"(31), é escritorfácil?
1950da EspasaCalpe:"Sistemados cultera-
trtusândradeo é? Euclidesé fácil? Ou todos
nosou cultos,que consisteem nãoexpressar
3lc$são"falsosrequintados",como o foram,
comnaturalidadee simplicidadeosconceitos, [mutatismutandis",para a crítica adversado
mas sim falsae amaneiradamente, por meio
llmpo, Gôngora, o "anjo das trevas", o
de vozesperegrinas,construçõesrebuscadas ímonstruoso" Hoelderlindastraduções sofo-
e violentas,e estilo obscuroe afetado").(30) Mallarmé,o "obscuro"...O êxito co-
ollunas,
municativo do Euclidesdiflrcil(ou,em outros
Onde reconhecer,naspassagens citadas,o
lormos,o de AugustodosAnjos), torna-os,a
crítico que faz o elogio da "gratuidade"
Umcomo outro, pseudo-requintados no sen-
(1,27)?A "gratuidadeque dá asasà obra de
lldo pejorativodo verbalismovaníloquo?To-
arte", da qual seriamcarentesos autoresbra- por outrolado,nâoeluci-
dttcsseargumento,
sileiros,sobrecarregados,ao invés,de "fideli-
dtria a desconfiançado autor da Formação
dade documentáriaou sentimental,que vin- quüntoàsrebuscasdo estilobarroco,na épo-
cula à experiênciabruta". E que a essare-
0t mesmada revalorizaçãohispânicae ibero-
flexãoaindaacrescenta: "Aliás, a coragemou lmcricanadesseestilo?
espontaneidade do gratuito é prova de ama-
durecimento,no indivíduo e na civilização; Para a visão armada de um crítico oue
aospovosjovense aosmoços,parecetraição
dlrtinguecom Ìucidezentre uma "arte de
e fraqueza."
lSregação"e uma "arte de segregação"(LS,
27);que sustenta:"a própria literaturaher-
É, porém, o mesmocrítico quem,num mo-
fiética apresentafenômenosque a tornam
vimento antiteticamentependular em rela-
l[o social,parao sociólogo,quantoa poesia
çãoa esselouvordo "gratuito" enquantofator política ou o r om ance de costumes "
criativo,negaa existênciaem nossaliteratura, (LS,ZS;r:a'que afirma: "Os arristasincom-
"até o Modernismo".de "escritor realmente
49
48
preendidos,ou desconhecidos em seutempo' mostambémde "ausência"(LS, 101):"É que
passamrealmentea viver quando a posteri- no Brasil, embora exista tÍadicionalmente
ãadedefine afinal o seuvalor. Destemodo o umu literatura muito acessível,na grande
públicoé fator de ligaçãoentreo autor e a sua m0ioria,verifica-sea ausênciade comunica-
própria obra" (LS, 45); que, finalmente,sus- elo entre o escritore a massa"(...) "Com
tenta a "precedênciado estético,mesmoem lfcito, o escritorsehabituoua produzirpara
estudosliterários de orientaçãoou natureza pÍlblicossimpáticos,masrestritos,e a contar
histórica" (1,L6-17);para a visão armada 0oma aprovaçãodosgruposdirigentes,iguaÌ-
dessecrítico, náo deve ter sido uma decisão mcntereduzidos.Ora, estacircunstância. li-
simolesrasurar a diferençado Barroco (e, flda à esmagadora maioria dosiletradosque
com essegesto,"economizar"todo o Seiscen- ffnda hoje caÍacteÍizao país,nunca lhe per-
tos) no seumodelode explicaçãodaformação mltiudiálogoefetivocoma massa, ou comum
de nossaliteratura.Tanto maisque o Barroco p0blicode leitoressuficientemente vastopa-
- e nãoapenasentrenós - foi, a seumodo, n iubstituir o apoio e o estímulodaspeque-
uma arte da comunicaçãolúdica,do compro- nlr élites."Pergunta-se então:guardadasas
metimentopersuasivo,comotambémda afe- proporgoes,o que terá mudado essencial-
tividadeeróticae da desafeiçãosatírica,am- m0nteem nosso"sistemaliterário".desdeas
ltrülase esparsas
basformasde afetarum públicode destinatá- manifestações sem resso-
rios bastantecorpóreos;nãopor nadaGregó- lìlncia" de nossa pré-literatura assistêmi-
rio despertouódios e foi "despachado"para 0t?(3)O fato de Gregório,semprejuízode ter
ípcrmanecidona tradiçãolocal da Bahia",
Angolí33).A noção quantitativade público
rarefeito, à épocada produçãoda obra, não nlo ter sidoredescoberto senãono Roman-
pareceter aqui,no seudeterminismo"objeti- tltmo (I,24), não é tambémargumentoirres-
vista",suficientepesode convencimento.So- pondÍvelpara quem não entretenhauma
bretudo quando,para além do período coÌo- Concepção lineare finalistadahistórialiterá-
nial, as relaçõesentre escritore "grandepú- lla; para quem não a veja da perspectivado
blico" em nossomeio acabamsendodefini- 0lcloacabado,masantescomo o movimento
das,emblemáticae paradoxalmente,em ter- [mpre cambianteda diferença;para quem

50 51
estejamaisinteressadonosmomentosde rup-
tura e transformação(índices sismográficos ;orr, publicadaem\927,na ocasiãodo tercei-
de uma temporalidadeaberta,onde o futuro fo ccntenárioda morte do poeta.(37) O auge
já se anuncia)do que nos "momentosdecisi- do processode rejeiçáo ocorreu, segundo
vos" (formativosnuma acepçãoretilínea de l)lcgo,entre"1850-1900, épocadamaistriste
escalonamentoontogenealógico) encadea- Indigência,triunfo da gongorofobiaoficial",
dos com vistasa um instantede apogeuou Ité que o resgate(o novo desdobramento,
termo conclusivo.Da perspectivadessatem- ljora favorável,da históriareceptivada poe-
poralidade não restrita(35),
o casoGregório, lll gongorina) começa a apontar com o
enquantohiato no horizonterecepcional,não yunde renovadordas letras hispano-ameri-
difere fundamentalmentedo casoGôngora, clnas,Rubén Darío, precedidopelos simbo-
na Espanha;do caso(aindairresolvidoe sem lhtos franceses(que encontravamanalogias
resgate)do Barroco português6);dos casos antre Gôngorae Mallarmé...).Ainda na His-
Caviedese Hernando DomínguezCamargo lurln de la Literatura Espaftolade JuanHur-
na América Hispânica, para ficar nesses hdo de la Sernae Angel GonzálesPalencia,
Faça-
exemplosde todo em todo expressivos. professores da Universidadede Madri, publi-
mosa propósitoum excurso. ooda em 1921, pode-seler: "Gôngoraacabou
londo,por suaspoesiasde maugosto,o cori-
A"gongorofobia",o horror a Gôngora,tra- íCu do culteranismo.defeituosoamaneira-
duzidoem "ausência"("menosprezo e igno- mcntoliterário, chamadoassimpor se dirigi-
rância") do poeta das Soledades,durou, no lGm essaspoesiasa leitores cultos e não ao
mínimo,doisséculosna literaturaespanhola; vulgo(...)O culteranismo foi um vícioliterá-
o século XMII, que "reage em direção ao flo relativo à expressãoou à forma que se
racionalismo,à sobriedade",e no qual"a poe- C0racterizoupelo amaneirado,rebuscadoe
sia se converteem prosa"; e o século XIX, podantesco da linguagem;pelo empoladoe
"total, absolutamenterefratário a Gôngora". tfctado da frase;pela introduçãode muitas
É o que afirma GerardoDiego,em suaintro- polavrasnovas(tomadaspreferentementedo
duçãoà Antología Poéticaen Honor de Gón- htlm e do italiano);pelaviolênciado hipér-
huto;pelasalusõesmitológicas,históricase
52
53
geográficas, nãoaomaisconhecido,porérnao foi o primeiro a reconhecer,senãoa significa-
mais recôndito, e pelas metáforasextrava- çllo,pelo menosa importânciado maiscom-
gantes.Há, portanto, falta de simplicidade, plicadopoetada línguainglesa.")t3e).
propriedadee clarczana expressão;reunia,
assim.o culteranismoos inconvenientesde O casode Gregório de Mattos,o "Boca do
duas decadênciasliterárias: a decadência lnferno", é, por suavez,muito semelhanteao
alexandrinae a decadênciatrovadoresca."(s) do poetaperuanoJuandel Valle Caviedes,o
Eis,em suaforma exemplar(inclusiveporque "Diente del Parnaso".Segundonos informa
busca antecedentes históricosem outras o seu mais dedicadoestudiosocontemporâ-
fasesde "degeneração"ou "decadência"),o neo,Daniel R. Reedy,Caviedes"escreveua
clichê da rejeição,com todasasnotasdistin- maiorparte de suaspoesiasduranteo último
tivasqueo lexicalizaramem verbete,parauso quarteldo séculoXVII, porémgrandenúme-
de manuais,antologiase dicionários.Nesse ro delasnão se publicaramsenãoquasedois
sentidoé que se deve entendera súmulade séculosdepois,quandoManuelde Odriozola,
Otto Maria Carpeaux:"Após três séculosde ajudadopor Ricardo Palma,as incluiu no
calúniae desprezoda parte dosacadêmicose tomo V dos DocumentosLiterarios del Peru
professores,desprezoque se refletiu até no (1873;."trol
6onforme Enrique AndersonIm-
adjetivo popular 'gongórico',Gôngora cele- bert, osversosdo "Diente del Parnaso"(alu-
brou umaressurreiçãovitoriosa,o que tornou são a seu estilo mordaz:"mordiscosde mi
antiquadostodososvelhosmanuaisde litera- diente", dizia) "não se publicaram nem em
tura espanìolae universal."(No mesmoestu- vidanemnosanosimediatosa suamorte,mas
do, Carpeauxserefereà analogiaentre Gôn- se conheciambem. (...) Suapoeisa- satírica,
gorae JohnDonne:"O destinodosdoispoe- mastambémreligiosae lírica - é dasque têm
tas é exatamenteo mesmo.Durante três sé- maior frescor no Peru colonial. Sem dúvida
culos,Donne foi caluniadoe desprezadope- ocuparáum lugar mais destacadodo que
los acadêmicose professores,ao ponto de uquele que lhe dão as histórias literárias -
desaparecer o seunomedosmanuaisde his- inclusiveesta- quandose editem melhor as
tória literária.Pareceque GeorgeSaintsbury suasobras.'{4r) Problemasde atribuicãodis-

54 55
cutível,de inexistênciade manuscritosautó- Não muito diferente do destino de Ca-
grafos,tambémocorremcornCaviedes.Opi- viedese Gregório, é o do poeta colombiano
na RaimundoI-azo:"Tudo em suavida tende HernandoDomínguezCamargo,assimresu-
a fazê-lo poeta popular, antiacadêmico,de mido por Guillermo Hernándezdel Alba nu-
cujaobra inédita,divulgadaoralmente,citam ma "Liminar" à ediçãodo volumededicadoa
oscríticos,comoconservadas, setecópiasma- suavida e obra: "Em resumo:suaobra literá-
nuscritas,algumasdasquaisserviramparaas ria, quasedesconhecida em vida do artista,
ediçõesde Manuel Odriozola (Documentos, deuJhefamapósturna,logo enfraquecida;re-
V. Lima, 1873),Ricardo Palma(Flor de Aca- vive-aem SantaFé de Bogotá ao finalizar o
demiasy Dientedel Parnaso,1899)e Rubén séculoXVIII o bibliotecário Manuel del So-
VargasUgarte (Obras, Lima, 1947).'(42) Fo- corro Rodríguez;em tom menor passaàspá-
calizandoo nossoGregório de Mattos no ginaseruditasde JoséMaría Vergaray Ver-
contextodo Barroco ibero-aúericano,o já gara,historiadorda literatura em Nova Gra-
mencionado DanielR. Reedyconclui:"A im- nada,de quem se fazerr'ecovárioscomenta-
portânciadasobrasde Mattostranscendea ristaspoucofavoráveisa DomínguezCamar-
suaóbvia significaçáocomo reflexóesacura- go, até chegar agora, depois do novíssimo
das sobrea üda brasileirado séculoXVII. ensaioreavaliadorde Fernando Arbeláez
Seumérito comopoetapodeseÍ encontrado (1956),à exataapreciaçãode sua obra e a
no talento artísticoque the permitiu expres- receber a homenagemde quantos saberão
sar-seem suapoesiareligiosae amorosa,bem regozijar-sediantede tão dilatado horizonte
comoem seuspoemasdesátirasocial.Em seu lírico iluminado pelo gênio e o engenhodo
país, ele é inquestionavelmenteo primeiro melhorpoetagongorinoflorescidona Amé-
poetade importânciamaior e, com Sor Juana rica."(aa)Nessepoeta,dissel*zama Lima, "o
Inés de la Cruz e Juan del Valle Caviedes, gongorismo, signomuitoamericano, aparece
Mattos deve ser consideradocomo um dos com uma apetênciade frenesi inovador, de
três preeminentespoetas do Novo Mundo rebeliãodesafiante,deorgulhodesatado, que
nesseperíodo,"(43) o levaa excessosluciferinosparaobter dentro

56 57
do cânongongorinq um excessoaindamais De pervivênciase trata: FoÍleben, como
queosde Don tlis...{'s)
excessivo diz ÌValter Benjaminquandofala da sobrevi-
vênciadasobrasliteráriasparaalémdaépoca
Todos essespo€tas- Gregório,Caviedes, gueasüu nascer,('4
Camargo- teriaminexistidoem "perspectiva
histórica"?

Gôngoraficou obliterado ou excluÍdoda


convivêncialiteráriapor maisdedoisséculos.
Entrea mortedeGregório(1695)e o Parna-
soBrasileire,deJanuáriodaC\nha Barbosa,
em cnjo ? vol. (1831)já aparecemversos
seus,medeiam13ó anos; 155 entre aquela
datae o Florilégiode Varnhagen(f850); 187
sea referênciafor à edição Vale Cabraldas
Obras Poéticas(1882).Nesseinterregno,
além da famana tradiçãooral da Búia, a
"coletamanuscrita" deseuspoemas(que,se-
gundoAntônio Houaiss,"deveter começado
cedosobtodososaspectos, maspor terceiros,
já quepareceimprovávelquedopróprioGre-
gório"),constituiu-se atravésdosapógrafos,
"A tradiçãomanuscritapôde sersustentada,
assirqaolongodo séolo XVIU, quandoGre-
góriojá nãoexistia"(...) -Trata-sedeapógra-
fos que 'queriam'guardarGregóriode Mat-
tos,apógrafosque,lidosepisodicamente, sus-
tentarama pervivênciade suaobra".(6)

58 59
(propensões,aversôes).A inspiraçãoque
PoRrJMÀHlsrónn coxsrtr,an provém do sentimentoé neta de urnjuízó _
muitasvezesde um juízo falso _ e, em todo
A história literária, renovadapela estética caso,nãode teu própriojuÍzo.Confiar em seu
darecepção,deve,segundoJauss,conteruma sentlmento,- isto signifìcaobedecermais
"função produtiva do compreenderprogres- ao
seu avô e à suaavó,e aosavósdeles,do que
sivo". Cabe-lhefazera críticatanto dos pro- aos deusesque estãoem nós: nossa'rarãà-e
cessosde inclusão(â constituiçãoda "tradi- nossaexperiência."(ae) Nessaordem de idéías.
ção"), comodosprocessosde exclusão(a crí- argumentandoagoracomJausse Starobinski,
tica do "olvido").{48) ép_r^ecisoquea interpretaçãocríticanãoanule
a "tunçãodiferencial,'da obra, sua .,função
Assim,pode-seconcluir,não lhe serádado transgressora". A crítica não deve,portunto,
aceitarsimplesmenteo sentimentodo passa- excluira exceçãoe assimilaro dessemelhanté
do enquanto"lugar comum",como,ao invés, em favorda constituição de um cânonimutá_
parecesustentaÌa Formação(I,11), onde se ver de obras,tornadoaceitávele convertido
lê: "Quando nos colocamosante um texto, em.patrimôniocomum:deve,antes,.,manter
sentimos,emboapa e, comoosantecessores OfterglS-adasobrasenquantodiferença;;e,
imediatos,que nosformaram,e oscontempo- 1
assim,"pôr em relevo a descontinuidaãedá
râneos,a que nosliga a comunidadede cultu- liteÌatura em relação à históría da socie_
ra; acabamoschegandoa conclusõespareci- dade.'(so)
das,ressalvadaa personalidadepor um pe-
queno timbre na maneirade apresentá-1as." "É sabidoque a tradição- entendidacomo
Nietzschejá nos alertavacom relaçãoa essa passadovivo - nuncase nos dá feita:
aceitaçãoresignadada tradiçãocomo sefora é uma
criação'',escreveOctaüo paz em..Homenaje
uma segundanâtureza (atitude que vê, na a Sor Juana Inés de la Cruz en su Tercór
busca da originalidade,uma "ilusão"; loc. Centenario",ensaiode 1951,que preludia o
cit.). Ié-se em Aumra: "Por trás dos senti- rcy gande livro_de 1992sobre a autora de
mentoshá ju2os e estimativasde valor que Primero Sueío.(sr)
nos foram legadosna forma de sentimentos
67
60
De fato, se pensarmos,com Walter Benja- comoprocesso conclusivo,
do que
min, que "a históriaé objeto de uma corÌstru- cessoabeÍo-.Uma históriaonãe comopro-
ção, cujo lugar não é o tempo homogêneo e ,eleu"ri-os
momentosde.rupturae transgressão
vazio,masantesum tempocarregadode ago- e que
ridade"; se entendeÍmosque "é irrecuperá- :."ï:ldl a.tradiçãonãode um modo,.esËn_
qatista" (..a.formação
vel, arriscadesaparecer, toda imagemdo pas- da conrinuiAaae ú-t-ü_
ria, - espéciede transmissão ou to.f,a.niie
sadoque nãosedeixereconhecercomosigni-
que no tempoo moü_
ficativa pelo presentea que visa"; se ponde- 1oIï911..:
mentoconjunto, Ts:gura
rarmosque"articular historicamenteo passa- definindo
oslin.ârn"nto,OL
t1I pq* comoelaé concebida
do nãosignificareconhecêlocomoeledefato n. forrnãl
24),mascomouma..Aiafetica
ção,.1, ãafei_
foi", teremosconjurado,por um lado, a "ilu- guntae da resposta",
sãoobjetivista"e, por outro, a "ilusão positi- um coÌlstantee renova-
do questionarda diacroniapela -
vista" do encadeamentocausaldos fatos co- sincro*ã.'
mo avalde suahistoricidade.(52)

Compreenderemos, então,queuma coisaé


a determinação,objetivamentequantificável,
do primeiro público da obra, outra a história
de suarecepção.Que envolvefasesde opaci-
dadeou de prestígio,de ocultaçãoou de re-
üvescência.Que não se alimentado substan-
cialismode um "significadopleno" (hiposta-
siado em "espÍrito" ou "caráter nacional"),
rastreadocomo culminaçãode uma origem
"simples",dadade uma vez por todas,"datá-
vel", Poderemosimaginarassim,alternativa-
mente,umahistórialiteráriamenoscomofor-
maçãodo que como transformagáo.Menos

62
63
A ORIGEM VERTIGINOSA Gôngora e Quevedo, e antes de ambos
Camões,que aosdois influencioue já anun-
como Bar- ciava no maneirismo o código barroco, não
Nossaliteratur4articulando-se
roco. não teve inflincia (in'fans, o que não abolem a contribuição diferencial - as di-fe-
r€ncias chamadasGregório de Mattos, Ca-
iãr"f Ì.Iaoteve origem"simples"'Nuncafoi
viedes,Domínguez Camargo,Sor Juana Inés
in-fárme,Já "nascèu"adulta,formada,no
pianodosualoresestéticos, falandoo código de la Cruz, Nessesentido, não há propria-
'maiselaborado daépoca.Nele,no movimen- mente "literaturas menores", apassivadas
diante do cânon radioso, do ..significado
to de seus"signosem rotação",inscreveu-se
como"diferen- tr anscendental" das liter atur as di tas
desdelogo,siigularizando-se
(Derrida) "maiores". Assim como os cânonesnão são
õ;. o ""Àá"it"''"ntoda diferença"
iroduz-sedesdesempre:não dependeda "etemos" e o belo é historicamenterelativo,
iencarnuçao" datadadêumLOGOSauroral' também não há falar em influência de mão
quedecidadaquestão daorigemcomoumsol única,que não sejareprocessada e rediferen-
,irrmsistemahèliocêntrico. Assimtambéma ciadano novo ambiente que a recebeu (como
formal(e crítica)dacontribrrição apontaMukarovskya propósitoda questãoda
maturidade
literatura dos "povos pequenos")(5r).
nrinoriunuputua nossaliteraturanãoficana Nessa
do ciclo sazonalcronologica- acepçâodiferencial, o Barroco americano,
ãep-endência
comoo definiu kzama Lima, é uma ..arteda
mËnteptopostopela Formaçõo'Anterior.e
u.ìr" .icio,põeemquestão aprópria contraconquista".A esse processochama-
"*i"rioi queo rege'Nossa"origem" mos,desdeOswaldde Andrade,..devoração
idéiagradualista
nem"sim-
nãofoi pontual, antropofágica".(5s)
iitt.afiu,pottunto,
ples" (númaacepçãoorganicista, genético-
parafalar Da perspectivade uma historiografianão-
!muriònaria).Fói-"vertiginosa",
linear, não-conclusa,relevante para o pre-
àgoru.o*o WalterBenjamin,quandoreto-
sentede criação,quetenhaem contaos,.câm-
nïaapalavraUrsprungemseusentidoetimo-
a noçãode "salto"' de biosde horizonte" de recepçãoe a maquina-
iãnúá. ou"
"nuolue
"tiansioimação".t53) ção"plagiotrópica"dospercursosoblíquose

64 65
dasderivaçÕes a pluralidade
descontínuas(56); seguinte:"Gregório é o nossoprimeiro poeta
e a diversidadedos "tempi"; as constelações 'popular', com audiênciacerta não só èntre
transtemporais (porém não desprovidasde intelectuaiscomo em todas as camadasso-
"historicidade",como asüslumbravaBenja- ciais,e conscienteaproveitadorde temase de
min)(s4'dessaoutra "perspectivahistórica", ritmos da poesia e da músicapopulares;o
Gregório de Mattos existiu e existe - viveu e nossoprimeiro poeta 'participantet,no senti_
pervive- maisdo que,por exemplo,um Casi- Oocontemporâneo;poeta de admiráveisre_
miro de Abreu ("o maior poeta dos modos cuÍsostécnicos;e um barroco típico: assimi_
menoresque o nossoRomantismoteve", se- ladore continuadorda experiêncianeoclássi-
gundoa Formação,II, 194),e que hoje quase ca da Renascença,sensualistavisual. 'fusio-
só pode ser relido como Kitsch (veja-se a nista' (harmonizadorde contrários),'feísta'
paródiaoswaldianados "Meus oito anos");o (utilizando temas conven ci o n ál m ent e
frouxo e quérulo Casimiroque, tendo publi- 'feios'),amantedosp-ormenores, culteranista,
cadoAs primaverasem 1859,foi contempo- conceitualistaetc."(se)
É ele quem agorares-
râneo exato de Baudelaire e de Sousân- suscita,como muito bem soube ver James
drade...É com Gregório, com sua poesiada Amado,falandoem especialde CaetanoVe-
"funçãometalingüística"e da "funçãolúdico- Ioso,na novaoralidade,lúdicae sofisticada.
poética", com suapoética da "salvaçãoatra- dos"tropicalistas"baianos,neotrovadoresda
vés da linguagem" (ÌWisnik),que "sincroni- cra eletrônica.(o)
zam" e "dialogam"o JoãoCabral,engenheiro
de poemascombinatórios,ou a vanguarda Ainda que Gregório de Mattos tenha fica-
que,já em 1955,propugnava por uma "obra do provisoriamenteconfinado na memória
de arte aberta" e por um "neobarroco"($).É local e na "tradição manuscrita',(que, toda-
o legado de Gregório que reclamam,quase vra,tevetorçasparaprolongar-seatravésdos
nos mesmostermos,Oswaldde Andrade,fa- réculosXVII e XVII!; ainda que só tenha
zendonos anos40 um balançode nossalite- lido resgatadoem letra impressa cerca de
ratura, e Mário Faustino,inesquecívelcom- 150anosdepoisde sua morie; ainda que te-
panheiro de geração,ao escreverna década nha pesado renitentementesobresuarepu-

66 67
taçãoa "morte civil" daacusação
de "plâgio",
a ausênciadopoeta,numsentidomaisfunda- ra Brasileira,perplexo,atribuiu-oà imperÍcia
mental , foi meramenteürtual ou larvada formal: ao poeta "quaseinteiramentedesco-
(mascarada). Presente,como inscriçãoem nhecido"faltaria"a destrezae a habilidadeda
linha d'água,Gregório sempreesteve,no forma". Da obra de Sousândrade,dessetenc-
miolo do própriocódigobarroquistade que moto clandestino, que subverte o pacto har-
ele foi operadorexcepcional entrenós.Um monioso- a "toada comum" - de nossoRo-
(Gerardo
"estilocoletivo"ou"arquitetônico" mantismocanônico,a Formaçáo (que endos-
Diego),quepersistiuem traçosóbviosmes- saquasesemdiscrepânciaessepacto e a par-
mo na obra dos opositoresnominaisdesse tilha hierárquicade autoresdele decorrente)
código(osárcades mineirosdatardo-barroca praticamente trâo dá conta. Registra cautelo-
VilaRica). samentea originalidadedo poeta ("Um ori-
ginal", ll,207 -208), relegado ao discreto
Esseestiloinsidioso,pervasivo, migrando conjunto dos "menores". Relatiüza, a seguiç

parao interiordo Romantismo, convertido esseaspectode noüdade, obtemperandoque
num repertóriotransepocal de recursosex- o "ar de procura", legítimo como "inquieta-
pressivos,é queexplica,em proporçãopon- ção",nempor isso"favorecea plenitudeartís-
derável,a insurreiçãoaparentemente deslo- tica". Em outras palavras, a Formação re-
cadano tempo,regressivae progressiva,do Pete, subscrevendo-o,o juizo romeriano: a
Guesasousandradino.Uma insurreição inovação- o excessoformal, já que entram no
contraa dominantecomunicativado código argumentoalusõesa "preciosismo"e ,.mau
doperíodo.Apesardospesares, SilvioRome- 8osto" - são interpretadoscomo carênciade
ro soubeavaliá-lacorretamente comoinfra- perfeiçãono plano estético.Mas, releva no-
çáo da norma: "o poeta sai quaseinteira- trarrcom uma agravante:de Sousândradeé
menteforadatoadacomumdapoetização do consideradoagoraapenaso liwo de estréi4
seumeio;suasidéiase linguagem têm outra Harpas Selvagens,1857(II,416). O Guesa,
estrutura".Nãoencontrando explicaçãopara um poema longo, em XIII Cantos,que, na
o fenômeno. o autordaHistóriada Literatu- opiniãorefratáriado próprio SflvioRomero,
convirialer "por inteiro", nãoé sequerobjeto
68
69
de avaliação,emborareferidonanotíciabio- gando"o Guesasousandradino (comoantes,
bliográÍicarelativaaopoeta([I,381).Sousân- parasimplificara "questãodaorigem",Gre-
drade,ao contráriode Gregório,editou-se górioe o Barrocohaviamsidosegregadosno
insistentemente, o que,nemporisso,lhepro- limbo...).
porcionoumaior escutajunto aopúblico seu
contemporâneo, que constituiriaaÍinal o au-
ditório"integrado"do Romantismo normati-
vo. Vale dizer,na"perspectiva histórica"da
Forma$q também Sousândrade, o barro-
quistailegível- segundoospadrõescomuns
do tempo- nãoexistiu,nãorepercutiu,não
influiu, pelo merìosno que toca à suaobra
maisfundamental (aindaquehojenãosepos-
saescrever semo autordoGuesauma história
nãoconvencional desseperÍododenossalite-
ratura, como não se pode escÍever,sem a
disrupçãode Hoelderlin, a do Romantismo
alemão).(ó1) De umaperspectiva recepcional
maisampla,todavia,quedêcontado heteÍo-
gêneoe dodescontÍnuo nahistória,a obrado
coetâneo "preciosista"e arrevesado do"mei-
goCasimiro"estáprecisamente entreaquelas
querompemtãototalmentecomo horizonte
familiar de expectativas literárias,que seu
público só se pode constituiÍprogressiva-
mente,(62) A grandeconcórdiada "literatura
integrada"sósedeixaestabelecer- e recapi-
tular comotal - pondoà margem,"des-agre-

70 71
O PARADIGMAABERTO riana é dadopor "monótonona maior parte",
coma ressalvado "pitoresco"e do "saboroso"
da taàrcteur'(Benjamin),
"...I'impossible'tâche
voilàcequevau ürc aussi'déconstruction': de seus"melhoresmomentos".A preferência
vai para a obra lírica, que é considerada"tal-
vez superior" e à qual se concedemmesmo
Seránecessário ressalvar,num outro plano, "alguns momentosda mais alta poesia", no
que é o próprio autor da Formaçáo quem todo de uma obra "irregular", da qual se sal-
acaba,implicitamente,por abrir a possibili- varia apenas"urna minoria de versos").
dade de se repensaraquela sua primeira
"perspectivahistórica".Na "Dialética da Ma- Nessaautodesconstrução do modelo semi-
landragem",notável ensaio de 1970,como ológicode leitura da Formação,por força da
que refaz, em outro desenho,o tÍaçado evo- qual a "musapraguejadora"de Gregório de
lutivolinear desseseu livro de 59, descons- Mattos é resgatadade seuanterior seqüestro
truindo-o e reconstruindo-onum novo per- sociológico,nãorrais õper4 parecelícito afir-
curso,agorafraturado e transtemporal("ex- mar, o esquema"épico" da buscado momen-
pressõesrutilantes,que reaparecemde modo to logofânicode "encarnaçãoliterária do es-
periódico", Dial.,88),recuperadoantespelas pírito nacional" (1,26) e do roteiro de seu
viasmarginaisdo quepelaestradareal.Nesse retorno, hegeliano-ascensional, a si mesmo,
convertidoem í'consciênciareal" de seu"sig-
novo desenho,não linearizado,mas conste-
lar, mosaical,o antes inexistente"Boca do nificado histórico" 0I,369). Nunca Mário de
Inferno" passaa ter voze vez.Ê eleagoraum Andrade esteve tão certo, nunca foi (talvez
dos precursoresda comicidade"malandra" involuntariamente)melhor teórico do nacio-
em nossaliteratura,valorizado,nessaóptica nal, quando,no rastreioontológicodo "cará-
renovada,nãopelo veio sério-estético dapoe- ter" do homembrasileiro,chegounão à iden-
sia lÍrica, amorosae religiosa,maspela sátira tidade conclusa,plen4 mas à diferença: ao
desabusada.(63) (Na Presença,I,70, emborase "descaráter" irresolvido e questionantede
reconheçaa preeminênciado poetana sátira seu anti-herói macunaímico.(Essaperquiri-
brasileir4 o quinhãosatíricoda poesiagrego- çãoda "identidade"ou 'caráter nacional",no
72 73
Machado de Assis de "Instinto de Nacionali- suscetível de "racionalizações ideológicas",
dade",1873,já haüa perdido,refira-se,todas entre asquaisseinclui o próprio "nacionalis-
assuaspretensõesde ubicaçãolocalistae de mo" romântico),que sedeixamvislumbraras
entificação substancialista;deriva talvez daí, contradiçõesantinormativas que - pÍÌra usar
dessadesmistiÍicaçãodo Romantismo,a su- uma outÍa formulaçãoda "Dialética" - "faci-
perioridadecríticadaúltima faseda obra ma- litarão a nossainserçãonum mundoeventual-
chadiana,onde o ceticismo agônico ensaia, mente aberto"(65),"O caráterdo personagem
em passofigurado de reflexão, a "carnavali- cômico não é o fantoche dos deterministas,
zaçã:o"do esprit de finesse,,.)(ú). mas a clarabóiaa cujo raio aparecevisivel-
mente a liberdadede seusatos".observaW.
Na "Dialéctica" o que importa não é mais Benjarnin num ensaioonde também sublinha
depreendera funçãointegrativa,que respon- a impossibilidadede "elaborar um conceito
deria pelo "encorpar-se" de uma tradição não-contÍaditório",a partir do "mundo exte-
contínua,até o momento em que o LOGOS rior do homemagente",parao fim de "lhe dar
(o "espírito") nacionalterminassepor se fa- por núcleo o caráter"(6).De sua parte, Mi-
zeÍ caÍne, amadurecidoe transubstanciado khail Bakhtin, ao considerara criseda "inte-
numa identidade social conclusa. Releva, gridade épica",monológic4fala no "gaio ex-
agora, no plano do que se poderia chamar cesso",no resíduo"não-encamável",no "ex-
(com Jauss)a funçáoantecipadorada litera- cedenteirrealizadode humanidade"corres-
tura, discernir uma antitradição, eversiva, pondente a uma "dinâmica do desacorde",
fragmentária(aquelasperiódicas"expressões que teria vazãono mundo "carnavalizado" do
rutilantes", não explicáveispor um causalis- riso.(64
mo oÍganicista),capazdenospropor modelos
de condutanão-monológicos,não sujeitosao Gregório de Mattos, "o primeiro antropó-
constrangimento da lei (autoritária),da iden' fago experimentalda nossapoesia",como o
tidade (coesa)e da homogeneidade(exclu- viuAugusto de Campos(6), contribuiupione!
dente do estranho).E é no não-fechamento, ramenteparaquepossamos peÍÌsaressepara-
na exorbitânciadessecaráterinconcluso(não digma aberto, não-dogmático,não-verocên-

74 75
POSTSCRTPTUM,
1987
trico. E é por issotambémque o reivindica-
mos,no tricentésimoqüinquagésimo aniver- A "DialéticadaMalandragem" foi,emcer-
úrio deseunascimento na"cidadedaBahia". ta medid4antecipada por uràensaiode 1966
(publicadoem revistaem 1968),que encon-
trou a necessária ediçãocursivaem liwo re-
São P6ulo, novcmbro da 198ó; r,.Írâo rcvista: junho/julho dc cente,A educaçáo pelanoite(SãoPaulo,Edi-
19&7;.8sto dc 1988. toraAtica, 1987).Trata-sede "Literaturade
doisgumes". Essetexto,ocupado sempÍecom
a questãodaidentidade nacional,seapresen-
ta,discretamente, comouma"sondagempre-
liminar".Emborasedeclaremaisvoltadopa-
ra o "fatohistórico"do queparao "fatoesté-
tico", nãopor acasoproclamaa intençãode
desenvolverseuenfoqueatravésdesubidase
descidasentÍe os séculosXVI e XIX, sem
subordinação à "seqüência cronológicaestri-
ta", ou seja,desprendendo-se da sucessiü-
dadelinear.Seucritériopassaa sero oximo-
resco"sentimentodos contrários",atitude
que "procuraver em cadatendênciaa com-
ponenteopost4de modoa apreendera rea-
lidadedemaneiramaisdinâmica,queé sem-
pre dialética".O Romantismo continuaa ser
enfatizado por seu"maiorpoderde comuni-
caçãoimediata".Maso Barrocoe o "esúlo
barroco"(aindaquesubsumidos porvezesno
conceitomaisneutroe desdiferenciador de

77
76
Classicismoe "estiloclássico") sáovistos ago- NOTAS
rapoÍumanovaóptica.Delesdecorreria uma
"linguagemproüdencial"que, pelo ,.senso (') O presente estudofoi elaborado a partir das notas
de preleçãodo curso"Semiologiada evoluçãoliterária:
dosextremos e dasoposições" (porsuacapa- o modelo barroco e suaprodutiüdade na poesiabrasi-
cidadede adequar-se à "realidadeinsólitaou leira", que ministrei no Semestrede Primavera de 1978
desconhecida"), teria gerado"modalidades naUniversidadedc Yale,comoFulbright-HaysVisiting
tãotenazesde expressão que,apesardapas- ProfessoÍ.Voltei a oferecer o mesmo cuÍso em outras
sagemdasmodasliterárias,muitodelasper- oportunidades,no Programa de Estudos Pós-Gradua-
maneceucomoalgocongenialao País".Fica dos em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e, no
Semestrede Primavera de l!)81, na Universidade do
assimreconhecida a congenialidadg valedi Texasem Austin, como Tinker Visiting Professor.Dei-
zer, a ação duradourado Barroco.Desse lhe uma primeira rcdaçãoorganizadaem novembrode
mesmo"estilo barroco"de "extremos"e 1986,para apresentá-lo,sob forma de conferênci4 em
"contradiçôes"que,naPnesença (I,22),inspi- 11 de dezembrodo mesmoano, no Simpósiocomemo
ravareservasquanto"à suaautenticidade" e rativo dos 3í) anosde nascimentodo poeta: 'GÍegório
à "permanência da suacomunicação,'. de Mattos : O Poetada Controvérsia",Salvador,Bahia;
Aqui, patrocínio: Universidade Federal da Bahia, Centro de
nessemodooximoresco de ler a tradição,já Estudos Baianos da UFBA, Academia de l-etras da
se preparaa grande"virada"metodológica Bahia, Fundação Gregório de MattoVPMS. Em 2 de
autodesconstrutora da"Dialética". agostode 1988,expus noramente o tema, sob o título
'O Barroco e a Historiografia Literária Brasileira", no
Curso de Especializaçãoem Cultura e Arte Barroca
promoüdo pela UniversidadeFederalde Ouro Preto,
MG.

(1)

"Da razío antropofágica: a Europa sob o signo da


devoração" (1980), Colóqulo/Letras, Lisboa, Gulben-
kian, n062,julho de 1981;republicado com o subtítulo
"Diálogo e diferençana culiurabrasileira"em Doletim
Blbliogrdlicq SãoPaulo,BibliotecaMáriode Andrade,

78 79
v. 44,ncs,1-4,janeiro a dezembrode 1983,OutÍos estu-
dosmeuspcrtinentesao Barroco e ao câsoGregório de destavez com Machado de Assis. Gregório, o "inexis-
Mattos: "Poéticâ sitrcrônica", Correio da ManhÍ, Rio tente", é uma'ausência" quesecarregapervasivamente
de Janebo,2,10.ü , hoje em A Arte no IlorizonÍe do de 'pre.sença', que deixa rastÍoq por mais que se in-
Proúvel, SãoPaulo,Perspectivq 196$ 'Teúo e Histó- tenterasurá-la;Machado,nacionalpor nãoser nacional
ria'' (dezembrode 1967)e "Uma Arquitextura do Bar- ("um brasileiro em regra", só que "à cata do eÍrava-
roco" (28,3.71),ambosem A Op€raçãodo Texto, São gante",abusivamente assaltado pelo "demônioda imi-
Paulo, Perspectiva,1976.Refiram-setambémaspassa- taçãode inlgesese alemães",no retratopretensamente
gerui sobre Barroco e "barroquisno" em Augusto e objetivoquelhe fez em 1897o truculentoSflvioRome-
Haroldo de Campoq Re/Vlsáo de Sousôndrode, São Ío), é uma 'pÍesetrçã" que se ausent4 evasivamcnte,
Paulo, Edi@s Invençãq 1964;2a"ed., Rio de Janeiro, ocmpreque sepretenda"entificá1a"...
Nova I'rontclra, 1982,
(t
a')
Hans Robert Jauss,"Literaturgeschichte als Provoka-
Wilson Marliry 'Gregório, o Pitoresco", Suplemetrto tion der LiteraturwissenschaÍt"e 'Geschichte der
LiteÍario de O Estado de S, Paulq 213.70.Note-se Kunstund Historie",em'Uteroturgeschichtcals Prc-
como, ao u.sara er.pressão"mistiÍicaçáo histórica', W. Ìokstion, Frankfurt a.M., Suhrkamp, 1970;Pour une
Martins canega ascoresdo exc€ío de A. Candido por csthéaiquede la réception, Paris, Gallimard, 1978.Se-
ele (Martins) preüamentecitado, dandolhe uma cono- gundo Jauss,o "escopo supremo" dos "patriarcas" oi-
tação "apocalÍptica". toc€ntistasdas Históriasda Literatura Nacionais,tais
como Gervinus (Alemanha), De Sanctis (Itália), Ian-
(3) ron (França), fora exatamente"ÍepÍes€ntar, atÍavésda
bistória dos produtos literários (Dlchtwerke), a essên-
Conferênciapronunbiadana Biblioteca PúbücaMuni- cia de uma entidade nacionalem buscade si mesma".
cipal de SãoPaulo,em 1945.Cf. BoletimBibllogúnco,
anoII, v. VII, abril-maio-junhode 1945. (6)

(4) Os grifos não estão no original. Acrescentei-os para


melhor úualizar o problema. Como elucida Gayatri
Note-se que o me.smoprocesso de 'mitiÍicação" da ChakÍavoíy Spivak,em seuexcelenteprefácio à tradu-
origem se repcte, com sinal trocado, na culminação da çáoparao inglêsda GÍamotologia(Of crsmmatology,
cadeia evolutiva proposta pela historiogrúa linear, Baltimore/Londres, The John Hopkins University
Presg196), o deslindede determinadasséric,smetafó-
80
8r
ricas e de certosesquemasretóÍicospode "desbalan- ção psíquicâe de apelo (no sentidode Bühler)." No
cear" a equaçãode "unidadee ordem" que constituio entanlo,Jakobson,desde 1923,em seu livro sobro o
sistemaenunciativodo tcxto e pôr a nu "estrutuÍasde versotcheco,haviaconsiderâdo"errônea"a identifica-
cancclamcnto"que lhe serviramde lastro;oferece-se, ção pura e simplesentre a "linguagempoética" e a
assim,uma instânciapropícia à "leitura desconstruti- "linguagememocional",por nãolevarem contaâ radi-
cal difercnça funcional entre ambas";assim,desde
1958,haviacomplctadoo modelotriádicodc K.Bühlcr:
(7) Dsrstellungsfunktion, Kundgabefunktion, Appel-
funktion, i. é, "funçãode "representação" ou "expositi-
Ensaioapresentado numSimpósiode 1958,incluídoem va"; "funçãode exteriorizaçâo"ou "expressiva";"fun-
Th.A.Sebeok(org.)Style in Language,Cambridge, çãode apelo"ou "conativa",com outrastrês:"fática",
Mass.,The M.I.T Prcss,1960;cm port. cm Roman "metalingüísticâ" e "poética".Na concepçãodc cstilo
Jakobson,Lingüísticae Comunicaçáo,SãoPaulo,Cul- de A. Candido, influenciadapelo idealismocroceano,
trix/EDUSP,1969(trad.de I.Blikstcine J. PauloPaes). se manifestauma tendônciasimilar: como no casode
Ver tambómasminhasconsideraçóes sobreo modelo MattosoCâmara(quecitaW.Urban)o clcmentointui-
jakobsonianoem "Comunicaçãona poesiade vanguar- tivo é realçado;ou, nas palawasdc Mattoso:é "pelo
da", A Arte no Ilorizonte do Provável,cit. na nota 1. contrasteemocionalem facedo que é intclectivo"que
"se devecaracterizaro estilo".
(8)
(9)
O notávellingüístabrasileiroJ.MattosoCâmaraJr.,que
foi discípulode Jakobsonnos E.LT.A.,rcvcla,não obs- GeorgeSteiner,em After BâbeV spectsof fanguage
tante,em suas"Consitlcraçõessobrc o estilo" (1955)1 ond Translation(l,ondres,N.Iorque,Toronto,Oxford
republicadasem Dispersos,Rio de Janeiro,Fundação UniversityPÍess,1975),expressaum pontode vistaquc
GetúlioVargas, 1972,umatcndôncia atÍatarenglobada merecereflexão;glosandoum vsrsodc Shelley("Lan-
ou indistintamenteo "poótico" e o "emotivo". Nesse guageis a perpetualOrphic song"),escrevc:"Se postu-
scntido, mostra, antcs, uma influôncia da estilística larmos,como me parecenecessário, que a linguagem
"afetiva"de CharlesBally,alunode Saussure. Escreve: humanaamadureceuprincipalmenteatravósde suas
"A soluçãoparaintroduziroselementosemocionaisno funçõesherméticae criativa,que a evoluçãodo gônio
sistemaintelectivodalínguaéqueestána basedo estilo, da linguagemem suaplcnitudeé inseparávcldo impul-
em última análise.Assim compÌeendido,podemosde- soparao ocultamentoe a ficção,entãoteremosconse-
finir o estilo como - um conjunto de processosque guidofinalmentenosacercardo poblemade Babcl(...)
fazemda línguarepresentativa um meiode oxterioriza- Ambigüidadc,polissemia, opacidade,a violaçãode se-

82 83
account,I shall sayan explanation,of how the change
qúênciasgramaticaise lógicas,incompreensões recí- Írom the beginningto the end took place"),que lhe
procas,a capacidadepara mentiÍ - issotudo não são parececorresponderàquclaque,na poéticade Aristó-
patologiasda linguagem,massim as raízesdo seugê- tcles,se dá à "fábula" (mythos),Jauss,em contraposi-
nio."
çâo a essaidéia de uma "narrativahistórica"homogê-
nea,presididapela"unidadedafábulaépica"àmaneira
(10) aristotélica,escrcve:"Se a lógica narrativa,que fica
assiminteiÍamcntefechadano campoda poéticaclás-
"Geschichtcder Kunst und Historic", cit. na nota 5, p. sica,tiveÍ em mira, tarnbém,dar conta do que há de
215(ed.alemã);p.88 (ed. francesa). contingentena história,ela poderiaentãoseguiro pa-
radigmado romancemoderno.Este, dcsdeFlaubert,
(11)
aboliuprogramaticamente a teleologiada fábulaépica
e desenvolvsu técnicasnarrativasdestinadasa ÍeintÍo-
A "objetiüdade" faz parle do "idcal do crítico", um duzir na históriapassadao horizonteabcrtodo futuro;
ideal "nuncaatingidoem virtudedaslimitaçócsindivi- a substituiro narradoroniscientepor umapluralização
duais e mctodológicas",segundose Iô na Formação de pcrspectivasdiversamentesituáveis;a destruir a
(I,31).A rcduçãodo "arbítÍio" em "bcnefícioda obje- ilusãoda totalidadefechadapor meio de cventossur-
tividade";a "humildadcde umavcrificaçãoobjctiva,a preendcntes,que 'incidemdc través',os quaisdeixam
que outrospoderiamtcr chcgado",que abateo "orgu- manifestaa impossibilidade de totalizara história,exa:.
lho inicial do crítico, como lcitor insubstituível",e "o tamentepor tcrcm permanecidoainda inexplicáveis."
irmana aos lugares-comuns de scu tempo" (1,32);a ('Geschichtedcr Kunst ...",cit.na r,ota5, pp.229-2j0,
noçáo de um "esquclotodo conhecimentoobjetiva- cd. al.;101-102, ed.fr.). J.Dcrrida,porseulado,quando
menteestabclecido", queo críticorccobririacom"a sua faza críticaao "modelolinear" e ao "conceitotradicio-
linguagem própria,asidóiase imagcnsqueexprimem nal do tempo", que lhe é solidário,mostrandocomo
a sua üsão" (I,39), são outros tópicos que ajudam a esse"pensamcntolinear" podc implicaruma "redução
compreendcra posiçáodo autorda Formaçáopcrante da história",esclarecequc estáentendcndo,por esse
o problema. modclo("associado a um esquemalincar dc dcsenrola-
mcntoda prcsença"),o "modeloépico".Esse"modclo
(72)
cnigmáticoda linha", quc dcterminaria,por dentro,
"toda ontologiâ,de Aristótelesa Hegcl", envolvcria,
Argumentandocontra a concepçáoda história como segundo a desconstruçãodcrridiana da história da
uma "sóric Ícchada",quc envolvcriaa "ilusão de um filosofia, "o recalcamentodo pensamcntosimbólico
começooriginal e de um fim definido"; criticando a pluridimensional"(cf, JacquesDerrida, De la crâm-
definição de história de A.C.Danto ("A stoÍy is an
85
84
matologie,PaÍis,Minuit, 1967,pp. 127_130; cremato- Bartheq a matriz aberta do Barroco, que soubcrecom-
t383r.Sjo P1u_lo,PeÍspecrivq 192J,pp. 106108;
trad. binar ludicamentè,em nossalíngua, num sonelo autô-
<leMiriam Schnaidermane RenatJ janine Ribeiro). nomo - verdadeiro véíice de um sutil diálogo aeÍurl -
Em Posltions, Paris,lllinuft,ln\ p.n,Oeriaa acreíj nersos-membrosde diferentes sonetosdo poeta cor-
centa:"O caÍáteÍ metafÍsicodo concrito de história não dovês?..."Posteriormente, em.A escrituramefistoféli-
estáapenasligadoà linearidade,masa todo um slstema ca: paródia e carnavalizaçáono Fousto de Goethe"
de lmpticasões-(teleologia, escatologia,
acunulaçãore_ (TempoBrasilelno,Rio de Janeiro,na62,julho-setem-
levantee inleÍiorizanl.edo sentido,um c€Íto tipo
de bro de 1980;Deus e o Diabo no FÂUSTó de coethe.
tradicionalidade, um certo conceiio ds continuïaade,
SãoPaulo,Perspectiva,1981),desenvolvio conccito dó
de verdade,etc.).'
'plagiotropia", que *tem a ver, obviamente,com a idéia
de paródla como 'canto paralelo',generalizando-opara
(13)
designaro moümentonão-linearde transformação dos
teúos ao longo da históri4 por derivaçãonem sempre
Em meu ensaiode 67, ..poáica Sincrônica,,(cf. nota imediata", Falei, então, em Gregório de Mattos como
t,
acìma),escrevi:,,Cregório dc Mattos soube levar
á "tradutor" (transformador) ostensivo de Gôngora e
misturade elemcntosdo BarÍoco à própria textura
de Quevedo",num plano de ',diálogo com as inÍlexões
sua.linguagem, atravésda miscigenação idiomáticade (tropismos) da tradição" não diraersosubstancialmente
catdcamentotropical(em sonetoscomo',Há coisa
co_ daqueleem que se punhaCamõesquando..traduzia",
mo--veÍ_um paiaiá"e ..Um paía de Monai, bonzo bra- em diferentesmomentosde sua poesia,seja a dicção
má"). O mesmohibridismoque se encontraem
nosso 'pedregosa', seja o estilo ..paradisíaco,,de Dante.
plástico.Acredito que o enfoquede Gregório
?aÌ,roco
de Mattos ganharianovaluz se se levasse (14)
u
questãoda dignidade estéticada tÍaduçãq "Ín "o-nt"
como cate_
goria da criação."Refutei, então,ostermos
estÍeitosem SeveroSardun 'El Barroco y el Neobarroco',,emAmé-
que eÍa postaa acrxiação de .,plágio,,lançadacontrao Iállno en su literrtura, México, UNESCO/Siglo
poeta.Rttomandoessarcfutação,observei(em,.TeÍo lj{
XXl,1972; em portugês,numaversãoalgo ampïaúa,
e HÈtória", rambémde 67;cf.nora t): ....plàgiário, sobo título "Por umaéticado desperdício;,em Éscrlto
um
poetado qual nãoseconhecemnanuscritou
aitográfos, solr€ um corpo, São Paulo, perspectiva, 1g79.Aqui
por ter troduzldoparao portuguêso intÍincado
übiÍin_ vale tambémreferir a crítica benjaminianaà estéticâ
to gongoÍino,quando um dos brasõesde gtória dogmáticaneokantiana,
de incapazde compreendera ale-
Ungarettié teÍ fcito coisasemelhantepara o italiano? goria barroca,cuja "qualidadedialérica,,é, por cssa
!m n_oe1a W.ecolpreendeu tãobem,ccrmaquela,ima_ estética, "menosprezada e posta sob suspeila como
ginaçãofuncional'ou 'sintagmática, de quc fila Roland ambigüidade"(por "ambigüidade,'entendiam,os neo-

86 87
kantianos,infensosàssingularidades da síntesebarro- (17)
ca,nãotantoa riquezado signiÍicado,maso',desperdí-
cio", a extravagância, aquiloque seoporia"à claridade Refira-seque Presençâda Literatura Brasileira,His-
e à unidade do sentido",enfim,a "transgressãodos tória e Antologia, Sáo Paulo, Difusão Européia do
limites das modalidadesartísticas",o "grande abuso Liwo, 3 vols.,1964,é obra de dupla autoria,sendoseu
contraa paze a oÍdemda regularidadeno domíniodas co-autoro Prof. J.AderaldoCastello.Não deixade ser
artes"); cf. W.Benjamin, Ursprung d€s deutschen significativoque essasuspcitacontÍa o barrocopareça
Trauerspiels,Frankfurt a.M., Suhrkamp, 7972, pp. fazerecoa reservasexpressas poÍ Mário de Andradejá
196-197;em português,na traduçãode SérgioPaulo na décadade 20.Assim,em cartadc 1924a Bandeira:
Rouanet,Origemdo DramaBarrocoAlemáo,SãoPau- "Toda e qualquer rebuscaliterária que prejudicar a
lo, Brasiliense,
L984,pp.198-199; na citação,a tradução clarezadaexpressáo literáriarclacionadaé de[eito.Daí
é minha;ver meuscomentáriosa respeitoem Deuse o o pouco interesse quc tenho por Mallarmé,Gôngora,
Diabo...",ob. cit. na nota acima,pp.. 130-133. Rcverdye porção.O próprio Rimbaudem muitasdas
suaspáginasme desagrada agora.Só foi supremono
(15) Slison en Enfer. Daí também a minha evoluçãopra
uma aÍte cada vcz mais simples e natural, arte de
Affonso Áüla, O Lúdico e as Projeçõesdo Mundo conversaque toda a gente entenda" (cf. Cartas de
Barroco,SãoPaulo,Perspectiva,1971.Nesseseuliwo M:lrio deAndrâdea Manuel Bandeira, Rio de Janeiro,
fundamentalparaa comprcensão do fenômcnobarroco OrganizaçãoSimócs,1958,p.67).Em "A escÍavaque
entre nós, o poeta do Código de Minas afirma: ,,O não ó Jsaura",ensaio-manifcsto de l'922-19?4, essarc-
dilatadopactolúdicoqueéo barroco,vigentcpor quase jciçáojáseproclamacm formade "slogan"decombatc:
duasccntúrias,codifica e determinaassimas formas ;'Ê ptãciso nao voltar a Rambouillct! É precisonão
geraisda üda e da artc, convertidoo jogo na grande repËtir Gôngora!É pnectso EVITAR MALLAR-
metáfora de uma traumatizadaetapa histórica" (,'O MÉ! (cf. Obra Imatura, São Paulo, Martins, 1960,
artistabarrocoe a rebcliãopelojogo"). p.240). Em Morfologia do Macunaíma, São Paulo,
Perspectiva, 1973,examincicom maisdetençaasambi-
(16) guidadesda posiéo de MáÍio de Andrade em relação
à "linhagem"Mallarmé;uma posiçãotrabalhadapelas
OclavioPaz,SorJuanaInés de la Cruz o Lâs trâmpâs vacilaçõesentreo pólo "sentimental"e o pólo "intelec-
de la fe, Barcelona, SeixBarral,1982,pp 410- 471,505. tual" na criaçãoartística(ob.cit.,emespecialpp. 279-
281).

88 89
(18) ambicnteda época:"O surto de um ambienteliterário
no Brasil- no que se Íefere à poesia- data de meados
Jauss,comapoioemTh.W.Adorno,"ThescnüberTra- do séculoXVIL Quando,em 1654,aportouà Bahia o
dition ("Tesessobrea tradição"),19ó6,cf. "Geschichte capitãoAntônio da FonsecaSoares,poeta português
der Kunst..."(in ob.cit.na nota 5, p.:233,ed.al.; p.105, dosmaisnotáveisdo seutempo,e que maistardeseria
ed. fr.). o famosoFrei Antônio das Chagas,já encontrounâ
capital do Estado do Brasil um pequenogrupo de
(le) poetas,entreos quaisBernardoVieira Ravasco,irmão
do padreAntônio Vicira; Eusébiode Mattos,pregâdoÍ
Com respeitoa essaconcepção"veicular",tenho por de talentoe músicoeúmio; e DomingosBarbosa,autoÍ
válida,no quc lhe é apticável,a objcçãode Derrida de um poemareligiosoem latim. Antônio da Fonseca
contra o "conceitoinstrumentalista"dc escritura,tal Soaresparticipou da vida literária da Bahia. Desse
comoenunciadopor M.Cohen,p.ex.,paraquem,"sen- poetaexistcm,num códicequeseencontrana Bibliote-
do a linguagemum 'instrumento',a escrituraé 'o pro- ca da Évora,e de qu€ dá notíciaPedroCalmon,traba-
longamentode um instrumento".Vendonessaposição lhosemversoescritosno Brasil."O mencionadoPedro
a subserviência a uma"teleologialogocôntrica",Dcrri- Calmon,em A vida espantosade Gregóriode Mâttos,
da pondera:"Há muito a pensarsobre o prcço que Rio de Janciro,JoséOlympio,1983,pp.209-2L2, opon-
assimpaga à tradiçãometafísicauma lingüística- ou do-seà tesede A.Candidoe W.Martins,aduzsubsídios
umagramatologia(NB: o título do livro de Cohené La setecentistasque,segundosustenta,provamqueo poe-
grânde invention de l'écriture) - que se diz, no caso
ta, "não subindoà dignidadedos prelos,caírano luxo
considerado,marxista"(cf. De la Grammatologie,ob. daslivrarias,dclassaltandopara a tradiçãopopular."
cit. na nota 12,pp.122-123,
ed.k.;102,ed.bras.).
(2r)
(m)
Jauss,"Literaturgeschichteals Provokation...",cit. na
SegismundoSpina,"Gregório de Mattos", em A Lite- nota 5, pp. 179-180,ed. al.; pp.5,t-55, ed. fr. Jauss
ratura no Brasil, obra de váriosautoressob a direção consideramuito maisambiciosaasociologialiteráriade
de Afrânio Coutinho, Rio de Janeiro, Editorial Sul Aucrbach,estasim capazde dar conta das"múltiplas
Americana,1968 (2a.ed.),vol.1,pp.244e 2z16;J.M.Wis- rupturasepocaisna Íslaçãoentreescritore público".
nik (org.) Gregório de Mattos / PoemasBscolhidos,
SãoPaulo,Cultrix,1976,p.16;confira-sctambómo que
diz DomingosCarvalhoda Silva,"As Origensda Poe-
sia", em A Literaturâ no llrasil, cit., p.181,sobre o

90 9l
(n)
dantemcnteos cancioneirosmanuscritos- cópiasde
Ver nota 5. Este o magnoprojeto romântico,ultimado originaisou cópiasde cópias-, algumasvezcsorganiza-
entre nós pela Formação(1959),ao traçaÍ o percurso dos com escassocuidado e muitasyezcsomissosou
da "encarnaçâolitcráriado espíritonacional". errôneosno que tangeà alribuiçãodc aulorias."À
p.103,AguiaÍ e Silva fala em "perspectivasdeveras
(B) desoladoras"no que tangeao conhccimento("crítica
textuale publicaçãode textos")da pocsiabarrocaem
Como rcfere Vítor Manuel Pires de Aguiar e Silva, Portugale, à p. 104,assinala"o imcnsoacervode poesia
Maneirismo e Barroco na PoesiaLírica PoÍuguesa, quejaz manuscrita",aindaa serconsidcrado.
Coimbra,Centrode EstudosRomânicos,1971:"A in-
cúriadoshomcns,certocondicionalismosócio-cultural (24)
queentãoenvolveua atividadedocscritorea fatalidade
dos cataclismosnaturaisexercelam.como é sabido. Sobreo tópico da recepçãodas "litcraturasantigas",
terríveisdeprcdaçóes na poesiaportugucsada segunda ver Jauss,"Literaturgeschichte als Provokation...",cit.
motadcdo séculoXVI e dos primeirosanosdo século na nota5, pp. 183-184,ed. al.; pp. 58-59,ed. fr.
XVII. Enquantodeccrtoprolilcravam oscancioneiros
de mão - moda cortesanesca documentadano teatro (2s)
vicentinoe processode fazer circular a pocsianuma
sociedadeonde ainda não se enraizarao hábito, ou Menos do que um renascentista, Camõesscriajá um
onde escasseavam os meiosmatcriais,de editar obras mancirista,ou, conformeo ângulode visada,um ante-
poéticas-. poucospoctascuidavamde rcunir e accpi- cipador do Barroco. Consulte-se,sobre a questão,
lhar assuasobrasno sentidode asdaremà estampa,de Jorgedc Scna,"O Maneirismodc Camócs","Camócs
modo a salvarassimassuascriaçõesda precariedade e os Manciristas","Ainda o problcmade Camõese os
dos manuscritose da contingênciadas cdiçócspóstu- Maneiristas",Diário de Notícias,Rio de Janciro,17de
masorganizadas por outrcm."(pp.47-48). A p.74,pros- setembro,3e 10 de dezembrode 1961.Os estudosde
scgueo autor:"Relalivamenteà poesialírica do século Sena,acimarefcridos,foram republicadosno vol. I de
X\III, o panoramanão é muito maisanimadordo que Trinta anosde Câmóes,Lisboa, Edições70,1980. Vítor
aqueleque deixamosesboçadorelativamcnteà poesia Manuel Pircs de Aguiar e Silva (ob.cit. na nota 23)
da segundametadedo sóculoXVI e dosprimeirosanos mencionao livro Camoens,do proÍessorc investigador
do sóculoXVII. Persistiu,por partc dc numcÍosospoe- espanholJosó FilgueiraValverde,onde,já em 1958,
tas,a mcsmaincúriaemaprontaÍpara a imprensa e em estariainsinuadoo caráler barroco da estóticâde
publicarassuasobras;continuarama difundir-seabun- Camões(ob. cit., pp.198-19); Aguiar e Silva reco-
nhece,ainda,o pioneirismode Jorgcde Sena,que,em
92
93
19,|8,aproximavaCamõesdo Barroco,"ou melhorain- (27)
da, do Maneirismo"(ob. cit., pp.20l-202)-EntÍe nós,
Mário Faustino,em scus artigosde 1957,"Revendo Aidcía de literatura"pobre" apaÍecetambémcm Afrâ-
Jorge de Lima" (recolhidosem Poesia-Experiência, nio Coutinho: "Como cxigir que uma literatura em
São Paulo, Perspectiva,1977),proclama a tese do formação,pobre, sem amplitudede atuação,isolada,
CamócsbarÌoco,o que lhc dá merecidorelevo nesse influenciadapelapoÍtuguesa,nãorcpetisscos cânoncs
conjuntode estudiosos.Assinale-se,finalmentc,que o europeus?"(A Tradição Rio dc Janciro,
ensaiocamonianode Ezra Pound, incluido cm The JoséOlympio,19ó8,p.1ó5). ^foúunada,
Emboraobjcte à cxclusão
Spirit ofRomance(1aed.:1910;traduzido,comnotade do Barrocono esqucmadc cvoluçãolitcrária proposto
aprcscntação,por Mário Faustinono "Livro dc Ensaio" por A.Candido(ob. cit.,pp.157-158; 172-174;Conceito
do SuplcmcntoDominical do Jornal do Brasil, 2 dc de literatura trrasileira,Rio de Janciro,Editora Pallas
setcmbrodc L956;hojena colctânea Ârte da Poesia, S.A., 197ó,pp.38-55,cnsaiodatado de 1959);embora
SãoPaulo,Cultrix/EDUSP,7976,rrad. dc Hcloysadc toça críticasà noçãode literaturacomo "ins(rumento
Lima Dantas e J.PauloPacs),não pode passarsem de comunicação",conceitoque lhe parccc"histórico-
Ícgistroncstecontexto.Inspirando-seno barroco"ar- sociológico"e não"estético",já que nãodeixariaexplí
quitctônico",Poundo tomâcxpressamenlc comotcrmo citoo papclda litcraturacomo"gozoestético", "como
decomparação ("A corresponding studyin architecture divertimentoespiritual"(estasexprcssões - observe-se
wcrc a study of barocco")para dâr conta estilistica- - contaminam-sc dc rcsíduoshedonistas,não tendo a
mcntcdo quelhe parecca qualidademaisrclcvantcdo precisãosemiológicada "funçáopoética"dc Jakobson
pocta luso: o esplendoÍ"bombástico"da dicçáo dc e da "função estética"dc Mukarovsky),A. Coutinho,
Camócs,"mestreda sonoridadce da linguagem". por seu lado, pcrfilha um esqucmagradüalistânão
divcrsode evoluçáolinear-ascensional de nossaIitera-
(26) tura. Confira-se:"Pcla pcriodizaçãoestilística,acom-
panha-seo dcsenvolvcrprogressivodo instintodc na-
SegismundoSpina,Cregório de IlÍattos, São Paulo, cionalidade naliteratura desdca Colônia"(À
brasilcira
Editora AssunçãoLtda., 1946,pp.25-26;idem, ensaio Tradiçâo, p.U4). Fica, assim,preservadaa mctáfora
cit.na nota20,p.246.StuartB. Schwartz,Rurocraciâe substancialista,animista,gcnótico-orgânicada "ori-
Sociedadeno lìrasil Colonial,SãoPaulo,Perspcctiva, gcm"e a conccpção"vcicular" do tcxto: "A litcratura
1979,p.259. brasilcira comcçou,portanto,do sóculoXVI para o
XVII, c foi a arte barrocao vcículoidoal para csses
prirneirosvagidos dc umanovaalmapopularc nacional.
Foi o estiloquc tcveadequaçãocom aquclcsscnlimen-
tosda almabrasilcira cmsuainfância"(Conceito, P.53).

94 95
poesia romântica e uma das mais altas e vibrantes da
Trata-se de uma concepção periodológico-estilísticâ
LiteratuÍa Brasilcira: uma história literária marcada
que se empeúa em debuxaruma tradi$o pressupos-
pelo lirismo, não raro derramadoempieguic-e,enc-ontra
tamente"afortunada", asaber:"Origem e formaçãosob
a mundividênciaépica que lhe faltavae que lhe oferece
a égide do banoco, nos três primeiros séculos;autono-
a espeÍadadimensãouniversalista."
mia no período arcádico-romântico;maturidadena
épocamodernista,sáoasetapasde desenvolvimentoda (28)
literaturabrasileira"(A Tradigáo,p. 159);"...ocaráter
brasileiro em liteÍatuÍa, busca a que se entregou o
A essepropósito, acompanhemosa arguta reÍlexão de
pensamentocrítico do séculoXIX de maneiracoerente
Octavio Paz:"La coincidcncia entrc la poética barroca
econttuua"(idem,p.189).Tal concepçãoexcluio"corte
y la vanguardistano procedede una influenciade la
sincrônico" e a possibilidadomesmade "fusão de ho-
primera sobre la segundasino de una únidad que
rizontes",a depreensãoda historicidadeda tradição
opeÍatantoen la esferaintelectualcomoen el ordende
literáriana "dialéticada perguntae da resposta",como
la sensibilidad.El poeta barroco quiere asombrary
querJausselaborandono planoteóricoJiterárioa her-
maravillar;exactamentelo mismo se propusoApolli-
menêuticade Gadamer.À p.165,lê-seem À Trfldição
naire al exaltara la sorpres:lcomo uno de los elementos
AÍoúunada:"Nãoé lealjulgaruoa épocapassada à luz
centralesde la poesía.El poeta barroco quiere descu-
dos padrõesestéticospÍesentes,tÍansferindo para ela
brir las rclacionessecretasentre las cosâsy otro tanto
o nossocritério de gostoe de realizaçãoartística." Esta
afirmaron y practicaron Eliot e Wallace Stevens.Estos
atitude explica a não acolhidaem A Literatura no parecidosresultanaúnmasextraiossi sepiensaque el
Ilrosil, obra dirigidapor A. Coutinho,da sugestão pro-
baroco y la vanguardiatienenoÍígenesmuy distintos:
vocativade Fausto Cunha:inovar radicalmentequanto unoüenedelmanierismoy la otra desciendedel roman-
à peÍspectivaclassiíicatória,e colocar Sousândradeco-
ticismo. La respuestaa este pequeúo misterio se en-
mo o grandepoeta de nossoRomantismo(cf. "Assassi-
cuentra, quiá, en el lugar pÍeeminente que ocupa la
nemoso poeta", em A Luta Liteúria, Rio de Janeiro, noción de Íorma tanto en la estéticabarroca como en la
Lidador, 1964,pp. 155-156).A sugestão,"ao mesmo vanguardista.Barroco y vanguardia son dos formalis-
temporevolucionária e perfeitamentelógica"de Fausto
mos."(ob. cit. na nota 16,p.79),
Cunha,todavia,depoisdo polêmicotrabalholevadoa
caboem Re/Visáode Sousândrade(ob. cit. na nota 1), (2e)
encontrouguaridapacÍficana recenteIlistóri! da Li-
temtura Brasileirâ de MassaudMoisés (São Paulq
Remeto-meà nota 13, acima.Veja-se,para uma consi-
Cultri:q vol.Il,19&1,p.258).EscreveMassauda propósi- deÍação ampla e atualizadada qucstâo,o liwo de Joáo
to do autoÍ do Gueso:"...nenhumexagerohaveriaem CarlosTeixeira Gomes,Gregório de Mattos, o Bocâde
aÍirmarque estamospeÍante a voz mais poderosada
97
96
Brasr (Um estudodc plágio e cÍiação intertextual), Estadualde Cultura),foi aindahá poucolembradapor
Petró5rolis,Vozes, 1985;confira-se, também a Íesenha PériclesEugênioda SilvaRamos("Origem e evolução
de Segismundo Spina,"Gregóriode Mattos,o Bocsde do sonetobrasileiro",Suplemento"Cultura" de O Es-
Braso", publicadano Suplemento"Cultura" de O Ds- tado de S.Paulo,n0 428, 10 de outubro de 1988)por
todo de S.Paulo, no33t 15 de novembrode 1986. encerrarsonetos"formalmentecuriosos- comoaquele
em que se Íepete o nome de Jesusem lodos os versos,
(30) ou aqueleoutro cujasrimassãotodasnomesbíblicos",
dignos,portanto, de "figurar airosamente"numa re-
O "ludismo" e seurepertório de inven@esformais é centeantologiadessaformapoética(na partedcdicada
constitutivodo Barroco,inarredáveldele.OctavioPaz a "sonetossingulares por um ou outro aspecto").E poÍ
aleÍta com disccrnimento:"Por doble contagiode la "excesso", por "extremismo" quesecostumacntÍc nós
esteticaneoclásica yla romántica,unaenamoradade la incriminarBotclho(ou scja,pelomcsmotraçode "exa-
corrección y la otra de la espontaneidad,es costumbre gero"quc provavelmente o qualihcariaaosolhosdeum
dssdeíar a estosjuegos. Crítica injusta: son recuÍsos l-szama Lima, defensor do hipergongórico pocta co-
legítimosde la poesía."(ob. cit. na nota 16, p.83).A lombiano Hcrnando DomínguezCamargo).Bom
contribuiçãode Manuel Botelhode Oliveira,contem- excmplodissoé a "silva' dcdicada'À Ilha da MaÍé",
porâneode Gregório,tem sido conslantemente depre- ondsBotelhointroduzoelemento"nativista"(emnada
ciada pela renitência do pÍeconceito contra essapro- incampatívelcom a estéticado BarÍoco, que prestigia
pcnsão lúdica da estética barroca. Só rec€ntemente 'o estranho,o singulare o exótico",cf. O.Paz,ob. cit.,
tem-seprocuradotratar com maiscompreensão o tra- p.85;TeixeiraGomes,com propriedade,identiÍìcana
balho de Botelho de Oliveira. A tese de Carmelina "silva" a técnicâdas 'descriçõessuntuosas"estudada
MagnavitaRodriguesde Almeida, O Mrrinlsmo de por DâmasoAlonso, de larga tradição epocal).Pois
Botelho,Instituto de Letras da UnivcrsidadeFederal bem,SilvioRomero,verberandoos "trocadilhos,gon-
daBahia,Salvador,1975 (xerocópia)é um passoimpor- gorismose ênfases"com que o poeta desíìgurssuas
tante nessesentido.Com bascncla, pôdc J.C.Teixeira "cenasbrasileiras",tachaessacomposiçãode "scnsa-
Gomesfalar em "autônticasrecria@es"em relaçãoa boria priülegiada".Foi precisouma estudiosaestÍan-
composi@esdo autor de Música do Parnaso, obra geira,atualizadae despreconceituosa, LucianaStcga-
publicadaemLisboa,em 1705;TeixeiraGomesassinala gno Picchio (I-a letteraturâ brosiliana, Florenç:y'Mi-
tambóm'a requintadadimensãoda lírica engenhosa láo,Sansoni/Accad cmia,1972,pp.87-88),paracaptar,
que Botelho exibeem certos momentos"(ob. cit. na com imaginaçãolezamesc4o exccssotÍopicalistacom
notà29,pp,22l e320).A Lim Sacrâ,que peÍmanec€u que o baianoe poliglotaBotelhomanipula,a partir da
em manuscritoaté a sua publicaçãoem 1971(leitura mndição ex-cêntrica("mal se podia esperarque as
paleográficade Heitor Martins, SãoPaulo,Conselho Musasse fizessembrasileiras"),o código"culto"; Lu-

98 99
ciana fala de uma "exasperaçãosensorialbanoca", (31)
fixada,"com delibcradaingenuidadesobreo paladar",
num poemaenumeÍativo,que faz o elogiode iguarias,
Antonio JoséSaraiva,num livro admirável,O Discurso
peixes,plantase frutasda terra, e onde(observaainda
Engenhoso,SáoPaulo,Perspectiva,1980,pp. PA-D\
a crítica) tôm ingrcssonomesindígenascujo acessoà
âpontou,comprecisãorelevantcparao nossoargumen-
poesiafora até entãointerdito pela "musaaristocráti-
to, a diferençnentreo "discursoclássico",r€sultadode
ca". Com suaesplêndidaleitura,a historiadoraitaliana
um 'lulgamento",ondc aspalawassc dispõem"segun-
supera(e recolocaem termosque o barroquismoculi-
do a ordem do raciocínio",não tcndo "autonomia",
nário de lrzama subscreveria gostosamente), o julga-
umavezquesáoapenas"represcntantcs", e o "discurso
mcntoantcriorde EugenioGomcs(1968, Lit€ratura
engenhoso". Ncste, ao contrário,"as palawasnão são
^
no Brasil, ob, cit. na nota20,vol. 1, pp,272e2il6), q]ue
Íeprescntantes,mas seÍesautônomosquc comomatéria
soubcraenfatiz:r comargúcia,na "silva"de Botelho,o
podemser recortadospara formar outrose lôm cm si
capitosopriülégio do "paladar", mas quc reputarao
relaçõesquelembrammuitomaisoselcmentosda com-
"maneirismo"um "disfarce"(um scmioticistadiria sim- posiçãomusicalou geométÍicaque os do "bom senso"
plcsmente,como o vcnho fazcndo,um "código"), e o
cartesiano."Ocorre que,no casoexemplarde Vieira -
repclira como um "disfarce inadequado"para "a
"Imperador da língua poÍtuguesa",como o chamou
apreensãodaquelc mundo vário e agresteda Bahia
FernandoPessoa- o "discurso engenhoso"não era
colonial..."Não que Botelhosejapoetads porte; nada
"esvaziadodo conteúdosagradooriginário"; assim,o
disso;estámuito aquómda altitudecriativagregoriana.
Mas é scmdúvidasignificativo,naquilode melhor quc
élebre "Sermãoda Sexagésima" , em que , segundoa
fina análisede Saraiva,"Vicira descreve,sem se dar
tem a oÍcrccer,ou seja,naquilocxatamcnteque o pre-
conta ; o seu próprio estilo,está"quaseinteiramente
conccitoanti-Gôngorae anti-Marinomenosproza: sua
construídode acordocomasleisda repctição,da sime-
vocaçãoparao engcnhosoe parao lúdico,e o malaba-
tria e da oposição".A "multiplicaçãodaspalawasdis-
rismoartesanalcomque,maisde umavez,logroucxer-
poníveis",queresultados desmembramentos do signi-
citá-la.Está a meÍecera triagem dcdicadade algum
ficante separadodo signiÍicado,dando lugar a "re-
antologistanão alérgico aos jogos de linguagemdo
laçõcs inconcebíveisnum discursocomum", é ainda
barroco...(Paraa resenhada principalliteraturasobre
"elevadaa um grau maisalto pelainterpretaçãoalegó-
Botelho,cabeconsultara tcsede CarmclinaM.R. de
rica da Escritura,conforme os métodosda exegese
Almeida,acimacit., pp.20-25e 2a-29).
tradicional,quepermiteatribuirquatrosentidosa cada
texto"."E impossívclamarVieira", desabafaMário de
Andrade,num impulsode sentimentalismo, no curioso
texto dcdicadoa Machadode Assis (1939),no qual
distingueentre "admirar" e "amar" grandeshomens;
100 101
tambómem relaçãoà figura dc Machado,cuja obra Duraé que nãoseiseo scubarcoalcangráasestrelas
profcssaadmirarenormementc,Mário sc diz ,.mclan- .,u sc ficará pclos escolhos.Toda purezaimplica um
colizado"pcla mesma"inquictação',de consciência... asDectode d;sumaniza$o.É o problcmapermanente
(^spectosda Literalura Brasileira,Sãopaulo.Livraria da ourcra ,c"scc"ndoa vida (..') o crro da suapocsiaé
Martins Erlitora,s/d,p.89). quË,construindoo mundofechadode quc falci, cla
ttnáe a sebastara si mesma.Ganhauma belczamcio
(32) gcomótricac se isola,porisso mesmo,do scntido de
ãomunicaçãoque justifica nestc momentoa obra dc
Esta posiçãoparecesemelhanteà do jovem Lukács, arte. Poesiaassimtão autonomamcnteconstruídase
qüandoestc,em 1909,aindana faschúngara,escrevc: isolano seuhcrmetismo.Aparecccomoum cúmulodc
"Poróm,na literatura,o cfotivam€nte socialé a forma.,, individualismo,de pcrsonalismonarcisistaquc, no SÍ'
(GeorgLukács,Schriftenzur Literatursoziologie,an- Cabralde Mclo, temum inegávclencanto'umavezque
tologia org. por Pctcr Ludz, Ncuücd, Luchterhand. eleestána idadedessaespontancidadc na autocontcm-
1961,p.71).Suaformulaçãomaisradicalcorrcspondc- nlação. O Sr. Cabralclc Mcto' porém, há rlc aprendcr
rá, talvcz-, ãs caminhos da üda c pcrccbcr que lhe scráprccisoo
àquclasustcntadapor Th. W.Adorno, Aes-
trabalho de olhar um pouco à roda de si, paraelevara
thetische Theorie, Frankfurt a.M., Suhrkamp,1973,
p.371:"Em todaaÍte aindapossível, oureza da sua cmo$o a valor corrcnte entrcos ho-
a crí(icasocialdcve
sererigidacm forma,para alcançarassima dissimula- mense, dcstcmodo,justificar a suaqualidadcdeartis-
ta." Recorde-se agoÍa' num outro plano,o argumento
ção(Âbblendung)dc todo contcúdosocialmanifesto.,,
No en[anto,ao exprcssarsuasreservasem relaçãoà da "incomunicabilidadc", com que SflvioRomerotcn-
Mallarmé(na esteirado Mário de ,,A Escrava...",cit. tara explicara "negatividade"da.obrade Machadode
na nota 17) e à inÍluônciado hcrmótico francêspor nssis ("Nao tem, Por certo' tido inÍluênciaquasc
excelônciasobrea pocsiade João Cabral ("poesiaao ncnhumano espíritonacional") e a sua"ilcgibilidatìc'.,
Nortc",artigo cstampadona Folha da Manhá, Sáo fruto do scualheamcntoao "sentir de nossopovo" ("8
Paulo,13dejunhodc 1943;rcpublicadona reústaJosé, por issoquc cste pouco o conhcce,não o lê, e há dc
Rio dc Janciro,ne 5-6,novembro-dczembro àuasccsqìccê-1o..' Machadode Assis,emquasetodâa
de 1976),
A.Candidopareceprcludiarasdúüdasquc,comA<tc- suu oUtu, pata com o povo brasileiro tem sido um
raldoCastcllo, dcsdcnhosà..."). ParaSflüo,essasalegadas carênciasdo
iria lcvantarquantoà,.autcnticidade',e
autorde DrósCubase Quincâs[orba vinculavam-se à
à "permanônciada comunicação', do Barrocoliterário
(ltresençaI,22). Escrcviao entãojovemcrítico (à roda "índole mcsmade scugôniolitcrário: a falta de calor'
dos seus25 anos):"Como Mallarmé,o pocta pernam- de comunicabilidade,dc entusiasmo,de vida, essa
bucanoseatirouem buscada pocsiapura.Não discuto centeÌhadc proselitismoprópria das almas comba-
a suaréussiÍepessoal, queé dasboas.euantoà pocsia tentes." (Machado de Assis/Estudocomparativode

702 103
literaturabrasileira,Rio de Janeiro,Laemmert
& C._ Íica quanto ao histo comunicacional("ausênciade
Editores,.1897,pp. XVI, 79_80,149eA2).Três anos
comunicaçãoentre o escritore a massa",LS,10l). Só
anrcs,assrnate-sc,
G. l_anson(Ilistoire de la litaérature que a sua constataçáoé ainda mais drástica,já que
citoa 5a'ed',deI8e8,pp. veriÍìcaa existênciae a manutenção, nessenívelinfra-
ïlXltï*";,t-11!r,"achc'c;
rclcflra-sc dcpreciativamente
i,y!-.tyl a MallarmZ, estruturâI,de uma irresolvidacontÍadiçãofundamen-
-m€stÍe" (comVerlaine)de ..todos
essesgÍuposquese tal, que atravessainólumc toda a evoluçãode nossa
intitulamdccadentes,simbolistas,
etc.,,, u_ po"tu liteÍatura:"Tanto a eternidadedas rclaçõessociaisde
"de bicn mincevaleur",e seempenhara "o.ó
em denunciar
-o pcngo" da..Hora presente,,(1g94):,,a basequantoa lepidczideológicadas'clites'erampaÍte
bizarria,a - a paÍte que nostoca- da gravitaçãodestesistcmapoÍ
oDscundade dasobras,a execuÉonãocomcnsurada às assimdizr:rsolâr,€ certamcnteintcrnacional,que é o
rnlcnçoes,e o imensoesforçoperdidono vazio.,.
capitâlismo.Em conscqúôncia,um latifúndio pouco
(33) modificadoviu passarem asmaneirasbarroca,neoclás-
sica,romântica,naturalista,modernistaeoutras,quena
Fcrnandoda RochapcÍcs,GregóriodeMattos Europa acompanharame reflctiram transformações
e Cuer_ imcnsasna ordcmsocial"(Áo vencedoras bâhtas, São
*"i:lg-biogrÍfica, Satvador,Bahia,Ediçóes
l:. "-o.
Macunaíma, Paulo, Duas Cidadcs,1977,pp.2l-22). Diante dessa
1983,p.94.
proclamada"etcrnização"dasrelaçõcsde base,dessa
(34) permanônciairnpreenchidado hiato comunicacional -
verdadeirahiância metafísica- é o casodc indagar:se,
O quc, semdúüda, imprcssionaA.Candido, ncssepanorama,"nada tcrá tido lugar,senãoo lugar,'
na ênfase (ou "o fora de lugar"), ao longodasvárias"maneiras"
qüe dâ -â.lunçãoideológica,, (missionária, inclusivc (sic) que perpassaram por nossahistórialiterária,que
num s-cntldo.,cívicoe conslrulivo,,)na
formaçãodc sentidoÍaz, ao fim e ao cabo,distinguircom cautclas
nossa.literatüra,é o fato dc, sememúargoda constata_
maiôuticasuma origem(não importasedefinidacomo
çao olslonca de ser a nossa,,umaliteraturasem lci_
torcs",o Romantismo,como seu,,temário "nascimcnto"ou "encorpaÍ formativo"),um p€rcurso
nacionalista evolulivoc um momentode culminâção(,,omomento
e sentimental,',-ter
conseguidosatisfaze..,a.
vasgcrais emquc a nossalitcraturaapar€c€intcgrada,articulada
do públicodisponível', e,assim, "*p""iutl-
ter_se consti_
turdono 'maioÍ.complexo com a sociedade,pesandoe fazcndosentir a sua pr€-
de influôncialitcráriajunro sença,isto é, no último quartel do séculoXIX"), para
ao pubtrco,qucjá houveenrrenós,,(tS,97).
Do ionto efeitode excluirdcsse(à vistada sombria..dcsconstru-
de vistada infra-estruturaeconômica,poÍ
outro lado,a
análisc.q1e se pretendemarxistado discípulo çáo"de Schwarz)poÍ assimdizcr fantasmáticociclo de
;; À matuÍaçãoas "manifestações literárias assistômicas",
Candido,RobcrtoSchwarz,corroboraa postura
disfó_ vale dizcr, o Barroco?
r04 105
(35) list4 publicaram, por exemplq as obÍas poéticas de
GÍegóÍio de MattosGueÍÍa." Nesscsentido,já é digno
"Náo existenada morto de um modo absoluto:e câda do melhor registro o esforço antológicode Natália
sentido terá sua festa de ressurreição. Problema da Correia, Antologla da po€siado p€rÍodo bârroco, Lis-
'grandetemporalidade'(bolchólwiêmleni)." Mikhail boa, MoraesEditores,1982.Com muita justezasubli-
Bakhtin, "K metodologuii literaturoviediênia" (19,10- nha ela a contribuição,nessequadro, dc Tomás de
1974),Moscou,Konteksíl94 Akadiêmia Naúk SSSR, Noronha, de quem diz: "Muito embora a sátira de
L975,p,212.Versãoabreviada,traduzidapara o espa- TomásdeNoronha,sea confrontarmos comasaraivada
nhol, a paÍtir do texto russointegrat sobo título "Hacia pÍaguentalangda pela bocainfernal de Gregório de
una mctodolología de las cienciashumanas",cf, M. M. Mattos,, não tÍansponhaos limitesde um purgatório,
Bajtín,Estétic8de la crescionverbâl,trad. de Tatiana justiç: é sublinhara sua brilhanteapariçãona pocsia
Bubnova,Mexico,SigloVeintiunoEditores,1982,pp. seisc€ntistaque muito lucraria com a exumaçãodos
392-393. seusinéditosescamoteados por um conceitode sani-
dademoral,a nossover,nãocoincidentecomsanidade
(3ó) mental."

Consultaro documentadoliwo de Vítor Manuel Pires


Q7)
Aguiar e Silva,cit. na nota23.Escrevso autor:"Nestas
condit'oeq quem pretender analisar as característicâs Republicadaem Madri pelaAlianzaEditorial, 1979.
da poesiabarrocaportuguesa, vê-seobrigadoa procc-
deÍ previamente- e durantelongopeÍíodode tempo- (38)
a um autênticolaborde arqueologialiterária,desenter-
rando das páginasmanuscritasde numcrososcancio- Madri, 1921, Tipografía de la Revista de Archivos,
neiros e miscelâneasascomposiçõespoóticasque vêm Bibliotecasy Muscos.InteÍessantenotar que Gervinus
preencher lacunas,esclarecertendênciase gostos,re- (1805-1871),um dos'patriarcas"da historiografialite-
velar autores quase totalmente desconhecidos."E rária "oitocentista" (ver nota 5), mostrava-seigual-
exemplificaa tarefa a ser cumprida,reÍerindo-seao mente infenso a asrbas as supostas"decadências": à
casoGregório de Mattos: 'O que nos parece necessá- Minnelyrik (lírica trovadorescaalemã) e ao Barroco;
rio, é publicar,em ediçõescuidadas,a obrade cadaum na Poesiade AngelusSilesius,p.ex.,censuravaas"ima-
dos ,nais representativospoetas do feríodo barroco: gensabsurdas",as "abstraçõcsimagéticas",os "para-
Barbosa Bacelar, D. Tomás de Noronha, Fonseca doxosnebulosos",as"contÍadiçõcstautológicas";lam-
Soares,JerônimoBaía,tal comoos estudiosos brasilei- bém o SegundoFrusto de Goethe,barroquizantesob
ros,impelidospor compreensÍvel sentimentonaciona- muitosaspectos(conformeprocureimostrarna ob. cit.
106 107
na nota 13),inspiÍava-lhe"repugnância".Ver, a propó- quasepornogÍáficâ"de algunsdospoomascaüedesiâ-
sito,o elucidativoestudode Rolf-PeterCarl,Prinzipen nose o carátcrde "sátiraacrimoniosa"de outros,diri-
der Litersturbetrachtungbei GeorgGoÍtfried Gervi- gidoscontrapessoasbem postassocialc politicamente,
nus, Bonn,H.Bouvieru.Co.Verlag 1%9,pp. 131,1.m é fácil "imaginarque Caviedessesentissemaisscguro,
17l. fazendocircularclandestinamente ópias de seusma-
.e nuscritos,ao invésde tentaÌpublicarpoemasem quan-
(3e) tidade".Ainda em 1947,na ediçãopromovidapor Ru-
bén VargasUgarte,um jesuítaprofessorda Universi
Otto MaÍia Cârpeaux,"Góngorae o neogongorismo", dadeCatólicade Lima, Caviedesfoi deliberadamente
Origens€ Fins, Rio de Janeiro,Casado Estudantedo censurado("É quaseum deverpeneirarsuaobra poé-
Brasil,1943,pp. 80 e 85.Vale aindaressaltara compa- tica e pôr fora como detÍito inútil tudo quanto de
raçãolcita no mesmocnsaioentre"a pocsiabarrocae repulsivo, mal-chcirosoou de cor muito carregada
a poesiamodcrna":assimcomoGôngorareapareceno achemosncla"; ver Obrâs de Don Juan del Valle y
"hermetismo"de Garcial-orca, Donne,rcdcscoberto, Caviedes, Clássicos
Peruanos, Lima,vol.1,1947,p.XIl).
"revela-seuma personalidadepoóticâ moderníssima, O critório do Pe.Ugarte,diferentementedo de Palma
capazde ajudar a comprecnsáodo mais complicado e Odriozola,Íoi oda edição"expurgada",dandoênfase
entreosmodcrnospoctasingleses, o enigmáticojesuíta aospoemasreligiosose a outros"limpos de manchas".
GerardManleyHopkins" (ob. cit., pp. 89 € 85). Coisaem ccrta medidasemelhanteaconteceucom o
nossoGregório,na ediçãoda AcademiaBrasileirade
(40) Irtras (6 vols.,de 1923a 1933),dirigida por Afrânio
Peixoto.A dcsabusada eróticado "Bocado Inferno" só
Cf.DanielR.Recdy,"PoesíasinéditasdcJuandel Valle foiresgatadada intcrdiçãopudicaqucsobrecla pesava,
Caüedes",separatada RevistaIberoamericana,Pitts- graçasaodesassombro deJamcsAmado,coma edição,
burgh,vol.XXIX, n.55,p.157.Acrcscentao autor;"Não em 1968,cm 7 vols.,dasObras Completas(Crônicado
é de estranharque tardassemtanto t€mpoa ser publi- Viver BaianoSciscentista).do poeta,Salvador,Bahia,
cadas,tendo em conta a naturezaveementede sua Editora Janaína.
sátirasociale umaqueoutrapassagem cscabrosa. "Em
(41)
The Poetic^rt ofJuan delYalle Caviedes,
The Univer-
sityof North CarolinaPrcss,1964,D.R.Reedyespccifi-
ca: "...apenastrôs poemasde Caviedesforam publica- Enrique Anderson Imbert, Ilistoria de la literatura
dosdurantesuavida",depoisdc submetidosà censura hispanoamericâna / La Colonia/ Cicn ãnosde Repú-
eclcsiásticae governamental.Embora houvesseim- blica, Méúco, Fondo de Cultura Económica,vol. 1,
prensaem Lima colonial,dada a naturcza"lascivae L970,p.711.

108 109
(42) ficcional"queccrcou abiografiade Caúedes,o "Donte
do Parnaso",atribuível,sobretudo,a Ricardo Palma,
Cf. RaimundoLazo, Ilistoria de la literatura hispa- queseteria baseadonuma"hoja suelta",apócrifa,rou-
noamericana/ El períodocolonial/ 1492-17W,Argen- badae depoisjamaisrecuperada.Mas uma carta dcs-
tina,México,Editorial Porrua,S.A, 1965,pp.213-214. cobertapor G. LohmannVillena, e por ele dirulgada
Dos oito (não sete)manuscritosató hoje descobcrtos em 1948,reporta,por exemplo,que o poeta em seus
da obra de Caüedes,nenhumdelesé autográfico(cf. últimos dias teria ficado mcntalmenteperturbado"e
DaniclR.Reedy, "A newmanuscrit oftheworksofJuan corrianu pelasruasde Lima e pclosdescampados fora
del Vallc Caüedes,scparatade RomanceNotes,vol.V, da cidade"(ob. cit.,p.23).
n. 1, 1963pp.3-4). Mais um traço em comumcom
Gregóriode Mattos. (44)

(43) Hcrnando DomínguczCarnargo,Obras, edição aos


cuidadosde RafaelTorresOuintero,Bogotá,Publica-
"Gregóriode Mattos:The Quevedoo[Brazil", scparata cionesdcl InstitutoCaroy Cucrvo,1960,p. XXIX.
de Comparative LiterâtureSeries,vol.ÌÌ, n.3, 1965,
p.247.Ver também"Gregório dc Mattos andJuandel (4s)
Valle Caviedcs:two baroquepoets in colonial Portu-
gueseand SpanishAmcrica", INTI, Rcvistade Litera- JoséLezamaLima, La expresiónamericana,Madri,
tura Hispánica,nos.5-6, prirnavera,/outono, 1977,por Alianza Editorial, 1969,pp. 53-54.(Hoje temosdessa
Earl E. Fitz, que acrescenta a seguintenota a seuestu- obra fundamentaluma excelentccdiçãoestabelecida,
do: "Não há prova sabida,todavia,dc quc Mattos e introduzidae anotadapor Irlemar Chiampi,A expres-
Caviedesse conhcccssem pessoalmentc, emborascja são americana,São Paulo, Brasiliense,1988.Vcr, a
certamentepossívelque cadaum dclescstivcssea par propósito,meu artigo-resenha "Lezarnae a plenitude
da considerávelrcputaçáodo outro." (A conjctura, pclo cxcesso",Caderno2, O Estadode S.Paulo,10 dc
emboratemcráriae suscitada semqualquertcntativadc julho de 1988).Apenaspor uma questãode comodi-
fundamentação,parece aludir ao carátcr univcrsal, dade,mantiveninha traduçãodo toxtodc l.ezama(que
tÍansnacionale transculturaldo cstilobarroco,jáqueo na ediçãoChiampiocorreà p. 87).Sobreo hipcrgongó-
mcsmo âutor Íaz remissãoà "Carta a la monja dcl rico poetacolombiano,veraindaE.Gimbcrnatde Con-
México",do poetapcruano, sugcrindo,combasencla, áles, "La subversión barrocade HcrnandoDomínguez
queCaviedes"nãoera dcsconhecido dagrandeintslsc- Camargo",texto mimeografadode confcrônciapro-
tual mexicana,SorJuanaInósdc la Cruz").D.R.Reedy nunciadana Univcrsidadedo Teias emAustin,Faculty
(The Poetic cit. na nota zl0,p.19) fala da "aura Ircture Series,23de marçodc 1.981. Conformeregistra
^rt.,.,
110 11.1
I. Chiampi na ed. cit., p.86,not. ll a obra de Dominguez
Camargofoi consideradapor Menéndezy Pelayo"um (48)
dos mais tenebrososabortos do gongorismo"
Jauss,'LiteÍaturgeschichtealsProvokation...", na
(46) nota 5, p.189da ed, al; p,63da ed. fr..

Prefácio à ob. cit. na nota 31 pp. 1G17.Considere-se, (4e)


aind4 o pronunciamentode Pedro Calmon (ob. cit. na
nota A)). No casoda produção de Gregório, ainda que F. Nietzsche,Werkc (ed. Karl Schlechta),Munique,
se fale cm "oralidade' como fonte de transmissãoe Carl Hanser Verlag vol.I, 1966,p.1037(Morgenrattg S
recolha (em ódices) de suapoesia;ainda que a fixação 35); em portuguôs,na traduçãode RubensRodrigues
em liwo, em letra impressa,tenhataÍdadomaisde um Torres Filho, Obros lncompletâs(Os Pensadores,
úculo c meio,o fato é que isto nãolhe ÍetiÍa o caráteÍ XXXII), SãoPaulo,Abril, 1974(NB:Ao mesmotÍadu-
dc "texto", dc "escrituÍa", pob mesmonos mais desta- toÍ peÍtence a veÍsão da epígrafe que adotei para este
bocadospocmassatíricose eróticos, essapoesia cxibe ensaio).No volumeda Abril encontra-se, republicado,
as maÍcas da agtdeza e do engenho barrocos, traços o admirávelensaiode A.Candido,"O Portador"(19216;
característicosde um elaborado estilo cultural. O Observador Literúrlo, ComissãoEstadual de Cultu-
ra, 1959),do qual vema propósito dcstacarosseguintes
(47) excertos:",..Nictzscheensinaa combatera complacên-
ci4 a mornidão das posiçõcsadquiridas, quc o como-
Cf. "Die Aufgabe desÜbersetzers" ("4 Tarefa do Tra- dismo intitula moral ou outra coisa bem soante"
dutor"), em Baudelaire,Gedichte(DeutscheÜberra- (p.419);'Aceitamos por via de integraçáo,participação
gungmit einemVorwort von WalteÍ Benjamin),Frank- submissano grupo,tcndendo a tÍansformaÍos gestos
fuÍt a.M., Suhrkamp,1979(o toco benjaminianoé de em simplesrcpetiçãoautomática.Fazcmo-lopara evi-
1923).No conceito de Fortleben, ou "pcrvivência" da tar asaventurasda personalidade, asgrandsscartadas
obra para além da época de sua produçãq relevamas da vida,julgandopôr em práticavaloresconquistados
notas de "transformação" (Wondlung) e de "renova- por nósmesmos.Ora, a obra de Nictzschenospretcnde
ção" (Erneucrung); a isso Benjamin chama o "pós- sacudir, arrancardestetoÍpoÍ, mostrandoasmaneiras
amadurar" (NachreiÍe) da ünguagemda obr4 "um dos pelasquaisnegamoscadavezmaisa nossahumanidade,
proc€ssoshistóricos mais poderosose fecundos" (ob. submetendo-nosem vez de nos afirmarmos" (p.420);
cit.,pp.12-13). "Vindo apósséculosde filosofiacatedrática,Nictzsche
serevoltouüolentamentecontraa mutilaçãodo cspíri-
to de aventurapelaoíicializaçãodasdoutrinas(p.422);

L72
113
"Nietzschcé emincntcmenteum educador.Propõe sem em gêncse,quc sut'oe o vir-a-ser e o encadeamento
cessar(...) umasérieds técnicaslibertadoras...'(p.423). causal,c sim em origem, que su@ um salto no Ser,
além de qualquer processo." E ainda: 'Mas origem,
(50) nadatem a ver com a gênese.A origem(Ursprung) é
um salto (Sprung) em direção ao novo. Ncsse salto, o
Jean Starobinski, citado e comentado por Jauss em objeto originado se libcrta do ür-a-ser" (pp. 18-19).
"Gesclrichteder Kunst...",cit. na nota5,pp.245-246
da Num sentido conveÍgente,Jeanne-MarieGagnebin
ed. al.; pp 116117da ed. fr.. sustentaque,no pensamentobenjaminiano, "o conceito
de origem", ligado a idéia das "múltiplas transfor-
(s1) rnaçõcs",jamais foi "substancialista";
cf. Zur Geschi-
chtsphllosophie\ül|lter Benjomins(Paraa filosoftada
Publicado na rcvista SUR, BuenosAiÍes, no 206, 1951, história de W.Bcnjamin), Cap.III, "Ursprunçneta-
p.31;incluídoemLos perasdel olmo,México,UNAM, physikund Texthcoricin BenjaminsDcnken" (Mcta[í-
L957. sica da origem e tsoria do texto no pensamentodc
Bcnjamin),Erlangcn,Verlag Palm & Enke, 1978,p.
(52) 148.

W.Benjamin."Übcr dcn Begriff der Geschichte"(So- (54)


bre o conceitodc história),tesesXIV, V, VI e Apêndice
A, GesommelteSchrlÍten,I,2, Frankfurta.M., 1978(a O poblemada "literatura menor", semiologicamente
traduçãoé minha,nascitações,maso texto encontra-se mnsiderado,pode revelar-seum "pseudoproblema",
em versãobrasilcira integral, por Sérgio Paulo Roua- Serámenor,porqueolvidad4e emparteiÍrecupcrada,
net,cm lrry'.Benjamin,
Obrascscolhidos,vol.l, SãoPau- a litcÍatura - tal como chegouaté nós - que produziu os
lo, Brasiliense,1985). trovadoresprovcnçais(aliás, inÍluenciadapcla poesia
árabe,cujo fundo tcxtualse perde "em abismo")?Se
(53) cadalitcraturaé umaarticulaçãode diferençásno tcxto
inÍinito - "signosem rotação"(O.Paz);'semioseilimi-
W. Benjamin,ob. cit. na nota 14,ed. al,,p.29;ed. bras., tada" (Peircevia Eco) - da "liteÍatura universal",cada
pp. 67-68. Ieiam-se, a propósitq as observaçóesde contributoinovadorse medecomo tal, é um momento
SérgioPauloRouanet,no tópico"A origeme a gônese" em certo sentido"monadológico",poÍ sua singulaÍi-
de sua "Apresentação"à tradução brasileira desta dade;porém,logo mais,suscetíveldc novascorrelaçõcs
obra: 'Na perspectivada história descontínua,a única no jogo dessacombinatória.J.Mukarovsky, num cnsaio
vcrdadeiramente dialética,não se pode porlanto falar de l9,ló "SullostruttuÍalismo" (cito a veÍsáoitalianaem

rl4 115
culturaem relaçãoa outÍa; scuaspectofundamentalé
I-a funzione,la norma e il valore esteticocome fatti a reciprocidade..."(pp. l8at85). É intercssante
vcrifi-
sociâli, TuÍim, Einaudi, 1974),pÍopóc-sevcr "as re- car como o estrutuÍalistapragucnse,em 1963,num
Iaçõcsentreasartcsde divcrsospaíscs"de mansiranão contcxtodominadopolo dogmado "realismosocialis-
unilatcral,comocostumavafazcra "ciônciacomparati- ta", se empenhaem sustcntar,agoracom timbÍe mar-
va litcriáriatradicional", que estabclccia a primazia xista,a dialeticidadcdc suasidóiassobrca questãodas
"quasc apriorística"de dcterminadasliteraturas,"ca- "pcquenas"literaturas,esforçando-sc poÍ pensaruma
pazcsde exercerinÍluôncia",frcntea outras,"condena- ciêncialitcrarianão"mccanicista"(Cf. "Obrigaçócsda
das à acolhidapassivadas inÍluônciascxternas".Essa ciência litcrária em relação à litcratura mundial
conccpçãotradicional,na litcraturatchcca,foi rcspon- contcmporânca",tcxto publicado originalmentccm
sávelpelo "complcxodc povopequeno".Mukarovsky, francôsna revistaLa littérsture compâréeen Europe
rcfutando-a,sustcntaa ncccssidadcdc a qucstãodas Orientale,Budapcst,AkadémiaiKiadó, 1963;republi-
influênciasseranalisadado pontodc vistadas"relaçõcs cadoemCÍrculoLingiiísticode Praga:eslruturalismo
dialéticas",ao invósdc sc projctar a "imagemdc uma e semiologia,antologiaorganizadapor DionísioTole-
litcÍatura absolutamcntcpassiva,cuja evoluçãoseja do, Porto Alegrc, Editora Globo, 1978).
guiadapela intcrvcnção casualdc iníluênciasündas
destaou dâquclapartc". Ncga quc a liteÍaturaque (55)
reccbcinfluênciassejaum "parcciro passivo".E argu-
mcnta:"Pode,cfctivamcntc,por cxcmplo,recebcrmais Em "Minha relaçãocom a tradição é musical",entre-
dc umainÍluôncia contcmporancamcnte e dcpoissele- vistaa RodrigoNavcsestampada no Folhetimda Folha
cionar algumadcntrc clas, graduá-lashicrarquica- de S, Paulo,n0344,21dc agostode 1983;republicada
mentce fazcrprcvaleccrumasobrca outra,confcrindo no Boletim IlibliográÍico,SâoPaulo,BibliotecaMário
assimum sentido a scu conjunto.As inÍluôncias,na de Andrade,v. 47,nos1-4,janciro a dezcmbrodc 1986,
vcrdade,não agcm poÍ si sós no ambicnte em que p.72,sugeri:"...comparemo elogio do barroco,como
intcrvôm,semprcssupostos: encontram-se coma tradi- estilo utópico,estiÌodâs descobertas
que resgatarama
çãolocal à cuja necessidadc sc subordinam.A tradição Europa do scu egocentrismoptolomaico(elogio feito
artísticae ideológicalocal pode, ademaisfazernascer pelo 'antropófago'Oswald dc Andrade), com o do
entrcdiversasinfluênciastcnsõcsdialóticas"(NIÌ; caso cubanol-ezamaLima. O autorde Paradisopropunha-
dos sonetoshíbridosdc Grcgório,mcscladosde tupi- se ler a históriacomo uma sucessão de eras imaginá-
nismose africanismos). "Por issoé aconselhávcl partir rias, rcpensáveis por uma memóriaespermáticâ,apta
do prcssupostode que as artesnacionaisparticulares a estabclecerconexõessurpreendentes,regidaspor
encontram-se numabasedc rccíprocaparidadc..."(pp. uma causâlidaderetrospectivaou analógica.ParaLc-
171-173). "Os intluxos,repita-sc,nãosãoexpressõcs da zama,oBarrocoibero-americano ó umaorte da contra-
supcrioridadcfundamcntale da subordinaçãodc uma
117
1,16
conquista,um estiloplendrio,queeledefinecorrosiva- dezembrode 1923a Florens Christian Rang, Briefe I,
mentecomouma grondelepra criadora(por oposição Frankfurt a.M., Suhrkamp,L98, p.322.
a um barroco europeujá degenerescente,no qual cle vê
acumuloç6osemtens6o).Ver, acima(nota 45), as re- (58)
ferências à edição lrlemar Chiampi de  exprnessáo
amerlclna , de [-ezam4 e ao meu aÌtigo-reseúa que a O termo "neobarroco", paÍa caracterizar as "necessi-
comenta (com d€staqueà excelentcintrodução de dades culturmorfológicasda expressãoartística
I.Chiampi,"A história tecida pcla imagem). De Os- contemporânea",foi por mim utilizado no artigo "A
wald de Andrade, consultarA Msrchâ das Utopias obra de arte aberta", Diório de S,Paulo,3 dejulho de
(1953),conjuntode artigoscoligidosemvolumenasérie 1955;in A. de Campos,D.Pignatari,H. de Campos,
dosCsdernosde Cultura, Rio de Janciro,MEC/Scrvi- Teoria d8 po€siaconcreta/ TextoscÍíticos e manifestos
ço dc Documcntação, n4139,1966. I 1950-19(fr,São Paulo, Edições Invenção, 19ó5,p. 31
(hoje em 3a. ed., São Paulo,Brasiliense,1987,p39).
(56) SeveroSarduy,de maneiraindependentee atravésde
uma elaboraçãoprópria, usou esseconceitoem "El
JaussexempliÍìcaa questãodo ..câmbiode horizonte" Barrocoy el NeobarÍoco",AmérlcsLotin! en su lite-
exatamcntecom o exemploda rccepçãode Gôngora: ratura, ob. coletivacit. na nota 14 (destaobra há tradu-
"Foi , assim,nccessárioque a lírica hcrmóticade Mal- ção para o portuguôs, São Paulo, Perspectiva,1979);
larméc de suaescolapreparassem o tcrreno para que segundoGustavoGucrrero,Lo estrrtegianeoborroca,
se toÍnasse possÍvclum rctorno à poesiabarroca, por Barc-clona, Edicionsdel Mall, 1987,p.23,Sarduyviúa-
longotempodcsdenhada e consequentemente esquèci- seocupandodo tema"desdemcadosdosanossessenta,
da; em especial, paÍa a Íeinterprctaçãofilológicae a na esteiÍade l*zama"i o "ponto culminantc"de sua
'renascença'dc Gôngora."("Litcraturargeschichte als reílexãoconsistiriano ensaioacimareferido.Importa
Provokation...n,ob.
cit. na nota5, ed.al.,p.193;ed. fr., p. salientarquc Mário de Andrade,o "gongorófobo"de
67. "A Escrava..."(cf. nota l7,acima),reconhece,nâoobs-
tante,a pervivênciado traçobarroquistaem nossalite-
(s7) ratura.IdcntiÍica-ona "escÍituraartista,artificial,ori-
ginal, pessoal,tão sincerae legÍtimacomo qualqucr
Benjaminfala numa relação..intensiva"e não mcra- simplicidade",de O Ateneu (1888),de Raul Pompéia,
melte "extensiva"entreasobrasde arte.em conoxões de quemdiz: "inconscientemente foi a última e derra-
"wclchc zcitlos und dcnnochnicht ohne historischen deiramentelcgítimaexpressão do barrocoentrenós;e
Belangsind"('quc sáo atemporaise, no entanto,não por muitasvezes,no seu grandeliwo, atingiu com a
dcsproüdasdcimportânciâhistórica");cf. cartade9 de oalavraa bclezaestridentedosourosda SantoAntônio

118 tt9
caÌioca ou da São Franciscobaiana" (.,O Atcncu',,
modulandoo usodo termo a paÍtir da conhccidadcfi-
1941,em^spectos...,ob.cit. nanota31,p. tS:;. últi*ui niçãode Althusser,falaJ.C.TcixciraGomgs(ob. cit. nâ
Que dizer, ncssescntido,dc Euclidci da Cínha e Ja
noaaZg, pp.344-y()),rcferindo-seà "sátiragrcgoriana"
"magnificônciado cstilo" de Os Seíõ€s (1902),reco-
comoum "discursode denúncia". Paraampliaro âm-
nhccidapor O.M.Carpcarxna pequenaBibtíógraÍia
bito da questão,c nãofocalizarapenaso preccdcntcdc
CrÍtica da LiÍerstura Brasileira, Rio dc Jaíeiro,
EdiçõcsOuro , l9(8, p.21,02Um estiloque na preseni Quevedo(semprelcmbradocompropricdadca rcspci-
to, seja do nossoGregório,scja do ândaluz-pcruano
ça,.II(ob.cir.nanora17,p.319),A.CandidocJ.A.Cas_ Caüccles), scriao casode sublinharospoemassatíricos
lcllo,stn(omaticamcnle.tachamdc ,'pomposo e tcnso,, e burlescosdo próprio Gôngora.Os "romanccs"sobrc
com propcnsão,,para o mau gostoc o dcscquilíbrio, Hcro e Leandroe Príamoe Tisbc,p.cx.,sãoconsidcra-
senooas vez€sobscuropor exccssovocabular,,;
um dos por R.OJones (PoemsoÍ Góngora, Cambrirlgc
cstilocujainfluônciatcriasirJo.,cmgeralmá,,,cmLora Univcrsity Press,196ó,p. 21) "comic mastcrpicccs";
ambosconsidcrcmquc,,graçasao talcntoexpressivo
lora.docomum,Euclidcssupcraestcsdcfcitos, nelcs,alémde convocarpaÍa a taÍcfajocosatodos os
<.lissol_ recursosde seucngcnhoe dc sua"imagéticaabsurrla",
vcndo-osna rntcgridarJc nobrec hcróicade suaüsão
moral e social".eue dizer - sedcrmosagoraum Gôngorateria revclado"um desprczopicarcscopclo
salto grandiosoe pelo auto-importante".Cabcria também
paraa contemporaneidade - de GuimarâesRosa(com mcncionarumarccentelcituradasSoledades, por John
Claúcr. Rochano cincma,um cxcmplomanifcs(o
da Bcverley(Madri, EdicioncsCátcdra, 1979).Na üsáode
Inllucncra mscminadora da ,,magnificôncia.,
da lingua_ Bevcrlcy,"Gôngora é um fidalgo dccaído dc sua
gem euclidiana), cujo barroquismocomparciao do classe",um "exiladointcrior", um "Pocta hcterodoxo
f'aradiso de ltzama Lima, em,,Rupturaclosgôncros
queescrevcemmeioa umsentimentocrescentcdc crisc
na li(eralurala(ino-amcricana',(1970),cnsaioilncluíclo
e dccadônciana Espanhac a partir dc uma atitudc
na,ob.crt.na notal4(men€o acima)c cstampado
em pcssoalantagônicaà idcologiaexpansionista-nacional
vol. autônomopcla Editora pcrspcctiva, paulo,
Sãã quesustcntaascpopóiasimpcrialistasdo séculoXVI";
1977,pp. 33-34?
assim:"As Soledades sintctizámcm formade antologia
(5e) toda a gama da poesiaclássicac rcnascentista,mas,
necessariamentc , ao prcço de produzircmumasíntcsc
conflitiva,cheiadc antagonismo c tÍansformaçõcs incs-
O_swaldde Andrade, conferônciacit. na nota3, supra.
pcradas: uma soledadconfusa"; o "final suspcnso"
Mário Faustino,,,Evoluçãoda poesiabrasilciraill _
urcgoflo de Mattos- 1","pocsia_cxpcriôncia", confere ao poema "a aparônciadc uma rclíquia ou
Suplc- Íuína" e representaria"uma inconclusãocstratógica",
mentoDominicaldo Jornal do llrasil, nio .1"iun"iro,
14de setembrode 1958.De ,,engajamento vale dizcr: "a criaçãodc um scntidofragmcntáriodo
idcológico,,, hispânico,não ligado a uma idcologiadc rcprcssãoe
120 121
exploÍaÉo, antesaliado à uma funçâoutópica,infru- orefirodcnominar"exrrÍnseco"...). CÍ. O.Paz,ob' cit' na
tuosaà época,dc "buscarumaculturae umasociedadc oot" tq p. A0;W.nenjamin, ob. cit. na nota 14,ed' al ,
possíveis",umareconciliada"idade dc ouro" (Soledad pp.2ff,-211i ed. bras.' idem; H'de Campos, RuPtuÍ8
y/o edadde Sol"); ob. cit., pp. 2l-61 ããs Gcnems...,ob. cit. na nota 58, ed. Perspcctiva,
pp.12-14.
(60)
(62)
JamesAmado, 'A foto proibidahá 300anos",in Gre-
gório de Mattos, Obras Completos(cits. na nota .10), Cf. Jauss,"LitcÍaturgeschichteals Provokation".'',cit'
vol.1,p.XXVII. na nota 5, ed. al., pp' 192-194ied. Ír., pp. &(8'

(61) (63)

Para uma aprcciaçâomais complctado assunto,con- Antonio Candido,"Dialóticada Malandragcm",sepa-


sultaÍ Re/Visãode Sousândrsde.ob. dt. na nota 2, Íata da Revistodo Instituto de BstudosBrusileims,
Octaúo Paz,coma suahabituallucidcz,fornecesubsí SáoPaulo, USP, ne8, 1970,P. 88.
dios que ajudama compreendera irrupçãodo "fenô-
meno" Sousândrade em pleno romantismobrasileiro: (64)
"el romanticismoestácondenadoa redescubrirel bar-
roquismo.Eso fue lo que hizo en la épocamoderna, Nessesentido, Machadonãoera "previsívcl".Suasin-
antesque nadie,Baudelaire.El manierismopasional gularidade- suadlfcrença- náo pode ser deduzidade
románticodescmboó en un formalismo:simbolismo áodo gradualista, em linha evolutiva (Formoção'
primcroy luegovanguardismo." Uma rcssalvadcveser II,U7- 8), comosefosseo produtonecsssário ds uma
feita:cstaaÍinidadetransepocal(quc Waltcr Benjamin síntese dasqualidades de Macedo, Manucl Antônio de
também rcconheceria em Novalis e na "Íase tar- Almeida e Alencar. Essaoriginalidadercsulta' antes,
dia"/Spützrit de Hoelderlin) maniÍcsta-se,
a meu veÍ, da adoçãoconscientede umaforma de romanc-e quc se
sóno casodosromânticos"intrÍnsccos"(Nervalé outro opõe tanto ao desgastadopadrão romântico,quanto ao
excmplo,no espaçofrancôs),que sevoltamrcvolucio- realista-naturalista,paÍa remontar,comsua"üsão iÍô-
nariamentepara a linguagem,não selimitandoàs "ex- nica e cética", à "linhagemluciânicâda liteÍaturaoci-
tcriorizações"da emotiüdade não configuradapcla dental",ou seja,à tradiçãoda "sátira menipéia",estu-
"função poética" (como é o caso do romantismoda dadaindependentemente tanto por Bakhtin como por
imagemtradicional,"canônico"- do qualobrasileiroé, Northrop iìrye; pelo primeiro, como um dos embriões
via de rcgra , um exemplotípico; romantismoque eu da "linha cainavatcsca"de evoluÉo do Íomancc; pclo

r22 t23
scgundq como sinônimo da forma de ficção que se
denomina também "anatomia". Um enfoque minu- nomia irreverente de Manuel Antônio pela mirada irô-
dente e convicente da relação de Machado de Assis nica e pelo distanciamentoético ("nossoBorgesno
com essa"ünhagemluciânica" foi realizado por Enyl- OitocentoJ',comocostumodizer.,,).
ton Joséde Sá Rego,em Machodode Assis,a Sátira
Menipéia e a Tradição Luciânica, The University of (6t
Texâs at Austin (tese doutoral), 1984;nessetrabalho,
foram exarninadas, com detença,as leiturase inlluên- "Dialética...",cit. na nota63,pp. 86-88.
ciasmachadianase assuasposiçóescríticascom respei-
to ao romantismoe ao realismo-naturalismo, que lhe (66)
permitiramuma novaopção,aparentemenle náocom-
preeodidana estradarcal da "séricromanesca"norma- W.Benjamin,"SchicksalundCharackteÍ",Gesamm€lte
tiva. Voltando à Diâlétics. nela Manuel Antônio de Schriften(cit. na nota52),II,l, pp. 172-173e L78.
Almeida já não aparece"colocado, pelas próprias
condiçõesde evoluçãoliteráriada suatcrra, numapo- (67)
sição intcrmediária" (Formaçáo,II,216). Antes, ir-
rompe em contrsste"com a ficçãobrasileirado tern- "Epos e Íomanzo",em G.Lukács,M, Bachtin e altri,
po", sobretudoem oposiçáoa Alencar; surge como Problemi di Teoria del Românzo,Turim, Einaudi,
pioneiro de uma nova forma, o "romancemalandro" 1976,pp.2l6-218;cf,também a excelenteed. americana
(aqui,poderíamostambémdizer"carnavalizado'),que dessetexto, aoscuidadosde Michael Holquist,M.M'
guarda"algumasanalogiase muitasdiferençasem re- Bakhtin,The DiatogicImaginrtion, Austin e Londres,
lação aos Íomances picarescos",mas que remonta a University of TexasPress,1981("Epic and Novel"), pp.
uma"lradiçãoquasefolclórica"e corresponde"a certa 35-38.
atmosferaómica e popularescade seu tempo" (Dial,
pp.85,70-71).Nessesentido,seé por um lado arcsicq (68)
poroutro é lnoyadoqantecipando-se ao romance"mo-
dernista"de Oswalde Mário de Andrade (Dial.,88).E Augustode Campos,"Artefinal paraGregório",Bahia
assimtambém,num sentidomuito essencial, já que as Invençáo/anti-antologiade poesiabaiana,Salvador,
Memóriasde um SaryentodeMilícias são"a anatomia Propeg 1974;republicadoem 0 Anticútico, SãoPaulo,
espectral"do "Brasiljoanino"(Dial.,88),podemostÍar- Companhiadas l-etras, 1986,p. 90.
seprecursor - poÍ que não?- da própria forma "eÍra-
vagante"que o 'anatomista"Machadofora colher no
filáo marginal da "tradi$o luciânica", trocando a bo-

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