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março de 2017
Resumo
Introdução
A conhecida “Guerra Fiscal” entre os estados brasileiros pode ser entendida como
um processo conflituoso entre governos subnacionais, que ocorre devido à externalidades
negativas geradas pelo uso estratégico de medidas fiscais. Na medida em que uma juris-
dição adota tais medidas, uma vantagem locacional é artificialmente criada, alterando a
rentabilidade de investimentos privados relativamente a outras jurisdições, e, portanto,
criando incentivos para que firmas se instalem e realizem operações no seu território.
∗
Mestrando em Ciências Econômicas no Programa de Pós graduação em economia da Universidade
Federal de Santa Catarina.
†
Professor Dr. do Depto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa
Catarina.
1
Figura 1 – Crescimento da principais fontes de receita pública (em milhões de R$
2
de convênios com outros estados no âmbito do Conselho Nacional de Políticas Fazendárias
(CONFAZ), sendo necessária a aceitação unânime dos secretários de finanças dos outros
estados para celebração de convênio. O processo de guerra fiscal continuou ainda apesar do
sistemático julgamento de processos de ação direta de inconstitucionalidade no Supremo
Tribunal Federal (STF), repelindo incentivos fiscais não amparados em convênio entre
estados desde os anos 1990. As tentativas de lidar com o processo emergente de competição
descoordenada entre os estados para atração de investimentos se acumularam desde a
década de 1990, e todos os projetos de reforma tributária desde a redemocratização do
país tocaram nesse ponto. Durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso
foram tentadas duas amplas reformas, focando na unificação de tributos, inclusive tentando
o estabelecimento de um sistema de alíquota única para o ICMS em todo o país, o que
certamente eliminaria o uso desenfreado de incentivos tributários pelos governos estaduais.
Apensar do fracasso das reformas, a lei de responsabilidade fiscal (LRF) deu um primeiro
passo na direção, ao definir (em seu art. 14) o conceito de renúncia fiscal, e exigir uma
estimativa do custo fiscal desta renúncia aos governos, o que permitiria, em tese, maior
accountability em relação aos governos estaduais. Durante a gestão “Lula” a ideia de
tributação no destino – em contraposição à origem – foi tentada, também resultando em
fracasso as negociações para sua aprovação no congresso.
O avanço que deu início ao recuo do processo de guerra fiscal entre os estados
ocorreu apenas em 2011, quando o STF, tendo que julgar repetidamente processos relativos
aos benefícios fiscais do ICMS, elaborou a proposta de Súmula Vinculante no 69, que torna
pacífica a jurisprudência no sentido de que não pode haver benefícios fiscais do ICMS sem
aprovação de convênio no CONFAZ, e buscava dar celeridade aos processos subsequentes.
Depois disso, avanços importantes foram ocorrendo que passaram a inibir drasticamente a
guerra fiscal, ao menos na forma em que está se desenvolveu desde os anos 1990. Em 2012
as alíquotas do ICMS em operações de importações foram niveladas em 4% pela resolução
de no 13 de 2012, publicada pelo Senado, dando fim à chamada guerra dos portos a partir
de 2013. Já em 2015 após longas discussões e pressões no congresso a tributação do ICMS
passa a incidir no destino, tornando inócuo o uso de benefícios fiscais para atrair empresas,
uma vez que era a tributação na origem que garantia a sua efetividade.
O problema essencial que o processo de Guerra Fiscal trouxe ao país está relacio-
nado à externalidades negativas geradas pelos incentivos fiscais concedidos pelos estados,
que ocorrem tanto sobre as finanças públicas de outros estados, como também geram
distorções sobre a alocação de recursos privados. Apesar da relevância auferida ao tema, o
debate foi caracterizado pela controvérsia quanto à natureza do fenômeno, e avanços no
desenvolvimento de soluções institucionais para contornar ou amenizar o problema foram
bastante lentos ao longo dos anos, apesar de estar presente na pauta de todas as reformas
tributárias tentadas desde a redemocratização do país.
Fazendo jus à multidimensionalidade do problema, diferentes abordagens para a
compreensão do fenômeno foram trazidas à tona em estudos tanto de cunho econômico,
como jurídico, político e histórico-institucional. Sob um enfoque eminentemente econômico,
Castilho (2012 p.25-66) considera, grosso modo, o desenvolvimento de pelo menos quatro
dimensões do problema da guerra fiscal: i) a competição fiscal como uma corrida ao fundo
do poço, contribuindo para agravar uma já crítica situação relativa às finanças estaduais,
que fora o principal aspecto levantado por Pianscatelli e Piarobelli (1996) e Varsano (1997,
2001), pioneiros na análise econômica do problema; ii) a relação da guerra fiscal com a
corrupção e com a menor transparência em relação às finanças públicas; iii) os efeitos
distorcivos da guerra fiscal sobre a eficiência alocativa dos recursos privados, incluindo
3
suas distorções de preços e de concorrência; e iv) a competição fiscal e o controle sobre o
tamanho do Estado. No entanto, esforços de validação das hipóteses e análises aprofundadas
da questão sofreram de impedimentos severos devido a limitações nos dados disponíveis.
Apesar dos importantes progressos na accountability dos governos brasileiros em
seu recente período democrático, como a vinculação entre despesas públicas e instrumentos
de planejamento (através da LOA, LDO e PPA) impostos pela Constituição Federal de
1988, a incorporação da publicidade como um princípio norteador do Estado brasileiro, e
maior transparência na gestão dos recursos públicos trazidos pela lei de responsabilidade
fiscal (LRF), muitas restrições informacionais ainda estão presentes, e existem elevados
custos para levantar e organizar dados sobre uma série de assuntos relevantes às finanças
públicas. O ICMS, principal imposto estadual, e instrumento fundamental das políticas
fiscais estaduais, apresenta suas inúmeras regulamentações (no âmbito estadual) dispersas
em documentos legislativos e administrativos diversos e não centralizados. Os documentos
diversos não apresentam sequer harmonização na forma como alíquotas são definidas sobre
suas bases tributárias: enquanto certos estados apresentam ao contribuinte meios de separar
a alíquota incidente sobre diferentes produtos recorrendo à sistemas de classificação de
mercadorias (como NCM ou CNAE-fiscal), outros estados definem a carga tributária legal
de modo impreciso, tornando necessário uma série de disposições normativas, protocolos e
notas explicativas expedidas pelo poder executivo para entendimento dos contribuintes.
Embora a própria Lei de Responsabilidade Fiscal preveja a obrigatoriedade de
apresentação de um relatório que mensure a renúncia de receita utilizada pelos estados
como formas de incentivo, a não harmonização da metodologia para mensurar estas, tornam
os esforços de comparação muitas vezes infrutíferos e inócuos. As dificuldades são assim
descritas pelos pesquisadores que desenvolveram uma das pouquíssimas estimativas a esse
respeito:
4
e Mello (2007) explorando interações estratégicas na forma de funções de reação fiscais
entre os estados brasileiros para despesas e alíquotas médias (efetivas), respectivamente,
abriu novas possibilidades para estudos empíricos da guerra fiscal brasileira, contornando
parcialmente as limitações presentes nos dados quando o objetivo é compreender aspectos
gerais e amplos da guerra fiscal – em contraposição aos estudos de cunho local e setorialmente
específicos.
O presente artigo se apoia nesses trabalhos prévios, buscando integrar tanto os
efeitos de dispêndios como o de benefícios tributários na dinâmica da guerra fiscal. Os
modelos de econometria espacial SAR e SEM, que Pereira e Gasparini (2007) aplicaram
para estimar as curvas de reação fiscal em termos de dispêndio, são utilizados tendo as
alíquotas como variável a explicar, e amplia-se a análise, incorporando spillovers de gastos
de estados vizinhos no modelo como uma variável explicativa através do Modelo de Durbin
Espacial. O estudo cobre um longo período de 28 anos sob a institucionalidade da Nova
República, em que se reiniciou1 a escalada dos estados pela atração de investimentos . Os
modelos buscam primariamente estimar parâmetros que testem e deem alguma noção da
magnitude com que os estados reagiram à fixação das alíquotas efetivas de seus vizinhos
no período analisado, obtendo-se estimativas de suas funções de reação fiscal em termos de
alíquotas, que demonstram os efeitos distorcivos da guerra fiscal.
Explora-se ainda, de modo concomitante, a relação entre os instrumentos fiscais,
relacionando o uso de incentivos fiscais via despesas com incentivos tributários. Especifica-
mente, questiona-se se os diferentes instrumentos são utilizados de modo concorrente ou
complementar, ou seja, se estados mais agressivos em termos de certos tipos de incentivos
fiscais tenderiam a ser mais agressivos também em outros, ou se tendem a se “especializar”
em um tipo de incentivo. Outros fatores de controle diversos são explorados, e por fim
uma estimativa dos efeitos dos incentivos fiscais sobre as economias estaduais é também
desenvolvida.
Literatura
A A competição fiscal entre governos subnacionais ganhou notoriedade na teoria
econômica a partir de Tiebout (1956). Este argumentou que a solução para o problema
prático de implementar um esquema de alocação de recursos Pareto-ótimo – resolvido em
termos teóricos em Samuelson (1954) e Samuelson (1955) – não seria uma real dificul-
dade para bens alocados por governos locais em uma federação. Dado a coexistência de
uma constelação de governos territoriais autônomos no arranjo institucional federativo,
estes competiriam entre si, buscando ofertar cestas de bens públicos compatíveis com as
preferências dos cidadãos de modo eficiente.
Apesar da recepção controversa da hipótese de Tiebout (FISCHEL; OATES, 2006),
esta repercutiu na literatura nascente do federalismo fiscal, promovendo a noção de que a
competição entre governos tende a gerar efeitos positivos, induzindo a economia a uma
alocação mais eficiente de recursos públicos (OATES, 1968, p. 68), e, portanto, a um nível
de bem-estar mais elevado. A competição impediria abusos e desperdícios por parte dos
governantes locais (BUCHANAN; GOETZ, 1972) (BRENNAN; BUCHANAN, 1980, p.
33), e promoveria a disseminação de boas práticas e tecnologias mais eficientes entre os
governos subnacionais (BESLEY; CASE, 1992).
1
As disputas descontroladas dos entes federativos foam recorrentes em períodos passados da história
federativa brasileira, como analisam Yamao (2014) e outro (ano).
5
Apesar dessas visões positivas em relação à competição fiscal, outros pesquisadores
perceberam que uma questão central não havia sido satisfatoriamente dirimida: a presença
de externalidades nas decisões fiscais. Embora Oates (1972, p. 142-143) já levantasse
a possibilidade de que distorções geradas pelo processo de competição entre governos
pudessem carregar consigo efeitos deletérios sobre a distribuição de renda ao tornar
a estrutura tributária mais regressiva, foi no contexto da emergência da literatura de
tributação ótima – que retoma o problema iniciado em Ramsey (1927) sobre um esquema
de tributação que minimizasse as perdas de bem-estar – que as limitações da competição
entre governos como um mecanismo promotor de maior eficiência alocativa foram vistas
claramente. De modo geral, os governos locais tomam decisões sem levar em consideração
as externalidades fiscais que estas causam sobre outros membros da federação, e nessas
condições não é evidente que as escolhas fiscais tomadas de modo descentralizado sejam
ótimas (RUBINFELD, 1987, p. 572), e via de regra não serão, como ressaltaram Baumol e
Bradford (1970), Pauly (1970), Lerner (1970), Dixit (1970), Diamond e Mirrlees (1971b),
Diamond e Mirrlees (1971a), e Stiglitz e Dasgupta (1971).
Partindo do problema das externalidades fiscais e tributárias e analisando os reflexos
dessas externalidades sobre as decisões descentralizadas em um ambiente federativo, Gordon
(1983) desenvolveu um modelo que veio a se tornar um dos pilares do federalismo fiscal,
assentando a competição fiscal como parte de um amplo problema de coordenação federativa
(MENDES, 2004, p. 428), e mostrando que a competição fiscal e tributária e suas distorções
decorrentes são, na verdade, um sintoma de uma estrutura institucional e incapaz de
harmonizar os incentivos aos governos locais com os interesses mais amplos da federação.
Um importante corolário do modelo de Gordon (1983) é que sem que haja uma
perfeita coordenação entre os governos nacionais e subnacionais, será racional em algum
grau, que estes governos usem seus instrumentos fiscais para atrair bases tributárias
e/ou elevar a renda privada local (competição fiscal), assim como para tentar impor a
carga tributária do seu financiamento sobre cidadãos de outras jurisdições (exportação
de tributos); não incorrer em atividades que possam trazer importantes benefícios para a
federação se implicar efeitos negativos – ainda que pequenos – sobre seu território (atitude
de “not in my backyard”) ignorar externalidades negativas de suas decisões de fiscais e
buscar “pegar carona” na provisão de bens públicos de jurisdições vizinhas. Tudo isso
implica em comportamentos fiscais que distorcem a alocação de recursos privados, geram
uma provisão ineficiente de bens públicos, e reduzem o nível de bem-estar do cidadão
médio da federação.
Uma outra dimensão da competição fiscal, observada por Cary (1974) e Oates e
Schwab (1988), é que a competição por atração de negócios e capital para um território
pode também ser feita não apenas através de reduções de carga tributária, mas também
com a eliminação de regulamentações, podendo levar a uma “corrida ao fundo do poço”, à
medida que instituições que regulam questões sensíveis – como as condições aceitáveis de
trabalho ou limites à degradação ambiental – são descaracterizadas, reduzindo o bem-estar
geral à medida que externalidades (antes contidas ou internalizadas) se disseminam.
Os modelos formais de competição fiscal se mostram extremamente sensíveis às
hipóteses sobre os quais são construídos, não apenas em relação aos instrumentos usados
pelos governos (ou demais restrições e liberdades impostas aos governos subnacionais),
mas a todo o arranjo institucional a que estes são submetidos, como se pode observar na
heterogeneidade dos resultados derivados pesquisadores como por Beck (1983), Wilson
(1985), Wilson (1986), Zodrow e Mieszkowski (1986), Mintz e Tulkens (1986), Wildasin
6
(1988), Kanbur e Keen (1991), Edwards e Keen (1996), Keen e Marchand (1997), Wildasin
(2003), Wildasin (2004), Hsu (2005), Makris (2005), Fernandez (2005), Kessing, Konrad e
Kotsogiannis (2009), Wildasin (2011) Wagener (2013) Klein e Makris (2014) Furusawa, Hori
e Wooton (2015), Liu e Martinez-Vazquez (2015), entre outros. Apesar da heterogeneidade
de resultados, as diferentes análises teóricas costumam acordar com a implicação de que
na presença de externalidades fiscais negativas, os governos se encontram em um jogo que
assume o caráter de um dilema dos prisioneiros, e o equilíbrio passa a ser caracterizado por
uma carga tributária e nível de dispêndio em bens públicos menor do que seria o equilíbrio
eficiente no sentido de Pareto.
Metodologia
Analisando a competição fiscal através do uso de instrumentos tributários, o equilí-
brio de Nash em um jogo entre os governos será caracterizado por um par de alíquotas
(ta∗ , tb∗ ) definida no espaço T de alíquotas factíveis, tal que, ta∗ = f a (b∗ ) e , simultanea-
mente, tb∗ = f b (ta∗ ), onde f a e f b são funções de reação fiscal (MINTZ; TULKENS, 1986,
p. 466). Uma vez que, na presença de externalidades fiscais negativas, os governos se encon-
tram em um jogo que assume o caráter de um dilema dos prisioneiros, e o equilíbrio passa
a ser caracterizado por uma carga tributária e nível de dispêndio em bens públicos menor
do que seria o equilíbrio eficiente no sentido de Pareto (CROMBRUGGHE; TULKENS,
1990, p. 505), a análise da existência de curvas de reação fiscal no comportamento das
finanças governamentais torna-se assim, uma forma de testar a existência de processos
competição fiscal - e as distorções decorrentes.
Utilizando-se da ascensão da econometria espacial no final dos anos 1980, sobretudo
a partir de Anselin (1988), começaram a surgir estudos pioneiros sobre finanças públicas
levando em consideração a interação entre governos vizinhos, como em Besley e Case (1992)
e Case, Rosen e Hines (1993).
A verificação de interações ensejou estudos empíricos que procuravam analisar
evidências de competição fiscal e testar a existência de efeitos distorcivos sobre as escolhas
públicas (e indiretamente sobre as privadas). A averiguação dessas interações é feita através
da estimação de curvas de reação fiscal, com uso de métodos apropriados, aonde a econo-
metria espacial apresenta conveniências que a coloca na vanguarda para o desenvolvimento
de modelos com esse fim, como argumentam Brueckner e Saavedra (2001) e Brueckner
(2003).
7
A partir destas constatações, a aproximação entre métodos de econometria espacial
para modelar, testar e analisar interações estratégicas discutidas no plano teórico tendeu a
aprofundar-se nas últimas décadas, na medida em que estudos estimando as funções de
reação entre as escolhas de governos vizinhos foram desenvolvidos para países e regiões
diversas como em Heyndels e Vuchelen (1998), Murillo (2003), Buettner (2003), Leprince,
Madiès e Paty (2007), Carlsen, Langset e Rattsø (2005), Edmark e Ågren (2008), Crabbé
e Vandenbussche (2009), Gérard, Jayet e Paty (2010), Costa, Carvalho e Coimbra (2011),
Hauptmeier, Mittermaier e Rincke (2012), entre outros.
N
X N
X
yit = αi + ρ wij xkit + βi xit + εit (1)
j=1 j=1
8
(ponderadas de acordo com os elementos wij da matriz de poderação espacial W ) e εit é
uma perturbação estocástica que segue uma distribuição normal, tal que εit ∼ N (0, σ 2 ).
No caso de interações estre políticas fiscais locais (sejam tributárias ou de outra forma),
isso implica que o modelo SAR nos permite não apenas apreender a dimensão espacial do
fenômeno, como também analisar a existência de interação diretamente entre as políticas
de governos vizinhos, cuja intensidade é medida por ρ (BRUECKNER, 2003).
Reescrevendo o processo SAR em termos matriciais, e manipulando algebricamente
para isolar a variável dependente, obtemos,
y = α + ρW y + Xβ + ε, (2a)
−1 −1 −1
y = (I − ρW ) α + (I − ρW ) Xβ + (I − ρW ) ε (2b)
onde a equação (2b) apresenta a solução de equilíbrio para o processo. O modelo SAR,
embora capaz de capturar informações que, se presentes, não seriam abrangidas por modelos
não espaciais – e que por isso ainda tornar-se-iam viesados – não é capaz de inferir sobre a
existência de interações espaciais que não se deem diretamente através da variável endógena.
No entanto, a existência de dependência entre variáveis endógenas e variáveis independentes
de unidades vizinhas, impicaria na presença de spillovers espaciais no processo analisado,
tornando necessário flexibilizar o modelo para levar tal fator em consideração. O modelo
de Durbin Espacial (SDM) é caracterizado justamente por acomodar essa hipótese.
Partindo de um modelo SAR, e expandindo-o para levar incorporar as uma defasa-
gem espacial em relação às variáveis independentes das unidades vizinhas, o modelo de
Durbin espacial toma a forma:
Pode-se observar que além dos parâmetros contidos no modelo SAR, o modelo de Durbin
espacial leva em consideração os parâmetros β2 , que mensuram a intensidade de spillovers
espaciais em cada variável exógena considerada. Assim, o modelo SAR está aninhado no
modelo de Durbin, que se reduz a um modelo SAR caso a restrição β2 = 0 seja imposta.
dy
= (I − ρW )−1 βk (4a)
dxik
= (I − ρW )−1 Iβk (4b)
9
Dados utilizados
Os valores de arrecadação do ICMS, para cada unidade federativa, foram obtidos no
boletim do ICMS publicado pelo CONFAZ. O Valor Adicionado, originalmente calculado
pelo IBGE, foi obtido junto ao IPEA. As alíquotas efetivas do ICMS, seguindo o padrão da
literatura empírica descrita em Mello (2007, p. 9), foram calculadas como a razão entre a
arrecadação do ICMS e o Valor Adicionado (proxy da base de incidência) em cada estado .
Os dados referentes à execução orçamentária dos estados foram obtidos diretamente
no site da Secretaria do Tesouro Nacional, órgão do Ministério da fazenda para anos a
partir de 1995. Para anos anteriores utilizou-se as informações disponibilizadas pelo IPEA.
As despesas foram desagregadas em despesas sociais e despesas de infraestrutura de acordo
com o critério adotado por Pereira e Gasparini (2007), que está resumida na tabela 1.
Todos os valores monetários foram transformados para expressar valores reais
do ano 2000, tendo-se utilizado o deflator do PIB calculado pelo IBGE2 . Para impedir
distorções causadas por diferenças de escala entre as unidades de análise (ALMEIDA,
2012, p. 61), os valores foram ainda transformados em valores per capita, de acordo com a
população utilizada como ponderador do PIB3 - também calculada pelo IBGE.
2
com exceção da arrecadação do ICMS e do Valor Adicionado que já haviam sido deflacionados até 2009
pelo IPEA utilizando o deflator implícito do PIB. Assim, apenas os anos restantes (2010-13) foram
deflacionados pelo deflator do PIB. As séries não apresentaram descontinuidades.
3
Como tais valores ainda não haviam sido publicados pelo órgão para o período 2010-2013, utilizou-se
nesse período a população projetada para 1o de julho de cada ano pelo IBGE.
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