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escolas-publicas

Publicado em NOVA ESCOLA 21 de Outubro | 2018

Mentira na Educação, não!

Existe método Paulo Freire nas


escolas públicas?
Alvo de contestação por parlamentares na elaboração do Escola Sem
Partido e, agora, pelo plano de governo do candidato à presidência Jair
Bolsonaro, o legado freireano é posto em questionamento
Paula Calçade

O mais famoso educador brasileiro, Paulo Freire, acreditava que ensinar era como despertar o
aluno para ler o mundo. Ou seja, possibilitaria a formação da consciência sobre quem o sujeito é
no meio em que ele vive. Para ele, as grandes transformações partem desse princípio. A
alfabetização era, para o educador, um modo de os desfavorecidos romperem o silêncio em que
são colocados, podendo ser, então, os protagonistas da própria história, como escreveu em seu
livro Pedagogia do Oprimido. A suposta aplicação de sua filosofia nas escolas públicas é alvo de
críticas por parte do candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PSL), para quem seus ensinamentos
"marxistas" atrapalham o desenvolvimento dos alunos. Ao criticar o Ministério da Educação
(MEC), disse que se eleito "vai entrar com um lança-chamas no MEC e tirar o Paulo Freire lá de
dentro".

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Paulo Freire teve atuação e reconhecimento internacional. "Pedagogia do Oprimido" é o único


livro brasileiro a aparecer na lista dos 100 mais pedidos pelas universidades de língua inglesa,
segundo o projeto Open Syllabus, que reúne dados do mundo acadêmico. Outras 20 obras do
escritor também aparecem em outros rankings, como "Política e Educação". Além disso, o
educador é o terceiro pensador mais citado em universidades da área de humanas em todo o
mundo, de acordo com levantamento feito pela ferramenta de pesquisa para literatura
acadêmica Google Scholar, que mostra que Freire foi referenciado 72.359 vezes.

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Apesar desse reconhecimento, o trabalho do educador é alvo de críticas também pelo Programa
Escola sem Partido, que acusa professores das escolas públicas de disseminar conhecimento com
viés político em sala de aula. O programa, atualmente, segue em discussão no Congresso e é uma
proposta de lei que torna obrigatória a afixação em todas as salas de aula de Ensino
Fundamental e Médio de um cartaz com “os deveres do professor”. Entre outros tópicos, o texto
destaca que “os professores não devem se aproveitar da audiência cativa dos alunos para
promover os seus próprios interesses, opiniões e preferências ideológicas”.

Com o acirramento da campanha eleitoral, o trabalho do educador ganhou foco, mas de forma
distorcida, levando muitos pais e até professores a repassar frases e fatos que nada têm a ver
com o trabalho de Paulo Freire.

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Contra o analfabetismo

No Brasil, em 1960, Paulo Freire desenvolveu a metodologia de alfabetização que realizou, entre
outros feitos, a possibilidade de alfabetizar 300 cortadores de cana no Rio Grande do Norte, em
apenas 45 dias. Paulo Freire ficou conhecido, assim, pelo método de alfabetização para adultos
que leva seu nome. Dessa forma, o pensamento pedagógico do educador sempre se assumiu
como político, uma vez que seus estudos se concentravam nas classes sociais menos favorecidas
e que, na época, não eram totalmente atendidas pelas escolas públicas.

Os estudos e atuações de Paulo Freire, então, faziam sentido na realidade em que ele estava
inserido. Em 1950, metade dos brasileiros eram analfabetos. Hoje, entre as pessoas com 15 anos
ou mais no país, 7% não sabem ler e escrever, segundo o IBGE. Apesar da queda gradativa ao
passar das últimas décadas, esse número significa que o Brasil ainda está entre os dez países com
mais analfabetos no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco). Assim, o estudo de Freire continua sendo atual.

O educador também foi condecorado como Patrono da Educação Brasileira em 2012, por meio de
lei sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff e seu legado foi reconhecido pela Unesco. O
título no Brasil foi concedido após votação unânime na Comissão de Educação, Cultura e Esporte
do Senado naquele ano. Em oposição, um abaixo-assinado enviado ao Congresso Nacional em
2017, apoiando o projeto de lei Escola Sem Partido, afirma que o método Paulo Freire “já
demonstrou em todas as avaliações internacionais que é um fracasso retumbante”, recebendo 21
mil assinaturas apenas no primeiro mês de coleta de apoio virtual e pedindo para que a
condecoração seja retirada. Em abril do ano passado, a convite do deputado Eduardo Bolsonaro
(PSC-RJ), filho do candidato à presidência Jair Bolsonaro, a criadora da petição participou de
audiência pública na Câmara dos Deputados.

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Paulo Freire nas salas de aula

No plano de governo de Jair Bolsonaro, o candidato expõe: "Além de mudar o método de gestão,
na Educação também precisamos revisar e modernizar o conteúdo. Isso inclui a alfabetização,
expurgando a ideologia de Paulo Freire”. O historiador Danilo Nakamura, mestre em História
Econômica com enfoque em Educação, explica que a filosofia de Paulo Freire teve uma entrada
muito forte nas redes públicas em dois momentos históricos do país. “Antes do golpe civil-militar
de 1964, sua pedagogia estava associada ao projeto desenvolvimentista e as reformas de base do
presidente João Goulart”, lembra, destacando também que, com o processo de redemocratização,
Freire se tornou secretário da Educação da prefeitura de São Paulo. “Ele organizou um
movimento importante de reorganização dos currículos, trazendo um debate sobre a visão de
área de cada disciplina”, pontua.
Danilo afirma que, hoje em dia, o educador continua influenciando os debates pedagógicos na
rede municipal. “Suas obras foram citadas nos dois últimos documentos curriculares, mas com
menos força que nos dois momentos históricos que citei”, diz. Atualmente, a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Infantil e Fundamental, aprovada no Conselho Nacional
de Educação (CNE) e que está em fase de contribuição regional para finalização dos currículos no
final do ano, já não cita Paulo Freire. A BNCC do Ensino Médio, com discussões ainda mais
recentes, também não faz referência ao educador.

Sumaya Pimenta, pedagoga e mestre em Práticas Docentes no Ensino Fundamental destaca que
o legado de Freire existe para quem pensa e pratica a Educação no dia a dia. “A educação
freireana é eminentemente prática, pois sempre parte do conhecimento de mundo e da cultura
das pessoas não para superá-los, mas para integrá-los com conhecimentos científicos e
sistematizados, permitindo a todos os sujeitos uma visão mais ampliada e crítica da realidade”,
explica.

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O historiador Danilo Nakamura também pontua que, para ele, a pedagogia de Paulo Freire não
propõe nenhum tipo de doutrinação, base de críticas de quem se opõe a seu trabalho. “Muito
pelo contrário, Paulo Freire afirma que a pedagogia do oprimido é uma pedagogia que diz que
devemos partir da própria ação e realidade dos menos favorecidos na atividade educativa”,
explica. Assim, Danilo parafraseia Paulo Freire: “A educação bancária (expressão de Freire), aquela
que vem com conteúdos prontos para ‘depositar’ na cabeça dos estudantes, é o que poderíamos
chamar de doutrinadora, afinal, não existe reflexão por parte do estudante, ele se torna mero
repositório de conteúdos pré-concebidos”, relê. Para o historiador, assim, doutrinar seria inculcar
ideias sem que exista pensamento, reflexão, debate, divergência e crítica, como escrevia Freire.

Por defender essas ideias, Paulo Freire foi perseguido pela ditadura militar, instaurada em 1964, e
acabou exilado no Chile e em outros países. “Isso aconteceu porque sua prática educativa
possibilitava em muito pouco tempo alfabetizar adultos do campo e os menos favorecidos”,
ressalta Sumaya Pimenta, explicando que esse método consistia em partir de palavras geradoras
significativas para cada um daqueles que não dominavam a leitura, o que implicava partir do
conhecimento de mundo dessas pessoas e não de textos mecânicos e distantes da realidade
delas. “Eminentes educadores norte-americanos, como Henry Giroux, Peter McLaren e Michael
Apple, para ficarmos apenas com alguns, foram influenciados pelas ideias freireanas e defendem
uma Pedagogia Crítica que repense o lugar da Educação na emancipação das pessoas”, afirma,
criticando aqueles que desejam conter o legado de Paulo Freire, ressaltando que a Educação,
principalmente a pública, deve ser pautada na realidade viva e significativa de cada educando.

Além disso, segundo Danilo, Paulo Freire demonstra que a alfabetização dos indivíduos está
relacionado à participação política, como inserção crítica dos sujeitos na sociedade. “A quem não
interessa pessoas autônomas e críticas?”, enfatiza, dizendo que políticas educacionais devam
pensar uma Educação que amplie as liberdades sociais e individuais. “Por que conter algo que
pode ampliar a participação das pessoas? Somente uma visão autoritária de Educação pode
pensar em conter práticas influenciadas por Freire nas salas de aula”, conclui.

Paulo Freire não está nos currículos das escolas públicas, mas, sim, como referência para aqueles
que praticam pedagogia todos os dias. Algumas ONGs aplicam de fato o método freireano. É o
caso do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), que existe há 35 anos como
“instituição de aprendizagem”, como se autodenomina. “Não há e nunca houve incentivo
governamental para a aplicação dos ensinamentos e princípios freireanos. Isso se deve à ação
isolada e alguns educadores, professores e escolas”, explica Sebastião Rocha, diretor do CPCD.

Entre outros projetos, a ONG realiza o “Ser Criança”, que pretende fazer com que o estudo esteja
próximo da realidade dos alunos. “Estudar brincando, plantando, comendo, conversando,
reciclando, respeitando são alguns dos muitos verbos praticados no dia-a-dia desse projeto”, diz
Sebastião, contando que centenas de meninos e meninas, em horários complementares à escola
formal e em espaços comunitários, recebem educação completar no CPCD em Araçuaí, em Minas
Gerais, e Paulo Freire é uma das principais influências para essa e outras práticas do lugar.
Um projeto desenvolvido pelo Instituto Paulo Freire em parceria com a Samsung desde 2017,
"Alfabetização Cidadã", promove a alfabetização de adultos vinculados à reciclagem em São
Paulo. "Agora quero voltar para a escola, até ir para a faculdade", contou Miriam Lima à NOVA
ESCOLA. "Hoje troco mensagens no Facebook". A primeira turma se formou este ano.

Biog de Paulo Freire


Infogram

Essa reportagem faz parte da campanha Mentira na Educação, não!, que realizará
checagens de notícias sobre Educação. A iniciativa é realizada por NOVA ESCOLA, com
apoio do INSTITUTO UNIBANCO, INSTITUTO ALANA, CANAL FUTURA e FACEBOOK.

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