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A relação entre legalidade e legitimidade é tão estreita que muitas vezes são
usadas como sinônimos por parte da maioria da população, pois a palavra pode
denominar uma série de situações. Desde a autenticidade de algo até a justificação com
a vontade geral, por meio da lei. Segundo Bobbio, “legalidade é um atributo e um
requisito do poder. O poder legal é um poder que está sendo exercido de conformidade
com as leis”.
A legalidade está associada à forma, é termo de significado estrito, na
concepção positiva, refere-se a tudo que se faz segundo o que está de acordo com as
leis. De acordo com Wolkmer, “cumpre ressaltar que a legalidade reflete
fundamentalmente o acatamento de uma estrutura normativa posta, vigente e positiva”.
A legalidade se refere ao Direito.
O conceito de legitimidade
Legitimidade e Legalismo
Ocorre que o próprio consenso social pode ter sua legitimidade questionada.
Isto se percebe facilmente com a constatação do poder da mídia moderna. E isto
complica muito a questão já que se o próprio consenso social não for legítimo, nada que
nele se embase o será. Segundo Luiz Fernando coelho, na obra Teoria Crítica do
Direito, "legitimidade então pressupõe consenso mais ou menos generalizado, a
legitimidade articula-se com o poder e a dominação".
E é justamente essa vinculação com o poder e a dominação que tornam
tormentosa a tarefa de se verificar a legitimidade do consenso social. A dificuldade está
em se certificar deste consenso, se nos vários sistemas sociais o silêncio e os
mecanismos de participação do povo (Plebiscitos, Referendo, Iniciativa Popular, Ação
Popular, a própria eleição, etc.) podem ser interpretados. Entende-se em razão de sua
previsão normativa, normalmente constitucional, é uma maneira de se perceber qual é a
vontade geral. No entanto, por questões de ordem prática e material, os mesmos não são
eficientes para todos os problemas que surgem. Neste ponto é que a legitimidade fica
menos visível, menos evidente. Só que questionar a legitimidade, a validade, do
consenso social é sempre uma atitude perigosa, pois pode advir daí um discurso de
incapacidade do povo se autogovernar, o que justificaria um regime totalitário. O
convencimento por força de argumentos não ilegítima o consenso social, o que o faz é o
apelo fácil do sensacionalismo e do sentimentalismo e mais ainda da informação parcial
e tendenciosa.
O consenso social será legítimo quando alcançado por um convencimento
ético, e, de outro lado, será ilegítimo quando atingido por manobras políticas de baixo
nível, pela manipulação e ocultação de informações, pelo sensacionalismo, pelas
chamadas à emotividade. Assim, por lógica, temos que se o consenso social é ético, é
legítimo, daí as leis são legítimas e, por fim, as condutas calcadas ou impostas pela lei
são legítimas.
Por fim a relação entre o Direito e a legitimidade pode ser tanto externa, vale
dizer, quando está em consonância com o consenso social, ponto em que a
principiologia jurídica se mostra importante, dado que, são os princípios o veículo
próprio para levar até o Direito aspectos sociais; como interna, quando se diz que é
legítima a regra produzida em conformidade com o próprio Direito, em especial a
Constituição.
A legalidade, como acatamento a uma ordem normativa oficial, não possui
uma qualidade de justa ou injusta. A ideologia legalista, por sua vez, parte da noção de
legalidade para distorcê-la e, aí sim, servir como instrumento de injustiça. O legalismo é
utilizado muitas vezes como uma estratégia autoritária, de impor uma ação estatal
justificada apenas na necessidade de cumprimento “da lei”. É o argumento que se
esconde na autoridade da lei estatal para ter validade, quando na verdade há interesses
que não podem ser expostos, devido à ausência de consenso. Pressupõe-se que, se a tese
está fundada numa lei, e as leis (conforme essa ideologia) são verdades absolutas, então
a tese nela fundada também é uma verdade absoluta.
A legitimação, como processo de dominação, é um processo inseparável da
dominação de classe, pois atua como um instrumento ideológico das classes dominantes
para tornar aceitáveis, pela dissimulação e ocultação, ou seja, pela alienação, essa
própria dominação que, sem esse processo, seria ilegítima. Vários governantes se
aproveitam do poder da lei para exprimir a sua vontade, surgindo então, a crise da
legalidade. Cabe, portanto, resgatar a definição de legitimidade como busca do direito
justo, tendo como referencial o interesse das classes populares, para além do direito
estatal.
Referências Bibliográficas
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, 8. ed., Brasília: UnB, 1996, p. 28-
29.
COELHO, Luiz Fernando. Teoria Crítica do Direito, 2ª edição, Editora Sergio Antonio
Fabris, página 360.