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Juventude : reflexões para o debate 

 
Elisa Guaraná de Castro (prof. UFRuralRJ) 
Colaboração Julian Viscente Rodrigues  
(Especialista em Economia do Trabalho pela 
Unicamp e ex­militante da Juventude do PT) 
 
Concepção : como sair da armadilha do essencialismo? 
 
Juventude ​ tem sido alvo de intensos debates acadêmicos, políticos e no campo das políticas 
públicas. Esse momento é especialmente rico para abordarmos a chamada “questão da 
juventude​ ”. No entanto, ainda registramos a dificuldade de transcendermos o debate 
“essencialista”, isto é, que busca a essência, a definição­conceito de juventude, tão caro ao 
objetivismo​  da ciência moderna. O debate não deve ter como fim a busca da essência da 
juventude​ .  
 
Neste texto proponho caminhos para se discutir juventude a partir da concepção de que 
juventude​  é uma categoria social disputada, mesmo no que concerne aos seus significados. Ao 
falarmos de ​ j uventude ​estamos falando de pessoas, coletividades e significados em disputa. 
Para essa tarefa proponho abordar o debate, em primeiro lugar recuperando algumas 
construções conceituais de ​ j uventude​ ; em seguida apresentarei um possível caminho para a 
discussão, e, sob esse enfoque, traçarei algumas considerações sobre o debate nos 
movimentos sociais e no PT. 
 
Concepções de ​ juventude​ : recuperando o debate 
 
Juventude​  está, hoje, na ordem do dia. Isto é, ​ j uventude​  aparece na mídia, em ações 
governamentais e não governamentais, nos movimentos sociais, como algo sobre o qual 
temos que nos debruçar e debater. Mas nem sempre foi assim. É comum trabalhos 
acadêmicos que resgatam como ​ j uventude​, até bem pouco tempo, era um tema periférico e 
pouco levado a sério como foco de pesquisa. Esse é sem duvida um momento rico para o 
debate, principalmente quando o observamos a partir dos atores envolvidos e dos caminhos 
utilizados para abordar o tema ​ j uventude​ . Insisto em tema, já como um primeiro passo para 
discutirmos os caminhos que vem sendo acionados para analisar ​ j uventude​
.  
 
Se até a década de 90 podemos afirmar que havia pouca preocupação, dos atores envolvidos 
nesse debate, em precisar “de quem estavam falando”, ou ainda, definir o que se entendia por 
juventude​ . Hoje esse é geralmente o ponto de partida das discussões sobre ​ j uventude​. 
Busca­se uma definição que dê conta do ​ fenômeno juventude​ , da categoria ​
j uventude​ , do ​ser 
jovem​ , em fim das muitas formas de se abordar, aquilo que é ao mesmo tempo realidade e 
representação social. Sem dúvida ao se falar de ​ j uventude​, hoje, estamos falando de pessoas, 
movimentos, mas também estamos falando de identidades, relações sociais, e a 
indissociabilidade entre realidade e representação social. Entre o que é realidade e como 
apreendemos e reproduzimos esse real. 
 
 
Permeada por definições genéricas, associada a problemas e expectativas, ​ j uventude​ tende a 
ser constantemente substantivada, isto é, definida a partir de concepções que tratam 
juventude​  como uma coisa palpável. Ou ainda, adjetivada, a partir de adjetivos como 
revolucionária​ , ​
impulsiva, violenta.​  Sem que se busque a autopercepção e formação de 
identidades daqueles que são definidos como ​ j ovens​ .  
 
Jovem​  é um termo usado pelo senso comum, pelo campo acadêmico e mesmo em espaços 
políticos, desde o século XIX. Inicialmente em uma concepção geracional que opunha ​ j ovens​
 e 
velhos​, ou ​
j ovens​  e ​
adultos​ . No final do século XX e nesse início do séc. XXI houve um grande 
impulso no debate sobre ​ j uventude.​ Entretanto, muitos trabalhos tratam ​ j uventude​  como 
categoria auto­evidente ou auto­explicativa, como se a concepção de juventude fosse 
consensual, utilizando idade e/ou comportamento como definições metodológicas. Essa 
concepção de ​ j uventude​ é retomada nos anos 90, tanto no campo acadêmico quanto pelas 
políticas sociais. Muitas dessas construções carregam um olhar em que ​ j uventude​  é passível 
de uma definição universalizante. 
 
Um primeiro caminho é relevante para a análise desse debate: ressaltar as análises e 
definições mais recorrentes e a própria crítica a essas concepções. Três movimentos ou 
momentos  se desenham: 1) a definição da categoria a partir de elementos 
físicos/psicológicos, como faixa etária, mudanças físico­biológicas e/ou comportamentais; 2) a 
definição substancializada/adjetivada da categoria; e 3) a crítica a esses recortes e busca de 
outros vieses. Atravessando essas abordagens aparece com freqüência a associação de 
juventude​  e ​j ovem​  a determinados problemas sociológicos e/ou como agentes privilegiados de 
transformação social.  
 
 
As definições físico­biológicas e a partir da idade 
 
Flitner (1967), um autor alemão que se debruçou sobre o tema, observa que já em estudos do 
século XIX a ​ idade​ aparece como uma forma de identificação privilegiada. ​ Idade juvenil​  surgiu 
como uma definição recorrente que se referia a um período pós­puberdade, entre 15­17 anos 
e um limite que variava com a entrada no que seria definido como ​ mundo adulto​ .  
 
A identificação de uma população como ​ j ovem​  a partir de um corte etário aparece de forma 
mais clara em pesquisas da década de 60, como a de Stoetzel (1968)​ sobre os ​
 ​
j ovens na 
sociedade japonesa​ . O autor define como ​ j ovens​ , indivíduos de uma determinada faixa etária 
e os analisa a partir de recortes como ciclo­de­vida e comportamento.  
 
O corte etário de 15­24 anos, adotados por organismos internacionais como OMS e UNESCO, 
procura homogeneizar o conceito de ​ j uventude​  a partir de limites mínimos de entrada no 
mundo do trabalho, reconhecidos internacionalmente, e limites máximos de término da 
escolarização formal básica (básico e médio). O recorte de ​ j uventude​ a partir de uma faixa 
etária específica é pautado pela definição de ​ j uventude​  como período de transição entre a 
adolescência​  e o ​ mundo adulto​ . Essa concepção se estabelece como a mais recorrente a partir 
da ​Conferência Internacional sobre Juventude​  (Conferência de Grenoble­1964, ver, 
Weisheimer, 2004).  
Esta primeira classificação que define ​ j ovem​  a partir de limites mínimos e máximos de idade 
é amplamente discutida. Para Levi e Schmitt (1996), em ​ História da Juventude,​  a idade como 
classificadora é transitória e só pode ser analisada em uma perspectiva histórica de longa 
duração. Um caminho seria analisar os ritos de passagem que indicam a “entrada” e a “saída” 
da condição ​ j ovem​  e suas construções simbólicas.  
 
O autor francês Thévenot (1979), discute as definições etárias mais recorrentes. Analisando as 
estatísticas oficiais da França sobre ​ j ovens​ , decompõe a classificação utilizada demonstrando 
que esta parte de uma pré­definição e conseqüente enquadramento de quem são os ​ j ovens​ , 
onde estão e o que fazem. Mas, para o autor, este recorte estaria baseado em uma 
classificação fundadora deste tipo de levantamento estatístico: a divisão da sociedade em 
ativos e inativos em relação ao mundo do trabalho. Dessa forma, Thévenot procura 
demonstrar que o uso de termos como ​ j ovem​  e ​velho​ por este tipo de levantamento estatístico 
é arbitrário, pois parte de uma definição uniforme da ​ j uventude​  construída ​ a priori​. Os ​j ovens 
estariam em uma situação intermediária, que, para Thévenot, mascara os que poderiam ser 
classificados como ​ j ovens trabalhadores​  ou ​ j ovens desempregados1.  
 
Outra abordagem recorrente, que também caracteriza a idade como uma construção social são 
definições que partem do conceito de geração. Para Mannhein (1982; Foracchi,1972), duas 
gerações convivem em dado contexto histórico, ​ j uventude​ , caracterizada como um momento 
do ciclo­de­vida de todo indivíduo, em oposição à condição ​ adulta​ .  
 
Os estudos sobre ​ campesinato ​ trouxeram importantes contribuições para o debate. Embora 
juventude rural ​ seja alvo de muito pouco investimento teórico, alguns estudos debatem 
concepções de ​ j uventude​ , ainda que este não seja o objetivo central. Este é o caso de um 
trabalho sobre o campesinato irlandês intitulado “Família e Comunidade na Irlanda”, dos 
autores Arensberg e Kimball. Neste estudo os autores dão visibilidade a diversas questões que 
envolvem ​ j uventude​  e ser ​
j ovem ​ em uma comunidade rural. Um dos pontos centrais são as 
relações hierárquicas que envolvem a definição de ​ velho ​ e ​j ovem. ​ Só se tornam ​adultos ​
e, 
portanto, respeitados nestas comunidades aqueles que assumem a pequena propriedade da 
família. Aqueles cujos pais ainda estão vivos ou não passaram o gerenciamento da 
propriedade para os filhos são tratados pelo termo ​ boy. ​ Mas, embora a tradução literal desse 
termo seja ​ menino​ , podia ser usado para designar um homem ​ adulto​  de 40 anos. Assim, nas 
palavras de um filho de um pequeno proprietário: “​ Você pode ser um menino para sempre.” 
Enquanto o indivíduo não fosse proprietário, ele continuava sendo tratado como o ​ boy ​do 
fulano [seu pai]. Um deputado do parlamento irlandês provocou risadas em 1933, quando 
pediu um tratamento especial na divisão de terras para os “​ meninos de 45 ou mais​ ”, que não 
possuíam outra perspectiva, que não esperar pelas terras de seus pais. (Castro, 2004) 
 
O recorte etário permite pesquisas quantitativas em larga escala e a definição de públicos­alvo 
de políticas públicas. No entanto, deve­se observar os limites destas definições e questionar a 
naturalização da associação entre ​ j uventude ​ e uma faixa etária específica. 
  
A década de 90 – juventude e diversidade 
 
O debate, principalmente a partir das décadas de 80 e 90, trouxe o olhar da diversidade. Para 
além dos cortes etários, ou apesar deles, não se fala mais em ​ j uventude​ , mas em ​j uventudes​

Sem dúvida este foi um caminho que contribuiu para fugirmos de um olhar homogeneizante. 
Helena Abramo2 nos traz, por exemplo, a importante reflexão sobre a associação entre 
juventude​ , educação e lazer, como uma construção socialmente informada. Essa seria uma 
concepção classe média que trata a ​ j uventude​  como aqueles que estão em processo de 
formação e que ainda não têm responsabilidades, principalmente por não estarem inseridos no 
mercado de trabalho. Com isto se exclui o ​ j ovem​  das classes trabalhadoras da concepção de 
juventude. ​ Esta é uma contribuição importante para ampliarmos nosso olhar sobre a 
juventude​ , mas, também, para percebermos como ​ j uventude​  é uma construção social. 
 
Pierre Bourdieu, um dos precursores no debate sobre ​ j uventude​ , apresentou uma leitura que 
gerou muita reação. Ao dizer “​ Somos sempre o jovem ou o velho de alguém​ ”, em um texto 
intitulado “Juventude é apenas uma palavra” (1983) foi amplamente interpretado como aquele 
que cunhou um olhar que reduz ​ j uventude​  a um estado de espírito. Ledo engano, o que 
Bourdieu traz é um olhar relacional sobre ​ j uventude​ . ​
Juventude​ , como qualquer outra 

1
 Thévenot ressalta como o recorte por ocupação (empregado/desempregado) só inclui os que têm mais de 17 anos, na 
medida em que até os 17 anos todos os jovens devem estar na escola, já que o ensino na França é obrigatório. Em 
recortes que tratam dos que tem menos de 17 anos estes são agrupados por escolaridade e freqüência escolar. Dessa 
forma, essa concepção de ​juventude​  seria definida a partir das normatizações do próprio Estado frnacês. Ou seja, 
esconderia o ​jovem desembpregado 
2
 Apresentação no lançamento do Livro “Retratos da Juventude Brasileira”, ISER, Rio de Janeiro, 2005. Ver também 
Abramo (1997). 
categoria social, deve ser observada a partir das relações sociais, do contexto histórico, das 
relações de poder, em que está imersa.  
 
Juventude problema – juventude vanguarda 
 
A substantivação/adjetivação de termos como ​ j ovem​  e ​
j uventude​ pode levar a generalizações 
arriscadas. Em “A Juventud es más que una palabra”​ ,​ Margulis (1996) – respondendo ao texto 
de Bourdieu citado acima – qualifica ​j uventude​ como, 
  “A  Juventude  se  ergue  como  vanguarda  portadora  de  transformações,  evidentes  ou 
imperceptíveis  nos  códigos  culturais,  e  incorpora  com  naturalidade  as  mudanças  nos 
costumes  e  nos  significados  que  foram  objetos  de  luta  para  a  geração  anterior;  sua 
sensibilidade,  sistema  perceptivo,  visão  das  coisas,  atitude  frente  ao  mundo,  sentido 
estético,  concepção  do  tempo,  valores,  velocidades  e  ritmos,  nos  indicam  que  estão 
habitando  com  comodidade  um  mundo  que  nos  vai  deixando  para  traz.”  (T.A.)” 
(1996:9)  
 
Esse olhar quase heróico sobre  ​ j uventude​  perpassa muitos trabalhos sobre o tema, nos quais 
a ​
j uventude​ aparece como agente de transformações sociais e o ​ j ovem​  como o ator social 
privilegiado. Se esta imagem de  ​ j uventude​  parece “positiva”​ , ​
carrega duas concepções 
subjacentes. A primeira a idéia de que é na ​ j uventude​  que definimos o futuro de nossas vidas. 
Talvez em sociedades de “pleno emprego” do primeiro mundo, o mito do projeto de vida faça 
mais sentido. Em sociedades onde reina a desigualdade social e o desemprego esta “escolha” 
do futuro é muito mais sonho que realidade. Segundo, a idéia de que decidimos nossas 
posições político­ideológicas frente ao mundo na ​ j uventude. ​
É comum a imagem que associa 
juventude ​e ​ rebeldia​
, no sentido de que quando ​ j ovens “​podemos tudo​ ”. ​
A idéia correlata é de 
que quando deixamos de ser ​ j ovens​  ​
 ​e ingressamos no mundo ​ adulto,​  nos tornamos sérios e 
responsáveis. Como bem apontaram Luis Papa e Luis Cláudio Longo (2001), a “transição 
individual da condição subalterna do ​ ser jovem” ​ para a condição de adulto, “é reafirmada, 
atemporalmente para a juventude,... enquanto categoria social”.  
 
A concepção de “jovem em formação” fortalece uma concepção conservadora de ​ j uventude​ . A 
disputa política se dá na sociedade das mais variadas formas, e, também, entre e com os 
jovens. ​Mas, certamente, que pelos ​ j ovens ​serem percebidos socialmente como “em 
formação” recebem um bombardeio maior da mídia, de partidos políticos, da família, da 
igreja, etc.  
 
Assim, mesmo quando se faz a crítica à substancialização ou à pré­definições etárias, em 
muitos casos, vemos ser reforçada a característica transformadora “inerente ao ​ j ovem”​ . Ou 
ainda, a inversão desse olhar que associa ​ j ovem​  à delinqüência, como nos textos que utilizam 
termos como ​ delinqüência juvenil​  para retratar determinados indivíduos que teriam em 
comum a idade e uma forma de se comportarem. Diversos estudos tratam ​ j uventude​  a partir 
do problema do aumento da violência3. Um dos efeitos da relação ​ j uventude/violência​  são 

3
 A preocupação com a delinqüência gerou diferentes abordagens em períodos históricos diversos. A associação entre 
“jovem” e delinqüência foi muito recorrente em pesquisas nas áreas de psicologia e sociologia realizadas na 
Alemanha, ver Flitner: 1963. Nos EUA a Escola de Chicago privilegiava temas como delinqüência e criminalidade, 
onde o “jovem”​  ​
aparece como um personagem em destaque. Segundo Coulon (1995), um dos trabalhos mais marcantes 
é o de Frederic Thrasher, sobre gangues em Chicago. Publicado em 1923 “​ The Gang, A study of 1313 gangs in 
Chicago​ ”, mostra que as gangs “agrupavam no início dos anos 1920 pelo menos 25 mil adolescentes e jovens 
adultos.” (1995:61) No Brasil a UNESCO vem financiando, desde a década de 90, em parceria com outras instituições 
e fundações, pesquisas que analisam a ​ juventude​ a partir de enfoques que privilegiam questões como “​violência​ ”, 
“​cidadania​” e “​
educação​ ”. Fazem parte deste esforço trabalhos como : Minayo, M. C. (et al) (1999); Sallas, A. L. (et 
al) (1999); Barreira, C. (coord.) (1999); Waiselfisz, J. (1998,2000); Castro, M. (coord.) (2001). 
definições como ​ j ovens em situação de risco​ ou ​
 ​
j uventude violente ​ que se tornaram a base 
para alguns programas sociais que pretendem reintroduzir na sociedade esses excluídos. 
Nestas duas perspectivas ​ j ovem​  carrega características que definem determinados indivíduos 
à priori.  
 
Essas muitas concepções de juventude apontam para as questões: é possível uma 
concepção/conceito de ​ j uventude? ​ Ou ainda, será esse cerne do debate? 
 
Fugindo do essencialismo : juventude em disputa 
 
A definição de juventude, seja na academia, seja no âmbito das políticas públicas, seja, ainda, 
nos movimentos sociais, é uma disputa. Essa disputa gera relações de poder.  
 
A definição de juventude construída a partir da relação ​ j uventude/violência​ , amplamente 
difundida na década de 90, parte da percepção de ​ j uventude​  como um público alvo e/ou 
“cooptável” pela violência organizada. A base dessa definição é um olhar que privilegia a 
concepção de ​ j uventude excluída​ . Essa foi uma construção que teve como ganho a visibilidade 
da ​j uventude​  como categoria social, mas, também, consolidou um olhar para ​ j uventude​  como 
uma “população” de determinada faixa etária, que está em um período transitório no seu 
processo de formação e que é alvo da violência, em todos os sentidos. Um ​ j uventude 
perigosa. Uma ​ j uventude​  que deve ser “salva”, incluída e direcionada, para finalmente por em 
movimento, o que seria intrínseco à ​ j uventude​ , a sua capacidade ​ empreendedora​ .  
 
Essa concepção de juventude e de políticas públicas não foi uma construção de movimentos 
sociais, mas teve implicações na consolidação de uma lógica pontual de se enfrentar a 
questão. O eixo dessa abordagem é a concepção de ​ empreendedorismo​ , a nova roupagem do 
“self­made­man” (o homem que constrói a si mesmo) dos velhos princípios dos primórdios do 
individualismo capitalista. Ou seja, cabe ao ​ j ovem, ​ através da ação de agentes sociais, se 
resgatar e resgatar a sua localidade. Transfere­se para o ​ j ovem​  a tarefa da 
micro­transformação social, que, multiplicada gerará grandes mudanças na qualidade de vida 
da sociedade contemporânea. Construiu­se um olhar que se tornou hegemônico sobre 
juventude,​  e sobre os tipos de ações que podem ou devem ser geradas para estes ​ j ovens em 
situação de risco​ . Através, de programas e ações se transforma o ​ j ovem em situação de risco 
em ​ j ovem protagonista.​  Esta é uma concepção que pode contribuir para afastar os ​ j ovens​ dos 
tradicionais espaços de militância política (partidos, sindicatos, movimento estudantil e até 
mesmo cristianismo progressista), do debate das grandes transformações sociais e das 
utopias. 
 
Ou seja, as concepções de ​ j uventude​  em disputa geram ideologia, geram políticas públicas, 
geram formas de se disputar a sociedade. 
 
Juventude​  é sem dúvida mais que uma palavra. Ao acionar ​ j uventude​  como forma de definir 
uma determinada população, um movimento social ou cultural, ao usar a palavra ​ j ovem​  para 
definir alguém ou para se autodefinir, estamos, também, acionando formas de classificação 
que implicam em relações entre pessoas, classes sociais, relações familiares, relações de 
poder, etc. Isto é, pessoas que vivem a experiência da vida como ​ j ovens​, e assim são 
tratados. 
 
Considero que historicamente ​ j uventude/jovem ​ tem representado, acima de tudo, relações de 
hierarquia social. ​ Juventude​  definida, seja como revolucionária/transformadora, seja como 
problema, é, muitas vezes, tratada a partir de um olhar que define hierarquicamente o papel 
social de determinados indivíduos e mesmo organizações coletivas. ​ Juventude/jovem 
associado à transitoriedade do ciclo­de­vida ou mesmo biológico, transfere para aqueles que 
assim são identificados, a imagem de pessoas em formação, incompletos, sem vivência, sem 
experiência, indivíduos, ou grupo de indivíduos que precisam ser regulados, encaminhados. 
Isto tem implicações desde a dificuldade de se conseguir o primeiro emprego, até a 
deslegitimação da sua participação em espaços de decisão. 
 
Podemos afirmar que os ​ j ovens ​ são colocados em posições de submissão, seja no espaço da 
família – principalmente as que reproduzem as estruturas patriarcais mais tradicionais –, seja 
em espaços cotidianos da sociedade. Esta situação é ainda agravada no caso de ​ j ovens 
mulheres e homossexuais.  
 
Assim, reproduz­se a idéia de um período da vida privilegiado em que a sociedade (isto é, a 
família, a escola, as organizações políticas, etc.) pode moldar pessoas, gera ações de 
controle, repressão com base na idéia de um indivíduo que ainda não é pleno e, portanto, 
também não é pleno de direitos. É este tipo de construção que legitima ações mais ou menos 
violentas, por parte dessas diferentes instituições sociais, sejam elas ações de violência física 
ou simbólica. 
 
As organizações de ​ j uventude, ​ ontem e hoje, contribuíram para a visibilidade das muitas 
juventudes​ . A principal contribuição foi demonstrar que aqueles que são organizados como 
juventude​  têm algo a dizer sobre ​ ser jovem​ , no mundo hoje, e os problemas específicos que 
enfrentam. Por outro lado, os dados estatísticos das diversas pesquisas realizadas osbre 
jovem​ , trabalhando com um corte etário de 15­24 anos, mostram como esta é uma população 
que sofre de maneira mais perversa as conseqüências das desigualdades sociais. São as 
maiores vítimas da violência, do desemprego, da pobreza. A resposta do poder público tem se 
dado a partir de políticas públicas focais.  
 
Entretanto, muitas organizações de ​ j ovens​  no Brasil mostram que os ​ j ovens​
 são vítimas não 
apenas de questões específicas, como o difícil acesso ao ensino médio e superior no Brasil, 
mas, também, dos problemas estruturais da nossa sociedade. Assim, se os programas 
específicos são bem vindos como forma de dar visibilidade e de enfrentar, ainda que com 
limitações, os problemas, não podem estar descolados de um debate de fundo. Demandas 
como as de organizações de ​ j ovens​ rurais pela transformação política nos rumos da chamada 
reforma agrária – sem os quais não só os ​ j ovens​ , mas também os “velhos”, vão sair dos 
campos – mostram que pensar políticas públicas para ​ j uventude​ tem que ir muito além do 
debate setorial. 
 
O debate sobre juventude: quais as tarefas? 
 
O debate sobre ​ j uventude​  nos Movimentos Sociais vem ganhando fôlego nos últimos anos. 
Pode­se afirmar que até a década de 80 ​ j uventude​  não era uma identidade social utilizada 
pelos militantes da maioria dos principais movimentos sociais no Brasil. No entanto, se o 
debate vem se colocando de forma cada vez mais visível, continua periférico e setorizado. Ou 
seja,  ​
j uventude​  tem que se preocupar com ​ j uventude​ . Ou ainda, como apontou Denisar 
(1993), o ​ j ovem ​ é tratado, muitas vezes, como aquele que faz tarefas práticas, que engrossa 
a passeata, que carrega o piano, mas que, ainda não está preparado para dirigir que não a 
própria ​ j uventude.  
 
O grande desafio é disputar politicamente o espaço para que aqueles que são vistos como 
jovens​ – isto é, em formação, ​ imaturos​ , ​
novos​ , que ​ainda têm muito a aprender​  – tenham o 
mesmo espaço de legitimidade política que qualquer outro militante de partido/movimento 
social. Que uma liderança estudantil/movimentos de juventude seja tratada como liderança e 
não como ​ estudante, jovem, ​ ou seja, como aquele que deve se limitar a participar dos 
espaços do ​ seu movimento. ​ Ou, ainda, que participa dos espaços de direção como uma 
maneira de ​ ir aprendendo ​ a fazer política. Está é uma concepção que reproduz ​ j ovem ​como 
um ​vir a ser. Jovem ​ não faz política e sim se forma para ​ vir a fazer ​
política um dia. Para se 
tornar um dirigente. 
 
O desafio para a ​ j uventude​  organizada de esquerda é disputar o papel da ​ j uventude​  nos 
movimentos sociais e na sociedade. Construir a partir da militância nas organizações de 
juventude, ​ partidos e movimentos sociais formulações que garantam o debate setorial do 
tema, mas como parte de políticas estruturais. Neste sentido é importante dialogar com as 
iniciativas do Governo Federal, valorizando os avanços na visibilidade que vem sendo dada à 
juventude,​  como a criaçào e consolidação da Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho 
Nacional de Juventude,​  ​
mas contribuindo para que o debate dos rumos da política econômico, 
da reforma agrária, da reforma universitária, faça parte dessa formulação sobre políticas 
públicas para a ​ j uventude brasileira. 
 
Juventude, jovens​ , estão em disputa. Essa disputa deve ser tratada em dois níveis, como 
disputa contra a submissão/papel de inferioridade que a ​ j uventude/jovem​  é colocado na 
sociedade hoje. E na disputa da própria ​ j uventude​ , daqueles que assim se identificam, nos 
rumos de uma transformação social. Nos movimentos sociais significa organizar a ​ j uventude 
ou ainda debater e disputar politicamente com a ​ j uventude​  organizada. No âmbito das políticas 
públicas significa definir que políticas setoriais, mas, principalmente, que políticas estruturais 
são prioridade para a ​ j uventude​  hoje no Brasil.  
 
Para se realizar tarefas tão complexas como essas é preciso dar condições teóricas aos 
militantes da ​j uventude​  para enfrentarem a disputa política. Um caminho para esse processo é 
a formação política e teórica para aprofundar o que entendemos por ​ j uventude ​ hoje. 
 
 
 
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