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MARQUES DE POMBAL E A EXPULSÃO DOS JESUÍTAS:


UMA LEITURA DO ILUMINISMO PORTUGUÊS NO SÉCULO
XVIII

OLIVEIRA, Natália Cristina de.


BORGES, Felipe Augusto Fernandes.
BORTOLOSSI, Cíntia Maria Bogo.
MARQUES, Daniella Domingues Alvarenga.
COSTA, Célio Juvenal.
Universidade Estadual de Maringá – UEM

Introdução

Tratar do Marques de Pombal e a expulsão dos Jesuítas nos remete mais do que
entender o período Português e o século XVIII, nos seus aspectos social, político,
educacional e religioso, mas, sobretudo, nos possibilita compreender o contexto e
relacioná-lo com a História da Educação no Brasil. Para isso, é fundamental realizar
uma breve definição acerca do Iluminismo, corrente filosófica que direcionava, naquele
momento, vários países, principalmente europeus. Desse modo, busca-se averiguar
possíveis influências iluministas na dinâmica da sociedade, no desenvolvimento da
cultura, da educação, da ciência e da economia portuguesa. No entanto, o texto não tem
a intenção de tomar como verdade suprema as constatações realizadas sobre este
período histórico, mas, sim, de realizar uma reflexão, que busca compreender a
sociedade e o homem.
São latentes as contradições que se punham contra os inacianos nos momentos
que antecederam sua expulsão em Portugal, sabendo-se que a Companhia angariou,
devido às grandes proporções que tomou, muitos simpatizantes e também muitos
inimigos. Portanto, o presente texto trata também da situação da Companhia de Jesus no
decorrer do século XVIII, demonstrando os percalços enfrentados pela mesma na
História da Educação no referido contexto.
Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal, realizou várias mudanças nos
mais diversos setores da Coroa; alterações essas que afetavam diretamente o Brasil. As
reformas tinham por objetivo organizar a administração, a fim de avançar nos
progressos industriais da Coroa, além de adaptar sua maior colônia, o Brasil, a todos os
ditames portugueses. A reforma educacional pombalina teve seu maior destaque,
especialmente, com a expulsão dos jesuítas de todo Império Lusitano. O processo
2

educativo pedagógico em Portugal era governado pelos inacianos e, com a extinção dos
colégios jesuítas, emerge uma nova era, inclusive na colônia brasileira.
Inicia-se, primeiramente, em Portugal, a tentativa da construção de um sistema
público de ensino, sendo criado o cargo de Diretor Geral e as aulas régias. Porém, a
reforma brasileira não foi atrelada temporalmente à portuguesa. Somente após quase
trinta anos da expulsão da Companhia de Jesus é que o controle educacional pedagógico
é assumido na colônia pelo Estado. A educação brasileira, com esse embate, viu cair
consideravelmente seu nível qualitativo. E, com todas estas transformações, enfrenta a
dificuldade de progressão e consolidação.

1 O Iluminismo e Portugal do século XVIII

Segundo Pazzinato e Senise (1997), o Iluminismo tinha como base o


racionalismo, o liberalismo e o desenvolvimento do pensamento científico, tendo
contribuído para várias transformações culturais, dentre elas, o apoio na separação
gradativa entre Fé (religião) e Razão (ciência). Os autores afirmam que a nova
roupagem cultural e intelectual adquirida pelo Iluminismo possibilitou ao homem ter
novas perspectivas em sua forma de pensar e de agir. O século XVIII foi o período em
que os ideais iluministas mais tiveram destaque, por causa disso ficou conhecido como
o “Século das Luzes”,1.
O principal objetivo da corrente iluminista era que a sociedade fosse guiada pela
racionalidade, uma vez que, a razão garantiria a liberdade individual e a felicidade plena
do individuo. Nessas condições pode-se reafirmar que há uma ruptura no pensamento
do homem europeu, que antes era representada pela crença medieval teocêntrica 2, onde
um único Deus explicava e decidia a vida dos homens na terra.
Outro ponto fundamental ressaltar sobre o Iluminismo, é que ele foi
desenvolvido para solucionar problemas enfrentados pela burguesia, sendo que um
deles era a interferência do Estado Absolutista na economia, que impunha limitações
para os negócios nacionais e internacionais dessa camada social.

1
Termo utilizado para descrever as tendências do pensamento e da literatura na Europa. Intelectuais e
escritores do período, estavam convencidos de que emergiam de séculos de obscurantismo e ignorância
para uma nova era, iluminada pela razão, a ciência e o respeito à humanidade.
2
Teocentrismo é a teoria segundo a qual Deus é o centro do universo, tudo foi criado por Ele e por Ele é
dirigido, e, por consequência, o plano divino é mais valorizada que o humano.
3

Diante desses entraves a burguesia passou a lutar e buscar uma nova


reorganização na sociedade, principalmente na política para satisfazer seus interesses.
Segundo, ainda, Pazzinato e Senise (1997), a burguesia entendia que a política deveria
ter como princípio fundamental, o homem e sua liberdade, e não apenas a busca pela
igualdade jurídica, política e social.
De acordo com os teóricos, o movimento iluminista anelava que fossem
reconhecidos valores como, o bem estar geral do homem e seu progresso. Observa-se
que os iluministas defendiam causas burguesas e se opunham ferrenhamente ao Antigo
Regime. A maior vinculação das ideias e dos princípios iluministas ocorreu na França,
em 1751, com a publicação da Enciclopédia escrita por grandes intelectuais, e
organizadas por Diderot e D Alembert. Eles contestavam o Absolutismo de Direito
Divino e criticavam os privilégios da nobreza e da Igreja. Pazzinato e Senise (1997)
apontaram algumas consequências causadas pelo Iluminismo, entre elas estão: as
mudanças de ordens jurídicas tornando-as mais fortes e o aparecimento do despotismo 3.
As bases ideológicas do movimento das luzes contribuíram para que a
Revolução Francesa (1789). Está revolução suprimiu o poder político da Igreja, limitou
a teoria do Direito Divino e, consequentemente, contribuiu para o desenvolvimento da
cultura, da educação, da ciência e da economia francesas. É importante assinalar que
esses fatos estavam sendo defendidos em todo mundo europeu. Resumindo, o
Iluminismo teve por objetivo maior contribuir para o desenvolvimento intelectual,
político e econômico da sociedade.
Passemos a contextualizar Portugal no século XVIII. Abordando aspectos como
a formação social, econômica, política, sobre o poder da Igreja e a forma de educação
que estava sendo ministrada neste período histórico. No inicio do século XVIII o reino
de Portugal estava sobre o governo do rei D. João V4, reinado que perdurou entre os
anos de 1707 a 1750. Para, Boxer (2002, p. 173), o rei D. João V foi o mais “formalista
e devoto dos monarcas portugueses, era demasiado preocupado com seu prestigio
pessoal, o que lhe acarretou relações muito tensas, em toda a Europa”.
Boxer conta em seu livro Império Marítimo Português 1415-1825 que D. João V
era possuidor de uma “inteligência penetrante”, era “extremamente rápido e ativo”

3
O despotismo foi, resumidamente, quando alguns monarcas absolutistas, mesmo governando de forma
centralizada, adotaram algumas ideias iluministas. Os déspotas, considerados esclarecidos, contribuíram
para o desenvolvimento cultural de suas nações.
4
Monarca português, vigésimo quarto rei de Portugal, o seu reinado, durou de 1707 até à sua morte em
1750, foi um dos mais longos da História portuguesa.
4

(2002, p. 177). No entanto, sua falha mais evidente, segundo Boxer (2002), e Martins
(1972), era sua paixão exagerada pelos serviços religiosos. Martins (1972 p. 439)
afirmou que “D. João V era balofo e carola, tinha amor às cerimônias e sabia todos os
pontos da etiqueta do paço e da Igreja, além de querer bem a todos santos”.
Segundo Cunha (1976), Portugal só tinha 122 dias de trabalho por ano e isso,
para ele, explicava a realidade decadente e inaceitável que a metrópole se encontrava,
não havia nenhuma organicidade nos processos produtivos. De acordo com Martins
(1972) a crise de Portugal se dava nos gastos fúteis e exagerados do rei: D. João V que
possuía um espírito orgulhoso e ambicioso e na ociosidade produtiva da nação. Já
Azevedo (1978) constatou que a preocupação do rei e suas aspirações se baseavam no
luxo, em seu bem estar, e em ter um bom relacionamento com a Igreja e com o Papa.
Na análise dos teóricos acima, a metrópole naquele período estava sendo má
governada, as condições de vida eram precárias, a miséria e a fome assolavam e não se
investia nem em agricultura nem em indústria. Mattoso (1998) destaca que o reino
produzia desordenadamente uva, pois as condições climáticas eram favoráveis, e a
procura inglesa por esse produto era relativamente intensa.
Entretanto, explica Mattoso (1998), logo ocorreu uma saturação no mercado
interno, que desencadeou uma brusca queda nos preços e nas vendas do produto. Para o
historiador, esse momento foi bastante complicado, ainda mais porque o reino não tinha
condições nenhuma de produzir cereais. Desse modo, Martins (1972) afirma que o povo
sequer conseguia garantir sua subsistência, o quadro financeiro, econômico e político
eram graves e suas disparidades também. Para Azevedo (1978), Portugal funcionava da
seguinte maneira de um lado a figura de um rei esplendoroso com inúmeras glórias e, de
outro, a realidade de uma agricultura, de uma indústria e de um povo que estavam
simplesmente se definhando.
Sergio (1972) explicita que em 1703, foi firmada uma aliança entre os países
Portugal e Inglaterra, que ficou conhecida como Tratado de Methuem5. Neste acordo,
estabeleceu-se que Portugal teria facilidades na compra de tecidos em terras inglesas e
também daria as mesmas facilidades à Inglaterra na compra do vinho português. O
estrangeirado D. Luis da Cunha que escrevia da Inglaterra, afirmou que os ingleses só
queriam adiantar suas manufaturas e arruinar as que começam em Portugal. Para Cunha,

5
Tratado de Methuen ou tratado de Panos e Vinhos, (1703-1836), subordinava a economia portuguesa à
Inglaterra ao estipular a entrada dos produtos têxteis ingleses em Portugal, e do vinho português na
Inglaterra.
5

segundo Azevedo (1978) a Inglaterra não se importava em nada com Portugal, com seu
vinho e com seu preço, para os ingleses o objetivo era fazer com que Portugal nunca
conseguisse saltar sua dívida. Porém cabe ressaltar que essa análise é uma das
possibilidades, realizada pelos críticos da monarquia lusitana.
Na leitura de Martins (1972) a Igreja Católica era poderosa, única e soberana, e
tinha o controle e o domínio de toda educação. Já para Mattoso (1998), a Igreja era um
polo político autônomo, exercia poder em setores periféricos da sociedade e também
influenciava decisões de níveis internacionais no reino lusitano. A Igreja tinha um
direito próprio que se configurava no Direito Canônico, direito respeitado e seguido por
toda metrópole lusitana.
Cunha (1976), escrevendo em 1747, descreve que nesse mesmo período a Igreja
começou a apresentar algumas contradições, e tornando-se alvo de fortes críticas. Uma
das críticas elaboradas pelos intelectuais foi sobre o fato de que, na criação da Igreja
primitiva era pecado os eclesiásticos possuírem terras e bens materiais, ter jurisdição
temporal6 sobre os leigos e servir a nação com cargos públicos na República, pois
deveria servir somente ao Senhor Jesus Cristo. Contudo, Cunha (1976) assinala que a
Igreja não se contentou apenas com a jurisdição em nível espiritual, a favor da doutrina
de Jesus Cristo, mas absorveu no século XVIII toda jurisdição política e civil, impondo
suas vontades e tendo o domínio de todos os setores do reino de Portugal inclusive
influenciava as decisões do soberano rei D. João V, que respeitava e aceitava todas suas
reivindicações.
Mattoso (1998) explica que a Igreja Católica era aquela que tinha sob seu
controle, O Tribunal do Santo Oficio da Inquisição, que era destinado a atender assuntos
voltados a atos de heresia e a defender a fé católica: vigiava, perseguia e condenava
aqueles que fossem suspeitos de praticar outras religiões. Para Cunha (1976) a
Inquisição era uma sangria que prejudicava todo Estado português.
No ano de 1750 falece Dom João V e o novo herdeiro do trono é D. José I que
reinou entre os anos de 1750 à 1777. De acordo com Boxer (2002) já no reinado de D.
José I, em 1755, Portugal sofre um terrível terremoto, sendo que a proporção da
destruição foi assustadora. E é nesse cenário que surge a figura que terá maior
protagonismo em Portugal nas duas seguintes décadas, seu nome José de Carvalho e
Melo o Marquês de Pombal.

6
Jurisdição temporal é a nomenclatura utilizada na Igreja Católica Romana para consultar às
reivindicações do Papa para governar um território.
6

Para Boxer (2002) José de Carvalho e Melo mais conhecido pelo titulo referido
em 1770, como Marquês de Pombal, foi o homem de confiança do rei D Jose I,
nomeado por ele para ajuda-lo a administrar o reino, ocupou um dos cargos mais
importantes da metrópole. De acordo com o historiador, Marquês de Pombal causou
marcas profundas em Portugal, a partir da segunda metade do século XVIII. Boxer
(2002) resumiu Pombal como um “misto de medico e de mostro que afetou seu país tão
profundamente tanto para o bem quando para o mal”. Na análise do autor, Pombal foi
implacável contra os jesuítas, causando bárbaras execuções aos Aristocratas de Távora7
e do tido como louco padre Malagrida 8. As reformas pombalinas abrangeram os setores
da economia, da educação e da política. Entretanto para Sergio (1972), poucas dessas
ações desencadearam-se em progresso.
Já em relação ao terremoto de 1755, Azevedo (1978) explica que o Marques de
Pombal combateu com firmeza o desanimo e a anarquia em que Lisboa se encontrava.
O autor afirma que a cidade estava destruída e desorganizada, entretanto Pombal logo se
empenhou em organiza-la e reconstruí-la e, com isso, conquistou de vez a confiança
ilimitada do rei. No entanto, segundo Falcon (1982), como o capital industrial no
governo de Pombal era quase inexistente, concentrando-se apenas no interior do reino
lusitano, o qual se encontrava em situação econômica desastrosa, os industriais
imputaram ao Marquês toda a responsabilidade. Por outro lado, Azevedo (1978)
comenta que mesmo nessas condições o povo clamava pelo primeiro ministro, a frase
aclamada pelo povo era “mal por mal antes Pombal”.
No reinado de D José I foi constituído um único tribunal, denominado Real
Mesa Censora, para substituir os Tribunais de Inquisição. Boxer (2002) explica que tal
instituição foi idealizada para abater todas as grandezas e para nivelar tudo e todos
perante o trono absoluto. Nesse contexto, foram parcialmente abolidas as distinções
entre cristãos velhos e novos e também a escravidão no reino. Segundo Falcon (1982 p.
213) ao tentar fazer uma leitura de Portugal, de Pombal e das reformas pombalinas
naquele período histórico, temos que nos atentar que essa representação tem sempre
uma posição metodológica que “sendo de essência eminentemente política, faz do herói
7
Os Távoras foram uma família poderosa e que se "misturou" com a mais profunda aristocracia
portuguesa. Ao longo dos séculos a família foi juntando patrimônio, poder e influência, e chegou ao
século XVIII como uma das mais poderosas e ricas famílias nobres portuguesas (o que despontou alguns
ódios). No reinado de D. Jose I ela foi brutalmente assassinada a mando do Marquês de Pombal que à
acusou de planejar o assassinado do rei.
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Foi um padre jesuíta italiano, missionário no Brasil e pregador em Lisboa, foi condenado como herege
no âmbito do Processo dos Távora. Foi garrotado e queimado na fogueira num auto-de-fé realizado no
Rossio de Lisboa.
7

ou do homem providencial o próprio agente da história, principio e fim do acontecer


histórico”. De acordo com o teórico, Pombal foi o herói, o homem de seu tempo.
Sergio (1972), em seu texto, evidenciou que Pombal realizou frequentes
investidas contra a Igreja e, com isso, conseguiu que ela viesse a perder parte
considerável de seu poder e de seu prestigio no reino lusitano. Ainda de acordo com
Sergio (1972), o Marquês de Pombal tinha muitos inimigos, pois perseguia, deportava e
encarcerava quem ferisse seus interesses, sendo um verdadeiro déspota. Já para Martins
(1972), Pombal queria construir em Portugal uma nação autônoma e forte, queria ter
uma nação sábia e para isso, não se limitou em ter atitudes firmes, severas e inflexíveis.
Nas últimas décadas do século XVIII Portugal foi regido pelo governo de D.
Maria I. O historiador Mattoso (1998) argumenta que esse reinado foi envolvido em
diversas especulações, especialmente sobre o possível fim que ela provocou ao
movimento e as reformas, realizadas pelo Marques Pombal. Todavia para o autor, essa é
uma constatação simplificada dos fatos, irrelevante de ser pautada, uma vez que, o autor
não acredita que D. Maria I iniciaria um movimento de contrarreforma em relação à
administração e a organização do Marques de Pombal. De acordo com Mattoso (1998)
o que ocorreu foi uma rejeição à figura e à política de Pombal e não da sua
administração. Na leitura do autor é fundamental fazer uma separação entre o
movimento da reforma pombalina e o seu autor, Marquês de Pombal.
Mattoso (1998), para aportar veracidade à sua análise, faz menção em sua obra
que dois ministros do reino, principais aliados de Pombal, permaneceram no poder no
reino de D. Maria I, como também quem direcionou e escreveu as reformas pombalinas.
O autor comenta que nessa década o controle político é integralmente dos adeptos
pombalinos. De acordo com Mattoso (1998), o inicio do reinado de D João VI vai ser
totalmente influenciado pelos ministros reformistas que retomaram os principais
objetivos pombalinos como; a criação de uma nova unidade territorial com capacidade
de comunicação, a expropriação dos bens da Igreja e a realização de uma reforma em
toda legislação, com destaque à revisão do Direito Público e do Direito Criminal.

A Companhia de Jesus no contexto do século XVIII

A Companhia de Jesus é constantemente apontada como uma das ordens mais


importantes do contexto reformador da Igreja Católica no século XVI. Criada num
ideário de missões, a Companhia, em menos de dois séculos de atividade, angariou
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espaços que outras ordens não foram capazes de alcançar, ainda que tivessem muito
mais tempo de fundação e funcionamento.
O crescimento da Companhia, principalmente sob a proteção e incentivo da
Coroa Portuguesa, foi deveras visível desde sua criação e em toda extensão dos séculos
XVI, XVII e XVIII. Se observada a presença jesuítica no raio das possessões
portuguesas, tais como o Oriente e o Brasil, pode-se perceber que esses padres exerciam
sua influência, religiosa e cultural, em praticamente todo o território lusitano.
Não se trata apenas de dizer que os inacianos eram maioria nas colônias lusas,
mas, observada a historiografia pertinente, compreendemos que o reino como um todo
recebia a influência da formação jesuítica. Desde os colégios, igrejas, o contato com o
povo comum, até as cortes e a realeza, os jesuítas faziam-se presentes em todos os
espaços portugueses no século XVIII, trazendo sempre consigo as marcas indiscutíveis
de seus rigorosos processos de formação e preparação.
Não se pode esquecer, para efeitos de compreensão, que Portugal foi a primeira
Coroa a oferecer auxílio e serviço à Companhia. Sendo assim, em Portugal foi criada
também, em 1546, a primeira província jesuítica (COSTA, 2011). Devido ao incentivo
dado pela Coroa, a partir de sua chegada em Portugal o número de jesuítas apenas
cresceu: “eram 400 em 1560, 620 em 1603, 662 em 1615, 639 em 1639, 770 em 1709,
861 em 1749. No ano de sua expulsão de Portugal, os jesuítas eram 1698 [...]” (idem, p.
68).
Se numericamente crescia o “pessoal” jesuítico em Portugal, no que tange às
suas possessões não há mudanças. É expressivo o número de colégios da Companhia
em Portugal. Nesses colégios, obviamente, uma grande gama de jovens eram formados,
sendo que “Em meados do século XVIII os colégios da Companhia de Jesus tinham, no
reino, em torno de vinte mil alunos, numa população estimada em três milhões de
habitantes” (COSTA, 2011, p. 68).
Os números apresentados, ainda que simples, denotam a influência não só
religiosa, mas ainda cultural que os jesuítas detinham no reino luso. No caso das
colônias, especialmente no que se refere ao Brasil, a educação e a formação cultural
portuguesa estavam quase que totalmente entregues à Companhia de Jesus.
Como se pode imaginar, tal poder e influência não passariam despercebidos por
aqueles que também os almejassem, ou, ainda, que vissem na mesma uma ameaça à
ordem e ao poder do Estado. No contexto do ideário absolutista em fortalecimento
desde o século XVII, as atividades da Companhia de Jesus passaram a ser vistas por
9

alguns setores da sociedade monarquista como uma espécie de enfraquecimento ao


poder monárquico, e isto se materializou, em Portugal, na figura do Marquês de
Pombal.
A respeito do contexto de ação jesuítica no século XVIII, lemos em Woolley
(2009, p. 1) que

Sobretudo em função do magistério que ministrava, ela converteu-se


em símbolo do poder político exercido pela Igreja, que tanto
incomodava às novas monarquias absolutistas. E foram justamente
esses conflitos de natureza política, tanto quanto as questões
filosóficas, que fizeram da Companhia de Jesus um alvo previsível
desse período.

Acreditamos que uma das atividades que mais incomodava a respeito da prática
jesuítica era justamente o ensino ministrado nos colégios. Não apenas pela formação
cultural, mas sobretudo pelo poder de “doutrinação” que a educação possui, talvez esta
fosse a principal “ameaça” vista por Pombal e seus apoiadores no organograma da
Companhia.
Nesse sentido, queremos aqui reafirmar que, a despeito da influência e poderio
exercido pelos inacianos no reino luso, já em meados do século XVIII, a situação de
convivência desses com o poder monárquico se tornava deveras conflituosa. O que se
discute nesses termos, sob o contexto do século XVIII, já não é mais a eficácia ou não
dos métodos pedagógicos ou à catequese operada pela Companhia. A questão crucial
para o momento é a influência política, e não somente religiosa, emanadas pelos
inacianos. Sendo assim,

Dentre os muitos inimigos que a Companhia de Jesus teve ao longo


dos três primeiros séculos de sua existência em Portugal, o Marquês
de Pombal foi o mais implacável a ponto de conseguir sua expulsão,
primeiro dos territórios portugueses, em 1759 e, depois, de toda a
cristandade, em 1773, por ordem do papa Clemente XIV. (COSTA,
2011, p. 69)

Queremos aqui demarcar apenas o contexto conflituoso da Companhia de Jesus


nos embates do século XVIII em Portugal. A pormenorização dos referidos conflitos
que culminaram com a expulsão da mesma em 1759, se seguirá na sequência do
trabalho.

Marquês de Pombal
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Sebastião José de Carvalho e Melo, conhecido como Marquês de Pombal,


nasceu em Lisboa, no dia 13 de maio de 1699 e morreu em Pombal, no ano de 1782. Na
condição de secretário de Estado do Reino Português, foi um político que dirigiu o país
durante o reinado de D. José I (1750 - 1777), época essa conhecida como Era
Pombalina. Pombal é conhecido por, além de todos seus feitos, reorganizar as leis, a
economia e a sociedade portuguesa, se tornando um déspota esclarecido, agindo com
princípios iluministas; ações essas que viera a transformar Portugal em país moderno.
O diplomata e estadista português fica expansivamente conhecido e ganha, de
fato, a confiança do Rei José I, quando, no devastador terremoto de Lisboa (1º de
setembro de 1755), organiza e planeja sua reconstrução. Fica, ainda, popular pela sua
célebre frase “enterre os mortos, feche os portos e cuide dos vivos”, quando se refere às
primeiras decisões a serem tomadas com o desastre. Após, principalmente esse fato, o
Rei nota tamanho talento no embaixador, e nesse mesmo ano o nomeia como ministro;
passa a desenvolver todas as suas ações com fortes princípios ligados à corrente
iluminista de pensamento.
Maxwell (1997) afirma que, para alguns, Pombal “[...]é uma grande figura do
despostismo esclarecido[...]. Para outros ele não passa de um filósofo inexperiente e de
um tirano maduro. Mesmo antes de Pombal tomar o poder, seus contemporâneos
estavam divididos em suas opiniões sobre ele.” (p. 01). Nesse sentido, observamos que
é difícil caracterizá-lo por um ou outro posicionamento, pois, segundo Boxer (2002),
como já anotado acima, o Marquês chega a ser “misto de médico e de monstro, que
afetou seu país tão profundamente, para o bem e para o mal” (2002, p. 190). As
reformas pombalinas, de acordo com essas suas características, passam a enfrentar
oposições, por muitas partes, principalmente dos aristocratas e jesuítas.
Sebastião José realizou mudanças em todos os setores da coroa. Entre outros,
podemos citar: na economia, a criação de companhias comerciais, gerando incentivos
fiscais para as pequenas manufaturas voltadas ao mercado português; no campo social, a
revigoração da Universidade de Coimbra, já que defendia ser a universidade
responsável pela formação da dinamicidade social, responsável pela mentalidade dos
portugueses, fato esse notoriamente valorizado na criação do Colégio dos Nobres
(1761), destinado à formação dos jovens aristocratas portugueses; e, especificamente na
educação, reformou o ensino, que até então nas mãos dos jesuítas, passam a ter novas
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escolas. É realizada ainda, a criação dos cargos de Diretores Gerais, e coloca mais tarde,
o controle do Ensino Superior mantido pela Igreja ao Estado. (COSTA, 2011, p. 71).

Outra ação importante do primeiro-ministro de D. José I foi a


extinção, via decreto real, da diferenciação que se fazia, desde o início
do século XVI, entre cristãos-velhos e cristãos-novos em Portugal. Tal
diferenciação, como sabemos, teve início quando os judeus foram
expulsos das terras lusitanas e os que ficaram tiveram que se
converter, à força, ao cristianismo, sendo conhecidos, a partir de
então, como novos cristãos para diferenciá-los dos antigos cristãos.
Como também já é conhecido os principais alvos da Inquisição dos
tribunais portugueses foram os cristãos-novos acusados de judaizarem,
ou seja, de voltarem às suas práticas judaicas e, portanto, renegarem o
cristianismo.

Durante o Reinado de D. José I e do seu primeiro-ministro, os princípios


governamentais estavam repletos de aspirações de cunho econômicos e culturais. Para
tanto, Pombal governava com mãos de ferro para que esses objetivos não se perdessem.
Durante esse período, todo e qualquer indivíduo que se colocasse oposto aos ditames
portugueses, poderia ser preso com a justificativa de ser contra o reino. E, é nessa
vertente que encontramos o Marquês, com um dos maiores embates de sua era: a
expulsão da Companhia de Jesus.

Para ele, o afastamento dos jesuítas dessa região significava tão


somente, assegurar o futuro da América Portuguesa através do
povoamento estratégico. O interesse de Estado acabou entrando em
choque com a política protecionista dos jesuítas para com os índios e
melindrando as relações com Pombal, tendo este fato entrado para a
história como “uma grande rivalidade entre as idéias iluministas de
Pombal e a educação de base religiosa jesuítica”. (SECO; AMARAL,
2006. p. 05).

Com base em toda a história e historiografia, fica transparente a imparcialidade


de Pombal com os jesuítas. Segundo Boxer (2002, p. 199), “A origem do ódio
patológico de Pombal pelos Jesuítas é incerta”, pois não havia “nenhuma indicação de
que esse ódio existisse antes de 1750, e Pombal devia seus primeiros progressos em sua
carreira, ao menos em parte, aos jesuítas”, contudo, “dez anos mais tarde, a fobia se
tornara uma obsessão maníaca da qual jamais se libertou”. É iniciado um tempo de
grande duelo entre o primeiro-ministro e os padres da Companhia da Jesus.

Para Pombal, não foi mera coincidência que a segunda metade do


século XVI marca o início da decadência lusitana, pois Portugal faria
parte do plano jesuítico, idealizado por seu fundador, Inácio de Loiola,
de instaurar (ou voltar, numa visão iluminista) o período de trevas,
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ignorância, superstição e submissão ao clero. O domínio que os


jesuítas tinham da educação e das missões, os aldeamentos indígenas
(as reduções, especialmente as do Guairá), a suposta imensa riqueza
acumulada pelos jesuítas, com suas fazendas de gado, engenhos de
açúcar e doações, a verdadeira rede internacional da Companhia, tudo
isso compunha um quadro que Pombal registrava como fazendo parte
de um plano que vinha sendo colocado em prática há mais de 200
anos e que era preciso arduamente combater. (COSTA, 2011. p. 74).

Com todos esses fatores expostos, fica expresso que, para Pombal, os jesuítas
tinham um plano para alienar a sociedade, criando, por meio dessas estratégias, uma
dependência dos padres. Isso pode o ter impulsionado à realizar a expulsão da
Companhia, já que representava uma ameaça ao reinando de D. José I. Para tanto, ele
“expulsou os jesuítas do Reino e de seus domínios – sob pretexto de que eles teriam
participado de alguma maneira de um suposto atentado contra o rei. Confiscou seus
bens. Muitos membros da Companhia foram deportados.” (BOTO, 2010, p. 293).
Pombal, considera o ato de a expulsão ser o melhor a fazer, pois ficaria mais fácil para
reparar os ‘estragos’ feitos pela Companhia à toda uma sociedade. Tinha então, por
objetivo, substituir o suposto atraso, e reconstruir todo o sistema educacional.
Entre vários motivos para justificar a expulsão dos jesuítas, que foi feita por
meio de decreto, foi justificado o fato de não respeitarem o Tratado dos Limites
(Portugal e Espanha); também a forma, posse e domínio com que os jesuítas tomavam e
mantinham os indígenas brasileiros. A forma com era feito o tratamento aos nativos,
colocava em dúvidas se mantinham as regras da coroa, “Pombal acusava a atuação dos
jesuítas com os indígenas do Brasil”, pois “segundo ele, os homens brancos eram
apresentados aos índios como maus, como mais interessados no ouro do que qualquer
coisa e, mais grave, prontos para atrocidades”. (COSTA, 2011. p. 75).

A Expulsão dos Jesuítas

Dentre os inimigos que a Companhia de Jesus teve ao longo dos três primeiros
séculos de existência em Portugal, destaca-se, como estamos vendo, a figura do
Marques de Pombal9. Para o nobre, o atraso e subdesenvolvimento de Portugal e das
colônias era devido à Companhia de Jesus. Segundo Boxer (2002), toda e qualquer
dificuldade encontrada por Pombal, era atribuído como causa a Companhia de Jesus.
Desta forma, no mesmo local onde a Companhia era vista como desfrutando de mais

9
Sebastião José de Carvalho e Melo – o Marquês de Pombal.
13

poder – em Portugal – acaba sendo dizimada dentro das fronteiras do império


português.

Seu sucesso inicial deveu-se em grande parte ao fato de Pombal ter


conseguido convencer dom José de que os jesuítas estavam
profundamente implicados numa conspiração destinada a assassiná-lo,
malograda em setembro de 1758. (BOXER, 2002, p. 200).

Não se sabe ao certo o motivo e a origem desse sentimento de ódio que Carvalho
possuía em relação aos jesuítas. Boxer (2002) afirma não existir nenhuma indicação de
que essa raiva quase doentia existisse antes de 1750, entretanto, após dez anos se fez
tornar público. Ainda segundo o autor, uma das razões possíveis desta obsessão
antijesuítica de Pombal, teria sido sua concepção do absolutismo real e a determinação
em submeter a Igreja ao controle da Coroa.
No século XVIII, especificamente em dezembro do ano de 1757, é publicado o
libelo Relação Abbreviada, de autoria de Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro
Marquês de Pombal, com o objetivo de demonstrar as calúnias contra os jesuítas do
Paraguai e do Maranhão. Essa obra começou a se espalhar entre a população, com
Carvalho e Melo enviando exemplares aos príncipes, bispos, superiores de ordem, entre
outros notáveis. Para as nações estrangeiras, Pombal ordenou a impressão do libelo na
língua de cada país para que também se divulgassem suas acusações. Conforme Caeiro
(1995), após ter sido editado em Lisboa duas vezes na língua portuguesa, a posteriori
tem-se em italiano, francês, espanhol, alemão e por último em latim. 10
Segundo Caeiro (1995), quando o documento foi divulgado em Portugal,
percebeu-se a fúria com que o Marquês de Pombal se portou junto aos jesuítas do
Paraguai e do Maranhão, sendo esperado o mesmo comportamento contra os jesuítas de
Portugal.
Diante das acusações, o superior da Província de Portugal, P. João Henriques,
juntamente com Luís Centurione - Padre Geral da Companhia de Jesus - impõe o
silêncio absoluto proibindo que se escrevesse contra a Relação Abbreviada. Afirmava,
assim, o Provincial

[...] deixemos o homem estadear a sua loucura. Talvez em breve se


apague tal chama se, pacientes e silenciosos, tirarmos a lenha do fogo.
Mas, se ele continuar na sua demência, e se, valendo-se da calúnia,

10
Foram impressos cerca de vinte mil exemplares em Lisboa, fazendo com que se lesse rapidamente por
todo Portugal. (CAEIRO, 1995, p. 11)
14

apressar a nossa desgraça, muito nos consolará sentirmo-nos


inocentes; e Deus virá em nossa ajuda, quando, seguindo-O, nos
virmos saturados de opróbios. (Apud CAEIRO, 1995, p. 10)

Dessa forma, a atitude dos jesuítas em relação às acusações foram de paciência.


O que se pode inferir é que os jesuítas tinham consciência de sua inocência, não se
importando com as calunias proferidas pelo Marquês de Pombal.
Segundo Caeiro, a leitura do documento fascinou apenas as pessoas que eram
pouco cultas, que em parte eram inimigas dos jesuítas ou não tinham conhecimento da
história dos jesuítas no Maranhão 11. Entretanto, quando se teve o conhecimento da
autoria o documento, muitos que acreditaram nas acusações começaram a duvidar, pois
o autor já era conhecido como o inimigo dos jesuítas.
Outro ponto favorável aos jesuítas foi o de que quase ao mesmo tempo em que
se divulgava o libelo, começou a se divulgar a obra História do Paraguai, do jesuíta
francês Pedro Francisco Xavier Charlevoix e as Cartas Edificantes. A leitura da
primeira obra tornavam conhecidas as atitudes vistas como “desvergonha” de Carvalho.
Estas obras foram enviadas para Portugal em quantidade significativa. No Brasil,
segundo Caeiro (1995), com as cartas que chegaram dos comandantes portugueses e dos
soldados que participaram da guerra do Paraguai, tem-se o testemunho dos militares de
terem sobrevivido graças aos jesuítas, contribuindo assim para a boa fama dos jesuítas
paraguaios em Portugal.
Mesmo com os acontecimentos descritos favoráveis à Companhia de Jesus, a
ordem é expulsa em 1759. Entretanto, alguns autores afirmam que esse fato da história
não está relacionado apenas a este personagem antijesuítico do século XVIII. Costa
(2004), por exemplo, cita que a expulsão dos jesuítas de Portugal e do Brasil não foi
uma atitude individual de Pombal. Para o autor, foi a história que mudou sua maneira de
tratar a religião.
Miranda (2011) também nos diz que nem tudo se explica por fatores pessoais de
Sebastião José de Carvalho e Melo. Segundo o autor, para se entender o processo de
expulsão da Companhia de Jesus em Portugal, é preciso se atentar à relação entre as
potências europeias da década de 1750. Fica evidente neste período inúmeros contatos e
acordos. França, Áustria e Rússia se aliam em oposição a Inglaterra, Prússia e o Estado

11
Segundo Caeiro (1995, p. 13), se apoiava a inocência dos jesuítas no Maranhão, entretanto, todos eram
obrigados a se manter em silêncio. Se falassem sobre o Maranhão poderia ser pago com suas próprias
vidas, a “este silêncio consta terem alguns sido obrigados com juramento [...] a espalhar, pela gente,
louvores do Governador Mendonça e opróbrios dos jesuítas”.
15

de Hanover. Como cita o autor, a sensação é de perigo eminente. “O início das


hostilidades em campo europeu ocorre em maio de 1756, com a invasão de Minorca (no
Mediterrâneo) pelos franceses. No fim do verão, Frederico II, rei da Prússia, ataca a
Saxônia.” (MIRANDA, 2011, p.1). Continua Miranda (idem, p. 2):

Portugal acompanha as notícias das tropas e as perspectivas de novas


batalhas em posição de angustiante fragilidade. Porque, além de ter o
Exército e a Marinha extremamente mal equipados e quase sem treino
de guerra efetiva, vê a cabeça do império ainda sujeita aos últimos
rescaldos do grande terremoto de 1º de novembro de 1755. Os
arquivos do reino estão praticamente desfeitos. O rei e a Corte,
vivendo em barracas. Tudo é muito precário, diante da ameaça de ter
de escolher um aliado europeu ou fazer frente a uma possível invasão
estrangeira. Ao mesmo tempo, sucedem-se diversas disputas internas
pelo governo, que acabam levando à mudança de dois secretários de
Estado e vários ministros das legações diplomáticas, com uma clara
derrota política da alta nobreza e dos simpatizantes da Companhia de
Jesus.

Dessa forma, o autor enumera uma relação de acontecimentos que contribuíram


para a expulsão dos jesuítas, justificando sua afirmação de que se trata de um equivoco
direcionar o fato somente a personalidade do Marquês de Pombal.
Conforme Boxer (2002), o terremoto de Lisboa em novembro de 1755 seria o
acontecimento que acelerou a elevação de Pombal à posição de um ditador em Portugal.
Isto porque, o monarca D. José solicitava frequentemente suas sugestões políticas,
decidindo, por interferência de Pombal, a reconstrução da capital com recursos como
ouro e diamantes vindos do Brasil. “Como todos os ditadores, Pombal estava
convencido de que sabia melhor do que ninguém o que era bom para a nação que ele
governava de fato, mas não de nome.” (BOXER, 2002, p. 195)
Para Carvalho, os jesuítas fizeram prognósticos falsos, ameaçaram a população
afirmando que tudo iria vir a baixo; que surgiria fogo da terra e que o oceano invadiria
as praias destruindo os campos e cultura. Entretanto, segundo Caeiro (1995), tudo isso
não passou de mentiras, pois a população de Lisboa dedicava a vida, a saúde, a
conservação de suas casas, aos jesuítas. As acusações de Carvalho eram feitas
principalmente entre os estrangeiros, que objetivava, segundo o autor, a formação de
uma má opinião sobre os jesuítas. Para Caeiro (1995), enquanto os jesuítas mais se
preocupavam em aliviar o abatimento dos abatidos pelo terramoto, o Marquês se
preocupava em aumentar entre os estrangeiros as calúnias sobre os mesmos.
16

Segundo Trigueiros (2010), com a expulsão dos jesuítas de Portugal e de todos


os territórios ultramarinos em 1759, ocorre concomitante o fim de cerca de quarenta
instituições educativas espalhadas por todo o império Português.
Na segunda metade do século XVIII, com o decreto régio de setembro de 1759,
o rei D. José ordena a expulsão dos religiosos da Companhia de Jesus que estivessem
em seus domínios continentais e ultramarinos.

Declaro os sobreditos Regulares na referida forma corrompidos,


deploravelmente alienados do seu Santo Instituto, e manifestamente
indispostos com tantos, tão abomináveis, tão inveterados e tão
incorrigíveis vícios para voltarem à observância dele, por notórios
rebeldes, traidores, adversários e agressores, que têm sido e são
actualmente, contra a minha Real Pessoa e Estados, contra a paz
públicados meus reinos e domínios, e contra o bem comum dos meus
fiéis vassalos; ordenando que tais sejam tidos, havidos e reputados; e
os hei desde logo, em efeito desta presente lei, por desnaturados,
proscritos e exterminados; mandando que efectivamente sejam
expulsos de todos os meus reinos e domínios, para neles mais não
poderem entrar. (TRIGUEIROS, 2009)

Assim, a ordem que durante duzentos anos liderou uma vasta rede de ensino em
Portugal e colônias, acaba sendo abruptamente interrompida. A Companhia de Jesus
acaba, portanto, sendo expulsa de Portugal e das colônias em 1759, pelo Marquês de
Pombal (1699-1782), e posteriormente, em 1764 e 1767, também é expulsa da França e
Espanha respectivamente.

Considerações Finais

Portugal no século XVIII é um reino marcado, especialmente, pela grande


quantidade de ouro e riqueza trazida de suas colônias e pela dominação da Igreja.
Segundo Martins (1976), a administração do governo monárquico na primeira metade
do século XVIII foi guiada por um rei que ostentava riqueza, porém não sabia
administrá-la. Já no governo de D. José I, a figura de destaque foi o Marquês de
Pombal, homem que organizou, alicerçou e consolidou inúmeras reformas no reino.
Vale destacar que as reformas pombalinas foram redigidas com base nos ideais
do Iluminismo, e continuaram sendo efetivadas, tanto no reinado mariano quando no
reinado de D. João VI. E, conforme já afirmado, a situação que se configurou no século
XVIII, somada ainda à antipatia nutrida por Pombal contra a Companhia de Jesus, não
poderia ter outro fim senão expulsão dessa última dos territórios de domínio português.
17

Tal expulsão acabou, inevitavelmente, desestruturando toda uma organização de


educação e ensino que existia no Império Luso e se estendia por todas suas colônias,
inclusive brasileira.
Apesar de Pombal ser conhecido na historiografia como o inimigo da
Companhia de Jesus, sendo o responsável pela expulsão dos jesuítas, é preciso analisar
este momento da história como um todo. Isso porque, acreditamos que a expulsão dos
religiosos não está relacionada apenas a este personagem antijesuítico do presente
século, mas, sim, a mudanças mais profundas ocorridas na sociedade. Pois, para
compreender a História da Educação Brasileira, é imprescindível que abordemos toda a
reforma pombalina, que, embora densa, nos dá subsídios para compreensão de tantos
fatos atuais.

Referências

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Letras, 2002.

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18

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