FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE TEORIA E FUNDAMENTOS
LAÍS CAROLINE S. CRUZ
MEMORIAL
BRASÍLIA 2017 Memorial
Para mim, a disciplina de Psicologia da Educação foi um avanço tanto na
minha vida acadêmica quanto na minha vida pessoal. Por ser um curso dado a aqueles que estão cursando licenciaturas, ou seja, pessoas que serão futuros professores e que irão lidar com pessoas em período de aprendizado, é de extrema necessidade que faça parte do currículo. Com essa disciplina aprendi o quanto o ser humano é multidimensional, e também aprendi a lidar com isso, por meio de teóricos que vivenciaram e analisaram casos importantes para o desenvolvimento humano, assim como por experiências dos próprios alunos durante as oficinas que foram dadas no percurso da disciplina. Mas o que me fez pensar, refletir sobre o que é necessário ter para que o ser humano possa ter o seu desenvolvimento pleno foi a leitura e análise do livro “Dibs em busca de si mesmo, da autora Vírgina Axline. No decorrer do corpo deste memorial, falarei com detalhes sobre o que cada teórico, cada oficina agregou para o meu entendimento e também como o livro analisado me ajudou a entender a proposta da disciplina. Na introdução da disciplina, vimos as primeiras definições de educação e psicologia e como estas duas estão ligadas. Os textos estudados foram dos autores Paulo Freire (2003) e Mitsuko Antunes (2008) e ambos apontaram uma definição sobre educação, porém diferentes devido aos seus pontos de vista. Para Antunes (2008, p. 469), em seu texto em que fala sobre a psicologia e a educação, educação “é uma prática social, humanizadora, intencional, cuja a finalidade é transmitir a cultura construída historicamente pela humanidade”. Para Freire (2003), em seu texto onde fala sobre a prática docente, educação “é o processo constante de criação do conhecimento e de busca da transformação-reinvenção da realidade pela ação- reflexão humana”. Sobre a psicologia, em todo o seu texto, Antunes mostra que o ponto principal é conectar ainda mais a psicologia com a educação, onde que, para a autora, uma não existe sem a outra, uma visão que só se fixou nesse século e que ainda há muito no que se trabalhar. Meu entendimento sobre essas definições é que temos que trazer a educação para mais perto do ser humano, por ela foi feita por nós e para nós. É uma prática que nos pertence e fez o que somos hoje. Para torna a educação em algo mais distante é muito fácil, pois há muitos relatos de pessoas que não se enquadram no modo tradicional de educação, e assim se veem frustradas por não adquirir um aprendizado que outros consegue. Mas isso é devido a falta de entendimento sobre o que educação é, uma prática que aproxima as pessoas, e não uma prática que as dividi. Com base nos textos de Freire e Antunes, fizemos uma atividade onde entrevistamos um educador sobre o seu campo de trabalho e sobre sua visão de educação. Com essa atividade pude ver tanto em teoria quanto em prática o que é ser professor, e como lidar com a educação. Foi muito importante ter essa nova concepção sobre educação para que o corpo da disciplina fosse introduzido. A primeira parte do curso foi a apresentação dos teóricos, seus campos de atuação, e como cada um vê o desenvolvimento humano. Estudamos Jean Piaget, Lev Vygotsky, Henri Wallon, Sigmund Freud e Viktor Frankl. A seguir eu irei tratar sobre cada um deles, trazendo uma pequena biografia e descrição sobre o seus respectivos trabalhos. O primeiro foi Jean Piaget, um biólogo e psicólogo sueco que nasceu em 1896 e morreu em 1980. Sua grande contribuição para a psicologia foi a epistemologia genética, uma teoria interacionista, cuja a definição é que o ser humano é um produto de sua interação com o meio, diferente das teorias inatistas e empiristas da época. Para mim, essa concepção de ser humano do Piaget mostra o quanto devemos avaliar não apenas um ponto de vista, uma fala, um conceito fechado, e sim que um problema pode ser consequência de vários fatores. Um outro conceito tratado por Piaget foi o que é desenvolvimento, e quais são suas etapas. Para Ele, “o desenvolvimento psicológico é um processo de equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para em estado de equilíbrio superior” (PULINO, 2004). As etapas (ou estágios) do desenvolvimento “se caracterizam como formas de organização da atividade mental, sob um duplo aspecto: motor ou intelectual, de uma parte, e afetivo de outra, com suas dimensões individual e social.” (PULINO, 2004) Essas definições de Piaget mostra como ele analisava o ser humano, e como ele o descrevia. Para mim essas definições não conseguem caracterizar o que realmente o ser humano necessita para se desenvolver, ou seja, é necessário mais do que o intelecto (ele trata muito do cognitivo em seus trabalhos) para que o ser humano possa se desenvolver. Os estágios definidos por Piaget são, estágio senso-motora, estágio pré-operatório, estágio das operações concretas e o estágio das operações formais. Cada estágio é uma base para o que vem a seguir, e assim por diante, cada um se desenvolve a partir do outro. O segundo teórico tratado na disciplina é Lev Vygotsky. Nascido na Bielo- Rússia em 1896, teve uma formação interdisciplinar. Sua contribuição para a psicologia foi a teoria histórico-cultural. De acordo com Pulino (2004), para Vygotsky “o ser humano é um ser biológico que se constrói e reconstrói, transformando-se historicamente, no interior da cultura” Para meu entendimento, a visão de Vygotsky sobre o ser humano, é que nós somos seres transformados e transformadores, pelo meio ambiente e pela cultura, de nós mesmo. Vygotsky usou um método marxista chamado materialismo dialético (tese + antítese), para compreender a complexidade do ser humano, por exemplo, homem = individual + social. Para mim, foi algo muito interessante a ser estudado, pois como já disse anteriormente, o ser humano não é produto de um único acontecimento, ele é muito mais complexo do que isso. Outro conceito que Vygotsky trouxe com seus estudo é o ZDP (zona de desenvolvimento proximal. Mas para que eu pudesse entender o que é ZDP, tive que entender o que Vygotsky leva em consideração no desenvolvimento humano. Ele divide o desenvolvimento em dois níveis, o nível de desenvolvimento real, que é a capacidade real do próprio ser humano, as conquistas do individuo feitas por ele mesmo, e o nível de desenvolvimento potencial, que é a capacidade do individuo de desempenhar tarefas com ajuda do outro. De acordo com Pulino (2004), ZDP “é o domínio psicológico que coincide com a distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial, que é a distância entre o que o indivíduo é capaz de fazer sozinho e aquilo que ele faz com a ajuda dos outros.” Com esse conceito entendi como é importante o papel do outro na formação do ser humano. Algo interessante para pontuar e ver como se diferenciam esses teóricos, é que para Piaget o importante para o desenvolvimento é o cognitivo, o intelecto, e para Vygotsky, o importante é o social. O terceiro teórico a ser tratado na disciplina é Sigmund Freud. Ele nasceu na Áustria em 1856, estudou medicina e psicologia, e sua grande contribuição para a psicologia foi a psicanálise. Infelizmente não consegui entender muito os conceitos deste teórico, pois precisaria de mais tempo e de mais propriedade no assunto para poder entender e descrever o que foi passado, mas irei tentar transcrever o pouco que entendi sobre ele. Freud iniciou seus estudos tratando pessoas com histeria, até que concluiu que a condição era causada por problemas psicológicos e não biológicos como muitos acreditavam. Com isso se originou o conceito de inconsciente, e também se desenvolveu a psicanálise que é a busca do significado oculto. O carro-chefe da teoria de Freud é a sexualidade. Para ele, o homem é movido por um desejo sexual, o qual é a motivação da vida humana. Com base nessa teoria, Freud definiu as fases de desenvolvimento, fase oral, anal, fálica, latente e genital, todas tendo fontes de prazer diferentes referências. Como não consegui me aprofundar muito em suas teorias, não consegui compreender e enquadrar os conceitos de Freud para uma análise sobre a educação. Henri Wallon foi o quarto teórico tratado na disciplina. Ele foi um psicólogo francês, nascido em 1879, e na minha opinião foi um teórico que tratou de um assunto muito importante para o desenvolvimento. Não que as outras teorias sejam menos importantes, mas que este assunto deveria ser tratado com mais profundidade e delicadeza. A grande contribuição de Wallon para a área de psicologia é a teoria da psicogênese da pessoa completa. De acordo com Pedroza (2005) “Wallon nos oferece uma teoria que estuda o homem a partir de uma perspectiva genética, ou seja, defende que é preciso buscar a gênese do desenvolvimento, saber como este processo se inicia e como evolui.” Com essa premissa Wallon traz em sua teoria que as emoções são a primeira ferramenta que a criança utiliza para interagir, e que é por meio da emoção que se desenvolve a consciência, é o inicio da formação da personalidade. Diferentemente de outros teóricos, Wallon começa definindo as etapas do desenvolvimento mesmo antes da criança nascer, pois, de acordo com Pedroza (2005) “a criança encontra-se em uma total dependência biológica do organismo materno, este satisfaz todas as suas necessidades, chegando a antecipar o sentimento de necessidade.” As etapas de do desenvolvimento são, o período da vida intra-uterina, o estágio impulsivo, estágio emocial, sensório-motor, projetivo, personalismo, personalidade polivalente, puberdade e adolescência. Para mim, tratar do assunto sobre emoções aproxima mais para saber como é ser humano é, que ele não é só cognitivo, ou social, mas uma junção de todas essas características. O que acontece muito no meio escolar é que a questão da afetividade é deixada de lado, como se não houvesse importância, algo errôneo de se fazer. O último teórico que foi tratado na disciplina é Viktor Frankl que agrega mais uma característica do humano que não podemos passar por cima. Frankl nasceu em 1905 em Viena, e foi um médico psiquiatra e fundador da logoterapia. Por ser judeu, Frankl teve que enfrentar os campos de concentração nazistas, e foi nesses campos que ele encontra a tese central sobre o sentido da vida. Durante toda sua infância e adolescência Frankl se preguntava qual é o sentido da vida, e os anos no campo de concentração o fizeram constatar que “o homem para viver tem, sobretudo, necessidade de significado” e que “o ser humano perde sua humanidade quando é privado do sentido da vida” (BARROS & RODRIGUES, 2009, p. 23). A definição de logoterapia é de cura pelo sentido, assim, “ela amplia a visão do ser humano como um ser único, responsável e capaz de posicionar-se diante dos condicionamentos da vida, justamente porque possui uma dimensão espiritual que comporta as outras dimensões (psicológica, social e física) (FIZZOTTI apud BARROS & RODRIGUES, 2009, p. 14). A visão desse teórico sobre o ser humano me cativou muito, por ser algo diferente tratado na academia. Ele busca algo que vai além do material e encontrou um caminho para um auto entendimento, o que muitas pessoas buscam e não sabem por onde nem como começar. Os estudos sobre os teóricos nessa disciplina serviram para ampliar meu conhecimento sobre o desenvolvimento do ser humano, em suas diferentes dimensões. Para Piaget, o homem é um sujeito ativo, para Vygotsky, o homem é um sujeito transformador, para Freud, o homem é um sujeito do desejo. Essas concepções para mim completam uma a outra, aprofundando na complexidade que é o ser humano. E entender isso e levar para sala de aula é uma contribuição muito grande para os alunos que serão educados, porque muitos problemas podem ser evitados quando a origem do mesmo é conhecida e compreendida por todos. Sobre as oficinas ministradas pelos alunos na disciplina, infelizmente não tenho muito a dizer, pois por falha minha, não fiz nenhum tipo de anotação para que eu pudesse recorrer no momento da escrita deste memorial, algo que futuramente irei corrigir. Mas pela minha memória, gostaria de ressaltar uma oficina sobre sucesso e fracasso escolar. Nessa oficina os alunos trouxeram casos de “sucesso” escolar que seria o momento que o aluno passa em uma universidade ou concurso. Eles apontaram o pensamento que existe por traz disso, que é a pressão por traz e que em infinitos casos alunos se encontram deprimidos e se sentindo fracassados por não terem conquistado a tão sonhada vaga. O sentido de sucesso e fracasso é deturpado nas escolas, ensinam que sucesso é passar no vestibular e fracasso é o contrário disso, e que você deve batalhar com todas as suas forças e deixar tudo de lado para conquistar o sucesso. Uma concepção totalmente errônea para passar para os alunos. O último trabalho que fizemos na disciplina foi uma reflexão crítica do livro Dibs em busca de si mesmo, da autora Vírginia Axline. O livro relata a história de um menino (Dibs) que desde a sua gestação fora rejeitado pelos pais, que tinham outros planos para as suas vidas, e assim o seu desenvolvimento psicossocial fora prejudicado, até que com a ajuda de uma psicóloga ele entra num caminho de autoconhecimento até o encontro de sua própria identidade. No decorrer do livro, nas sessões de terapia, Dibs pode externar todos os sentimentos que possuia, raiva, ás vezes desprezo pela família que tinha, pela escola, e em alguns momentos tristeza por não ter sido acolhido em sua família do modo como uma criança deveria ser acolhida, e assim foi descobrindo tudo o que precisava para se desenvolver e descobrir quem ele era estava dentro de si mesmo. Para mim, o interessante nesse livro foi o fato de que mesmo ter sido rejeitado pelos pais e pela sociedade, Dibs conseguiu desenvolver uma inteligência que ia além do previsto para crianças da sua própria idade. O que me fez pensar que as circunstâncias das nossas vidas não são o que nos definem, e sim nossas escolhas. No decorrer dessa disciplina pude entrar em contato com diversos pensamentos sobre o mesmo assunto, educação. Como futura professora penso que esses conceitos não podem ser deixados de lado, e também analisar bem o que nos é proposto, pois isso desenvolve uma consciência crítica em nós. Professores lidam com vários alunos todos os dias, alunos que tem personalidades diferentes, experiências diferentes e que precisam de formas diferentes para serem lidados. Meu campo de visão hoje está muito mais amplo, abrangindo todas essas teorias e encaixando elas nos lugares que mais necessitam, o que para mim todo professor deveria fazer. Desejo aprofundar muito mais, porque cada vez mais aparecem teorias que podem responder algum tipo de problema específico, e nunca deixar de lado a parte humana de cada pessoa.
Referências Bibliográficas
ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. Psicologia Escolar e Educacional: história,
compromissos e perspectivas. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v. 12, n. 2, p. 469-475, Dec. 2008.
BARROS, L.A.; RODRIGUES, L.A. Sobre o fundador da logoterapia: Victotr Frankl
e sua contribuição à Psicologia. Estudos, v.36, n.1/2, p.11-21, jan/fev.2009. Disponível em: http://seer.ucg.br/index.php/estudos/article/view106/714. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011. (p. 23 a 46).
PULINO, L. H. C. Z. . Fundamentos de Desenvolvimento e da Aprendizagem - As Teorias
psicogenéticas de Jean Piaget e Henri Wallon. 1. ed. Brasília: EDUnB-CEAD, 2004. v. 2. 123p.
PEDROZA, R.L.S. (2005). O desenvolvimento da pessoa e o ensino-aprendizado.
(pp.32-56). Em aprendizagem e prática do professor. São Paulo: Moderna, Brasília: Universidade de Brasília.
VALE, R.M. Em busca de sentido à formação integral do ser humano na perspectiva
de Viktor E. Frankl. Revista Logos e Existência, v.3,n.2,2014 (p.191-202)