Vous êtes sur la page 1sur 4

A INTERVENÇÃO NO ALEITAMENTO E A RELAÇÃO

PRIMODIAL ENTRE MÃE E BEBʹ

Laura de Vilhena Abrão²

Introdução

Tornar-se mãe é um momento de intensa elaboração psíquica para uma mulher, e


a relação com o bebê é de importância estruturante para seu psiquismo. Hilfreding em
uma Conferência psicanalítica realizada em 1911 já dizia que ser mãe não é algo
natural, não se trata de um instinto materno, mas da elaboração de certos processos
psíquicos na mãe, como pontuou Aragão (2007), o Complexo de Castração e o
Complexo de Édipo. Chama-se de Função Materna uma série de cuidados e capacidades
que uma mãe (ou pessoa que exerça essa função) desempenha para favorecer a
constituição psíquica do filho (Jerusalinsky, 2009). A mãe e o bebê vão construindo
uma relação que ultrapassa a concreta satisfação das necessidades físicas da criança.
Diversos autores da psicanálise escreveram sobre a maternidade e a constituição
psíquica da criança. A Preocupação Materna Primária, conceito desenvolvido por
Winnicott (1956), fala de um estado psíquico particular da mãe, uma sensibilidade
exacerbada que permite a ela se identificar consciente e inconscientemente com o bebê,
especialmente após o nascimento e nos primeiros meses de vida. Bergès e Balbo, com
base nos escritos de Lacan, chamam de transitivismo materno a capacidade da mãe de
sentir em seu próprio corpo o que imagina que seu bebê sinta naquele momento, como
se não houvesse num primeiro momento uma separação entre eles (Pavone; Rafaeli,
2011).

A equipe interdisciplinar de um Centro de Apoio ao Aleitamento Materno, de


uma Universidade Pública de São Paulo, que atende bebês até um ano de idade,
observou que, para algumas mulheres esse momento era vivido, como um intenso
sofrimento e havia a necessidade de falar sobre as transformações que ocorriam, bem
como conflitos familiares que se exacerbavam. Questões aparentemente específicas de
amamentação evidenciavam também que algo desviava da simples técnica e orientação,
havia questões inconscientes que contribuíam para a intensificação das dificuldades,
muitas vezes, indicando desencontros na relação entre mãe e bebê.

Objetivo:

Através de vivências clínicas e contribuições teóricas discutir a seguinte questão:


O que um(a) psicanalista pode oferecer à dupla mãe e bebê nos primeiros meses de vida
nesta instituição?

Metodologia:

Na clínica psicanalítica, não existe uma teoria a priori que dirá sobre a
problemática trazida pelo paciente, não vamos à clínica “procurando” a teoria, vamos a
ela com nosso inconsciente. Deve-se considerar a sobredeterminação ou
multideterminação dos fenômenos psíquicos e, dessa forma, o pensamento não é
unicausal, mecanicista e linear. Em relação à teorização, Cromberg (2001) aponta,
citando Freud, que o trabalho de construção e desconstrução de hipóteses teóricas é
permanente e a psicanálise deve ser colocada em questão em cada caso. O método
clínico tem como particularidade um caráter qualitativo, priorizando a intensidade dos
fenômenos e reconhece sua complexidade visando à compreensão da subjetividade
(ARAGÃO, 2007).

Discussão:

• Considerando as características do serviço ambulatorial, a disponibilidade da mulher,


entre outros fatores, o número de encontros pode ser limitado. Assim, cada encontro
deve conter começo, meio e fim e destina-se a amenizar ou a superar os sintomas e
conflitos atuais. Não substitui um trabalho terapêutico prolongado. Esses encontros
podem também provocar no paciente uma vontade de seguir com uma análise
posteriormente.

• No setting terapêutico, cria-se uma situação de segurança, aceitação e não censura


daquilo que é falado pelo paciente, e estes fatores contribuem para a reformulação
interna dos conflitos e reestruturação da vivência de ansiedade frente a situações
emocionais intensas.

• A escuta do psicanalista priorizou a intensidade dos fenômenos psíquicos,


reconhecendo sua complexidade, e buscou a compreensão do sujeito e de seu
sofrimento. O paciente é convidado a associar livremente, e o analista permanecendo
em atenção flutuante favorece que conteúdos mentais latentes possam emergir. Dessa
forma, o trabalho do psicanalista permitiu clarear questões inconscientes e, até mesmo,
ajudou a organizá-las com a mulher, o que favoreceu a transformação da ansiedade
frente aos problemas que se apresentaram. O modelo das Consultas Terapêuticas
elaborado por Winnicott (1984) auxiliou na estruturação e compreensão desse modelo
de trabalho.

• A escuta do psicanalista também permite ampliar a compreensão de outros


profissionais da instituição, contribuindo para uma visão integral a respeito da vivência
dessas mulheres no período do pós-parto, auxiliando na compreensão da dinâmica
psíquica que envolve casos de depressão pós-parto, por exemplo,

• Winnicott (2006) escreveu sobre a prática da amamentação, considerando-a uma


experiência rica e positiva, porém não absolutamente essencial, já que muitas pessoas
que não foram amamentadas se desenvolveram satisfatoriamente. O autor considera o
ato de segurar e manipular o bebê como maneiras importantes de propiciar momentos
suficientemente bons ao bebê. Dessa forma, não é do leite em si que se fala, embora
seus benefícios nutricionais sejam reconhecidos, mas daquilo que ocorre, quando essa
dupla encontra-se para esse momento íntimo, de contato corporal.
• O pai/companheiro/familiar próximo tem como principal função auxiliar à mãe.
Incentivando a relação pai e bebê, desde seu início, contribui-se para que cada vez mais
este possa compartilhar da educação e dos cuidados posteriores com o filho. O
Ministério da Saúde considera que a participação paterna é fator protetor para a saúde
de todos os envolvidos.

• Observou-se, assim como aponta Jerusalinsky (2009), que o filho não representa
apenas a promessa de completude esperada pela mulher, mas, que a maternidade
recoloca também os processos psíquicos de angústia de castração, ou seja, uma mulher
não se completa na maternidade, ao contrário, ela é relançada à outra falta. Questões
referentes ao relacionamento com o companheiro, o retorno ao trabalho e as mudanças
corporais também eram geradores de grande angústia para essas mulheres e pediam um
lugar de acolhimento, escuta e transformação.

Considerações Finais:

Esse tipo de atendimento contribui para a Saúde Mental da Mãe e do Bebê. A


escuta do psicanalista permite, mesmo em encontros únicos, produzir transformações na
experiência das mulheres em relação a maternidade e na relação com o bebê.
Especialmente uma escuta acolhedora e disponível para as ansiedades, dúvidas e
frustrações que surgem no momento em que uma mulher se permite aventurar nas águas
da maternidade. Que não batam de frente com as ondas do mar, mas que ao nadar
consigam atravessá-las.

ARAGÃO, Regina Orth. A Contrução do Espaço Psíquico Materno e seus Efeitos sobre
o Psiquismo nascente do bebê. São Paulo, 2007. 119p. Dissertação (Mestrado-
Programa de Estudos de Pós-Graduação em Psicologia Clínica) – Laboratório de
Psicopatologia Fundamental, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

CROMBERG, Renata Udler. Notas sobre pesquisa em psicanálise. In:_____ Cena


Incestuosa: abuso e violência sexual (Coleção Clínica Psicanalítica). São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2001, p.48-51.

HILFREDING, Margarete, PINHEIRO, Teresa, VIANNA, Helena Basserman. As bases


do amor materno. São Paulo: Escuta, 1991.

JERUSALINSKY, Julieta. A maternidade e o gozo fálico. In:_____. A criação da


criança: letra e jogo nos primórdios do psiquismo. São Paulo, 2009. p.122-134. Tese
(Doutorado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
262p.

PAVONE, Sandra, RAFAELI, Yone. Diagnóstico Diferencial entre Psicose e Autismo:


Impasses do Transitivismo e da Constituição do Outro. Estilos da Clínica, São Paulo, v.
16, n.1, p. 32-51. 2011.
WINNICOTT, Donald Woods. Consultas Terapêuticas em Psiquiatria Infantil. Rio de
Janeiro: Imago Editora, 1984.

WINNICOTT, Donald Woods. A Preocupação Materna Primária (1956). In:____. Da


pediatria à psicanálise: obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago, 2000; p. 399-405.

WINNICOTT, Donald Woods. A amamentação como forma de comunicação. In:_____.


Os bebês e suas mães. 3ᵃed. São Paulo: Martins Fontes, 2006; p. 19-27.

¹ Trabalho elaborado a partir da monografia de Conclusão do Curso da Especialização


em Psicopatologia e Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo, 2013.

² Psicóloga, formada pela PUC-SP, com especialização em Psicopatologia e Saúde


Pública pela Faculdade de Saúde Pública – USP e aprimoramento pela Derdic em
Clínica Psicanalítica: A linguagem e as manifestações psicopatológicas.

Vous aimerez peut-être aussi