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Reforma
Nota prévia
De qualquer modo, para que ninguém se engane no sentido de que Lutero tivesse
sido o iniciador e não um herdeiro da intolerância contra os judeus, eis aqui esta
síntese.
Na Europa Medieval
Calúnias populares
O libelo de sangue é a lenda segundo a qual os judeus tinham uma insaciável sede
de sangue cristão. O primeiro libelo de sangue da Idade Média ocorreu em Norwich
(Inglaterra) no ano 1144. Segundo se dizia, uma criança cristã tinha sido
sequestrada, torturada e assassinada por uns judeus no dia de sexta-feira santa.
Rapidamente as acusações se multiplicaram: em Gloucester (1168), em Blois
(1171), em Saragoça (1182), em Fulda (1235), etc. As Siete Partidas espanholas
de 1263 repetiam a acusação assim: "Ouvimos dizer que em certos lugares, na
Sexta-Feira Santa, os judeus roubam crianças e as crucificam com mofa".
Um tal Simão de Trento, cujo único e duvidoso mérito era o de ter sofrido o
martírio às mãos dos judeus em 1475, foi beatificado e permaneceu no santoral
romano até 1965.
Tudo isto soa hoje incrível ou ridículo, mas no seu tempo custou os bens, a honra e
até a vida de muitos judeus, como os assassinados em 1286 na matança de
Munique. O caso da Criança de la Guardia, no qual judeus conversos confessaram
sob tortura ter sacrificado uma criança com o conhecimento do Grande Rabino, foi
um importante antecedente para a expulsão dos judeus sefardíes (1492).
A profanação da hóstia
Era uma espécie de alma penada, que às vezes se identificava com o oficial do
templo que esbofeteou Jesus. Justamente castigada por sua falta, o Judeu Errante
resultava o arquétipo do povo judeu, sem pátria nem lar. Parece que a lenda surgiu
em Bolonha no século XIII quando Mateus Paris (1199-1259), monge beneditino
que foi o principal cronista da Idade Média, incorporou a fábula do Judeu Errante na
sua Chronica Majora, que teve enorme influência.
Legislação discriminatória
No tempo que vai desde a Idade Média até ao século XIX, a judeofobia deve ver-se
à luz do conceito de um vínculo inquebrantável entre a igreja e o estado, segundo o
qual quem está fora da igreja é um traidor além de um herege. A tese foi declarada
em termos inequívocos pelo papa Bonifácio VIII na famosa bula Unam Sanctam de
18 de Novembro de 1302.
Parece que o Concílio estava muito mais preocupado pela mistura com judeus e
sarracenos que pela promiscuidade sexual dos cristãos que se pressupõe neste
cânon. Em todo caso, como o concílio não estabeleceu exactamente que tipo de
vestimenta distintiva haviam de vestir os judeus, a prática variou em diversos
países: um gorro bicudo na Alemanha, um círculo vermelho e branco na França, um
pedaço de pano amarelo cuja forma imitava as tábuas da Lei em Inglaterra, etc. O
papa Alexandre IV ordenou em 1257 o uso de um círculo amarelo para os varões
judeus, e de duas fitas azuis no véu das judias. Três séculos mais tarde, Paulo IV
mandou, na bula Cum nimis absurdum (1555) o uso de um gorro amarelo e um
lenço da mesma cor, para judeus varões e mulheres respectivamente.
Queima do Talmude
Desde o século XIII começou a haver debates públicos entre judeus e cristãos, em
que os judeus se encontravam em clara desvantagem. O ataque contra o judaísmo
manifestou-se muitas vezes sob a condenável forma da queima de exemplares do
Talmude. Isto ocorreu primeiramente em Paris (1240) e foi seguido de actos
similares em outras cidades. Quando a Inquisição criou o Índice de Livros Proibidos,
os livros da tradição judaica foram submetidos a forte censura.
Expulsões
O Ghetto
Fernando D. Saraví
Bibliografia