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Poesia concreta, poesia semiótica

por Cid Ottoni Bylaardt

A expressão poesia semiótica designa genericamente um tipo de texto literário que procura
explorar outros códigos além do puramente linguístico, incluindo imagens, disposições não-
convencionais na página (ou na tela), por vezes sons e até movimento. É uma trasladação do poema
do mundo analógico para o mundo digital, instaurando um outro processo de leitura, não por
contiguidade ou linearidade, mas por montagens ou associações. A partir do concretismo, lançado
em 1956/1957 no Brasil, encabeçado por nomes como Haroldo e Augusto de Campos, Décio
Pignatari, Ferreira Gullar e outros, seguiram-se outras propostas, como o neoconcretismo, o poema-
processo, os popcretos, a poesia-práxis. O que nos concerne é seu caráter intersemiótico, multi-
associativo. A partir da década de oitenta do século XX, a cibercultura propiciou também o
aparecimento da escrita holográfica, do vídeo-clipe, da poesia hipertextual, do poema-fractal, da
poesia intersignos etc. Todas elas têm em comum a ânsia de libertar a poesia da tirania da página,
com seu dirigismo infradestro.

Enfim, o que estamos chamando aqui “poema semiótico” congrega todas as experiências de
extravasamento da palavra e da página pela poesia em sua inquietação, que começa com os
concretistas da década de 50 do século XX e que não para de se desdobrar em novas propostas, em
novas possibilidades.
Apresentamos a seguir alguns textos representantes desse tipo de poesia, para discussão.

Augusto de Campos, 1962.


Haroldo de Campos, 1984.

Décio Pignatari, 1956

Tomemos como objeto de observação e leitura o poema abaixo. Durante a leitura você encontrará
uns botões. Siga-os para entender parte do poema.

Clique nos botões abaixo para fazer a leitura


Referência: ALETRIA – Revista de estudos de literatura. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 1999, p. 58.

Botão 1: O epitalâmio (aqui grafado em sua forma latina, epithalamium, que veio do grego
epithalámion) é uma espécie poética praticada desde a Grécia antiga, e consiste em um canto de
louvor ou exaltação aos noivos no casamento. O autor chamou-o “epithalamium II”, talvez pelo fato
de já existir um poema chamado “Epithalamium”, por sinal escrito em inglês, do poeta português
Fernando Pessoa.

Botão 2: No centro do poema, temos a palavra “he” (ele, em inglês), envolta pelo “S” de “she” (ela,
em inglês). O texto tem, então, algo a ver com relação entre homem e mulher, mais especificamente
ligada ao casamento.

Botão 3: Tanto à esquerda como à direita da imagem central temos uma “chave léxica” que explica
alguns termos. A partir daí, você pode imaginar todas as possibilidades de sentido que envolvem as
palavras “he” e “she”, que, por sua vez, conduzem às ideias de homem e mulher, casamento,
envolvimento amoroso, serpente, tentação, sedução, remetendo à relação homem-mulher desde os
tempos do paraíso, com Adão e Eva, e até hoje...

Botão 4: Veja quanta coisa foi falada desse poema, que não apresenta nenhuma frase completa, nem
mesmo incompleta. Temos apenas signos, que se superpõem, e que tentamos montar para
estabelecer um significado. Pense numa coisa: quanto menos um texto explica as coisas, maiores
são as possibilidades de criação em torno dele, e assim, nesse gênero de poesia, podemos dar asas à
imaginação e pensar em tudo o que o texto nos autoriza, e além. O fato, por exemplo, de se utilizar
a língua inglesa, pode conduzir à idéia de universalidade, a referência ao mito cristão de Adão e Eva
pode sugerir o caráter sagrado da união. E assim por diante.
A pequena análise que fizemos acima é incompleta (como todas as análises literárias). Releia
o poema e o comentário que se lhe segue e discuta junto com um colega ou uma colega e tente
descobrir mais coisas no poema. Anote aqui suas observações.
Em seguida, tente responder a essa perguntinha de múltipla escolha:

1. Do lado direito vimos uma legenda para cada letra do poema. A letra “S” significa serpente,
a letra “h”, homo e a letra “e”, Eva. Que relação você estabelece entre essas legendas?
Releia o poema e os comentários dos botões e marque a opção que se refere de forma
aceitável à relação entre as palavras serpente, homo e Eva.
a) A letra S que envolve as letras que representam homo e Eva pode sugerir o caráter
pecaminoso de um envolvimento amoroso.
b) O S que envolve as letras h e e sugere a submissão feminina na relação a dois.
c) A maneira como as letras se entrelaçam para formar a figura indica a eterna dificuldade de
relacionamento entre homens e mulheres.
d) A forma de serpente da letra S veicula a ideia de que a sedução é sempre uma atitude
prejudicial ao seduzido.

2. Observe agora o poema abaixo. Toda a compreensão do poema depende da chave léxica, que
identifica o coração a “você” e o quadrado a “eu”. Este parece ser também um poema de
amor. De certa maneira, a compreensão aqui obedece a uma sequência mais ou menos
tradicional, de cima para baixo. Responda as questões a seguir:
Sobre o poema acima, assinale a alternativa que melhor descreve essa “história” de amor:

a. hesitação
b. aproximação
c. afastamento
d. submissão

Leia agora o seguinte texto, do poeta José Paulo Paes, nesse caso composto apenas de uma
palavra que se fragmenta em partes, mas que mantém uma relação de sentido entre elas, em torno do
título. Vamos a alguns comentários: “epitáfio” é um inscrição que se coloca no túmulo de uma
pessoa. Pressupõe, portanto, que essa pessoa já fez sua passagem aqui neste mundo. Nesse caso, o
epitáfio é um texto que de certa forma “conta” sucintamente a história dessa pessoa, ou o que essa
pessoa foi. Em geral, os epitáfios falam bem do “defunto”, é uma homenagem póstuma. Será que
poderíamos ler o poema abaixo como uma homenagem ao banqueiro mencionado? Tente fazer a sua
própria leitura do texto, e procure descobrir que impressão o autor tem de um banqueiro, e por
extensão o que é a vida e a morte de um banqueiro, o que ele busca em vida, qual a finalidade dessa
busca etc.
Vamos a mais uma proposta de poema. Uma única dica: preste atenção na chave léxica e
acompanhe o “raciocínio” expresso pelo texto.

Assinale a alternativa cuja afirmação pode ser inferida a partir da leitura do poema.
a. O destino do homem é desesperador mas há esperança.
b. A morte pode ser evitada se reduzir o círculo a uma dimensão menor do que a do quadrado.
c. O mundo pode ser negro, mas enquanto o homem é branco há esperança.
d. O destino do homem é conclusivo e desesperador.

3. Vamos pensar sobre um outro poema semiótico, como o que segue abaixo:
Inicialmente, macho e fêmea divergem, até que em determinado momento eles se miram,
aproximam-se, misturam-se, interpenetram-se, um se torna o negativo do outro, mas parece que não
há exatamente um final feliz. Considerando a narrativa intuída do texto, pode-se considerar que o
relacionamento entre os personagens caracteriza-se por:

a. Oposição
b. Vacilação
c. Ciclo
d. Dominação

Para finalizar esta parte, você vai dialogar com o seguinte poema, de Augusto de Campos:
O poema cima é construído com preposições e conjunções, que são palavras de ligação entre ideias
de um discurso. O título relaciona-se com a única palavra não riscada. Podemos dizer que a
preposição que remanesce veicula uma ideia de

a. Finalidade
b. Exceção
c. Desacordo
d. Conformidade

As preposições e conjunções contribuem para estabelecer com mais segurança as relações lógicas
entre fragmentos de discurso. Entretanto, nem sempre elas aparecem nos textos. As frases abaixo
expressam relações lógicas sem o auxílio de conjunções ou preposições. Assinale aquela que não
contém a ideia de oposição.

a. O louvor acha incrédulos, a maledicência muitos crentes.


b. A riqueza envilece os homens, a pobreza os enobrece.
c. A maldade supõe deficiência, a bondade suficiência.
d. A virtude é econômica, a austeridade é parcimoniosa.
Atividade

Nesta atividade, você vai ler um texto e assistir a outro. O primeiro é o “Plano-Piloto para Poesia
Concreta”, de Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, de 1958. O outro é o
videopoema “Pessoa”, de Arnaldo Antunes, de 1993.

Plano-Piloto para Poesia Concreta


Augusto de Campos, Décio Pignatari
e Haroldo de Campos
Noigrandes, 4, São Paulo, 1958
poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas dando por encerrado o ciclo
histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento
do espaço gráfico como agente estrutura. espaço qualificado: estrutura espácio-temporal, em vez
de desenvolvimento meramente temporístico-linear, daí a importância da ideia de ideograma,
desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou visual, até o seu sentido específico
(fenollosa/pound) de método de compor baseado na justaposição direta – analógica, não lógico-
discursiva – de elementos. “il faut que notre intelligence s’habitue à comprendre synthético-
ideographiquement au lieu de anlytico-discursivement” (apollinaire). eisenstein: ideograma e
montagem.
precursores: mallarmé (un coup de dés, 1897): o primeiro salto qualitativo: “subdivisions
prismatiques de l’idée”; espaço (“blancs”) e recursos tipográficos como elementos substantivos
da composição. pound (the cantos):método ideogrâmico. joyce (Ulysses e finnegans wake):
palavra-ideograma; interpenetração orgânica de tempo e espaço. cummings: atomização de
palavras, tipografia fisiognômica; valorização expressionista do espaço. apollinaire
(calligrammes): como visão, mais do que como realização. futurismo, dadaísmo: contribuições
para a vida do problema. no/brasil:/oswald de andrade (1890-1954): “em comprimidos, minutos
de poesia”./joão/cabral de melo neto (n. 1920 – o engenheiro e psicologia da composição
mais anti-ode): linguagem direta, economia e arquitetura funcional do verso.
poesia concreta: tensão de palavras-coisas no espaço-tempo. estrutura dinâmica: multiplicidade
de movimentos concomitantes. também na música – por definição, uma arte do tempo –
intervém o espaço (webern e seus seguidores: boulez e stockhausen; música concreta e
eletrônica); nas artes visuais – espaciais, por definição – intervém o tempo (mondrian e a
série boogie-wogie; max bill; albers e a ambivalência perceptiva; arte concreta, em geral).
ideograma: apelo à comunicação não-verbal. o poema concreto comunica a sua própria
estrutura: estrutura-conteúdo. o poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um
intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. seu material: a palavra
(som, forma visual, carga semântica). seu problema: um problema de funções-relações desse
material. fatores de proximidade e semelhança, psicologia da gestalt. ritmo: força relacional. o
poema concreto,usando o sistema fonético (dígitos) e uma sintaxe analógica, cria uma área
linguística específica – “verbivocovisual” – que participa das vantagens da comunicação não-
verbal, sem abdicar das virtualidades da palavra. com o poema concreto ocorre o fenômeno da
metacomunicação; coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não-verbal, coma
nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-conteúdo, não da usual
comunicação de mensagens.
a poesia concreta visa ao mínimo múltiplo comum da linguagem, daí a sua tendência à
substantivação e à verbificação: “a moeda concreta da fala” (sapir). daí suas afinidades com as
chamadas “línguas isolantes” (chinês): “quanto menos gramática exterior possui a língua
chinesa, tanto mais gramática interior lhe é inerente (humboldt via cassirer). o chinês oferece um
exemplo de sintaxe puramente relacional baseada exclusivamente na ordem das palavras (ver
fenollosa, sapir e cassirer).
ao conflito de fundo-e-forma em busca de identificação,chamamos de isomorfismo.
paralelamente ao isomorfismo fundo-forma, se desenvolve o isomorfismo espaço-tempo, que
gera o movimento. o isomorfismo,num primeiro momento da pragmática poética, concreta,
tendo à fisiognomia, a um movimento imitativo do real (motion); predomina a forma orgânica e
a fenomenologia da composição. num estágio mais avançado, o isomorfismo tende a resolver-se
em puro movimento estrutural (movement); nesta fase, predomina a forma geométrica e a
matemática da composição (racionalismo sensível).
renunciando à disputa do “absoluto”, a poesia concreta permanece no campo magnético do
relativo perene. cronomicrometragem do acaso. controle. cibernética. o poema como um
mecanismo, regulando-se a próprio: “feed-back”. a comunicação mais rápida (implícito um
problema de funcionalidade e de estrutura) confere ao poema um valor positivo e guia a sua
própria confecção.
poesia concreta: uma responsabilidade integral perante a linguagem. realismo total. contra uma
poesia de expressão, subjetiva e hedonística. criar problemas exatos e resolvê-los em termos de
linguagem sensível. uma arte geral da palavra. o poema-produto: objeto útil.
augusto de campos
décio pignatari
haroldo de campos

Leia e assista ao videopoema “Pessoa”, de Arnaldo Antunes. O texto é constituído de vários


discursos superpostos, que diluem a ideia de discurso central, de palavra mais importante. Um dos
discursos está escrito na tela, e é apresentado em movimento. Transcrevemos aqui esse discurso, que
talvez esteja ligado mais obviamente ao título “Pessoa”:

Pessoa - Arnaldo Antunes

Coisa que acaba. Troço que tem fim. Sujeito. Que não dura, que se extingue. Míngua. Negócio
finito, que finda. Festa que termina. Coisa que passa, se apaga, fina. Pessoa. Troço que definha.
Que será cinzas. Que o chão devora. Fogo que o vento assopra. Bolha que estoura. Sujeito.
Líquido que evapora. Lixo que se joga fora. Coisa que não sobra, soçobra, vai embora. Que nada
fixa. A foto amarela o filme queima embolora a memória falha o papel se rasga se perde não se
repete. Pessoa. Pedaço de perda. Coisa que cessa, fenece, apodrece. Fome que se sacia. Negócio
que some, que se consome. Sujeito. Água que o sol seca, que a terra bebe. Algo que morre,
falece, desaparece. Cara, bicho, objeto. Nome que se esquece.

Observe que há um outro discurso superposto a este, que é falado pelo locutor, e que parece
fazer uma análise das palavras, termos, frases do outro discurso, evidentemente uma análise
“científica”, utilizando uma nomenclatura de determinado saber bastante específico, aparentemente
bem organizado. Ao fundo, há outros discursos que se projetam na tela, quase incompreensíveis.
Procure relacionar os discursos do videopoema de Arnaldo Antunes, refletindo sobre o lugar, a
ordem dos discursos em nossa sociedade, e como esses discursos podem se transformar em um
poema, se é que se pode chamar poema a esse artefato apresentado (você acha que se pode?).
Arnaldo Antunes é um poeta que questiona, interroga, desconstrói os discursos, a linguagem que
utilizamos, para transformá-la em poesia, uma metapoesia que dialoga constantemente com os
próprios discursos.

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