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3 UNIDADE 1 - Introdução
5 UNIDADE 2 - Religião
5 2.1 O que é e porque estudar religião

6 2.2 Vários olhares para a religião: da sociologia à Teologia, do psicológico ao antropológico

12 UNIDADE 3 - Religião no Mundo Antigo


15 3.1 O cristianismo na antiguidade

19 3.2 Culturas pagãs – a pluralidade desde o tempo antigo

24 UNIDADE 4 - Religiões com Berço no Oriente Extremo

SUMÁRIO
24 4.1 Budismo

24 4.2 Hinduísmo

25 4.3 Taoísmo

25 4.4 Xintoísmo

26 4.5 Confucionismo

28 UNIDADE 5 - Religiões com Berço no Oriente Médio


28 5.1 A região

28 5.2 O Judaismo

28 5.3 O Cristianismo

30 5.4 O Islamismo

32 UNIDADE 6 - Religiões de Matrizes Africanas e Afro-Brasileiras


36 UNIDADE 7 - Outras Religiões
36 7.1 Mediunismo e Animismo

37 7.2 Zoroastrismo

38 UNIDADE 8 - Hierarquia Eclesiástica


47 UNIDADE 9 - O Mundo é Plural
49 REFERÊNCIAS
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UNIDADE 1 - Introdução

Sabemos que a religiosidade é uma das aqui, a crença em um “pai” comum e cria-
nossas características peculiares. Até mes- dor, a qual é observada em muitas culturas,
mo aqueles que se consideram ateus e ag- e que na qual o ser humano sempre tem um
nósticos também tem suas justificativas e tratamento especial no momento da cria-
defesas para o serem, portanto, a religião ção, por meio do qual o criador modela o ser
nos lhes passa desapercebida. humano lhe conferindo alma, vida e pensa-
mento.
Dos primeiros símbolos que nos colo-
cavam em contato com o ser supremo até É interessante perceber por meio das
os dias atuais muita coisa mudou e hoje narrativas de diversos povos que as ideias
desenvolvemos uma capacidade mais ra- de justiça e bondade são inerentes ao cria-
cional de analisar, refletir e respeitar as dor sendo ele incorruptível, e desse modo,
diversas crenças que existem ao longo do o mal só poderia surgir das criaturas. O que
Planeta Terra. claramente pode ser visto em nossa socie-
dade de maioria cristã.
Segundo Domezi (2011), as tradições
religiosas antigas estão muito vivas em O xamanismo, vindo dos povos siberia-
nosso quotidiano. Basta que pousemos nos da Ásia Setentrional (portanto, muito
um olhar mais minucioso e analítico sobre antiga) é outra das características mais
a nossa sociedade para que elementos pe- presentes em nossa sociedade. É uma filo-
culiares das religiões possam ser identifi- sofia de vida e visa o reencontro do homem
cados. com os ensinamentos e fluxos da natureza
e com seu próprio mundo interior.
Uma primeira destas características é
facilmente notada no culto aos mortos, Apesar de sermos um país multicultural,
pois o mistério inerente ao fim da vida é habitado praticamente desde a descober-
sem dúvida uma das maiores realidades ta por povos vindos da África, pouco sabe-
que causam até hoje perplexidade nas pes- mos das religiões tribais que são de origem
soas. É em outras palavras o limite intrans- primitiva, nas quais suas tradições são
ponível do ser humano nessa questão que transmitidas de maneira oral por meio de
o impulsiona a encontrar sentido para isso contos, mitos, rituais, festas e fábulas; to-
no “além”. das contendo uma visão de mundo, lingua-
gem e organização próprias. O que tam-
Outra característica é o animismo que
bém pode de certa forma englobar quase
se resume em uma forma antiga de reli-
que todas as outras religiões por estarem
gião que acredita em uma força maior, uma
fundadas sobre o mesmo terreno.
energia sobrenatural que parte de alguém
ou de algo que não o próprio crente. Algo Enfim, são religiões que mantém certos
que extrapola a realidade visível, mas que princípios que norteiam muitas de nos-
está presente em tudo e em todos. sas mais basilares leis como, por exemplo,
o senso de comunidade e solidariedade,
Não se pode também deixar de citar
apreciação dos valores e critérios tradicio-
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nais, visão holística do mundo e das pesso-


as, inclusão de todos, harmonia entre tra-
dição e progresso (DOMEZI, 2011).

Ressaltamos em primeiro lugar que em-


bora a escrita acadêmica tenha como pre-
missa ser científica, baseada em normas e
padrões da academia, fugiremos um pouco
às regras para nos aproximarmos de vocês
e para que os temas abordados cheguem
de maneira clara e objetiva, mas não me-
nos científicos. Em segundo lugar, deixa-
mos claro que este módulo é uma compila-
ção das ideias de vários autores, incluindo
aqueles que consideramos clássicos, não
se tratando, portanto, de uma redação ori-
ginal e tendo em vista o caráter didático da
obra, não serão expressas opiniões pesso-
ais.

Ao final do módulo, além da lista de re-


ferências básicas, encontram-se outras
que foram ora utilizadas, ora somente con-
sultadas, mas que, de todo modo, podem
servir para sanar lacunas que por ventura
venham a surgir ao longo dos estudos.
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UNIDADE 2 - Religião

2.1 O que é e porque estu- no contexto religioso, religare pode ter


outro significado: “Religare religionibus
dar religião bona alicujus”, pode ser traduzido como
Segundo Chiavenato (2002), foram os “Consagrar a alguma divindade os bens
romanos os primeiros a usarem a palavra de outros” - o que é muito característico
religião significando dever de fidelidade na luta entre o cristianismo e o paganis-
ao Estado ou religio, isto é, o cidadão ro- mo a partir dos séculos III e IV. No entan-
mano devia comportar-se religiosamente to, Santo Agostinho (354-430) preferia
– com lealdade ao Estado e às autorida- como origem da palavra religião o ree-
des – e como no Império Romano, o Esta- ligere, reeleger – os homens, depois da
do era religioso, a relação entre Estado e mensagem de Jesus Cristo, reelegeram o
Religião aconteceu naturalmente. Deus cristão.
Cícero (106-46 a.C.) dizia que religião Enfim, a palavra religio-religião sofreu
vem de relégere, voltar a ler, recordar. variações de significado à medida que o
Para alguns teólogos, ele queria dizer Estado e a igreja cresciam e enfrentavam
que os homens diligentes “voltavam a os acontecimentos históricos.
ler” o que se referia ao culto aos deuses.
Mas vamos tentar entender o que é re-
Três séculos depois o escritor cristão ligião?
Lactâncio (240-320) desenvolveu a ideia
Assim como a explicação para a origem
de religião como a identificação senti-
da palavra religião muda de acordo com
mental entre o homem e Deus, já pen-
certos interesses, o conceito de religião
sando no Deus cristão, criador do mundo
também se modifica pelos tempos. A re-
e de tudo que nele havia.
ligião não pode ser entendida da mesma
Religio, como os romanos entenderam forma quando se trata das sociedades
originariamente ou na interpretação de tribais, dos gregos, dos romanos, entre
Lactâncio, passou a exprimir tanto a le- outros (CHIAVENATO, 2002).
aldade ao Estado – pelo acatamento das
A pergunta o que é religião? tem de ser
leis, códigos morais, entre outros – como
respondida levando-se em conta as ca-
a identidade sentimental, a crença em
racterísticas e as categorias religiosas de
um só Deus; nesse caso, cristão.
cada época. Esta pergunta não permite
Com mais frequência, afirma-se que a resposta genérica. Porque a religião não
palavra religião vem do latim religare, que é a mesma em diferentes épocas e socie-
significa amarrar. Os cristãos geralmen- dades.
te preferem essa explicação. Lactâncio
Para os primeiros cristãos romanos,
usou religare para afirmar que o homem
por exemplo, a religião era a fuga da
“voltava a atar seus vínculos com Deus”.
vida real, o “ópio” que as livrava espiri-
Mas é interessante observar que mesmo
tualmente das coisas deste mundo. O
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cristianismo primitivo não continha em nômica. A religião não é só um meio que


si nenhum componente filosófico, mas os grupos de poder usam para preservar
uma alienação específica, conformando sistemas políticos ou econômicos.
o homem a sofrer resignadamente neste
Porém, a pergunta o que é religião?,
mundo, sem vontade política de modifi-
apesar de complexa, pode ser respondi-
cá-lo.
da objetivamente em uma frase. Se cada
Na Idade Média, a religião adquiriu um momento exige uma interpretação e um
conteúdo filosófico e teológico muito entendimento específico, objetivamen-
forte. Nesse período de quase mil anos, te, pode-se chegar a uma velha e tradi-
a religião ocupou o espaço político: a vida cional resposta básica, que tem causado
se fez em torno ou em relação aos con- horror e satisfação há mais de cem anos:
ceitos religiosos. Os reis eram consagra- “religião é o ópio do povo”. Ao contrário
das pela Igreja; os papas ditavam a mo- do que parece, a afirmação de Marx não
ral e os costumes – quase sempre com reduz a religião a nada: abre um leque es-
exemplos nada dignificantes. A teologia pantoso de análise radical, em que a raiz
condicionava a ciência, permitindo-lhe o é o próprio homem. Mas existem carac-
progresso ou sufocando-a em dogmas e terísticas radicalmente diversas de ser
proibições absurdas. esse ópio do povo.

O cristianismo do Império Romano e o


da Idade Média pouco tinham em comum.
2.2 Vários olhares para a re-
Se as características religiosas diferem ligião: da sociologia à Teolo-
em cada época, são diferentes também
as suas formas de relação com o poder
gia, do psicológico ao antro-
político e econômico. Se recuarmos à Pa- pológico
lestina do tempo de Jesus, veremos que a Segundo Teixeira (2014), a peculia-
religião representava as tendências polí- ridade do olhar sociológico sobre o fe-
ticas de cada classe, sem que isso impli- nômeno religioso consiste em trazer a
casse participação ativa dentro do orga- questão para suas formas concretas de
nismo do Estado. inserção no tempo. O fenômeno está
Nessas sociedades e nessas épocas, aí, acontecendo em expressões efeti-
a religião é diferente em cada circuns- vas. São representações e crenças, são
tância e em cada momento – e para cada ritos específicos que traduzem, como
classe. É preciso observar as diferenças indica Emile Durkheim (sociólogo fran-
para não incidir no erro de uma resposta cês,1858-1917), um sistema de forças
genérica. Também é preciso cuidado para bem vivo. Esse sentimento não pode ser
não tornar a crítica da religião um simples ilusório, pois esteve sempre acompa-
reducionismo. Destacar as condições so- nhando a dinâmica da humanidade: tem
cioeconômicas nas quais as religiões se correspondência com algo no real. Trata-
desenvolveram – e o cristianismo em par- -se de um sentimento demasiado geral
ticular – não significa explicar o fenôme- e que traduz a presença no humano de
no religioso apenas pela estrutura eco- uma força dinamogênica inusitada, que o
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ajuda a suportar as dificuldades da exis- çada, uma objetivação da fé.


tência e também superá-las.
Karl Rahner (1904-1984), citado por
Como pontua Durkheim, a religião tem Teixeira (2014), foi um dos grandes teó-
como função ajudar a viver, suscitar um logos do século XX, dedicando-se a com-
agir, tudo isso animado por um sentimen- preender os traços dessa “experiência
to peculiar de poder que eleva o ser hu- transcendental” que, a seu ver, opera em
mano acima de suas potencialidades, au- todos os seres humanos, tendo também
xiliando-o a fazer frente às provas do dia um papel fundamental no incentivo à
a dia. Ela é mais um sistema de forças que abertura da igreja católica-romana às di-
de ideias. versas tradições religiosas.

Perceber e classificar as coisas como Para ele, não há como desvencilhar-se


sagradas ou profanas faz com que as cren- desse dinamismo que atua na consciên-
ças religiosas sejam quase uma irmanda- cia subjetiva, como traço necessário e in-
de. Vejamos pela ótica de Durkheim: as suprimível, mesmo que ocorra de forma
coisas sagradas envolveriam um círculo anônima ou atemática. Cada consciência
de objetos de extensão infinitamente subjetiva estaria assim animada por esse
variável, tendo como peculiaridade uma “caráter ilimitado de abertura”. Enquanto
percepção de dignidade singular – e su- ser de transcendência, o ser humano está
perioridade – com respeito às coisas pro- sempre, e antes de qualquer ato de liber-
fanas. O caráter sagrado, por sua vez, não dade, situado e orientado na atmosfera
é algo intrínseco a uma coisa reconhecida de um “mistério santo e absolutamente
como sagrada, mas é um dado acrescen- real”. É esse mistério, simultaneamente
tado. Quando se fala em força religiosa, o transcendente e familiar, o que existe
que está em jogo é um sentimento inspi- “de mais evidente”, colocado sempre à
rado pela coletividade em seus membros disposição do humano.
e que vem projetado e objetivado.
Segundo Rahner, esta experiência
Resumindo: para Durkheim, a religião transcendental do sujeito vem marcada
é parte essencial da vida social e como as por universalidade, podendo ocorrer de
representações religiosas são represen- forma atemática e mesmo “arreligiosa”,
tações coletivas (Ritos) nesse sentido a independente de uma experiência reli-
religião é um produto do coletivo. giosa explícita. É uma experiência origi-
nal, ontologicamente fundada. Ela acon-
Georg Simmel (sociólogo alemão,
tece de fato onde quer que o sujeito atue
1858-1918) também dá sua contribuição
de forma livre e profunda a sua existên-
ao estudo, diferenciando de imediato em
cia. É algo que se disponibiliza para to-
sua obra os conceitos de religiosidade e
dos, e que pode ocorrer “até mesmo em
religião, postulando que se diferem pelo
formas e conceituação que aparente-
fato de que a Religião é criada pela Re-
mente nada têm de religioso” (RAHNER,
ligiosidade e não o contrário. A Religio-
1989, p. 164). Ocorre quando o sujeito se
sidade seria uma “disposição de ânimo
vê defrontado, no âmbito de suas ativi-
interior”, e a religião uma fase mais avan-
dades cotidianas, com o “abismo de sua
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existência”, com a profundidade que es- fenômeno tendo em conta suas tensões
capa ao burburinho tranquilo das coisas e polarizações constitutivas. O objetivo
familiares (TEIXEIRA, 2014). proposto é o de observar a conduta dos
sujeitos e das instituições, com particular
Em discussões sobre perspectivas psi-
atenção aos aspectos subjetivos.
cológicas sobre religião, enfrentamento
e cura, Paiva (2007) pontua que o com- Como indicou com acerto Edênio Valle
portamento religioso é variado em sua (1998 apud TEIXEIRA, 2014), ainda que
significação. Em outras palavras, como reconhecendo os inúmeros desacordos
as formas religiosas são históricas, a psi- que dividem os praticantes dessa disci-
cologia só se aplicará com competência a plina, a aproximação psicológica ao fe-
uma modalidade religiosa se apreender nômeno religioso guarda alguns traços
seu sentido. Numa cultura, por exemplo, importantes:
em que saúde e doença são considera-
As definições deixam claro que as
das holisticamente extensões da relação
religiões reais – com seu peso institu-
com a divindade, como na antiguidade
cional e sócio-histórico – e a religiosi-
organizada ao redor da religião (VERGO-
dade, sua face subjetiva, acontecem
TE, 2001), a cura só pode ser religiosa,
no jogo das múltiplas relações que se
pela definição dos termos.
estabelecem entre o sujeito religio-
Por outro lado, numa cultura moderna, so, o grupo religioso ao qual se afilia
em que se reconhece a autonomia dos di- e o universo das crenças e valores
versos segmentos da vida individual e so- vigentes naquela dada sociedade,
cial, a saúde e a doença não têm de passar grupo ou época, considerados, inclu-
pela definição religiosa ou, se o fazem, é sive, seus respectivos modelos civi-
num sentido bastante peculiar. Se tomar- lizatórios e respectivos estágios de
mos o caso do cristianismo, encontrare- desenvolvimento tecnológico-cien-
mos entendimentos diversos dessa rela- tífico e político-organizativo. Neste
ção na antiguidade e na modernidade. O contexto de extraordinária comple-
interessante é que subsistem em geral xidade, o psicólogo tenta chegar à
nas pessoas dimensões antigas e moder- opção vivencial e à realidade psicoló-
nas, de modo que idealmente às vezes gica e humana dos indivíduos, assim
nos comportamos como pré-modernos, como essa aparece em seu compor-
vendo por exemplo na saúde a bênção tamento religioso (VALLE, 1998, p.
de Deus e na doença sua punição, e às 260 apud TEIXEIRA, 2014).
vezes como modernos, vendo na saúde o
O olhar psicológico, aninhado num
resultado de feliz disposição genética, de
ramo específico das ciências da religião,
recursos econômicos e de conhecimento
busca examinar os fenômenos e manifes-
para cuidar da higiene e da alimentação
tações religiosas tendo em vista a polifo-
(PAIVA, 2007).
nia de suas dimensões comportamentais.
Num viés mais metodológico, diz Tei- É, porém, um olhar que se encontra ainda
xeira (2014) que a abordagem psicológi- em estágio de construção, mesmo com
ca da religião busca uma aproximação do uma história que já soma quase cento e
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cinquenta anos. Esse caminho veio re- Religião, instrumentando-a com novos
centemente traçado por Jacob Belzen, da atributos para conhecer o sujeito religio-
Universidade de Amsterdã, que sintetiza so tanto a partir de fora como de dentro
de forma muito feliz os passos até agora de sua prática religiosa (TEIXEIRA, 2014).
percorridos pela Psicologia da Religião. A
Por fim, no viés antropológico, ao ini-
forma como se concebeu ou se exerceu
ciar estudos sobre a Antropologia da Re-
esse campo temático foi muito diversifi-
ligião, Oliveira (2012) nos apresenta dois
cada: ora se firmou a serviço do religioso,
textos que revelam o quanto as religiões
ou então a serviço da crítica à religião ou
significam para a humanidade.
do conhecimento científico. Perspectivas
que se vinculam a um dos três caminhos Vejamos:
são recorrentes. Mas uma outra perspec-
tiva, sublinhada por Belzen, vem também 1) À primeira vista, pode-se pensar
se firmando, e é bem sugestiva. Trata-se que todos saibam o que significa a pala-
do caminho nomeado como “Parecerista” vra religião e religioso. Talvez tal pressu-
(do alemão Rezensentin). posição esteja certa enquanto se refere
às manifestações mais ostensivas. Mas
Para usar uma metáfora do mundo da quando se trata de precisar a essência
música, esta perspectiva tem como foco da religião logo surgem dificuldades sem
principal a atenção desperta para os que fim. Quem poderá fixar os limites entre o
praticam a música, no caso, os executan- verdadeiramente religioso e o puramen-
tes da religião. E o autor justifica esta te cultural, folclórico ou social? [...]. Se
posição: “Os psicólogos da religião que compararmos o fenômeno religioso com
exercem sua profissão como Pareceris- o fenômeno social ou similar, podemos
tas sobre uma religião ou comportamen- dizer que designamos a estrutura espe-
to religioso não se sentem chamados a cial do homem definida por sistema de
escrever sobre religião em geral, mas sim relações com os outros homens [...]. No
sobre um comportamento religioso con- fundo de toda a situação verdadeiramen-
creto” (BELZEN, 2013, p. 326-7). te religiosa, encontra-se a referência aos
fundamentos últimos do homem: quanto
Esse modo de procedimento é distin-
à origem, quanto ao fim e quanto à pro-
to de certa concepção exteriorista ou
fundidade. O problema religioso toca o
neutra, bem vigente neste campo, que
homem em sua raiz ontológica. Não se
destaca o pesquisador do objeto de seu
trata de fenômeno superficial, mas impli-
estudo em vista de uma maior cientifi-
ca a pessoa como um todo. Pode caracte-
cidade. Ao contrário, os que seguem a
rizar-se o religioso como zona do sentido
nova orientação estão bem cientes da
da pessoa. Em outras palavras, a religião
importância de uma maior aproximação
tem a ver com o sentido último da pessoa,
da religiosidade particular para uma in-
da história e do mundo (ZILLES, 2004, p.
terpretação correta das manifestações
5-6).
subjetivas do exercício da religiosidade.
Esta nova ocular vem assim recuperar a 2) Para entender a condição humana
dimensão hermenêutica da Psicologia da nos seus aspectos mais profundos e mis-
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teriosos, nós certamente devemos levar “enquanto atitude daquele que confere
em conta a religião. Esta ajuda a formar caráter absoluto ao seu ponto e vista”
estruturas imaginativas e elementares (BOFF, 2002) que vem crescendo sobre-
sobre como nos orientamos ou deverí- maneira desde meados do século XX, nos
amos nos orientar no cosmos. A religião faz atentar para a necessidade de buscar
dá forma e ensaia no ritual nossos mais explicações da realidade mais concretas
importantes laços, uns com os outros e e pluralistas e fugir um pouco a esse sen-
com a natureza, e provê a lógica tanto ao timento de saber dominante, caracterís-
porque destes laços serem importantes tico do fundamentalismo.
como ao o que significa estar comprome-
Nesse sentido, a Antropologia da Reli-
tido com eles (NEVILLE, 2005, p. 37).
gião nos ajuda a compreender como o ser
Sendo uma realidade que toca o ser humano foi e continua sendo visto por
humano na essência de seu ser e de sua ele mesmo e por uma das suas mais signi-
existência, ela não pode deixar de ser ficativas e originais manifestações, a re-
analisada no âmbito acadêmico como ligião. Não se trata de fazer uma análise
veremos adiante. Além disso, a religião de cada uma das religiões, mesmo aque-
tem uma relação toda especial com o ser las mais conhecidas. Na Antropologia da
humano, bem diferente de outros fenô- Religião, faz-se uma análise científica do
menos antropológicos. Ela, por exemplo, fenômeno religioso, enquanto experiên-
está na raiz de muitas normas e valores cia antropológica, isto é, do ser humano
da nossa sociedade; influi na compreen- (OLIVEIRA, 2012).
são que os seres humanos têm de si mes-
Na análise das diversas visões antro-
mos e na identidade de muitos povos e
pológicas advindas das diferentes cul-
nações.
turas e religiões há um esforço para se
Para um número muito grande de pes- perceber a riqueza de cada uma delas,
soas, a religião oferece motivação para desfazendo preconceitos, reconstruin-
viver, ajuda a resolver problemas huma- do nosso pensar, mesmo sem renunciar à
nos sérios e dá respostas para muitas necessária crítica.
questões (LEMOS, p. 129-142).
Pode-se, então, dizer que a Antropo-
Somente por essa condição já podería- logia da Religião é uma antropologia da
mos encerrar nossas considerações acer- transcendência, no sentido que produz
ca de suas relações com a Antropologia, significados para além daquilo que se dá
mas vamos caminhar só um pouco mais. no cotidiano. Não é apenas um retorno às
tradições religiosas, mas a interpretação
Concordamos com Silva Junior (2005)
dessas, visando a percepção de novas re-
ao inferir que ter um olhar antropológico
alidades que vão surgindo dentro delas, a
para as relações humanas – dentre elas
partir do seu contato com a modernidade
a religião – é mergulhar nestas relações
e a pós-modernidade. O que se quer com
como elas se dão nas suas diferenças
a Antropologia da Religião não é tan-
culturais, históricas, econômicas, políti-
to conhecer as causas e dar explicações
cas e psicológicas e o fundamentalismo,
para o fenômeno religioso, mas estudar
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e conhecer o sentido que a experiência


religiosa confere às ações e situações do
cotidiano.
12

UNIDADE 3 - Religião no Mundo Antigo

Voltando à nossa história da Teologia, quieta e insegura, dificultando a ataraxia


entre os pré-socráticos, já surgiu um dis- e a autarquia. A origem grega da palavra
tanciamento da teologia mitológico-reli- teologia pesa sobre seu destino histórico
giosa, voltando-se para uma teologia ra- até hoje. Tanto a palavra quanto o concei-
cional-filosófica: to são, pois, uma criação típica do gênio
filosófico grego em sua reflexão sobre o
Xenófanes (século VI, a.C.) critica, du-
princípio último (arché) de todas as coisas,
ramente, o antropomorfismo da concep-
através do logos. A sua associação com a
ção de Deus. Em grandes linhas, podemos
mitologia pagã explica a reserva inicial do
dizer que os pré-socráticos substituem o
cristianismo de apropriar-se do termo.
deus mítico pelo “deus dos filósofos” que
é eterno, imutável e rege o mundo trans- O cristianismo, baseando-se em São
cendente na imanência, como ser racional Paulo e em São João, primeiro tende a re-
e espiritual; jeitar e depois desenvolve, com os meios
da própria filosofia grega, uma apologéti-
Platão (428-347 a.C.) e Aristóteles
ca (século II). Orígenes, invocando o cânon
(384-322 a.C.) distanciam-se dos mitos da
dos livros sagrados, entretanto já fixado,
religião grega e dos poetas para inaugurar
coloca os fundamentos de uma teologia
um enfoque verdadeiramente racional na
cristã autônoma, indicando, como base
questão de Deus;
de legitimação, a Escritura, a doutrina da
para Platão, a teologia é o discurso Igreja e a razão. Foi, pois, entre os padres
filosófico, purificado dos elementos míti- gregos, com Orígenes e Eusébio de Cesa-
cos, sobre Deus; reia, que a palavra teologia passou a de-
signar o discurso sobre o Deus de Jesus
v Aristóteles cita a filosofia teológi-
Cristo.
ca como filosofia primeira, entre as três
ciências teóricas, ao lado da matemática Para Eusébio, os profetas do Antigo
e da física. Segundo ele, trata da causa Testamento e os apóstolos do Novo Tes-
primeira, do motor imóvel que tudo move tamento são os verdadeiros teólogos. Cle-
sem ser movido e dos primeiros princípios mente e Orígenes, pensadores da Escola
não empíricos do ser e do pensamento de Alexandria, referem-se aos “antigos
(ZILLES, 2013). teólogos dos gregos” e aos “teólogos dos
persas”, mas reclamam o título de “ver-
Mas, essa concepção de teologia cedo
dadeira teologia” para o discurso cristão.
também encontrou objeções críticas por
Para Clemente, Orfeu é teólogo, mas Moi-
parte do ceticismo, sobretudo contra as
sés também. Com o historiador Eusébio de
provas da existência de Deus (deuses) e
Cesareia (263-339), surge a teologia ecle-
de seus atributos. Os epicureus rejeitam a
siástica, sem associação com a religiosi-
teologia por razões pragmáticas e morais,
dade pagã. A palavra adquire sua acepção
pois veem nela o perigo do medo diante
clássica na obra de Dionísio Areopagita
dos deuses, o qual conduz a uma vida in-
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(século V-VI), que distingue entre teologia giu a questão dos sentidos da Escritura.
apofática (negativa), catafática (afirmati- E quando pagãos atacam o cristianismo,
va) e mística. os padres saem em sua defesa (apologé-
tica). Defendem sua moralidade e, a par-
Santo Agostinho (354-431) ainda pre-
tir de Justino, teólogo leigo, também sua
fere falar de “doutrina cristã” para refe-
racionalidade passa a ocupar, cada vez
rir-se ao conjunto dos mistérios cristãos,
mais, um lugar central, como já é o caso
pois o uso do termo teologia, no Ocidente,
do Contra Celso, de Orígenes (185-253). À
demorou mais para ser introduzido. Os la-
teologia atribui-se a função de defender a
tinos preferiam outros termos como doc-
coerência e a credibilidade do cristianismo
trina sacra, sacra scriptura, sacra pagina,
perante as razões religiosas e filosóficas
entre outros. A teologia nasce no interior
do paganismo. Para isso, a fé cristã é tra-
da fé. Por sua própria natureza, a fé aspira
duzida para dentro da cultura e linguagem
a ver, a compreender.
filosóficas do helenismo.
No período do século IV ao VII, os pa-
A exegese e a catequese expressam-
dres assumiram as ideias fundamentais
-se em linguagem, elaborando conceitos,
de Platão, do neoplatonismo, do estoicis-
buscando as razões do cristianismo, como
mo e da gnose, enquanto não contradi-
exigências internas da própria fé. Passa
zem a revelação. Assim, desenvolveu-se
a distinguir-se entre fé e conhecimento
a doutrina da graça (Agostinho), da Trin-
(gnosis), entre sabedoria e conhecimento,
dade e da Cristologia. Depois de um longo
para responder às exigências intelectuais
intervalo de silêncio, Anselmo de Cantuá-
do próprio crente. Assim, aos poucos, a
ria (1033-1109), a Escola de São Victor e
teologia se organiza como esforço da in-
Pedro Abelardo (1079-1142) desenvolve-
teligência especulativa. Dependendo das
ram uma teologia crítica da Igreja e da fé.
fontes escriturísticas, tratadas pela exe-
Pedro Lombardo (1100-1160) reuniu seus
gese, surge uma nova organização, uma
resultados no Comentário das Sentenças,
nova armadura intelectual (a teologia),
que se tornou o manual de teologia dog-
em busca de uma autocompreensão es-
mática até a alta escolástica. A teologia
peculativa da fé, forjando uma linguagem
chega a um ponto alto com os francisca-
oficial da Igreja. Desse modo, ao introdu-
nos Boaventura (1217-1274) e J. Duns Sco-
zir termos não bíblicos (consubstancial)
tus (1266-1308) e com o aristotelismo as-
na profissão de fé pública, o Concílio de
sumido pelos dominicanos Alberto Magno
Niceia (325) já provou que o trabalho teo-
(1193-1280) e Tomás de Aquino (1224-
lógico é importante na Igreja.
1274).
Tornou-se clássica a formulação con-
Continuando com as sábias e explicati-
densada de Santo Anselmo de Cantuária
vas palavras de Zilles, na patrística, a ca-
com a qual quis intitular a obra que, mais
tequese em preparação à iniciação cristã
tarde, chamaria Proslogion: fides quae-
exigia que se interpretassem e comentas-
rens intellectum. Anselmo propõe-se a
sem os textos canônicos (como testemu-
tarefa de “crer para compreender” e “com-
nhos normativos) às pessoas ainda não
preender para amar”.
iniciadas na fé cristã. Por isso, cedo sur-
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Segundo essa definição, a teologia vive de tudo, a “automanifestação” de Deus,


do esforço do crente por pensar e expri- na história da salvação, que se consuma
mir a própria fé, com todos os recursos da em Jesus Cristo. Ora, a revelação, enquan-
razão. Segundo Anselmo, é a fé que pro- to Palavra de Deus na palavra humana, é
cura, é a fé que busca a inteligência. A fé é inseparável de um testemunho humano e,
o ponto de partida da pesquisa filosófica portanto, não há revelação sem teologia.
na teologia. Para os medievais, a teologia A linguagem da revelação já é um meio in-
é, pois, a interpretação racional da reve- terpretativo, baseado no diálogo vivo de
lação de Deus, aceita na fé. Quem crê, ou Deus com o homem.
seja, aceita a revelação de Deus, é um ser
Por outro lado, a teologia não é apenas
racional e, por isso, a fé já implica atividade
uma exigência da revelação, mas já se en-
racional e o crente naturalmente procura
contra, potencialmente, na fé de todo o
compreender e penetrar o significado da
crente. A fé, como resposta à Palavra de
palavra divina. Esse intellectus fidei, na
Deus, é também conhecimento, de acordo
sua modalidade mais elaborada, é a teolo-
com as exigências próprias de um espírito
gia. A ligação da teologia à fé e à revelação
humano, historicamente condicionado. A
divina distingue-a de qualquer filosofia e
fé busca uma compreensão sempre mais
ciência da religião. Ela emerge do “mundo
completa da Palavra de Deus. Todo cren-
da fé”, embora este seja mais amplo e mais
te que reflete sobre sua fé, em função da
rico que o “mundo da teologia”. A teologia
cultura de uma época, já é um teólogo, ao
não dispensa nem supera a fé e, muito
menos em sentido amplo.
menos, elimina os mistérios. A ciência da
religião reflete sobre o fenômeno cultu- A teologia, certamente, não é ciência
ral da religião em geral ou duma religião no sentido moderno. Entretanto, não se
particular, sem ter, necessariamente, um lhe pode negar certa categoria científica,
compromisso com a fé. sobretudo, quando se trata de disciplinas
como exegese, história das doutrinas e
O ponto de partida da teologia cristã
das instituições, história eclesiástica, en-
é a revelação que Deus fez de si mesmo,
tre outras. Também a teologia especulati-
ao longo da história de Israel, história que
va, que pretende mostrar a lógica interna
culmina em Jesus Cristo, a palavra feita
da fé e proporcionar uma compreensão
carne (Jo 1,14. São João diz: “E o Verbo se
mais perfeita dos mistérios cristãos, uti-
fez carne e armou tenda entre nós; vimos
liza todos os recursos da razão filosófica.
a sua glória, a glória de Unigênito do Pai,
Quando Tomás de Aquino e muitos outros
cheio de graça e verdade”.). A revelação
medievais afirmam o caráter científico da
judaico-cristã tem a caraterística especí-
teologia, este tem um significado históri-
fica de ser, ao mesmo tempo e de maneira
co mais restrito, resultante da aplicação
inseparável, palavra e história. Deus não
do conceito aristotélico de ciência, o que
se limita a escrever um livro, pois também
encerra o risco, evitado pelo Aquinate
se manifesta nos acontecimentos da his-
mas não por muitos de seus seguidores,
tória. Por isso, equivocam-se aqueles que
de reduzir a teologia a uma teologia de
consideram a revelação um simples “corpo
conclusões. A teologia é elaborada pela
de verdades doutrinais”, pois ela é, antes
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razão do crente – credo ut intelligam, pois vez, chamados “cristãos” (cf. At 11, 26). A
o teólogo é um crente que reflete, critica- partir das sinagogas e comunidades judai-
mente, sobre sua fé. cas helenizadas, expandiu-se o cristianis-
mo fora do contexto judaico tradicional.
Enfim, a teologia é o esforço humano
Por fim, o cristianismo expandiu-se até
por compreender melhor a Revelação, que
Roma, alcançando as fronteiras do Impé-
é histórica e é transmitida pela Igreja em
rio Romano, no contexto do mundo gentio
atos históricos. Ela se realiza em sucessão
ou pagão.
histórica, implicando sempre, e essencial-
mente, um momento transcendental. Ela O mundo no qual o cristianismo antigo
compromete o testemunho de seu autor se expandiu, apesar de sinais de decadên-
enquanto se apresenta como apelo e ta- cia, era um mundo vigoroso. No século I da
refa, e não simplesmente como doutrina a era cristã, a civilização romana, herdeira
conhecer (ZILLES, 2013). da civilização helenística, tinha alcançado
sua plena expansão. É o período do império
3.1 O cristianismo na anti- de Augusto (30 a.C.) e Tibério (14-37d.C.).
Roma estende seu domínio civilizador,
guidade com a pax augusta, uma paz militarizada,
De maneira geral, por cristianismo an- aos confins do Oriente. No século II, com
tigo entende-se o cristianismo dos qua- os imperadores Antoninos, ainda temos
tro primeiros séculos da Era Cristã, cujo a ordem, o direito e uma administração
período vai desde o nascimento da Igreja, eficaz, dentro de um Estado relativamen-
no evento Pentecostes (cf. At 2), em que te liberal. Mesmo com a grande crise do
os discípulos de Jesus Cristo receberam o século III, sob Diocleciano (284-305), sua
Espírito Santo para anunciar o seu Evan- história ganha um novo impulso: em seu
gelho (c. 30 d.C.) até a queda do Império governo instaura-se uma monarquia ab-
Romano do Ocidente (476 d.C.). Esse pe- soluta, apoiada em um poderoso aparelho
ríodo de quatro séculos e meio é dividido, administrativo (OSA, 2014).
por sua vez, em duas grandes etapas: da
pregação apostólica (c. 30 d.C.) à “guinada Muitas culturas, muitos povos, muitos
constantiniana” (313 d.C.) ou até o Con- deuses. O Império romano tinha grande
cílio de Niceia (325) e daí até a queda de tolerância pela religião dos povos domina-
Roma (476 d.C.) (OSA, 2014). dos. Tinham até em Roma um “panteão”,
um templo para todas as divindades do
A maioria dos discípulos e discípulas de Império. Os romanos exigiam apenas que
Jesus era constituída de judeus. A primei- se observasse o culto imperial, de caráter
ra expansão do cristianismo deu-se nesse cívico, com suas cerimônias públicas, das
ambiente, a língua, costumes, tradições, quais todos os cidadãos do Império deve-
práticas judaicas foram reinterpretadas à riam participar, para oferecer sacrifícios
luz da mensagem de Jesus. Desde o século e rezar pelo Imperador: dominus ac divus
II a.C., os judeus encontravam-se espalha- (senhor e deus). A religião oficial era a
dos pelo mundo helenizado (diáspora). Em base da unidade imperial. Atentar contra
Antioquia, capital da província da Síria, os ela era crime. Os cristãos, ao afirmarem
seguidores de Cristo foram, pela primeira
16

que seu único Senhor era o Cristo, passa- culo I um movimento de caráter sincrético,
ram a ser considerados suspeitos, estra- que amalgamou elementos de muitas tra-
nhos e inimigos do Estado. dições culturais, religiosas e filosóficas.
Era o gnosticismo: através da gnose, um
Num mundo marcado por muitas inse-
conhecimento superior, revelado aos ca-
guranças, miséria, opressão e escravidão,
pazes desse conhecimento, os gnósticos,
proliferavam muitas religiões vindas do
o homem podia conhecer os mistérios do
Oriente e que se tornaram muito popula-
mundo divino e salvar-se. No século II e III
res. Eram os cultos de Hórus, Ísis e Osíris
há uma explosão de seitas e grupos gnós-
(Egito); Mitra (Pérsia); Asclépio e Esculá-
ticos, existentes tanto entre os pagãos,
pio estavam entre os deuses “salvadores”
como entre os judeus e cristãos.
mais populares. Essas religiões tinham um
caráter iniciático: exigiam conversão ou Jesus anunciou e inaugurou a Boa Nova
uma passagem, um novo nascimento, um do Reino num contexto plural. Sua men-
período de iniciação nos “mistérios” e uma sagem difundiu-se num mundo plural. Sua
cerimônia de iniciação. Os “iniciados” in- mensagem e sua pessoa, sua vida foram
gressavam na “fraternidade”, tornavam- transmitidas, primeiramente, numa men-
-se irmãos, associados à divindade, sua talidade semítica, tendo depois de buscar
vida ganhava um novo sentido, era-lhes uma linguagem helenizada para se fazer
prometida a eternidade. O Império tra- compreender e daí, sucessivamente, ger-
tava-as como superstitio, religio nova, e mânica, céltica, entre outras. É natural
considerava-as ilícitas. O cristianismo foi que houvesse diferentes interpretações
classificado como uma dessas religiões. de sua pessoa e sua obra. Já no Novo Tes-
tamento encontramos várias “teologias” e
Os filósofos consideravam o politeísmo
advertências contra os anticristos, falsos
uma “alegoria” das realidades superio-
profetas. Dentre as primeiras “escolhas”
res, que eles tinham superado através do
parciais (“heresias”), que não davam con-
exercício da ascese e da razão, em busca
ta de compreender corretamente Jesus
da verdadeira doutrina ou filosofia. Mui-
Cristo e sua mensagem ou que extrapo-
tos sistemas filosóficos procuravam res-
lavam seu conteúdo, encontramos os do-
ponder às grandes questões das origens e
cetas (Jesus tinha “aparência” de homem,
finalidade do universo, de todas as coisas,
negavam portanto sua “humanidade”) e
dos problemas ligados ao homem e suas
os ebionitas (era o Messias, um homem
relações na polis e com o mundo divino,
vindo de Deus, mas não o Filho de Deus,
do significado da justiça, da felicidade,
negavam sua “divindade”). Em torno des-
da imortalidade. Normalmente postula-
sas duas verdades proclamadas e da ma-
vam a existência de um Deus, princípio
neira de viver e praticar a mensagem de
ou causa transcendente, com um mundo
Jesus, surgiram, nos três primeiros sécu-
superior, imaterial. Não poucas pessoas
los, muitas heresias e dissensões ou cis-
vindas desse universo cultural buscarão a
mas: gnosticismo (vários ramos), monta-
“verdadeira filosofia”, que encontrarão no
nismo, milenarismo, subordinacionismo,
cristianismo.
adocionismo, modalismo, maniqueísmo,
Nesse universo plural, despertou no sé- entre tantas outras (OSA, 2014).
17

Para enfrentar esses desafios, já no fi- ticamente passaram despercebidos, con-


nal do século II e durante todo o século III, fundidos com uma seita do judaísmo, que
as Igrejas realizam reuniões com seus diri- gozava de certa liberdade e alguns pri-
gentes para buscar resolver os problemas vilégios. Possivelmente tenham sido os
e encontrar a unidade nas coisas essen- judeus a denunciarem a Nero os cristãos
ciais. São os sínodos ou concílios. Nesse como causadores do incêndio.
sentido, o encontro ocorrido em Jerusa-
Somaram-se a isso os preconceitos po-
lém, por volta do ano 49 d.C., é conside-
pulares, que viam os cristãos como gente
rado, simbolicamente, o primeiro concílio
que odiava o gênero humano, ateus, ím-
do cristianismo. Esses concílios tratavam
pios, sacrílegos e acusados de praticarem
de questões doutrinais e questões da vida
abominações e infâmias. Na verdade, os
prática. No final, davam determinações
cristãos não eram “separatistas”, mas não
sobre os aspectos tratados, através dos
seguiam os costumes idolátricos e pagãos,
cânones dogmáticos e disciplinares, com
como certas festas públicas, a frequência
uma “carta sinodal” a ser enviada às Igre-
ao teatro, não aprovavam a luta de gladia-
jas irmãs. Baseado nessa feliz experiên-
dores, a prostituição, adoração de estátu-
cia, o Imperador Constantino convocou,
as ou a divinização do imperador.
em 325, o 1º Concílio Ecumênico, para en-
frentar o problema do Arianismo. Corriam no meio do povo boatos de que,
em suas reuniões secretas, os cristãos
Na busca de compreender o Cristo e sua
adorariam a cabeça de um asno, com sa-
mensagem, a salvação, o significado da
crifício de crianças, seguido de canibalis-
Igreja, dando respostas às heresias e dis-
mo, com uniões incestuosas e orgias (to-
sensões, aprofundando a fé cristã, desen-
dos se chamavam “irmãos” e praticavam o
volve-se a teologia cristã. Nesse sentido,
“ósculo da paz”!) (OSA, 2014).
o processo de elaboração da doutrina cris-
tã usou dos recursos culturais da civiliza- Os intelectuais e as autoridades clas-
ção greco-romana: a língua grega e latina, sificavam a religião dos cristãos como
a retórica, a filosofia, o direito, práticas, superstitio, sendo posteriormente con-
costumes, instituições. A esse apropriar- denada pelo Estado como associatioilli-
-se da cultura, utilizando o que ela tem cita, religio nova ereligioillicita, por aten-
de melhor para expressar a mensagem de tar contra a unidade e a sacralidade do
Cristo, desde dentro, comumente chama- Império. A legislação evoluiu, no primeiro
-se inculturação. Esse fenômeno foi uma século, de certa tolerância com o fato de
característica constante da expansão ser cristão até a condenação pelo simples
cristã. A próxima etapa dar-se-á no mun- fato de ser cristão. Ser cristão acabava
do germânico. sendo um crime de lesa majestade.
Durante os três primeiros séculos da As perseguições dos dois primeiros sé-
era cristã, o cristianismo foi persegui- culos foram esporádicas, locais ou regio-
do, primeiro pelos judeus e depois pelos nais, intermitentes, motivadas por denún-
romanos. Até o incêndio de Roma, sob o cias ou ações pontuais. Já as perseguições
governo de Nero (c. 64), os cristãos pra- do terceiro século e início do quarto foram
18

desencadeadas pela autoridade imperial, Calcula-se que o número de mártires


através de decretos, de caráter geral, com variasse entre cem e duzentos mil. De
o objetivo de exterminar o cristianismo. toda forma, ao longo de todo este perío-
do, os cristãos viveram em permanente
Na primeira fase aconteciam por inci-
insegurança e sofreram hostilidades por
tamento popular, submetidas posterior-
parte do povo.
mente à apreciação dos magistrados. As
autoridades visavam controlar a fúria po- Em 313, os imperadores Licínio e Cons-
pular e as desordens públicas. No entan- tantino assinaram conjuntamente um do-
to, o cristianismo já era considerado ilegal. cumento, o Edito de Milão, que concedeu
Mas ainda são de caráter intermitente, liberdade de culto aos cristãos e a outras
seguindo-se longos períodos de tolerân- religiões. Chegava ao fim a era da perse-
cia e de paz. guição aos cristãos. Iniciava-se uma nova
etapa, denominada por alguns historiado-
Com Sétimo Severo, em 202, inicia-se
res como a guinada ou virada constanti-
uma nova prática: em certas ocasiões, a
niana (MATOS, 1997; PIERINI, 1998; MON-
própria autoridade promove as persegui-
DONI, 2014).
ções. Neste momento, o alvo são os ca-
tecúmenos (os que se preparavam para Constantino concedeu aos cristãos,
o batismo), os neófitos (os recém-bati- além da liberdade de culto, uma série de
zados) e os catequistas (que os prepara- isenções e privilégios, dando terras, pro-
vam). O objetivo era impedir que alguém priedades, prestígio e poder à Igreja Cató-
se tornasse cristão (OSA, 2014). lica. Em 380, o imperador Teodósio trans-
forma o cristianismo em religião oficial do
Em meados do século III, iniciam-se as
Império Romano: é a fase da “Igreja Impe-
perseguições sistemáticas, com o objeti-
rial” ou “Era de Ouro da Patrística”.
vo de exterminar efetivamente o cristia-
nismo. Décio foi o primeiro a decretar uma Nessa nova etapa, reformula-se o ca-
perseguição geral (250-251). Apesar de tecumenato; desenvolve-se a liturgia e a
curta, atingiu tal intensidade e extensão disciplina eclesiástica; a teologia patrísti-
nunca dantes vistas. O objetivo, mais do ca chega ao seu ápice; é também o perío-
que fazer mártires, era fazer apóstatas. do de grandes cismas e heresias; os dog-
De fato, muitos sucumbiram e traíram mas cristológicos e trinitários alcançam
sua fé ou comunidade (os lapsi), abrindo- sua formulação mais plena; aprimora-se
-se um problema no interior da Igreja. Em a organização da Igreja no território do
257, Valeriano desencadeou nova perse- Império, com as dioceses, paróquias e pa-
guição: visava principalmente o clero e as triarcados; surge a vida religiosa, com o
propriedades da Igreja, mas também afe- monacato; há um novo surto missionário
tava o povo, com uma série de interdições em direção aos povos “bárbaros”. É a épo-
que colocavam em risco sua segurança, ca dos concílios ecumênicos: Niceia (325),
confisco de bens, exílio, prisões. A última Constantinopla I (381); Éfeso (431) e Cal-
perseguição violenta foi a de Diocleciano cedônia (451) (OSA, 2014).
(303-313).
19

3.2 Culturas pagãs – a plura- a sua história.

lidade desde o tempo anti- Outro motivo é o reconhecimento de


que vivemos, cada dia mais, numa socie-
go dade pluralista na qual cada pessoa é livre
Mesmo que em poucas linhas, preci- para crer ou descrer, conforme preferir.
samos falar das culturas pagãs, afinal de No entanto, os povos antigos achavam
contas, como poderemos concluir ao final necessário ter algum tipo de religião. Um
do tópico, desde os tempos antigos, a plu- agnóstico ou “livre-pensador” teria pas-
ralidade já se fazia presente e, digamos, sado por maus momentos entre os egíp-
coerente e aceita por aqueles povos. cios, os gregos e os romanos. A religião
estava por toda a parte. Era o âmago da
Quem nos conta essa parte da história
sociedade antiga. O indivíduo adorava as
são os doutores Packer, Tenney e White Jr
divindades de seu vilarejo, cidade ou civi-
(2002), cujo livro intitulado “O mundo do
lização. Se ele se mudava para uma nova
Antigo Testamento” encontra-se disponí-
casa ou viajava por um país estrangeiro, o
vel para download em site que colocamos
dever obrigava-o a mostrar respeito pelas
nas referências.
divindades do lugar.
Os israelitas dos tempos do Antigo
Alguns aspectos eram comuns entre
Testamento entraram em contato com
as religiões pagãs, como, por exemplo,
cananeus, egípcios, babilônios e outros
todas elas participavam da mesma visão
povos que adoravam deuses falsos. Deus
do mundo, que se centrava na localidade
advertiu o seu povo a que não imitasse
e seu prestígio. As diferenças entre as re-
seus vizinhos pagãos, mas os israelitas
ligiões dos sumérios e dos assírio-babilô-
lhe desobedeceram. Repetidas vezes des-
nios ou entre as religiões dos gregos e dos
cambaram para o paganismo.
romanos eram muito pequenas.
Estudar as culturas pagãs nos leva a
Eram muitos os deuses! Em sua maio-
compreender que houve um tempo em
ria, essas religiões eram politeístas, o que
que o homem tentou responder às per-
significa que reconheciam muitos deuses
guntas supremas da vida antes de en-
e demônios. Uma vez admitido ao panteão
contrar a luz da verdade divina. Também,
(coleção de divindades de uma cultura), o
chegamos a entender o mundo em que Is-
deus não poderia ser dele eliminado. Ele
rael vivia — um mundo do qual a nação foi
havia ganho “estatura divina”.
chamada para ser radicalmente diferente,
tanto no terreno étnico como no ideológi- Cada cultura herdava ideias religiosas
co. de seus predecessores ou as adquiria na
guerra. Por exemplo, o que Nanna (deus
Os autores advertem algumas preca-
da Lua) era para os sumérios, Sin era para
ções ao proceder a esta leitura e estudo
os babilônios. O que Inanna (deusa da
por alguns motivos como estarmos a mais
fertilidade e rainha do céu) era para os
de dois mil anos daquela cultura e ainda
sumérios, Ishtar era para os babilônios.
não termos evidências suficientes para
Os romanos simplesmente assumiram os
comprovar cientificamente e totalmente
20

deuses gregos e lhes deram nomes roma- mãos”, ele zomba das crenças dos egípcios
nos. Assim, para os romanos, Júpiter era e dos babilônios. Esses povos pagãos não
igual a Zeus, deus do firmamento; Minerva podiam imaginar que o Universo cumpris-
equivalia à Atena como deusa da sabedo- se um plano divino total.
ria: Netuno correspondia a Posêidon como
Os egípcios também associavam seus
deus do mar; e assim por diante. Em outras
deuses a fenômenos da natureza: Shu
palavras, a ideia que se tinha do deus era a
(ar), Rê/Hórus (Sol), Khonsu (Lua), Nut
mesma; apenas o invólucro cultural era di-
(firmamento), e assim por diante. A mes-
ferente. Assim, uma cultura antiga podia
ma tendência aparece na adoração hitita
absorver a religião de outra sem mudar
de Wurusemu (deusa do Sol), Taru (tem-
a marcha nem interromper o passo. Cada
pestade), Telipinu (vegetação), e diversos
cultura não só reivindicava os deuses de
deuses de montanha. Entre os cananeus,
uma civilização anterior, reclamava como
El era o sumo deus do céu, Baal era o deus
seus os mitos da outra, introduzindo ape-
da tempestade, Yam era o deus do mar, e
nas mudanças insignificantes.
Shemesh e Yareah eram os deuses do Sol
Os principais deuses, muitas vezes es- e da Lua respectivamente. Por causa des-
tavam associados a algum fenômeno na- sa desnorteante linha de divindades da
tural. Assim. Utu/Shamash é a um tempo o natureza, o pagão jamais poderia falar de
Sol e o deus do Sol; Enki/Ea é tanto o mar um “universo”. Ele não fazia ideia de uma
como o deus do mar; Nanna/Sin é a Lua e força central que a tudo une, e pela qual
também o deus da Lua. As culturas pagãs todas as coisas existem. O pagão acredi-
não faziam distinção alguma entre um tava viver num “multiverso”.
elemento da natureza e a força por trás
Outro traço comum da religião pagã
desse elemento. O homem antigo lutava
era a iconografia religiosa ou adoração de
contra as forças naturais que ele não po-
imagens (fabricação de imagens ou totens
dia controlar, forças que poderiam ser ou
para adoração). Todas essas religiões ado-
benéficas ou malévolas. Chuva em quanti-
ravam ídolos: só Israel era oficialmente
dade suficiente garantia uma safra abun-
anicônica (isto é, não tinha imagens, não
dante, mas chuva em demasia destruiria
tinha nenhuma representação pictórica
essa colheita. A vida era de todo imprevi-
de Deus). O segundo mandamento proi-
sível, especialmente levando-se em conta
bia imagens de Jeová, como os bezerros
que os deuses eram considerados como
de Arão e de Jeroboão (Êxodo 32: 1 Reis
caprichosos e excêntricos, capazes de fa-
12:26ss.).
zer o bem ou o mal. Os seres humanos e
os deuses participavam do mesmo tipo de Mas religião anicônica nem sempre era
vida; os deuses tinham a mesma sorte de a história toda. Os israelitas adoraram
problemas e frustrações que os seres hu- ídolos pagãos enquanto na escravidão do
manos. Este conceito chama-se marasmo. Egito (Josué 24:14), e muito embora Deus
banisse seus ídolos (Êxodo 20:1-5), os
Desse modo, quando o Salmo 19:1 diz:
moabitas induziram-nos de novo à idola-
“Os céus proclamam a glória de Deus e o
tria (Números 25:1-2). Idolatria foi a mina
armamento anuncia as obras das suas
dos diligentes de Israel em diferentes pe-
21

ríodos de sua história, e Deus finalmente cidade ou da comuna.


permitiu que a nação fosse denotada “por
Por fim, a característica do sacrifício!
causa dos seus sacrifícios” a ídolos pagãos
A maioria das religiões pagãs sacrificava
(Oséias 4:19).
animais para acalmar seus deuses, e al-
A maioria das religiões pagãs retratava gumas até sacrificavam seres humanos.
seus deuses de maneira antropomórfica Visto como os adoradores pagãos criam
(isto é, como seres humanos). Na verdade, que seus deuses possuíam desejos huma-
só um perito pode olhar para um retrato nos, eles também ofereciam aos deuses
de deuses e de mortais babilônios e dizer ofertas de alimento e de bebida (cf. Isaías
quem é quem. Os altistas egípcios comu- 57:5-6: Jeremias 7:18).
mente representavam seus deuses como
Os cananeus acreditavam que os sa-
homens ou mulheres com cabeças de ani-
crifícios possuíam poderes mágicos que
mais. Horus era um homem com cabeça de
levavam o adorador a cair nas graças e no
falcão: Sekhmet era uma mulher com ca-
ritmo do mundo físico. Contudo, os deuses
beça de leoa; Anúbis era um chacal. Hator
eram caprichosos, e por isso os adorado-
uma vaca e assim por diante. Os deuses
res às vezes ofereciam sacrifícios para
hititas podem ser reconhecidos por algum
garantir vitória sobre os inimigos (cf. 2
outro objeto distintivo, como um capacete
Reis 3:26-27). Talvez seja por isso que os
com um par de chifres. Os deuses gregos
reis decadentes de Israel e de Judá con-
também eram retratados como humanos,
sentiam nos sacrifícios pagãos (cf. 1 Reis
mas sem as berrantes características das
21:25-26; 2 Reis 16:13). Desejavam obter
divindades semíticas.
ajuda mágica no combate aos babilônios e
Outra característica desses povos pa- aos assírios — de preferência a ajuda dos
gãos passava pelo sentimento de autos- mesmos deuses que haviam dado vitória
salvação. E a explicação da importância aos seus inimigos.
da representação dos deuses como seres
As religiões politeístas antigas opera-
humanos vem de Gênesis.
vam em dois níveis: a religião oficial do es-
Os capítulos iniciais do Gênesis dizem tado religioso arcaico e a religião popular,
que Deus criou o homem à sua imagem pouco mais que superstição.
(Gênesis 1:27), mas os pagãos tentaram
Vale saber que cada sistema religioso
fazer deuses à sua própria imagem. Quer
antigo tinha um deus principal, mais pode-
dizer, os deuses pagãos eram meramen-
roso do que os restantes. Para os egípcios,
te seres humanos ampliados. Os mitos
este podia ser Rê (ou Rá), Horus ou Osíris;
do mundo antigo diziam que os deuses
para os sumários e acadianos, podia ser
tinham as mesmas necessidades que os
Enlil, Enki/Ea, ou Marduque; para os ca-
seres humanos, as mesmas fraquezas e
naneus, seria El; para os gregos, Zeus. Na
as mesmas imperfeições. Se houvesse
maioria dos casos, os pagãos edificavam
diferença entre os deuses pagãos e os
templos e elaboravam liturgias que eram
homens, era só de grau. Os deuses eram
recitadas em honra desses sumos deuses.
seres humanos feitos “maiores do que a
Em geral, o rei presidia a essa adoração,
vida”. Com frequência eram projeções da
22

atuando como representante do deus zeram isso. Alguns dos principais deuses
numa refeição ritual, num casamento ou egípcios enquadram-se nesta categoria,
num combate. Essa era a religião oficial. como por exemplo Atum, que expressa o
conceito de universalidade. O nome Amon
Os deuses da religião oficial estavam
significa “escondido” — os egípcios pensa-
por demais afastados do homem local
vam que ele era um deus sem forma, in-
para que tivessem algum valor prático.
visível, que podia estar em qualquer par-
O Egito antigo dividia-se em distritos te e qualquer pessoa podia adorá-lo. Por
chamados nomes. Nos primeiros tempos esse motivo, mais tarde eles enxertaram
do Egito havia 22 destes no Alto Egito (a a ideia de Amon em Rê, e o deus passou a
região Sul) e vinte na área do delta ao Nor- ser Amen-Rê, “o rei da eternidade e guar-
te. Cada nome tinha uma cidade-chave ou da dos mortos”. Os templos mais maciços
capital e um deus local que era cultuado da história egípcia foram construídos em
nesse território. Igualmente na Mesopo- honra de Amen-Rê em Camaque. A deusa
tâmia, cada cidade era consagrada a um Maat era outra ideia que se tornou deus
deus ou deusa. entre os egípcios. Supunha-se que ela
personificava a verdade e a justiça e era
No Oriente Próximo antigo, a religião
a força cósmica da harmonia e da estabi-
oficial era orientada para o estado, en-
lidade.
quanto a religião popular era orientada
para a localidade geográfica. O homem Os cananeus representavam a verdade
antigo não via incompatibilidade entre e a justiça mediante os deuses Sedeque e
crer em deuses “lá do alto” e “cá de bai- Mishor, que deviam estar sob as ordens do
xo” — todos competindo por sua atenção deus She-mesh. Todavia, muito embora os
e sujeição ou prestação de serviços. Este pensadores pagãos pudessem lidar mais
era o reconhecimento parcial do problema facilmente desse modo com essas ideias,
último da imanência e da transcendência. poucos dos deuses estiveram à altura dos
ideais dos pensadores, segundo a lenda. A
Eis que os antigos começaram a afas-
religião dos cananeus deu continuação ao
tar-se da superstição pura e deificaram
antigo desejo de harmonia sexual com a
vários ideais abstratos sob os nomes de
natureza, o que estimulava especialmen-
deuses antigos.
te os rituais obscenos.
Na Mesopotâmia, “Justiça” e “Retidão”
A verdade é que na antiguidade, as re-
aparecem como divindades menores no
ligiões pagãs da Mesopotâmia nunca sa-
cortejo de Utu/Shamash, o deus do Sol;
íram de seu molde politeísta. W. W. Hallo
eram chamadas Nig-gina e Nig-sisa, res-
(1971 apud PACKER, TENNEY e WHITE Jr,
pectivamente. O “chefe” delas era Sha-
2002), estudioso das religiões antigas,
mash, o deus mesopotâmio da lei. Os pen-
fala da “antipatia intransponível com rela-
sadores antigos imaginavam essas ideias
ção a um monoteísmo exclusivo” da parte
abstratas como deuses, de preferência a
dos mesopotâmios. A mesma coisa pode
tratar com as próprias ideias.
se dizer de outros povos da antiguidade:
Os egípcios, mais do que ninguém, fi- persas, cananeus, gregos e romanos.
23

O Egito, também politeísta, foi exce- no Egito, Grécia e Roma Antigas e outras
ção em sua décima oitava dinastia. O fa- civilizações. As principais divindades são
raó Amenotepe (Amenófis) IV (1387-1366 geralmente ligadas às forças da natureza,
a.C.) proscreveu a adoração de todos os são antropomórficas e imortais.
deuses, exceto Aton (o “disco solar”), e
O politeísmo foi deixado de lado com o
depois mudou seu próprio nome para Akh-
avanço do cristianismo, religião monoteís-
naton. Antes de Akhinaton, as divindades
ta (crença em um único deus), e atualmen-
egípcias muitas vezes se haviam fundido
te é encontrado em religiões ou cultos de
ou ligado com um único deus-conceito
origem africana.
(geralmente Rê): isto, porém, não é mono-
teísmo. Mas os egípcios chamavam o deus No entanto, existe uma discussão em
Aton de “único deus, que não tem outro relação ao monoteísmo do cristianismo.
igual”. Isso tinha efeitos políticos de lon- Para alguns estudiosos, o cristianismo é
go alcance e não poderia ter sido realizado politeísta, pois prega a crença na Santís-
sem o apoio do exército e dos sacerdotes. sima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo)
Mas a religião de Akhinaton estava lon- (PACIEVITCH, 2015).
ge de dizer: “Ouve. Israel, o Senhor nosso
Deus é o único Senhor” (Deuteronômio
6:4). A “reforma” de Aklinaton foi, contu-
do, de curta duração, e seus sucessores
purgaram o Egito dessa “heresia”. O anti-
go sacerdócio político voltou ao poder e
deu apoio ao seu próprio faraó.

No mundo antigo, só Israel era total-


mente monoteísta. Mas asseguremo-nos
de entender o que isso significa. Monote-
ísmo não é simplesmente uma questão de
número. Talvez a declaração mais sucinta
seja a de W. F. Albright, que diz que o mo-
noteísmo é “a crença na existência de um
único Deus, que é o Criador do mundo e o
doador de toda vida... [é] tão superior a
todos os seres criados... que permanece
absolutamente único”. Isso fazia que Is-
rael fosse radicalmente diferente de seus
vizinhos pagãos (PACKER; TENNEY; WHI-
TE JR., 2002).

Guarde...
É chamada de politeísmo, a crença na
existência de diversos deuses, comum
24
UNIDADE 4 - Religiões com Berço no
Oriente Extremo
4.1 Budismo de nascimento e morte é quebrado, por
onde se obtém completa compreensão da
O Budismo originou-se na Índia, mas
vida. Na prática Vajrayana e Zen, reconhe-
ao longo os séculos rapidamente migrou
ce-se que a Iluminação pode ser alcança-
e se expandiu por grande parte do orien-
da nesta vida atual! (AMCBR, 2015).
te extremo, sendo uma das mais antigas
e maiores religiões do mundo. Nasceu de
ensinamentos dados há aproximadamen-
4.2 Hinduísmo
te 2.500 anos atrás por Gautama Buda, “O O hinduísmo é a mais antiga de todas
Despertado” ao norte da Índia. as maiores religiões do mundo. Algumas
tradições do hinduísmo remontam a mais
Um dos fundamentos principais do de 3 mil anos. Ao longo dos séculos, no en-
Budismo foi definido pelo Buda como as tanto, seus seguidores – chamados hindu-
Quatro Verdades Nobres. Isto é, a vida é ístas – vêm aceitando muitas ideias novas
sofrimento. O sofrimento é causado por e acrescentando-as às antigas. Mais de
afeições e aversões, embora haja uma 800 milhões de pessoas praticam o hin-
maneira de escaparmos deste sofrimen- duísmo em todo o mundo. A maioria delas
to. O fim do sofrimento é a Iluminação que vive na Índia, onde essa religião começou.
pode ser alcançada através da prática do
Budismo (AMCBR, 2015; SILVA, 1999). Segundo a Enciclopédia Escolar Bri-
tannica (2015), o hinduísmo não teve um
Desde o tempo de Buda, esta religião fundador e não possui uma organização
cresceu e se desenvolveu em três ramos central. Ninguém criou uma relação de
principais. Os ramos Mahayana e Hinaya- crenças que todos os hinduístas devam
na dão enfoque ao Budismo como reli- seguir. Mas todos os hinduístas respeitam
gião e código moral da mesma maneira os Vedas, um conjunto antigo de textos
que o Cristianismo é adotado no ociden- sagrados.
te. O terceiro ramo principal do Budismo
é o Vajrayana, bastante parecido com o Os hinduístas acreditam num poder es-
Budismo Zen Japonês, conhecido como o piritual chamado brāman. Brāman é a fon-
“caminho curto”. Em Zen e Vajrayana, o te de toda existência e está presente em
Budismo não é visto como religião per se, tudo e em todos os lugares. A alma huma-
mas como um estilo de vida. na, chamada atman, faz parte do brāman
universal. Em geral, os hinduístas acredi-
As práticas gêmeas de meditação e tam que quando alguém morre, a atman
consciência plena são utilizadas para o al- renasce em outro corpo. Para eles, uma
cance da Iluminação com extrema rapidez. alma pode voltar muitas vezes na forma
O praticante usa todos os aspectos de sua humana, animal ou até vegetal. Essa ideia
vida diária como instrumentos para pro- é conhecida como reencarnação. O ciclo
gredir no caminho da Iluminação. A Ilumi- de renascimento continua até que se acei-
nação é um estado através do qual o ciclo te que a atman e o brāman são a mesma
25

coisa. A maioria dos hinduístas acha que na meditação o caminho espiritual por ex-
libertar-se desse ciclo é o objetivo mais celência.
elevado da pessoa.
O Taoísmo é uma tradição espiritual mi-
Os hinduístas devem agir de acordo lenar de origem chinesa. O ensinamento
com o princípio da ahimsa, que quer dizer filosófico e a prática espiritual (medita-
“não violência”. Isso significa que nunca se ção, alquimia e rituais), são praticados na
deve desejar causar dano a alguém ou a Sociedade Taoísta do Brasil, oficialmente
alguma coisa. Eles acham que muitos ani- ligada e reconhecida pela Sociedade Tao-
mais são sagrados, em especial a vaca. Os ísta da China. Fundada em 1990 pelo sa-
hinduístas piedosos são vegetarianos. cerdote Wu Jyh Cherng, que trouxe o puro
conhecimento da tradição, adquirido com
Os hinduístas adoram muitos deuses. O
os mais representativos mestres ilumina-
deus Vishnu é considerado protetor e pre-
dos vivos.
servador da vida. O deus Shiva representa
as forças que a criam e também a destro-
em. A deusa suprema é chamada mais co-
4.4 Xintoísmo
mumente de Shakti. Como Shiva, ela pode Segundo apontamentos de Machado
ser bondosa ou feroz, dependendo da sua (2015), Xintoísmo é a única religião que
forma. Os três principais ramos do hindu- pode ser considerada genuinamente japo-
ísmo moderno distinguem-se pela devo- nesa, tendo origens mesclando-se com a
ção a Vishnu, Shiva e Shakti. (ENCICLOPÉ- do próprio povo japonês. Há dois milênios
DIA ESCOLAR BRITANNICA, 2015). percebe-se sua predominância no misti-
cismo do país. A denominação adaptada
4.3 Taoísmo do chinês xin-tao, que significa “via dos
deuses”, só foi aceita por volta do século
Tao é, ao mesmo tempo, o caminho, o
XI, embora muitos utilizem o termo kami-
caminhante e o ato de caminhar. Filoso-
-no-michi, com a mesma significação.
ficamente, pode ser interpretado como o
Absoluto. Ao contrário do Budismo, de origem in-
diana e influência chinesa, o Xintoísmo é
O Taoísmo é uma tradição espiritual que
dominante apenas no Japão, embora sua
propõe o retorno do homem a um estado
prática não exija o abandono ou recusa de
de consciência e vida plena, ao Tao.
outras formas de manifestação de crença
Os meios para o retorno ao Tao englo- religiosa. Não se trata de uma crença ex-
bam as artes (Su), a lei (Fa) e o caminho clusivista, pois convive pacificamente e
(Tao). As artes procuram restaurar o equi- até complementa-se com outras religiões.
líbrio das energias da pessoa através de
Muitos estudiosos nem consideram o
conhecimentos de saúde, de oráculos, de
Xintoísmo uma religião, devido ao fato de
destino, de leitura da natureza ou do ho-
não terem sido criados códigos de leis ex-
mem. O Fa é o conjunto de métodos mís-
plícitas, filosofia escrita e definida, profe-
ticos que restauram a ordem, a organi-
tas ou um livro sagrado, que contivesse os
zação, a lei interior e exterior através da
dogmas para quem a segue. Entretanto, a
força espiritual. E o Tao, como meio, tem
forma ostensiva com que o xintoísmo co-
26

manda a vida de seus praticantes, é per- conhecido pelos chineses como junchaio
ceptível não só em seus rituais, mas nos (ensinamentos dos sábios) e define a bus-
demais aspectos da vida, o que garante a ca de um caminho superior (Tao) como
posição de uma das grandes religiões do forma de viver bem e em equilíbrio entre
mundo. as vontades da terra e as do céu. Confú-
cio é mais um filósofo do que um prega-
Xinto, ou Kami-no-michi, pode ser tra-
dor religioso. Suas ideias sobre como as
duzido como o Caminho para os Deuses,
pessoas devem comportar-se e conduzir
mas o significado é bem mais amplo. Se-
sua espiritualidade se fundem aos cultos
ria o estudo filosófico do espírito, da es-
religiosos mais antigos da China, que in-
sência e da divindade. No caso, divindade
cluem centenas de imortais, considerados
pode ter uma forma humana, animal ou
deuses, criando um sincretismo religioso.
qualquer elemento da natureza, como
O Confucionismo foi a doutrina oficial na
montanhas, rios, trovões, vento, ondas,
China durante quase 2 mil anos, do século
árvores e pedras. Pode-se dizer que o xin-
II até o início do século XX. Fora da China,
toísmo está bastante ligado à natureza,
a maioria dos confucionistas está na Ásia,
no sentido de que se propaga a proteção
principalmente no Japão, na Coréia do Sul
ao meio ambiente, através do culto aos
e em Cingapura (SILVA, 1999).
elementos da natureza (TEMPLO XINTO-
ÍSTA DO BRASIL). Na doutrina do Confucionismo não
existe um deus criador do mundo, nem
Os textos mais antigos que falam do
uma igreja organizada ou sacerdotes. O
Japão estão nos livros “Kojiki” e “Nihon
alicerce místico de sua doutrina é a busca
Shoki”, escritos nos séculos VII e VIII. Am-
do Tao, conceito herdado de pensadores
bos falam do xintoísmo e de seus deuses,
religiosos anteriores a Confúcio. O Tao é a
explicando a origem do Japão, misturando
fonte de toda a vida, a harmonia do mun-
folclore, lendas e história.
do. No confucionismo, a base da felicidade
Muitas festividades tradicionais japo- dos seres humanos é a família e uma so-
nesas são do xintoísmo. Por exemplo. Ta- ciedade harmônica. A família e a socieda-
nabata Matsuri, Hanami, Seijin Shiki e Shi- de devem ser regidas pelos mesmos prin-
chi-go-san. cípios: os governantes precisam ter amor
e autoridade como os pais; os súditos de-
Calcula-se que haja 119 milhões de pra-
vem cultivar a reverência, a humildade e a
ticantes do xintoísmo no Japão. O número
obediência de filhos.
é elevado porque os japoneses praticam
alguns rituais do budismo em algumas Confúcio, nascido em meados do século
ocasiões (culto aos antepassados, por VI a.C. ensina que o ser humano deve cul-
exemplo), e também praticam determini- tuar seus antepassados mortos, de forma
nados rituais do xintoísmo no seu dia-a- a perpetuar o mesmo respeito e amor que
-dia (HANDA, 2015). tem por seus pais vivos. De acordo com
a doutrina, o ser humano é composto de
4.5 Confucionismo quatro dimensões: o eu, a comunidade, a
O princípio básico do confucionismo é natureza e o céu – fonte da autorrealiza-
27

ção definitiva. As cinco virtudes essen-


ciais do ser humano são amar o próximo,
ser justo, comportar-se adequadamente,
conscientizar-se da vontade do céu, cul-
tivar a sabedoria e a sinceridade desinte-
ressadas. Somente aquele que respeita
o próximo é capaz de desempenhar seus
deveres sociais. O único sacrilégio é deso-
bedecer à regra da piedade (SILVA, 1999).
28
UNIDADE 5 - Religiões com Berço no
Oriente Médio
O Oriente Médio é o berço das três reli- lhes concedera – a Terra Santa (1850 a.C).
giões monoteístas: Judaísmo, Cristianismo Esta versão se reporta ao tempo em que os
e Islamismo. Em qualquer documento, ar- hebreus deixaram o Egito, depois de sécu-
tigo, pesquisa que seja, iremos encontrar los de escravidão.
exatamente essa informação.
Depois da segunda destruição do Tem-
Evidentemente que cada uma destas plo de Jerusalém pelos romanos (70 d.C),
religiões reivindica para si a certeza, a ma- construíram-se as Sinagogas e um novo
neira correta de praticar, adorar e respeitar código de comportamento é criado para
a Deus e seus mandamentos. os judeus: o TALMUD. Esse Iivro-código de
comportamento é constituído pelo Docu-
Como diz Santos (2002), praticamen-
mento-Base (representado pelas Tábuas
te as regras de convivência propostas por
da Lei) e pelo acréscimo de novas normas
Deus são as mesmas nas três religiões, po-
elaboradas pelo rabino lehudah MANASSI
rém sabemos que até o presente momento
(200 d.C.) e que consistem na compilação
tem sido muito difícil a situação dessa con-
das leis orais vigentes no grupo e, ainda, as
vivência no Oriente Médio.
“leis ou ensinamentos” (“Torah”), contidos
nos cinco primeiros livros da Bíblia: Gêne-
5.1 A região sis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronô-
O Oriente Médio é a região conhecida mio.
por ser o berço das três maiores religiões
monoteístas, o judaísmo, o cristianismo e 5.3 O Cristianismo
o islamismo (predominante por lá nos dias
O segundo monoteísmo do ponto de vis-
atuais) e também região de intensos con-
ta cronológico, o Cristianismo – surge com o
flitos religiosos, políticos e militares.
anúncio e confirmação da vinda do enviado
de Deus, o Messias que, para os Cristãos, é
5.2 O Judaismo Jesus. Entretanto, para os judeus, este en-
O Judaísmo, historicamente a mais anti- viado de Deus ainda não chegou; e para os
ga das religiões, está relacionado, em sua muçulmanos, quem foi trazido à terra para
origem e segundo a Bíblia, com a revela- falar a verdade divina (a quem se denomi-
ção de Deus a Moisés e a passagem, para naria MESSIAS), não foi Jesus, mas Maomé.
suas mãos, do Decálogo ou Tábuas da Lei,
documento normativo de costumes e das O Cristianismo difundiu-se a partir do
relações do Homem com Deus e com seus Oriente Médio, estendendo-se pela Euro-
semelhantes. A entrega teria sido no Mon- pa, Américas, África e Ásia, acompanhando
te Sinai, na península do mesmo nome. O todas as epopeias de conquistas ocorridas
local da entrega logo tornou-se sagrado. na Antiguidade, Idades Média, Moderna e
Foi sob essa legislação que os hebreus Contemporânea.
edificaram seus costumes e organizaram Nos primeiros tempos, passou uma ima-
administrativamente o território que Deus gem de desconfiança, ao fazer concorrên-
29

cia aos direitos do Imperador de Roma, Estado ainda guardam grandes vínculos e
quando separou poderes: respeito entre si. Nos planos internacional
e supranacional, o Papa ainda assume uma
“... a César, o que é de César; a Deus o
figura de grande mediador e conselheiro
que é de Deus.”
de decisões sociais e políticas que envol-
Depois de cerca de três séculos de per- vem sociedades de diversos países (SAN-
seguições, os cristãos têm reconhecida a TOS, 2002).
sua fé, oficialmente, cm 313 d.C, pelo Édito
Discordâncias histórico-religiosas mar-
de Milão.
cam também divergências no comporta-
Concomitantemente à conversão do mento da sociedade, segundo os ensina-
imperador Constantino ao Cristianismo, mentos e as proposições de vida ditadas
segue-se uma era de afirmação filosófica, pelos livros sagrados para os seguidores
territorial, econômica e política. Vejamos: de cada uma das três religiões. As diferen-
ças partem do próprio contexto do Velho
Agostinho, Jerônimo, Tomás de Aqui-
e do Novo Testamentos. A primeira gran-
no afirmam-se pela Idade Média, balizando
de divergência é entre judeus e cristãos.
a doutrina;
O texto do Velho Testamento, em grande
os invasores vindos do Leste são con- parte reconhecido também pelos muçul-
vertidos; manos, está muito presente nos cultos e
nas tradições judaicas. A proposta com-
crescem os espaços reservados à en- portamental básica passa pelo binômio
tidade social Igreja; crime-castigo, preconizado pelo Código
aliam-se forças para combater os de Hamurabi (“Fez, paga”; “olho por olho,
mouros e retomar o Santo Sepulcro; dente por dente”; ao ladrão, corta-se-lhe a
mão”, entre outros).
impõem-se pactos entre o Estado e a
Igreja; Opondo-se a essa proposta, o Novo
Testamento revela as “Boas Novas” trazi-
combatem-se os adversários da Igreja das por Jesus e seus Apóstolos (novidades
como os do Estado, usando-se como su- boas, notícias boas, nova visão da vida, da
porte a Inquisição; existência e das relações do homem com
conquistam-se territórios coloniais, seu semelhante e com Deus). Entre estas
com a espada dos reis e a cruz de Cristo; e, boas novidades está a substituição do cas-
tigo – uma constante no Velho Testamen-
concedem-se indulgências, a troco de to – pelo arrependimento e pelo perdão – a
aumento do poder e do prestígio e do es- tônica do Novo.
paço territorial da Igreja.
Em relação, ainda, ao Velho Testamento,
Até hoje, a influência política do Cristia- os muçulmanos consideram que Moisés é o
nismo pode ser encontrada na introdução “Pai dos Profetas” e admitem que Jesus é
de algumas Constituições de países repu- mais um dos antigos profetas, tanto quan-
blicanos ocidentais. Muito embora corres- to Isaías, Jeremias e Ezequiel, chamados
pondendo a poderes separados, Igreja e “Grandes Profetas”. Mas não o Messias,
30

aquele que seria o enviado de Deus e que 2. Outros elementos da religião muçul-
traria a verdadeira vontade do Todo-Pode- mana são a ressurreição dos mortos, o ju-
roso (SANTOS, 2002). ízo final (sic), a Geena (Inferno) e o Paraíso.

5.4 O Islamismo 3. Maomé é o mensageiro de Deus en-


carregado de transmitir Sua palavra aos
A religião dos Muçulmanos tem início
homens.
com Maomé, um pastor da tribo Koreichita
que, segundo se conta, recebeu em sonho “[...] Crentes são aqueles que creem
ou em transe, o Arcanjo Gabriel que, de em Deus e em Seu Mensageiro” (Alcorão,
610 (quando Maomé tinha 40 anos), até 24:62). 1
22 anos mais adiante, repassou a Maomé a
“[...] Para aqueles que não creem em
palavra de Deus. Esta ocorrência tem certa
Deus e em Seu Mensageiro, preparamos
semelhança com a entrega das Tábuas da
um fogo flamejante'' (Alcorão, 48:13).
Lei a Moisés.
4. O Alcorão não classifica os homens
Os intérpretes dos preceitos religiosos
conforme sua raça, cor, nacionalidade, cul-
muçulmanos enfatizam que, na verdade:
tura, posses econômicas, classes sociais.
Deus havia revelado sua vontade
“[...] Todos os homens são iguais ante
aos Judeus e aos Cristãos pela voz
Deus. O que os distingue é sua fé”.
de seus Mensageiros. Mas eles de-
sobedeceram às ordens de Deus e “[...] Com certeza. Deus separará, no dia
dividiram-se em seitas cismáticas. do Ressurreição, os que creem dos judeus,
O Alcorão acusa os Judeus de terem nazarenos, magos e idólatras. (22:17)
corrompido as Escrituras, e os Cris-
5. Além das verdades em que o muçul-
tãos, de adorarem Jesus como o filho
mano deve crer, há cinco deveres que lhe
de Deus, quando Deus nunca teve fi-
são prescritos: a prece, o jejum, o paga-
lho e quer ser adorado com absoluta
mento do tributo dos pobres, a peregrina-
exclusividade. Tendo assim desen-
ção à Meca e a guerra santa.
caminhado, judeus e cristãos devem
ser chamados de novo para a senda “[...] São realmente crentes os que cre-
da retidão, a religião verídica funda- em em Deus e em Seu Mensageiro, que
da por Abraão e que Maomé, o último não duvidam e que lutam, com sua vida e
dos profetas, veio pregar (CHALITA, suas posses, pela causa de Deus”. (49:15)
s.d).
As ideias de “fogo flamejante”, prepa-
A origem da proposta de “evangeliza- rado para os que não creem no Deus dos
ção” muçulmana, montada sobre uma fá- Muçulmanos e em Seu Porta-Voz, a discri-
cies agressiva e celebrada na frase “a fé, a minação explícita dos “judeus, nazarenos,
ferro e fogo”, tem seus fundamentos nos magos e idólatras”, a doação da “vida pela
dogmas da religião de Maomé, em particu- causa de Deus” e a de “guerra santa” são,
lar os de número 3 e 5. São os seguintes: portanto, comportamentos previsíveis já
1. Deus é único e onipotente. 1- O Alcorão divide-se em 114 suras ou capítulos, divididos em
versículos, no total de 6.236.
31

que fazem parte do contexto cultural, re-


ligioso e político dos muçulmanos. Isto ex-
plica, por exemplo, a solidariedade entre
os Estados do Oriente que professam essa
religião e, sobretudo, sua oposição mani-
festa a tudo aquilo que envolve a rivalida-
de entre povos de cultos diferentes dos
deles – no caso, cristãos e judeus (SANTOS,
2002).
32
32
UNIDADE 6 - Religiões de Matrizes
Africanas e Afro-Brasileiras
Precisamos de imediato concordar com mortos.
Piazza (1991) ao nos lembrar que o erro
Ritos de iniciação, danças, fetichismo,
mais comum que se comete a respeito dos
cultos são alguns dos elementos que se
povos africanos é supor que todos são da
misturam e fazem uma diversidade de
mesma raça e tiveram a mesma origem, o
crenças no continente africano.
que leva a supor igualmente que tenham
os mesmos costumes e a mesma religião. É importante sabermos que a crença na
vida depois da morte está muito difundida
Sem entrar em pormenores, deve-
na África. Vários mitos falam de que a mor-
mos reter ao menos os seguintes da- te não estava nos planos do criador, mas
dos: adveio ao homem por culpa deste, ou de
o povo mais antigo da África é o dos um mensageiro infiel que não soube dar
pigmeus, os quais apertados pela invasão ao homem a boa nova da imortalidade, tro-
de outros povos, se refugiaram nas densas cando a mensagem pela notícia da morte
florestas da África congolesa, onde pude- universal. Isto é: a morte é um “acidente
ram guardar intatos por milênios os seus imprevisto” nos planos do criador, mas que
costumes originais; este permite por fins pedagógicos (PIAZ-
ZA, 1991).
são igualmente muito antigos os bos-
químanos e hotentotes, estabelecidos ao Em relação ao que chamamos de religi-
sul de Angola; ões e matrizes africanas no Brasil, elas re-
montam evidentemente ao período da es-
uma raça de pele clara, aparentada cravidão, por volta da segunda metade do
com os berberes do Saara, invadiu há mui- século XVI, quando começou o tráfico dos
to tempo a África do Norte, empurrando povos negros, que diga-se de passagem,
para o sul os povos negros, ou misturando- não se deram sem recusa. Eles resistiram
-se com eles; das mais variadas formas inclusive motins,
Pelo ano 2000 a.C., deu-se a invasão levantes e conspirações.
dos semitas, que também se misturaram A intersecção (mistura) de diversos po-
aos africanos negros; vos de diferentes regiões do continente
por fim, os árabes instalaram-se na re- africano, pelo menos a princípio, foi bas-
gião do Sudão e do lago Tchad, empurrando tante significativa para a indução desses
os negros para o litoral ocidental (600 d.C.). fracassos. “[...] A mistura de etnias atrapa-
lhou bastante as alianças entre os negros
Isso permite compreender que, ao lado com fins conspiratórios [...]” (LOBO, 2008,
de elementos muito arcaicos, encontra- p. 166 apud SANTOS, 2011). A confluência
mos na África de hoje outros elementos das mais diversas etnias tentando sobrevi-
de origem egípcia e mesmo asiática, como ver num espaço e ambiente limitado e hos-
também, em matéria religiosa, um vago til obrigava-os a concorrer pelo alimento,
culto ao deus solar e o crescente culto dos
33
33

espaço, posição e pela própria sobrevivên- ças e cânticos e incorporavam espíritos.


cia, o que implicava em rivalidades e acirra-
O culto umbandista é realizado em tem-
mentos de conflitos.
plos, terreiros ou Centros apropriados para
Para os povos africanos suas religiões o encontro dos praticantes no qual ento-
não estão dissociadas do seu cotidiano, am cânticos e fazem uso de instrumentos
isto é, de suas vidas terrenas, òrun (mundo musicais como o atabaque. Apesar disso,
sobrenatural) e àiyé (mundo natural), ìye quando o Umbanda foi criado, não existiam
(vida) e ikú (morte) são, para nossos an- manifestações musicais, como cânticos e
cestrais negros, existências simultâneas utilização de instrumentos.
e paralelas, determinando suas formas de
b) Quimbanda: em Angola significa
pensar e agir, desconhecidas, ocultas e/ou
adivinho ou médico indígena de Bengue-
dissimuladas para os “senhores brancos”.
la. No Brasil, pai de terreiro do culto ban-
Contudo, as religiões, mais uma vez, como
to, ao mesmo tempo médico, feiticeiro e
em África, aqui no Brasil serão o centro da
adivinho. Utiliza rituais selvagens provo-
vida desses povos, o objetivo e a razão nu-
cados pelo sangue dos animais sacrifica-
clear para resistir e viver, a despeito de to-
dos e queima de pólvora e outros rituais
das as adversidades.
relacionados a inferioridades dos espíritos
As religiões de matrizes africanas nes- (BRANDI, 2010). No Brasil tomou o signifi-
ses contextos funcionavam para além da cado de magia negra, em oposição à Um-
fé, também como elemento facilitador do banda, que representa as forças da magia
reagrupamento dos diversos grupos étni- branca. Não procurou adaptar-se à mitolo-
cos aqui presentes e como elemento capaz gia do catolicismo como o Candomblé.
de promover a interação dos variados cre-
c) Candomblé: no Candomblé, todo e
dos dos povos oriundos das diferentes re-
qualquer espírito deve ser afastado prin-
giões africanas, de onde viviam (SANTOS,
cipalmente na hora da iniciação, para não
2011).
correr o risco de um deles incorporar na
Dentre as religiões que encontra- pessoa e se passar por orixá, o Iyawo re-
mos no Brasil podemos citar: colhido é monitorado dia e noite, recorren-
do-se ao Ifá ou jogo de búzios para detec-
a) Umbanda: são as práticas mais ele- tar a sua presença. A cerimônia só ocorre
vadas e voltadas para o bem. Na realidade, quando este confirma a ausência de Eguns
é uma religião brasileira formada através no ambiente de recolhimento. Afastam
de elementos de outras religiões como o todo e qualquer espírito (egun), ou almas
catolicismo ou espiritismo juntando ainda penadas, forças negativas, influências
elementos da cultura africana e indígena. negativas trazidas por pessoas de fora da
A palavra é derivada de “u´mbana”, um comunidade. Acredita-se que pessoas tra-
termo que significa “curandeiro” na língua zem consigo boas e más influências, bons
banta falada na Angola, o quimbundo. A e maus acompanhantes (espíritos), através
umbanda tem origem nas senzalas em reu- do jogo de Ifá poderá se determinar se es-
niões onde os escravos vindos da África sas influências são de nascimento Odu, de
louvavam os seus deuses através de dan- destino ou adquiridas de alguma forma.
34

Os espíritos são cultuados, nas casas mais de um santo. Por exemplo: Oxóssi, o
de Candomblé, em uma casa em separado, rei da caça, é associado a São Jorge e a São
sendo homenageados diariamente uma Sebastião. “Essa relação com um ou outro
vez que, como Exu, são considerados pro- santo depende da região do país, variando
tetores da comunidade. de acordo com a popularidade do santo no
local”, diz o sociólogo Reginaldo Prandi, au-
d) Macumba: é um ritual muito anti-
tor do livro Mitologia dos Orixás.
go. Diz Herculano Pires que a Macumba é
um instrumento de sopro, geralmente, de Claro que a associação não é exata: ao
bambu, que é tocado para chamar os espí- contrário dos santos católicos, os orixás
ritos do mato, é o “despacho”, ao contrário são entidades com virtudes e defeitos, e
do que se pensa, não é a oferenda de comi- seus seguidores acreditam que eles co-
das e bebidas que é colocada nas encruzi- nhecem o destino de cada um dos mortais.
lhadas, mas o envio de espíritos inferiores Na Umbanda é diferente. Ela é uma religião
para atacar as pessoas visadas (BRANDI, genuinamente brasileira, surgida na déca-
2010). da de 30 no Rio de Janeiro a partir da com-
binação de elementos do candomblé, do
Curiosidade... catolicismo e do espiritismo. Assim como o
candomblé, a umbanda também cultua os
Segundo a Revista Mundo Estranho
orixás. Mas os umbandistas representam
(nov. 2015, http://mundoestranho.abril.
essas divindades com imagens diferentes,
com.br/materia/qual-a-ligacao-entre-os-
além de cultuarem outros três espíritos, o
-santos-catolicos-e-os-orixas), cada um
preto-velho, o caboclo e a pomba-gira. Ne-
dos 16 orixás – as entidades cultuadas no
nhum deles aparece no candomblé.
candomblé e na umbanda – corresponde a
um ou mais santos católicos. As cinco principais entidades do
candomblé e da umbanda se relacio-
Para quem não conhece o porquê dessa
relação, podemos resumir assim a história:
nam com as católicas assim:

Na época da escravidão, chegaram ao


ORIXÁ: Iemanjá
país os primeiros africanos de origem io-
SANTA CATÓLICA: Nossa Senhora da
Conceição
rubá, um povo que ocupava a região onde
hoje ficam Nigéria, Benin e Togo. A religião Iemanjá é a deusa dos grandes rios,
dos iorubás era o candomblé, mas eles mares e oceanos. Na umbanda, ela é cul-
aportaram no Brasil como escravos e não tuada como mãe de muitos orixás e iden-
podiam cultuar suas divindades livremente tificada com Nossa Senhora da Conceição,
– porque a religião oficial do Brasil era (e é) uma das manifestações católicas da Vir-
o catolicismo. Por causa dessa proibição, os gem Maria, mãe de Jesus. No candomblé,
escravos começaram a associar suas divin- ela é representada como uma negra e usa
dades com os santos católicos para exer- roupas africanas.
cerem sua fé disfarçadamente. Como os
santos católicos são bem numerosos, exis- ORIXÁ: Iansã
tem divindades que são identificadas com SANTA CATÓLICA: Santa Bárbara
35

Esposa de Xangô, a Iansã do candom-


blé e da umbanda é a deusa dos raios, dos
ventos e das tempestades. Na doutrina
católica, ela corresponde à Santa Bárba-
ra, também uma protetora contra raios,
tempestades e trovões.

ORIXÁ: Xangô
SANTO CATÓLICO: São Jerônimo e São
João

Tanto para o candomblé quanto para a


umbanda, Xangô é o deus do trovão e da
justiça. Ele é associado a dois santos ca-
tólicos: São Jerônimo, que no final do sé-
culo 4 traduziu alguns livros da Bíblia do
hebraico e do grego para o latim, ou São
João, que pregava a conversão religiosa e
batizou Jesus

ORIXÁ: Ogum
SANTO CATÓLICO: Santo Antônio e
São Jorge

Para a umbanda e o candomblé, Ogum é


o orixá da guerra, capaz de abrir caminhos
na vida. Por isso, costuma ser identificado
com Santo Antônio, o “santo casamentei-
ro”, ou com São Jorge, santo guerreiro que
é representado matando um dragão.

ORIXÁ: Oxalá
SANTO CATÓLICO: Jesus
Na umbanda e no candomblé, Oxalá é
a divindade que criou a humanidade, por
isso, ele se equivale a Jesus, uma das ma-
nifestações do Deus triuno do catolicismo
(pai, filho e espírito santo). Além de ter
modelado os primeiros seres humanos,
Oxalá também inventou o pilão para pre-
parar inhame e é considerado o criador da
cultura material.


36
36

UNIDADE 7 - Outras Religiões

A Doutrina Espírita classifica os fenô- mediunismo, criada por Emmanuel, desig-


menos naturais do psiquismo humano em na as formas primitivas de mediunidade
duas categorias básicas: os mediúnicos e que fundamentam as crenças e a religião
os anímicos (do grego, anima=alma), Os primitivas. Primitivismo, adoração inclusi-
primeiros são intermediados pelos mé- ve de objetos inanimados, broches, talis-
diuns: “médium é toda pessoa que sente, mãs, amuletos, entre outros, o fetichismo
num grau qualquer, a influência dos Es- nas crenças indignas e religiões africanas.
píritos. Essa faculdade é inerente ao ho-
A diferença entre Mediunismo e Mediu-
mem e, por conseguinte, não constitui um
nidade está na conscientização do proble-
privilégio exclusivo. (…).” (KARDEC, 2011,
ma mediúnico.
P. 257).
A mediunidade é o mediunismo desen-
Os segundos, mais propriamente de-
volvido, racionalizado e submetido à re-
nominados de emancipação da alma, pela
ligião religiosa, filosófica e às pesquisas
Codificação Espírita, são produzidos pelo
científicas necessárias ao esclarecimento
próprio Espírito encarnado.
dos fenômenos, sua natureza e suas leis.
O intercâmbio entre um plano e outro da
O mediunismo divide-se em vários ra-
vida pode, então, ser regularmente esta-
mos correspondentes, as noções africanas
belecido por meio de duas vias: a mediúnica
de que procedem. Existem as mais e as me-
e a anímica. Pela via mediúnica, o Espírito
nos elevadas como a Umbanda, Quimban-
renasce como médium, pessoa possuidora
da, Candomblé e Macumba.
de uma organização física apropriada, sen-
sível. Pela outra via, a comunicação é reali- A Mediunidade é a faculdade humana
zada pelo próprio encarnado, quando este pela qual se estabelece a relação entre ho-
se encontra no estado de emancipação da mens e espíritos. Não é um poder oculto
alma, vulgarmente conhecido no meio es- que se possa desenvolver através de prá-
pírita como anímico ou, ainda, de desdo- ticas, rituais ou pelo poder misterioso, de-
bramento espiritual. senvolve-se naturalmente nas pessoas de
maior sensibilidade para captação mental,
As duas vias de comunicação usualmen-
de coisas e fatos do mundo espiritual que
te se sobrepõem, de forma que não é fácil
nos cerca e nos afeta, com as suas vibra-
discernir quando um fenômeno é exclusi-
ções afetivas e psíquicas.
vamente mediúnico ou anímico. A prática
mediúnica é denominada mediunismo, a Mediunidade é simplesmente uma ap-
anímica de animismo. tidão para servir de instrumento mais ou
menos dócil, aos espíritos em geral. O bom
7.1 Mediunismo e Animis- médium é aquele que constrói boas qua-
lidades morais e constantemente cultiva
mo bons pensamentos, possui o hábito da ora-
Brandi (2010) explica que a expressão ção e da leitura (BRANDI 2010).
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37

Pieri (2002) refere-se a animismo como a representar a supremacia de seu único


a crença dos povos antigos ou daqueles deus. Para simbolizarem a figura de Mazda,
que ainda não foram aculturados pelo con- os praticantes do zoroastrismo costuma-
tato com a cultura ocidental, na qual todas vam manter acesa a chama do “fogo eter-
as coisas naturais têm alma, isto é, são ani- no”. Na visão maniqueísta do zoroastrismo,
madas. o imperador da nação persa era considera-
do um representante do bem que deveria
7.2 Zoroastrismo sempre buscar a vitória do bem sobre o
Sousa (2015) nos conta de maneira sim- mal.
ples mas didática, que o zoroastrismo é Atravessando os séculos, o zoroastris-
uma religião de caráter dualista, que surgiu mo ainda é praticado por algumas popula-
entre os séculos 628 a 551 a.C., ainda hoje ções orientais do Irã e da Índia, onde são
ela é praticada por algumas populações do popularmente conhecidos como “parsis”.
Irã e da Índia. Em território iraniano, local onde original-
As doutrinas do zoroastrismo são en- mente a civilização persa se desenvolveu,
contradas em um livro sagrado conhecido os praticantes do zoroastrismo constituem
como Zend Avesta. Entre outros pontos, uma minoria religiosa. Das quase 70 mi-
essa obra ensina a negação de qualquer lhões de pessoas que vivem no Irã, mais de
tipo de prática mágica, refutava a adora- 99% da população se declaram adepta ao
ção de várias divindades e a realização de islamismo.
sacrifícios envolvendo o uso de sangue. Segundo alguns teólogos e historiado-
Além disso, pregava que cada indivíduo res, as determinações desta crença persa
poderia seguir um dos dois caminhos ofe- parece visivelmente influenciar o judaís-
recidos por Mazda e Arimã. O compromisso mo, que posteriormente sedimentou uma
com a verdade e o amor ao próximo garan- significativa parte dos ensinamentos cris-
tiriam uma vida eterna no Paraíso. tãos. Dessa maneira, podemos apontar
Para aqueles que optavam por viver uma um forte indício das trocas culturais que
vida em corrupção aliada ao espírito do se desenvolveram entre hebreus e persas
mal, era reservada uma vida de tormentos durante a Antiguidade (SOUSA, 2015).
que seria sofrida em uma espécie de infer-
no. Na luta entre o bom e o mal, os persas
seguidores desta religião acreditavam que
um salvador chegaria à Terra com a missão
de acabar com o mundo e salvar todos que
seguiram fielmente os princípios do zoro-
astrismo. Nesse momento, todos os mor-
tos ressuscitariam para também serem
submetidos ao julgamento divino.

A expressão dessa religião persa não foi


marcada pela construção de imagens, tem-
plos ou a realização de cultos que viessem
38
38

UNIDADE 8 - Hierarquia Eclesiástica

Por definição, hierarquia, palavra de ori- 16 - E Judas, irmão de Tiago, e Judas Is-
gem grega (hierárkhios) significa ordem, cariotes, que foi o traidor;
graduação, categoria existente numa cor-
17 - E, descendo com eles, parou num
poração qualquer, nas forças armadas, nas
lugar plano, e também um grande número
classes sociais, entre outras.
de seus discípulos, e grande multidão de
Em se tratando da religião católica, en- povo de toda a Judéia, e de Jerusalém, e da
volve a totalidade do clero e a sua gradu- costa marítima de Tiro e de Sidom; os quais
ação, além de ordenar, classificar os nove tinham vindo para o ouvir e serem curados
coros de anjos. das suas enfermidades;

Eclesia, por sua vez, também palavra de 18 - Como também os atormentados


origem grega (ekklesia) se reporta à as- dos espíritos imundos; e eram curados.
sembleia política de cidadãos dos Estados
Embora houvesse muitos seguidores,
da Grécia antiga, especialmente Atenas.
Jesus faz uma seleção criteriosa e chama
Com foco na religião, é a organização cristã
apenas 12 para o ministério. Ele vai ensinar
da Igreja.
e testar os 12, durante 3 anos vão apren-
A hierarquia eclesiástica é então a or- der à servir, se humilhar, perdoar, negar-se
dem sob a qual a igreja está organizada, a si mesmos, e amar. Exatamente como Je-
tendo como único líder supremo o Senhor sus. Paulo declara:
Jesus Cristo. Através da Bíblia Sagrada ve-
1CO 11:1 - Sede meus imitadores,
mos que tanto no Novo quanto no Velho
como também eu sou de Cristo.
Testamento, Deus tem uma especial aten-
ção à organização e formação de seus re- Quando falamos em funções ou cargos
presentantes na terra. Vamos tomar como eclesiásticos muitos pensam apenas na
exemplo os doze escolhidos de Jesus Cris- autoridade exercida, esquecendo-se do
to, chamados apóstolos, (Lucas 6.12-18): que Jesus disse em Mateus 20.25-28:
12 - E aconteceu que naqueles dias 25 - Então Jesus, chamando-os para
subiu ao monte a orar, e passou a noite em junto de si, disse: Bem sabeis que pelos
oração a Deus; príncipes dos gentios são estes domina-
dos, e que os grandes exercem autoridade
13 - E, quando já era dia, chamou a si
sobre eles;
os seus discípulos, e escolheu doze deles,
a quem também deu o nome de apóstolos; 26 - Não será assim entre vós; mas
todo aquele que quiser entre vós fazer-se
14 - Simão, ao qual também chamou
grande seja vosso serviçal;
Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Fi-
lipe e Bartolomeu; 27 - E, qualquer que entre vós quiser
ser o primeiro, seja vosso servo;
15 - Mateus e Tomé; Tiago, filho de Al-
feu, e Simão, chamado Zelote; 28 - Bem como o Filho do homem não
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39

veio para ser servido, mas para servir, e ii) Cardeais são os conselheiros e os co-
para dar a sua vida em resgate de muitos. laboradores mais íntimos do Papa, sendo
todos eles bispos (alguns só são titulares).
Podemos perceber que a hierarquia na
Aliás, o próprio Papa é eleito, de forma vi-
igreja existe para a organização do culto
talícia (a abdicação é rara, porque já não
e bom serviço do Reino de Deus (BRITO,
acontecia desde a Idade Média) pelo Colé-
2014).
gio dos Cardeais. A cada cardeal é atribuída
Vejamos a hierarquia em algumas das uma igreja ou capela (e daí a classificação
igrejas: em cardeal-bispo, cardeal-presbítero e
cardeal-diácono) em Roma para fazer dele
A) Igreja Católica Apostólica Roma- membro do clero da cidade. Muitos dos car-
na deais servem na Cúria, que assiste o Papa
A Igreja Católica tem uma estrutura al- na administração da Igreja. Todos os car-
tamente hierarquizada, sendo o seu Chefe deais que não são residentes em Roma são
o Papa. A expressão “Santa Sé” significa o bispos diocesanos.
conjunto do Papa e dos dicastérios da Cúria iii) Patriarcas são normalmente títulos
Romana, que o ajudam no governo de toda possuídos por alguns líderes das Igrejas Ca-
a Igreja. tólicas Orientais sui juris. Estes patriarcas
A Igreja tem uma estrutura hierár- orientais, que ao todo são seis, são eleitos
quica de títulos que são em ordem pelos seus respectivos Sínodos e depois
reconhecidos pelo Papa. Mas alguns dos
descendente:
grandes prelados da Igreja Latina, como o
i) Papa, que é o Sumo Pontífice e chefe Patriarca de Lisboa e o Patriarca de Vene-
da Igreja Católica, o guardador da integrida- za, receberam também o título de Patriar-
de e totalidade do depósito da fé, o Vigário ca, apesar de ser apenas honorífico e não
de Cristo na Terra, o Bispo de Roma e o pos- lhes conferirem poderes adicionais.
suidor do Pastoreio de todos os cristãos,
concedido por Jesus Cristo a São Pedro e,
iv) Arcebispos (Metropolita ou Titu-
consequentemente, a todos os Papas. Esta
lar) são bispos que, na maioria dos casos,
estão à frente das arquidioceses. Se a sua
autoridade papal (Jurisdição Universal)
arquidiocese for a sede de uma província
vem da fé de que ele é o sucessor direto do
eclesiástica, eles normalmente têm tam-
Apóstolo São Pedro. Na Igreja latina e em
bém poderes de supervisão e jurisdição
algumas das orientais, só o Papa pode de-
limitada sobre as dioceses (chamadas su-
signar os membros da Hierarquia da Igreja
fragâneas) que fazem parte da respectiva
acima do nível de presbítero. Aos Papas,
província eclesiástica.
atribui-se infalibilidade, desde o Concílio
Vaticano I, em 1870. Por essa prerrogati- v) Bispos (Diocesano, Titular e Emé-
va, as decisões papais em questões de fé rito) são os sucessores diretos dos doze
e costumes (moral) são infalíveis. Todos os Apóstolos. Receberam o todo do sacra-
membros da hierarquia respondem peran- mento da Ordem, o que lhe confere, na
te o Papa e a sua corte papal, chamada de maioria dos casos, jurisdição completa so-
Cúria Romana. bre os fiéis da sua diocese.
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vi) Presbíteros ou Padres são os co- (anciães e diáconos), apresentação de Co-


laboradores dos bispos e só têm um nível operadores do Ofício Ministerial e Coope-
de jurisdição parcial sobre os fiéis. Alguns radores de Jovens e Menores, atendimento
deles lideram as paróquias da sua diocese. das Reuniões para Mocidade, encarregado
de conferir ensinamentos à igreja, cuidar
vii) Monsenhor é um título honorário dos interesses espirituais e do bem-estar
para um presbítero, que não dá quaisquer
da igreja, entre outras funções; atualmen-
poderes sacramentais adicionais.
te o Ancião-Presidente é Jorge Couri; aten-
viii) Diáconos são os auxiliares dos de na sede localizada no bairro do Brás em
presbíteros e bispos e possuem o primei- São Paulo.
ro grau do Sacramento da Ordem. São or-
ii) Diácono – responsável pelo aten-
denados não para o sacerdócio, mas para
dimento assistencial e material à igreja. É
o serviço da caridade, da proclamação da
auxiliado por irmãs obreiras chamadas de
Palavra de Deus e da liturgia. Apesar disso,
“Irmãs da Obra da Piedade”. Assim como o
eles não consagram a hóstia (parte central
ancião, atende a diversas congregações de
da Missa) e não administram a Unção dos
sua região.
enfermos e a Reconciliação.
iii) Cooperador do Ofício Ministerial
B) Congregação Cristã do Brasil – responsável pela cooperação nos ensina-
Segundo os estatutos da Congregação mentos e presidência dos cultos oficiais e
Cristã no Brasil, suas atividades são con- das Reuniões de Jovens e Menores em uma
duzidas por um ministério organizado, ser- determinada localidade (desde que não
vindo sem expectativas de receber salário, haja um Cooperador de Jovens e Menores
distribuído segundo as necessidades de responsável pelo atendimento dessa lo-
cada localidade, constituído por anciãos, calidade), não podendo realizar batismos,
cooperadores do ofício ministerial e diá- Santa Ceia, Reuniões para Mocidade, Orde-
conos. Somente os anciãos e diáconos são nações, dentre outras coisas que só cabem
ministros ordenados (I Tim. 4:14). ao Ancião ou ao Diácono.

Para todos os cargos de ministério, au- Além dos ministros previsto em estatu-
xiliares de jovens e menores, músicos ofi- to acima citados, há outros cargos ou fun-
cializados, encarregados de orquestras ções:
e administradores, devem ser batizados iv) Cooperador de Jovens e Menores
conforme a doutrina seguida pela Congre- – responsável de atender as Reuniões de
gação Cristã no Brasil e em todos os outros Jovens e Menores de sua comum congre-
países (por imersão, seguindo a formula: gação.
“Irmão em nome de Jesus Cristo te batizo,
Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito San- v) Músico – membro habilitado e depois
to”). de passar por testes musicais é oficializado
para tocar nos cultos e demais serviços.
i) Ancião – responsável pelo atendi-
mento da Obra, realização de batismos, vi) Encarregado de Orquestra – músi-
santas ceias, ordenação de novos obreiros co oficializado, designado para coordenar o
41

ensino musical aos interessados e organi- cerimônias sacerdotais, e mantiveram-se


zar ensaios musicais da Orquestra da Con- sujeitos, em especial no judaísmo ortodo-
gregação. xo, a uma série de regras especiais, nome-
adamente restrições sobre o casamento, a
vii) Auxiliar de Jovens e Menores –
pureza ritual, e outros requisitos.
são jovens, homens ou mulheres solteiros,
designados para preparar e organizar os O judaísmo ortodoxo acredita que os
recitativos das Reuniões de Jovens e Me- Cohanim futuramente servirão em um
nores individuais ou em grupo e cuidar da novo e restaurado Templo. Em todos os ra-
ordem e da organização durante a reunião. mos do judaísmo, os rabinos não executam
quaisquer funções sacerdotais como pro-
viii) Administração – ministério mate-
piciação, sacrifício, ou sacramento. Em vez
rial, constituído por Presidente, Tesourei-
disso, sua função religiosa principal é ser-
ro, Secretário, Auxiliares da Administração,
vir como um juiz autoritário e expositor da
Conselho Fiscal e Conselho Fiscal Suplente.
lei judaica. Os rabinos também geralmen-
Os administradores são eleitos a cada três
te exercem funções de liderança social e
anos e o Conselho Fiscal anualmente, du-
aconselhamento pastoral.
rante a Assembleia Geral Ordinária. É per-
mitida a recondução ao cargo. O supremo pontífice era o sumo sacer-
dote; seguia-se o segundo sacerdote, 2Rs
C) Judaismo
25.18, que provavelmente era denomina-
No judaísmo, os Kohanim (singular do o pontífice da casa de Deus, 2Cr 31.13;
kohen, plural kohanim, dos nomes Cohen, Ne 11.11, e o magistrado do templo, At 4.1;
Cahn, Kahn, Kohn, Kogan, entre outros.) 5.24.
são sacerdotes hereditários através da as-
Os pontífices de que fala o Novo Testa-
cendência paterna. Essas famílias são da
mento eram os sumos sacerdotes, mem-
tribo dos Leviim (Levitas), e são tradicio-
bros da família dos antigos sacerdotes e
nalmente aceitos como os descendentes
funcionavam irregularmente. A lei que
de Aarão. Em Êxodo 30:22-25, Deus orde-
regulava o acesso às funções do sumo sa-
na a Moisés que fizesse uma unção de óleo
cerdócio havia caído em olvido – esque-
santo para consagrar os sacerdotes de to-
cimento, em consequência das perturba-
das as gerações que virão. Durante os tem-
ções políticas e do domínio estrangeiro. Os
pos dos dois Templos judeus em Jerusalém,
pontífices eram investidos em seu oficio
os levitas foram responsáveis por diários e
ou dele despojados à mercê dos governos
especiais feriados judaicos, bem como ofe-
dominantes (DAVIS, 2005).
rendas e sacrifícios no templo conhecido
como o Korban. D) Igreja Evangélica Missão Reden-
Desde o fim do Segundo Templo e, por-
ção
tanto, a cessação de cerimônias sazonais Segundo Brito (2013), a IEMIR tem um
e diárias, e sacrifícios, os Cohanim no ju- caráter evangelístico, procurando seguir
daísmo tradicional (judaísmo ortodoxo e, os passos dos apóstolos e, por fim, de Cris-
em certa medida, o judaísmo conservador) to na pregação do evangelho a toda a cria-
têm continuado a realizar uma série de tura. Sua estrutura é composta por:
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i) Aspirantes – pessoas que tem o de- exceto a ordenação, embora possa indicar
sejo expressado voluntariamente para a pessoas para o Curso de Oficiais na Igreja
vida eclesiástica, ou que receberam o cha- Sede de seu Setor.
mado para fazer parte dessa obra. Tem
v) Evangelistas – o evangelista pode
como objetivo aprender as sagradas escri-
assumir congregações com o objetivo
turas, as ordenanças da igreja e sua litur-
de organizá-las e desenvolver projetos
gia. Não é uma nomeação, e sim um estado
evangelísticos adequados a cada região. É
de observação mútua, no qual o aspirante
responsável pelos programas e métodos
pode avaliar seu desejo de ser um obreiro,
evangelísticos da igreja, em conjunto com
e o corpo de obreiros avalia suas compe-
o corpo de obreiros e membros. Pode abrir
tências morais e bíblicas.
novas igrejas, conforme a orientação do
ii) Cooperadores – são ordenados ao Pastor Setorial, e/ou Pastor Presidente.
cooperado, homens e mulheres, que foram Sua meta e a divulgação do Evangelho de
devidamente instruídos, e/ou demonstra- Jesus Cristo.
ram chamado patente diante da Igreja de
vi) Missionários – pessoas chamadas
Cristo. Sua atuação é genérica, auxiliando
por Deus para levar o evangelho além de
irmãos e outros obreiros nas mais diversas
suas fronteiras culturais, não exercem
tarefas.
uma atividade eclesiástica específica, mas
iii) Diáconos – os deveres dos diáconos podem, sendo outorgados, abrir igrejas e
ou diaconisas estão ligados mais a prepa- desenvolver eventos evangelísticos. Atu-
ração de cerimonias e auxílio na condução am preferencialmente fora do país, e/ou
destas, como: batismos, santa ceia, casa- fora do estado.
mentos, cruzadas evangelistas, reuniões
vii) Pastores – o pastorado é o grau
e cultos diversos. Podem, de acordo com
máximo reconhecido pelo ministério, mu-
a necessidade, dirigir congregações, mi-
lheres também podem ser ordenadas, as
nistrar a santa ceia e propagar o ensino
funções do Pastor vão desde a ministração
da Palavra de Deus. Não podendo realizar
de ritos como: batismo, casamento, santa
batismos (exceto em casos de extrema
ceia, ministração da palavra, até a gerência
urgência, ou previamente outorgados) ou
administrativa da igreja, criação de depar-
realizar qualquer tipo de ordenação. Após
tamentos, organização de eventos, entre
o diaconato, pode-se ir ao presbitério ou
outros. O pastor(a) poderá atuar na condu-
evangelismo, de acordo com a vocação
ção de uma ou mais igrejas.
dada pelo Espírito Santo, ou mesmo per-
manecer no diaconato. viii) Pastor Local – conduz uma única
congregação, pode indicar pessoas para a
iv) Presbíteros – são em resumo co-
ordenação na sede do seu setor.
pastores, encarregado de conferir ensi-
namentos à igreja, cuidar dos interesses ix) Pastor Setorial – conduz várias
espirituais e do bem-estar da igreja, entre igrejas de uma determinada região, com o
outras funções conforme a orientação de auxílio dos Pastores Locais, pode realizar
seu pastor. Atuam também como pastores, ordenações até o nível do presbitério.
podendo realizar todas os ritos da igreja
43

x) Pastor Presidente – líder da igreja, fundador – Jesus, sobre a pedra que é


gestor e responsável pela organização jurí- Pedro (considerado como primeiro Papa);
dica, encarregado de conferir ensinamen- mensagem – sacramentos, caridade,
tos à igreja, cuidar dos interesses espiritu- culto a Maria e aos Santos;
ais e do bem-estar da igreja, gerir os setores igreja – os membros da Igreja Católica
e igrejas afiliadas. É também o guardião da Apostólica Romana;
identidade do ministério zelando pela Sã
Deus – Trindade três pessoas em um
Doutrina e a Genuína Pregação do Evange-
Deus; Jesus: Deus em carne. 2ª pessoa da
lho de Jesus Cristo. Comissionado por Deus
Trindade;
para tem a missão de levar a palavra aos
confins da terra (www.iemir.org.br). salvação – fora da Igreja Católica Apos-
tólica Romana não há Salvação;
Segundo Brito (2013), a maioria das de- ressurreição de Jesus – sim;
nominações evangélicas seguem padrões
escrituras – a Bíblia (+ 7 livros apócri-
parecidos com os citados, mudando-se
fos) + a tradição (Dogmas).
apenas a nomenclatura e ou quantidade de
ordenações usadas. c) Nome do grupo: Legião da Boa
Vontade – LBV
Abaixo temos um comparativo do que
diz a Bíblia e o que acreditam algumas das fundador – Alziro Zarur, 04-03-1949;
correntes religiosas: mensagem – assim como Jesus, todos
a) Cristianismo Bíblico (NT-Bíblia poderão alcançar a perfeição após muitas
Sagrada) (At.11:26) reencarnações;
igreja – todos são cristãos indepen-
Fundador – Jesus Cristo, filho de Deus dentes da religião;
Bendito (1 Co.3:11);
Deus – impessoal; Jesus não é Deus
Mensagem – Jesus morreu para salvar nem teve corpo humano;
os pecadores (1Co.15:3-8); salvação – através da caridade e reen-
Igreja – formada por aqueles que são carnações sucessivas;
salvos (1 Co.1:2); ressurreição de Jesus – não;
Deus – é a Trindade - três pessoas em escrituras – livros da LBV.
um Deus (Mt.28:19; Jesus: 2ª pessoa da
d) Nome do grupo: Espiritismo Kar-
Trindade, filho de Deus-Pai (1Jo.5:11-14);
decista
salvação – pela Graça, através da Fé só
fundador – Dr. Hippolyte Léon Deni-
em Jesus (At.15:11);
zard Rivail, vulgo Allan Kardec (1857);
ressurreição – Jesus subiu no corpo
mensagem – assim como Jesus, todos
que morreu (At.1:9);
poderão alcançar a perfeição após muitas
escrituras – Bíblia- única Palavra de reencarnações;
Deus (66 livros) (2 Tm.3:16). igreja – o Espiritismo é a Igreja restau-
b) Nome do grupo: Catolicismo Ro- rada e o Consolador prometido por Jesus;
mano Deus – não é Pessoa; Jesus não é Deus
44

nem teve corpo humano; Sétimo Dia


salvação – através da caridade e por
fundador – Ellen Gould White(1860);
reencarnações sucessivas;
mensagem – crer em Jesus e observar
ressurreição de Jesus – não;
a Lei;
escrituras – livros de Allan Kardec e
igreja – somente os adventistas;
outros.
Deus – trindade, três pessoas em um
e) Nome do grupo: Testemunhas de Deus; Jesus – Deus em carne. 2ª pessoa da
Jeová Trindade;
fundador – Charles Taze Russell (1852- Salvação – guardando o sábado e os
1916), fundado em 1881; mandamentos;
mensagem – Jesus abriu a porta para ressurreição de Jesus – sim;
conquistarmos nossa salvação; escrituras – Bíblia e livros de Ellen
igreja – 144.000 ungidos que irão para White.
o céu; h) Nome do grupo: Mormonismo
Deus – Jeová, que é uma só Pessoa; Je-
sus – não é Deus; é o Arcanjo Miguel, a pri- fundador – Joseph Smith (1805-1844),
meira e única criatura de Jeová; fundado em 1830;

salvação – obedecendo as ordens da mensagem – alcançar a divindade pe-


Sociedade Torre de Vigia; las ordenanças do evangelho mórmon;

ressurreição de Jesus – não; igreja – membros da Igreja de Jesus


Cristo dos Santos dos Últimos Dias;
escrituras – bíblia deles (Tradução do
Novo Mundo) + literaturas dos líderes. Deus – tríade 3 deuses; Jesus – não é
Deus, é irmão de Lúcifer e dos homens;
f) Nome do grupo: Maçonaria Salvação – salvação pelas boas obras
fundadores – Anderson e Desagulliers da igreja mórmon;
(Londres, 1717); ressurreição de Jesus – sim;
mensagem – buscar o próprio aperfei- escrituras – a Bíblia, Livro de Mórmon,
çoamento; Doutrina e Convênios, Pérola de Grande
igreja – —; Valor.
Deus – impessoal como força superior; i) Nome do grupo: Teosofia
Jesus – um grande mestre semelhante à
Buda, Maomé, entre outros; fundador – Madame Helena Blavatsky
(1831-1891) fundada em 1875;
Salvação – erguer templos à virtude e
cavar masmorras aos vícios; mensagem – —;

ressurreição de Jesus – não; igreja – —;

escrituras – rituais e manuais secre- Deus – Deus é um princípio; Jesus – um


tos. grande Mestre;
salvação – —;
g) Nome do grupo: Adventistas do
ressurreição de Jesus – não;
45

escrituras – A Doutrina Secreta, Isis mensagem – o homem deve se con-


sem Véu, A Chave para a Teosofia e A Voz formar com sua condição para alcançar
do Silêncio. uma vida melhor na próxima encarnação;
j) Nome do grupo: Moonismo igreja - —;
Deus – o absoluto. Um espírito univer-
fundador – Sun Myung Moon (1920); sal (Brahman). Vários deuses são manifes-
mensagem – Moon é o Rei dos reis, e tações dele; Jesus – é um mestre ou avatar
Senhor dos senhores, e o Cordeiro de Deus; (uma encarnação de Vishnu);
igreja – Igreja da Unificação; ressurreição de Jesus – sua morte não
Deus – Deus é tanto positivo como foi expiatória;
negativo. Não há Trindade. Deus precisa salvação – libertação dos ciclos de re-
de Moon para fazê-lo feliz; Jesus – Jesus encarnação, e absorção em Brahman al-
foi um homem 9 perfeito, não Deus. Jesus cançadas através da Yoga e meditação;
falhou em sua missão. Moon vai completar ressurreição de Jesus – —;
sua obra;
escrituras – Vedas, Upanishads, Bha-
Salvação – obediência e aceitação dos gavad Gita.
verdadeiros pais (Moon e sua esposa);
ressurreição de Jesus – Jesus não res- m) Nome do grupo: Budismo
suscitou fisicamente; fundador – Buda (Siddartha Gautama,
escrituras – princípio divino por Sun em 525 a.C.);
Myung Moon, Esboço do Princípio, Nível 4 mensagem – o alvo da vida é o Nirva-
e a Bíblia. na para escapar do sofrimento Igreja – —;
k) Nome do grupo: Cientologia Deus – não existe. Buda é considerado por
alguns como uma consciência universal ilu-
fundador – Ron Hubbard (1954); minada; Jesus – —;
mensagem – todos são – thetans, es- salvação – o Nirvana (inexistência)
píritos imortais com poderes ilimitados; que pode ser alcançado seguindo-se o Ca-
igreja – —; Deus – rejeita o Deus revela- minho das Oito Vias; Ressurreição de Jesus
do na Bíblia. Raramente mencionado. Jesus – —;
– Jesus não morreu pelos pecados de nin- escrituras – A Tripitaka (Três Cestos),
guém; que têm mais de100 volumes.
salvação – salvação é a libertação da
n) Nome do grupo: Islamismo
reencarnação;
ressurreição de Jesus – —; fundador – Maomé (610 d.C.);
escrituras – dianética: A Ciência mensagem – só Allah é Deus e Maomé
Moderna da Saúde Mental, e outros de o seu profeta;
Hubbard, e A Chave para a Felicidade. igreja – —; Deus – Alá, um juiz severo.
Não é descrito como amoroso. É um dentre
l) Nome do grupo: Hinduísmo
mais de 124 mil profetas enviados por Deus
fundador – —; a várias culturas. Jesus – não é Deus, não
46

foi crucificado, voltará para viver e morrer;


salvação – o equilíbrio entre as boas e
más obras determina o destino eterno no
paraíso ou no inferno;
ressurreição de Jesus – não ressusci-
tou, porque não morreu;
escrituras – Corão e Hadith. A Bíblia é
aceita, mas considerada corrompida.
47

UNIDADE 9 - O Mundo é Plural

Fechamos nosso módulo já pedindo estreitas (PONTIFÍCIO CONSELHO PARA


desculpas por não contemplar as inúme- O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO. Documen-
ras crenças religiosas vigentes, mas afir- to Diálogo e Anúncio. São Paulo: Loyola,
mando que cada uma tem sua importância 1996; Diálogo e anúncio n.43)
e aceitação mediante a consciência pes-
O “diálogo da experiência religiosa” nos
soal.
possibilita reconhecer e discernir os valo-
Verdade seja dita: as religiões preser- res espirituais das religiões, pontuando as
vam um patrimônio espiritual valioso e diferenças e também as convergências, já
plural, pois registram um conjunto signifi- que “a maior parte das grandes religiões
cativo de experiências, valores, métodos têm procurado a união com Deus na ora-
e itinerários espirituais que, no curso dos ção e também indicado os caminhos para
séculos, têm inspirado milhares de pesso- obtê-la” (Carta sobre alguns aspectos da
as e comunidades. Ao lado do cristianis- meditação cristã nº 16).
mo, esse patrimônio compõe o tesouro
Cientes de que “a Igreja católica nada
milenar da experiência religiosa humana,
rejeita do que nessas religiões existe de
objeto não só de estudo, mas também
verdadeiro e santo” 2 não convém “des-
de diálogo entre os seguidores das dife-
prezar, sem prévia consideração, tais indi-
rentes religiões. Com efeito, o diálogo da
cações, só por não serem de origem cris-
experiência religiosa é uma via específica
tã. Poder-se-á, ao contrário, colher nelas
do diálogo inter-religioso que tem promo-
o que contêm de útil, tendo o cuidado de
vido o encontro, a compreensão recíproca
nunca perder de vista a concepção cristã
e a convergência das religiões em aspec-
da oração, sua lógica e suas exigências,
tos comuns, como a valorização da trans-
porque só dentro desta totalidade, esses
cendência, a visão sagrada do tempo e do
fragmentos poderão ser reformados e in-
cosmos, o respeito pela pessoa humana, a
cluídos” (Carta sobre alguns aspectos da
promoção da justiça, o cuidado ecológico
meditação cristã nº 16).
e a paz (MAÇANEIRO, 2014).
Uma sugestão importante para os cris-
Cristãos e não cristãos não só podem
tãos “é a aceitação humilde de um mestre
como devem cooperar para a promoção
experimentado na vida de oração que co-
dos valores humanos e espirituais; o que
nheça suas normas; desse aspecto sem-
nos levaria a todos a uma rica experiência
pre se teve consciência na experiência
religiosa, em resposta às grandes ques-
cristã, desde os tempos antigos, particu-
tões suscitadas no espírito humano pelas
larmente à época dos Padres do deserto.
circunstâncias da vida. Os intercâmbios
O mestre – experimentado no sentire cum
em nível da experiência religiosa podem
tornar as discussões teológicas mais vi-
vas. E estas, por sua vez, podem iluminar 2-Declaração NOSTRA AETATE, n. 2, sobre a igreja e as re-
ligiões não-cristãs. Disponível em: http://www.vatican.va/
as experiências e encorajar relações mais archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_
decl_19651028_nostra-aetate_po.html
48

ecclesia [sentir com a Igreja] – não deve


somente guiar e chamar a atenção sobre
certos perigos, mas, como pai espiritual,
introduzir de maneira viva, de coração a
coração, na vida de oração, que é dom do
Espírito Santo” (Carta sobre alguns aspec-
tos da meditação cristã nº 16).

Outro resultado valioso do diálogo das


experiências religiosas são as solicitações
de releitura e aprofundamento de nossa
fé cristã, em face da outra religião. No en-
contro e diálogo sobre os diferentes ca-
minhos espirituais, as religiões pedem de
nós o esclarecimento de pontos tradicio-
nais do cristianismo, a respeito da Palavra
de Deus, da Trindade, da comunicação/
encarnação do Verbo e da mediação sa-
cramental da Igreja. Além desses pontos
tradicionais, há casos em que o diálogo
inter-religioso solicita de nós o desenvol-
vimento de novas perspectivas do dado
revelado. Afinal, a plenitude da verdade
recebida em Jesus Cristo não dá aos cris-
tãos, individualmente, a garantia de te-
rem assimilado de modo pleno esta mes-
ma verdade.

Como fecha Maçaneiro (2014): em últi-


ma análise, a verdade não é algo que pos-
suímos, mas uma Pessoa por quem nos
devemos deixar possuir. Trata-se, portan-
to, de um processo sem fim. Embora man-
tendo intacta a sua identidade, os cris-
tãos devem estar dispostos a aprender e a
receber dos outros e por intermédio deles
os valores positivos de suas tradições (Di-
álogo e anúncio nº 49).
49

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