Vous êtes sur la page 1sur 12

Psicologia Hospitalar Serviços Personalizados

versão On-line ISSN 2175-3547


artigo
Psicol. hosp. (São Paulo) v.2 n.2 São Paulo dez. 2004
Artigo em XML

Referências do artigo
ARTIGOS ORIGINAIS
Como citar este artigo

Tradução automática

A inserção do jogo de areia em contexto Indicadores


psicoterapêutico hospitalar em enfermaria Acessos
cirúrgica: um estudo exploratório
Compartilhar

Mais
The use of sandplay in psychological context of cirurgic
Mais
sickroom: an exploratory study
Permalink

1 2 2 2
Simone Corrêa Silva ; Kátia Osternack Pinto ; Mara C. Souza de Lúcia ; Ana Clara D. Gavião ; Julieta
2
Quayle

Endereço para correspondência

RESUMO

A situação de doença e hospitalização provoca inúmeras emoções e sentimentos que remetem a vivências de
angústia, fragilidade e, muitas vezes, a um distanciamento da relação entre corpo e psique. Pensou-se em
investigar a inserção do Jogo de Areia em contexto psicoterapêutico de enfermaria cirúrgica, por tratar-se de
um instrumento que favorece um contato do paciente com suas dimensões externas e internas, conscientes e
inconscientes, por meio de imagens que o indivíduo constrói na caixa-de-areia. Para facilitar sua aplicabilidade
no ambiente de enfermaria hospitalar, fez-se necessária uma adaptação do instrumento. Por suas
características peculiares, a areia mostrou-se o componente essencial da caixa, revelando-se como o elemento
mobilizador do acesso a conteúdos do inconsciente, mesmo que o paciente não a toque; pois é nela e sobre ela
que os conteúdos são expressos. Concluiu-se que o Jogo de Areia é; uma té;cnica eficaz no trabalho psicológico
em enfermaria, por promover a manifestação espontânea da psique, favorecendo o trabalho psicoterapêutico,
mesmo em condições onde se possa parecer que apenas o corpo é quem pede atenção.

Palavras-chave: Jogo de areia, Caixa-de-areia, Psicologia hospitalar, Psicossomática, Psicoterapia junguiana,


Câncer colorretal, Doenças inflamatórias intestinais.

ABSTRACT

The situation of sickness and hospitalization cause many emotions and feelings that can provokes a separation
between body and psyche. The present study had the objective of investigating the use of Sandplay with income
patients because it was thought that Sandplay which is an instrument that allows the patient to have contact
with his or her inner and exterior, conscious and unconscious, through images that they build in the sadbox. To
make this job in the environment that was suggested, some changes were necessary. This was done because
the material should be light and practical enough to the locomotion of the psychologist and to make easy the
handling for the patient in the hospital setting. The sand, because of its unique characteristics, looked up to be
the most important component of the box because it revealed the element that opens roads to the unconscious,
even when the patient do not touch it, because it is on it and above it that the contents are expressed. The
conclusion of the Sandplay was that is an efficient technique in the psychological sickroom. That proved to be
true because it makes a spontaneous manifestation of the psyche, allowing the psychological work, even in
conditions where it seems to be only the body that is in need of attention.

Keywords: Sandplay, Sandbox, Hospital psychology, Psychosomatic, Jungian psychoterapy, Colorectal cancer,
Inflamatory bowel disease.

1. INTRODUÇÃO
O presente estudo foi desenvolvido a partir do interesse da autora em inserir o Jogo de Areia em seu trabalho
no ambiente de enfermaria hospitalar. Tendo desenvolvido alguns outros estudos com o referido instrumento
em situação clínica tradicional e verificado resultados positivos nestes, a autora pensou em pesquisar a eficácia
da utilização do instrumento também em setting hospitalar. O objetivo principal deste artigo, portanto, é
apresentar um estudo exploratório da utilização do Jogo de Areia em ambiente de enfermaria cirúrgica, durante
trabalho psicoterápico com pacientes candidatos à realização de estomia devido à possibilidade de seqüela pós-
operatória de Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) ou de Câncer Colorretal (CCR).

O CCR é um tumor de cólon e de reto e as DIIs são aquelas doenças que atingem o aparelho digestivo por meio
de um processo inflamatório, sendo a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa as mais conhecidas. Em muitos
casos de DII ou CCR, torna-se necessária a realização de estomia – uma abertura abdominal na região intestinal
– como forma de tratar a doença, desviando-se a saída de conteúdos fecais para uma bolsa coletora externa
(Pinotti,1994).

Durante o período de internação, os pacientes passam, freqüentemente, por uma situação de grande fragilidade
física e emocional, devido às repercussões da doença e à própria rotina de internação (Angerami-Camon, 1999).
Cada pessoa sentirá tudo isso de uma maneira particular e reagirá de acordo com sua própria percepção e
interpretação da situação (Romano, 1999). No caso dos estomizados, parece haver, inclusive, uma mobilização
marcante e diferenciada de sentimentos e fantasias acerca de seu esquema e imagem corporais, suscitados pela
bolsa de estomia (Silva, 2002).

Alguns pacientes apresentam bastante resistência para o trabalho psicológico nessas condições de
hospitalização; o que se deve, muitas vezes, a uma dificuldade em verbalizar seus sentimentos, angústias e
fantasias que lhes são conflitantes. Nesse sentido, pensou-se que a utilização do Jogo de Areia poderia
favorecer a expressão e elaboração destes conteúdos por meio de imagens na caixa-de-areia, proporcionando-
lhes um espaço também de expressão não-verbal, facilitando, assim, um contato entre seus aspectos
conscientes e inconscientes.

Segundo Mindell (1990), a doença corresponde a algum aspecto da vida do indivíduo que, não conseguindo um
caminho de expressão por outra via, é dirigido ao corpo. No processo de adoecimento do indivíduo, o soma
chama atenção da consciência para uma nova compreensão de suas vivências; se os sintomas são desprezados,
podem se intensificar, forçando o indivíduo a reavaliar sua condição de existência, podendo chegar à
hospitalização (Ramos, 1990).

Liberato (2002) compreende a doença como um acontecimento que coloca o homem diante de limitações, mas
que, no entanto, revela forças que direcionam para possibilidades de mudanças. Para ela, há uma necessidade
urgente de se levar em conta no tratamento clínico os recursos internos, a sabedoria autônoma do corpo e a
tendência natural da psique em busca do equilíbrio(p. 42), sendo preciso, para isso, compreender o homem
como um todo que estabelece trocas e relações entre seus aspectos físicos, emocionais, sociais, culturais,
ambientais e espirituais.

Jung (1917/1983) já dizia que:

(...) alma e corpo não são separados, mas animados por uma mesma vida. Assim sendo, é rara a doença do
corpo, ainda que não seja de origem psíquica que não tenha implicações na alma. (p. 105).

Para Kreinheder (1993), o corpo está sempre se comunicando, mas de modo não verbal e de diferentes
maneiras. Portanto, o corpo material é o palco em que as imagens da consciência se esforçam para se expressar
(...), no entanto (...) quando uma tragédia é representada no palco, não é o palco que é trágico, mas a peça
teatral (Dethlefsen & Dahlke, 1983, p. 14).

2. CASUÍSTICA E METODOLOGIA
A amostra do presente estudo foi composta por 12 sujeitos candidatos à realização de estomia devido a possível
seqüela pós-operatória decorrente de DII ou CCR, internados na II Clínica Cirúrgica da Disciplina de
Coloproctologia do ICHC-FMUSP, sendo 4 homens e 8 mulheres, com idade entre 27 e 79 anos.
Entre os 12 sujeitos da amostra, apenas 1 é portador de DII, sendo que todos os outros foram acometidos por
CCR, dos quais, 6 foram submetidos à realização de estomia. Destes pacientes submetidos à estomia, 5 eram
do sexo feminino.

Os instrumentos utilizados para a realização deste trabalho foram: entrevistas semi-dirigidas, psicoterapia breve
de abordagem junguiana e Jogo de Areia.

O Método de Psicoterapia de Jogo de Areia 

O Jogo de Areia (ou Sandplay) teve sua origem na Inglaterra, em 1935, quando a psiquiatra freudiana Margaret
Lowenfeld desenvolveu uma técnica de trabalho com crianças que chamou de World Technique. Sendo
incentivada por Jung, a analista junguiana Dora Kalff adaptou esta técnica para o contexto de psicoterapia
junguiana e desenvolveu sua própria versão do instrumento, chamando-o de método de psicoterapia com o 
Jogo de Areia (Franco, 2003; Greghi, 2003; Kalff, 2004; Weinrib,1993).

Corresponde a um método junguiano de psicoterapia, tradicionalmente de caráter não-verbal e não-


interpretativo. Constitui-se da modelagem ou atividade lúdica com areia e da construção de cenas, utilizando-se
de miniaturas representativas do mundo real e fantástico. O paciente pode utilizar as miniaturas dispostas para
criar uma cena, modelar a areia ou simplesmente brincar com esta. Usando a caixa de areia, o paciente está
livre para colocar para fora as suas fantasias, externar e tornar concreto o seu mundo interior numa
representação tridimensional (Weinrib, 1993, p. 25). É considerado um espaço livre e protegido, física e
psicologicamente. Funcionando como um vaso alquímico, a caixa-de-areia ...acolhe o processo terapêutico e
promove transformação (Kalff, 1980, citada por Greghi, 2003, p. 35). É livre por ser destituído de regras e
porque o paciente pode criar o que deseja, estando limitado ao espaço da caixa e ao número de miniaturas; o
que proporciona, inclusive, um contato simbólico do indivíduo com sua totalidade. Além disso, há uma
segurança de natureza psicológica fornecida pelo terapeuta, que o aceita incondicionalmente (Kalff, 1972;
Weinrib, 1993).

Procedimentos

Os sujeitos foram acompanhados durante todo o período de sua internação, sendo que o Jogo de Areia foi
apresentado e sugerido a todos os pacientes em sessões onde mostrou-se relevante sua utilização, conforme
será discutido adiante. Os dados quantitativos do trabalho com cada paciente podem ser vistos na tabela 1.

Tabela 1: Dados quantitativos do acompanhamento psicoterápico de cada paciente

A freqüência dos atendimentos foi, em geral, de 2 sessões por semana, com intervalo de 2 a 5 dias entre as
mesmas. O tempo de duração das sessões variou entre 10 minutos a 1 hora e meia, de acordo com as
intercorrências do ambiente de enfermaria, na ocasião do atendimento, como, por exemplo, interrupções para
intervenção da equipe médica e de enfermagem.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a realização do presente trabalho, fez-se necessário adaptar o Jogo de Areia para sua utilização no
ambiente hospitalar.

Um estudo feito por Silva et al. (2001b) obteve resultados bastante favoráveis a partir da utilização do Jogo de
Areia em enfermaria de hospital geriátrico, pois possibilitou, nesta situação, a expressão de conteúdos relativos
à experiência de hospitalização, interferindo minimamente na rotina hospitalar. Chagas e Forgione (2002)
discutiram a utilização do Jogo de Areia com pacientes hemiplégicos em ambiente ambulatorial e verificou que
se trata de um instrumento eficaz também para o trabalho psicológico com pacientes portadores de distúrbios
de comunicação, pois dispensa habilidades especiais e a expressão verbal. Bazhuni (2003) pesquisou a
utilização do Jogo de Areia com pacientes amputados e também verificou a eficácia do instrumento em contexto
de enfermaria hospitalar ao evidenciar aspectos psicodinâmicos importantes da personalidade dos pacientes e
por propiciar a expressão de sentimentos referentes à doença e à possibilidade de morte. A partir desses dados,
observa-se que a adaptação do Jogo de Areia em instituições hospitalares tem se mostrado uma prática viável
por promover resultados bastante favoráveis para a população encontrada neste contexto. No presente
trabalho, também obteve-se dados que confirmaram a eficácia da utilização do referido instrumento, inclusive,
em enfermaria cirúrgica, conforme será discutido a seguir.

Tradicionalmente, o Jogo de Areia (ou Sandplay) é utilizado em ambiente de consultório, dispondo-se de duas
caixas com fundo azul (para dar idéia de horizonte ou água), feitas de madeira e medidas padronizadas (50 x
70 cm, aproximadamente), sendo uma com areia seca e outra com areia molhada. As miniaturas são inúmeras
e dispostas em prateleiras ou armários.

Conforme pode ser observado na figura 1, utilizou-se uma caixa-de-areia móvel e portátil, adaptada a partir de
uma cesta de palha com tampa e com medidas reduzidas (20 x 30 cm, aproximadamente).

Figura 1: Registro fotográfico do Jogo de Areia adaptado para o presente estudo.

Tal adaptação possibilitou que o material se tornasse leve e prático o suficiente para locomoção da pesquisadora
no setting hospitalar, bem como para facilitar o seu manuseio por parte do paciente, neste mesmo setting. Esta
caixa foi isolada, internamente, com plástico de cor azul, sendo preenchida com areia até quase sua metade.
Por questões de assepsia – que serão discutidas adiante –, decidiu-se por utilizar apenas areia seca. As
miniaturas foram dispostas dentro de pequenos sacos plásticos, presos à tampa. Apesar de ter-se
disponibilizado um número reduzido de miniaturas, manteve-se uma quantidade mínima que sugerisse diversos
contextos e temas.

A fim de facilitar e enriquecer a análise dos dados obtidos no presente estudo, todas as cenas realizadas com
miniaturas no Jogo de Areia foram registradas por meio de máquina fotográfica e de esquemas gráficos, após a
realização dos atendimentos. As imagens foram registradas tanto do ponto de vista do sujeito quanto do ponto
de vista da pesquisadora. Nos casos onde os pacientes desfizeram as cenas, guardando as miniaturas durante a
sessão, as cenas foram reproduzidas e registradas, posteriormente.
Em esquemas gráficos, foram registrados os seguintes itens: localização e tipo de miniatura escolhida; estória e
comentários da cena; título escolhido para denominar a cena; movimentos realizados na areia e com as
miniaturas antes, durante e depois da cena; mudanças na escolha e no posicionamento das miniaturas;
comportamentos e reações dos pacientes na sessão com o Jogo de Areia.

A ocorrência das sessões submeteu-se às variáveis de espaço e tempo, ou seja, o tempo de duração das
sessões e o local para a realização dos atendimentos obedeceram à disponibilidade do paciente, dentro da rotina
a que ele era submetido na enfermaria, a qual procurou-se respeitar.

Não fez parte da rotina do presente trabalho apresentar o Jogo de Areia a todos os pacientes desde a primeira
sessão; esse procedimento ocorreu em metade da amostra. Optou-se por sugerir o instrumento em momentos
onde a pesquisadora considerasse que o mesmo pudesse contribuir para exploração, expressão e apreensão de
alguns conteúdos; o que se deu, geralmente, após ou durante uma sessão verbal. Em alguns casos, os
pacientes recusaram um contato físico com o Jogo de Areia; no entanto, muitas vezes, este foi introduzido nas
sessões por uma solicitação dos próprios pacientes. Alguns deles demonstraram uma solicitação indireta, por
meio de curiosidade e comentários em relação ao instrumento; ou, ainda, por meio de iniciativas para mexer no
material. Nos casos dos sujeitos 1 e 11, percebeu-se uma disponibilidade para inserção do instrumento logo no
início de cada sessão, sendo que, nestes casos, a partir do momento em que o Jogo de Areia lhes foi
apresentado, todos os demais atendimentos foram realizados com a utilização do instrumento, por opção do
paciente.

Tradicionalmente, o Jogo de Areia é um instrumento exclusivamente não verbal, isto é, no momento em que o
paciente realiza imagens na areia e após a realização destas, não é feito nenhum comentário ou interpretação a
respeito, por parte do psicoterapeuta. Alguns autores defendem a idéia de que as verbalizações no momento da
realização da sessão com Jogo de Areia são extremamente importantes e enriquecedoras (Franco, 2003). No
presente estudo, a pesquisadora decidiu por trabalhar com o instrumento incentivando estas verbalizações,
permitindo associações livres dos pacientes e solicitando comentários sobre a cena realizada.

Verificou-se, neste estudo, que a maior parte dos pacientes verbalizaram, espontaneamente, durante a
interação com o Jogo de Areia, comentando sobre a mesma e/ou conversando com a pesquisadora sobre
recordações suscitadas pelo contato com a areia ou miniaturas. Isso pareceu bastante significativo, trazendo,
muitas vezes, informações relevantes para a compreensão do caso e mobilizando conteúdos de caráter reflexivo
e emocional; o que enriqueceu e favoreceu o processo psicoterapêutico.

A pesquisadora optou por respeitar o movimento do paciente quando este permanecia em silêncio ou
introspectivo na situação de contato com o instrumento, solicitando comentários sobre a imagem somente em
momento posterior. Nas situações em que o próprio paciente apresentava iniciativa para conversar com a
pesquisadora durante o seu contato com o Jogo de Areia, esta respondia à solicitação e a aproveitava para
explorar a imagem ou as recordações surgidas neste mesmo momento.

Geralmente, ao fim de cada contato dos pacientes com a caixa-de-areia, foi-lhes solicitado um título para a
imagem daquela situação de realizar uma cena, tocar na areia ou observar o material em atitude reflexiva. Para
a maioria dos pacientes, mostrou-se bastante significativa essa solicitação de título, pois, além de marcar o fim
da sessão (Franco, 2003), promoveu uma introspecção do paciente, mobilizando-o para escolher um nome que
resumisse e ilustrasse alguma mensagem trazida pela imagem subjetiva da situação. Além disso, esse
procedimento pode ter favorecido a criação de um último registro mental da imagem deixada pelo paciente na
areia, à qual ele poderia recorrer, mentalmente, em momentos que ele próprio desejasse (e tivesse condições
internas para) realizar um trabalho reflexivo sobre tais conteúdos expressos. Apesar de alguns pacientes não
terem conseguido dar um título para a situação, essa dificuldade também mostrou-se significativa, tal como
ocorreu com o caso do sujeito 6 – que será novamente discutido em outra oportunidade – que justificou sentir-
se vazio (s.i.c.) para tanto e, inclusive, para mexer no instrumento, evidenciando uma possível dificuldade de
introspecção e de contato interior.

A areia que compõe o instrumento é areia adquirida em praia. A questão de utilizar-se de areia no ambiente
hospitalar, especialmente de enfermaria cirúrgica, foi bastante avaliada no presente estudo. Houve um cuidado
significativo neste trabalho em garantir a esterilização da areia, uma vez que preocupações com contaminação
são bastante presentes em contexto de enfermaria. Nesse sentido, pensou-se em substituí-la por outro material
semelhante, como areia sintética ou bolinhas de isopor, por exemplo. Entretanto, refletiu-se que nenhum outro
material poderia substituir suas características primárias, como fluidez ou leveza de movimento. Desse modo,
devido às particularidades únicas da areia, pensou-se que as sensações e sentimentos que são mobilizados
através de seu contato com as mãos, tão significativos para o processo terapêutico com Jogo de Areia,
dificilmente poderiam ser provocados no contato com outro material em igual intensidade e expressividade.

Após discutir-se a questão de assepsia da areia com a equipe médica, optou-se por lavá-la com água corrente e
esterilizá-la, em forno com alta temperatura. Importante ressaltar a boa receptividade que a equipe
multidisciplinar demonstrou desde o início deste trabalho com o Jogo de Areia, não colocando nenhuma objeção
quanto ao seu uso.

O contato com a areia revelou-se bastante significativo no presente estudo, por promover uma vivência
emocional a partir da mobilização de lembranças, desejos e sentimentos diversificados; tal experiência
possibilitou a ocorrência de insights importantes para alguns sujeitos. A tabela 2 apresenta, resumidamente,
alguns dados relevantes que permitem observar comentários, reações e modos de interação dos pacientes
frente à inserção do Jogo de Areia nas sessões.
Tabela 2: Dados qualitativos do processo psicoterapêutico com Jogo de Areia

Para o sujeito 1, por exemplo – que voltará a ser discutido em outro momento –, seu contato com a areia foi
extremamente significativo. À medida que enchia as duas mãos com a areia e a soltava, observando o fluxo
desta por entre seus dedos, revelava um movimento introspectivo e provido de afeto que lhe propiciou a
elaboração de conteúdos importantes para seu momento de vida.

Em dois casos (sujeitos 11 e 12), inclusive, a interação com o Jogo de Areia se deu, por opção dos sujeitos,
somente com a areia. Isso leva a autora a pensar que a areia, por suas características peculiares já
mencionadas, é o componente principal da caixa, por parecer ser o elemento que abre caminho para o
inconsciente (Cunnigham, 1977), mesmo que o paciente não a toque, pois é nela e sobre ela que os conteúdos
são expressos. Kalff (1972) já considerava a areia como um material terapêutico por natureza; e afirmou que a
areia provoca sensações táteis diversas, permitindo a criatividade a partir do contato com seus grãos
minúsculos; assim como a terra [a areia] contém os elementos primordiais. (Franco, p. 20. Grifo meu).

O sujeito 11, uma mulher de 73 anos, acometida por CCR, fez questão de que seu contato com o instrumento
fosse apenas com a areia que, para ela, era o mais especial (s.i.c.) da caixa. Segundo esta paciente, somente a
areia era-lhe suficiente para ajudá-la a pensar e a buscar resoluções para seus problemas. Denominando-a
de areia santa (s.i.c.), apresentou um envolvimento de tonalidade bastante afetiva em seu contato com a areia;
o que, ao final de seu processo terapêutico, demonstrou ter sido transformador. No decorrer das sessões e,
portanto, de seu contato com a areia, apresentou um movimento criativo de reflexão e busca de novas
possibilidades para enfrentar situações conflitivas. Uma das situações que mais a preocupava era seu
relacionamento com a filha mais velha, o qual era desprovido mutuamente de afeto e tolerância. Em seu
período pós-operatório, pôde vivenciar uma experiência diferenciada com esta filha, a qual demonstrou-lhe
maior atenção e afetividade. Tal experiência surpreendeu a paciente, que pôde refletir sobre sua postura frente
à filha, o que lhe permitiu esboçar novas perspectivas e possibilidades de relacionamento para com esta.

Dentro de uma concepção junguiana, acredita-se que os indivíduos acometidos por doenças orgânicas possuem
uma dificuldade em apreender o símbolo em sua polaridade abstrata; seus conteúdos são expressos
simbolicamente através do corpo e por intermédio da doença, ficando inacessíveis à consciência, naquele
momento (Greghi, 2003; Ramos, 1990). Nesse sentido, o Jogo de Areia é uma técnica facilitadora para a
expressão e a apreensão de conteúdos que o paciente não esteja conseguindo entrar em contato por uma via
abstrata. A polaridade concreta é expressa por meio da construção das cenas na caixa e do contato das mãos
com as miniaturas e a areia; e a abstrata, por meio das sensações, sentimentos e conteúdos que são
mobilizados e elaborados por meio da estória, verbalização e reflexão (Greghi, 2003). Nesse sentido, torna-se
possível fazer uma analogia entre o Jogo de Areia e a doença orgânica, pois ambos encontram uma polaridade
concreta para dar forma a uma energia psíquica em desequilíbrio; a diferença é que o Jogo de Areia permite
integração das duas polaridades num mesmo espaço (Greghi, 2003; Silva e SantAnna, 2001). Uma análise de
algumas imagens realizadas pelo sujeito 9 em seu processo contribui para essa discussão.

O sujeito 9, um rapaz de 27 anos, portador de Doença de Crohn, mostrou-se bastante concentrado e


introspectivo ao escolher miniaturas e criar cenas na areia, as quais mobilizaram-lhe conteúdos sobre seu
momento atual de vida e provocaram-lhe reflexões a respeito. Este paciente relatou que sente-se preso e sem 
liberdade (s.i.c.) com a situação de doença que faz parte de sua vida desde os 13 anos. No início, sentia-se
revoltado, mas, com o tempo, adaptou-se (s.i.c.) à doença e acostumou-se (s.i.c.) a freqüentar hospitais.
Devido às diarréias freqüentes, precisou parar de estudar e de trabalhar. Afirma ter um bom relacionamento
com a família, tendo estreitado seu vínculo com os familiares após o início de sua doença, pois as pessoas
começaram a se preocupar mais com ele. Logo na 1ª sessão, o paciente mostrou-se interessado em interagir
com o Jogo de Areia, realizando uma cena que denominou O guerreiro ultrapassando os obstáculos, a qual pode
ser visualizada na figura 2.

Figura 2: Registro fotográfico da cena intitulada O guerreiro ultrapassando os obstáculos


Nesta cena, o paciente conta a estória de um guerreiro que luta para superar os obstáculos e que vê no
horizonte um tesouro, no qual poderá encontrar saúde e harmonia. Segundo o paciente, surgem dificuldades
(representadas por uma pedra) no caminho desse guerreiro, mas que sempre são superadas. Busca a ajuda de
Deus (representada pela bíblia), de um ancião que o apóia e do cavalo que sempre o acompanha e o carrega
nos momentos mais difíceis. Inicialmente, posicionou todas as miniaturas atrás da pedra; depois, colocou o
cavalo e o guerreiro à frente desta, afirmando que gostaria de vê-los daquela forma: já tendo superado os
obstáculos.

Figura 3-A: Registro fotográfico da cena intitulada Alcançando vôos altos.

Em outra sessão, o paciente constrói uma cena (figura 3-A), cuja estória é a de um avião que está em
manutenção; e, ao seu lado, estão algumas pessoas ajudando-no a voltar a funcionar. O paciente comenta que
o avião sempre quis dar vôos altos, mas nunca conseguiu; e afirma que, ultimamente, o avião estava voando
muito baixo, quase caindo. O avião tem medo de cair e quebrar a lataria, por isso não arrisca mais voar;
acredita que, após a manutenção, poderá voltar a fazê-lo. O paciente não fica satisfeito com esta cena e a
modifica, colocando todas as pessoas enfileiradas e atrás do avião, vendo-o alcançar vôos altos, conforme
mostra a figura 3-B.

Figura 3-B: Registro fotográfico da cena intitulada Alcançando vôos altos, modificada.

Em sua última sessão com o Jogo de Areia, sendo a única realizada em momento pós-cirúrgico, o paciente
realiza uma cena (figura 4) onde coloca várias pessoas e um cavalo enfileirados e à frente da bíblia. Conta a
estória de que ele e sua família estão todos festejando mais uma vitória, devido à realização da cirurgia que
ocorreu melhor do que ele imaginava, já que não foi preciso ser submetido à realização de estomia. Escolhe
para essa cena o título: O medo foi derrotado.

Figura 4: Registro fotográfico da cena intitulada O medo foi derrotado.


Esse sujeito mostrou-se constantemente insatisfeito com as cenas criadas na caixa-de-areia, modificando-as
com freqüência; isso denota uma insatisfação do paciente, também, com sua realidade de vida, permeada de
obstáculos, medos e vôos baixos; os quais, ele também deseja modificar. Apesar disso, os conteúdos das cenas
revelam aspectos positivos de sua psique, como a figura do cavalo, da bíblia e do ancião que podem ser
considerados como aspectos internos que mantêm sua saúde psíquica, pois lhe trazem um referencial de apoio
e de possibilidade de superação das dificuldades que enfrenta; provavelmente, o paciente projeta estas figuras
em seus familiares, aos quais recorre para buscar esses referenciais. O próprio paciente compara seu irmão
mais velho ao cavalo, sempre presente nas imagens, o qual sempre o carregou no colo (s.i.c.); e fala, inclusive,
de sua relação próxima com a mãe, que lhe é super-protetora.

No decorrer do processo, esse paciente pôde se dar conta do quanto a doença o paralisava e, apesar dele
sempre considerar que superou todos os obstáculos, nunca o fez de modo totalmente satisfatório, pois sempre
lhe faltava a liberdade para fazer o que desejava. Além disso, pôde tomar consciência do quanto sua vida estava
sempre à mercê do futuro, não conseguindo obter controle sobre a mesma, ao contrário do que imaginava. Os
atendimentos com o Jogo de Areia ajudaram-no a refletir que alcançar vôos mais altos só dependeria dele. As
pessoas poderiam ajudá-lo, mas somente ele poderia buscar forças em si para sua decolagem. Inclusive,
evidenciou-se para ele uma crença de que suas forças precisavam ser sempre sustentadas numa relação com
seus familiares, permeada de proteção, atenção e preocupação. No decorrer do trabalho com as imagens, o
paciente refletiu que, para alcançar alguma mudança, ele precisaria tirar as pedras de seu caminho. Para isso,
teria que colocar a mão na massa (sic), o que ninguém poderia fazer por ele e o que ele nunca havia feito, até
então. Afirma que, mobilizando as pedras, poderia ser mais fácil visualizar o que havia à sua frente, pois as
mesmas prejudicam a visualização das coisas e, assim, tornam as dificuldades maiores e mais assustadoras do
que são na realidade.

Segundo uma concepção junguiana do símbolo, este aponta para algo desconhecido; sua integração promove
uma tomada de consciência e uma significação que vai além daquilo que manifesta imediatamente, pois não
pode ser apreendido por completo (Jung, 1961/1996). Nesse sentido, o Jogo de Areia facilita a manifestação
simbólica da doença por ter o mesmo canal de expressão que esta – um canal que, a grosso modo, já é familiar 
ao indivíduo (Greghi, 2003; Silva & SantAnna, 200).

Durante o processo terapêutico de Jogo de Areia, um processo de desenvolvimento e cura pode ser promovido,
gradualmente (Kalff, 2004), sendo que cura pode ser entendida, aqui, como uma vivência interior de integração
de aspectos conflitivos, favorecendo a ampliação da consciência.

No momento em que essas imagens são projetadas no Jogo de Areia, o paciente pode visualizá-las, tocá-las,
senti-las e refletir sobre elas. Nesse sentido, as mãos servem como canais de expressão para a construção de
imagens que podem ser consideradas como mediadoras nessa reconexão entre corpo e psique, consciente e
inconsciente. Ammann (1991) afirma que, no Jogo de Areia, as mãos são vias essenciais de expressão para
aquilo que perturba e, por intermédio delas, o indivíduo irá estabelecer uma ligação entre o mundo interior e o
exterior, tornando visível a energia existente entre ambos. Através delas, o sujeito vai dar forma ao que está
inconsciente, tornando-o reconhecível num nível que pode ser visualizado concretamente.

Apesar de alguns estudos apresentarem resultados que indicam bastante receptividade e baixíssima resistência
no trabalho do Jogo de Areia em situação clínica (Chagas & Forgione, 2002; Silva et al., 2001a; Silva &
SantAnna, 2001), alguns pacientes do presente estudo, conforme verificou-se na tabela 2, apresentaram
reações de recusas frente ao instrumento. No entanto, essas recusas puderam ser compreendidas não apenas
como uma reação defensiva frente à possibilidade de manifestação espontânea de conteúdos desconhecidos e
conflitivos, tal como o Jogo de Areia favorece. Mas, também foram entendidas como experiência subjetiva com
seu corpo simbólico, que, naquele momento, solicitava-lhe atenção por estar preenchido de vivências
emocionais que também necessitavam ser reconhecidas e reformuladas.
O sujeito 3, uma mulher de 33 anos, recusou a utilização do Jogo de Areia em momento pós-cirúrgico,
apresentando um cansaço físico bastante notável. Esta paciente havia desistido da cirurgia em momento de
internação anterior, por recusar-se a se submeter à realização de estomia. No entanto, devido à progressão do
tumor intestinal, decidiu autorizar a cirurgia, apesar de sentir-se bastante incomodada com a idéia da utilização
da bolsa de estomia. Sua recusa para o contato com o Jogo de Areia, nesta situação parece estar associada a
uma possível condição emocional da paciente de desconforto e frustração com a necessidade de realização da
cirurgia. Tal decisão lhe mobilizou muitos conteúdos conflitivos que referiam-se ao seus comportamentos,
atitudes e posicionamento em relação ao seu modo de vida sempre mais voltado ao trabalho. Portanto, levanta-
se a hipótese de que, naquele momento, o contato com o Jogo de Areia apontava-lhe a possibilidade de um
contato com seu lado interior que apresentava-se fragilizado e dolorido. Desse modo, para que esse contato
pudesse acontecer, talvez ela precisasse, antes, admitir, reconhecer e conversar com seu corpo que
apresentava-lhe uma nova vivência emocional.

Apenas dois sujeitos (5 e 6 – ambos do sexo masculino) recusaram-se a entrar em contato com o Jogo de Areia,
durante todo o processo. Justificaram não ter cabeça para essas coisas, que isso não levaria a nada e, inclusive,
não ter idade para brincadeira de casinha (s.i.c.). Entretanto, todos eles, em algum momento, chegaram a tocar
na areia ou a mencionar alguma coisa em relação ao instrumento, o que, conseqüentemente, nos leva a afirmar
que, também nos casos de recusa, o Jogo de Areia serviu de intermediário para mobilização, expressão e
apreensão de determinados conteúdos. Por exemplo, o sujeito 6 recusou, inicialmente, o Jogo de Areia em todas
as sessões em que foi apresentado, dizendo-se vazio (s.i.c.) para tanto e mencionando que não é muito de se 
emocionar, preferindo conversar e sendo esse o seu jeito de expressar as emoções (s.i.c.). Desculpou-se por
não ver sentido (s.i.c.) em mexer naquele material que lhe sugeria características infantis mas, apesar de sua
rigidez emocional para um contato interior, demonstrou um movimento criativo ao esforçar-se em mexer na
caixa de areia, denotando uma tentativa de encontrar, em si mesmo, algo além do vazio que projetou no
instrumento.

Verificou-se que o Jogo de Areia propicia condições internas nos indivíduos que favorecem uma vivência
emocional, através de sensações que os pacientes denominaram de tranqüilizadoras e promovedoras de alívio e
relaxamento. Tais sensações, que se deram a partir da interação com a areia e miniaturas podem ser
interpretadas como decorrentes de uma experiência de carga emocional, onde o indivíduo pôde dar vazão à
expressão de suas emoções e sentimentos de uma forma não habitual, ou seja, por uma via de polaridade
também abstrata, além da concreta. Tais conteúdos puderam ser manifestados e elaborados, assim, sob uma
nova perspectiva, reconhecendo-se e tomando-se consciência dos mesmos, conforme ilustram os casos dos
sujeitos 1 e 10.

O sujeito 1, uma mulher de 52 anos, deparou-se com um câncer colorretal justamente num momento em que
tinha seu trabalho de mais de 10 anos como insatisfatório e insustentável. Durante sua relação com a areia, foi
recordando-se de questões insatisfatórias e não-resolvidas do passado e, a partir de então, foi criando imagens
que se relacionavam com essas questões. Desse modo, essa paciente pôde refletir sobre suas experiências de
passividade e falta de determinação em sua vida. Além disso, por meio das imagens que lhe foram suscitadas,
pôde encontrar mensagens que lhe ampliaram as possibilidades de buscar novas perspectivas de vida.

O sujeito 10, um homem de 44 anos, teve a possibilidade de deparar-se com aspectos de sua dinâmica de
personalidade que puderam emergir no processo analítico com tal instrumento, como emoções e conteúdos
angustiantes que lhe eram desconhecidos e renegados. Esse paciente mostrou-se bastante envolvido com a
elaboração de sua primeira cena na caixa-de-areia, apresentada na figura 5.

Figura 5: Registro fotográfico da cena intitulada A felicidade existe.

O paciente conta a estória de que ele e sua filha estão numa praia, com algumas pessoas desconhecidas em sua
volta, sendo que uma delas está sozinha. O paciente incomoda-se consideravelmente ao dar-se conta de ter
deixado uma pessoa sozinha (s.i.c.) na situação desta estória. Mobiliza-se para encontrar, entre as miniaturas
disponíveis, uma outra pessoa que pudesse fazer companhia para aquela que estava sozinha, não conseguindo,
no entanto, encontrar nenhuma que o satisfizesse.

Nas sessões que antecederam a realização desta cena no Jogo de Areia, o paciente relatou a respeito de sua
relação conflituosa com a esposa, revelando que mantém seu casamento com medo de distanciar-se da filha. Ao
deparar-se com a figura sozinha na caixa-de-areia, foi como se tivesse ficado frente-a-frente com sua solidão. O
título que deu à cena, A felicidade existe, chamou a atenção da pesquisadora para uma dificuldade do paciente
em admitir-se sozinho e infeliz, como se quisesse fugir de uma solidão com a qual, no entanto, já convive
mesmo estando casado e próximo da filha. Nesse momento do processo, a inserção do Jogo de Areia mostrou-
se bastante significativa e relevante para o paciente, por ter aberto um espaço em sua vida para que esse
conteúdo conflitivo, até então não admitido verbalmente, pudesse ser expresso e trazido à consciência, criando
condições para que fosse, então, reconhecido e elaborado.

Levando-se em conta essas discussões, torna-se possível afirmar que as imagens expressas no Jogo de Areia
possibilitam o desenvolvimento de potencialidades dos indivíduos que podem levá-los a algum tipo de
transformação interior. Nesse processo, o terapeuta recebe essas imagens como elas são, permitindo que elas
criem forma e se desenvolvam, no sentido de se buscar apreensões conscientes (Kalff, 2004; Dean, s.d). De
acordo com Franco (2003), a figura acolhedora e participativa do psicoterapeuta no processo com o Jogo de
Areia torna-se, portanto, indispensável e significativa, auxiliando o paciente em seu desenvolvimento interior.

A partir do que foi exposto, verificou-se que as condições internas propiciadas pelo Jogo de Areia favoreceram o
despertar dos sujeitos desta amostra para questões que estavam sendo por eles renegadas ou desprovidas de
cuidado; as quais, inclusive, puderam ser acolhidas e fomentadas pela figura continente da pesquisadora. Nesse
sentido, o Jogo de Areia em contexto de psicoterapia breve de setting hospitalar parece contribuir para o
trabalho analítico, auxiliando o paciente a repensar e elaborar suas questões, criando condições favoráveis para
que ele debruce um novo olhar sobre as mesmas e busque novos caminhos de enfrentamento, quando
necessário.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inserir o Jogo de Areia num contexto de instituição hospitalar, especificamente de enfermaria cirúrgica, permite
uma reflexão sobre possibilidades ampliadas e criativas de expressão e relação psicoterapêutica num ambiente
onde não é apenas o corpo concreto que pede atenção.

Verificou-se que a areia é um elemento indispensável e insubstituível para o trabalho com o Jogo de Areia.
Portanto, torna-se imprescindível esclarecer a equipe sobre o trabalho com tal instrumento e realizar o
procedimento de esterilização da areia, a fim de garantir sua assepsia num ambiente de enfermaria cirúrgica.

Adaptado para o setting hospitalar, o Jogo de Areia mostrou-se um instrumento bastante favorável para o
trabalho com pacientes hospitalizados, dentro de uma abordagem de psicoterapia breve junguiana. Sua inserção
neste setting possibilitou uma vivência emocional que foi descrita pelos pacientes deste estudo como aliviadora
e tranqüilizadora, o que se acredita que seja devido a uma possibilidade de expressão de seus conteúdos por
uma via abstrata que lhes era pouco (re)conhecida.

No presente estudo, experiências de solidão, de vazio interior, paralisação frente a situação de doença, busca de
novos potenciais foram apresentadas pelos sujeitos e puderam ser reconhecidas por meio de imagens que lhes
foram despertadas no contato com o Jogo de Areia. Verificou-se que esse contato, acolhido pela figura
continente da pesquisadora, promoveu condições para que esses conteúdos pudessem ser apreendidos
conscientemente, levando os sujeitos a desenvolverem movimentos criativos em busca de novas possibilidades
e perspectivas diante de suas dificuldades e potencialidades. Nesse sentido, o Jogo de Areia possibilitou que
mensagens apontadas pela situação de doença e hospitalização pudessem ser lidas e ressignificadas.

6. REFERÊNCIAS
Ammann, R. (1991). Healing and transformation in sandplay. Chicago, Ilinois: Chicago, Open Court and La
Salle.

Angerami-Camon, V. A. (Org.). (1999). Psicologia hospitalar: Teoria e prática. São Paulo: Pioneira.

Araújo, S. E. A. et al. (2001). Papel da colonoscopia no câncer colorretal. In A. Habr-Gama et al., Atualização 
em cirurgia do aparelho digestivo e coloproctologia – Gastrão (pp. 257-299). São Paulo: Frôntis. p.257-299.

Bazhuni, N. F. N. (2003). A experiência psíquica de pacientes cardiopatas amputados de membros inferiores: 


Um estudo clínico em ambiente hospitalar com o uso do jogo de areia. Monografia de conclusão de curso de
graduação, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.

Chagas, M. I. O., & Forgione, M. C. R. (2002). O paciente hemiplégico e o sandplay: Uma possibilidade de
expressão. Acta Fisiátrica, 9(2), 90-97.
Cunningham, L. (1977). What is sandplay therapy. Journal of Sandplay Therapy, 61). Recuperado em 6 nov.
2004: <http://www.sandplayusa.org/what_is_sandplay_therapy.htm>

Dean, L. E. (s.d). Doing nothing: One more approach to Sandplay. Journal of Sandplay Therapy. Recuperado em
6 nov. 2004: <http://www.sandplayusa.org/doing_nothing,htm>

Dethlefsen, T. & Dahlke, R. (1983). A doença como caminho: Uma visão nova da cura como ponto de mutação 


em que um mal se deixa transformar em bem. São Paulo: Cultrix.

Franco, A. (2003). O Jogo de Areia: Uma intervenção clínica. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia,


Universidade de São Paulo, São Paulo.

Greghi, M. (2003). O uso de sandplay na psicoterapia de pacientes com sintomas orgânicos: Uma análise 


compreensivo-simbólica. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

Jung, C. G. (1996). O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em
1961)

Jung, C. G. (1983). Psicologia do inconsciente. Petrópolis, RJ: Vozes. (Trabalho original publicado em 1917)

Kalff, D. (1972). Sandplay with Dora M. Kalff. [Filme-vídeo]. Peter Ammsnn (Dir.). 1 cassete VHS NTSC, 50
min., color., son. (Original gravado em inglês. Tradução legendada para o português por A. Franco).

Kalff, D. (2004). Sandplay: A psychotherapeutic approach to the psyche [Book review]. Journal of Sandplay 
Therapy, 13(1). Recuperado em 6 nov. 2004: <http://www.sadplayusa.org/pdf/kalff_bookreview.pdf>

Kreinheder, A. (1993). Conversando com a doença: Um diálogo de corpo e alma. São Paulo: Summus.

Liberato, R. (2002). A jornada do herói interior em busca da vida. Jung & Corpo - Revista do curso de 


psicoterapia de orientação junguiana coligada a técnicas corporais, 2(2), 41-56.

Mindell, A. (1990). Trabalhando com o corpo onírico. São Paulo: Summus.

Pinotti, H. W. (Org.). (1994). Tratado de clínica cirúrgica do aparelho digestivo. São Paulo: Atheneu.

Ramos, D. G. (1990). Psique do coração: Uma leitura analítica do seu simbolismo. São Paulo: Cultrix.

Romano, B. W. (1999). Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo: Casa do


Psicólogo.

Silva, S. C. (2002). Sofrimento físico e emocional: Uma compreensão junguiana da vivência de estomizados por 


ressecção de câncer colorretal. Monografia de Aprimoramento e Especialização em Psicologia Hospitalar -
Divisão de Psicologia, Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, São Paulo.

Silva, S. C. et al. (2001a). O jogo de areia: Um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento. In
Anais, 2 Congresso Norte Nordeste de Psicologia, Salvador. Universidade Federal da Bahia.

Silva, S. C. et al. (2001b). Proposta de intervenção psicoterapêutica por meio do Jogo de Areia em instituições
hospitalares: relato de experiência com pacientes geriátricos. Mostra de TGI, 6 (Vol. 3, p. 156). São Paulo:
Editora Mackenzie.

Silva, S. C., & Santanna, P. A. (2001). O movimento auto-regulador da doença em um paciente oncológico: Um
estudo por meio da expressão simbólica no jogo de areia. Mostra de TGI, 6 (Vol. 3, p. 109). São Paulo: Editora
Mackenzie.

Weinrib, E. L. (1993). Imagens do self: O processo terapêutico na caixa-de-areia. São Paulo: Summus.

Endereço para correspondência


Simone Correa Silva
Travessa Sedna, 50 – Interlagos
São Paulo – SP – Cep 04660-060.
Fone: (11) 9547.6524
E-mail: monecorrea@uol.com.br

1
Psicologa colaboradora da Divisão de Psicologia Clínica da Coloproctologia do ICHC-FMUSP.
2
Membros da Diretoria Técnica da Divisão de Psicologia do ICHC-FMUSP.
Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença
Creative Commons

Divisão de Psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas


Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo - DIP/ICHCFMUSP
Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 155 - Cerqueira César
Prédio de Ambulatórios - Térreo
CEP: 05403-000 - São Paulo - Brasil
Tel.: 55+11 2661-6188 / 2661-645

revpsicologiahospitalar@hc.fm.usp.br

Vous aimerez peut-être aussi