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Universidade do Sul de Santa Catarina
Negócios
jurídicos
UnisulVirtual
Palhoça, 2014
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Créditos
2
Gisele Rodrigues
Negócios
jurídicos
Livro didático
Designer instrucional
Luiz Henrique Queriquelli
UnisulVirtual
Palhoça, 2014
3
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2014 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Livro Didático
Revisor(a)
Amaline Boulos Issa Mussi
3421
C54 Goedert, Gisele Rodrigues Martins
Negócios jurídicos : livro didático / Gisele Rodrigues Martins
Goedert ; design instrucional Luiz Henrique Queriquelli. – Palhoça :
UnisulVirtual, 2014
94 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
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Sumário
Introdução | 7
Capítulo 1
Fatos jurídicos | 9
Capítulo 2
Negócio jurídico | 21
Capítulo 3
Defeitos e invalidade dos negócios jurídicos | 39
Capítulo 4
Atos ilícitos e prova nos negócios jurídicos | 57
Capítulo 5
Prescrição e decadência | 75
Considerações Finais | 89
Referências | 91
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Introdução
7
Você verá, ainda, que há situações nas quais a parte ou as partes podem
atuar contrariamente ao que o direito determina, e acabar, por vezes,
causando algum prejuízo tanto para elas mesmas quanto para terceiros.
Essa atuação contrária pode se identificar como um ato ilícito, o que
invariavelmente provocará a configuração da responsabilidade civil, ou seja,
originará o dever de indenizar.
Sucesso, sempre!
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Capítulo 1
Fatos jurídicos
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Capítulo 1
Seção 1
Fato jurídico
A partir de agora, adentraremos no segundo momento da parte geral do Código
Civil, não mais conceituando a pessoa enquanto sujeito de direitos e obrigações,
mas a pessoa como parte essencial e sujeito principal dos acontecimentos que
produzem efeitos no mundo jurídico. Para tanto, segundo Pablo Stolze Gagliano
(GAGLIANO, 2006 p. 331), “todo acontecimento, natural ou humano, que
determine a ocorrência de efeitos constitutivos, modificativos ou extintivos de
direitos e obrigações, na órbita do direito, denomina-se fato jurídico.”
Fato jurídico não é um conceito de direito civil, mas de todo o direito. Assim, seu
estudo é mais apropriado na teoria geral do direito, pois não apenas se aplica
às situações juscivilistas mas também às de todos os demais ramos de direito
privado ou público. (LOBO, 1986, p. 221).
Nem todos os fatos jurídicos são objeto do Código Civil, no entanto está regulada
no Livro III da Parte Geral, a matéria que se denomina “fatos jurídicos”. Para
Paulo Lobo, fatos jurídicos são todos os fatos naturais ou de conduta aos quais o
direito atribui consequências jurídicas. (LOBO, 1986, p. 221).
Verifica-se, assim, que todo fato, para ser considerado jurídico, deve passar
por um juízo de valoração. O ordenamento jurídico, que regula a atividade
humana, é composto de normas jurídicas, as quais preveem hipóteses de fatos
e consequentes modelos de comportamento considerados relevantes, e que, por
isso, foram normatizados. Estes, depois de concretizados, servem de suporte
fático para a incidência da norma e o surgimento do fato jurídico. (CARLOS
ROBERTO GONÇALVES, 2008, p. 314).
O fato jurídico pode ser fato jurídico em sentido amplo (lato sensu) e fato
jurídico em sentido estrito (stricto sensu). Este último refere-se tão somente
aos acontecimentos naturais que possam produzir efeitos na órbita jurídica.
Fato jurídico lato sensu é todo acontecimento que se encontra regulado
pelo direito.
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Negócios Jurídicos
Desdobra-se em fato jurídico stricto sensu, ato-fato jurídico, ato jurídico stricto
sensu e negócio jurídico. (ROBERTO SENISE LISBOA, 2004, p. 368).
Os fatos humanos ou atos jurídicos em sentido amplo são ações humanas que
criam, modificam, transferem ou extinguem direitos. Estes, por sua vez, dividem-
se em lícitos e ilícitos.
Seção 2
Atos lícitos
Para efeito de conceituação, consideram-se lícitos os atos humanos a que
a lei defere os efeitos almejados pelo agente. Praticados em conformidade
com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos voluntários, queridos
pelo agente. Os ilícitos, por serem praticados em desacordo com o prescrito
no ordenamento jurídico, embora repercutam na esfera do direito, produzem
efeitos jurídicos involuntários mas impostos por esse ordenamento. Em vez de
direito, criam deveres, obrigações. Hoje se admite que os atos ilícitos integram a
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Capítulo 1
categoria dos atos jurídicos pelos efeitos que produzem. Estes estão regulados
nos artigos 186 e 927 do Código Civil, em que se ressalta a obrigação de
indenizar. (GONÇALVES, 2008, p. 316).
Lobo (1986, p. 237) ainda menciona que outra nota determinante e peculiar do
ato jurídico em sentido estrito é que seu autor não pode definir seus efeitos,
seus limites e seu alcance. A vontade é sua, podendo ou não exteriorizá-la, mas,
desde o momento que o faz, perde o controle de sua destinação. A lei é que
define para que serve essa vontade exteriorizada, qual ou quais pessoas podem
ser afetadas por ela, positiva ou negativamente, e seus preciosos fins.
Para Tartuce (2011, p. 312), um bom exemplo de ato jurídico stricto sensu é o
reconhecimento de um filho. Digamos que uma pessoa teve um filho fora do
casamento e, como pai, quereria reconhecê-lo. Com o reconhecimento, surgem
efeitos legais, como direito do filho de usar o nome do pai, o dever do último de
prestar alimentos, direitos sucessórios, dever de apoio moral, entre outros.
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Negócios Jurídicos
Para Tartuce (2011, p. 310), o ato-fato jurídico pode ser conceituado como “um
fato jurídico qualificado por uma atuação humana, por uma vontade não relevante
juridicamente.”
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Capítulo 1
Ordinários
Fatos naturais
Ato jurídico em
Extraordinários
Fatos jurídicos sentido estrito ou
(em sentido amplo) meramente lícito
Seção 3
Finalidade negocial
No negócio jurídico, a manifestação da vontade tem finalidade negocial, que
abrange a aquisição, conservação, modificação ou extinção de direitos.
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Negócios Jurídicos
No entanto, mesmo não fazendo mais parte do nosso Código Civil atual, como
se trata de conceito consagrado pela doutrina, ainda é bastante utilizado.
(GAGLIANO, 2006, p. 335).
•• direito atual;
•• direito futuro;
•• direitos eventuais;
•• expectativa de direito;
•• direitos condicionais.
Direito atual é o que, tendo sido adquirido, está em condições de ser exercido,
por estar incorporado ao patrimônio do adquirente.
Direito futuro é aquele cuja aquisição ainda não se operou, que não pode
ser exercido. Sua realização depende de uma condição ou prazo. Há fatos
que devem acontecer, para que esse direito se aperfeiçoe. Por exemplo: no
compromisso de compra e venda de imóveis a prazo, o direito real só surgirá com
o pagamento final do preço e o registro no competente Cartório do Registro de
Imóveis.
Nesse sentido, Silvio de Salvo Venosa (2007) ainda elucida que o direito futuro
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Capítulo 1
O direito futuro será não deferido quando, para seu aperfeiçoamento, houver
dependência de condições falíveis, que escapam ao mero arbítrio do interessado.
É o caso da promessa de recompensa, pois dependerá de credor, inicialmente
incerto, que aceite e realize as condições da promessa, para que possa exigir
recompensa.
O direito eventual é direito incompleto, que pode ter vários aspectos. O direito
eventual é direito futuro, pois depende de um acontecimento para completar-se,
mas já apresenta características embrionárias, isto é, já apresenta características
em alguns de seus elementos constitutivos. Trata-se de relação jurídica ainda
incompleta. Podem ser exemplificados pela venda de coisa alheia: quem vende
algo que ainda não possui, fica na dependência de adquirir a coisa para poder
transmiti-la. Nesses casos, os direitos já se apresentam moldados, faltando
apenas um ou alguns elementos para completá-los.
Pode ser direito quase completo, apresentando-se como direito futuro, mas, com
certa relação com o presente, já desfruta de alguma proteção jurídica.
Tanto nos direitos eventuais como nos condicionais existe subordinação a evento
futuro e incerto. Há numerosas coincidências nessas duas categorias.
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Negócios Jurídicos
Temos de concluir que, para fins práticos, tanto o direito eventual como o direito
condicional devem ser tratados de maneira idêntica. (VENOSA, 2007, p. 389-392).
Derivada é a aquisição que decorre de transferência feita por outra pessoa. Nesse
caso, o direito é adquirido com todas as qualidades ou defeitos do titulo anterior,
visto que ninguém pode transferir mais direitos do que tem. Por exemplo, o direito
de usufruto deriva do direito à propriedade ou posse. Mas o direito ao usufruto não
é, exatamente, um direito originário, pois não deriva de uma relação jurídica.
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Capítulo 1
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Negócios Jurídicos
A modificação objetiva diz respeito ao seu objeto. A alteração pode ser tanto de
quantidade – volume, ou qualidade – conteúdo de objeto ou direitos. Pode afetar a
quantidade ou a qualidade do direito, forma ou intensidade de exercê-lo.
Para Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 324), costumam ser mencionadas, entre
outras, as seguintes: o perecimento do objeto sobre o qual recaem, alienação,
renúncia, escoamento do prazo, prescrição e decadência. Algumas causas de
extinção podem ser:
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Capítulo 2
Negócio jurídico
21
Capítulo 2
Seção 1
Negócio jurídico: contextualização e conceito
Neste tópico, será abordado o negócio jurídico, parte da matéria considerada
fundamental para a compreensão dos demais conceitos da parte geral, bem
como da parte especial do Código Civil. É no negócio jurídico que reside toda a
essência para a formação das relações jurídicas e a formalização das obrigações.
A partir do Código Civil atual, pode-se dizer que houve uma verdadeira revolução
no modo de se visualizarem as obrigações, os contratos, o casamento e,
sobretudo, os negócios jurídicos, já que profundas foram as alterações sociais
e econômicas pelas quais passou o mundo civilizado. Importante salientar
que o Código Civil de 2002 não buscou conceituar tanto o ato jurídico stricto
sensu quanto o negócio jurídico, demonstrando somente quais seriam os seus
elementos estruturais (art. 104 do CC). O foco principal do negócio jurídico, a
manifestação da vontade, sofreu um verdadeiro impacto, apontando alguns
autores que é praticamente impossível, hoje, a sua manifestação inequívoca e
plena, a exemplo dos contratos de adesão. (TARTUCE, 2011, p. 314).
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Negócios Jurídicos
Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona (2010, p. 353), “negócio jurídico
é a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de
existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo
ordenamento jurídico pretendidos pelo agente.”
Seção 2
Classificação dos negócios jurídicos
Conceituado o negócio jurídico, passamos ao estudo da sua classificação. Em se
tratando da classificação dos negócios jurídicos, além de ser extensa, há clara
divergência doutrinária no tocante à sua concepção e subdivisão. Desta forma,
optamos pela classificação que se apresenta de maneira mais didática, qual
seja, a de Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 327-337), que dispõe poderem os
negócios jurídicos ser classificados em:
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Capítulo 2
Podem existir várias pessoas no polo ativo e, também, várias no polo passivo,
sem que o contrato deixe de ser bilateral pela existência de duas partes, pois
estas não se confundem com aquelas.
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Negócios Jurídicos
Pode-se dizer, portanto, que todo negócio oneroso é bilateral, mas a recíproca
não é verdadeira (Exemplo: doação, comodato).
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Capítulo 2
Inter vivos – destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as partes
ainda vivas (Exemplo: promessa de venda e compra).
Mas determinada forma pode ser exigida apenas como prova do ato. Nesse caso,
se diz tratar-se de uma formalidade ad probationem tantum (Exemplo: assento do
casamento no livro de registro – art. 1536).
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Negócios Jurídicos
Dispositivos são aqueles utilizados pelo titular para alienar, modificar ou extinguir
direitos (Exemplo: a constituição de usufruto em favor de terceiro).
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Capítulo 2
Seção 3
Planos de existência, validade e eficácia
Seguindo a linha dos doutrinadores que estudam o tema, Pablo Stolze Gagliano
e Rodolfo Pamplona (2010, p. 354-355) entendem que, para apreendê-lo
sistematicamente – e não simplesmente reproduzir regras positivadas –, faz-se
mister analisá-lo sob os três planos em que pode ser visualizado:
Existência: um negócio jurídico não surge do nada, exigindo-se, para que seja
considerado como tal, o atendimento a certos requisitos mínimos;
Validade: o fato de um negócio jurídico ser considerado existente não quer dizer
que ele seja considerado perfeito, ou seja, com aptidão legal para produzir efeitos;
Eficácia: ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, ou seja,
perfeito para o sistema que o concebeu, isto não importa em produção imediata de
efeitos, pois estes podem estar limitados por elementos acidentais da declaração.
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Negócios Jurídicos
Plano da eficácia:
• condição;
• termo;
• consequências do
inadimplemento negocial
(juros, multas, perdas e
danos);
• outros elementos.
(efeitos do negócio)
Plano da validade:
• capacidade (do agente);
• liberdade (da vontade ou
consentimento);
• licitude, possibilidade,
determinabilidade (do
objeto);
• adequação (das formas).
(requisitos da validade)
Plano da existência:
• agente;
• vontade;
• objeto;
• forma.
(pressupostos de
existência)
•• manifestação de vontade;
•• agente emissor da vontade;
•• objeto; e
•• forma.
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Capítulo 2
Ou, ainda, o Art. 147 também do CC: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio
intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte
haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não
se teria celebrado.”
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Negócios Jurídicos
Importa salientar que uma parcela significativa da doutrina trata este elemento
juntamente com o anterior, formando um só elemento, denominado manifestação
ou declaração de vontade, ou, apenas, vontade. A subdivisão desses elementos
foi realizada com o intuito de promover a compreensão do tema de maneira mais
didática.
3.1.3 Objeto
Todo negócio jurídico pressupõe a existência de um objeto, sendo este não
necessariamente um bem exclusivamente material mas também imaterial, como
no caso de um contrato de direito autoral.
Assim, na análise do objeto, Sebastião José de Assis Neto (2009, p. 167) observa
que o conteúdo das obrigações contraídas pelas partes também está englobado
no objeto. Para o autor, deve-se observar que o objeto do negócio engloba não
só um bem especificamente descrito na declaração de vontade mas ainda o
conteúdo das obrigações contraídas pelas partes.
3.1.4 Forma
Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2010, p. 363) entendem que a forma é o
meio pelo qual a declaração se exterioriza, ou, em outras palavras, o tipo de
manifestação através do qual a vontade chega ao mundo exterior. Sem uma
forma pela qual se manifeste a vontade, por óbvio, o negócio jurídico inexiste,
uma vez que a simples intenção encerrada na mente do agente (cogitação) não
interessa para o direito.
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Capítulo 2
Representação Curador Assistência
III - os que, mesmo por causa transitória, III - os excepcionais, sem desenvolvimento
não puderem exprimir sua vontade. mental completo;
IV - os pródigos.
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Negócios Jurídicos
CAPÍTULO II
Da Representação
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Capítulo 2
Pois bem. Objeto lícito é aquele que não atenta contra a lei, a moral ou os bons
costumes. O objeto deve ser, também, possível. Quando impossível, o negócio é
nulo. A impossibilidade pode ser física ou jurídica.
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Negócios Jurídicos
3.3.1 Condição
A condição é a cláusula contratual acessória, derivada da vontade das partes,
que subordina a eficácia do negócio jurídico a um acontecimento futuro e incerto.
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Capítulo 2
Para exemplificar a condição resolutiva, Paulo Lobo (1986, p. 265) expõe: pago-
lhe uma mesada até a conclusão de seu curso universitário, ou seja, o negócio
jurídico produz desde já seus efeitos, que se extinguirão quando a condição
se concretizar. O negócio existe, é valido, e seus efeitos acontecem desde o
momento do pagamento da mesada até o da conclusão do curso universitário.
Neste caso, a condição resolutiva é o “término do curso universitário”.
Todo negócio jurídico tem termos inicial e final, até mesmo quando aparenta
ser instantâneo. Quando alguém fez uma proposta de venda de algo e o outro
imediatamente aceitou, houve algum tempo – minutos, segundos – entre a
aceitação, que fez exsurgir o início do negócio jurídico, e o pagamento do preço
após a entrega da coisa, que é seu termo final. (LOBO, 1986, p. 267).
O termo não suspende a aquisição do direito por ser evento futuro, mas dotado
de certeza. Difere da condição, que subordina a eficácia do negócio a evento
futuro e incerto. Sendo o termo um acontecimento certo, inexiste estado de
pendência, não se cogitando de retroatividade, existente apenas no negócio
condicional. O titular do direito a termo pode, com maior razão, exercer sobre
ele atos conservatórios. Pode ocorrer, em certos casos, a conjugação de
uma condição e um termo no mesmo negócio jurídico. Por exemplo: “dou-te um
consultório se te formares em medicina até os 25 anos.” (GONÇALVES, 2008, p. 391).
Para Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 391), há várias espécies de Termo. Estas
podem ser na forma: convencional (estabelecido pelas partes), de direito (decorre
da lei), de graça (dilação de prazo concedida ao devedor).
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Negócios Jurídicos
A data em que têm início os efeitos do negócio jurídico chama-se termo inicial,
termo suspensivo ou dies a quo; a data que estes têm fim é denominada termo
final, termo resolutivo ou dies ad quem. Ao termo inicial e final, diz a lei, aplica-
se, no que couber, o disposto, respectivamente, sobre condição suspensiva e
resolutiva, conforme dispõe o art. 135 do Código Civil. (COELHO, 2003, p. 322).
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Capítulo 2
jurídico. Contudo, as partes podem ajustar que, enquanto não for atendido, o
encargo suspenda a aquisição ou o exercício do direito.
Pode ser entendida como cláusula acessória, determinada pela vontade das
partes, obrigando o beneficiário do negócio jurídico à realização de determinado
ato. É cláusula típica das liberalidades (especialmente a exemplo das doações,
testamentos etc.).
O encargo não pode ser fixado nos negócios onerosos, pois equivaleria a uma
contraprestação. No caso de descumprimento, o negócio continua sendo válido e
eficaz, restando, apenas, a opção da cobrança judicial do encargo.
O valor do encargo não pode ser superior ao do objeto doado, pois isso cortaria o
caráter de liberalidade da doação. Entendemos que, para se configurar o contrato,
a liberalidade deve consistir no valor prevalecente, no confronto entre o objeto
doado e o encargo proposto. Como exemplo, podemos citar: “doação de imóvel
para que se construa um hospital.” (PAULO LOBO, 1986, p. 270-271).
Enfim, encerrado o estudo de Negócio Jurídico, você vai seguir para o terceiro
capítulo, que diz respeito aos Defeitos do Negócio Jurídico.
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Capítulo 3
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Capítulo 3
Seção 1
Defeitos dos negócios jurídicos
A importância de se estudarem os defeitos dos negócios jurídicos reside na
identificação dos vícios que podem macular o ato jurídico celebrado, atingindo a
sua vontade ou gerando repercussão social, tornando o negócio passível de ação
anulatória ou declaratória de nulidade pelo prejudicado. (TARTUCE, 2011, p. 349).
1.1 Erro
Erro consiste em uma falsa representação da realidade. Nessa modalidade de
vício de consentimento, o agente engana-se sozinho. Quando é induzido em
erro pelo outro contratante ou por terceiro, caracteriza-se o dolo. (GONÇALVES,
2008, p. 398).
Para Pablo Stolze Gagliano (2006, p. 386), embora a lei não estabeleça distinções, o
erro é um estado de espírito positivo, qual seja, a falsa percepção da realidade, ao
passo que a ignorância é um estado de espírito negativo, o total desconhecimento
do declarante a respeito das circunstâncias do negócio. O erro, entretanto, só é
considerado como causa de anulabilidade do negócio jurídico, se for:
•• essencial (substancial); ou
•• escusável (perdoável).
Assim dispõe o art. 138 do CC: “São anuláveis os negócios jurídicos, quando as
declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido
por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.”
Ato contínuo, a legislação, em seu art. 139, trata de conceituar o erro substancial:
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Negócios Jurídicos
Ou seja, substancial é o erro que incide sobre a essência (substância) do ato que
se pratica, sem o qual este não se teria realizado. É o caso do colecionador que,
pretendendo adquirir uma estátua de marfim, compra, por engano, uma peça
feita de material sintético. (GAGLIANO, 2006, p. 386).
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Capítulo 3
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Negócios Jurídicos
1.2 Dolo
Considera-se dolo a malícia ou o artifício inspirado na má-fé para induzir a outra
parte a realizar o negócio jurídico em seu prejuízo. É o enganar consciente. Vem
do latim dolus, com o significado de ardil, logro, artifício, esperteza. (LOBO,
1986, p. 280).
De acordo com o art. 145 do Código Civil, “São os negócios jurídicos anuláveis
por dolo, quando este for a sua causa”. Para tanto, convém classificar as
espécies de dolo.
•• principal (essencial); ou
•• acidental.
O dolo, para invalidar o ato, deve ser principal – atacando a causa do negócio em
si -, uma vez que o acidental, aquele que não impediria a realização do negócio,
gera, apenas, a obrigação de indenizar.
No dolo principal, uma das partes do negócio utiliza artifícios maliciosos, para
levar a outra a praticar um ato que não praticaria normalmente, visando obter
vantagem, geralmente contemplando o enriquecimento sem causa. (TARTUCE,
2011, p. 355).
O dolo acidental, que não é causa para o negócio, não pode gerar a sua
anulabilidade, mas, somente, a satisfação em perdas e danos a favor do
prejudicado. Nesse sentido, demonstra o art. 146 do CC: “O dolo acidental só
obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o
negócio seria realizado, embora por outro modo.”
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Capítulo 3
44
Negócios Jurídicos
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo
de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse
ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o
negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e
danos da parte a quem ludibriou.
Ou seja, o dolo, pode ser praticado por uma terceira pessoa que não faz parte do
negócio, mas engana a vítima para ajudar o outro interessado. Nesse caso, temos o
dolo de terceiro que pode gerar tanto a anulação do negócio quanto o pagamento
de perdas e danos à vítima. Assim, exemplifica Gonçalves (2008, p. 419):
45
Capítulo 3
Nesse caso, há dolo, má-fé das duas partes na celebração do negócio, não
havendo na lei a possibilidade de se invocar anulação ou perdas e danos.
1.3 Coação
Coação pode ser conceituada como sendo uma pressão física ou moral exercida
sobre o negociante, visando obrigá-lo a assumir uma obrigação que não lhe
interessa. Aquele que exerce a coação é denominado coator e o que a sofre,
coato, coagido ou paciente. (TARTUCE, p. 359).
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta
ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua
família, ou aos seus bens.
A coação física é aquela que age diretamente sobre o corpo da vítima. A doutrina
entende que este tipo de coação neutraliza completamente a manifestação da
vontade, tornando o negócio jurídico inexistente, e não simplesmente anulável.
Imagine a hipótese de um lutador de boxe pegar a mão de uma velhinha
analfabeta, à força, para apor a impressão digital em um instrumento de contrato
que ela não quer assinar. Logicamente que um exemplo como este parece
um tanto absurdo, mas é uma situação em que sequer se discute a invalidade
do negócio jurídico, pois ele não será considerado juridicamente existente.
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2010, p. 395).
Por outro lado, há também a coação moral. Esta pode ser conceituada como
a coação efetiva e presente, causando fundado temor de dano iminente e
considerável à pessoa do negociante, à sua família, à pessoa próxima ou aos seus
bens, conforme identificado acima, no art. 151 do CC. (TARTUCE, 2011, p. 360).
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Negócios Jurídicos
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2010, p. 395) definem como
aquela espécie que incute na vítima um temor constante e capaz de perturbar seu
espírito, fazendo com que ela manifeste seu consentimento de maneira viciada.
Desse modo, para tornar mais claro o entendimento a respeito da coação, Tartuce
(2011, p. 361) exemplifica:
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Capítulo 3
1.5 Lesão
Lesão é o defeito do negócio jurídico caracterizado pela vantagem
desproporcional de uma das partes, que age de má-fé, aproveitando-se da
situação de vulnerabilidade da outra. É defeito do negócio jurídico, mas não vício
do consentimento, pois não há desconformidade entre a vontade real e a que se
exteriorizou (existente no erro, no dolo e na coação). (LOBO, 1986, p. 286).
Se alguém prestes a ser despejado procura outro imóvel para morar e exercer
sua profissão, cujo proprietário, mesmo não tendo conhecimento do fato, eleva
o preço do aluguel. Diante da necessidade de abrigar sua família e levar adiante
suas atividades, o inquilino acaba aceitando o novo contrato, para evitar aquela
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Negócios Jurídicos
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Capítulo 3
Seção 2
Invalidade dos negócios jurídicos
Estão abrangidas nesta seção denominada invalidade dos negócios jurídicos
a nulidade e a anulabilidade. Para Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 470), a
invalidade é empregada para designar o negócio que não produz os efeitos
desejados pelas partes, o qual será classificado pela forma supramencionada de
acordo com o grau de imperfeição verificado.
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Negócios Jurídicos
Diz-se inexistente o negócio jurídico quando lhe falta algum elemento estrutural,
como o consentimento por exemplo. Se não houve manifestação de vontade,
o negócio não chegou a se formar. Ou seja, ele inexiste. Se a vontade foi
manifestada, mas se encontra eivada de erro, dolo ou coação, por exemplo, o
negócio jurídico existe, mas é anulável. Se a vontade emana de uma pessoa
considerada absolutamente incapaz, maior é o defeito e o negócio existe, porém
será considerado nulo. (GONÇALVES, 2008, p. 471).
Pode-se dizer que a função da nulidade é tornar sem efeito o ato ou negócio
jurídico. A ideia é fazê-lo desaparecer, como se nunca tivesse existido. Os efeitos
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Capítulo 3
que lhe seriam próprios não podem ocorrer. Trata-se, portanto, de vício que
impede o ato de ter existência legal e produzir efeito, em razão de não ter sido
obedecido qualquer requisito essencial. (VENOSA, 2007, p. 588).
As nulidades absolutas por serem de ordem pública, podem ser alegadas por
qualquer interessado ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir (art.
168 do CC).
Por fim, importa ressaltar que a sentença que declara a nulidade absoluta tem
efeitos erga omnes, contra todos, diante da emergência da ordem pública.
Os efeitos declaratórios dessa decisão são chamados também de ex tunc,
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Negócios Jurídicos
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Capítulo 3
•• simulação absoluta; e
•• simulação relativa.
Sua sanção é bem mais branda que a nulidade. Assim, demonstra o art. 171 do
Código Civil:
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Negócios Jurídicos
Quanto à sentença da ação anulatória, mais uma vez diante de sua natureza
privada, tem a mesma efeitos inter partes. Tradicionalmente, também sempre
apontou que os seus efeitos seriam ex nunc, não retroativos ou somente a partir
do trânsito em julgado da decisão. (TARTUCE, 2011, p. 394).
NULIDADE ABSOLUTA (ART. 166 do CC) NULIDADE RELATIVA (ART. 171 do CC)
Não pode ser suprida pelo Juiz Pode ser suprida pelo Juiz
Não sujeição à ação do tempo Sujeita à ação do tempo (os prazos são
estipulados pela lei)
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Capítulo 4
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Capítulo 4
Seção 1
Conceito de ato ilícito
Ao estudarmos fato jurídico, foi possível observar que o ato jurídico (em sentido
amplo) é toda ação humana lícita, positiva ou negativa, apta a criar, modificar,
conservar ou extinguir direitos e obrigações. No entanto, há situações em que
a parte ou as partes podem atuar contrariamente ao que o direito determina e
acabar, por vezes, causando algum prejuízo tanto para as partes quanto para
terceiros. Dessa forma, faz-se necessário o estudo dos atos ilícitos bem como
seus efeitos no mundo jurídico.
•• a ação humana;
•• a contrariedade ao direito ou ilicitude; e
•• o prejuízo, seja este moral ou material.
Ato ilícito é aquele praticado com infração ao dever legal de não lesar a outrem.
Tal dever é imposto a todos no art. 186 do Código Civil, que dispõe: “Art. 186.
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.”
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Negócios Jurídicos
Seção 2
Responsabilidade contratual e extracontratual
Uma pessoa pode causar prejuízo a outrem por descumprir uma obrigação
contratual (dever contratual). Por exemplo: o ator que não comparece para dar o
espetáculo contratado. O inadimplemento contratual gera a responsabilidade de
indenizar as perdas e danos no termos do art. 389 do Código Civil, o qual dispõe
que “não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais
juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,
e honorários de advogado.” (GONÇALVES, 2008, p. 495).
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Capítulo 4
Seção 3
Responsabilidade civil e responsabilidade penal
A palavra responsabilidade origina-se do latim re-spondere, que encerra a ideia
de segurança ou garantia da restituição ou compensação do bem sacrificado.
Teria, assim, o significado de recomposição, de obrigação de restituir ou ressarcir.
(GONÇALVES, 2008, p. 496).
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Negócios Jurídicos
Já, para a responsabilidade objetiva, a culpa é irrelevante, basta que exista o dano e
o nexo de causalidade para justificar a responsabilidade civil do agente. Segundo a
teoria de risco, toda a pessoa que realiza alguma atividade produz um risco de dano
para terceiros, portanto torna-se prescindível a evidência da culpa. (GONÇALVES,
2012b, p. 59)
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Capítulo 4
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Negócios Jurídicos
Na mesma diretriz, Sergio Cavalieri Filho (2010, p. 51) aduz que, tendo por
essência o descumprimento de um dever de cuidado, “[...] a dificuldade da teoria
da culpa está justamente na caracterização precisa da infração desse dever ou
diligência, que nem sempre coincide com a violação da lei”.
A definição de nexo causal, nas palavras de Sérgio Cavalieri Filho (2010, p. 46),
não é jurídica, visto que “[...] decorre das leis naturais, formando um vínculo
apenas com a ligação ou relação de causa e efeito entre o resultado e a conduta
do agente.”
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Capítulo 4
Assim, cabe frisar que o nexo de causalidade, por referir-se ao liame que
une a conduta do agente ao prejuízo experimentado pela vítima, é um
pressuposto indispensável para a caracterização do dever de indenizar.
Pode-se ainda salientar que o dano pode ser patrimonial ou moral. Arnaldo
Rizzardo (2007, p. 17) declara que:
Assim, ensina a doutrina que “quando o prejuízo afeta bem material, diz-se que
o dano é patrimonial”. Por outro lado, “[...] quando, ao contrário, a lesão afeta
sentimentos, vulnera afeições legítimas e rompe o equilíbrio espiritual, produzindo
angústia, humilhação, dor etc., diz-se que o dano é moral.” (SANTOS, 2003, p. 78).
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Negócios Jurídicos
Seção 4
Causas excludentes de ilicitude
O art. 188 do Código Civil declara não constituírem atos ilícitos os praticados
em legitima defesa, ou no exercício regular de um direito ou em estado de
necessidade.
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Capítulo 4
Sempre que o agente, à primeira vista, esteja exercendo direito seu, e extravasa
os limites para os quais esse direito foi criado, ingressa na esfera do abuso de
direito. (VENOSA, 2007, p. 621).
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Negócios Jurídicos
Seção 5
Prova no negócio jurídico
Considerando todo o estudado até então, resta-nos, neste tópico, abordar um
assunto de fundamental importância para o negócio jurídico, que é, justamente, a
prova. Uma vez aperfeiçoado, o negócio jurídico pode necessitar de um meio de
prova, visando a certeza e a segurança jurídica.
Para isto, tenha em mente a conexão existente entre o direito material (direito
civil) e o direito processual (direito processual civil), já que, especialmente nesse
ponto da matéria, ambos devem ser estudados sempre em conjunto.
Ao direito civil, cabe a determinação das provas, a indicação do seu valor jurídico
e as condições de admissibilidade; ao diploma processual civil, caberá estudar o
modo de constituir a prova e de produzi-la em juízo. (GONÇALVES, 2008, p. 535).
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Capítulo 4
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V - perícia.
Passamos então, neste momento, a estudar cada um dos tipos de prova acima
descritos.
5.2.1 Confissão
Confissão é o reconhecimento livre (por meio da manifestação) da veracidade do
fato que a outra parte da relação jurídica ou do próprio negócio pretende provar.
Nos termos do art. 348 do Código de Processo Civil, “há confissão, quando a
parte admite a verdade de um fato, contrário ao seu interesse e favorável ao
adversário. A confissão é judicial ou extrajudicial.” (GAGLIANO; PAMPLONA
FILHO, 2010, p. 459).
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Negócios Jurídicos
5.2.2 Documento
Para fins de prova, o documento poderá ser público ou particular. Tem função
apenas probatória. Públicos são os documentos elaborados por autoridade pública,
no exercício de suas funções, como as certidões, traslados etc. Particulares, como
a própria denominação, são aqueles elaborados por particulares, tais como cartas,
telegramas, declarações. (GONÇALVES, 2008, p. 537)
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Capítulo 4
No entanto, para produzir efeitos contra terceiros, isto é, para aqueles que não
tomaram parte no negócio, impõe a necessidade de sua divulgação, ou seja, tem
de dar a devida publicidade conforme preceitua a Lei de Registros Públicos (Lei nº
6.015/73).
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Negócios Jurídicos
5.2.5 Testemunha
Muito embora seja alvo de críticas, já que dotada de certo grau de subjetividade,
a prova testemunhal é a que resulta do depoimento oral das pessoas que
presenciaram o fato a ser provado. As testemunhas podem ser instrumentárias ou
judiciárias. Estas são as que prestam depoimento em juízo; aquelas são as que
assinam o instrumento. (GONÇALVES, 2008, p. 541).
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Capítulo 4
5.2.6 Presunção
Para Silvio de Salvo Venosa (2007, p. 581), presunção é a conclusão que se
extrai de fato conhecido para provar a existência de outro, desconhecido. As
presunções classificam-se em legais (juris) e comuns (hominis).
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Negócios Jurídicos
5.2.7 Perícia
Segundo Silvio de Salvo Venosa (2007, p. 583), o juiz, embora se requeira
que seja pessoa de razoável cultura, não pode ser especialista em matérias
técnicas. Quando o deslinde de uma causa depende de conhecimento técnico, o
magistrado se valerá de um “perito”, que o auxiliará na questão fática.
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Capítulo 5
Prescrição e decadência
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Capítulo 5
Seção 1
Prescrição
Vivemos em mundo em constante movimento. A vida não para! Desta forma
ocorre também para o direito. Este, por sua vez, estabelece determinadas regras
para o seu exercício. Diz-se que a pessoa tem de exercer e exigir seu direito
em tempo razoável, ou seja, é o próprio direito que estabelece esses prazos
considerados adequados para que se possa buscar no Judiciário o respaldo para
a pretensão. Não o fazendo em tempo hábil, o sujeito fica impedido de buscar
seu direito, podendo, inclusive, perdê-lo definitivamente, em prol da segurança
jurídica e da pacificação social. Por essa razão, faz-se necessário o estudo
de dois institutos de fundamental importância para o direito, quais sejam: a
prescrição e a decadência.
Desde a concepção do ser humano, o tempo influi nas relações jurídicas de que
o indivíduo participa. É ele o personagem principal do instituto da prescrição.
O decurso do tempo tem grande influência na aquisição e na extinção de
direitos. (GONÇALVES, 2008, p. 510). Como já dizia a máxima do direito romano,
dormientibus non sucurrit jus (o direito não socorre a quem dorme).
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Negócios Jurídicos
Segundo o art. 189: “Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se
extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.”
Para melhor compreensão, atente para o exemplo citado por Pablo Stolze
Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2010, p. 490):
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Capítulo 5
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Negócios Jurídicos
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Capítulo 5
Assim, dispõe o art. 197 que não corre prescrição “entre os cônjuges na
constância da sociedade conjugal”. Se o prazo ainda não começou a fluir, a
causa ou obstáculo (no caso, a constância da sociedade conjugal) impede que
comece. Se, entretanto, o obstáculo (casamento) surge após o prazo ter-se
iniciado, dá-se suspensão. Nesse caso, somam-se os períodos, isto é, cessada
a causa de suspensão temporária, o lapso prescricional volta a fluir somente pelo
tempo restante. Diferentemente da interrupção, que será estudada adiante, em
que o período já decorrido é inutilizado e o prazo volta a correr novamente por
inteiro. (GONÇALVES, 2008, p. 521).
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Negócios Jurídicos
Ato contínuo, passamos a estudar o art. 198 do Código Civil, que regulamenta:
Este dispositivo prevê que também não corre prescrição contra os incapazes
relacionados no art. 3º do Código Civil; contra os ausentes do País em serviço
público da União, Estados ou dos Municípios e contra os que se acharem
servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. Confira o quadro a seguir.
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Capítulo 5
Em síntese: enquanto um mesmo prazo pode ser suspenso por várias vezes, a
interrupção só ocorre uma única vez. Imagine o prazo de dez anos que começou
a fluir quando o titular do direito tinha 14 anos. Ficou suspenso até o fim da
incapacidade absoluta. Começou a fluir, assim, no dia em que esse jovem
completou 16 anos. Imagine, porém, que, ao fazer 18 anos, foi convocado pelas
Forças Armadas, em momento em que o Brasil entrara numa guerra. Novamente
ficará suspenso o mesmo prazo até o fim da guerra ou da incorporação às Forças
Armadas. Imagine, finalmente, que o jovem, dois anos depois, casa-se com a
titular da obrigação correspondente ao seu direito. Nova causa de suspensão se
verificou. Quando se trata, porém, de interrupção, ela não é admitida senão uma
única vez. (COELHO, 2003, p. 398).
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Negócios Jurídicos
Os prazos de prescrição ditos especiais estão dispostos no art. 206 do Código Civil:
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Capítulo 5
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Negócios Jurídicos
Seção 2
Decadência
A decadência é a perda do direito em virtude de seu não exercício durante certo
tempo. Difere da prescrição, porque esta atinge a pretensão, mas não o direito.
(LOBO, 1986, p. 353).
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Capítulo 5
PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Deve ser declarada de ofício pelo juiz. A decadência legal deve ser reconhecida
de ofício pelo magistrado (agora mesmo
tratamento da prescrição, o que não ocorre
com a decadência convencional).
continua...
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Negócios Jurídicos
PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
A parte não pode alegá-la. A decadência legal não pode ser renunciada,
em qualquer hipótese. A decadência
O devedor pode renunciar a ela após a convencional pode ser renunciada após a
consumação. consumação, também pelo devedor (mesmo
tratamento da prescrição).
Não corre contra determinadas pessoas. Corre contra todas, com exceção dos
absolutamente incapazes (art. 3º, do CC).
Prazo geral de 10 anos (art. 205 do CC). Não há, para a maioria da doutrina, prazo
geral de decadência. Há um prazo geral
para anular negócio jurídico, de dois anos
contados da sua celebração, conforme o art.
179 do CC.
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Considerações Finais
A fim de que o negócio jurídico se torne perfeito, faz-se necessário que ele esteja
pautado em três pilares essenciais idealizados por Pontes de Miranda (escada
ponteana), denominados em nosso estudo de planos de existência, validade e
eficácia.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Absorvendo o conteúdo aqui exposto, podemos dizer que você está preparado/a
para as demais etapas do direito civil que irão seguir-se, dispostas na parte
especial, e que necessitam deste importante embasamento.
No mais, desejo-lhe sucesso em seus estudos, e que o Direito Civil seja uma feliz
e constante descoberta para você, que se aventura nesse mundo tão fascinante
chamado direito.
Grande abraço,
Professora Gisele
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Referências
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 1.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral do direito civil.
21. ed. rev., amp. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004.
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: obrigações. 6. ed. São
Paulo: Saraiva, 2006. v. 2.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2008. v. 1.
LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004. v. 1.
LOBO, Paulo Luiz Neto. O contrato: exigências e concepções atuais. São Paulo:
Editora Saraiva, 1986.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. 5. ed. rev e atual. de acordo com
o Novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2008. v. 4.
SANTOS, Antônio Jeová. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. de
acordo com o Novo Código Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. Rio de Janeiro: Forense – São Paulo:
Método, 2011.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral
dos contratos. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. v. 2.
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Sobre o Professor Conteudista
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