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Este não é o lugar para fazer uma revisão histórica; somente quero
dizer qual me parece ser o caminho correto para sair desta triste
situação sobre Maria. Tal caminho passa por um sincero
reconhecimento, de nós católicos, do fato que, muitas vezes,
especialmente nos últimos séculos, contribuímos para fazer Maria
inaceitável para os irmãos protestantes, honrando-a de forma, às
vezes, exagerada e imprudente e, especialmente, não colocando tal
devoção dentro de um quadro bíblico bem claro que mostrasse o
papel subordinado com relação à Palavra de Deus, ao Espírito
Santo e ao próprio Jesus.
A mariologia nos últimos séculos tornou-se uma fábrica
contínua de novos títulos, novas devoções, muitas vezes
polêmicas com os protestantes, usando, às vezes, Maria – a
Mãe comum! – como uma arma contra eles.
"Ao ler as palavras de Lutero que até o fim da sua vida honrou
Maria, santificou as suas festas e cantou todos os dias o
Magnificat, sente-se o quanto se distanciou, no geral, da correta
atitude sobre ele... Vemos o quanto nós, evangélicos, nos
deixamos submergir pelo racionalismo... O racionalismo
que admite só o que se pode compreender com a razão,
difundindo-se, jogou fora das Igrejas evangélicas as
festas de Maria e tudo o que se refere à ela, e fez perder o
sentido de toda referência bíblica a Maria: e desta
herança sofremos ainda hoje. Se Lutero, com esta frase:
‘Depois de Cristo ela é, em todo o cristianismo, a joia
preciosa, jamais louvada o suficiente’, nos inculca este
elogio, eu, de minha parte, devo confessar de estar entre aqueles
que, durante longos anos da própria vida, não o fizeram,
contornando até o que diz a Escritura: "De agora em diante todas
as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1, 48). Eu não
tinha me colocado entre estas gerações[15]”.
Todas estas premissas nos permitem cultivar no coração a
esperança de que, um dia, não distante, católicos e protestantes
possamos não estar mais divididos, mas unidos por Maria, em uma
comum veneração, diferente nas formas, mas unânimes no
reconhecer nela a Mãe de Deus e a Mãe dos crentes. Eu tive a
alegria de constatar pessoalmente alguns sinais desta
mudança em ato. Em mais de uma ocasião, pude falar de Maria
a um auditório protestante, notando entre os presentes não só
a acolhida, mas, pelo menos em um caso, uma verdadeira
emoção, como a redescoberta de algo caro e uma purificação
da memória.
Deus fez com ela, dizia Santa Teresa do Menino Jesus, o que faria
um bom médico em tempos de epidemia. Ele vai de casa em casa
para curar aqueles que contraíram a infecção; mas se existe um
pessoa que ele gosta especialmente, como a esposa ou a mãe,
tentará, se possível, que nem sequer seja contagiada. E assim fez
Deus, preservando Maria do pecado original pelos méritos da
paixão do Filho.
Falando da humanidade de Jesus, Santo Agostinho diz:
"Com base no que, a humanidade de Jesus mereceu ser assumida
pelo Verbo eterno do Pai na unidade da sua pessoa? Qual foi a sua
boa obra que precedeu isso? O que tinha feito antes desse momento,
no que tinha acreditado, ou pedido, para ser elevada a tal inefável
dignidade?”. E acrescentava em outro lugar: “Procure o mérito,
procure a justiça, reflita e veja se encontra outra coisa além de
graça[16]”.
REFERÊNCIAS:
[1] LG, 61
[2] LG, 63
[3] Sulle vicende dello schema mariologico nelle discussioni
conciliari, cf. la citata Storia del Concilio Vaticano II, a cura di G.
Alberigo, II, pp. 520-522; III, pp. 446-449; IV, pp.74 ss.
[4] Santo Agostinho, Discorso 72,7 (Miscellanea Agostiniana, I,
Roma 1930, p.163).
[5] São João Paulo II, Enc. “Redemptoris Mater”, 5.
[6] Cf. LG, 58.
[7] RM, 5: “Nestas reflexões refiro-me, principalmente àquela
“peregrinação da fé”, na qual a ‘Beata Virgem avançou’,
conservando fielmente a sua união com Cristo”.
[8] Santo Agostinho, Discorsi, 215, 4 (PL, 38, 1074).
[9] Calvino, Le livre de la Genèse, I, Ginevra 1961, p. 195.
[10] G. von Rad, Das erste Buch Moses, Genesis, Göttingen9 1972
(trd.Ital. Genesi, Brescia 1978, p. 204).
[11] S. Ireneo, Adv. Haer. III, 22,4.
[12] Lutero, Kirchenpostille (ed. Weimar, 10,1, p. 73).
[13] H. Zwingli, Predigt von der reinen Gottgebärerin Maria (in
Zwingli,Hauptschriften, der Prediger, I, Zurigo 1940, p. 159).
[14] LG, 67.
[15] Mutter Basilea Schlink, Maria, der Weg der Mutter des Herrn,
Darmstadt 19824 (ed. Ital. Milano, Ancora, 1983, pp.102-103).
[16] Santo Agostinho, La predestinazione dei santi, 15,30 (PL
44,981); Discorsi 185,3 (PL 38,999).