Inseto Configurado

Tecnologia de armazenagem em sementes
CAPÍTULO 7
ASPECTOS BIOLÓGICOS E TAXONÔMICOS DOS

PRINCIPAIS INSETOS-PRAGA DE PRODUTOS
ARMAZENADOS
Dra. Lêda Rita D'Antonino Faroni

Adalberto Hipólito de Sousa
371
Aspectos biológicos e taxonômicos dos principais insetos-praga de produtos armazenados
372
ASPECTOS BIOLÓGICOS E TAXONÔMICOS DOS PRINCIPAIS

INSETOS-PRAGA DE PRODUTOS ARMAZENADOS
Lêda Rita D'Antonino Faroni1

Adalberto Hipólito de Sousa2
1
Professor do Departamento de Engenharia Agrícola,
2
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Entomologia
Universidade Federal de Viçosa,
36570-000 - Viçosa, MG.
E-mail: lfaroni@ufv.br;
7.1. Introdução
É grande o número de espécies de pragas que se encontram em

produtos armazenados e seus subprodutos. Dentre estas, destacam-se os
insetos como um dos mais importantes agentes responsáveis pelas perdas no
período de pós-colheita. A maioria das espécies é cosmopolita, em razão
principalmente dos intercâmbios comerciais.
Os insetos que se desenvolvem em produtos armazenados apresentam
características de acordo com o ambiente em que se encontram os produtos.
São pequenos e adaptados a ambientes muito secos e escuros. Quanto ao
hábito alimentar, estes insetos são classificados como primários, capazes de
romper o grão para atingir o endosperma; secundários, incapazes de romper
o grão, geralmente se estabelecem sobre os danos causados pelos primários
e insetos associados, que se alimentam de detritos e fungos, considerados
pragas pela sua presença e não pelos danos que causam.
Os insetos se classificam em grupos com características gerais,
chamadas ordens; por sua vez, as ordens se dividem em famílias e, estas, em
gêneros, que agrupam várias espécies. Uma espécie engloba os indivíduos
com morfologia similar, hábito alimentar comum, capazes de reproduzirem-
se entre si, constituindo a base de referência para sua identificação e
denominação.
Os principais insetos de grãos e subprodutos armazenados pertencem à
ordem Coleoptera, pequenos gorgulhos, e à ordem Lepdoptera, mariposas
ou traças. Os coleópteros são muito resistentes, o que lhes permite
movimentar por reduzidos espaços entre os grãos, inclusive nas grandes
profundidades dos silos e graneleiros. Os lepidópteros são frágeis e, em
geral, permanecem na superfície da massa de grãos, causando, assim, menos
prejuízos que os coleópteros. Os grãos e subprodutos podem também,
373
ocasionalmente, ser infestados por insetos muito pequenos, de hábito

alimentar associado, pertencentes à ordem Psocoptera.
7.2. Ordem Coleoptera
A ordem Coleoptera contém cerca de 40% das espécies conhecidas

da classe Insecta. Mais de 250.000 espécies desta ordem já foram descritas.
Uma das características marcantes dos coleópteros é a estrutura das asas. A
maioria possui quatro asas, com o par anterior espesso, coriáceo ou duro e
brilhante, usualmente com uma linha reta ao longo da porção mediana do
dorso, cobrindo as asas posteriores. As larvas e os adultos apresentam
aparelho bucal mastigador. As larvas podem ter patas ou não (ápodas); sua
metamorfose é completa.
Pertence à ordem Coleoptera grande parte dos chamados gorgulhos

ou carunchos do arroz, milho, trigo, feijão, da farinha, etc. As principais
espécies encontram-se agrupadas nas famílias Curculionidae, Bostrichidae,
Tenebrionidae, Cucujidae, Silvanidae, Bruchidae, Anobiidae e Anthribidae.
Família Curculionidae
Nesta família, cerca de 30 espécies de insetos-praga já foram

encontradas em produtos armazenados. Os insetos adultos são
caracterizados pelo prolongamento cefálico em forma de tromba (Figura 1),
estrutura conhecida como rostro, onde encontram-se as peças bucais.
Figura 1. Adulto de Sitophilus zeamais.

Foto: SOUSA, A. H.
Embora esta família agrupe muitas pragas agrícolas destrutivas,

apenas as espécies do gênero Sitophilus são importantes como pragas de
produtos armazenados. Os adultos desse gênero são de vida longa,
374
aproximadamente um ano. Cada fêmea chega a ovipositar até 150 ovos, os

quais são inseridos, um a um, em pequenas cavidades que faz nos grãos.
Após a eclosão dos ovos, o que, em média, leva seis dias em temperatura de
25 °C, as larvas adentram os grãos, onde se desenvolvem. São canibais dos
indivíduos fracos ou pequenos. Por este motivo, raramente emerge mais de
um indivíduo adulto de grãos pequenos, como de trigo ou arroz. Em grãos
maiores, como de milho, onde a probabilidade de duas larvas se
encontrarem é menor, dois ou três insetos adultos podem emergir de um
grão. O desenvolvimento completo é possível entre 15 e 35 °C, em cerca de
35 dias, em condições ótimas, que são 27 °C e 70% UR. As fazes jovens
apresentam menor viabilidade em grãos com teor de umidade menor que
13%; abaixo de 10%, freqüentemente os insetos param de ovipositar. O
desenvolvimento é acelerado em grãos com teor de umidade entre 14 e 16%.
As espécies S. zeamais (Motschulsky), S. oryzae (L.) e S. granarius
(L.) são as mais destrutivas de cereais armazenados. S. zeamais e S. oryzae
são cosmopolitas, especialmente abundantes em regiões tropicais com
temperaturas moderadas. Em regiões de frio moderado, como o nordeste da
Europa, a espécie predominante é S. granarius, que também é encontrada
em regiões tropicais muito frias.
S. granarius é semelhante a S. zeamais e S. oryzae, porém podem ser
diferenciados pela ausência de asas posteriores (vestigiais) em S. granarius
e pela forma oval das pontuações sobre o pronoto. S. zeamais e S. oryzae
têm pontuações redondas no pronoto, asas posteriores e apresentam quatro
manchas amarelo-avermelhadas nos élitros; podem voar, mas esta
habilidade é maior em S. zeamais. Não podem ser precisamente
diferenciados pelas características externas. Para discerni-los, é necessário o
estudo da genitália. Em S. zeamais, a superfície superior do aedeagus é
achatada e apresenta dois sulcos longitudinais (Figura 2a); em S. oryzae, é
uniformemente convexa (Figura 2b).
A B
Figura 2. Aedeagus de S. zeamais (A) e de S. oryzae (B).
Fonte: http://anic.ento.csiro.au/database/index.asp.
375
Essas três espécies atacam grãos armazenados e produtos de cereais

processados, como macarrão e produtos desidratados. S. zeamais é praga de
grãos de milho, trigo, arroz e sorgo, com preferência marcante por milho; S.
oryzae é encontrada, principalmente, em grãos de arroz, trigo e sorgo; S.
granarius é praga de grãos de trigo, arroz, milho, cevada, aveia e sorgo.
Outros curculionídeos têm sido encontrados, em menor escala, como pragas
de armazenamento, por exemplo Caulophilus oryzae (Gyllenhal);
diferenciam-se de Sitophilus sp. pelo rostro curto. São encontrados sobre
grãos de milho macios ou danificados nos estados do sudeste dos Estados
Unidos, no México e na América Central. Espécies de Catolethrus têm sido
encontradas na África, América Central e no México, infestando milho em
espigas armazenadas.
Família Bostrichidae
Os insetos adultos desta família são alongados, mais ou menos

cilíndricos, com a cabeça dobrada para baixo e pouco visível superiormente;
antena com clava composta por três a quatro segmentos (Figura 3). São,
principalmente, broqueadores de madeira. Algumas espécies têm migrado
do seu hábitat para se transformar em pragas primárias de grãos,
leguminosas, raízes e tubérculos secos. Não são rápidos para caminhar por
possuírem pernas curtas, no entanto são bons voadores. As larvas são de
forma curvada, com três pares de patas, que lhes dão certa mobilidade. As
espécies Rhyzopertha dominica (F.), Prostephanus truncatus (Horn) e
Dinoderus diminutus (F.) são as principais espécies-praga de produtos
armazenados desta família.
Figura 3. Adulto de R. dominica.

Foto: Sousa, A. H.
376
P. truncatus (maior broqueador dos grãos)
O adulto de P. truncatus apresenta o corpo com formato cilíndrico,

mede de 3,0 a 4,2 mm, apresenta coloração café-escura a quase negro. É
semelhante a R. dominica e D. minutus, diferenciando-se na terminação dos
élitros, que são achatados e abruptamente inclinados posteriormente, com
duas carenas laterais pronunciadas na região da declividade (Figura 4b). Os
adultos broqueiam os produtos, formando orifícios redondos. À medida que
broqueiam os grãos, deixam, em abundância, o pó que pode ser utilizado
como ferramenta para detectar sua presença. É uma praga primária, de
grande capacidade destrutiva de milho em climas quentes, podendo atacar
os grãos antes e depois da colheita. Também é capaz de atacar trigo e
madeira. Encontra-se nas zonas tropicais e quentes da América Central, do
México, extremo sul dos Estados Unidos, noroeste da América do Sul e
África. A condição ótima para o seu desenvolvimento é 32 °C e 80% UR.
Nessas condições, o período de ovo até adulto ocorre em torno de 35 dias, e
se alarga para 78 dias, a 22 oC e 50% UR. São capazes de sobreviver em
grãos de milho com 9% de umidade.
A
B
Figura 4. Adulto de R. dominica (A) e de P. truncatus (B).
R. dominica (menor broqueador dos grãos)
É considerada uma das pragas primarias mais destrutivas dos grãos

armazenados. O adulto apresenta coloração castanha a marrom-escura; mede
cerca de 2,5 a 3,0 mm; apresenta pronoto arredondado anteriormente, com
aparência rugosa; élitros fortemente esclerosados, apicalmente convexos,
377
com fileiras de pontuações definidas e com cerdas curvadas para trás. Ataca,
principalmente, grãos de trigo, arroz em casca, ou beneficiado; ocorrendo
também em sorgo, milho, cevada, etc.
Fêmeas desta espécie chegam a ovipositar até 400 ovos na superfície

dos grãos ou entre eles. Os ovos são brancos com uma superfície áspera. A
incubação varia de 5 a 21 dias, em função da temperatura. Ao emergirem, as
larvas podem penetrar no interior dos grãos, dos quais se alimentam, por
aberturas feitas pelos adultos ou por elas próprias. A condição ótima para o
seu desenvolvimento é entre 32 e 35 °C e 70% UR. À medida que se reduz a
temperatura, o potencial de multiplicação diminui progressivamente, em
razão do aumento do tempo necessário para o desenvolvimento das fases
jovens e da redução da fertilidade das fêmeas. Entre 30 e 35 °C, este inseto
pode atingir até sete gerações no ano, quando alimentam-se de trigo. Os
adultos apresentam uma longevidade média de quatro a seis meses.
D. diminutus (broca-do-bambu)
É uma praga amplamente distribuída nos trópicos. O adulto mede

entre 2,5 e 4,0 mm. No pronoto, apresenta fileiras de “dentes” na porção
anterior e um par de pequenas depressões na linha mediana próximo às
margens superiores (Figura 5). É uma praga problemática em áreas de
armazenamento de bambu; seu ataque severo pode resultar na redução de
bambus a pó ou fibras. Pode atacar também produtos armazenados como
raízes, cacau, amido, farinha de sagu, cereais, etc.
Figura 5. Pronoto de D. minutus.

378
Família Tenebrionidae
Esta família compreende insetos de hábito alimentar secundário, que

apresentam características taxonômicas bastante variadas e podem ser
distinguidos pela fórmula tarsal 5-5-4, pelas cavidades das coxas anteriores,
que são fechadas posteriormente, pelas antenas quase sempre de onze
segmentos e filiformes ou moniliformes. É uma família muito grande, com
mais de 10.000 espécies de insetos conhecidas, das quais 100 têm sido
encontradas associadas a produtos armazenados. Muitas dessas espécies
estão entre as mais importantes pragas secundárias de produtos
armazenados. Os adultos medem de 3,0 a 10 mm de comprimento; são
castanho-avermelhados a preto, achatados e de lados paralelos (Figura 6).
Das muitas espécies encontradas em produtos armazenados, poucas são bem
adaptadas em ambientes muito secos. Entre as espécies mais importantes
destacam-se Tribolium castaneum (Herbst), T. confusum Jacquelin Du Val,
Gnatocerus cornutus (F.), G. maxillosus (F.), Alphitobius diaperinus
(Panzer), A. laevigatus (F.), Latheticus oryzae Waterhouse, Tenebrio
molitor (L.) e T. obscurus (F.).
Figura 6. Adulto de T. castaneum.

Foto: Sousa, A. H.
Tribolium sp.
Algumas espécies de Tribolium têm sido encontradas nos armazéns,

no entanto as mais importantes são T. castaneum e T. confusum. Ambas são
cosmopolitas, e T. castaneum tem sido encontrada, com maior freqüência,
379
nos trópicos, em regiões de temperatura moderada; enquanto T. confusum é

mais comum em regiões temperadas. São insetos castanho-avermelhados e
medem de 3,0 a 4,0 mm de comprimento. Podem ser diferenciados pela
distância entre os olhos, que é estreita em T. castaneum (0,3 a 0,4 mm)
(Figura 7a) e larga em T. confusum (0,4 a 0,5 mm) (Figura 7b), quando
observados ventralmente.
A B
Figura 7. Vista ventral de adultos de T. castaneum (A) e de T. confusum (B).

Foto: Sousa, A. H.
Adultos de T. castaneum podem viver por muitos meses, ou até anos,

em condições ideais de temperatura. O ciclo de vida pode ser completado
em aproximadamente 21 dias em condições ótimas, 35 °C e 75% UR,
podendo completar o desenvolvimento entre 20 e 40 °C. A condição ótima
para o desenvolvimento de T. confusum está entre 30 e 35 °C, mas a 34 °C e
72% UR, o ciclo pode ser completado em 26 dias. Ambas as espécies
podem voar, mas esta habilidade é maior em T. castaneum, especialmente
em condições tropicais. Como resultado, eles são os primeiros insetos a
reinfestar os produtos após a fumigação.
Diversas outras espécies de Tribolium são associadas a produtos

armazenados. T. destructor (Uyttenboogaart) tem sido encontrada na Europa
e em regiões frias da África e Ásia. Uma espécie africana, T. anaphe
Hinton, tem sido registrada em cacau, sementes de palmeiras e
principalmente em sementes de algodão. T. madens (Charpentier) tem sido
observada em grãos armazenados na Europa e no norte da África. Outras
espécies similares, como T. audax (Halstead), são aparentemente restritas à
América do Norte.
380
Gnatocerus sp.
Assemelham-se a Tribolium na forma e cor. Os machos têm as

mandíbulas projetadas em forma de chifre, bem mais largas na base do que
nas extremidades em G. cornutus (Figura 8a) e pouco mais estreitas no
ápice do que na base em G. maxillosus (Figura 8b). Fêmeas de Gnatocerus
não possuem projeções mandibulares, mas em G. cornutus a parte mais
larga da cabeça compreende a região anterior aos olhos; em G. maxillosus, a
região posterior aos olhos.
A B
Figura 8. Vista dorsal de adultos de G. cornutus (A) e ventral de G.

maxillosus (B).
Foto: Sousa, A. H.
A taxa ótima de desenvolvimento de Gnatocerus sp. é menor que a

das espécies de Tribolium, conseqüentemente são pragas menos
importantes. Os adultos podem viver cerca de um ano. G. cornutus
predomina nas regiões temperadas moderadas e tropicais; prefere se
alimentar de farinha, mas pode ser encontrada em grande variedade de grãos
de cereais e sementes de oleaginosas. Desenvolve-se em temperaturas entre
15 e 32 °C; seu ciclo biológico pode ser completado em 57 dias em
temperaturas entre 24 e 30 °C com 67 a 92% UR. G. maxillosus predomina
em regiões tropicais e subtropicais; é praga secundária de milho em espiga
antes da colheita, de trigo e outros cereais, podendo atacar grãos de milho e
amendoim no armazenamento.
381
Sobrevivem em temperaturas entre 17 e 37 °C e 6 a 100% UR; seu

ciclo biológico pode ser completado entre 34 e 40 dias em temperaturas
próximas a 29 °C, a 25% UR.
Alphitobius sp.
Apresentam coloração castanho-avermelhada a preto; medem de 5,0

a 8,0 mm de comprimento e são mais arredondados que Tribolium (Figura
9a). As espécies A. diaperinus e A. laevigatus são tipicamente encontradas
em armazéns; podem ser diferenciadas pela divisão dos olhos. Em A.
diaperinus, os olhos são parcialmente divididos pela margem lateral da
cabeça, que se prolonga por cerca de 1/2 a 2/3 dos olhos (Figura 9b). Já em
A. laevigatus, os olhos são quase completamente divididos pelo
prolongamento da margem lateral da cabeça.
A B
Figura 9. Vista dorsal (A) e lateral do olho (B) do adulto de A. diaperinus.

Foto: Sousa, A. H.
A. diaperinus é uma espécie cosmopolita, praga secundária de grãos,

que se alimenta de subprodutos de cereais, rações umedecidas e resíduos
embolorados. Esta espécie é uma das pragas mais importantes que atacam
criações comerciais de frango de corte em todo o mundo. É hospedeira de
microrganismos patogênicos às aves, provocando ferimentos no seu trato
digestivo e afetando a conversão alimentar. A condição ideal para o seu
desenvolvimento é a 33 ºC e 95% UR. A 32 °C, o ciclo biológico dura
aproximadamente 46 dias; a 21 °C varia de 60 a 85 dias. A 10 °C, as fêmeas
não ovipositam e as larvas não sobrevivem. A espécie A. laevigatus
382
apresenta semelhança com A. diaperinus quanto à biologia e ao ciclo de

vida. É encontrada em resíduos úmidos e mofados, atacando cereais e
oleaginosas.
Latheticus oryzae Waterhouse
É uma praga cosmopolita de importância relativa nos trópicos e

pouco significativa em regiões de clima temperado e frio. Mede de 2,7 a 3,0
mm de comprimento, tem corpo delgado e achatado, semelhante a
Tribolium, porém mais afilado e de cor mais clara, marrom-amarelada; o
último segmento da antena é muito mais estreito que os outros (Figura 10).
A condição ideal de desenvolvimento é a 35 °C e 85% UR. Tem sido
encontrada atacando grãos danificados de trigo, arroz, milho, cevada,
sementes de oleaginosas, produtos processados, etc.
Figura 10. Adulto de L. oryzae.

Tenebrio sp.
Duas espécies, T. molitor L. e T. obscurus F., são as mais freqüentes

desta família no setor de armazenamento. T. molitor mede cerca de 15 mm,
apresenta coloração marrom-escura ou preta-brilhante e o pronoto possui
pontuações não contíguas. T. obscurus mede cerca de 13,5 mm, apresenta
coloração preta opaca e o pronoto possui várias pontuações contíguas. Essas
espécies são muito resistentes ao frio e amplamente encontradas em áreas
temperadas; alimentam-se de produtos de origem vegetal e animal, mas é de
pouca importância como praga devido à baixa taxa de crescimento que
383
apresenta. A temperatura ótima para o desenvolvimento é de 25 °C, tendo-se

observado que, nessa temperatura e a 75% UR, o ciclo se completa em cerca
de 520 dias.
Família Cucujidae
Os adultos desta família são caracteristicamente achatados e, em

geral, medem de 1,5 a 2,5 mm de comprimento. As antenas são longas, com
onze segmentos, e filiformes; geralmente medem a metade ou mais do
comprimento do corpo (Figura 11). Os membros do gênero Cryptolestes são
as pragas secundárias mais comuns de cereais e subprodutos armazenados,
associadas freqüentemente a pragas primárias. Em razão do corpo achatado,
estas espécies podem infestar grãos pouco danificados, entrando pelas
pequenas trincas, ou em pacotes de alimentos processados. Cada fêmea
oviposita cerca de 200 ovos, soltos entre os grãos ou material farináceo.
Figura 11. Adulto de C. ferrugineus.

Foto: Sousa, A. H.
Oito espécies de Cryptolestes têm sido registradas infestando

produtos armazenados. C. ferrugineus (Stephens) é a espécie mais comum e
largamente distribuída, independente da temperatura. A condição ideal para
o seu desenvolvimento é 33 °C e 70% UR, quando o seu ciclo se completa
em 23 dias. C. pusillus (Schönherr) é menos resistente a baixas temperaturas
e umidade, sendo mais comum em regiões tropicais úmidas e regiões
temperadas mais quentes. C. pusilloides (Steel & Howe) é particularmente
sensível à baixa umidade; tem sido registrada em regiões tropicais e
384
subtropicais do Hemisfério Sul. C. turcicus (Grouvelle) pode ser encontrada

na maioria das regiões temperadas, especialmente em condições úmidas. C.
capensis (Waltl) ocorre na Europa e no norte da África e, provavelmente,
estabeleceu-se na África do Sul. C. ugandae (Steel & Howe) é restrita à
África tropical. C. klapperichi (Lefkovitch) é uma espécie pouco conhecida
e, inicialmente, foi registrada no Afeganistão, mas foi também encontrada
no sul e sudeste da Ásia. C. cornutus (Thomas & Zimmerman) é uma
espécie recentemente descrita, foi encontrada na Califórnia atacando
pimentas secas procedentes da Tailândia. A identificação das espécies de
Cryptolestes, por meio de características externas, é difícil em razão das
variações morfológicas intra-específicas e entre os sexos. Dessa forma, o
exame da genitália é aconselhável nesse gênero.
Família Silvanidae
Os membros desta família medem, em geral, de 2,0 a 4,0 mm de

comprimento, são alongados e achatados. Algumas espécies têm projeções
em forma de dentes no protórax; antena clavada com onze segmentos;
élitros cobrindo completamente o abdome (Figura 12); nunca apresentam os
tarsos munidos de lobo inferior. São poucas as espécies associadas aos
produtos armazenados, Oryzaephilus surinamensis (L.) e O. mercator
(Fauvel) são as mais importantes.
Outras como Carthartus quadricollis (Guerin) e Ahasverus advena

(Walt) são freqüentemente encontradas no setor de armazenamento, mas
geralmente apresentam menor importância.
Figura 12. Adulto de O. surinamensis.

Foto: Sousa, A. H.
385
Oryzaephilus sp.
As espécies desse gênero são pragas secundárias comuns em grãos,

produtos de cereais, frutas secas, sementes de oleaginosas, etc. O.
surinamensis é mais freqüentemente associado aos cereais e seus
subprodutos, enquanto O. mercator prefere sementes oleaginosas e produtos
com alto teor de óleo. Os adultos medem de 2,5 a 3,5 mm de comprimento.
As espécies O. surinamensis e O. mercator apresentam, no protórax, seis
projeções em forma de dentes de cada lado. Ambas as espécies são muito
semelhantes, entretanto O. surinamensis têm olhos menores, com a região
posterior equivalente a 2/3 de seu comprimento e a cabeça apresenta
formato quase triangular (Figura 13a). Já em O. mercator, a região posterior
aos olhos é menor que 1/3 do seu comprimento e a cabeça apresenta formato
quase retangular (Figura 13b). As condições ideais para o desenvolvimento
de O. surinamensis e O. mercator são, respectivamente, 32,5 a 35 °C com
90% UR e 30 a 32,5 °C com 90% UR.
A B
Figura 13. Vista dorsal de O. surinamensis (A) e O. mercator (B).

Carthartus quadricollis (Guerin)
Apresenta semelhança com Oryzaephilus, no entanto o adulto de C.

quadricollis apresenta o protórax aproximadamente quadrado e não possui
dentes laterais (Figura 14). Mede cerca de 2,0 a 3,0 mm de comprimento. É
uma praga comum em cereais, frutos secos e cacau. Em temperaturas altas e
regiões tropicais, como o sul dos Estados Unidos, a América Central e o
oeste da África, ataca milho no campo e é muito comum nos trópicos como
praga de milho armazenado por pequenos produtores para subsistência. O
386
ciclo de vida é completado em menos de 20 dias em temperatura entre 27 e

28,5 °C e 80 a 85% UR.
Figura 14. Adulto de C. quadricollis.

Foto: Sousa, A. H.
Ahasverus advena (Walt)
É ligeiramente pequeno, mede de 2,0 a 3,0 mm, no entanto é mais

robusto que Oryzaephilus. Em cada esquina do protórax, há um dente
pontiagudo (Figura 15). A. advena tem uma distribuição cosmopolita e é
comum em larga variedade de produtos alimentícios, geralmente em alta
umidade, ou quando ocorre o crescimento de fungos. A 30 °C e 70% UR, o
período de ovo a adulto é de 30 dias; não se desenvolvem satisfatoriamente
em umidades relativas abaixo de 65%.
Figura 15. Adulto de A. advena.

Fonte: http://cedarcreek.umn.edu/insects/.
Família Bruchidae
São insetos-praga de hábito alimentar primário, que atacam,

preferencialmente, grãos de leguminosas. Os membros desta família
387
apresentam corpo robusto e estreitado na região anterior; antenas longas;

élitros estriados (Figura 16a) e curtos, deixando o ápice do abdome exposto,
pigidium (Figura 16b). As espécies mais importantes desta família são
Acanthoscelides obtectus (Say), Callosobruchus maculatus (F.) e Zabrotes
subfasciatus (Boh.). Outras como Bruchus sp, Bruchidius sp. e Specularius
sp., embora sejam importantes pragas do campo, não sobrevivem por muito
tempo nos grãos secos e, geralmente, morrem no armazenamento. Os
insetos adultos desta família são muito ativos e podem correr e voar
rapidamente. Em condições ótimas (30-35 ºC, 70-90% UR), o
desenvolvimento é completado entre 22 e 25 dias para A. obtectus, C.
maculatus e Z. subfasciatus. As temperaturas mínimas para as três espécies
são em torno de 15, 18 e 20 °C.
A B
Figura 16. Vista dorsal (A) e lateral do último segmento abdominal (B) de
membros da família Bruchidae.
Foto: Sousa, A. H.
As principais espécies podem ser facilmente identificadas pelas

características nas pernas posteriores dos adultos. O fêmur da perna
posterior de Acanthoscelides apresenta três estruturas com formato de
dentes enfileirados, sendo um grande seguido por dois ou três menores,
ventralmente e próximos ao ápice (Figura 17a). Na espécie de C. maculatus,
o fêmur da perna posterior apresenta uma borda elevada ventralmente, com
um dentre próximo ao ápice (Figura 17b). Z. subfasciatus tem dois esporos
móveis sobre a extremidade da tíbia posterior e não apresenta estruturas
com formato de dentes enfileirados no fêmur posterior (Figura 17c).
Os ovos desses insetos são colocados sobre as vagens ou diretamente

sobre as sementes das leguminosas. C. maculatus e Z. subfasciatus aderem
388
seus ovos firmemente sobre a vagem ou grãos, enquanto A. obtectus

oviposita livremente nas trincas e rachaduras dos grãos ou vagens. Depois
da eclosão, as larvas furam e entram imediatamente no grão.
A B C
Figura 17. Pernas posteriores de A. obtectus (A), C. maculatus (B) e Z.

subfasciatus (C)
Fotos A e B: Sousa, A. H.; Foto C:
http://anic.ento.csiro.au/database/index.asp.
A. obtectus, importante praga de feijão Phaseolus, é largamente

encontrado na América Central e do Sul. Esta espécie é amplamente
distribuída na maioria das regiões tropicais e temperadas. A espécie C.
maculatus é uma importante praga de feijão Vigna, ervilha, grão-de-bico e
lentilha. Atualmente encontra-se distribuída em todas as regiões tropicais e
subtropicais. Z.subfasciatus ataca principalmente os feijões Phaseolus e
Vigna e também infesta ervilha; é encontrada, particularmente, nas regiões
tropicais e subtropicais da América Central e do Sul, de onde é originário.
Família Anobiidae
São insetos pequenos, ovais ou cilíndricos, com o protórax

cobrindo parcialmente a cabeça quando está deflexionada. As antenas, em
geral, são formadas por onze segmentos e, em algumas espécies, os últimos
segmentos são maiores. Os élitros cobrem completamente o abdômen.
Encontram-se, em diversas partes do mundo, em produtos armazenados
secos de origem vegetal ou animal; muitos são broqueadores de madeira.
Apenas as espécies Lasioderma serricorne (F.), conhecida com “bicho-do-
fumo”, e Stegobium paniceum (L.) são importantes pragas de produtos
armazenados.
389
Lasioderma serricorne (F)
É um inseto de cor castanho-avermelhada, que mede de 2,0 a 3,0

mm. O adulto tem forma ovalada, cabeça pequena, coloração castanho-
avermelhada, antenas longas inteiramente serradas, élitros sem estrias (lisos)
e corpo coberto com fina pubescência (Figura 18). As fêmeas ovipositam
em pequenas fendas nos fardos de fumo ou nos charutos, nunca nas folhas
de fumo no campo. Logo após a eclosão, as larvas são ágeis e abrem
galerias cilíndricas nas folhas do fumo; quando desenvolvidas, consomem
áreas extensas das folhas. Além de praga primária do fumo, o adulto pode
perfurar embalagens de plástico, causando sérios problemas em produtos
alimentícios, como frutos secos, grãos, farelos, farinhas e rações. As
condições ótimas de desenvolvimento compreendem temperaturas em torno
de 32 °C e 75% UR. Em folhas de fumo, sob temperatura de 26 a 28 °C e 70
a 85% UR, a duração do ciclo é em média de 68 dias. A atividade do inseto
adulto cessa completamente em temperaturas abaixo de 15°C.
Figura 18. Adulto de L. serricorne.

Stegobium paniceum (L.) (gorgulho-da-farinha)
Esta espécie é semelhante a L. serricorne. As características que os

diferenciam são os élitros estriados e a presença de uma clava grande e solta
trissegmentada na extremidade das antenas (Figura 19). Pode infestar
mercadorias processadas, como chocolates e biscoitos. Também tem sido
encontrada em grãos armazenados, frutos secos, cogumelos secos, gengibre,
medicamentos, condimentos, etc. É uma espécie cosmopolita, mas prefere
climas temperados e tropicais. Seu ciclo biológico é de 40 dias na
temperatura de 30 oC e 60 a 90% UR. A fêmea oviposita aproximadamente
390
40 ovos, que, dependendo das condições ambientais, podem tardar mais de

três meses para se transformar em adultos. As larvas são esbranquiçadas,
cobertas de pilosidade e não muito móveis.
Figura 19. Adulto de S. paniceum.

Fonte: www.bioimages.org.uk/ html/p2/p26776.htm.
Família Anthribidae
Membros desta família são normalmente encontrados sobre fungos,

em ramos mortos ou sob cascas secas de árvores. Embora seja uma família
numerosa, apenas a espécie Araecerus fasciculatus (De Geer) (gorgulho-da-
tulha, gorgulho-do-café, caruncho-do-café) tem importância econômica para
o setor de armazenamento. É uma praga importante de grãos de café, sendo
capaz de atacar uma grande variedade de produtos, como cacau, algodão,
feijão, amendoim, milho, noz-moscada e frutos secos. O adulto de mede
cerca de 3,0 a 5,0 mm de comprimento, é muito ativo, apresenta um focinho
curto e alargado, corpo robusto e coberto por pêlos brilhantes, coloração
escura com manchas claras e antenas geniculadas. Em razão de sua grande
capacidade de vôo, infestam os produtos no campo, continuando durante o
armazenamento. Em grãos de café, a fêmea deposita os ovos em orifícios
que faz nas proximidades do embrião; passados cinco a oito dias da postura,
nascem as larvas, que penetram nos grãos, corroendo-os em diversas
direções.
391
Figura 20. Adulto de A. fasciculatus.

Fonte: http://www.centreinar.org.br/pragas/index.html.
A faixa ótima de temperatura para o seu desenvolvimento é de 28 a

32 °C e 100% UR. O período de desenvolvimento é muito influenciado pelo
conteúdo de umidade e substrato. O ciclo biológico em café se dá entre 46 e
66 dias, a 28 °C e 70% UR. Não se desenvolvem em temperatura baixa.
7.2. Ordem Lepdoptera
Pertencem a esta ordem os insetos chamados de mariposa, mariposa-

noturna ou traças, somando aproximadamente 165.000 espécies descritas,
das quais 70 constituem pragas de produtos armazenados. Os adultos
caracterizam-se por terem quatro asas membranosas cobertas de escamas,
que podem ter ou refletir diferentes cores ou agruparem-se para formar
manchas com diversos desenhos que facilitam sua identificação. Assim
como as asas, o corpo também é coberto por escamas e pêlos curtos. O
aparelho bucal da maioria das espécies tem a forma de uma tromba
espiralada, chamada espirotromba ou probóscida. Apresentam metamorfose
completa.
As larvas possuem aparelho bucal mastigador e a cabeça é bem

desenvolvida, com forma de gusano, três segmentos torácicos e dez
segmentos abdominais. Apresentam quase sempre três pares de patas nos
segmentos torácicos e, em alguns segmentos abdominais, falsas pernas,
sendo esta uma característica comum às larvas dos insetos-praga de
produtos armazenados. Durante o desenvolvimento, as larvas, da maioria
das espécies, produzem fios de seda em abundância, que, junto aos grãos,
podem causar danos ao maquinário das indústrias de alimentos. No final do
seu desenvolvimento, empupam formando um casulo, quando torna-se mais
392
fácil de ser observada. As famílias de maior importância no armazenamento

de grãos, nas condições brasileiras, são Gelechiidae e Pyralidae.
Família Gelechiidae
Sitotroga cerealella (Olivier) é uma das espécies capazes de infestar

grãos intactos. As asas anteriores são douradas, com alguns pontos negros,
não apresentam partes de outras cores, são sedosas, brilhantes, terminadas
em ponta, e a margem anterior coberta por escamas escuras; as asas
posteriores também são sedosas e brilhantes, apresentam pêlos compridos
na margem posterior e ápice pontiagudo, em forma de dedo (Figura 21a). É
um inseto que mede de 5,0 a 6,0 mm de comprimento e 11 a 16 mm de
envergadura, isto é, com as asas estendidas. A cabeça tem cor clara e palpos
labiais curvados, com uma ponta de cor escura (Figura 21b).
A B
Figura 21. Adulto de S. cerealella, vista dorsal (A) e demonstrativo dos
palpos labiais (B).
S. cerealella é uma praga primária de grãos de cereais, como trigo,

milho, arroz, sorgo, cevada e aveia. Ataca, no campo, os grãos que já têm
certa maturidade fisiológica ou que estão secando. Em silos ou graneleiros,
o ataque se dá nas camadas superficiais dos grãos, destruindo-os,
diminuindo o seu peso e o valor nutritivo. Quando os grãos infestados
encontram-se em grande profundidade da massa, os adultos não conseguem
chegar à superfície.
393
Em relação a sua biologia, a princípio os ovos são brancos,

translúcidos e medem aproximadamente 2,0 mm de comprimento. São
colocados em fissuras e tomam o contorno do local onde foram depositados;
depois de quatro a oito dias, tornam-se rosados e eclodem. Após a eclosão,
as larvas furam o grão, escavando uma câmara de forma cilíndrica, que é
alargada à medida que crescem. Os grãos grandes podem conter mais de
uma larva. Antes de se transformar em pupa, a larva escava o tecido da
semente, deixando uma “janela” transparente e circular. A larva então corta
a cutícula parcialmente à volta da circunferência da janela, deixando uma
aba, que é facilmente removida pelo adulto emergente.
As fêmeas acasalam logo depois da emergência, uma ou mais vezes.

A oviposição começa bem próximo do primeiro acasalamento, sempre no
primeiro dia de vida adulta. A média de ovos por fêmea é de 100 a 150. Sua
condição ótima de desenvolvimento é 32 °C e 75% UR. O crescimento é
reduzido em temperaturas abaixo de 16 °C ou acima de 36 °C. A umidade
relativa mínima requerida é de 25% e a máxima de 80%. Se as condições de
temperatura e umidade são apropriadas, o ciclo biológico se completa em
cinco semanas; à medida que a temperatura diminui, este tempo aumenta. A
longevidade do adulto é prolongada notavelmente se a água é disponível.
Família Pyralidae
É constituída por diversas subfamílias de importância econômica,

das quais Phycitinae, Galleriinae e Pyralinae são as que ocasionam maiores
problemas aos grãos e diversos produtos armazenados. Os adultos são
geralmente pequenos, de cor não muito brilhante, antenas bem
desenvolvidas, presença de ocelos, palpus labiais retos e curvados, sem
cerdas laterais. As asas anteriores, em geral, apresentam manchas de
diversas formas. Nas asas posteriores, as nervuras Sc e Rs são quase
paralelas ou fundidas após a célula discal, e apresentam comprimento menor
do que a metade da largura da asa.
Subfamília Phycitinae
Plodia interpunctella (Hübner)
É uma espécie cosmopolita, comum nas regiões tropicais e

subtropicais. É praga secundária de grãos de cereais e primária de grãos e
394
outros produtos destinados à moagem.O adulto mede cerca de 18 mm de

envergadura e é bem distinto em suas cores; as asas anteriores são de cor
amarelada e café, e as posteriores esbranquiçadas (Figura 22). As larvas, em
completo desenvolvimento, chegam a atingir 13 mm de comprimento e sua
cor vai do branco-amarelado ao verde. Possuem três pares de patas
verdadeiras e quatro pares de patas falsas, nos segmentos abdominais 3, 4, 5
e 6. Apresentam pontos negros ao longo do corpo. A fêmea deposita de 100
a 500 ovos isolados e em grupos nos produtos em que ataca. A larva produz
um fio de seda onde se acumulam restos de alimentos e excreções. Dentro
de silos, seu ataque é superficial; sua ocorrência maior é em sacos de
produtos armazenados, gretas e pequenos esconderijos de paredes e pisos.
Seu ciclo de vida é de 26 dias a 30 °C e 70% UR; abaixo de 10 °C não
completa o seu desenvolvimento. Seu controle é difícil, uma vez que entra
em diapausa durante a pré-pupa, conseguindo sobreviver em períodos de
condições adversas de temperatura.
Figura 22. Vista dorsal do adulto de P. interpunctella.

Ephestia (Cadra) cautella (Walker)
É uma praga secundária de grãos de cereais sadios e inteiros; em

farinhas de cereais e outros produtos moídos, constitui uma praga primária,
tanto pelo dano que ocasiona como pela contaminação de sua seda.
Predominam em regiões tropicais e temperadas.
Os adultos apresentam as asas anteriores com coloração cinza,

manchas e franjas escuras na parte média externa (Figura 23a); as asas
posteriores são largas, transparentes, com nervuras claramente visíveis.
Apresentam palpos labiais proeminentes e curvados para cima,
395
relativamente rombudos (Figura 23b). As larvas são esbranquiçadas, com

pequenos pontos visíveis negros sobre o corpo, o que permite distingui-las
das larvas de P. interpunctella; medem, geralmente, de 12 a 15 mm de
comprimento; deslocam-se livremente entre os produtos armazenados,
contaminando-os com sua seda e seus dejetos; durante a pré-pupa, arrasta
um fio que cobre a superfície dos grãos.
Figura 23. Adulto de E. cautella, vista dorsal (A) e detalhe dos palpos
labiais (B).
A condição ideal de desenvolvimento é de 30 a 32 °C e 70-80% UR.
Os ovos, de forma globular e brancos, tornam-se alaranjados durante o seu
desenvolvimento. A eclosão dos ovos varia de acordo com a temperatura,
ocorrendo em 17,5 dias a 15 °C; 7,4 dias a 20 °C; 4,7 dias a 25 °C; e 3,4
dias a 30 °C e 70% UR. As pupas desenvolvem-se, em média, 17,5 dias a 20
°C; 8,9 dias a 25 °C; e 7 dias a 30 °C e 70% UR.
Ephestia (Anagasta) kuehniella (Zeller)
O adulto mede cerca de 20 mm de envergadura e apresenta a cabeça

pequena e globosa. As asas anteriores são cinzas com faixas negras
onduladas; as asas posteriores são claras, quase brancas, com faixas de pêlos
curtos (Figura 24). A fêmea deposita aproximadamente 300 ovos em meio
às impurezas dos grãos. A larva é de cor branca, ligeiramente rosada, com
pequenos pontos negros distribuídos pelo corpo. Mede em torno de 12 mm
quando totalmente desenvolvida. É uma praga secundária de grãos e cereais
sadios e inteiros; praga primária de farinha e outros produtos moídos de
cereais e oleaginosas. As condições ótimas para o desenvolvimento estão
próximas de 20 °C e 70% UR; o ciclo de vida se completa em 70 dias.
396
Figura 24. Vista dorsal do adulto de E. kuehniella.

Ephestia elutella (Hübner)
É cosmopolita, porém predomina nas regiões temperadas. Ataca

todos os tipos de produtos de origem vegetal, como grãos, sementes de
cacau, frutas secas, nozes, tabaco, farinhas, etc. Os adultos são cinzas,
medem 16 mm de envergadura, e apresentam franjas claras transversais nas
asas anteriores (Figura 25). É praga de regiões frias e temperadas.
Desenvolve-se entre 15 e 30 °C e 70% UR. Cada fêmea oviposita 150 a 200
ovos, com período de incubação de quatro dias; os adultos vivem de seis a
sete semanas a 25 °C e 70% UR.
Figura 25. Vista dorsal do adulto de E. elutella.

397
Subfamília Galleriinae
Corcyra cephalonica (Stainton)
Os adultos medem de 7 a 13 mm de envergadura. As asas anteriores

são de cor canela-clara, sem manchas visíveis, e as nervuras são
ligeiramente mais escuras; as posteriores são pequenas, terminando em uma
ponta arredondada, transparente com nervuras muito visíveis e rodeada de
uma extremidade com pequenos pêlos (Figura 26a). Apresentam palpos
labiais retos (Figura 26b).
Figura 26. Adulto de C. cephalonica, vista dorsal (A) e detalhe dos palpos
labiais (B).
É uma praga primária para o arroz polido e secundária para outros

produtos. Também se alimenta de grãos e farinhas de cereais, cacau,
chocolate, frutas secas, tortas e farinhas de oleaginosas, entre outros
produtos. É comumente encontrada em regiões tropicais. A condição ideal
para o desenvolvimento é de 30 °C e 60 a 80% UR. A 18 °C, o seu
desenvolvimento não se completa. A fêmea coloca entre 100 e 200 ovos de
forma indiscriminada, sobre as superfícies rugosas dos grãos ou produtos
armazenados, muros e pisos. A larva é branca, com listras azuladas e verdes,
e passa por seis instares, chegando a atingir 15 mm quando está
completamente desenvolvida. Sua presença é detectada por grumos
formados por uma teia que adere aos grãos; é nesta teia que ela faz seu
casulo. A pupa mede cerca de 8 mm. Seu ciclo biológico dura
aproximadamente seis semanas em condições ideais. O adulto tem vida
curta, 6 a 22 dias, e o macho apresenta maior longevidade.
398
Subfamília Pyralinae
Pyralis farinalis Linnaeus
O adulto mede cerca de 20 mm de envergadura. As asas anteriores

possuem a face superior de cor marrom-avermelhada na porção basal e
apical e marrom-clara na área central, delimitada por duas linhas
transversais sinuosas e esbranquiçadas (Figura 27). A larva é branca, com
cabeça e escudo protorácico de cor obscura, medindo aproximadamente 20
mm de comprimento. A fêmea deposita, em média, 250 ovos sobre os
produtos que ataca. Seu ciclo evolutivo varia de 50 a 60 dias e, nas
condições brasileiras, podem desenvolver quatro gerações anuais. Os
adultos são de vida curta; a fêmea vive aproximadamente uma semana. As
larvas tecem tubos de seda e envolvem neles partículas de grãos. Atacam
grãos de cereais e seus produtos, grãos de leguminosas e diversos materiais
de origem vegetal, especialmente se estão úmidos.
Figura 27. Adulto de P. farinalis - asas com faixas transversais.

7.4. Ordem Psocoptera
São insetos pequenos, de corpo mole, medindo de 0,7 a 6 mm de

comprimento. Podem apresentar asas ou não e, em algumas espécies,
ocorrem tanto indivíduos de asas longas como de asas curtas. As antenas são
em geral bastante longas, os tarsos são dímeros ou trímeros. Têm aparelho
bucal mastigador e o clípeo é grande, um tanto dilatado. Geralmente são
encontrados alimentando-se de fungos, fragmentos de insetos mortos e
cereais. Também podem causar danos econômicos em indústrias
processadoras de alimentos e à saúde humana, pois são responsáveis pela
transferência de microrganismos e contaminação dos alimentos com fezes e
exoesqueletos.
399
Os principais representantes dessa ordem, capazes de atacar

alimentos domésticos, pertencem às subordens Trogiomorpha (antenas com
mais de 20 seguimentos) e Troctomorpha (antenas com menos de 20
segmentos). A subordem Troctomorpha pode ser encontrada no setor de
armazenamento, sendo a maioria das espécies pertencentes à família
Liposcelidae e ao gênero Liposcelis. A espécie L. bostrychophilus
(Badonnel) é a mais comum, considerada praga cosmopolita de produtos
armazenados. É um inseto diminuto, com aproximadamente 1,0 mm de
comprimento, coloração marrom-pálida, corpo arredondado e macio, olhos
protuberantes, antenas filiformes e longas (Figura 28). Embora pareça ser de
origem africana, L. bostrychophilus tem sido encontrado em todo o mundo.
Alguns autores acreditam que essa espécie, apesar da origem tropical, tenha
sido capaz de se estender a todas as regiões do mundo, em razão de se
reproduzir por partenogênese (desenvolvimento do óvulo não fecundado) e
por ser capaz de sobreviver sem alimentação por períodos de até 100 dias.
Figura 28. Adulto de L. bostrychophilus.

Embora tenha sido observada em vários tipos de alimentos, esta

espécie é considerada mais importuna em farinhas, arroz, sêmola e
sucrilhos. Em condições controladas, foram encontradas diversas espécies
de fungos, grãos quebrados de trigo, sementes imprestáveis, como
substratos adequados para alimentação de L. bostrychophilus. O ciclo
biológico é completado em aproximadamente três semanas a 27 °C e 70%
UR. A longevidade do adulto é de 72 a 144 dias, dependendo das condições
ambientes.
400
7.5. Bibliografia
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402

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ASPECTOS BIOLÓGICOS E TAXONÔMICOS DOS

Dra. Lêda Rita D'Antonino Faroni

ASPECTOS BIOLÓGICOS E TAXONÔMICOS DOS PRINCIPAIS

Lêda Rita D'Antonino Faroni1

É grande o número de espécies de pragas que se encontram em

ocasionalmente, ser infestados por insetos muito pequenos, de hábito

7.2. Ordem Coleoptera

A ordem Coleoptera contém cerca de 40% das espécies conhecidas

Pertence à ordem Coleoptera grande parte dos chamados gorgulhos

Nesta família, cerca de 30 espécies de insetos-praga já foram

Figura 1. Adulto de Sitophilus zeamais.

Embora esta família agrupe muitas pragas agrícolas destrutivas,

aproximadamente um ano. Cada fêmea chega a ovipositar até 150 ovos, os

Essas três espécies atacam grãos armazenados e produtos de cereais

Os insetos adultos desta família são alongados, mais ou menos

Figura 3. Adulto de R. dominica.

P. truncatus (maior broqueador dos grãos)

O adulto de P. truncatus apresenta o corpo com formato cilíndrico,

R. dominica (menor broqueador dos grãos)

É considerada uma das pragas primarias mais destrutivas dos grãos

Fêmeas desta espécie chegam a ovipositar até 400 ovos na superfície

É uma praga amplamente distribuída nos trópicos. O adulto mede

Figura 5. Pronoto de D. minutus.

Esta família compreende insetos de hábito alimentar secundário, que

Figura 6. Adulto de T. castaneum.

Algumas espécies de Tribolium têm sido encontradas nos armazéns,

nos trópicos, em regiões de temperatura moderada; enquanto T. confusum é

Figura 7. Vista ventral de adultos de T. castaneum (A) e de T. confusum (B).

Adultos de T. castaneum podem viver por muitos meses, ou até anos,

Diversas outras espécies de Tribolium são associadas a produtos

Assemelham-se a Tribolium na forma e cor. Os machos têm as

Figura 8. Vista dorsal de adultos de G. cornutus (A) e ventral de G.

A taxa ótima de desenvolvimento de Gnatocerus sp. é menor que a

Sobrevivem em temperaturas entre 17 e 37 °C e 6 a 100% UR; seu

Apresentam coloração castanho-avermelhada a preto; medem de 5,0

Figura 9. Vista dorsal (A) e lateral do olho (B) do adulto de A. diaperinus.

A. diaperinus é uma espécie cosmopolita, praga secundária de grãos,

apresenta semelhança com A. diaperinus quanto à biologia e ao ciclo de

Latheticus oryzae Waterhouse

É uma praga cosmopolita de importância relativa nos trópicos e

Figura 10. Adulto de L. oryzae.

Duas espécies, T. molitor L. e T. obscurus F., são as mais freqüentes

apresenta. A temperatura ótima para o desenvolvimento é de 25 °C, tendo-se

Os adultos desta família são caracteristicamente achatados e, em

Figura 11. Adulto de C. ferrugineus.

Oito espécies de Cryptolestes têm sido registradas infestando

subtropicais do Hemisfério Sul. C. turcicus (Grouvelle) pode ser encontrada

Os membros desta família medem, em geral, de 2,0 a 4,0 mm de

Outras como Carthartus quadricollis (Guerin) e Ahasverus advena

Figura 12. Adulto de O. surinamensis.

As espécies desse gênero são pragas secundárias comuns em grãos,

Figura 13. Vista dorsal de O. surinamensis (A) e O. mercator (B).

Carthartus quadricollis (Guerin)

Apresenta semelhança com Oryzaephilus, no entanto o adulto de C.

ciclo de vida é completado em menos de 20 dias em temperatura entre 27 e

Figura 14. Adulto de C. quadricollis.

Ahasverus advena (Walt)

É ligeiramente pequeno, mede de 2,0 a 3,0 mm, no entanto é mais

Figura 15. Adulto de A. advena.

São insetos-praga de hábito alimentar primário, que atacam,

apresentam corpo robusto e estreitado na região anterior; antenas longas;