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Eng.

° Luiz Felipe Goulart Fiscina


Mestrando em Geotecnia – UNICAMP
E-mail: luizfiscina@gmail.com
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO
DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS - DES
DEPARTAMENTO DE GEOTECNIA E TRANSPORTES – DGT

AULA 3 – CÁLCULO DE CAPACIDADE DE CARGA EM ESTACAS PARA


SOLOS USUAIS

1. Capacidade de carga geotécnica, capacidade de suporte, carga de ruptura, carga


última, capacidade de carga na ruptura (R, PR, PR, Pu, Qu, etc.)
Para definir o conceito de capacidade de carga de um elemento de fundação em
estaca é necessário, a priori, estabelecer o que é uma fundação por estaca. Uma estaca,
sem o solo ao seu redor, não é uma fundação. Por isso, denomina-se elemento de
fundação por estaca o sistema composto pela estaca (elemento estrutural), o maciço
que a envolve (elemento geotécnico) e a interação entre eles (interação solo-
estrutura).
Portanto, a capacidade de carga geotécnica de um elemento de fundação por estaca
é o valor máximo da força correspondente à máxima resistência que o sistema pode
oferecer, ou do valor representativo de ruptura.
Em outras palavras, considere uma estaca qualquer com comprimento L inserida
em um determinado maciço. Na sua cabeça, aplica-se uma força de compressão
vertical P a qual será progressivamente aumentada.
Mobilização progressiva da capacidade de carga geotécnica (Cintra e Aoki, 2010)

Com a aplicação gradativa dessa carga serão mobilizados dois tipos de tensões
resistentes: (1) resistência lateral ou adesão e (2) tensões de resistência normais a
ponta ou base.

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Com base na literatura, a evolução do fenômeno de mobilização da resistência em
estacas se dá primeiramente pela mobilização do atrito lateral até a sua capacidade
máxima, para que em seguida a sua resistência de ponta comece a ser mobilizada.
Transferência de carga em estaca esbelta (Veloso e Lopes, 2012)

Outro aspecto importante é que a mobilização do atrito lateral exige deslocamento


muito menores do que a mobilização da resistência da ponta. O esgotamento do atrito
lateral (Ponto 3) é alcançado com valores de recalque em torno de 5 a 10 mm com
base na experiência nacional, independentemente do tipo da estaca e do diâmetro do
seu fuste. Ao contrário, o esgotamento da parcela de ponta (Ponto 4), exige recalques
bem mais elevados. Da ordem de s = 10% x D (para estacas cravadas) e s = 30% x D
(para estacas escavadas), onde D é o diâmetro da estaca.
Sendo assim, cabe a engenharia geotécnica definir o comprimento adequado de
elementos de fundação em estacas de uma forma que seja assegurada a resistência do
maciço igual ou superior a carga de trabalho estimada.
R = RL + RP

Para se obter a parcela de ponta (RP) basta multiplicar a resistência de ponta em


unidade de tensão (rP) pela área da seção transversal da ponta ou da base (AP).
RP = rP x AP

Já para a parcela de atrito lateral (RL), que é representada pelo perímetro do fuste
(U) e pela somatória das forças resistentes por atrito lateral nos diversos segmentos
do elemento de fundação, tem-se:
RL = U x Σ (rL x ΔL)

Finalmente, com a adição das duas parcelas, tem-se:


R = U x Σ (rL x ΔL) + rP x AP

Existem diversas possibilidades quanto a proporção entre as duas parcelas de


resistência. Podem haver casos em que predomina a parcela de atrito lateral, como
geralmente ocorre com as estacas escavadas e com os perfis metálicos cravados. Se
na situação limite a resistência de ponta for praticamente desprezível, tem-se o caso
particular de estaca de atrito (estaca flutuante), como, por exemplo, uma estaca longa

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e esbelta cravada em argila mole, em que toda a resistência se dá por atrito lateral. Por
outro lado, pode-se ter casos com a predominância da resistência de ponta, como
ocorre geralmente em estacas cravadas mais robustas e com estacas Franki. No
extremo, tem-se as estacas de ponta, as quais normalmente são embutidas em rocha,
em que seu comportamento é exclusivamente de ponta (estacas metálicas e estacas do
tipo raiz).
Considerações acerca do valor de capacidade de carga de um elemento de
fundação em função do tempo:
 Solos saturados possuem uma tendência de aumento de capacidade de carga ao
longo da vida útil da obra. Isso acontece devido ao fato de que o solo presente ao
redor do fuste da estaca e na ponta se encontra no estado não drenado (menor
resistência). Com a dissipação das pressões neutras ao longo do tempo e
consequentemente aumento das pressões efetivas, a capacidade de carga
geotécnica aumentará com o tempo. Portanto, deve-se optar pelo cálculo de R na
condição não drenada (mais conservadora) utilizando parâmetros do solo
correspondentes a essa condição (SPT);
 Efeito set-up: nas camadas argilosas, a cravação de estacas causa uma acentuada
redução de resistência, a qual é recuperada com o decorrer do tempo graças a uma
“cicatrização do solo”;
 Solos colapsíveis: solos não saturados, com baixo teor de umidade e porosos (alto
índice de vazios), podem sofrer um colapso de sua estrutura em consequência da
infiltração de água, quando submetidos a um carregamento externo.

2. Métodos de Previsão de Capacidade de Carga – Métodos Estáticos


2.1. Métodos Teóricos

São métodos que possuem como base os princípios da Mecânica dos Solos e
da Teoria da Plasticidade como forma de mensurar a capacidade de carga das
fundações (rasas e profundas). Para fundações rasas esses métodos são bastante
razoáveis. Contudo, para fundações profundas existe uma dificuldade de ajustar um
bom modelo físico e matemático à questão de ruptura nesse tipo de elemento. Outra
limitação dos métodos teóricos é a consideração exclusiva de solos granulares (areais)
ou coesivos (argilas), enquanto na natureza é frequente a existência de solos
intermediários (solos c-φ).
Em suma, para a aplicação dos métodos teóricos é necessário o conhecimento
da resistência do solo em cada camada, ou seja, parâmetros como ângulo de atrito (φ),
coesão drenada (c) e coesão não drenada (cu) precisam ser determinados, seja de
forma direta ou de forma indireta.

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2.1.1. Estacas em argila

Os parâmetros geotécnicos, como visto anteriormente, são rL e rP. No caso


de solos argilosos, rL representa a tensão de adesão do solo ao fuste da estaca em
um dado segmento. Por exemplo, uma estaca de comprimento L pode apresentar
um perfil estratificado de solo argiloso, ou seja, solos com diferentes consistências
ao longo do fuste e essencialmente argilosos. Para a determinação de rL tem-se:
rL = α x cu
Onde α é um fator de adesão solo estaca e cu é a resistência não drenada
do solo em questão. O’Neill e Reese (1999) orienta não adotar valores de
resistência lateral superiores a 380 kPa (rL ≤ 380 kPA).
Para a determinação de rP utiliza:
rP = Nc x cu
Onde Nc é o fator de capacidade de caga para fundações profundas e pode
ser considerado igual a 9.
Sendo assim, a equação geral da capacidade de carga para solos argilosos
é traduzida em:
Rargilas = U x (α x cu x ΔL) + 9 x cu x AP
Valores típicos de α e cu, conforme a metodologia de execução da estaca,
podem ser observados a seguir. Para estacas cravadas utilizam-se os métodos do
API (1984) e NAVFAC DM 7.2, enquanto para estacas escavadas utiliza-se o
método de Fleming et al. (1985).
Valores típicos de α e cu (Rajapakse, 2007)

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Valores típicos de α e cu (Rajapakse, 2007)

Valores típicos de α e cu (Rajapakse, 2007)

2.1.2. Estacas em areia

Uma modificação da fórmula de Terzaghi é amplamente utilizada para


previsão de capacidade de carga em estacas. Essa equação segue as mesmas
premissas já citadas em que os parâmetros geotécnicos são traduzidos em rL e rP.
A resistência lateral é definida em termos de tensões horizontais efetivas
atuando no fuste da estaca.
rL = K x σ’v x tanδ
Onde K é o coeficiente de empuxo lateral na estaca, σ’v é a tensão vertical
efetiva em um dado segmento da estaca (atuando em seu perímetro) e δ é o ângulo
de atrito entre a estaca e o solo. δ é diretamente proporcional ao ângulo de atrito
do solo (φ).
Alguns valores típicos de K e δ são citados em NAVFAC DM 7.2 e podem
ser visualizados a seguir.

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Valores típicos de δ (Rajapakse, 2007)

Valores típicos de K (Rajapakse, 2007)

Valores típicos de K e δ (Rajapakse, 2007)

Autores divergem quanto a utilização do coeficiente de empuxo lateral.


Alguns citam a utilização do coeficiente de empuxo lateral ativo enquanto outros
defendem a utilização do coeficiente de empuxo lateral passivo ou ainda o
coeficiente de empuxo lateral em repouso. Sendo assim, aconselha-se a utilização
da média dos três valores.
Método da média de K (Rajapakse, 2007)

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K0 é o coeficiente de empuxo lateral em repouso, Ka é o coeficiente de
empuxo lateral ativo e KP é o coeficiente de empuxo lateral passivo. Onde:
Ka < K0 < K (condição no perímetro da estaca) < KP
Como os valores de σ’v variam com a profundidade (h), utiliza-se o seu
valor médio. Alguns autores utilizam o valor da σ’v no ponto médio da estaca.
Para a determinação da resistência de ponta (rP) utiliza-se a equação:
rP = Nq x σ’v
Onde Nq é o fator de capacidade de carga (função do ângulo de atrito do
solo na ponta da estaca, do fenômeno de dilatância do solo e de sua densidade
relativa) e σ’v é a tensão vertical efetiva do solo na base da estaca. O fator Nq é
objeto de estudo de diversos autores. Uma estimativa do seu valor é apresentada
a seguir (Obs: Driven Pile – Estaca Cravada e Bored Pile – Estaca Escavada)
Valores típicos do fator de capacidade de carga Nq (Rajapakse, 2007)

Em suma, a equação geral para o cálculo da capacidade de carga em solos


arenosos é:
Rareias = K x σ’v x tanδ x AP + Nq x σ’v x AP
Vale ressaltar que alguns autores consideram o efeito de σ’v no cálculo da
resistência lateral de estacas em solos argilosos. Um exemplo é o método de Kolk
and Van der Vede (1996) que estima a resistência lateral última (fS) como sendo:
fS = α x SU
Onde fS é a capacidade de carga lateral do solo, α é o coeficiente de atrito
lateral obtido a partir de correlações feitas pelos autores (baseado na relação entre
SU e a tensão vertical efetiva) e SU é a resistência de cisalhamento não drenada da
argila (coesão não drenada). Para cálculo dessa tabela os autores sugeriram a
tabela a seguir.

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Valores típicos para o Método de Kolk and Van der Velde (1996) apud Rajapakse
(2007)

A figura abaixo ilustra os gráficos dos valores do fator de capacidade de


carga Nq, em função de φ, de diversos autores.
Nq x φ (Cintra e Aoki, 2010)

Observa-se que existe diferenças substanciais nas várias proposições de


Nq. Ao se fixar um ângulo de atrito interno de um determinado solo (φ=40°) o
fator de capacidade de carga Nq varia de 100 a 1.000 dependendo do autor. A
variabilidade presente nos métodos teóricos leva a um descrédito dessa técnica
para o cálculo de fundações profundas. Décourt (1996a) critica o método teórico

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afirmando que para uma varia de 30º a 35º no ângulo de atrito, a capacidade de
carga pode aumentar em 100%.
Devido a necessidade de ensaios laboratoriais e às dificuldades de se
trabalhar com as incertezas dessa metodologia, adotou-se no Brasil o uso de
correlações empíricas com ensaios de campo (SPT e CPT) para o cálculo das
parcelas de atrito lateral e ponta. No entanto é necessário ressaltar que as
formulações teóricas possuem grande influência no desenvolvimento das
equações semiempíricas.
2.1.3. Correlações típicas de parâmetros do solo

a) Resistência não drenada de argilas


𝒄𝒖 = 𝟏𝟎 × 𝑵𝑺𝑷𝑻 (𝒌𝑷𝒂) – Teixeira (1996, 2016)

𝒄𝒖 = 𝟏𝟐, 𝟓 × 𝑵𝑺𝑷𝑻 (𝒌𝑷𝒂) − 𝑫é𝒄𝒐𝒖𝒓𝒕 (𝟏𝟗𝟖𝟗)

Terzaghi and Peck (1996, 2016)

b) Ângulo de atrito interno


𝝋 = 𝟏𝟓° + 𝟐𝟎 𝒙 𝑵𝑺𝑷𝑻 – Teixeira (1996, 2016)
𝝋 = 𝟐𝟖° + 𝟎, 𝟒 × 𝑵𝑺𝑷𝑻 – Godoy (1983)

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Fundações Teoria e Prática (Diversos Autores, 1998)

Correlação entre NSPT e o Ângulo de atrito Bowles (2004) apud (Rajapakse, 2007)

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c) Peso específico (Godoy, 1972)
Argilas
Consistência NSPT γ(kN/m³)
Muito mole <2 13
Mole 2–5 15
Média 6 – 10 17
Rija 11 – 19 19
Dura > 19 21

Areias
NSPT Consistência Areia Úmida Saturada
seca γ(kN/m³) γ(kN/m³)
γ(kN/m³)
<5e5–8 Fofa a Pouco Compacta 16 18 19
9 – 18 Mediamente Compacta 17 19 20
19 – 40 e Compacta a Muito 18 20 21
>40 Compacta

2.2. Métodos Semiempíricos

Como alternativa ao método teórico, difundiu-se no Brasil métodos baseados


em correlações empíricas com resultados de ensaios in situ (SPT, CPT, CPTU) e
ajustados com provas de carga. É importante reconhecer que a validade desses
métodos é limitada a prática construtiva e às condições específicas da geologia de
cada região. Como as campanhas de investigações geotécnicas no Brasil são feitas
basicamente via ensaio a percussão (SPT), a grande maioria dos métodos
semiempíricos para cálculo de capacidade de carga são baseadas em correlações dos
resultados obtidos nesse ensaio.
Existem métodos considerados clássicos ou globais, os quais foram adaptados
para os mais diversos tipos de estacas como Aoki e Velloso (1975), Décourt e
Quaresma (1978) e Teixeira (1996). Por outro lado, existem propostas particulares as
quais foram criadas para tipos particulares como Lizzi (1982) para estacas tipo raiz,
Alonso (2008) para estaca metálicas e Antunes e Cabral (1996) para estaca do tipo
hélice contínua.

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2.2.1. Método de Aoki e Velloso (1975)

O método pode ser aplicado tanto para parâmetros obtidos via ensaio CPT,
resistência de ponta (qcone) e resistência lateral (fS), quanto para parâmetros
extraídos via ensaio SPT (índice de penetrabilidade – NSPT).

𝒒𝒄𝒐𝒏𝒆 𝒇
𝑸𝒖𝒍𝒕: 𝑨𝒃 × 𝑭𝟏
+ 𝑼 × 𝜮 𝑭𝟐𝑺 × 𝜟𝑳 (CPT)

𝒌×𝑵𝑺𝑷𝑻𝑷 𝜶×𝒌×𝑵𝑺𝑷𝑻𝒎
𝑸𝒖𝒍𝒕: 𝑨𝒃 × 𝑭𝟏
+𝑼×𝜮 𝑭𝟐
× 𝜟𝑳 (SPT)

Para ambas as equações Ab é a área da base ou ponta, k é o coeficiente de


resistência do solo, α é a razão de atrito e F1/F2 são os fatores de correção
relacionados ao tipo de estaca executada. O valor de NSPTP é o número NSPT
próximo a ponta da estaca enquanto que NSPTm é o NSPT médio para cada camada
ΔL.
Valores de k, α e F1/F2 podem ser visualizados a seguir. Vale ressaltar
que esses valores foram ajustados ao longo do tempo por diversos autores.
k, α e F1/F2 estimados a partir do estudo que os deram origem (Aoki
e Velloso, 1975).

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k, α e F1/F2 estimados a partir de estudos com solos do Estado do Rio
de Janeiro (Danziger, 1982; Laprovitera, 1988; Benegas, 1993).

k e α estimados a partir do estudo com solos do Estado de São Paulo


(Alonso, 1980).

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k, α e F1/F2 estimados e ampliados (mais tipos de estaca) a partir do
estudo de Monteiro (1997). Além disso, esse autor cita algumas recomendações
como (1) o valor de NSPT é limitado a 40 e (2) o valor da resistência de ponta
deverá levar em conta os valores de resistência ao longo de espessuras de 7 e 3,5
vezes o diâmetro da estaca para cima e para baixo da profundidade
respectivamente. O valor de resistência de ponta será a média desses valores.
Determinação da capacidade resistente da ponta Monteiro (1997)

k, α e F1/F2 estimados e ampliados (mais tipos de estaca) a partir do estudo de


Monteiro (1997).

2.2.2. Método de Décourt e Quaresma (1978, 1982 e 1986, 1996)

Inicialmente apresentada para calcular a capacidade de carga de estacas


pré-moldadas, o método de Décourt – Quaresma sofreu alterações ao longo do
tempo para abranger diversos tipos de fundações profundas. A premissa do
método é a utilização direta dos resultados do ensaio SPT sem a necessidade da
utilização de correlações com o tipo de solo. Utiliza-se a resistência a penetração
do solo (NSPT) como meio de calcular a resistência geotécnica lateral e de ponta
da estaca.

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O equacionamento geral da equação é:
𝑵𝑳
𝑹 = 𝜶 × 𝑪 × 𝑵𝑷 × 𝑨𝑷 + 𝜷 × 𝟏𝟎 × ( + 𝟏) × 𝑼 × 𝑳
𝟑
Para a parcela de ponta (𝛼 × 𝐶 × 𝑁 × 𝐴 ) tem-se: α é um fator em função
do tipo de estaca e do tipo de solo na ponta, C é o coeficiente característico do
solo na ponta, NP é o valor médio do índice de resistência à penetração na ponta
ou na base da estaca obtido a partir da média de três valores: NSPT da ponta da
estaca, NSPT da camada imediatamente inferior e o NSPT da camada imediatamente
superior e AP é a área da ponta. Já para parcela lateral (𝛽 × 10 × ( +
1) × 𝑈 × 𝐿) tem-se: β é um fator em função do tipo de estaca e do tipo de solo na
ponta, NL é a média do número de golpes ao longo do fuste em todo o
comprimento da estaca (L) e U é o perímetro da estaca.
Os valores de N menores que 3 devem ser considerados igual a 3 e os
maiores que 50 devem ser considerados iguais a 50. Observa-se também que como
o método foi originalmente feito para estacas pré-moldadas, os valores de α e β
para estas são iguais a 1.
Os valores de α, C e β foram tabelados e podem ser visualizados a seguir.

Valores de α em função do tipo de estaca e do tipo de solo (Cintra e Aoki, 2010)

Valores de β em função do tipo de estaca e do tipo de solo (Cintra e Aoki, 2010)

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Coeficiente característico do solo C (kPa) (Cintra e Aoki, 2010)

Tipo de Estaca
Solo
Deslocamento Escavada

Argila 120 100


Silte Argiloso* 200 120
Silte Arenoso* 250 140
Areia 400 200
* alteração de rocha (solos residuais)

2.2.3. Método de Teixeira

O método de Teixeira é simular ao método de Décourt-Quaresma com


algumas ressalvas em relação aos coeficientes adotados. O equacionamento do
método é dado a seguir.
𝑹 = 𝜶 × 𝑵𝒃 × 𝑨𝒃 + 𝑼 × 𝜷 × 𝑵𝑳 × 𝑳
Onde α é o fator relativo a resistência de ponta (função do tipo de solo e
do tipo da estaca), β é o fator relativo à resistência lateral (função apenas do tipo
de estaca), Nb é o valor médio do índice de resistência à penetração medido no
intervalo de 4 diâmetros acima da ponta da estaca e 1 diâmetro abaixo, NL é o
valor médio do índice de resistência à penetração ao longo do fuste.
Vale ressaltar que os valores de N menores que 4 devem ser considerados
igual a 4 e os maiores que 40 devem ser considerados iguais a 40.
Parâmetro α (Cintra e Aoki, 2010)

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Parâmetro β (Cintra e Aoki, 2010)

Teixeira (1996) apresentou valores de resistência geotécnica lateral (rL)


para solos com índice SPT menores que 3. O autor estudou depósitos de argilas
fluviolagunares e de argilas transicionais. Uma tabela com os valores típicos é
apresentada a seguir.
Valores de rL para solos moles (Cintra e Aoki, 2010)

2.2.4. Método de Lizzi (1982) - Microestacas, estacas injetadas e estacas raiz

O método de Lizzi considera somente a resistência do fuste e propõe que


a capacidade de carga seja obtida por:
𝑹 = 𝑼 × 𝜮 × 𝑲 × 𝑰 × 𝜟𝑳
Onde U é o perímetro, K é o fator que depende do solo em uma dada
camada i, I é um fator adimensional que depende do diâmetro efetivo da estaca e
ΔL é comprimento do segmento da estaca.

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Valores K em função da condição do solo (Lizzi, 1982)

Valores de I em função do diâmetro efetivo da estaca

Carvalho e Cintra (1993) ajustou os valores de K em função do número de


golpes SPT de solos usuais Brasil a partir de valores de ensaios SPT e resultados
de provas de carga.
Valores K em função da condição do solo (Carvalho e Cintra, 1993)
Solo NSPT K (kPa)
Solo mole 0–3 50
Solo fofo 4 – 10 100
Solo mediamente compacto 11 – 25 150
Solos muito rijos, pedregulhos, areias >25 200

2.2.5. Método de Alonso (2008) – Estacas Metálicas

Alonso (2008) propôs um método semiempírico exclusivo para capacidade


de carga em estacas metálicas a partir da proposição de Schenck (1966), baseado
em 57 provas de carga estáticas constituídas por perfis metálicos simples e duplos,
tubos e trilhos e inclusive duas dessas provas de carga foram instrumentadas ao
longo da profundidade.
A carga de ruptura geotécnica PR de uma estaca metálica é obtida por:
𝑹 = 𝒓𝑷 × 𝑨𝑷 + 𝑼 × 𝜮𝒇𝑺 × 𝑳𝒊
Onde rP é a resistência geotécnica de ponta, AP é a área de ponta, U é o
perímetro da seção transversal, fS é a resistência lateral de ponta e Li é o
comprimento de solo onde pode-se admitir fS constante.

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A partir de várias tentativas de ajustar o equacionamento foi avaliado que
a área da ponta que contribui com a capacidade geotécnica é diferente da área da
seção transversal do perfil metálico. Isso se dá pelo fato que existe um certo
“embuchamento” do solo durante a cravação da estaca. Quanto maior a resistência
do solo maior o efeito do “embuchamento” e consequentemente maior é a área
circunscrita da estaca.

Área de ponta da estaca metálica que contribui com a capacidade de carga


geotécnica (Alonso, 2008)

Para estacas do tipo trilho de trem pode-se utilizar a área do círculo


circunscrito a estaca.
Em relação aos valores de rP e fS, Alonso (2008) sugeriu os valores
apresentados a seguir.
Resistência de ponta e lateral (Alonso, 2008)

2.2.6. Antunes e Cabral (1996) – Estacas Hélice Contínua

Os autores sugerem que a capacidade de carga para estacas do tipo HC seja


estimada com a formulação a seguir:
𝑹 = (𝜷′𝟐 × 𝑵𝒃 ) × 𝑨𝒃 + 𝑼 × 𝜮(𝜷 𝟏 × 𝑵) × 𝜟𝑳

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Onde β’2 e β’1 são fatores que dependem do tipo de solo, Nb é o valor
médio do índice de resistência à penetração na ponta ou na base da estaca obtido
a partir da média de três valores: NSPT da ponta da estaca, NSPT da camada
imediatamente inferior e o NSPT da camada imediatamente superior e Ab é a área
da ponta. N é o valor médio do índice de resistência à penetração ao longo do
fuste.
Os valores de N menores que 4 devem ser considerados igual a 4 e os
maiores que 40 devem ser considerados iguais a 40.
Valores de β’2 e β’1 conforme Antunes e Cabral (1996) apud Velloso e Lopes (2012)

3. Métodos de Previsão de Capacidade de Carga – Métodos Dinâmicos

As fórmulas dinâmicas são os métodos mais antigos e usados com mais frequência
na estimação da resistência mobilizada das estacas cravadas. Todas essas fórmulas
relacionam a resistência mobilizada última para uma determinada penetração
permanente no solo para cada golpe do martelo (nega) e assume que a resistência à
cravação é igual à capacidade de carga da estaca sob carregamento estático.
Como critério objetivo de parada, atende-se a tradicional nega de cravação, o
deslocamento ou penetração permanente por golpe de cravação da estaca, com valor
geralmente especificado em projeto de 1mm/golpe a 3mm/golpe ou 10mm/10golpes
a 30 mm/10 golpes (sua medida em campo é usualmente medida por meio de 10
golpes consecutivos.
No início da cravação a nega geralmente é alta, o que indica uma ruptura do solo.
Enquanto houver negas de cerca de 10% do diâmetro da estaca (Critério de Ruptura
de Terzaghi), tem-se a ruptura do sistema solo-estaca, isto é, houve a mobilização
máxima da resistência geotécnica. Quando os deslocamentos são inferiores a esse
valor implica dizer que a energia de cravação utilizada é insuficiente para provocar a
ruptura do sistema solo-estaca, mobilizando apenas parte da resistência geotécnica e
não o seu valor máximo.

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Nega para 10 golpes (sinal superior) e Nega para um golpe isolado (sinal inferior)

O uso das formulações dinâmicas objetiva (1) estabelecer uma carga de trabalho
confiável para uma estaca usando os registros de cravação da estaca (nega) e (2)
determinar os requerimentos de parada da cravação (nega), para uma determinada
carga de trabalho.
O conceito por trás das fórmulas dinâmicas se baseia no princípio da conservação
de energia. Em ouras palavras, iguala-se a energia potencial do martelo ao trabalho
realizado na cravação da estaca.
𝑾×𝒉= 𝑹×𝒔
Onde W é o peso do martelo, h é a altura do martelo, R é a resistência a cravação
e s é a penetração permanente ou nega.

Desde o início, reconheceu-se que existem perdas de energia por diferentes


motivos: (1) atrito entre o martelo nas guias do bate-estaca (2) atrito dos cabos nas
roldanas (3) repique do martelo (4) deformação elástica do amortecedor na cabeça da
estaca (5) deformação elástica da estaca (6) deformação elástica do solo.

A partir do conceito de conservação de energia e da perda de energia por meio do


choque (Lei do Choque de Newton) diversas formulações foram elaboradas. As mais
usuais são:

𝑾𝟐 .𝑯
 Fórmula dos Holandeses (Woltmann): 𝑸𝒖 = 𝑺.(𝑾 𝑷)

𝑾𝟐 .𝑷.𝑯
 Fórmula de Brix: 𝑸𝒖 = 𝑺.(𝑾 𝑷)𝟐
𝑾.𝑯
 Fórmula do Engineering News: 𝑸𝒖 = 𝑺 𝒄𝒒

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Onde: W= massa do martelo (kg); P = massa da estaca (kg); H = altura de queda


do martelo (cm); S = nega (cm/golpe); cq = 2,54 cm para martelo de gravidade e 0,0254
cm para martelo à vapor.

Em termos de cargas admissíveis deve-se aplicar o coeficiente de segurança que


varia em função de carda formulação.

 Fórmula dos Holandeses (Woltmann): O fator de segurança a se adotar


deve ser igual a 10 para martelo de gravidade e 6 para martelo a vapor;
 Fórmula de Brix: Com fator de segurança igual a 5;
 Fórmula do Engineering News: O fator de segurança a se adotar deve ser
igual a 6.

4. Fatores de Segurança - NBR 6122/2010

Existem dois métodos usados para avaliação da segurança mencionados na NBR


6122/2010: (1) Método dos Valores Admissíveis e (2) Método dos Valores de Projeto.
No primeiro caso, as cargas de ruptura são divididas por um fator de segurança global:
𝑹𝒖𝒍𝒕
𝑹𝒂𝒅𝒎 ≤ 𝑭𝑺 e 𝑹𝒂𝒅𝒎 ≥ 𝑨𝑲
𝒈𝒍𝒐𝒃𝒂𝒍

Onde: Radm é a carga admissível no estaqueamento, Rult representa a carga de


ruptura característica, Ak representa as ações características e FSglobal é o fator de
segurança global.
Por outro lado, no segundo caso, as cargas de ruptura são divididas pelo
coeficiente de minoração das resistências e as ações multiplicadas por fatores de
majoração:
𝑹𝒖𝒍𝒕
𝑨𝒌 × 𝜸𝒇 ≤ 𝑹𝒅 𝒆 𝑹𝒅 =
𝜸𝒎
Onde: Ak é a carga de trabalho característica (solicitação), Rd é a carga de ruptura
de projeto (resistência), Rult é a carga de ruptura característica (resistência) e γm é o
fator de segurança parcial (fator de minoração) para fundações profundas.
Para a determinação da carga admissível nas estacas sem prova de carga (1) a
norma NBR 6122/2010 recomenda aplicar um fator de segurança global não inferior
a 2,0 a carga de ruptura para fundações profundas (Método dos Valores Admissíveis).
O uso do fator de segurança 1,6 é possível quando se dispõe do resultado de um
número mínimo de provas de carga determinado em norma, em elementos

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representativas da fundação. Além disso, as provas de carga devem ser executadas em
fase de projeto ou de adequação deste antes do início da obra.
Fatores de segurança globais (Velloso e Lopes, 2012)

A norma também flexibiliza a adoção de fatores de segurança parciais (2). Nesse


caso, a NBR 6122/2010 recomenda aplicar um fator de segurança parcial de 1,4 para a
carga resistente de projeto. O uso do fator de segurança 1,14 é possível quando se dispõe
do resultado de um número mínimo de provas de carga determinado em norma, em
elementos representativas da fundação.

Fatores de segurança parciais (Velloso e Lopes, 2012)

A NBR 6122/2010 flexibiliza o FS dependendo do número de investigações


geotécnicas representativas da região ou do número de provas de carga representativas
do estaqueamento. Tais análises serão citadas a seguir.

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4.1. Considerações do número de investigações ou de provas de carga

Quando se deseja considerar o número de investigações ou o número de provas


de carga executadas na fase de projeto a norma propõe um procedimento mais
detalhado.
Em relação ao uso dos métodos semiempíricos a norma estabelece a obtenção
da resistência característica do elemento de fundação de duas formas: (1) com valores
característicos dados pelas médias dos parâmetros (Rk, médio) e (b) com os valores
dados pelos mínimos parâmetros (Rk, mín). Ambas divididas por fatores de minoração
(𝝃𝟏 e 𝝃𝟐 ).
Em relação ao uso de resultados de provas de carga a norma estabelece a
obtenção da resistência característica do elemento de fundação de duas formas: (1)
com valores característicos dados pelas médias dos parâmetros (Rk, médio) e (b) com os
valores dados pelos mínimos parâmetros (Rk, mín). Ambas divididas por fatores de
minoração (𝝃𝟑 e 𝝃𝟒 ).

A resistência característica mínima será dada então por:


𝑹𝒌,𝒎é𝒅 𝑹𝒌,𝒎í𝒏
𝑹𝒌 = 𝑴í𝒏[ , ]
𝝃𝟏 𝝃𝟐

Ou

𝑹𝒌,𝒎é𝒅 𝑹𝒌,𝒎í𝒏
𝑹𝒌 = 𝑴í𝒏[ , ]
𝝃𝟑 𝝃𝟒

Sendo:
Fatores de minoração da resistência (Velloso e Lopes, 2012)

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Para a obtenção do valor da resistência admissível de projeto, o valor da
resistência característica do elemento de fundação (sob cargas axiais de compressão)
obtido por qualquer um dos dois métodos (investigação geotécnica ou provas de carga)
deve ser dividido por um fator de segurança igual a 1,4 (Método dos Valores
Admissíveis).
Vale ressaltar que se a análise for feita em termos de fatores de segurança parciais
(Método de Valores de Projeto), esta resistência característica não precisa ser dividida
por nenhum fator de minoração para a obtenção do valor da resistência de projeto do
elemento de fundação.
Uma outra observação pertinente é que a norma também aceita os coeficientes de
segurança preconizados pelos autores dos métodos semiempíricos clássicos de obtenção
de capacidade de carga de um elemento de fundação. Para o método de Aoki e Velloso
(1975) os autores adotam o mesmo coeficiente global da norma:
𝑹𝒖𝒍𝒕 𝑹𝑳 + 𝑹𝑷
𝑹𝒂𝒅𝒎 = =
𝟐 𝟐
Onde Radm é a carga admissível do estaqueamento, Rult é a carga de ruptura
característica, RL é a carga característica lateral e RP é a carga característica de ponta.
Já Décourt e Quaresma (1978) utilizam fatores de segurança globais diferentes
para carga lateral e de ponta, sendo a carga admissível:
𝑹𝑳 𝑹𝑷
𝑹𝒂𝒅𝒎 = +
𝟏, 𝟑 𝟒
Por último, Teixeira (1996) adota FS=2,0 para estacas cravadas (semelhante a
norma) e para estacas escavadas o valor de:
𝑹𝑳 𝑹𝑷
𝑹𝒂𝒅𝒎 = +
𝟏, 𝟓 𝟒
É relevante também a citação da NBR 6122/2010 quanto a carga admissível de
estacas escavadas. A mesma preconiza que no máximo 20% da carga admissível pode ser
suportada pela ponta da estaca o que equivale a um mínimo de 80% para a resistência
lateral.
𝑹𝑳 ≥ 𝟎, 𝟖 × 𝑹𝒂𝒅𝒎
𝑹𝒂𝒅𝒎 ≤ 𝟏, 𝟐𝟓 × 𝑹𝑳
Quando superior a esse valor, o processo executivo de limpeza da ponta deve ser
especificado pelo projetista e ratificado pelo executor.
5. Metodologias de Projeto

Aoki e Cintra (2000) descrevem três tipos básicos de metodologia de projeto.


5.1. Primeira Metodologia

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Nessa abordagem fixa-se o valor da carga admissível igual à carga de catálogo
da estaca a ser utilizada:
𝑹𝒂𝒅𝒎 = 𝑹𝒄𝒂𝒕á𝒍𝒐𝒈𝒐

Onde Rcatálogo é a carga admissível estrutural do elemento estrutural da


fundação (estaca propriamente dita). Alguns valores típicos para os diversos tipos de
estacas são tabelados a seguir.
Carga de Catálogo (Cintra e Aoki, 2010)

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Carga de Catálogo (Cintra e Aoki, 2010)

Sendo assim, a carga de ruptura geotécnica (Rult) terá que ser pelo menos duas
vezes a carga de catálogo.
Rult = Rcatálogo x FS
Posteriormente, para cada furo de sondagem, estima-se a profundidade necessária
(L) a partir de um método de cálculo de capacidade de carga, garantindo o valor de Rult.

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Nesse método, todos os valores de capacidade de carga e, consequentemente o
valor médio serão iguais, implicando na ausência de dispersão de valores de resistência.
5.2. Segunda Metodologia

Quando existe uma limitação do equipamento quanto ao comprimento de


execução da estaca, estabelece-se um comprimento máximo (Lmáximo) possível para
a mesma.
De modo semelhante, a posição do nível d’água pode ser um fator
determinante para caracterizar a máxima posição exequível da estaca.
Sendo assim, adota-se um comprimento máximo:
L = Lmáx
Posteriormente, calcula-se a capacidade de ruptura geotécnica (Rult) para esse
comprimento por um dos métodos semiempíricos. A carga admissível do
estaqueamento será:
𝑹𝒖𝒍𝒕
𝑹𝒂𝒅𝒎 =
𝑭𝑺

Assim, para cada furo de sondagem, tem-se um valor de capacidade de carga.


5.3. Terceira Metodologia

Segue a mesma linha de raciocínio da metodologia anterior, porém com a


diferença que a limitação nessa metodologia é devida à ineficiência do equipamento
para penetrar no solo. Para cada tipo de estaca existe uma faixa de variação de valores
de NSPT que provocam a parada da execução da mesma. Alguns desses valores podem
ser visualizados a seguir:

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Sendo assim, existe um NSPT limite para cada tipo de estaca, o que caracteriza
um determinado comprimento de execução em campo.
Nlimite implica em um determinado comprimento L
Posteriormente calcula-se a capacidade de ruptura geotécnica (Rult) para esse
comprimento por um dos métodos semiempíricos. A carga admissível do
estaqueamento será:
𝑹𝒖𝒍𝒕
𝑹𝒂𝒅𝒎 =
𝑭𝑺
Logo, para cada furo de sondagem, tem-se um valor de capacidade de carga.

5.4. Número mínimo necessário de estacas por pilar e efeito de grupo

O número mínimo de estacas necessárias para transmitir ao solo a carga P de


um pilar qualquer será:
𝑷
𝑵𝒆𝒔𝒕𝒂𝒄𝒂𝒔 ≥
(𝑷𝒂𝒅𝒎 𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒕𝒖𝒓𝒂𝒍 𝒐𝒖 𝑹𝒂𝒅𝒎 𝒈𝒆𝒐𝒕é𝒄𝒏𝒊𝒄𝒂 ) ×𝒆

Onde P é a carga total do pilar, Padm – estrutural é a carga admissível estrutural


da estaca, Radm – geotécnica é a carga admissível geotécnica e e é a eficiência do grupo
de estacas.
Sendo assim, a capacidade de carga do grupo de estacas é dada pela fórmula:
𝑵𝒈𝒓𝒖𝒑𝒐 = 𝑵𝒆𝒔𝒕𝒂𝒄𝒂𝒔 × (𝑷𝒂𝒅𝒎 𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒕𝒖𝒓𝒂𝒍 𝒐𝒖 𝑹𝒂𝒅𝒎 𝒈𝒆𝒐𝒕é𝒄𝒏𝒊𝒄𝒂 ) ×𝒆

Deseja-se então uma elevada eficiência de grupo. A questão é que como


melhorar a eficiência de grupo. A eficiência de grupos de estacas depende do
espaçamento entre elas. Quando as estacas do grupo se encontram próximas umas das
outras a eficiência decresce. Já quando estão distantes a eficiência aumenta.
Entretanto, ao se distanciar as estacas umas das outras o bloco de coroamento terá
suas dimensões também aumentadas o que gera um aumento do custo associado.
Poucos estudos experimentais para estimar a eficiência de grupos de estacas
foram realizados no mundo e, portanto, é uma área que necessita de mais pesquisas.
Ressalta-se o estudo de Feld o qual consiste em descontar 1/16 de cada estaca do
grupo, para cada estaca vizinha a ela, na mesma fila ou em diagonal.
Grupo de estacas Eficiência (e)
2 0,94
3 0,87
4 0,82
5 0,80
6 0,77

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A American Association of State Highway and Transportation (AASHTO,
1992) sugere alguns valores típicos de eficiência de grupo conforme a distância eixo
a eixo entre estacas. Os valores podem ser visualizados a seguir.
Eficiência de grupo de estacas em solos argilosos AASHTO (1992) apud Rajapakse
(2007)

Eficiência de grupo de estacas em solos arenosos AASHTO (1992) apud Rajapakse


(2007)

Vale ressaltar que a NBR 6122/2010 preconiza que a carga admissível ou


carga resistente de grupo de estacas ou tubulões não pode ser superior à de uma sapata
hipotética de mesmo contorno que o do grupo e assente a uma profundidade acima da
ponta das estacas ou tubulões em 1/3 do comprimento de penetração na camada de
suporte.
Considerações da NBR 6122/2010 acerca do efeito de grupo de estacas

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6. Tópicos sobre estacas submetidas a esforços axiais de tração

Na engenharia de fundações existem inúmeras situações em que se recorre ao


emprego de estacas tracionadas. A mais corriqueira é quando esse tipo de fundação
serve como base para estruturas de porte delgado e esbelto, como por exemplo linhas
de transmissão.
O esforço de tração em torres de linha transmissão corresponde ao resultado dos
momentos que tendem a tombar a torre. Tais solicitações podem ser ocasionadas
devido aos seguintes fatores:
 Esforços de vento na própria torre ou cabo;
 Eventuais rupturas de cabos;
 Desequilíbrio de esforços nos cabos de ancoragem e nas torres de ângulo.
Outras situações em que ocorre o emprego de elementos de fundações resistentes
à tração são: (1) fundações de plataformas marítimas de petróleo (2) fundações de
estruturas leves industriais (3) obras de contenção submetidas ao empuxos laterais de
água ou solo entre outras.
Observa-se então que esse tipo de esforço pode ocorrer diante ações acidentais (no
caso da ação do vento), assim como existem situações em que essas ações são
permanentes (empuxos de terra ou de água).

6.1. Comportamento de estacas tracionadas

A carga de ruptura geotécnica de uma estaca tracionada pode ser estimada como
sendo o peso próprio do elemento de fundação somado ao peso de uma massa de solo
contida no interior da superfície de ruptura e a resistência por cisalhamento que ocorre
na superfície de ruptura (Paschoalin Filho, 2008).
Prováveis superfícies de ruptura de uma estaca tracionada (Velloso e Lopes, 2012)

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Este problema nem sempre é de fácil resolução, pois a quantificação do peso do


solo deverá ser função do formato da superfície de ruptura, o que ainda representa
ponto de discussão importante entre os projetistas de fundações. Outra dificuldade
consiste na determinação dos parâmetros de resistência ao cisalhamento desta
superfície, pois estes dependerão tanto de características geomecânicas do solo como
do tipo e da maneira de execução da fundação (Paschoalin Filho, 2008).
Uma prática bem comum entre os projetistas de fundações consiste em estimar a
resistência lateral de uma estaca submetida à esforços de tração, admitindo-se ruptura
pela ligação estaca/solo, como sendo uma porcentagem da resistência da mesma
estaca caso esta fosse comprimida. Dessa maneira, são utilizados para a avaliação da
resistência lateral de estacas tracionadas métodos já consagrados desenvolvidos para
condições de esforços compressivos, simplesmente aplicando-se um fator de redução
percentual (Paschoalin Filho, 2008).
É comum adotar um valor reduzido em relação àquele calculado para as estacas a
compressão, uma vez que dados mostram uma redução considerável na capacidade
de carga quando se reverte compressão para tração, especialmente no caso de
carregamentos cíclicos (Veloso e Lopes 2012 apud Tomlinson, 1994).
Os autores em geral recomendam certa cautela na escolha das cargas admissíveis
de tração, considerando muitas vezes uma redução da resistência lateral em 30% em
relação à admissível de compressão, ou ainda a adoção de um fator de segurança
superior (FS = 2,5).
McClelland (1972) apud Orlando & Maffei (2000) sugere que se adote o atrito
lateral a tração (Rlt) como 70% do atrito lateral a compressão (Rlc)

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6.2. Resultado de algumas pesquisas

Carvalho et al (1991) apud Paschoalin Filho (2008) obtiveram atrito lateral a


tração da ordem de 84% do valor do atrito lateral de compressão ao se estudar estacas
tipo raiz executadas no Campo Experimental da Escola de Engenharia de São Carlos.
Carneiro et al (1994) apud Paschoalin Filho (2008) obtiveram para estacas
apiloadas e escavadas tipo broca executadas no Campo Experimental de Fundações
da EESC/USP, valores de atrito lateral a tração da ordem de 85% do atrito lateral a
compressão.
Para Beringen et al (1979) apud Carneiro (1994), para as estacas cravadas em
areia densa, pré-adensada, a razão de atrito lateral à tração e à compressão situa-se
entre 0,65 e 0,76, com média para 0,7.
Paschoalin Filho (2008) obteve valores de atrito lateral a tração da ordem de 91%
do valor do atrito lateral de compressão ao se estudar estacas tipo raiz, ômega,
escavada, hélice contínua e pré-moldada de concreto (todas instrumentadas)
executadas no Campo Experimental da Escola de Engenharia de São Carlos.
Para um estudo mais detalhado do comportamento de elementos de fundações em
estacas submetidas a esforços axiais de tração recomenda-se além da leitura das
pesquisas acima descritas, os trabalhos a seguir:
 Danziger (1983) Capacidade de carga de fundações submetidas a esforços
verticais de tração, Mestrado, COPPE/UFRJ;
 Orlando (1985) Fundações submetidas a esforços verticais axiais de
tração. Análise de provas de carga de tubulões em areais porosas,
Mestrado, POLI/USP;
 Ruffier dos Santos (1985) Análise de fundações submetidas a esforços de
arrancamento pelo método dos elementos finitos, Mestrado,
COPPE/UFRJ;
 Oliveira (1986) Ensaios “in situ” de resistência ao arrancamento de placas
horizontais reduzidas, Mestrado, COPPE/UFRJ;
 Davisson Dias (1987) Aplicação de pedologia e geotecnia em projeto de
linhas de transmissão, Doutorado, COPPE/UFRJ;
 Orlando (1999) Contribuição ao estudo da resistência de estacas
tracionadas em solos arenosos. Análise comparativa da resistência lateral
na tração e na compressão, Doutorado, POLI/USP;
 Ruffier dos Santos (1999) Capacidade de carga de fundações submetidas
à esforços de tração em taludes, Doutorado, COPPE/UFRJ.

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