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Gilberto Bercovici*
Enzo Bello***
Este não é o nosso caso. No limiar dos trinta anos da Constituição Federal de
1988, pensamos sob a perspectiva da mudança a ser operada e dos obstáculos a tais
transformações tanto no debate intelectual, como no papel do Poder Judiciário, notada-
mente do STF.
Por esses e outros tantos motivos, entendemos que não há motivos para festejos,
mas para reflexão crítica, resistências e construção de alternativas.
1Este texto consiste em versão reduzida de artigo recém publicado em periódico acadêmico: BERCOVICI, Gilberto;
LIMA, Martonio Mont’Alverne Barreto; BELLO, Enzo. O fim das ilusões constitucionais de 1988? Revista Direito &
Práxis, Ahead of Print, Rio de Janeiro, p. 1-43, 2018. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re-
vistaceaju/article/view/37470/26483>.
*∗ Professor Titular de Direito Econômico e Economia Política da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
(USP). Doutor em Direito do Estado e Livre-Docente em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo (USP).
*∗∗ Professor Titular da Universidade de Fortaleza (Unifor). Doutor e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de
Frankfurt (Alemanha). Mestre em Direito e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
*∗∗∗ Professor Adjunto IV da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutor em Direito pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Estágio de Pós-Doutorado em Direito pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS). Editor-chefe da Revista Culturas Jurídicas (www.culturasjuridicas.uff.br).
ral tem em sua redação objetivos de transformação social pela via do direito (art. 3º). Ou
pelo menos, um compromisso mínimo com esta transformação. Os autores conservado-
res criticaram a constituição dirigente com vários argumentos. A crítica feita à constituição
dirigente pelos autores conservadores diz respeito ainda, entre outros aspectos, ao fato
de a constituição dirigente “amarrar” a política, substituindo o processo de decisão política
pelas imposições constitucionais.
Uma das práticas recorrentes tem sido a utilização do instituto da mutação consti-
tucional como estratégia de burla ao processo democrático e de reescrita da Constituição
por magistrados não eleitos, sem mandato nem controle social democrático tem sido usa-
da no sentido contrário da própria Constituição: não para atualizá-la; mas exatamente fa -
zer com retroceda no seu projeto desenvolvimentista, dirigente e garantista; pervertendo
até mesmo o sentido original da mutação constitucional. O caso da garantia constitucional
da presunção da inocência (art. 5º, LVII) é emblemático da destruição do texto constitucio-
nal pelo STF, sob a justificativa da “mutação constitucional”. Não houve mutação constitu-
cional alguma, houve quebra constitucional, uma violação explícita da Constituição de
1988.
Duas questões não podem deixar de serem feitas na atual conjuntura. Há futuro
para a Constituição de 1988? O que fazer?
A partir dos anos 2000, esse embate arrefeceu, mas continuaram as dispu-
tas entre os vários grupos políticos e econômicos em torno da constituição. O recrudesci-
mento do ataque à constituição mudou de lugar e, embora continue com apoio no Legisla-
tivo e Executivo, passou a ser desferido preponderantemente a partir do STF. Com o gol -
pe jurídico-parlamentar-midiático de 2016 e as contínuas violações ao texto constitucional
por todos os poderes da República, o sistema constitucional brasileiro de 1988 simples -
mente colapsou.