Vous êtes sur la page 1sur 9

14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.

br | Jus Navigandi

Este texto foi publicado no Jus no endereço https://jus.com.br/artigos/30616


Para ver outras publicações como esta, acesse https://jus.com.br

Os direitos humanos garantidos aos portadores de transtornos


mentais e a contrastante condição a que são submetidos
Os direitos humanos garantidos aos portadores de transtornos mentais e a contrastante
condição a que são submetidos

Josilene Barbosa Aboim

Publicado em 08/2014. Elaborado em 11/2011.

Os hospícios estão sendo substituídos por alternativas que asseguram


tratamentos mais humanitários, como centros de atenção psicossocial, serviços
residenciais terapêuticos e centros de convivência, entre outros.

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo informar e promover esclarecimentos sobre os
direitos humanos pertencentes a uma parcela da sociedade que ainda é vista com preconceito: os
portadores de transtornos mentais. Tomando como base a Lei Nº 10.216 que trata da Reforma
Psiquiátrica e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o texto mostra tratamentos mais
humanitários, totalmente diversos dos propostos pelos hospícios do país que constantemente violam os
Direitos Humanos. Além de esclarecer maneiras de garantir à pessoa portadora de transtornos mentais
a sua reinserção na sociedade e o acesso pleno aos seus direitos, o trabalho também questiona as
“Medidas de Segurança” em vigor no país.

Palavras-chave: Direitos Humanos; Lei Nº 10.216; Portadores de transtorno mental;

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO; 2. PERCEPÇÕES ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS; 3. QUEM É


CONSIDERADO PORTADOR DE TRANSTORNOS MENTAIS; 4. MEDIDAS DE SEGURANÇA; 4.1.
Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico; 4.2. Tratamento ambulatorial; 5.
BREVES RELATOS DE CASOS DE DOENTES MENTAIS QUE TIVERAM SEUS DIREITOS
VIOLADOS; 5.1. Damião Ximenes; 5.2. Sandro Costa Fragoso; 5.3 Rute Helena; 6. LEI DA REFORMA
PSIQUIÁTRICA; 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS; 8. REFERÊNCIAS.

1. INTRODUÇÃO

Com o surgimento dos primeiros hospícios no Brasil, a partir de 1852, os portadores de transtornos
mentais até então considerados criminosos em potencial, agressivos por natureza ou até mesmo figuras
demoníacas, passaram a ser enclausurados nestas verdadeiras prisões, limitando quase que
integralmente os seus direitos à liberdade, à voz, à saúde, à cidadania, inclusive perdendo, por vezes, o
seu direito à vida. Nesse diapasão, “o que se viu e se vê, na prática, é o agravamento da condição
psicótica e a perda da possibilidade de retorno social ao louco que penetra nesse sistema.”.
(JACOBINA, 2003, p. 59)[1]

No decorrer dos anos, com uma maior valorização e, consequentemente, maior conhecimento acerca
dos direitos humanos, constatou-se que essa parcela da sociedade deveria ser tratada de maneira
ímpar. No entanto, o que se nota na grande maioria das vezes é um abandono desta, que é

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 1/9
14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.br | Jus Navigandi

impiedosamente esquecida em hospícios, sem o tratamento adequado, aliado à falta de higiene, fome,
profissionais despreparados e lugares inóspitos, sendo este o cenário comum do sistema de saúde
voltado às pessoas portadoras de transtornos mentais e também aos chamados loucos infratores.

Para tentar contornar essa situação que se arrasta por séculos e tentar garantir a estas pessoas os seus
direitos fundamentais, o Ministério da Saúde e alguns setores da sociedade deram partida à chamada
Luta Antimanicomial - que possui como data comemorativa o dia 18 de maio e completa 25 anos no
corrente ano. A partir de então, houve uma série de ações que culminaram na Reforma Psiquiátrica,
como as Conferências Nacionais de Saúde Mental e o Congresso Nacional do Movimento de
Trabalhadores em Saúde Mental.

Hoje, a luta é também voltada para garantir os direitos obtidos nesta Reforma e reinserir o portador de
transtorno mental na sociedade como um cidadão de fato, com direitos e deveres.

2. PERCEPÇÕES ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS

Direitos Humanos fundamentais são, sobretudo, os direitos pertencentes a qualquer cidadão. A partir
do início da vida até o seu término, os cidadãos possuem direitos invioláveis. Segundo o art. 5º da
Constituição Federal de 1988, que possui a seguinte redação:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]

Este dispositivo trata dos direitos inalienáveis dos seres humanos independentemente de cor, religião,
sexo ou idade. Em suma, são os direitos à vida, à liberdade, à saúde, à integridade física, à educação, à
segurança, à moradia, ao voto entre tantos outros. Configuram-se como atentados a esses direitos: a
pena de morte, a tortura, a discriminação e o preconceito.

Ademais, há outro texto normativo que abrange também essa temática, no entanto, de maneira global:
a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Proposta pela Organização das Nações Unidas, ela
iniciou a chamada “Concepção Contemporânea de Direitos Humanos” (POIVESAN, 2006, p. 6) que
arrola o seguinte:

A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser
atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e
cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através
do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela
adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o
seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos
próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Isto posto, entende-se que, conforme dispõe o primeiro artigo da Declaração, “Todas as pessoas
nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. Portanto, devem-se excluir todas as formas de
preconceito e discriminação, ainda que a História demonstre que o que tem ocorrido é exatamente o
contrário.

A partir da Declaração, é possível perceber a relevância da temática dos direitos humanos, perpassando
inclusive pelo âmbito internacional. Desde então proclamada – e até mesmo antes dela - uma série de
tratados e pactos internacionais foram firmados a fim de garanti-los em todo o planeta, como por
exemplo, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a convecção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação e a Convenção Europeia de Direitos do Homem. Nesse sentido, um
importante conceito foi discutido na Conferência dos Direitos Humanos em Viena no ano de 1993: a
indivisibilidade dos Direitos Humanos. No dizer de Piovesan (2006, p.8):

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 2/9
14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.br | Jus Navigandi

[...] a chamada concepção contemporânea de direitos humanos, marcada pela


universalidade e indivisibilidade destes direitos. (...) Indivisibilidade porque a garantia
dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais,
econômicos e culturais e vice-versa. Quando um deles é violado, os demais também o
são. Os direitos humanos compõem, assim, uma unidade indivisível, interdependente e
inter-relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis e políticos ao catálogo
de direitos sociais, econômicos e culturais. [grifos nossos]

Deste modo, é de clara conclusão de que, além do caráter indivisível, os direitos humanos são
interdependentes e universais, o que os torna mais unos e, ao mesmo tempo, indispensáveis.

Ingressando no ordenamento pátrio, há diversas leis específicas - obtidas geralmente pela luta de
grupos sociais - que garantem o que está disposto no art. 5º da Constituição Federal de 1988 e na
Declaração dos Direitos Humanos, a saber: Lei Maria da Penha, Estatuto do Índio, Lei de Crimes
Ambientais, inclusive a que será destacada neste trabalho: a Lei da Reforma Psiquiátrica. Afunilando
ainda mais, apenas a caráter informativo, o sistema normativo brasileiro possui leis mais específicas,
que tratam exatamente desta Reforma, como o Programa Nacional de Direitos Humanos e o Plano
Nacional de Educação em Direitos Humanos.

3. QUEM É CONSIDERADO PORTADOR DE TRANSTORNOS MENTAIS

De Machado de Assis[2] a Foucault[3], a loucura sempre instigou a compreensão humana. Antes tida
como misteriosas e indecifráveis, as doenças mentais, aos poucos, foram sendo estudadas e respostas,
até então improváveis, obtidas. Hoje, a doença mental pode ser definida como uma “variação mórbida
do normal, variação esta capaz de produzir prejuízo na performance global da pessoa (social,
ocupacional, familiar e pessoal) e/ou das pessoas com quem convive” (BALLONI, 2008), sendo, assim,
na concepção do autor, resultantes da interação de alguns fatores: o biológico, o psicológico, o social.

Sassaki (2005, apud TORRES, 2007, p. 27) ressalta que hoje, ainda que haja controvérsias, há uma
tendência de mudar o termo “deficiência mental” para o “deficiente intelectual”, restringindo, então, ao
intelecto e não a todo o funcionamento da mente. No entanto, acredita-se que a mudança de termos,
ainda que pertinente, não é o mais relevante a ser feito. Olhado sob qualquer ângulo, o deficiente deve
ter seus direitos garantidos, afastando-o de qualquer preconceito, inclusive de nomenclatura, se assim
pode-se dizer.

Partindo para a listagem de alguns dos transtornos mentais, a International Classification of Diseases
(ICD) 10, em seu capítulo V, trata dos transtornos mentais e comportamentais, quais sejam: Demência
na doença de Alzheimer, demência vascular, esquizofrenia, transtornos causados dependência química,
transtorno de personalidade paranoide, os portadores da doença de Huntington, retardo mental,
transtornos esquizoafetivos, fobia social, autismo, psicopatia, transtorno de personalidade paranoide,
entre tantos outros.

Nesse sentido, alguns sintomas são típicos para diagnosticar os transtornos. Entre eles: delírio,
alucinações, depressão, atitudes maníacas, convulsões, dupla personalidade, mudança repentina de
humor, retardo mental, perda de memória, palavras desconexas e a irritabilidade

A partir do diagnóstico do transtorno mental específico - que inclui entrevista e exames clínicos -, o
portador deve ser encaminhado aos centros de atenção psicossocial, às unidades psiquiátricas em
hospitais gerais e para diversos outros centros que ainda serão abordados no trabalho. Vale sublinhar
que o mais importante é evitar os hospícios, posto que a maioria não possui estrutura para receber
humanitariamente os doentes mentais.

4. MEDIDAS DE SEGURANÇA.

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 3/9
14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.br | Jus Navigandi

O Código Penal Brasileiro prevê como sanção – que não pode ser confundido com pena –, ao louco
infrator, o que está empregado em seu artigo 41: “O condenado a quem sobrevém doença mental deve
ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento
adequado”. Dessa forma, uma maneira sui generis de punir os infratores que não possuem o total
discernimento de seus atos - tanto os inimputáveis como os semi imputáveis - é aplicar as chamadas
Medidas de Segurança. Elas apenas são direcionadas àqueles que passaram previamente por um exame
que possui como tópicos o preâmbulo, identificação, histórico criminal, razões da perícia, anamnese e o
exame psíquico, determinando a insanidade mental.

Prima facie, parece de razoável senso definir qual a finalidade das medidas de segurança. No intelecto
de Rogério Greco (2011, p. 219):

As medidas de segurança têm uma finalidade diversa da pena, pois se destinam à cura
ou, pelo menos, ao tratamento daquele que praticou um fato típico e ilícito. Assim
sendo, aquele que for reconhecidamente declarado inimputável, deverá ser absolvido.

Em redação clara do código penal brasileiro, em seu artigo 96, há duas divisões das Medidas de
Segurança, a saber: Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e tratamento
ambulatorial. A seguir, estas alternativas serão expostas separadamente.

4.1. INTERNAÇÃO EM HOSPITAL DE CUSTÓDIA E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO.

No artigo do CP retro exposto, em face da imputabilidade, o agente do ato delituoso deverá receber um
acompanhamento psiquiátrico. Caso não haja um hospital disponível, o tratamento deve ser feito em
um estabelecimento adequado. Nesse sentido, o deficiente mental deveria, na teoria, receber um
tratamento psiquiátrico apropriado a fim de reinseri-lo na sociedade. No entanto, o que se nota na
prática são lugares inóspitos, sem um mínimo de higiene, “profissionais” inaptos e o mais repulsivo: o
abandono dos deficientes mentais, o que acontece principalmente pelo fato destes estabelecimentos
serem pouco inspecionados pelos agentes competentes.

4.2. TRATAMENTO AMBULATORIAL.

Primeiramente, o art. 97 do Código Penal prevê como prazo a esse tratamento:

§ 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado,


perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de
periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. [grifos nossos]

Neste caso, conclui-se que, no caso do internado não apresentar a cessação de periculosidade, poderá
haver um prolongamento de prazo, sem limite algum, uma vez que o artigo em epígrafe não explicita
um prazo máximo. Analisando sob esse ângulo, a internação funcionaria como uma espécie de prisão
perpétua - o que a Constituição Federal repudia no art. 5º, XLVII, alínea b[4] -, onde os “excluídos
socialmente” são deixados.

Conforme o art. 99 do Código Penal que trata sobre os Direitos do Internado, dispõe o seguinte: “O
internado será recolhido a estabelecimento dotado de características hospitalares e será submetido a
tratamento.”. Na prática, o que se nota é que “ironicamente, por apresentarem ‘características
hospitalares’, os manicômios judiciários têm sido considerados ‘estabelecimentos adequados’”.
(LORENZO, 2006)

Por fim, as chamadas Medidas de Segurança possuem um caráter duplo: é absolutória, uma vez que
não aplica a pena no seu sentido literal; e condenatória, que por sua vez exige características
semelhantes à condenação (infração punível) (QUEIROZ, 2006), além de corroborar o tratamento
indigno dispensado aos portadores de transtornos mentais.

5. BREVES RELATOS DE CASOS DE DOENTES MENTAIS QUE TIVERAM


SEUS DIREITOS VIOLADOS.

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 4/9
14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.br | Jus Navigandi

5.1. DAMIÃO XIMENES.

O caso de Damião Ximenes expõe exatamente como um portador de transtornos mentais era tratado
no final do século 20. Segundo o relato de Irene Ximenes Lopes Miranda[5], irmã de Damião:

Damião Ximenes Lopes tinha 30 anos, era meigo, compreensivo, de caráter


introvertido, de olhar pensativo. Teve vida normal até seus 17 anos de idade. Em 1982
depois de sofrer uma pancada na cabeça, notamos que algo de errado acontecia com
Damião. Vez por outra ele falava coisa sem nexo.

Após esse acontecimento, o estado de Damião foi agravando aos poucos. Em certo momento, após
sucessivas crises, ele foi internado no Hospital Guararapes, onde sofria constantes agressões físicas e
psicológicas até culminar em sua morte em 4 de outubro de 1999. Dado o descaso e a morosidade no
julgamento dos culpados, os familiares de Damião Ximenes apresentaram uma petição inédita contra o
Estado brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Como condenação, o governo
Brasileiro se viu obrigado a indenizar a família e, o mais importante passo, melhorar o serviço de saúde
destinado aos que sofrem de doenças mentais.

5.2. SANDRO COSTA FRAGOSO.

Neste caso, um portador de transtorno mental também perdeu o seu maior direito: à vida. Após
terminar um namoro, o mecânico Sandro Costa Fragoso passou a ser vítima de alguns tormentos
mentais. Com o agravamento dos mesmos, alguns remédios foram receitados. No entanto, ele foi se
tornando cada vez mais agressivo até ser internado no Hospital Psiquiátrico Mílton Marinho, em Caicó
– RN.

Apenas oito dias depois da internação, no dia 17 de julho de 2002, Sandro foi encontrado morto, preso
a ataduras na cama. No quarto, destruição causada por um incêndio criminoso. O curioso é que um dos
médicos do Hospital ainda tentou defender a hipótese de suicídio, totalmente descartada em função de
Sandro estar com pés e mãos presos. [6]

5.3. RUTE HELENA.

No dia 6 de setembro de 2011, a moradora de rua identificada como Rute Helena, acometida por
doença mental, foi agredida com socos e pontapés por seguranças particulares no Mercado Ver-o-Peso
em Belém-PA. Como é demonstrado em um vídeo divulgado pela imprensa local, além de estar
despida, ela não conseguiu defender-se dos golpes.

O Ministério Público do Pará garantiu que irá investigar o caso, punir os agressores e destinar um
tratamento adequado à moradora de rua. [7]

6. LEI DA REFORMA PSIQUIÁTRICA.

Na década de 70, inicialmente influenciada pela Itália, surge uma perspectiva de mudança: a Luta
Antimanicomial. Esse movimento, que atingiu seu auge na década de 80, possuía como objetivo a
extinção dos manicômios do país, símbolo de desrespeito aos Direitos Humanos dos doentes mentais.
Seu lema era “por uma sociedade sem manicômios” e desde então, para tentar interromper a cultura de
maus tratos dispensados aos portadores de transtornos mentais, a Luta possui como vértices
principais: o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, a Proposta de Reforma Sanitária
Brasileira, o Projeto de Lei Paulo Delgado e diversos encontros e conferências promovidos pelos
idealistas do Movimento de Luta Antimanicomial. Ressalta-se, portanto, que o movimento foi subsídio
para o ápice do reconhecimento legal dos Direitos Humanos dos portadores de transtornos mentais.

Nesse sentido, para buscar um aperfeiçoamento nas garantias individuais e evitar casos semelhantes ao
de Damião Ximenes e de tantos outros, o Estado Brasileiro editou a Lei Nº 10.216, de 9 de Abril de
2001 que estatuiu legalmente a Lei da Reforma Psiquiátrica[8]. Dispõe o seguinte:

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 5/9
14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.br | Jus Navigandi

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas


necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua


saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na
comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou


não de sua hospitalização involuntária;

VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu


tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Um ponto de extrema importância foi formidavelmente tratado nesta Lei: os direitos da pessoa
portadora de transtorno mental. Em nenhum outro momento histórico estas pessoas tiveram a
oportunidade de ter um estatuto próprio, que enumera claramente o que elas têm direito.

Os incisos I e II tratam de um assunto primordial: o direito à saúde. Como foi abordado neste trabalho,
este foi um dos direitos mais violados no decorrer dos séculos. Tratados como os excluídos, “lixo
social”, os loucos, como são vulgarmente chamados, puderam sair dos hospícios do país e começaram a
receber “auxílio-reabilitação psicossocial para assistência, acompanhamento e integração social”, como
garante o art. 1º da Lei Nº 10.708, o que culminou na criação do programa intitulado “De Volta Pra
Casa”.

Já os incisos V e VIII, puderam ser garantidos a partir dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) e Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG),
objetivos da Política Nacional da Saúde Mental. Em 2007, já totalizavam 1123 CAPS e 860
Ambulatórios de Saúde Mental[9] no país.

Ademais, uma das diretrizes da PNSM é garantir aos agentes infratores loucos, um tratamento
alternativo aos manicômios judiciários. Nesse sentido, um dos pontos abordado pela Lei Nº 10.216 é a
internação:

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:

I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a


pedido de terceiro; e

III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Na voluntária, o agente deve se comprometer e assinar uma declaração que atesta que ela optou pela
internação. Na involuntária, a internação deverá ser comunicada ao Ministério Público Estadual no
prazo de 72 (setenta e duas) horas. O mesmo deverá ser feito no momento da alta. Já na internação
compulsória, o juiz deverá levar em conta as condições do estabelecimento, garantindo ao internado a

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 6/9
14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.br | Jus Navigandi

sua segurança e o total respeito aos direitos humanos. No entanto, como trata o art. 4º, a internação só
deverá ser feita em casos extremos, quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.
Deve ainda garantir o § 2º do art. 4º do mesmo texto normativo, que aduz:

O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à


pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social,
psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Como parte dos normativos específicos, a Lei da Reforma Psiquiátrica emergiu a partir da luta de
alguns setores da sociedade que notaram o extenso histórico de desrespeito aos Direitos Humanos dos
portadores de transtornos mentais. Durante séculos, essa situação perdurou sem que ninguém
interviesse. Eles tiveram que enfrentar o preconceito, os maus tratos e por vezes, a morte. Ainda que
muitos neguem, há pessoas que, ainda, acreditam que esses loucos, como muitos se referem, são
figuras demoníacas (principalmente passam pela chamada “crise”), um perigo pra sociedade, um
estorvo. Não obstante, desde que bem cuidados e tratados como cidadãos, os portadores de doenças
mentais, indubitavelmente, se adaptam, ao seu modo, às normas sociais.

De forma gradual, os hospícios estão sendo substituídos por alternativas que asseguram tratamentos
mais humanitários, conforme citado no bojo do trabalho, que se traduzem em centros de atenção
psicossocial, em serviços residenciais terapêuticos, centros de convivência, entre outros. Diminuindo,
dessa maneira, a agressividade de alguns, posto que estão sendo respeitados e medicados de forma
adequada.

Outro avanço na questão dos direitos humanos destas pessoas se refere às maneiras de inseri-los na
sociedade. Muitos atores sociais tentam de diversas maneiras proporcionar um direito essencial a eles:
a cidadania. Nesse sentido, a AMEA (Associação Metamorfose Ambulante de Usuários e Familiares do
Sistema de Saúde Mental do Estado da Bahia) põe em prática o projeto Loucura Cidadã, que tem como
objetivo garantir os direitos dos portadores de transtornos mentais. Na Bahia também há a instituição
denominada “Orgulho Louco”, que anualmente organiza uma “Parada”, de igual nome. Já o Rio Grande
do Norte possui a Associação Brasileira de Saúde Mental que, como o próprio endereço eletrônico
intitula, “trazendo perguntas, afetos e loucuras que não querem calar”. Seguindo a mesma linha, há no
Paraná a Associação Londrinense de Saúde Mental, que procura lutar pelos direitos dos que sofrem de
doenças psíquicas, principalmente o direito à saúde.

Por fim, não há óbices à conclusão de que, se todos lutarem, os doentes mentais podem perfeitamente
se inserir na sociedade, com a garantia de terem todos os seus direitos humanitariamente respeitados.
Tirando, dessa forma, os portadores de transtornos mentais das ruas e, principalmente, dos hospícios.

8. REFERÊNCIAS.

AMADOR, S.M. A Reforma Psiquiátrica Brasileira e a Luta Antimanicomial. Disponível em:


<http://www.sermelhor.com/especial/luta_antimanicomial.htm>. Acesso em 11 ago. 2011.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DA REPÚBLICA. Direito Penal da Loucura.


Boletim dos Procuradores da República. v.70, n.6, p. 16-32, abr. 2006. Disponível em: <
http://www.anpr.org.br/portal/files/boletim_70.pdf>. Acesso em 10 ago. 2011.

BALLONI, G.J. O que são Transtornos Mentais. Disponível em: <


http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=230>. Acesso em 10 de ago. 2011.

BRASIL. Lei n. 10.216, 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
mental. Lex: Publicada no Diário Oficial da União de 09 de Abril de 2001. Brasília, DF. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm>. Acesso em 8 ago. 2011.

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 7/9
14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.br | Jus Navigandi

GRECO, R. Código Penal: comentado. 5 ed. Niterói, RJ: Impetus, 2011. 1.120 p.

GRUNPETER, P. V.; COSTA, T. C.; MUSTAFÁ, M.A.M.; O Movimento da Luta Antimanicomial


no Brasil e os Direitos Humanos dos portadores de Transtornos Mentais. In: II
SEMINÁRIO NACIONAL MOVIMENTOS SOCIAIS, PARTICIPAÇÃO E DEMOCRACIA. 2007,
Florianópolis. Anais. Santa Catarina: NPMS, 2007. p. 511-518. Disponível em:
<http://www.sociologia.ufsc.br/npms/paula_v_grunpeter.pdf >. Acesso em 17 de ago. de 2011.

JACOBINA, P.V. Saude Mental e Direito: um diálogo entre a reforma psiquiátrica e o


sistema penal. 2003. 99 f.; Monografia - Fundação universidade de Brasília – Unb, Faculdade de
Direito da UnB. Disponível em:<http://www.prsp.mpf.gov.br/prdc/area-de-
atuacao/deconsoccult/Monografia%20%20Paulo%20Jacobina%20%20Saude%20Mental%20e%20Direito.pdf>
Acesso em 18 ago. 2011.

KUMMER, L.O. A psiquiatria forense e o Manicômio Judiciário do Rio Grande do Sul:


1925-1941. Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/nph/arquivos/lisete/KummerTese.pdf?
ml=3HYPERLINK "http://www6.ufrgs.br/nph/arquivos/lisete/KummerTese.pdf?
ml=3&mlt=editor&tmpl=component"&HYPERLINK
"http://www6.ufrgs.br/nph/arquivos/lisete/KummerTese.pdf?
ml=3&mlt=editor&tmpl=component"mlt=editorHYPERLINK
"http://www6.ufrgs.br/nph/arquivos/lisete/KummerTese.pdf?
ml=3&mlt=editor&tmpl=component"&HYPERLINK
"http://www6.ufrgs.br/nph/arquivos/lisete/KummerTese.pdf?
ml=3&mlt=editor&tmpl=component"tmpl=component>. Acesso em 22 ago. 2011.

LORENZO, M.P. O tratamento dos doentes mentais no HCT (Hospital de Custódia e


Tratamento). Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2623/O-tratamento-
dos-doentes-mentais-no-HCT-Hospital-de-Custodia-e-Tratamento>. Acesso em 19 ago. 2011.

LUDMILA, C. C. Guia de Direitos Humanos: Loucura Cidadã. Salvador, 2001. Disponível em: <
http://www.crp03.org.br/img/guia_dh_loucuracidada.pdf>. Acesso em 08 ago. 2011.

L’ALTO DIRITTO. Centro di documentazione su carcere, devianza e marginalità. O lugar dos


direitos humanos num manicômio judiciário. Disponível em:
<http://www.altrodiritto.unifi.it/ricerche/latina/cerqueir/cap4.htm>. Acesso em 08 de ago. 2011.

MUNDO. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de dezembro de 1948. Trata sobre os
Direitos Humanos. Assembléia Geral das Nações Unidas. Disponível em:
<http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em 9 ago. 2011.

PIOVESAN, F. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. Caderno de Direito


Constitucional. 2006. Disponível em
<http://www.trf4.jus.br/trf4/upload/arquivos/emagis_atividades/ccp5_flavia_piovesan.pdf>. Acesso
em 14 ago. 2011.

TORRES, Gustavo Oriol Mendonça; Programa de Pós-graduação em Direito. Caso Ximenes Lopes
vs. Brasil: responsabilidade do Estado e Ordem Jurídicas Internacional. 2007. 89 f.; Dissertação
(mestrado) – Universidade Federal do Pará, Centro de Ciências Jurídicas. p. 71-73.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. The ICD-10: Classification of Mental and Behavioural


Disorders, Chapter V. Disponível em: <http://www.who.int/classifications/icd/en/bluebook>.
Acesso em 17 de ago 2011.

NOTAS
[1]
Jacobina aduz ainda que a ciência em si notou que essa “abordagem tradicional”, a dizer “a entrega
do louco ao ambiente manicomial” não recupera o portador de seus transtornos mentais apenas o
“cronifica”.

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 8/9
14/02/2019 Direitos humanos dos portadores de transtornos mentais - Jus.com.br | Jus Navigandi

[2]Tira-se como exemplo a magnífica obra deste autor intitulada “O Alienista”, onde o protagonista
nomeado como Simão Bacamarte, um médico psiquiatra que se importa apenas com o seu prestígio
social, cria a Casa Verde, onde eram enclausurados os loucos da cidade de Itaguaí. No entanto, ao
aprofundar cegamente no estudo dos devaneios humanos, Bacamarte percebe, ironicamente, que o
maior louco da cidade é ele próprio e se interna no hospício, onde passa o resto de sua vida.
[3]
A obra “Histoire de la Folie à l'Âge Classique” de Foucault, aborda, de forma brilhante e cronológica,
a História da loucura no decorrer dos anos.
[4]
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes;

XLVII - não haverá penas;

b) de caráter perpétuo;
[5]
Fonte: MIRANDA, I.X.L.. Damião Ximenes. Disponível em
<http://www.apavv.org.br/casos/D/005.htm>. Acesso em 8 ago. 2011

[6]
Fonte: CORTÊS, C. Hospital psiquiátrico do Rio Grande do Norte é investigado pela polícia por
causa da morte de paciente vitimado por incêndio. Ele estava preso na cama. Revista Istoé, nº 1744,
mar., 2003. Disponível em: <http://www.istoe.com.br/reportagens/21844_CRIME+EM+CAICO>.
Acesso em 10 ago. 2011.
[7]
Fonte: SEGURANÇAS espancam mulher que pedia comida. Jornal Diário do Pará. Disponível em:
<http://www.diarioonline.com.br/noticia-165755-segurancas-espancam-mulher-que-pedia-
comida.html>. Acesso em 14 ago. 2011.

[8]
“Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o
modelo assistencial em saúde mental.”
[9]
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental em Dados – 4, ano II, nº 4. Informativo
eletrônico. Brasília: agosto de 2007. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/saude_mental_dados_numero_4.pdf>. Acesso em
15 ago. 2011.

Autor
Josilene Josilene Barbosa Aboim
Barbosa
Aboim Discente do curso de Direito na Universidade Federal do Pará e estagiária da
Defensoria Pública da União no Estado do Pará, atuando no 1º Ofício Criminal.

Informações sobre o texto


Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)

ABOIM, Josilene Barbosa. Os direitos humanos garantidos aos portadores de transtornos mentais e a
contrastante condição a que são submetidos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano
19, n. 4050, 3 ago. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/30616>. Acesso em: 14 fev. 2019.

https://jus.com.br/imprimir/30616/os-direitos-humanos-garantidos-aos-portadores-de-transtornos-mentais-e-a-contrastante-condicao-a-que-sao-s… 9/9

Vous aimerez peut-être aussi