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QUAL A IMPORTÂNCIA DOS CLÁSSICOS NAS CIÊNCIAS SOCIAIS?

31/03/2015 CIRCUITOACADEMICO Por Raphael Lebigre

Por que existe nas ciências sociais uma relação com os clássicos?
Para tentar responder à pergunta, Jeffrey Alexander e François Dubet discorrem a favor
dos clássicos na disciplina.
De início, Alexander, sociólogo estadunidense, no artigo “A importância dos clássicos”
(1999), considera que as obras são consideradas clássicas por darem uma contribuição singular
e permanente à ciência da sociedade. Ao afirmar a relevância dos clássicos, Alexander contraria
as formulações de dois autores.
Para Skinner, historiador britânico, a ciência natural e a social seriam no fundo a mesma
coisa. Ao beber da linguística do filosofo Ricoeur (1913-2005), o autor acredita que não haveria
a necessidade de estudar um texto em si, pois cada fonte dos clássicos seria não interpretada
cientificamente, mas absorvida de maneira objetiva através de como o texto é estruturado.
Convergindo com Skinner, Robert Merton (1910-2003), sociólogo estadunidense, defendia
também uma teoria social embasada nas ciências naturais, voltada para a explicação da
realidade por leis sociológicas. Para ele, ao invés de interpretados, os textos antigos deveriam
ser utilizados de maneira utilitária.
Em oposição, Alexander, embasado em Thomas Kuhn (1922-1996), filósofo da ciência
estadunidense, aponta que as ciências sociais contrariamente às naturais, não são
fundamentadas em modelos, mas clássicos. Isso faz com que elas não possam ser aprendidas
pela mera imitação de uma forma de resolver problemas empíricos, pois a área abarca não só o
lado racional, mas também o lado criativo do investigador.

“portanto, apela para qualidades de sensibilidade pessoal – estéticas, interpretativas, filosóficas,


observacionais, que não são progressivas” (ALEXANDER, 1999, p. 48).

Na prática, defende o intelectual estadunidense, os dados empíricos da ciência são


construídos antes de tudo pela análise do investigador. A partir da interpretação cria-se o
discurso sociológico que representaria um argumento teórico e não apenas a explicação. Esse é
o motivo pelo qual são os próprios cientistas sociais, por consenso, que tornam os textos
clássicos.
Por vias diferentes, François Dubet, em sua publicação “ Why Remain ‘Classical’?
(2007), concorda com Alexander sobre a importância dos clássicos. Para tanto, o sociólogo
francês questiona como as ciências sociais podem adequar-se a novos estudos.
Dubet argumenta que a manutenção dos clássicos permite um significado de união das
ciências sociais, frente a sua pluralidade teórica. O intelectual traça o panorama histórico da
disciplina que surge no século XIX, abordando o problema da ordem e do conflito em torno do
Estado Nação, peculiar ao Norte Atlântico. Influenciado fortemente pelo sociólogo Alain
Touraine, o autor defende que não haveria mais um núcleo social baseado na ordem, como
apontaram Durkheim e Marx, por exemplo, mas vários subsistemas (cultura, mercado, etc),
cada um envolvendo tipos plurais de ações individuais, movidas por três eixos: “mecanismos
de integração”, “estratégia racional” e “relação subjetiva”. Isso faz o sociólogo ser crítico às
teorias de autores como Latour e Thevenot, que precisam, segundo ele, recorrer a outras teorias,
pois não incorporam os clássicos. Com uma visão que demarca o conhecimento sociológico da
França e dos Estados Unidos, Dubet aponta as deficiências das teorias de inspiração
estadunidense, centradas nos atores motivados economicamente em Becker e Coleman; e
individualmente em Goffman.
Contudo, o sociólogo francês converge com Alexander sobre a necessidade da
pluralidade teórica nas ciências sociais, unidas em torno dos clássicos: Marx, Weber,
Durkheim, Simmel. E ainda, na necessidade da disciplina se desvencilhar das ciências naturais,
ao ter como vocação descobrir e demonstrar como a sociedade funciona e não suas leis.
Pode-se afirmar que ambos os artigos possuem duas visões pertinentes sobre a base de
conhecimento contemporâneo das ciências sociais. Todavia, os autores caem na visão
etnocêntrica do Norte, ao não citarem exemplos de sociólogos do Sul Global que
experimentaram e reformularam os clássicos e teorias de caráter geral/ universal.

Referências bibliográficas

ALEXANDER, Jeffrey. (1999), “A importância dos clássicos”. Em: GIDDENS, Anthony;


TURNER, Jonathan (orgs). Teoria social hoje. São Paulo, Unesp, pp. 23-89.

DUBET, François. (2007), “Why Remain ‘Classical’?”.European Journal of Social Theory, vol.
10, n. 2, pp 247–260
JEFFREY ALEXANDER DIZ QUE OS CLÁSSICOS SÃO IMPORTANTES À
CIÊNCIA SOCIAL CONTEMPORÂNEA
1 de junho de 2015 por Jeferson Bertolini em resumos, Sociologia e marcado Importância dos
clássicos, Jeffrey Alexander, Sociologia.

Alexander (1999) diz que os clássicos são importantes à ciência social contemporânea
porque permitem, por exemplo, fazer com que os analistas se entendam (criem marcos) em
meio à complexidade das ciências sociais.
Para o autor, clássico “é o resultado do primitivo esforço da exploração humana que
goza de status privilegiado em face da exploração contemporânea no mesmo campo. O conceito
de status privilegiado significa que os modernos cultores da disciplina em questão acreditam
poder aprender tanto com o estudo dessa obra antiga quanto com o estudo da obra de seus
contemporâneos. Além disso, tal privilégio implica que, no trabalho diário do cientista médio,
essa deferência se faz sem previa demonstração: é tacitamente aceita porque, sendo clássica, a
obra estabelece critérios básicos em seu campo de especialidade” (p. 24).
Alexander destaca que “o reconhecimento consensual de um clássico implica um ponto
de referência comum. O clássico reduz a complexidade (Luhmann, 1979). É um símbolo que
condensa (representa) uma serie de compromissos diferentes” (p. 46).
Essa condensação traz, no entender do autor, quatro vantagens funcionais, que seguem:
Primeira: ela simplifica a discussão teórica. Faz isso permitindo que um pequeno
número de obras substitua (represente por meio de um processo padronizado) as miríades de
formulações sutis produzidas no curso da vida intelectual contingente (..). Falando em termos
de clássicos, podemos ficar seguros de que nossos receptores pelo menos saberão do que
estamos falando.
Segunda: os clássicos permitem que compromissos gerais sejam discutidos sem a
necessidade de tornar explícitos os critérios para sua adjudicação. Uma vez que tais critérios
são muito difíceis de formular, sendo quase impossível que logrem consenso, essa função
concretizante dos clássicos é sem dúvida importante.
Terceira: tem caráter irônico: dado que se aceita um instrumento de comunicação
comum clássico, torna-se possível não reconhecer a existência de um discurso geral. Assim,
como a importância dos clássicos é acatada sem contestação, pode o cientista social iniciar um
estudo empírico – por exemplo, no âmbito da sociologia industrial – discutindo o tratamento
dado por Marx ao trabalho em seus primeiros escritos (reconhecimentos implícitos de
concordância).
Quarta: uma vez que a condensação propiciada pelos clássicos dota-os de poder
privilegiado, a referência aos clássicos se torna importante por razoes puramente estratégicas e
instrumentais. É do interesse imediato de todo cientista social ambicioso e de toda escola em
ascensão serem legitimados perante os fundadores clássicos. Ainda que não exista nenhuma
preocupação genuína com os clássicos, eles devem ainda ser criticados, relidos e redescobertos
caso se queira desafiar de novo os critérios normativos de avaliação da disciplina.
Além das razões funcionais, Alexander diz que os clássicos são importantes pelas razões
intelectuais (ou científicas). “Entendo por razões intelectuais que certas obras sejam
consideradas clássicas por darem uma contribuição singular e permanente à ciência da
sociedade. Aqui, minha tese começa com a proposição de que, quanto mais generalizada for a
discussão cientifica, menos cumulativa será.” (p. 47-48).
Ao apresentar seu argumento em favor dos clássicos, o autor dá espaço ao contraditório.
Cita Merton (1967), crítico desse tipo de obra: “O teste mais rigoroso do conhecimento
verdadeiramente cumulativo é que as mentes comuns podem resolver problemas, hoje, que os
grandes cérebros antes sequer conseguiam começar a resolver.” Numa ciência verdadeira,
portanto, “o louvor dos grandes colaboradores do passado cabe principalmente à história da
disciplina” (Merton, 1967, p.27-28, apud Alexander, p. 26).
Alexander também reconhece que os clássicos não estão em todas as disciplinas. “Os
clássicos estão ausentes (nas ciências naturais) porque, em geral, a atenção se volta para as
dimensões empíricas da ciência natural (…). Assim, ao invés de c1ássicos, a ciência natural
dispõe daquilo que Kuhn chamou de modelos (exemplares) (…). Os processos de aprendizado
são os mesmos na ciência social: a diferença é que os cientistas sociais absorvem tanto clássicos
quanto modelos.” (p. 35)

Referência:

ALEXANDER, Jeffrey. A importância dos clássicos. GIDDENS, Anthony. Teoria Social


hoje. São Paulo: Unesp, 1999, p. 23-90

SOBRE "A IMPORTÂNCIA DOS CLÁSSICOS", IN: TEORIA SOCIAL HOJE.


Josemar Moura, Compêndio de Sociologia, 5 de agosto de 2013

Jeffrey Alexander busca enfatizar nesse ensaio “a importância dos clássicos na ciência social
contemporânea” (p.24). De início alguns questionamentos são lançados para salientar que os
positivistas radicais, assim como os humanistas, “clamam contra a aproximação entre
interpretação clássica e ciência contemporânea” (24-5), o que leva a considerar ou avaliar os
textos clássicos apenas como textos históricos, aquém dos objetivos da ciência social
contemporânea. É surpreendente notar que Alexander pretenda analisar essa relação, entre a
ciência social e os textos clássicos, partindo primeiramente da determinação exata do que seja
a ciência social e como ela se relaciona com a ciência da natureza, para depois, determinar o
significado do que seja analisar os clássicos e como essa atividade se relaciona com a busca
contemporânea pelo conhecimento científico.
Para Alexander,
Um clássico é o resultado do primitivo esforço da exploração humana que goza de
status privilegiado em face da exploração contemporânea no mesmo campo. O
conceito de status privilegiado significa que os modernos cultores da disciplina em
questão acreditam poder aprender tanto com o estudo dessa obra antiga quanto com o
estudo da obra de seus contemporâneos… essa deferência se faz sem prévia
demonstração. (24).

De início um questionamento é levantado. Por que temos clássicos nas ciências sociais
e não nas ciências naturais? São os positivistas, principalmente, que pretendem ignorar os
clássicos, pois “serão aniquilados pela mera informação empírica” (25). Desta forma, a exegese
e o comentário não fariam parte da ciência social. Fica fácil conceber, erroneamente, que a
ciência social e a natural seriam a mesma coisa, e que a ausência dos clássicos demonstraria o
puro empirismo.
Em um ensaio, publicado no ano de 1947, Merton insurgiu-se contra a “dissolução da
história e da sistemática da teoria sociológica” (25), pois achava que o empirismo era capaz de
acumular conhecimentos verdadeiros, o que dispensaria os textos clássicos ou os deixariam
para a análise/atividade histórica. Uma distinção radical entre ciência e história. Para Merton,
o erro estaria em tentar “sobrepor orientações científicas e humanistas”, pois nos levaria a
“fundir a sistemática da teoria sociológica com sua história” (26); dito de outra forma, “os
sociólogos são pressionados de ambos os lados… Eles ‘oscilam’ entre ciência social e
humanidades” (26). Vemos aqui uma mistura entre sistemática e história, que privilegia o
antigo, a exegese, a erudição em detrimento da originalidade etc.; uma verdadeira “atitude servil
para com as obras antigas, que Merton considera inerente à pesquisa histórica dos textos
clássicos”(27).
A saída para esse problema, dada por Merton, exige que os textos clássicos sejam
tratados de maneira utilitária, convertendo esses textos em simples fontes de dados/teorias não
verificadas, meras fontes de informação para se empregar em novos pontos de partida,
apontando “para o futuro científico, não para o passado humanista” (28). Desfeita a tendência
de fundir sistemática e história, para esta última cabe tratar os textos como documentos
históricos e não como fontes de informação não-recolhida, sem exegese, pois cabe ao bom
historiador estudar o “ambiente das idéias e não as idéias” (28). Essa saída encontrada por
Merton, repelindo a fusão entre ciência e história, se baseia na exigência tanto de uma
sociologia científica, quanto de uma história científica.
Alexander termina seu argumento sobre “o desafio contra a importância dos clássicos”
acrescentando às duas premissas básicas da tese de Merton, a “noção de que o significado de
textos antigos e notáveis está aberto a todos”. Inicia-se agora um “argumento contra o desafio
empírico à importância clássica e as duas premissas básicas sobre as quais ele se assenta.”(30).
Um argumento oposto ao expresso acima coloca a possibilidade de existência dos
clássicos ligada ao consenso existente no interior de uma disciplina, relativo exatamente às
questões não-empíricas. Alexander sugeriu em seu livro, Lógica teórica em sociologia, “que a
persuasão positivista nas ciências sociais recorre a quatro postulados principais”: 1- uma
ruptura epistemológica entre observações empíricas e afirmações empíricas
(específicas/concretas e gerais/abstratas); 2- essas preocupações mais gerais/abstratas precisam
de significado para a prática disciplinar empírica; 3- questões gerais/abstratas/teóricas só podem
ser avaliadas através de observações empíricas; 4- o desenvolvimento científico é progressivo
(linear e cumulativo) (31). Esses postulados foram desafiados pela onda pós-positivista, mesmo
assim ainda fazem parte do senso comum de muitos cientistas; antes se reduzia a teoria ao fato,
agora se reabilita a teoria.
É relevante ressaltar que “Merton não considera a ciência social limitada por um
paradigma, no sentido de Kuhn. Em virtude de ser norteada antes pelo problema do que pelo
paradigma, a ciência social é organizada pela especialidade empírica e não por uma escola ou
tradição.”(29).
Tomando por base que os dados são moldados, que descrevemos afirmações como
observações, então podemos distinguir analiticamente fato e teoria, essa “distinção analítica
refere-se a observações moldadas por aquelas teorias das quais temos mais certezas.”(32). O
empreendimento científico precisa, para sua continuidade, tanto de evidências empíricas quanto
da rejeição dessas evidências. “A elaboração geral e teórica é” na verdade dogmática e
horizontal, o que impossibilita a aplicação do “teorema da falsificação de Popper”, e qualquer
evidência contrária provocaria o desenvolvimento de “hipóteses e categorias residuais ad hoc”,
como expresso por Lakatos, assim, “novos fenômenos podem ser ‘explicados’ sem sujeição a
formulações gerais.”(32). É necessário que alterações empíricas estejam acompanhadas de
alternativas teóricas convincentes para que ocorram mudanças na crença científica; são
exatamente os conflitos entre empreendimentos teóricos gerais que estão no núcleo das grandes
mudanças nas ciências naturais.
Por essas considerações gerais e não-empíricas desempenharem um papel decisivo
sobre as ciências naturais, Alexander questiona as duas assertivas de Merton. Existe uma
dimensão não-empírica nas ciências naturais, apesar delas não apelarem para os clássicos.
Parece ser consenso que “o enfoque explícito em questões empíricas é o que distingue as
ciências naturais das humanas.” (33); sendo que “a epistemologia da ciência não determina os
temas particulares fixados para a atividade científica”, é o próprio cientista quem irá considerar
o que deva ser considerado cientificamente problemático; o próprio Habermas coloca “o
consenso como aquilo que diferencia a atividade ‘científica’ da atividade ‘não-científica’.”(34).
Desta forma, “Os clássicos estão ausentes porque, em geral, a atenção se volta para dimensões
empíricas da ciência natural. As dimensões não-empíricas acham-se camufladas… Assim, ao
invés de clássicos, a ciência natural dispõe daquilo que Kuhn chamou de modelos (exemplars).”
(34-5). Esses modelos desempenham um papel apriorístico, são “padrões específicos de
explicação do mundo sendo aprendidos porque gozam de uma posição privilegiada no processo
de socialização, igual nas ciências sociais que aprendem modelos e clássicos (35).
Percebemos que nas ciências sociais há mais discordâncias do que nas naturais, devido
à natureza dos fatos, pois estes últimos existem em nossa mente apoiados em contexto
intelectual e social, de acordo com um aparato conceitual que pode ser diferente para grupos de
cientistas. Alexander afirma que “as condições da ciência social tornam altamente improvável
o consenso sobre a natureza exata do conhecimento empírico”(36).
Quatro razões cognitivas e valorativas podem ser destacadas para representar as
diferenças no nível de consenso. Primeiro, o objeto das ciências naturais encontra-se no mundo
físico e fora da mente humana; nas sociais, encontra-se em “estados mentais ou condições para
estados mentais”(36). Em segundo lugar, o consenso em sociais é dependente dos referentes
empíricos que têm natureza estimativa; além de que as sociais implicam diretamente na
organização da vida social e implicações ideológicas estão presentes na escolha/descrição dos
objetos de pesquisa(37). Em terceiro, além da dificuldade para se chegar ao consenso das
“razões cognitivas e estimativas” dos referentes empíricos, maior dificuldade encontraremos
para chegar a um consenso sobre “as abstrações feitas a partir desses referentes concretos”(37).
Por último, a ciência social vai se diferenciar não só por essa discordância endêmica, mas
também pelas tradições e escolas que serão o alicerce onde se promovem/sustentam as
discordâncias (38). Assim se percebe que “o discurso… torna-se um dos traços destacados do
campo da ciência social.” (38). Damos maior importância ao discurso do que aos resultados da
experiência imediata.
Dois grandes autores que vão trabalhar o tema do discurso, e estão posicionados entre o
discurso racionalizante e o discurso arbitrário, são Habermas e Foucault. Poderemos localizar
o discurso das ciências sociais entre esses dois extremos: o esforço racionalizante para uma
comunicação não-distorcida e um discurso que busca “negar seu status meramente empírico,
indutivo.”, respectivamente (38-9). Alexander expõe que: “O discurso generalizante é
predominante e a teoria, polivalente por natureza”; esse discurso predominante e as condições
de sua criação proporcionam “a superdeterminação da ciência social em teoria e sua
subdeterminação de fato” (40). Os cientistas emitem proposições diferentes exatamente porque
existem as discordâncias empíricas e ideológicas.
Outros dois autores, Blau e Lieberson, serão destacados por tentarem construir, a partir
dos dados, uma teoria mais geral. Blau com seu teorema diz que “o tamanha do grupo,
determina as relações externas desse grupo”(40). Busca dados sobre a taxa de casamento intra-
grupo e o tamanho desse grupo, que corroboram para seu teorema; conclui que a taxa de
exogamia e o tamanho do grupo estão ligados de forma inversamente proporcional. Contrário
a isso, “Os dados empíricos de Blau, portanto, estão desvinculados de sua teoria…”(41), pois
os casamentos extragrupais não têm um referente nítido, não pode aqui se estabelecer relação
entre o tamanho do grupo e contatos extragrupais.
Semelhantes problemas são observados nos estudos de Lieberson, sobre os imigrantes
para os EUA a partir de 1880. De início ele propõe que o nível de conquista dos imigrantes se
diferencia de acordo com as heranças da escravidão. Para isso, define herança como sendo ‘falta
de oportunidade’; depois, “identifica oportunidade à luz dos dados que recolheu sobre as taxas
variáveis de segregação no âmbito da educação e moradia”(41). Como em Blau, não se percebe
relação entre as taxas e as diferenças de oportunidade, também não podemos ter certeza sobre
a proposição das conquistas/herança. Apesar desses problemas, não podemos negar a
contribuição empírica desses estudos, mas também não se pode deixar de registrar que essas
correlações não provam as teorias propostas por cada um deles.
Vimos acima os principais problemas ao se tentar criar uma teoria geral a partir dos
dados. O problema oposto é mais fácil de percebermos: a teoria superdeterminando os fatos
empíricos. Nesta situação podemos incluir autores como Weber, Smelser e Skocpol. Tendo por
princípio que em “todos os estudos mais amplos, teoricamente orientados, a seleção de dados
empíricos está sujeita à discussão”(41), a obra de Weber sobre o Espírito do capitalismo, pode
ser contestada pelo fato de ter um amostra restrita de capitalistas e puritanos, com dados
tendenciosos, selecionados para “se enquadrar em sua referência teórica à ética
protestante”(42). Essa distância entre a teoria geral e o indicador empírico também é percebido
em Smelser quando ele relaciona os “protestos radicais dos trabalhadores ingleses” em 1820
com as mudanças estruturais nos papéis familiares. Smelser superdetermina sua narrativa e
subdetermina a teoria ao não perceber que os dados indicam o distúrbio familiar acontecendo
décadas após o período dos protestos.
Skocpol, em sua teoria histórica e comparativa, superdetermina os dados ao analisar as
revoluções e os dados empíricos sobre essas. O ponto crucial é “quando Skocpol reconhece em
vários pontos que as tradições e direitos locais desempenham um papel…, e que a liderança e
a ideologia política devem… ser explicadas…”(42). Ele se preocupou com questões estruturais
e deixou de lado “o contexto intelectual e cultural da revolução.”(43).
Alexander é categórico ao afirmar que “A subdeterminação empírica e a
superdeterminação teórica andam juntas”(43); a ciência social é polêmica de um extremo a
outro, das assertivas factuais às generalizações abstratas; “Qualquer conclusão está sujeita a
contestações com referência a considerações supra-empíricas. Eis aqui a versão específica da
tematização da ciência social… De toda proposição da ciência social exigi-se justificação à luz
dos princípios gerais.”(43). Essa justificação, longe de se limitar à demonstração empírica,
passa pela questão discursiva, da argumentação discursiva, o que não significa estar protegido
de “entrar no âmbito do discurso e não explicar”(43). O discurso mantém a pretensão à verdade,
mesmo absorvendo critérios distintos de verdade; esses critérios podem se referir “à natureza e
conseqüências dos pressupostos, à estipulação e adequação de modelos, às conseqüências das
ideologias, às metaimplicações de modelos e às conotações das definições”(44). Podemos ver
como os sociólogos tentam articular esses critérios ao observarmos as disputas que eles travam
entre: metodologia interpretativa versus causal, ação utilitária versus normativa, conflito social
versus equilíbrio, teorias de mudança versus conservadoras (44).
Não se busca testar hipóteses ou reanalisar os dados, a validade da abordagem será
avaliada a partir dos critérios de verdade empregados pelo autor ao buscar justificar sua posição
ao nível da metodologia, ideologia, conceituações, modelos etc. O debate discursivo chega até
mesmo às subáreas definidas como empíricas, nas ciências sociais, como é o exemplo das
pesquisas sobre catástrofes. O discurso torna-se uma “qualidade importantíssima do debate da
ciência social” exatamente por esses aspectos óbvios dos pressupostos fundamentais (45). É
essa forma discursiva de polêmica que assume conotação de: clássico. Observando por essa
óptica, podemos aceitar que “A existência do debate geral, não-empírico, logicamente não
implica posição privilegiada para as obras antigas. Ainda assim, as próprias condições que
tornam o discurso tão relevante também tornam os clássicos importantes.”, temos aqui um razão
funcional e outra intelectual (45).
Com tantas discordâncias que poderiam gerar graves problemas de compreensão, os
clássicos acabam por servir de integração do corpo discursivo teórico, em termos de
manutenção dos limites disciplinares e compartimentação (46). Para se chegar ao consenso do
que dever ser considerado clássico, dois critérios são observados: o clássico reduz a
complexidade; o clássico deve ser um símbolo que condensa/representa. Essa
condensação/representação, segundo Alexander, traz quatro vantagens, razões funcionais
extrínsecas: 1- simplifica a discussão teórica; 2- permite discutir questões gerais sem a
necessidade de explicar os “critérios para sua adjudicação”; 3- junta com a comunicação
clássica “torna-se possível não reconhecer a existência de um discurso geral.”; 4- “a referência
aos clássicos se torna importante por razões puramente estratégicas e instrumentais.”(47). As
razões intelectuais/intrínsecas correspondem às contribuições singulares e permanentes que
essas obras dão à ciência social.
Para Alexander, “Ainda que não exista nenhuma preocupação genuína com os clássicos,
eles devem ainda ser criticados, relidos e redescobertos caso se queira desafiar de novo os
critérios normativos de avaliação da disciplina.”(45). Esse autor expõe sua tese sobre a não
cumulatividade linear nas ciências sociais, justificando que os critérios de verdade não podem
ser expressos de forma inequívoca, que as “Avaliações gerais são amparadas… pelos gostos e
preferências relativas de uma dada comunidade cultural… qualidades de sensibilidade
pessoal… que não são progressivas.”(48); as variações nessa ciência correspondem sim a uma
“distribuição essencialmente aleatória da capacidade humana”(48).
Citando Dilthey, Alexander coloca a “vida” como objeto de estudo do cientista social,
e este utiliza suas capacidades idiossincráticas de experimentar e conhecer. Na opinião de
Alexander, existem três maneiras de se distinguir esse conhecimento pessoal: 1- pela
interpretação dos estados mentais; 2- pela reconstrução do mundo empírico; e, 3- pela
formulação de avaliações morais e ideológicas.
Ao expor sobre o primeiro ponto, estados mentais, Alexander entende que as
generalizações sobre estruturas ou causas dependem dos motivos envolvidos, e que estes
últimos dependem da empatia, percepção e interpretação do cientista; e são essas capacidades
desenvolvidas a altos graus que produziram os clássicos, restando aos simples mortais
recorrerem a essas obras “para melhor compreender as inclinações subjetivas da
humanidade.”(49). É destacado em Durkheim as capacidades/habilidades de “intuir o
significado cultural e o sentido psicológico do comportamento ritualístico entre os aborígenes
australianos.”(49); em Goffman, sua “sensibilidade para com as matizes do comportamento
humano.”(49). A obra de Goffman é clássica porque precisamos voltar a ela para compreender
“a natureza da motivação interacional.”(49).
Sobre o segundo ponto, reconstrução do mundo empírico, deve ter o cientista social,
talento para selecionar e reconstruir o complexo mundo, demonstrando capacidade criativa e
de representação que depende de sua perspicácia e qualidade mental. Em relação ao terceiro
ponto, formulação de avaliações morais e ideológicas, uma assertiva cietífico-social quanto
mais geral mais deverá exigir “uma auto-reflexão sobre o significado da vida social. É sua
função ideológica no mais amplo sentido da palavra… A ideologia efetiva… depende não
apenas de uma sensibilidade social aguçada, mas também da capacidade estética de condensar
e articular a ‘realidade ideológica’ em figuras retóricas apropriadas.”(51). Dois exemplos de
como as declarações ideológicas podem chegar ao status de clássicos são: 1- o caráter sem vida
da modernidade racionalizada se reflete, e ao mesmo tempo é construída, na obra de Weber, A
ética protestante; em Marcuse, o caráter opressivo e sufocante da modernidade, em O homem
unidimensional.
Alexander considera a interpretação dessas obras clássicas uma forma superior de
discussão teórica, o ato de interpretá-las cria a chave para a discussão científica, volta a tarefa
científica para outra direção (51). Em ciências sociais: a tentativa de separar orientações
científicas das humanistas provocou a mescla entre história e sistemática da teoria sociológica;
já atingimos a maturidade nessa ciência; e, ela não é uma disciplina puramente empírica,
segundo Alexander (52). Ele é categórico em afirmar que não existe hiato entre história e
sistemática. A única exceção é: o hiato existe apenas na mente do cientista social. É sobre esse
paradoxo que nos debruçaremos agora. O próprio cientista que discute a obra clássica não
percebe que o faz por “argumentação científica”, nem que comete atos de interpretação, muito
menos questiona o por quê de discutir os clássicos, simplesmente aceita por ser naturalmente
feito pelos demais. Vemos uma falta de autoconsciência presente nas “mais sofisticadas
discussões interpretativas até hoje produzidas pela ciência social”, como é o caso da “tese da
convergência de Parsons”(53).
Na obra de Parsons, “A estrutura da ação social”, são utilizadas “a conceitualização
criativa e a citação cerrada”, como um verdadeiro “acobertamento de intenção interpretativa
teórica e prática”, ou também uma autoconcepção empírica, para sustentar “que todas as
grandes teorias científico-sociais da virada do século enfatizavam o papel dos valores sociais
na integração da sociedade.”(53), mas Parsons não reconheceu o caráter interpretativo de tudo
isso, pensava pelo contrário ter conduzido uma pesquisa empírica. Parsons não criou essa obra
a partir de novas perguntas, foram “as mudanças no mundo objetivo [que] produziram sua nova
análise da obra clássica, ele vai usar os valores descobertos pelos clássicos como novo dado
empírico, em outras palavras, ele faz suas análises a partir das novas descobertas empíricas dos
clássicos (54).
Segundo Alexander, apesar dessa auto-concepção empírica “ofuscar o relativismo
implícito na própria importância dos clássicos” ela tem também o importante papel de “fornecer
tal camuflagem” para não compelir os participantes do discurso clássico a justificarem “sua
posição por meio de um discurso direto e sistemático”(54). Essa camuflagem encobre a
percepção que o cientista poderia ter sobre o quanto sua obra está “orientada por pressupostos
e pela necessidade de consolidar escolas teóricas”, essa camuflagem ajuda-o a se entregar a um
trabalho teórico frutífero e longo.
Alexander sustenta “que é por exprimir suas ambições sistemáticas nessas discussões
históricas que os cientistas sociais precisam de clássicos”(55). Assim como para Husserl, a
objetividade da vida social depende da forma como ocultamos a própria intenção de
objetividade, as intenções existentes nos clássicos surgem entre parênteses fenomenológicos,
“segue-se então que explorar esses interesses teóricos e interpretativos equivale a exercitar
aquilo que Husserl chamou de redução fenomenológica” (55).
Seguindo as afirmações de Derrida, de que todo texto é uma construção intencional, de
que são as ausências mais as presenças que determinam a natureza de um texto, Alexander
sugere “desconstruir as discussões científico-sociais sobre os clássicos” na busca das
ausências/presenças que evidenciará a função teórica dos clássicos (56).
É a partir da Segunda Guerra que tem o advento da teoria estrutural-funcionalista, as
objeções a essa teoria começam em finais dos anos 50, seu declínio em meados dos anos 70. E,
apesar desse movimento teórico ter proporcionado o parâmetro no qual a ciência social ‘normal’
foi conduzida, o que importará aqui é percebermos que esse movimento “moldou argumentos
de longo alcance sobre a natureza e significado das obras clássicas da sociologia – e foi por eles
moldados.”(57). O estrutural-funcionalismo insurgiu-se contra a Escola de Chicago e sua
teorização institucionalista, semimarxista, que enfatizava a interação individual, os conflitos
grupais e o ambiente ecológico e material, com seus clássicos em Cooley, Mead, Veblen e
Simmel. Desde os anos 30, numerosos estudantes já contribuíam para essa tradição, mas é
Parsons seu principal expoente.
A obra de Parsons teve boa aceitação porque se baseava em razões sociais e
extracientíficas, seus trabalhos cobriam um bom campo teórico e tinham uma força explicativa,
mas seu principal alicerce estava na “autoridade dos textos clássicos” que segundo ele
“encaminhavam a atividade científica para o tipo de teorização sistemática que ele mesmo
postulava.”(57-8). Parsons inicia sua carreira misturando pragmatismo, evolucionismo e
institucionalismo, mas ao construir sua obra máxima, que promoveu a teoria funcionalista, esses
clássicos são abandonados para dar lugar a Marshall, Pareto, Durkheim e Weber; saíram não só
os pragmáticos e institucionalistas, como também Simmel e Marx(58).
Não foi “a natureza empírica” da descoberta que proporcionou sucesso à empreitada de
Parsons ao discutir os clássicos, como ele imaginava, mas sim sua prática interpretativa, sua
construção dos textos selecionados, sua seleção das obras, sua argumentação textual que era
densa e sua percepção muito perspicaz. Ele não só fez uma leitura incompleta dos clássicos,
como também sua interpretação dessas obras buscava apenas corroborar seus interesses teóricos
de cunho funcionalista. Durkheim, em seu livro I de A divisão do trabalho social, postula sobre
os elementos não-contratuais do contrato, que é necessário um Estado relativamente autônomo
e regulador, enquanto Parsons interpreta essa passagem como sendo “um argumento ao controle
normativo e cultural na vida econômica”; e Parsons não para por aqui, simplesmente ignora
todo o livro II, em que Durkheim “apresenta uma análise ecológica e mesmo materialista das
causas da mudança social”(59); assim também, Parsons considera um desvio a noção de
“idealismo” na obra de Durkheim, quando na verdade essa é a característica da obra madura
desse autor.
Em Weber ignorou-se a tensão entre teorização normativa e teorização instrumental, e
também “a transição do lar patriarcal para os sistemas feudal e patrimonial” de considerações
antinormativas, o que proporcionou a Parsons “analisar a sociologia política de Weber como
um enfoque no problema da legitimidade em temos morais e simbólicos”(59).
No Pós-Guerra as interpretações de Parsons reinavam, eram aceitas por todos e a cada
novo desenvolvimento de sua teoria funcionalista atribuía a “uma combinação lógica do
caminho aberto por aqueles precursores.”; progressivamente ia desenvolvendo sua teoria,
revisitando os clássicos, relendo-os pelo prisma funcionalista. Parsons julga que Weber enfatiza
demais a hierarquia no estudo sobre a burocracia, assim como “o contexto valorativo dos
mercados e o pano de fundo cultural da autoridade”, ao ponto de negligenciar “a socialização e
as normas profissionais; e, é exatamente encima dessas negligências que Parsons constrói sua
obra, O sistema social (60). Quando Parsons vai desenvolver sua “análise da diferenciação
interna dos sistemas sociais”, ele relê em Durkheim a integração social e percebe uma
preocupação “com a diferenciação de objetivos, normas e valores” apta a contribuir com sua
teoria funcionalista (60). Buscou em Weber, após uma leitura minuciosa da sociologia da
religião, uma visão evolucionista para justificar em seu funcionalismo “uma teoria
evolucionista da mudança social”(60). Parsons também errou ao publicar em sua obra madura,
cerne da teoria funcionalista, O sistema social, o grande papel da socialização tratada à luz da
psicanálise, pois só atribuiu status de clássico a Freud muito tempo depois; ele demonstrou
incapacidade de discutir a obra “clássica” de Freud, o que “deixou seu funcionalismo
psicanalítico extremamente vulnerável”(61).
A partir de 1952, Parsons tenta reverter essa fragilidade publicando vários ensaios para
demonstrar que em Freud “a introjeção de objetos constituía a base para o desenvolvimento da
personalidade”, igual à internalização de valores no funcionalismo. Já em 1950 surge um
movimento teórico e empírico contra o funcionalismo que rebate sobre a interpretação
parsoniana dos clássicos, mas esse movimento “não era um esforço autoconsciente de
desconstrução”, era sim “apenas uma discussão voltada em parte para ‘a organização do registro
histórico’.”(61). Alexander expõe que a força de Parsons pode ser percebida no aspecto de suas
ausências, na interpretação dos clássicos serem pouco notados. As críticas de Hinkle podem ser
consideradas uma “defesa da construção teórica de Parsons”; as de Coser, que criticavam a
seletividade de Parsons, ficaram reclusas ao esquecimento; as de Levine, que comparava
Parsons e Simmel, ficaram inéditas por mais de vinte anos. A ausência mais gritante na obra de
Parsons é a figura de Marx, “Só depois que o funcionalismo foi mais ou menos subjulgado
pelos seus adversários é que Marx despontou explicitamente”(62).
Um dos interesses desse movimento antifuncionalista era “restaurar uma teoria
sociológica mais orientada para o poder e mais concentrada na economia.”(63), além de
recuperar a ação contingente, contra a ordem coletiva de Parsons. Gouldner, apesar de ter feito
uma interpretação tosca e inconsistente de umas das obras de Durkheim, O socialismo de Saint-
Simon, acabou por revelar não só uma obra reclusa por Parsons, como também revelou um
Durkheim materialista e radical, ou seja, avesso ao funcionalismo. É Giddens quem vai
construir uma tese sofisticada para repudiar o funcionalismo. Para Giddens, Durkheim apóia “o
enfoque institucional e econômico de Marx, contrariando Parsons com seu enfoque no
‘problema da ordem’. Com sua tese neomarxista para a análise estrutural, “Giddens negou
peremptoriamente a visão desenvolvimentista que Parsons tinha da obra de Durkheim”.
Giddens rebaixou “As formas elementares” e ascendeu “A divisão do trabalho” como principal
obra. Bendix tentou demonstrar a discrepância na interpretação de Parsons, e expõe um
Durkheim que propunha “uma abordagem organicista e anti-individualista”; assim como um
Weber aquém do “retrato normativo encontrado na obra de Parsons”, justificado por “más
traduções idealistas de conceitos-chave”; além do que, Parsons subestimou a sociologia política
de Weber e seus escritos sobre controle patrimonial”(63-4). Essa outra faceta de Weber foi mais
desenvolvida por discípulos de Bendix e Coser, Guenther Toth e Arthur Mitzman,
respectivamente.
Toda essa luta contra a “hegemonia da teorização funcionalista” ajudou não só a
encontrar novos métodos de interpretação dos clássicos, a eleger novos clássicos, como também
a desenvolver novas escolas teóricas: teoria do conflito; teoria da troca; interacionismo
simbólico; etnometodologia; e teoria social humanista ou radical (64). Essas novas escolas
buscaram, cada uma por si, encontrar seus novos clássicos e livrarem-se do fantasma de
Parsons, ou como expressa o termo: “desparsonalização” dos clássicos (65).
Dentre os autores que prefiguram na Escola da Teoria do conflito estão: Collins, como
principal expoente; Rex, que traz Marx como teórico anti-superestrutural do conflito;
Dahrendorf que trouxe um Weber apenas com uma teoria do poder coercitivo; Coser coloca
Simmel e Freud como mestres da teoria do conflito e da mudança (66). Na teoria da troca temos
Homans com sua obra “comportamento social”. Garfinkel tentou, em sua etnometodologia,
introduzir Schütz como clássico, junto a Weber e Parsons, para criar a escola da
etnometodologia. Com Blumer, Mead volta a ser o patrono do interacionismo simbólico.
Engana-se quem acha que os autores da sociologia radical, Friedrichs e Gouldner, defenderam
a importância de Marx, eles “Insurgiram-se, ao contrário, contra a validade ideológica de
Parsons… Friedrichs procurou interpretar Parsons como um idealista do Estado tecnocrático e
burocrático, …Gouldner o aliava ao capitalismo pré-burocrático e individualista.” (67-8), com
isso queriam legitimar uma possível sociologia alternativa e radical.
Segundo Alexander, “Parsons distorceu os clássicos porque almejava um método de
atualização, ou seja, …não repelira as preocupações teóricas contemporâneas em favor de um
relato verdadeiramente histórico.”(68), mas deve-se notar que os “argumentos historicistas
dependiam dos interesses teóricos subjacentes à interpretação e não de uma leitura neutra da
literatura histórica em si.”(69).
Quase no fim desse combate contra a hegemonia de Parsons é que Marx ressurge como
clássico; é Althusser, com sua compreensão sistemática e exigente sobre Marx quem se impõe,
pela tradução de ‘Grundrisse’. “Na Inglaterra, por exemplo, surgiu um vigoroso movimento de
trabalho empírico chamado ‘estudos culturais’” que analisava como os símbolos se
relacionavam com os conflitos de classe e conflitos sociais, a base teórica estava nos clássicos
da tradição marxista e na versão britânica que Williams criou a partir dos valores de Althusser
sobre “os aparatos ideológicos do Estado”(70).
O livro de Giddens, As novas regras do método sociológico, é o marco da
desclassicização parsoniana, “não só as construções de Parsons ruíram como o próprio Parsons
foi sendo afastado cada vez mais de cena”(71); mas todo esse desprezo não parece representar
um movimento progressivo; para Alexander esse movimento é pendular. Alexander afirma que
“esforços mais recentes para preservar a importância dos clássicos de Parsons e a preocupação
característica deste com as dimensões culturais das teorias daqueles clássicos [Weber, Marx e
Durkheim] têm sido mais bem sucedidas”, podemos notar isso em Alexander, Habermas,
Schlüchter, Seidman, Traugott, Whimpster & Lash, Wiley (71). Habermas coloca que qualquer
teoria social séria deve ser relacionada a Parsons. Alexander também sugere “que uma tradição
‘neofuncionalista’, baseada num Parsons reconstruído e em suas raízes clássicas, é viável.” (71-
2).
Alexander tece vários argumentos em defesa de Parsons, com suas motivações tanto
intelectuais quanto estratégicas “chegou a novas impressões da estrutura e dos processos do
mundo social”, adotando apenas três clássicos fundadores da sociologia: Durkheim, Pareto e
Weber. “O vínculo entre sistemática histórica e sistemática contemporânea era tão estreito que
a hegemonia teórica de Parsons só poderia ser abalada se sua versão da história clássica também
fosse derruída.”(73).
Alexander defenderá agora que os clássicos são importantes e que existe uma relação
necessária entre “interesses teóricos contemporâneos” e as “pesquisas sobre o significado dos
textos históricos”; contrariamente às “críticas lançadas à importância dos clássicos no seio das
próprias humanidades.”(73-4). Ele ressalta a crítica existente na “abordagem da história
intelectual associada à obra de Quentin Skinner”, que também chegou à sociologia (74).
Contrapondo Merton e Skinner, o primeiro tenta livrar a sistemática da bagagem histórica e o
segundo tenta limpar a história da mácula da sistemática, uma teoria a-histórica e uma história
a-teórica. Alexander acredita que Skinner chega a um “tipo de história intelectual que Merton
queria, mas não conseguia encontrar” (74-5). Esse historicismo de Skinner exige que o cientista
não só tenha intenção ou saiba para onde olhar, como também saiba o “como”, em outros termos
podemos dizer “ênfase no contexto”. São exatamente esses dois pressupostos acima que
Alexander usa para lançar um terceiro, que também podemos vê-lo nos ataques de Merton
contra os clássicos: “a noção de textos motivados e historicamente situados podem ser lidos e
compreendidos sem nenhuma dificuldade”(75).
Baseado nisso, Alexander conclui que a interpretação é importante e que “se deve
proceder à mescla de história e sistemática”(76), já que “Defender a ‘dificuldade’ e a
‘autonomia relativa’ dos clássicos perante a intenção e o contexto é, portanto, defender a própria
prática interpretativa”(76). Alexander não poupará críticas às conclusões em que o historicismo
se baseia. No historicismo as “convenções lingüísticas” podem revelar o universo intelectual
das obras, mas Alexander questiona “essa capacidade da história em espelhar a sociedade”(76),
há de se pensar que “as generalizações feitas são necessariamente seletivas”, não sendo possível
compreender todo contexto sócio-histórico a partir das comunicações convencionalmente
estabelecidas em determinada ocasião.
No historicismo observa-se a vontade autorial, sem determinismo, sendo que as
intenções do autor revelariam “as convenções que ele quer que seu texto apóie e supere”, e o
contexto forneceria apenas o substrato do texto. Aqui “Supõe-se que as intenções sejam tão
recuperáveis quanto os contextos”(77). A recuperação recorreria apenas ao “lugar comum” da
atividade do pensamento. Muitos questionaram sobre essa “natureza comum do pensamento”,
a psicanálise demonstrou muito ceticismo sobre a possível compreensão das intenções integrais
dos agentes”; os textos são autônomos na medida em que seu ator não o controla de forma
consciente, temos um “engano inconsciente” sobre eles. Para Alexander, “perseguir o
significado de uma teoria através da intencionalidade consciente do autor é, seguramente, pura
perda de tempo”(77). Esse ponto de vista é compartilhado pela psicanálise e teoria cultural,
posteriormente também pelo estruturalismo e semiótica. Temos os exemplos em Lévi-Strauss,
Ricoeur e Gadamer. Para Lévi-Strauss, existe uma “entidade totalizante” sobre a “consciência
e a vontade”, formações lingüísticas essas que “constituem protótipos para qualquer texto
cultural”(78). De forma semelhante, Ricoeur expõe que os “recursos simbólicos” transcendem
a situação e a intencionalidade. Para Gadamer, o historiador não pode recuperar a
intencionalidade do autor; o significado de um texto vai depender tanto da “contingência do
autor”quanto da “situação histórica do interprete”(78).
Observado que o historicismo postula o contexto e a intenção para a compreensão do
texto, sendo “desnecessário estudar o significado de um texto em si” e que “o significado de
um texto qualquer em uma ocasião dada determina e esgota seu significado”(78), deve-se
pensar, por outro lado, em uma certa autonomia do texto quando da impossibilidade de
definirmos o contexto e de captarmos a intenção. Nessa situação, é preciso estudar os textos
como “veículos intelectuais de direito próprio”, em que se demonstra que só podemos descobrir
a intenção (inconsciente) do autor no próprio texto.
Tomando o texto como “um sistema de símbolos”, compreendê-lo exige “estudar as
regras específicas desse sistema”; essas regras também são chamadas, pelos teóricos literários,
de normas do gênero, e estão nas consciências dos autores. São essas regras que produzem o
significado do texto (80).

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