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Maringá - PR
2014
Um Estudo Sobre Grafos Divisores de Zero
Maringá - PR
2014
Agradecimentos
Agradeço à minha famı́lia, que sempre me apoiou. Em especial, à minha esposa Claudia,
aos meus pais e aos meus irmãos.
Agradeço à minha orientadora Profa . Dra . Irene Naomi Nakaoka pela paciência, sabedoria
e dedicação na realização deste trabalho.
Dado um anel comutativo com identidade R, o grafo divisor de zero de R, denotado por
Γ(R), é o grafo cujos vértices são os divisores de zero não nulos de R e dois vértices distintos
x e y são adjacentes se, e somente se, xy = 0. Nesta dissertação, estudaremos algumas
propriedades dos grafos divisores de zero e destacaremos algumas relações entre R e Γ(R).
Abstract
Given a commutative ring with identity R, the zero-divisor graph of R, denoted by Γ(R),
is the graph whose vertices are the nonzero zero-divisors of R and two distinct vertices x and
y are adjacent if and only if xy = 0. In this dissertation, we will study some properties of
zero-divisors graphs and we will highlight some relations between R and Γ(R).
vi
Índice de Notações
∅ conjunto vazio
|X| cardinalidade do conjunto X
X∗ X \ {0}
X(Y X é um subconjunto próprio de Y
X⊆Y X é um subconjunto de Y
X ×Y produto direto de X por Y
Im(f ) imagem da função f
ker(f ) núcleo da função f
(x) ideal gerado pelo elemento x
U (R) conjunto dos elementos invertı́veis do anel R
D(R) conjunto dos divisores de zero do anel R
Id(R) conjunto dos ideais do anel R
Spec(R) conjunto dos ideais primos do anel R
√
I ideal radical do ideal I
N il(R) {r ∈ R : rn = 0 ,para algum n ∈ N} (nilradical de R)
J(R) radical de Jacobson do anel R
V ar(I) variedade do ideal I
M in(R) conjunto dos primos minimais do anel R
ass(I) conjunto dos primos associados do ideal I
Ass(R) conjunto dos primos associados do anel R
(I : x) quociente do ideal I por x
Ann(x) {r ∈ R : rx = 0} (anulador de x)
Ann(I) {r ∈ R : rI = {0}} (anulador de I)
char(R) caracterı́stica do anel R
G = (V, E) grafo com conjunto de vértices V e conjunto de arestas E
Γ(R) grafo divisor de zero do anel R
deg(u) grau do vértice u
vi -
vii
d(u, v) distância de u a v
diam(G) diâmetro do grafo G
Km grafo completo de ordem m
Km,n grafo bipartido completo com conjunto de vértices V = V1 ∪ V2 (união disjunta)
tal que |V1 | = m e |V2 | = n
ω(G) cardinalidade do maior clique no grafo G
Cn n-ciclo
gr(G) cintura do grafo G
χ(G) número cromático por vértices de G
e(v) max{d(v, x) : x ∈ V } (excentricidade do vértice v)
rad(G) raio do grafo G
Cen(G) centro do grafo G
γ(G) número de dominação do grafo G
G·e contração elementar de G pela aresta e
vii -
Sumário
Índice de Notações vi
Introdução ix
1 Preliminares 1
1.2 Grafos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
viii -
Referências 78
Introdução
O conceito de grafo divisor de zero surgiu na literatura matemática com o artigo “Coloring
of commutative rings” [11], publicado por Istvan Beck em 1988. O autor definiu um grafo
tomando como vértices os elementos de um anel comutativo e colocando que dois vértices
distintos seriam adjacentes se o produto entre eles resultasse no elemento neutro da adição.
Beck estudou colorações de vértices desse grafo. Mais resultados sobre esse tema foram
obtidos por D. D. Anderson e M. Nasser e publicados, em 1993, no artigo “ Beck’s Coloring
of Commutative Rings ” [4].
Nos três artigos acima citados, algumas relações entre um anel e seu grafo divisor de
zero foram explicitadas e alguns resultados mostraram que propriedades acerca dos anéis
poderiam ser deduzidas a partir do seu grafo divisor de zero. Desse modo, o grafo divisor de
zero se apresentava como uma ferramenta auxiliar para o estudo das propriedades algébricas
dos anéis.
Diante disso, alguns matemáticos se interessaram pelo assunto e vários artigos sobre o
tema foram publicados. No artigo de 1999, Anderson e Livingston exploraram temas como co-
nexidade, diâmetro, cintura e automorfismos de grafos. Em [5], podemos ver resultados sobre
cliques e planaridade, bem como algumas relações entre isomorfismos de grafos e isomorfis-
x -
Introdução xi
mos de anéis. Tais relações também foram estudadas por S. Akbari e A. Mohammadian em
[2]. Neste mesmo artigo, estes autores apresentaram um estudo sobre colorações de arestas.
Cintura, planaridade e grafos divisores de zero r-partidos completos são temas abordados por
S. Akbari, H. R. Maiamani e S. Yassemi em [1]. Em [20], são explicitadas algumas relações
entre o conjunto dos divisores de zero e o grafo divisor de zero de um anel. T. G. Lucas,
em [19], estudou questões referentes ao diâmetro de um grafo divisor de zero. Raio, centro
e número de dominação são temas tratados por S. P. Redmond em [22]. Este último autor
introduziu ainda, em [23], o conceito de grafos divisores de zero de anéis não comutativos,
tema esse que não será explorado aqui.
Nesta dissertação, apresentaremos um estudo sobre grafos divisores de zero de anéis co-
mutativos. Veremos quais informações acerca de um anel podem ser obtidas a partir de
seu grafo divisor de zero e destacaremos algumas propriedades desse grafo no que diz res-
peito aos seguintes temas: conexidade, diâmetro, raio, centro, tamanho, cintura, número de
dominação, colorações de vértices e forma (grafos completos e grafos r-partidos completos).
xi -
Capı́tulo 1
Preliminares
Em todo o texto, os anéis serão anéis comutativos com identidade. A identidade do anel
será denotada por 1 e o elemento neutro da adição por 0, com 1 6= 0. Quando X for um
subconjunto de um anel, denotamos o conjunto X \ {0} por X ∗ .
Dado um anel R, indicamos o conjunto de todos os ideais desse anel por Id(R). Dados
I ∈ Id(R) e a ∈ R, escrevemos a para indicar o elemento a + I do anel quociente R/I. O
conjunto dos elementos invertı́veis de R é representado por U (R).
Proposição 1.1. ([24], pág. 42) Em um anel R, r ∈ J(R) se, e somente se, para todo
a ∈ R, o elemento 1 − ar ∈ U (R).
1 -
1.1 Anéis comutativos 2
Um anel R é local quando possui um único ideal maximal M . Neste caso, R/M é um
corpo, chamado de corpo residual de R. O seguinte resultado nos dá condições para que um
anel seja local.
(ii) Se R \ U (R) é um ideal, então R é um anel local com ideal maximal R \ U (R);
Denotamos o conjunto dos ideais primos de R por Spec(R). Usaremos neste texto o
seguinte resultado envolvendo ideais primos.
Teorema 1.4. ([24], pág. 53) Dado I ∈ Id(R) \ {R}, V ar(I) é não vazio e admite elemento
minimal em relação à inclusão de conjuntos.
Proposição 1.5. Seja R um anel tal que M in(R) é finito, digamos M in(R) = {P1 , . . . , Pk }.
k
\
Então, para cada j ∈ {1, . . . , k}, existe um elemento yj ∈ ( Pi ) \ Pj .
i=1
i6=j
2 -
1.1 Anéis comutativos 3
√
Dado I ∈ Id(R), o conjunto I = {r ∈ R : existe n ∈ Z∗+ tal que rn ∈ I} é um ideal,
√
chamado de ideal radical de I. Claramente vemos que I ⊆ I.
p
O ideal {0} = {r ∈ R : existe n ∈ Z∗+ tal que rn = 0} é denotado por N il(R) e chamado
de nilradical de R. Um elemento r ∈ N il(R) recebe o nome de nilpotente e o menor inteiro
positivo n tal que rn = 0 é chamado de ı́ndice de nilpotência de r. Um anel R é dito reduzido
se N il(R) = {0}. Caso contrário, R é não reduzido.
A próxima proposição nos dá uma relação entre o nilradical, os ideais primos e os primos
minimais de um anel R:
Proposição 1.6. ([24], pág. 52 e pág. 54) Em um anel R, são verdadeiras as seguintes
\ \
igualdades: N il(R) = P = P.
P ∈Spec(R) P ∈M in(R)
Lema 1.8. Se R é um anel local, então seus únicos elementos idempotentes são 0 e 1.
Demonstração: Seja R um anel local com ideal maximal M e seja a ∈ R tal que a2 = a.
Se a ∈ U (R), então existe b ∈ R tal que ab = 1. Neste caso, temos que 1 = ab = a2 b =
a(ab) = a. Se a ∈
/ U (R), então devemos ter a ∈ M , pois todo elemento não invertı́vel de
3 -
1.1 Anéis comutativos 4
um anel pertence a algum ideal maximal. Mas notemos que M = J(R). Segue da Pro-
posição 1.1 que 1 − a ∈ U (R). Logo, existe x ∈ R tal que x(1 − a) = 1. Assim, como
1 = 12 = x2 (1 − a)2 = x2 (1 − 2a + a2 ) = x2 (1 − 2a + a) = x2 (1 − a) = x[x(1 − a)] = x,
obtemos que 1 − a = 1, donde vem que a = 0. u
t
Definição 1.9. Seja C um conjunto parcialmente ordenado por uma relação (respectiva-
mente, ).
(a) Dizemos que C satisfaz a condição de cadeia descendente (c.c.d.) (respect., condição de
cadeia ascendente (c.c.a.)) se, para cada famı́lia (Si )i∈N de elementos de C que satisfaz
S0 S1 S2 . . . Si . . . (respect., S0 S1 S2 . . . Si . . .), existir k ∈ N
tal que Sk = Sk+i , para todo i ∈ N. Neste caso, dizemos que a cadeia estaciona.
(b) Dizemos que C satisfaz à condição minimal (respect., condição maximal ) se todo sub-
conjunto não vazio de C admite um elemento minimal (respect., maximal), com respeito
à (respect., ).
O próximo resultado nos diz que as condições (a) e (b) dadas na definição anterior são
equivalentes.
Proposição 1.10. ([24], pág. 47) Seja C um conjunto parcialmente ordenado por (respect.,
por ). Então C satisfaz a c.c.d (respect., c.c.a) se, e somente se, C satisfaz a condição
minimal (respect., condição maximal).
4 -
1.1 Anéis comutativos 5
Proposição 1.12. ([24], pág. 146) Sejam R um anel Noetheriano e I ∈ Id(R). Então, R/I
é um anel Noetheriano.
Proposição 1.13. ([7], pág. 163 e 164) Sejam R um anel Artiniano e I ∈ Id(R). Então:
Teorema 1.14. (Estrutura de Anéis Artinianos) ([7], pág. 90) Um anel Artiniano
R é de maneira única (a menos de isomorfismo) um produto direto finito de anéis locais
Artinianos.
O teorema que encerra este tópico estabelece uma relação entre anéis Artinianos e No-
etherianos.
5 -
1.1 Anéis comutativos 6
Teorema 1.15. ([24], pág. 166) Um anel R é Artiniano se, e somente se, R é Noetheriano
e todo ideal primo de R é maximal.
Definição 1.16. Seja Q ∈ Id(R) \ {R}. Dizemos que Q é um ideal primário se dado ab ∈ Q,
√
tivermos a ∈ Q ou b ∈ Q.
√
Se Q é um ideal primário de R, então Q = P é um ideal primo ([24], pág. 63). Mais
ainda: qualquer outro ideal primo que contém Q deve conter P , ou seja, P é o único elemento
minimal de V ar(Q). Neste caso, dizemos que Q é um ideal P -primário.
Definição 1.17. Dizemos que I ∈ Id(R) \ {R} admite uma decomposição primária se I
pode ser escrito como uma interseção finita de ideais primários. Neste caso, dizemos que I é
um ideal decomponı́vel .
(a) Pi 6= Pj , se i 6= j;
n
\
(b) Para todo j ∈ {1, . . . , n}, Qi * Qj .
i=1
i6=j
Todo ideal decomponı́vel admite uma decomposição primária minimal ([24], pág. 69).
Também sabemos que há casos em que um ideal decomponı́vel admite duas decomposições
6 -
1.1 Anéis comutativos 7
Tn Tm
primárias minimais distintas. Ou seja, podemos ter i=1 Qi = I = i=1 Ti duas decom-
posições primárias minimais de um ideal I, com Ti ∈
/ {Q1 , . . . , Qn } ([24], pág. 74). No
entanto, se I é um ideal decomponı́vel, podemos garantir a seguinte unicidade:
Sejam ni=1 Qi = I = m
T T
i=1 Ti duas decomposições primárias minimais de I tais que
√ √
Qi = Pi e Ti = Ui . Então, n = m e {P1 , . . . , Pn } = {U1 , . . . , Um }.
Proposição 1.20. ([24], pág. 72) Seja I ∈ Id(R) \ {R} um ideal decomponı́vel de R e
seja P ∈ Spec(R). Então P é um primo minimal de I se, e somente se, P é um elemento
minimal de ass(I). Como ass(I) é finito, temos que V ar(I) admite apenas um número finito
de elementos minimais.
Existem anéis que possuem ideais próprios não decomponı́veis (temos um exemplo em
([24], pág. 76)). O próximo teorema destaca o fato de que em anéis Noetherianos, todos os
ideais distintos do próprio anel são decomponı́veis.
Teorema 1.21. ([24], pág. 78) Se R é um anel Noetheriano, então todo ideal I ∈ Id(R)\{R}
é decomponı́vel.
Por este último teorema, temos que se R é um anel Noetheriano, então o ideal nulo {0} de
R é decomponı́vel. Logo, M in(R) é finito, pois pelo Teorema 1.20, V ar({0}) possui apenas
um número finito de elementos minimais. Provamos assim a seguinte proposição:
7 -
1.1 Anéis comutativos 8
Definição 1.23. Seja R um anel. Dado a ∈ R, dizemos que a é um divisor de zero quando
existe b ∈ R∗ tal que ab = 0. Denotamos o conjunto dos divisores de zero do anel R por
D(R).
Convém enfatizarmos aqui alguns fatos conhecidos acerca dos divisores de zero:
(2) Sabemos que nem sempre D(R) é um ideal; por exemplo, D(Z6 ) = {0, 2, 3, 4}, mas
2+3=5∈
/ D(R);
(3) Dado a ∈ D(R), seja b ∈ R∗ tal que ab = 0; então, ar ∈ D(R), para todo r ∈ R, pois
(ra)b = r(ab) = 0;
(4) Pelos itens (2) e (3), temos que se D(R) não é ideal, então existem a, b ∈ D(R) tais
que a + b ∈
/ D(R).
Veremos, ainda nesta seção, casos em que D(R) é um ideal. A próxima proposição nos
garante que, em tais casos, D(R) deve ser necessariamente um ideal primo.
O próximo resultado nos dá uma caracterização do conjunto dos divisores de zero e nos
mostra uma importante relação entre este conjunto e o conjunto dos primos minimais.
8 -
1.1 Anéis comutativos 9
Analisemos agora a relação entre D(R) e N il(R). Facilmente podemos mostrar que a
inclusão N il(R) ⊆ D(R) é verdadeira, qualquer que seja o anel R. Em alguns casos, ocorre
a igualdade N il(R) = D(R) (por exemplo, se R = Z8 ). Porém, não podemos garantir que
tal igualdade é verdadeira para qualquer anel R. Por exemplo, para R = Z2 × Z2 , temos
D(R) = {(0, 0), (1, 0), (0, 1)} e N il(R) = {(0, 0)}. Os dois próximos resultados apresentam
algumas condições sob as quais a igualdade D(R) = N il(R) ocorre.
Demonstração: Dado a ∈ D(R), existe b ∈ R∗ tal que ab = 0 ∈ {0}. Como {0} é primário,
devemos ter a ∈ N il(R) ou b ∈ {0}. Como b 6= 0, temos que a ∈ N il(R), donde segue a
igualdade D(R) = N il(R). u
t
Proposição 1.27. Seja R um anel tal que todo ideal primo é maximal. Então, temos que
D(R) = N il(R) se, e somente se, D(R) é um ideal (primo).
Demonstração: Se D(R) = N il(R), então D(R) ∈ Spec(R), pela Proposição 1.24. Reci-
procamente, suponhamos que D(R) ∈ Spec(R). Dado Q ∈ M in(R), segue da Proposição
1.25 que Q ⊆ D(R). Como todo ideal primo de R é maximal, devemos ter D(R) = Q, para
T
todo Q ∈ M in(R). Da proposição 1.6 vem que N il(R) = Q∈M in(R) Q = D(R). u
t
(ii) Se R não é domı́nio de integridade, então R tem pelo menos dois primos minimais.
9 -
1.1 Anéis comutativos 10
S
Demonstração: (i) Pela Proposição 1.25, já temos que P ∈M in(R) P ⊆ D(R). Da Pro-
posição 1.6 e do fato de R ser reduzido, obtemos as igualdades:
\ \
P = P = N il(R) = {0}. (1.1)
P ∈M in(R) P ∈Spec(R)
Vejamos agora duas proposições acerca do conjunto dos divisores de zero de um anel
Noetheriano. A primeira considera o caso em que tal conjunto é um ideal. A segunda
relaciona os divisores de zero com os primos associados do ideal nulo.
Proposição 1.30. ([17], pág. 8) Sejam R um anel Noetheriano. Se D(R) é um ideal, então
existe a ∈ R∗ tal que D(R) = Ann(a).
10 -
1.1 Anéis comutativos 11
Proposição 1.31. ([24], pág. 155 e pág. 156) Sejam R um anel Noetheriano. Então:
S
(i) D(R) = P ∈ass({0}) P;
(ii) Dado P ∈ Spec(R), temos que P ∈ ass({0}) se, e somente se, existe a ∈ R tal que
P = Ann(a).
Definição 1.32. Seja R um anel qualquer. Dizemos que P ∈ Spec(R) é um primo associado
de R quando existe a ∈ R tal que P = Ann(a). O conjunto dos primos associados de R é
denotado por Ass(R).
Observação 1.33. Se R é um anel Noetheriano, do item (ii) da Proposição 1.31 vem que
S
ass({0}) = Ass(R). Pelo item (i) deste mesmo resultado, obtemos que D(R) = P ∈Ass(R) P .
A próxima proposição trata do conjunto dos divisores de zero em um anel Artiniano local.
Proposição 1.34. Seja R um anel local Artiniano que não é um domı́nio. Então:
(ii) Pelo item (i), temos que N il(R) = M é o único ideal maximal de R. Dado x ∈ D(R),
como x ∈
/ U (R), segue que x ∈ M = N il(R), donde vem que D(R) ⊆ N il(R). Como sempre
ocorre N il(R) ⊆ D(R), obtemos a igualdade D(R) = N il(R). Logo, D(R) é o único ideal
maximal de R. u
t
11 -
1.1 Anéis comutativos 12
Vejamos agora alguns resultados acerca dos divisores de zero em anéis finitos. A pro-
posição enunciada a seguir classifica os elementos de um anel finito.
Proposição 1.35. ([17], pág. 8) Se R é um anel finito, então cada elemento de R é invertı́vel
ou divisor de zero.
A próxima proposição nos dá uma condição necessária e suficiente para que um anel finito
seja local.
Proposição 1.36. Seja R um anel finito. Então R é local se, e somente se, todo elemento
de R não invertı́vel é nilpotente. No caso em que R é local, temos que D(R) é o (único) ideal
maximal de R.
Proposição 1.37. Seja R é um anel local finito. Então existem um número primo p e
inteiros não negativos n, t, k tais que:
(ii) D(R) com a operação de adição do anel é um p-grupo, de modo que |D(R)| = pt ;
(iii) |R| = pk .
Demonstração: (i) Sabemos que D(R) é o único ideal maximal de R (Proposição 1.36).
Como R/D(R) é um corpo finito, sua caracterı́stica é p, para algum primo p. Assim, p1 = 0,
12 -
1.2 Grafos 13
isto é, p1 ∈ D(R). Agora, pela demonstração da Proposição 1.36, D(R) = N il(R) e, então,
existe n ∈ N tal que (p1)n = 0 e (p1)n−1 6= 0, ou seja, pn 1 = 0 e pn−1 1 6= 0. Portanto,
char(R) = pn .
(ii) Sendo D(R) um ideal, temos que D(R) é um subgrupo de R (R visto como um grupo
com a operação de adição). Como char(R) = pn , temos que pn a = 0, para todo a ∈ R. Em
particular, se z ∈ D(R), então pn z = 0. Assim, a ordem de z, denotada por o(z), divide pn ,
ou seja, o(z) = pm , para algum inteiro não negativo m. Logo, D(R) é um p-grupo. Disso
segue que |D(R)| = pt , para algum inteiro não negativo t.
(iii) Como R/D(R) é um corpo finito, sua cardinalidade é uma potência de algum primo.
Pelo item (ii), |D(R)| = pt . Como |R/D(R)| = |R|/|D(R)|, devemos ter |R| = pk , para
algum inteiro positivo k. u
t
Encerramos este capı́tulo com um teorema que nos dá uma relação entre as cardinalidade
de R e de D(R) no caso em que R é finito.
Demonstração: Seja a ∈ D(R)∗ . Então Ann(a) ⊆ D(R) e, daı́, |Ann(a)| ≤ |D(R)|. Consi-
deremos agora o homomorfismo sobrejetor f : R → (a) de R-módulos dado por f (x) = ax. É
claro que ker(f ) = Ann(a) e, assim, R ∼
= (a), donde
|R|
= |(a)| ≤ |D(R)|. Portanto,
Ann(a) |Ann(a)|
1.2 Grafos
Nesta seção, introduziremos tópicos básicos da Teoria de Grafos necessários ao estudo dos
grafos divisores de zero, tais como conexidade, diâmetro, colorações, ciclos, cintura, grafos
r-partidos completos, raio, centro, conjuntos dominantes e planaridade. Iniciamos com a
definição de grafo.
13 -
1.2 Grafos 14
Quando não houver dúvidas, vamos nos referir ao grafo G = (V, E) apenas por G. Po-
demos, em alguns casos, escrever V (G) e E(G) para indicar, respectivamente, o conjunto de
vértices e o conjunto de arestas de um grafo G.
14 -
1.2 Grafos 15
gr(G) ≤ 2 · diam(G) + 1.
Dado um grafo G = (V, E), dizemos que um subconjunto S de V domina o grafo G (ou
que S é um conjunto dominante de G) quando todo vértice de V pertence ao conjunto S ou
é adjacente a algum vértice desse conjunto. Podemos ver que o próprio conjunto V sempre
domina G.
A seguir, damos um exemplo que ilustra alguns dos conceitos dados neste capı́tulo.
E = {{a, b}, {b, c}, {b, e}, {c, d}, {d, e}},
dado na Figura 1.1. O grafo H = (V 0 , E 0 ) tal que V 0 = {b, c, d, e} e E 0 = {{b, c}, {c, d}, {d, e}}
é um subgrafo de G, mas não é um subgrafo induzido por V 0 , uma vez que {b, e} ∈ E \ E 0
(Figura 1.2).
Figura 1.1: Grafo G do Exemplo 1.41 Figura 1.2: Grafo H do Exemplo 1.41
Podemos ver que há dois caminhos distintos entre os vértices b e e, a saber, be e bcde.
Por definição, temos que d(b, e) = 2. A maior distância entre dois vértices de G é 3, que é
a distância entre a e d. Daı́, diam(G) = 3. O grafo G contém o 4-ciclo bcdeb e não possui
outros ciclos. Logo, gr(G) = 4.
15 -
1.2 Grafos 16
Antes de apresentarmos mais algumas definições, devemos nos lembrar que uma partição
de um conjunto não vazio qualquer X é uma coleção {Xλ }λ∈Λ de subconjuntos não vazios
S
de X, dois a dois disjuntos, tal que λ∈Λ Xλ = X. Neste caso, cada elemento da coleção
{Xλ }λ∈Λ é uma parte da partição de X.
Dado um inteiro positivo r, dizemos que um grafo G é r-partido se existe uma partição
de V em r subconjuntos tal que vértices pertencentes a uma mesma parte dessa partição não
são adjacentes. Dizemos que G = (V, E) é um grafo r-partido completo se G é r-partido e
se para quaisquer dois vértices u e v que estão em partes distintas da partição, tivermos que
{u, v} ∈ E.
Para o caso r = 2, um grafo r-partido é chamado de grafo bipartido. Já um grafo r-partido
completo recebe o nome de bipartido completo e é denotado por Km,n , onde m = |V1 | ≥ 1 e
n = |V2 | ≥ 1. Os grafos da forma K1,n são chamados de grafos estrela.
Dado K ⊆ V não vazio, dizemos que K é um clique quando G[K] é um grafo completo.
16 -
1.2 Grafos 17
Uma k-coloração dos vértices de um grafo G é uma função f : V → {1, 2, . . . , k}. Colo-
cando Vi = f −1 (i), para i ∈ {1, . . . , k}, temos que V1 , V2 , . . . , Vk é uma k-partição de V . Uma
k-coloração f é própria se vértices adjacentes possuem imagens distintas pela f . O número
cromático χ(G) é o menor inteiro positivo k tal que existe uma k-coloração de vértices própria
de G. Dado um grafo G, sempre temos que χ(G) ≥ ω(G).
Figura 1.5: Grafo G1 do Exemplo 1.43 Figura 1.6: Grafo G2 do Exemplo 1.43
17 -
1.2 Grafos 18
Proposição 1.44. Seja G = (V, E) um grafo conexo e finito. Temos que rad(G) = diam(G)
se, e somente se, G = Cen(G).
Embora o estudo de grafos planares não se restrinja apenas aos grafos finitos, vamos
assumir nesta seção que todos os grafos são finitos.
Definição 1.45. Dizemos que um grafo G é um grafo planar se for possı́vel desenhá-lo em
um plano de modo que suas arestas não se interceptem, exceto possivelmente nos vértices
aos quais são ambas incidentes. Caso contrário, G é dito não planar.
Notemos que tal definição é intuitiva, pois não explicitamos aqui o que significa, em
termos matemáticos, desenhar no plano. O leitor interessado em uma definição mais rigorosa
de grafo planar pode consultar ([16], capı́tulo 4). Vejamos agora um exemplo.
Exemplo 1.46. Na Figura 1.7 temos o grafo K 4 com duas arestas se interceptando. No
entanto, K 4 é um grafo planar, pois podemos desenhá-lo em um plano de modo que suas
arestas não se interceptam, conforme podemos ver na Figura 1.8.
18 -
1.2 Grafos 19
Figura 1.7: K 4 com interseção de arestas Figura 1.8: K 4 sem interseção de arestas
Teorema 1.47. ([10], pág. 200) Os grafos K 5 (Figura 1.4) e K3,3 (Figura 1.3) não são
planares.
Definição 1.49. Dado um inteiro n ≥ 1, dizemos que uma sequência finita de grafos
G0 , G1 , . . . , Gn é uma sequência de contrações elementares quando Gi+1 for uma contração
elementar de Gi , para cada i ∈ {0, . . . , n − 1}.
A partir de tais definições, podemos definir o que é uma contração e uma subcontração
de um grafo.
19 -
1.2 Grafos 20
Figura 1.9: Grafo G0 do Exemplo 1.51 Figura 1.10: Grafo G1 do Exemplo 1.51
Figura 1.11: Grafo G2 do Exemplo 1.51 Figura 1.12: Grafo G3 do Exemplo 1.51
Destacamos que se G contém K 5 ou K3,3 como subgrafo, então G não é planar, pelo
teorema anterior e pela definição de subcontração (Definição 1.50).
Exemplo 1.53. Seja H o grafo na Figura 1.13. Temos que grafo J da Figura 1.14 é uma
contração elementar de H. Mais precisamente, J = H · h (representamos com uma cor mais
clara o vértice J que não é vértice de H). Conforme podemos ver na Figura 1.15, J · j ' K 5 .
20 -
1.2 Grafos 21
Figura 1.13: Grafo H do Exemplo 1.53 Figura 1.14: Grafo J do Exemplo 1.53
Encerramos este capı́tulo com um resultado que nos apresenta mais uma caracterı́stica
de um grafo planar.
Proposição 1.54. ([13] pág. 232) Todo grafo planar contém um vértice de grau menor ou
igual 5
21 -
Capı́tulo 2
Neste capı́tulo, apresentaremos alguns resultados sobre grafos divisores de zero de anéis
comutativos. Nosso objetivo é descrever algumas propriedades desses grafos e destacar algu-
mas relações entre o anel e o seu grafo divisor de zero.
Conforme já dissemos na Introdução, foi Istvan Beck quem introduziu, no artigo “Coloring
of commutative rings” [11], o conceito de grafo divisor de zero. Beck considerou todos os
elementos do anel como vértices e definiu que dois vértices distintos x e y seriam adjacentes
quando xy = 0. Desse modo, no grafo de Beck, o vértice 0 é adjacente a todos os demais
22 -
2.1 O grafo divisor de zero 23
vértices, mas os elementos de R que não são divisores de zero são adjacentes apenas ao
elemento 0.
Nesta dissertação, não usaremos a definição dada por Beck, mas a definição de grafo
divisor de zero apresentada por D. F. Anderson e P. S. Livingston em [6]. Veremos que o
grafo definido por tais autores pode ser visto como um subgrafo do grafo de Beck: o subgrafo
induzido pelo conjunto dos divisores de zero não nulos do anel. Vejamos então a definição de
grafo divisor de zero.
Definição 2.1. O grafo divisor de zero de um anel R, denotado por Γ(R), é o grafo dado
pelo par
Γ(R) = (V (Γ(R)), E(Γ(R)))
De tal definição temos que Γ(R) é um grafo nulo se, e somente se, R é um domı́nio de
integridade. Para evitar que Γ(R) seja um grafo nulo, vamos supor implicitamente que R
não é um domı́nio de integridade.
Dado um grafo G, se existir um anel R tal que Γ(R) = G, diremos que G pode ser realizado
como Γ(R).
Na sequência desta seção, daremos alguns exemplos e alguns resultados básicos acerca da
conexidade, do diâmetro e do tamanho do grafo divisor de zero. Destacaremos ainda algumas
relações entre isomorfismos de grafos e isomorfismos de anéis.
Comecemos então apresentando alguns exemplos de grafos divisores de zero. Para não
sobrecarregarmos a notação, em algumas situações, omitimos as barras dos elementos de um
anel quociente.
Z2 [x]
Exemplo 2.2. Consideremos os anéis R = Z4 e S = (x2 )
. Então D(R)∗ = {2} e D(S)∗ = {x}
e seus respectivos grafos divisores de zero são dados por:
Z2 [x]
Figura 2.1: Γ(Z4 ) Figura 2.2: Γ (x2 )
23 -
2.1 O grafo divisor de zero 24
Z3 [x]
Exemplo 2.3. Dados R = Z9 , S = (x2 )
= {0, 1, 2, x, x + 1, x + 2, 2x, 2x + 1, 2x + 2} e
T = Z2 × Z2 temos que D(R)∗ = {3, 6}, D(S)∗ = {x, 2x} e D(T )∗ = {(0, 1), (1, 0)}. Os
grafos divisores de zero de tais anéis são:
Z3 [x]
Figura 2.3: Γ(Z9 ) Figura 2.4: Γ (x2 ) Figura 2.5: Γ(Z2 × Z2 )
Z2 [x] Z4 [x]
Exemplo 2.4. Sejam R = Z6 , S = Z8 , T = (x3 )
eV = (2x,x2 −2)
. Então D(R)∗ = {2, 3, 4},
D(S)∗ = {2, 4, 6}, D(T )∗ = {x, x2 , x2 + x} e D(V )∗ = {2, x, x + 2} e seus respectivos grafos
divisores de zero são:
Z2 [x] Z4 [x]
Figura 2.8: Γ Figura 2.9: Γ (2x,x2 −2)
(x3 )
Observação 2.5. Os Exemplos 2.2, 2.3 e 2.4 nos mostram que anéis não isomorfos podem
ter grafos divisores de zero isomorfos (por exemplo, Z6 e Z8 são anéis não isomorfos, mas
ambos possuem K1,2 como grafo divisor zero). Logo, não podemos garantir que anéis que
possuem grafos divisores de zero isomorfos são isomorfos. No entanto, podemos mostrar que
anéis isomorfos sempre terão seus respectivos grafos divisores de zero isomorfos. É o que nos
diz nosso primeiro resultado acerca dos grafos divisores de zero.
Teorema 2.6. Se dois anéis são isomorfos, então seus respectivos grafos divisores de zero
são isomorfos.
24 -
2.1 O grafo divisor de zero 25
Convém mencionarmos aqui que, sob algumas condições, a recı́proca do teorema anterior é
verdadeira. No entanto, não explicitaremos nem faremos aqui um estudo sobre tais condições.
O leitor interessado neste assunto pode consultar [6] e [17].
Z2 [x,y]
Exemplo 2.7. Consideremos os anéis R = (x2 ,xy,y 2 )
= {0, 1, x, y, x + 1, y + 1, x + y, x + y + 1}
F4 [x]
eS= (x2 )
= {0, 1, α, α2 , x, αx, α2 x, 1 + x, 1 + αx, 1 + α2 x, α + x, α + αx, α + α2 x, α2 + x, α2 +
αx, α2 + α2 x}, onde F4 = {0, 1, α, α2 } é um corpo com 4 elementos, com α2 = α + 1. Não é
difı́cil ver que D(R)∗ = {x, y, x + y} e D(S)∗ = {x, αx, α2 x}. Os grafos divisores de zero de
R e S podem ser vistos nas Figuras 2.10 e 2.11.
Z2 [x,y] F4 [x]
Figura 2.10: Γ (x,y)2
Figura 2.11: Γ (x2 )
25 -
2.1 O grafo divisor de zero 26
Z4 [x] Z4 [x]
Considerando os anéis T = (2,x)2
= {0, 1, 2, 3, x, x + 1, x + 2, x + 3} e W = (x2 +x+1)
=
{0, 1, 2, 3, x, x + 1, x + 2, x + 3, 2x, 2x + 1, 2x + 2, 2x + 3, 3x, 3x + 1, 3x + 2, 3x + 3}, temos
que D(T )∗ = {2, x, x + 2} e D(W )∗ = {2, 2x, 2x + 2}. Ambos os anéis possuem também K 3
como grafo divisor de zero.
Destacamos agora que os grafos divisores de zero dados nos exemplos anteriores são todos
conexos. O próximo teorema nos garante que a conexidade é, na verdade, uma caracterı́stica
de todos os grafos divisores de zero. Este mesmo teorema afirma ainda que o diamêtro de
um grafo divisor de zero não pode ser maior do que 3.
Já vimos, nos Exemplos 2.2, 2.3 e 2.4, grafos divisores de zero com diâmetros 0, 1 e 2,
respectivamente. No próximo exemplo, exibimos um anel R tal que diam(Γ(R)) = 3.
26 -
2.1 O grafo divisor de zero 27
que Ann(2) ∩ Ann(3) = {0}. Logo, não podemos ter d(2, 3) = 2. Pelo teorema anterior,
d(2, 3) = 3 e, assim, diam(Γ(Z12 )) = 3. Na Figura 2.12, temos Γ(Z12 ).
Com este último exemplo, temos que, para cada d ∈ {0, 1, 2, 3}, existe um anel R tal que
diam(Γ(R)) = d. Em [2] e em ([17], pág. 49), o leitor pode encontrar condições necessárias e
suficientes para que tenhamos diam(Γ(R)) = d, para cada d ∈ {0, 1, 2, 3}. Não exploraremos
tal assunto aqui.
Vamos determinar agora quais são os grafos com 4 vértices que podem ser realizados como
Γ(R). Pelo Teorema 2.9, temos que a conexidade é uma condição necessária para que um
grafo seja um grafo divisor de zero. A menos de isomorfismos, os únicos grafos conexos com
4 vértices são os dados na Figura 2.13:
Dentre estes 6 grafos, apenas os 3 primeiros podem ser realizados como Γ(R). De fato,
consideremos os anéis R = Z25 e S = Z3 × Z3 . Temos que D(R)∗ = {5, 10, 15, 20} e
D(S)∗ = {(0, 1), (1, 0), (0, 2), (2, 0)}. Seja F4 = {0, 1, α, α2 } um corpo com 4 elementos.
Consideremos o anel
T = Z2 × F4 = {(0, 0), (0, 1), (0, α), (0, α2 ), (1, 0), (1, 1), (1, α), (1, α2 )}.
Então, D(T )∗ = {(0, 1), (1, 0), (0, α), (0, α2 )}. Os grafos divisores de zero dos anéis R, S e T
são os seguintes:
27 -
2.1 O grafo divisor de zero 28
Vamos mostrar agora que o grafo G com vértices {a, b, c, d} e arestas {a, b}, {b, c}, {c, d}
não pode ser realizado como Γ(R). De fato, suponhamos que exista um anel R com D(R)∗ =
{a, b, c, d} e somente os produtos nulos ab = 0, bc = 0 e cd = 0 entre os elementos de R∗ .
Como (a + c)b = ab + cb = 0, temos que a + c ∈ D(R) = {0, a, c, b, d}. Afirmamos que
a + c = b. De fato, notemos que a + c = a implica c = 0 e que se a + c = c, então a = 0. Se
a + c = d, temos db = 0, mas esta relação não ocorre em R∗ . Por fim, se a + c = 0, então
0 = (a + c)d = ad + cd = ad, o que também não ocorre. Logo, devemos ter a + c = b.
Teorema 2.11. ([6]) Seja R um anel que não é um domı́nio de integridade. Então Γ(R) é
finito se, e somente se, R é finito. Em particular, se 1 ≤ |Γ(R)| < ∞, então R é finito e não
é corpo.
A recı́proca é imediata. u
t
28 -
2.2 Colorações de Beck 29
Apresentaremos aqui alguns resultados expostos por Istvan Beck, em seu artigo “Coloring
of commutative rings” [11], sobre colorações de vértices. Dentre esses resultados, destacamos
os Teorema 2.21 e o Teorema 2.24. O primeiro apresenta algumas condições necessárias e
suficientes para que um grafo divisor de zero tenha número cromático finito. O segundo
elenca algumas propriedades de um anel que possui um grafo divisor de zero com número
cromático finito.
Já mencionamos neste texto que a definição de grafo divisor de zero dada por Beck difere
da definição que adotamos aqui. No entanto, nesta seção, manteremos a Definição.2.1.
Lema 2.12. ([11]) Seja R um anel que possui um número infinito de elementos finitos.
Então Γ(R) contém um clique infinito.
Vamos considerar então a sequência {xa2n }n∈N e denotar xa21 = xa2 . Sabemos que
xa2 xa2i ∈ (xa2 ), para todo i ∈ N. Sendo (xa2 ) um ideal finito, existem infinitos ı́ndices
a31 , a32 , a33 , . . . , a3n , . . . tais que
Consideremos agora a sequência {xa3n }n∈N . Denotando xa31 = xa3 e repetindo o processo,
obteremos uma sequência x1 , xa2 , xa3 , . . ., a qual denotamos por y1 , y2 , y3 , . . . , yn , . . ., tal que
yi yj = yi yk , quando j > i e k > i.
29 -
2.2 Colorações de Beck 30
yj yk = yj yr , temos que
Desse modo, z1,2 z3,4 = z1,2 z3,5 = 0. Como z3,4 6= z3,5 , então z3,4 6= z1,2 ou z3,5 6= z1,2 .
Se z3,4 6= z1,2 , temos o clique {z1,2 , z3,4 }. Se z3,5 6= z1,2 , o clique obtido é {z1,2 , z3,5 }. Vamos
assumir que z3,5 6= z1,2 e que, portanto, Γ(R) possui o clique {z1,2 , z3,5 }.
Notemos agora que z6,7 , z6,8 , z6,9 são dois a dois distintos. Logo, um deles não pertence
ao conjunto {z1,2 , z3,5 }. Supondo que z6,9 ∈
/ {z1,2 , z3,5 }, temos o clique {z1,2 , z3,5 , z6,9 }. Pros-
seguindo desse modo, obteremos um clique infinito de Γ(R). u
t
Lema 2.13. ([11]) Seja I um ideal finito de R. Então Γ(R) contém um clique infinito se, e
somente se, Γ(R/I) contém um clique infinito.
Reciprocamente, consideremos {xi }i∈N um clique infinito de Γ(R/I). Então, para todo
i 6= j, xi xj ∈ I. Como I é finito, o conjunto dos produtos {xi xj }i6=j é finito. Para o elemento
x1 , existem ı́ndices a2 , a22 , a23 , . . . , a2n , . . . tais que
Lema 2.14. ([11]) Se R contém um elemento nilpotente que não é finito, então Γ(R) contém
um clique infinito.
Demonstração: Por hipótese, existe x ∈ N il(R) tal que o ideal (x) é infinito. Mas x ∈
N il(R) implica que existe n ∈ N tal que xn = 0. A demonstração será feita por indução
sobre n. Como (x) é infinito, temos x 6= 0. Logo, iniciamos a demonstração considerando
n = 2.
30 -
2.2 Colorações de Beck 31
Se x2 = 0, então dados ax, bx ∈ (x), teremos (ax)(bx) = 0. Assim, Γ(R) possui um clique
infinito, a saber, o subgrafo induzido pelo ideal (x).
Consideremos agora um anel R tal que N il(R) é infinito. Se todo elemento de N il(R) é
finito, o Lema 2.12 nos garante que Γ(R) possui um clique infinito. Se algum elemento de
N il(R) não é finito, também obtemos que Γ(R) possui um clique infinito: basta aplicarmos
o Lema 2.14. Provamos assim o seguinte resultado:
Lema 2.16. ([11]) Se N il(R) é infinito, então Γ(R) tem um clique infinito.
O próximo lema trata de um anel reduzido R cujo grafo divisor de zero não possui um
clique infinito.
Lema 2.17. ([11]) Se R é um anel reduzido tal que Γ(R) não contém um clique infinito,
então R satisfaz a condição de cadeia ascendente (c.c.a.) sobre ideais da forma Ann(a), com
a ∈ R∗ .
Demonstração: Seja R um anel reduzido. Vamos supor que exista uma cadeia
Ann(a1 ) ( Ann(a2 ) ( . . .
que não estaciona. Seja xi ∈ Ann(ai )\Ann(ai−1 ), i = 1, 2, . . .. Então, para todo n ≥ 2, temos
que yn = xn an−1 6= 0. Disso resulta que os elementos yn formam um clique. De fato, se i < j,
temos yi yj = (xi ai−1 )(xj aj−1 ) = 0, visto que xi ∈ Ann(ak ), para todo k = i, i + 1, . . . , j, . . ..
31 -
2.2 Colorações de Beck 32
Lema 2.18. ([11]) Se x, y ∈ D(R) são tais que Ann(x) e Ann(y) são ideais primos distintos,
então xy = 0.
No próximo resultado, é dada uma condição suficiente para que o número cromático de
Γ(R) seja finito.
Teorema 2.19. ([11]) Seja R um anel que possui um ideal finito I que é uma interseção
finita de ideais primos de R. Então, χ(Γ(R)) é finito.
32 -
2.2 Colorações de Beck 33
Teorema 2.20. ([11]) Para um anel reduzido R, as seguintes condições são equivalentes:
Demonstração: Como ω(Γ(R)) ≤ χ(Γ(R)), é claro que (i) implica (ii). Também, se
ω(Γ(R)) é finito, R não contém um clique infinito e, assim, (ii) implica (iv). Do Lema 2.19
segue que (iii) implica (i). Logo, resta mostrarmos que (iv) implica (iii).
Suponhamos que R seja um anel reduzido tal que Γ(R) não contém um clique infinito.
Pelo Lema 2.17, R satisfaz c.c.a. sobre ideais da forma Ann(a). Seja {Ann(xi )}i∈Λ a coleção
formada por todos os elementos maximais, dois a dois distintos, da famı́lia {Ann(a) : a 6= 0}.
Pela Proposição 1.29, temos que Ann(xi ) é um ideal primo, para todo i ∈ Λ. Como Γ(R)
não contém um clique infinito, segue do Lema 2.18 que o conjunto de ı́ndices Λ é finito. De
fato, se Λ fosse infinito, terı́amos infinitos Ann(xi ). Do Lema 2.18 terı́amos que xi xj = 0,
para i 6= j, e assim, Γ(R) teria um clique infinito, o que é uma contradição. Logo, Λ é finito.
Suponhamos que exista um elemento não nulo x ∈ i∈Λ Ann(xi ). Então, x ∈ D(R)∗ . Da
T
escolha dos Ann(xi ), i ∈ Λ, resulta que Ann(x) ⊆ Ann(xj ), para algum j ∈ Λ. Se xxj = 0,
então xj ∈ Ann(x) ⊆ Ann(xj ) e, assim, x2j = 0, donde obtemos xj = 0, uma vez que R
é reduzido. Logo, xxj 6= 0 e disso resulta que x ∈ / Ann(xj ), uma contradição. Portanto,
T
i∈Λ Ann(xi ) = {0} e temos assim que (iv) implica (iii). u
t
Veremos a seguir que a hipótese de R ser reduzido pode ser retirada da hipótese do
Teorema 2.20, isto é, esse resultado vale para qualquer anel.
Teorema 2.21. ([11]) Para um anel R qualquer, as seguintes condições são equivalentes:
33 -
2.2 Colorações de Beck 34
Demonstração: É claro que (i) implica (ii) e que (ii) implica (iv). Pelo Teorema 2.19, (iii)
implica (i).
Precisamos mostrar então que (iv) implica (iii). Suponhamos que Γ(R) não possui um
clique infinito. Pelos Lemas 2.13 e 2.16, temos que N il(R) é finito e Γ(R/N il(R)) não possui
um clique infinito. Do Teorema 2.20 vem que {0} = {0 + N il(R)} é igual a uma interseção
finita de ideais primos, digamos {0} = P1 ∩ . . . ∩ Pk . Então, N il(R) = P1 ∩ . . . ∩ Pk , onde Pi
é a imagem inversa de Pi pela projeção canônica de R em R/N il(R). Portanto, (iv) implica
(iii). u
t
Proposição 2.22. ([11]) Seja R um anel que contém um ideal finito I que é uma interseção
finita de ideais primos. As seguintes afirmações são verdadeiras:
√
(i) Para todo ideal finito K de R, temos que K é um ideal finito e é igual a uma interseção
finita de ideais primos;
Demonstração: (i) Seja I um ideal finito que é uma interseção finita de ideais primos. Pelo
Teorema 2.19, χ(Γ(R)) é finito. Consideremos K ∈ Id(R) finito. Segue do Lema 2.13 que
Γ(R/K) não contém um clique infinito. Pelo Teorema 2.21, temos que N il(R/K) é finito e
√
é igual a uma interseção finita de ideais primos. Mas notemos que N il(R/K) = K/K. De
√
fato, observamos que x ∈ K/K se, e somente se, existe n ∈ Z+ tal que xn ∈ K. Como
34 -
2.2 Colorações de Beck 35
√
xn = xn = 0, temos que x ∈ K/K se, e somente se, x ∈ N il(R/K), donde N il(R/K) =
√
K/K.
√ √
Logo, K/K é finito e igual a uma interseção finita de ideais primos e, assim, K
também é finito e igual a uma interseção finita de ideais primos.
Pn
Demonstração: Dado a ∈ (I : x)x, temos que a = i=1 λi αi x, onde αi ∈ (I : x), para todo
i ∈ {1, . . . , n}. Então, αi x ∈ I, para todo i ∈ {1, . . . , n}. Como I é um ideal, devemos ter
Pn
i=1 λi αi x = a ∈ I. Assim, (I : x)x ⊆ I e, sendo I finito, (I : x)x também é finito.
j f
{0} −→ Ann(x) −→ (I : x) −→ (I : x)x −→ {0},
onde j é a inclusão e f é o epimorfismo dado por f (a) = ax. Notemos que Im(j) = Ann(x) =
ker(f ). Assim, (I : x)/Ann(x) ∼
= f ((I : x)). Como f ((I : x)) ⊆ (I : x)x e (I : x)x é finito,
temos que (I : x)/Ann(x) é um R-módulo finito. u
t
Elencamos agora várias propriedades satisfeitas por um anel cujo grafo divisor de zero
possui número cromático finito.
Teorema 2.24. Seja R um anel tal que χ(Γ(R)) é finito. Então, as seguintes afirmações
são verdadeiras:
35 -
2.2 Colorações de Beck 36
Demonstração: (i) Por absurdo, vamos supor que existe um conjunto {xk }k∈N tal que a
cadeia Ann(x1 ) ( Ann(x2 ) ( . . . não estaciona. Como χ(Γ(R)) é finito, segue do Teorema
2.21 que N il(R) é finito. Logo, existe n ∈ N tal que xi ∈
/ N il(R), para todo i > n. Ou seja,
no máximo, uma quantidade finita de elementos da sequência estão em N il(R). Retirando,
se necessário, tal quantidade finita e reenumerando os ı́ndices, vamos supor que xi ∈
/ N il(R),
para todo i ∈ N.
Pelo Teorema 2.21, temos ainda que N il(R) = P1 ∩. . .∩Pn , com Pi ideal primo, para todo
i ∈ {1, . . . , n}. Sabemos também que, para todo x ∈ R, (N il(R) : x) = (P1 : x)∩. . .∩(Pn : x).
Assim, o conjunto {(N il(R) : x) : x ∈ R} é finito (visto que, para todo P ∈ Spec(R),
(P : x) = R se x ∈ P ; (P : x) = P se x ∈
/ P ). Desse modo, existe um subconjunto
infinito {yi } de {xi } tal que (N il(R) : y1 ) = (N il(R) : y2 ) = . . .. Dessa igualdade vem que
todo conjunto da cadeira Ann(y1 ) ( Ann(y2 ) ( . . . está contido em (N il(R) : y1 ). Logo,
(N il(R) : y1 )/Ann(y1 ) é infinito. Mas, isso é um absurdo, pois sendo N il(R) finito, o lema
anterior nos diz que (N il(R) : y1 )/Ann(y1 ) deve ser finito.
(ii) Suponhamos Ass(R) infinito, digamos Ass(R) = {Ann(xi )}i∈Λ , com Λ infinito. Pelo
Lema 2.18, temos que xi xj = 0, se i 6= j, donde segue que Γ(R) possui um clique infinito, o
que contradiz o fato de χ(Γ(R)) ser finito. Logo, Ass(R) é finito.
(iii) Dado x ∈ D(R), existe y ∈ R∗ tal que xy = 0, donde x ∈ Ann(y). Pelo item (i),
Ann(y) está contido em algum elemento maximal do conjunto Ω = {Ann(a) : a ∈ R∗ },
digamos Ann(y) ⊆ Ann(t). Como todo elemento maximal de Ω é um ideal primo, temos que
S
Ann(t) ∈ Ass(R). Assim, x ∈ Ann(t), donde se segue a inclusão D(R) ⊆ P ∈Ass(R) P . A
outra inclusão é imediata.
36 -
2.2 Colorações de Beck 37
Se a ∈
/ P , então at ∈
/ P , donde Ann(at) ∈ Θ. Como Ann(t) ⊆ Ann(at) e Ann(t) é
maximal em Θ, temos que Ann(t) = Ann(at). Mas, ab ∈ Ann(t). Logo, 0 = (ab)t = b(at),
donde b ∈ Ann(at) = Ann(t).
As propriedades listadas nos quatro itens do enunciado do teorema anterior são satisfeitas
por um anel Noetheriano. No exemplo a seguir, vemos um anel não Noetheriano cujas
propriedades mencionadas também são satisfeitas.
Exemplo 2.25. Seja K um corpo. Sabemos que o anel de polinômios A = K[x1 , x2 , . . .] não
é um anel Noetheriano. Assim, R = Z2 × A também não é Noetheriano. Facilmente podemos
verificar que Γ(R) é um grafo estrela (o raciocı́nio é análogo ao da demonstração do Lema
2.26 da próxima seção). Pela Proposição 1.42, obtemos que χ(Γ(R)) é finito. Portanto, R
satisfaz cada uma das quatro propriedades listadas no enunciado do teorema anterior.
Convém observarmos que nem todo anel Noetheriano possui grafo divisor de zero com
número cromático finito. Basta notarmos que Z4 [x] é Noetheriano, mas χ(Γ(Z4 [x])) não é
finito, pelo Exemplo 2.15 e pelo Teorema 2.21. Porém, se R é um anel Noetheriano reduzido,
segue das Proposições 1.6 e 1.22 e do Teorema 2.20 que χ(Γ(R)) é finito.
37 -
2.3 Quando Γ(R) possui um vértice adjacente aos demais vértices 38
Como o tı́tulo da seção sugere, estudaremos aqui os grafos divisores de zero que possuem
um vértice que é adjacente a todos os outros vértices. Exibiremos condições necessárias e
suficientes para que um anel possua como grafo divisor de zero um grafo com tal propriedade.
Sabemos que um tipo de grafo que possui um vértice que é adjacente aos demais vértices
é o grafo estrela. O lema com o qual iniciamos a seção nos mostra que existe uma infinidade
de anéis que possuem como grafo divisor de zero um grafo com essa forma.
Demonstração: Seja (1, b) ∈ D(R). Então, existe (c, d) ∈ R∗ tal que (1, b)(c, d) = (0, 0),
donde 1c = 0 e bd = 0. Então, c = 0. Como (c, d) 6= (0, 0), devemos ter que d 6= 0. Sendo
A um domı́nio de integridade, obtemos b = 0. Denotando X = {(0, b) ∈ R : b ∈ A∗ }, não
é difı́cil ver que D(R)∗ = {(1, 0)} ∪ X. Além disso, (1, 0) é um vértice adjacente aos demais
vértices de Γ(R). Dados (0, x), (0, y) ∈ X, temos que (0, x)(0, y) = (0, xy) 6= (0, 0), visto que
x, y ∈ A∗ e A é domı́nio de integridade. Portanto, Γ(R) é um grafo estrela.
Se A é finito, então A é corpo (pois todo domı́nio de integridade finito é um corpo). Então,
existem um primo p e um inteiro positivo n tais que |A| = pn . Como a união {(1, 0)} ∪ X é
disjunta, |Γ(R)| = |V (Γ(R))| = |{(1, 0)}| + |X| = 1 + (pn − 1) = pn . u
t
Apresentaremos mais resultados acerca de grafos divisores de zero que são grafos estrela
na próxima seção. Na sequência, temos um resultado que nos dá condições necessárias e
suficientes para que um grafo divisor de zero tenha um vértice adjacente aos demais vértices.
Teorema 2.27. ([6]) Seja R um anel. Existe a ∈ V (Γ(R)) adjacente a qualquer outro vértice
se, e somente se, R ∼
= Z2 × A, onde A é um domı́nio de integridade, ou D(R) é um ideal
anulador (e, portanto, um ideal primo).
38 -
2.3 Quando Γ(R) possui um vértice adjacente aos demais vértices 39
Como D(R) \ {a} ⊆ Ann(a), temos que Ann(a) é maximal dentre o conjunto dos anula-
dores de elementos não nulos de R. Da Proposição 1.29 segue que Ann(a) é um ideal primo.
Se a2 6= a, então a2 ∈ Ann(a) e, sendo Ann(a) um ideal primo, teremos a ∈ Ann(a), o que é
um absurdo. Logo, devemos ter a = a2 . Pelo Lema 1.7, R = Ra ⊕ R(1 − a). Notemos que
a = 1a + 0(1 − a). Podemos supor então que R = R1 × R2 , com (1, 0) adjacente a todos os
demais vértices de Γ(R). Seja c ∈ R1 tal que c 6= 1. Então (c, 0) = (c, 0)(1, 0) = (0, 0), donde
vem que c = 0. Logo, R1 ∼
= Z2 .
Observemos que no caso em que D(R) é um ideal, temos que D(R) é um ideal primo,
pela Proposição 1.24.
Corolário 2.28. Seja R um anel finito. Existe um vértice de Γ(R) adjacente a qualquer
outro vértice se, e somente se, R ∼
= Z2 × K, onde K é um corpo finito, ou R é local. Neste
caso, para algum número primo p e algum inteiro n ≥ 1, |Γ(R)| = |K| = pn , se R ∼= Z2 × K;
se R é local, então |Γ(R)| = pn − 1.
39 -
2.4 Grafos completos e grafos estrela 40
Seja R ∼
= Z2 × K, com K um corpo finito. Do Lema 2.26 vem que Γ(R) é um grafo
estrela e |Γ(R)| = |K| = pn , para algum primo p e algum inteiro n ≥ 1. Agora, se R é um
anel local finito, segue do item (ii) da Proposição 1.37 que |Γ(R)| = |D(R)∗ | = pn − 1, para
algum primo p e algum inteiro n ≥ 1. u
t
Nem todo grafo divisor de zero que possui um vértice adjacente a qualquer outro vértice
é um grafo estrela, conforme podemos ver no exemplo a seguir.
Exemplo 2.29. Se R = Z16 , então Γ(R) possui o vértice 8 adjacente a todos os outros
vértices. No entanto, Γ(R) não é um grafo estrela, pois {4, 12} ∈ E(Γ(R)).
Nesta seção, estamos interessados em saber quais são os grafos completos e quais são os
grafos estrela que podem ser realizados como Γ(R) e o que podemos dizer sobre um anel que
possui como grafo divisor de zero algum desses dois tipos de grafos.
Comecemos com os grafos completos. O primeiro exemplo desta seção nos mostra que,
para qualquer primo p, existe um anel R tal que Γ(R) é um grafo isomorfo ao grafo completo
K p−1 .
Exemplo 2.30. Sejam p um número primo e R = Zp2 . Podemos facilmente verificar que
(p) = Zp2 \ U (Zp2 ). Assim, pela Proposição 1.2, R é um anel local com ideal maximal
(p). Sendo R finito, segue da Proposição 1.36 que D(R) = (p). Notemos agora que dados
a, b ∈ D(R)∗ = (p)∗ , temos a = pa1 e b = pb2 , com a1 , b2 ∈ Z. Assim, ab = (pa1 )(pb2 ) = 0,
donde Γ(R) é um grafo completo, com |Γ(R)| = |(p)∗ | = p − 1.
40 -
2.4 Grafos completos e grafos estrela 41
O próximo teorema nos diz quando que um grafo divisor de zero é completo. Exceto no
caso em que R ∼
= Z2 × Z2 , tal resultado nos mostra que Γ(R) é completo se, e somente se,
D(R)2 = {0}.
Teorema 2.31. ([6]) Seja R um anel. Então Γ(R) é um grafo completo se, e somente se,
R∼
= Z2 × Z2 ou xy = 0, para quaisquer x, y ∈ D(R).
Agora, se R ∼
= Z2 × Z2 , segue do Exemplo 2.3 que Γ(R) é completo. Se xy = 0 para todos
x, y ∈ D(R), então Γ(R) é completo, por definição. u
t
O próximo resultado caracteriza os anéis finitos que possuem como grafos divisores de
zero um grafo completo.
Teorema 2.32. ([6]) Seja R um anel finito. Se Γ(R) é um grafo completo, então R ∼
= Z2 ×Z2
ou R é local com char(R) = p ou p2 e |Γ(R)| = pn − 1, para algum primo p e algum inteiro
n ≥ 1.
Demonstração: Sendo Γ(R) completo, o grafo Γ(R) possui um vértice adjacente a todos os
outros vértices. Como R é finito, segue do Corolário 2.28 que R ∼
= Z2 × K, com K um corpo
finito, ou R é local. Suponhamos que R ∼
= Z2 × K, com K um corpo finito. Pelo Lema 2.26,
temos que Γ(Z2 × K) é um grafo estrela. Desse modo, para que tenhamos Γ(R) completo,
devemos ter K ∼
= Z2 .
41 -
2.4 Grafos completos e grafos estrela 42
K[x]
Exemplo 2.33. Seja K um corpo finito. Então, o anel R = (x2 )
é local com ideal maximal
(x)
M= (x2 )
. De fato, M é claramente um ideal maximal de R. Agora, dados 1 = 1 + (x2 ) ∈ R
e m = bx + (x2 ) ∈ M , temos que 1 + m = (1 + bx) + (x2 ) é invertı́vel em R, pois
[(1 − bx) + (x2 )][(1 + bx) + (x2 )] = (1 − bx)(1 + bx) + (x2 ) = 1 + (x2 ) = 1.
Segue do item (iii) da Proposição 1.2 que R é um anel local com ideal maximal M . Pela
Proposição 1.36, temos que M = D(R). Além disso, para quaisquer m1 , m2 ∈ M , é claro que
m1 m2 = 0. Logo, Γ(R) é um grafo completo com |Γ(R)| = |M ∗ | = |K| − 1 = pn − 1, para
algum primo p e algum inteiro n ≥ 1.
Do Teorema 2.32 e deste último exemplo, podemos concluir que o grafo completo K m
pode ser realizado como Γ(R) se, e somente se, m = pn − 1, para algum primo p e algum
inteiro n ≥ 1.
A partir de agora, tentaremos determinar como são os anéis finitos que possuem um grafo
estrela como seus grafos divisores de zero. Para isso, precisaremos dos seguintes lemas.
Lema 2.34. ([6]) Seja R um anel local com ideal maximal M 6= {0}. Se existir um menor
inteiro positivo k tal que M k = {0}, então D(R) = M = Ann(a), para qualquer a ∈ M k−1
não nulo.
42 -
2.4 Grafos completos e grafos estrela 43
Lema 2.35. ([6]) Seja R um anel finito. Se Γ(R) tem exatamente um vértice adjacente aos
demais vértices e não tem outros vértices adjacentes, então R ≈ Z2 × K, onde K é um corpo
finito com |K| ≥ 3, ou então R é local com ideal maximal M satisfazendo R ∼
= Z2 , M 3 = {0}
M
e |M 2 | ≤ 2. Desse modo, |Γ(R)| = pn ou |Γ(R)| = 2n −1, para algum primo p e algum inteiro
n ≥ 1.
Demonstração: Suponhamos que R não seja um anel local. Pelo Corolário 2.28, devemos
ter R ∼
= Z2 × K, com K um corpo finito. Se |K| = 2, então K ∼
= Z2 e daı́ Γ(R) ' K 2 . Mas,
neste caso, Γ(R) possui dois vértices distintos, um adjacente ao outro, o que contradiz o fato
de Γ(R) possuir um único vértice adjacente aos demais. Logo, |K| ≥ 3. Assim, devemos ter
|Γ(R)| = |K| = pn , para algum primo p e algum inteiro n ≥ 1.
(x + M i ) + (y + M i ) = (x + y) + M i , x, y ∈ M i−1 e
(r + M ) · (x + M i ) = rx + M i , r ∈ R, x ∈ M i−1 .
k−1
Logo, de | MM k | = 2 vem que R ∼
= Z2 .
M
k−2 |M k−2 |
M
Se k ≥ 4, então | M k−1 | = 2
e, assim, |M k−2 | = 2q, q ∈ N∗ e q > 1, uma vez que
M k−1 = {0, a} ⊆ M k−2 . Desta forma, |M k−2 | ≥ 4. Daı́, para b, c ∈ M k−2 \ M k−1 , com b 6= c,
como M 2k−4 = (M k−2 )2 = M k−2 M k−2 ⊆ M k−2 , obtemos bc ∈ M 2k−4 ⊆ M k = {0}, pois
2k − 4 ≥ k. Logo, bc = 0, um absurdo. Concluı́mos então que M 3 = {0} e, assim, |M 2 | ≤ 2.
Neste caso, como R ∼
= Z2 , devemos ter |M | =
|R|
. Mas, pela Proposição 1.37, M é um p-
M 2
43 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 44
O Lema 2.26 nos mostrou que se K é um corpo finito, então Γ(Z2 × K) é um grafo estrela
de ordem |K|. Veremos agora que, exceto para grafos estrelas de ordem pequena (como os
dados nos exemplos no inı́cio do capı́tulo), esta é a única forma que um grafo estrela pode
ser realizado como Γ(R).
Teorema 2.36. ([6]) Seja R um anel finito com |Γ(R)| ≥ 4. Então Γ(R) é um grafo estrela
se, e somente se, R ∼
= Z2 × K, onde K é um corpo finito. Em particular, se Γ(R) é um grafo
estrela, então |Γ(R)| = pn para algum primo p e inteiro n ≥ 0. Reciprocamente, cada grafo
estrela de ordem pn pode ser realizado como Γ(R).
Demonstração: Se R ∼
= Z2 × K, com K um corpo finito, segue da Proposição 2.26 que
Γ(R) é um grafo estrela, com |Γ(R)| = pn , para algum primo p e inteiro n ≥ 0.
Podemos tomar então a, b, c, d ∈ M ∗ \ {x} dois a dois distintos. Sabemos que ab, ac, ad ∈
M 2 = {0, x}. Como x é o único vértice adjacente a todos os outros vértices e Γ(R) é um grafo
estrela, temos que Ann(a) \ {a} = {0, x} e ab = ac = ad = x. Então, a(b − c) = a(b − d) = 0,
ou seja, b−c, b−d ∈ Ann(a). Mas notemos que Ann(a) é um subgrupo aditivo de M . Assim,
|Ann(a)| = 2s , para algum inteiro s ≥ 1. Logo, a ∈
/ Ann(a), o que implica Ann(a) = {0, x}.
Sendo b 6= c e b 6= d, devemos ter b − c = b − d = x, donde c = d, uma contradição. Portanto,
R∼
= Z2 × K. u
t
44 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 45
atenção aos grafos divisores de zero r-partidos completos, com r ≥ 3. Determinaremos para
quais inteiros r ≥ 3, existe um anel R tal que Γ(R) é r-partido completo e exibiremos
algumas propriedades de um grafo divisor de zero com esta forma. Veremos ainda que
algumas informações acerca do anel podem ser obtidas quando o grafo divisor de zero deste
anel é um grafo r-partido completo, r ≥ 3.
Iniciamos esta seção com um resultado que generaliza o Lema 2.26 dado na seção 2.3.
Consideremos agora x = (a1 , b1 ) ∈ D(R) \ {(0, 0)}. Então existe y = (a2 , b2 ) ∈ R \ {(0, 0)}
tal que xy = (0, 0), isto é, (a1 , b1 )(a2 , b2 ) = (0, 0). Logo, a1 a2 = 0 e b1 b2 = 0. Como A é
um domı́nio de integridade, devemos ter a1 = 0 ou a2 = 0. Se a1 = 0, então b1 6= 0 (pois
x 6= (0, 0)) e, assim, x = (0, b1 ) ∈ V2 . Se a1 6= 0, então a2 = 0. Neste caso, teremos b2 6= 0,
pois y 6= (0, 0). Como B também é um domı́nio de integridade e b1 b2 = 0, temos que b1 = 0,
donde x = (a1 , 0) ∈ V1 . Logo, D(R)∗ ⊆ V1 ∪ V2 e, assim, temos a igualdade D(R)∗ = V1 ∪ V2 .
Claramente, V1 ∪ V2 é uma união disjunta. Do fato de A e B serem domı́nios de integridade
segue que os vértices de V1 não podem ser adjacentes entre si e nem os vértices V1 podem ser
adjacentes a vértices de V2 . Portanto, Γ(R) é um grafo bipartido completo.
Se A e B forem finitos, então Γ(R) finito e, fazendo uma contagem simples, temos
|Γ(R)| = |V (Γ(R))| = |V1 | + |V2 | = |A| − 1 + |B| − 1 = |A| + |B| − 2. u
t
45 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 46
Figura 2.18: Γ(F4 × Z5 ) ' K3,4 Figura 2.19: Γ(Z3 × Z7 ) ' K2,6
No resultado a seguir, vemos mais uma condição suficiente para que um anel tenha um
grafo divisor de zero bipartido completo.
Teorema 2.38. Seja R um anel. Se existem P1 , P2 ∈ Spec(R) tais que P1 ∩ P2 = {0}, então
R é reduzido e Γ(R) é bipartido completo.
46 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 47
V1 . Analogamente, mostramos que não existe uma aresta formada por dois elementos de V2 .
Logo, Γ(R) é bipartido. Neste caso, se tomarmos a ∈ V1 e b ∈ V2 , teremos ab ∈ P1 ∩P2 = {0},
donde obtemos que Γ(R) é um grafo bipartido completo. u
t
Se R é um anel tal que Γ(R) é bipartido completo, não podemos garantir que existem
P1 , P2 ∈ Spec(R) tais que P1 ∩ P2 = {0}. Por exemplo, Γ(Z8 ) é bipartido completo (Γ(Z8 ) '
K1,2 , pela Figura 2.7). Mas, Spec(Z8 ) = {(2)}, pois Z8 é local com ideal maximal (2) e, em
um anel finito, todo ideal primo é maximal.
Teorema 2.39. ([15]) Seja R um anel reduzido. Se Γ(R) é bipartido, então existem P1 , P2 ∈
Spec(R) tais que P1 ∩ P2 = {0}.
Mostremos agora que V1 ∪ {0} é um ideal primo. Seja ab ∈ V1 ∪ {0}. Então, existe t ∈ V2
tal que abt = 0. Se bt = 0, então b ∈ V1 ∪ {0}. Se bt 6= 0, temos bt ∈ V2 , donde a ∈ V1 ∪ {0}.
Logo, V1 ∪ {0} é um ideal primo de R.
De modo análogo podemos mostrar que V2 ∪ {0} é um ideal primo de R. Assim, temos
V1 ∪ {0} e V2 ∪ {0} dois ideais primos distintos de R tais que P1 ∩ P2 = {0}. u
t
47 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 48
estudo mostrando que a Proposição 2.37 não pode ser generalizada para grafos r-partidos
completos, com r ≥ 3. Ou seja, se tivermos R1 , . . . , Rr domı́nios de integridade, r ≥ 3 e
R ≈ R1 × . . . × Rr , então Γ(R) não pode ser um grafo r-partido completo.
(y1 , . . . , yr ) ∈ D(R)∗ tais que xy = 0. Seja j ∈ {1, . . . , r} o menor ı́ndice tal que xj 6= 0.
Então, x ∈ Vj e yj = 0, pois xj yj = 0 e Rj é um domı́nio de integridade. Disso resulta
que y ∈
/ Vj . Logo, dois vértices adjacentes de Γ(R) estão em partes distintas da partição de
D(R)∗ . Assim, Γ(R) é r-partido.
Nesta dissertação, já vimos alguns exemplos de grafos divisores de zero r-partidos comple-
tos, r ≥ 3. Na seção anterior, mostramos que para qualquer primo p e qualquer inteiro n ≥ 1,
n −1
existe um anel R tal que Γ(R) é isomorfo ao grafo completo K p . Tais grafos divisores
de zero são (pn − 1)-partidos completos, considerando que cada vértice de Γ(R) forma uma
parte da partição desse grafo. Porém, não existem apenas grafos divisores de zero r-partidos
completos com esta forma. No próximo exemplo, apresentamos um grafo divisor de zero
r-partido, com r ≥ 3, que possui uma de suas partes contendo mais do que um elemento.
48 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 49
Z3 [x,y]
Figura 2.20: Γ( (xy,y 2 −x) )
Antes do próximo resultado, vamos fixar a seguinte notação: se Γ(R) é um grafo r-partido
completo, denotaremos por V1 , . . . , Vr as suas r partes (os r elementos da partição).
49 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 50
Teorema 2.42. ([1]) Seja R um anel. Se Γ(R) é um grafo r-partido completo, com r ≥ 3,
então no máximo uma de suas partes possui mais do que um vértice. Ainda, se Vi contém
um único vértice, digamos Vi = {x}, então x2 = 0 e o ideal gerado por x é finito. Mais:
D(R) ∈ M ax(R) ∩ Ass(R), onde M ax(R) denota o conjunto dos ideais maximais de R.
Demonstração: Por absurdo, vamos supor que existam duas partes distintas de Γ(R),
digamos Vt e Vs , ambas contendo mais do que um vértice. Tomemos x ∈ Vt e y ∈ Vs . Sendo
r ≥ 3, existe Vl distinta de Vt e Vs . Dado z ∈ Vl , temos que Ann(z) ⊆ Ann(x) ∪ Ann(y).
De fato, se a ∈ Ann(z), então a ∈
/ Vl (pois Γ(R) é r-partido). Logo, a ∈ Vk , para algum
k ∈ {1, . . . , r} \ {l}. Se k 6= t e k 6= s, então ax = ay = 0, donde a ∈ Ann(x) ∩ Ann(y). Se
k = t, então a ∈
/ Vs e daı́ ay = 0, ou seja, a ∈ Ann(y). Se k = s, obtemos que a ∈ Ann(x).
Assim, Ann(z) ⊆ Ann(x) ∪ Ann(y).
Afirmamos ainda que, neste caso, Ann(z) ⊆ Ann(x) ou Ann(z) ⊆ Ann(y). De fato,
vamos supor que existe a ∈ Ann(z) tal que a ∈
/ Ann(y). Consideremos b ∈ Ann(z). Vamos
mostrar que b ∈ Ann(x). Com efeito, como a, b ∈ Ann(z), temos que a + b ∈ Ann(z) ⊆
Ann(x) ∪ Ann(y). Se a + b ∈ Ann(x), então b = a + b − a ∈ Ann(x). Se a + b ∈ Ann(y),
então b ∈ Ann(x), pois se b ∈ Ann(y), teremos a = a + b − a ∈ Ann(y), uma contradição.
Logo, Ann(z) ⊆ Ann(x), donde vem que Ann(z) ⊆ Ann(x) ou Ann(z) ⊆ Ann(y).
Sem perda de generalidade, vamos supor que Ann(z) ⊆ Ann(x). Desse modo, conside-
rando w ∈ Vt \ {x}, temos que w ∈ Ann(z) ⊆ Ann(x), ou seja, wx = 0, o que contradiz o
fato de Γ(R) ser r-partido. Logo, no máximo uma parte de Γ(R) possui um único vértice.
Para provarmos a segunda afirmação, vamos assumir que Vi seja uma das partes de Γ(R)
que possuem um único vértice, digamos Vi = {x}. Como Γ(R) é r-partido completo, temos
que D(R) \ {x} ⊆ Ann(x). Seja y ∈ Vj , para algum j ∈ {1, . . . , r} \ {i}. Como r ≥ 3, existe
um vértice z adjacente aos vértices x e y. Então, xz = yz = 0 e (x + y)z = 0. Claramente,
x 6= x + y. Assim, 0 = (x + y)x = x2 + xy, donde x2 = 0. Logo, x ∈ Ann(x). Como
consequência, temos Ann(x) = D(R). Logo, pela Proposição 1.24, D(R) é um ideal primo.
Sabemos que todo grafo r-partido admite uma r-coloração própria (Proposição 1.42).
Assim, temos aqui que χ(Γ(R)) é finito. Pelo Teorema 2.21, Γ(R) não possui um clique
infinito. Como x2 = 0, temos que (ax)(bx) = abx2 = 0, para quaisquer ax, bx ∈ (x). Desse
50 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 51
modo, se (x) fosse infinito, (x) seria um clique infinito de Γ(R), o que não ocorre. Logo,
devemos ter que o ideal (x) é finito
Tendo em vista este último teorema e o comentário feito no parágrafo que antecede o
Exemplo 2.41, vamos fixar a seguinte notação: se Γ(R) é r-partido completo, com r ≥ 3,
então as partes V1 , V2 , . . . , Vr−1 possuem um único elemento, enquanto a parte Vr é a parte
que pode possuir mais do que um vértice.
O próximo resultado nos diz que se Γ(R) é um grafo r-partido completo infinito, então r
é uma potência de algum número primo e o nilradical de R pode ser determinado a partir
de seu grafo divisor de zero.
Teorema 2.43. ([1]) Seja R um anel infinito tal que Γ(R) é r-partido completo, com r ≥ 3.
Então N il(R) = r−1
S
i=1 Vi ∪ {0} é um ideal primo, Ass(R) = {N il(R), D(R)} e |N il(R)| =
r = pt , para algum primo p e algum inteiro t. Mais: para todo x ∈ Vr , (x) ⊆ Vr ∪ {0}.
Demonstração: Da prova do Teorema 2.42, vimos que D(R) ∈ Ass(R), com D(R) =
Ann(x), para todo x ∈ r−1
S
i=1 Vi .
Consideremos Q = [ r−1
S
i=1 Vi ] ∪ {0}, que é um ideal da forma Q = Ann(z), para qualquer
Sabemos, pela Proposição 1.42, que χ(Γ(R)) é finito. Pelo item (iv) do Teorema 2.24,
T
temos que M in(R) ⊆ Ass(R). Logo, M in(R) = {D(R)} e, assim, N il(R) = P ∈M in(R) P =
D(R). Como χ(Γ(R)) é finito, temos N il(R) finito e daı́ D(R) é finito, o que contradiz o
51 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 52
Afirmamos agora que Ass(R) = {Q, D(R)}. De fato, seja Ann(a) ∈ Ass(R) \ {D(R)}.
Então, Ann(a) ( D(R). Assim, existe z ∈ D(R) tal que z ∈
/ Ann(a), ou seja, az 6= 0.
Devemos ter então que a, z ∈ Vr , donde Ann(a) = Q. Assim, Ass(R) = {Q, D(R)}.
Ainda, temos que Q é o único primo minimal de R, pois M in(R) ⊆ Ass(R). Desse modo,
segue da Proposição 1.6 que Q = N il(R).
A partir de agora, nesta seção, estudaremos grafos divisores de zero r-partidos completos
finitos. O próximo resultado nos diz que anéis finitos que possuem grafos divisores de zero
com esta forma devem ser locais e apresenta ainda algumas propriedades desses grafos.
Teorema 2.44. ([1]) Seja R um anel finito tal que Γ(R) é um grafo r-partido completo, com
r ≥ 3. As seguintes afirmações são verdadeiras:
52 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 53
Demonstração: (i) Sendo Γ(R) um grafo r-partido completo com r ≥ 3, R não pode ser
isomorfo a um anel da forma Z2 × F , com F um corpo, pois se isso ocorresse, terı́amos Γ(R)
bipartido (pelo Teorema 2.37) e, neste caso, r = 2. Logo, pelo Corolário 2.28, R é local.
(ii) Pelo item (i) e pela Proposição 1.37, existem um número primo p e um inteiro k ≥ 0
tais que |R| = pk . Como |Vr | ≥ 2, podemos escolher vértices distintos x, y ∈ Vr . Sendo
Sr−1
Ann(x) ∩ Ann(y) = i=1 Vi ∪ {0} um ideal de R, devemos ter que |Ann(x) ∩ Ann(y)| =
Sr−1
| i=1 Vi ∪ {0}| é uma potência de p, digamos pt , para algum inteiro positivo t. Daı́, r é
também uma potência de p. De fato, se i 6= r, então |Vi | = 1. Daı́, | r−1
S
i=1 Vi | = r − 1. Assim,
pt = | r−1
S Sr−1 t
i=1 Vi ∪ {0}| = | i=1 Vi | + 1 = r − 1 + 1 = r, donde r = p .
(iii) Sejam x, y ∈ Vr vértices distintos. Sabemos, pelo item anterior, que |R| = pk ,
com p primo e k ≥ 0 inteiro, donde vem que todo ideal de R deve ser uma potência de
p. Desse modo, |(Ann(x) ∩ Ann(y))| = ps , para algum inteiro s ≥ 0. Suponhamos que
exista z ∈ Vr tal que z 2 = 0. Então, Ann(z) = {z} ∪ (Ann(x) ∩ Ann(y)) é um ideal, mas
|Ann(z)| = |{z}| + |(Ann(x) ∩ Ann(y))| = 1 + ps , o que nos dá uma contradição. Logo,
z 2 6= 0, para todo z ∈ Vr .
Mostremos que z 3 = 0. Notemos que, sendo R um anel local finito, D(R) = N il(R) (pelo
Teorema 1.36). Consideremos n o menor inteiro positivo tal que z n = 0. Por absurdo, vamos
supor que n ≥ 4. Então, z n−1 ∈
/ Vr , pois z n = 0. Agora, como n ≥ 4 implica 2n − 4 ≥ n, não
podemos ter z n−2 ∈ Vr , pois (z n−2 )2 = z 2n−4 = 0. Mas disso resulta que 0 = zz n−2 = z n−1 , o
que contradiz a minimalidade de n. Portanto, z 3 = 0.
53 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 54
Por este último resultado, pelos Teoremas 2.43 e 2.32, pelo Exemplo 2.41 e pelo comentário
feito no parágrafo anterior a este mesmo exemplo, podemos afirmar que:
(i) existe um anel R tal que Γ(R) é um grafo divisor de zero r-partido completo, com
r ≥ 3 e todas as partes da partição de Γ(R) contendo um único vértice se, e somente
se, r = pn − 1, para algum primo p e algum inteiro n ≥ 2;
(ii) existe um anel R tal que Γ(R) é um grafo divisor de zero r-partido completo, com r ≥ 3
e |Vr | ≥ 2 se, e somente se, r = pn , para algum primo p e algum inteiro n ≥ 1.
Terminamos esta seção com um resultado que nos diz quais são os anéis finitos que
possuem um grafo p-partido completo como grafo divisor de zero quando p é um primo
ı́mpar. Para mostrarmos tal resultado, precisaremos do seguinte lema:
Lema 2.45. ([1]) Se R um anel finito. Suponha que Γ(R) é um grafo r-partido completo,
com r ≥ 3. Então |D(R)| ≤ r2 .
Demonstração: Seja x ∈ Vr e tomemos a função f : D(R) −→ Ann(x) dada por f (a) = ax.
Pelo item (iv) do Teorema 2.44, f está bem definida. Claramente vemos que f é um ho-
momorfismo de R-módulos. Se |Vr | = 1, então |D(R)| = r + 1 ≤ r2 . Se |Vr | ≥ 2, então
|Ann(x)| = r. Como ker(f ) = Ann(x), obtemos também |D(R)| ≤ r2 . u
t
Teorema 2.46. ([1]) Sejam R um anel finito e p 6= 2 um número primo tal que Γ(R) é
p-partido completo. Então |Γ(R)| = p2 , |R| = p3 e R é isomorfo a um dos seguintes anéis:
Zp Zp2 [y]
Zp3 , (xy,y 2 −x)
ou (py,y 2 −ps)
, para algum s ∈ {1, . . . , p − 1}.
54 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 55
Agora, seja y0 ∈ Vp . Então, y02 = x0 6= 0 e y03 = 0 (pelo Teorema 2.44). Com isso, obtemos
que x20 = (y02 )2 = y0 y03 = 0. Analisemos os seguintes casos:
Caso 1: Char(R) = p
Seja A = {ax0 + by0 : a, b ∈ Zp }. Como x0 (ax0 + by0 ) = 0, temos que A ⊆ D(R). Vamos
mostrar que os elementos de A são dois a dois distintos. Tomemos ax0 +by0 , cx0 +dy0 ∈ A tais
que ax0 +by0 = cx0 +dy0 . Afirmamos que a = c e b = d. Com efeito, multiplicando por y0 em
ambos os lados da igualdade x0 (c−a) = y0 (b−d), obtemos 0 = y03 (c−a) = y02 (b−d) = x0 (b−d),
donde vem que b − d = 0 e b = d (pois b − d ∈ Zp e x0 6= 0). Assim, (a − c)x0 = 0, donde
a = c. Logo, os elementos de A são dois a dois distintos. Fazendo uma contagem simples,
temos que |A| = p2 e, como A ⊆ D(R), obtemos a igualdade A = D(R).
55 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 56
Caso 2: Char(R) = p2 .
Como y02 6= 0 e y0 y02 = 0, temos que existem s, t ∈ T tais que y02 = sp + ty0 , donde
0 = y0 (y02 − sp) = ty02 . Como t ∈ T e py0 = 0, devemos ter t = 0. Assim, y02 = ps, para algum
s ∈ T = {1, 2, . . . , p}.
Caso 3: Char(R) = p3
Temos neste caso que R = {1, 2 · 1, 3 · 1, . . . , p3 · 1 = 0}, que, por sua vez, é isomorfo ao
anel Zp3 . u
t
56 -
2.6 Ciclos e cintura 57
Iniciamos esta seção com um resultado acerca dos ciclos de um grafo divisor de zero. Já
vimos, nos exemplos 2.4 e 2.7, que Γ(R) pode ser um 3-ciclo ou um 4-ciclo. No entanto, Γ(R)
não pode ser um n-ciclo se n ≥ 5. Tal fato está provado na seguinte proposição.
Proposição 2.47. ([6]) Para todo n ≥ 5, Γ(R) não pode ser um n-ciclo.
O próximo exemplo destaca que, para cada n ≥ 3, existe um grafo divisor de zero que
contém um n-ciclo.
Z2 [x1 ,··· ,xn ]
Exemplo 2.48. Seja Rn = I
, onde I = (x21 , · · · , x2n , x1 x2 , x2 x3 , · · · , xn x1 ). Podemos
ver que Γ(Rn ) tem um n-ciclo, a saber, x1 x2 · · · xn x1 , pois para todo 1 ≤ i ≤ n, (xi +
I)(xi+1 + I) = xi xi+1 + I = 0 + I e (xn + I)(x1 + I) = xn x1 + I = 0 + I.
Muitos grafos divisores de zero não possuem ciclos. Por exemplo, os grafos divisores de
57 -
2.6 Ciclos e cintura 58
zero que são grafos estrela (dados no Lema 2.26). No entanto, o próximo resultado afirma
que, quando um grafo divisor de zero possui um ciclo, sua cintura é igual a 3 ou 4.
Teorema 2.49. ([15] e [21]) Seja R um anel tal que Γ(R) contém um ciclo. Então gr(Γ(R)) ≤
4.
Na sequência desta seção, veremos que algumas informações acerca da cintura de Γ(R)
podem ser obtidas a partir de uma análise acerca da cardinalidade do conjunto dos primos
associados de um anel R. Vejamos inicialmente o que podemos dizer acerca da cintura de
um grafo divisor de zero de um anel que possui mais do que dois primos associados.
58 -
2.6 Ciclos e cintura 59
Veremos agora os casos em que um anel R possui exatamente dois primos associados.
Proposição 2.51. ([1]) Suponhamos que R seja um anel tal que Ass(R) = {P1 , P2 }, com
|P1 |, |P2 | ≥ 3 e P1 ∩ P2 = {0}. Então gr(Γ(R)) = 4.
Observação 2.52. Seja P um ideal primo qualquer de R. Então, qualquer aresta de Γ(R)
tem pelo menos um vértice em P . De fato, se x e y são vértices adjacentes em Γ(R), então
xy = 0 ∈ P , donde x ∈ P ou y ∈ P .
Teorema 2.53. ([1]) Se R é um anel tal que Ass(R) = {P1 , P2 } com P1 ∩ P2 6= {0} e
|P1 ∩ P2 | ≥ 3, então gr(Γ(R)) = 3.
Vamos supor agora que não existe a ∈ (P1 ∩ P2 ) \ {0, x1 , x2 }. Desse modo, devemos ter
P1 ∩ P2 = {0, x1 , x2 }. Como P1 ∩ P2 é um ideal, −x1 ∈ P1 ∩ P2 . Assim, −x1 = x1 ou
−x1 = x2 . Como P1 6= P2 , não podemos ter −x1 = x2 . Daı́, −x1 = x1 e, assim, {0, x1 } é
subgrupo de P1 ∩P2 de ordem 2, o que é um absurdo, pois 2 não divide |P1 ∩P2 | = 3. Logo, se
59 -
2.6 Ciclos e cintura 60
Teorema 2.54. ([1]) Suponhamos que Ass(R) = {P1 , P2 } com |P1 ∩ P2 | = 2 e P1 = Ann(x1 )
e P2 = Ann(x2 ).
(ii) Sem perda de generalidade, vamos supor aqui que P1 ∩ P2 = {0, x1 }. Desse modo,
x2 ∈ P1 (pois x1 x2 = 0) e x2 ∈
/ P2 .
Teorema 2.55. ([1]) Se R é um anel finito tal que |R| ≥ 10 e |Ass(R)| = 1, então
gr(Γ(R)) = 3.
Demonstração: Como |R| ≤ |D(R)|2 (Proposição 1.38) e |R| ≥ 10, temos que |Γ(R)| ≥ 3.
Se |Γ(R)| = 3, pelos Exemplos 2.4 e 2.7 e pela Observação 2.8, concluı́mos que R é isomorfo
a um dos seguintes anéis:
Z2 [x]
(i) Z6 , Z8 , , Z4 [x]
(x3 ) (x2 −2,2x)
F4 [x]
(ii) , Z4 [x] , Z4 [x] , Z2 [x,y]
(x2 ) (x2 +x+1) (2,x)2 (x,y)2
60 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 61
Os anéis dados em (i) têm K1,2 como grafo divisor de zero. Já os anéis que aparecem em
(ii) têm K 3 como grafo divisor de zero. Mas, notemos que os quatro anéis do item (i) não
possuem mais do que 9 elementos (pelo Exemplo 2.7) e, assim, não satisfazem a hipótese
|R| ≥ 10. Logo, R é isomorfo a um dos quatro dados em (ii) e, assim, gr(Γ(R)) = 3.
Vamos supor agora que |Γ(R)| ≥ 4. Tomemos P = Ann(x) ∈ Ass(R). Como R é No-
S
etheriano, da Observação 1.33 segue que D(R) = P ∈Ass(R) P = Ann(x). Então x é um
vértice adjacente aos demais vértices. Se existirem a, b ∈ V (Γ(R)) \ {x} tais que a 6= b
e ab = 0, então Γ(R) possui um 3-ciclo xabx, donde gr(Γ(R)) = 3. Se Γ(R) é um grafo
estrela, então R ≈ Z2 × F , com F um corpo finito (pelo Teorema 2.36). Mas, neste caso,
Ass(R) = {{0} × F, Z2 × {0}} = {Ann((1, 0)), Ann((0, 1))}. Logo, não podemos ter Γ(R)
um grafo estrela. Portanto, gr(Γ(R)) = 3. u
t
Nesta seção, exibiremos alguns resultados obtidos por S. P. Redmond em [22] sobre raio,
centro e número de dominação de um grafo divisor de zero. Começaremos apresentando
uma classificação dos anéis Noetherianos a partir dos raios dos grafos divisores de zero desses
anéis. Em um segundo momento, restringiremos nosso estudo aos anéis Artinianos. Veremos
que o raio de Γ(R) pode ser relacionado com o diâmetro desse grafo e apresentaremos uma
propriedade de um vértice central de um grafo divisor de zero de um anel Artiniano local.
Ao final da seção, veremos que algumas informações acerca de R podem ser obtidas a partir
do número de dominação de Γ(R).
O primeiro resultado desta seção nos diz como são os anéis Noetherianos que possuem
grafos divisores de zero com raio igual a 0 ou 1.
Proposição 2.56. ([22]) Seja R um anel Noetheriano que não é um domı́nio. Então:
61 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 62
Demonstração: (i) Pela Observação 2.8, Γ(R) possui um único vértice se, e somente se,
R ≈ Z4 ou R ∼
=
Z2 [x]
(x2 )
. Vamos mostrar então que rad(Γ(R)) = 0 se, e somente se, Γ(R) possui
um único vértice. De fato, se rad(Γ(R)) ≥ 1, então devem existir dois vértices distintos x e
y em Γ(R) tais que d(x, y) = rad(Γ(R)) e, assim, |Γ(R)| ≥ 1. Por outro lado, se Γ(R) possui
dois vértices distintos (ou mais), então rad(Γ(R)) ≥ 1, pois Γ(R) é conexo.
(ii) Suponhamos que rad(Γ(R)) = 1. Então existe um vértice de Γ(R) adjacente aos
demais vértices. Pelo Teorema 2.27 e pela Proposição 1.30, isso acontece se, e somente se,
D(R) é um ideal (anulador) ou R ∼
= Z2 × A, com A um domı́nio de integridade.
Reciprocamente, se R ∼
= Z2 × A, para algum domı́nio de integridade A, então (1, 0) é
um vértice adjacente aos demais vértices (pelo Lema 2.26). Daı́, e((1, 0)) = 1 e, assim,
rad(Γ(R)) = 1. Suponhamos que D(R) é um ideal. Como R é Noetheriano, temos que D(R)
é um ideal anulador de R, ou seja, D(R) = Ann(a), para algum a ∈ R∗ . Assim e(a) = 1,
donde rad(Γ(R)) = 1.
62 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 63
Tn
Então, xym ∈ Pi = N il(R) = {0}. Logo, xym = 0 e d(x, ym ) = 1.
i=1
agora que xyj 6= 0, para algum j ∈ {1, . . . , n} \ {m}. De fato, vamos supor que xyj = 0,
para todo j ∈ {1, . . . , n} \ {m}. Então xyj ∈ {0} = ni=1 Pi , ou seja, xyj ∈ Pi , para todo
T
i ∈ {1, . . . , n} \ {m}. Assim, para todo j ∈ {1, . . . , n} \ {m}, temos que xyj ∈ Pj . Como Pj é
primo, obtemos que x ∈ Pj . Mas x ∈ Pm e disso resulta que x ∈ ni=1 Pi = {0}, um absurdo.
T
Neste caso, como R é Noetheriano, da Observação 1.33 e da Proposição 1.22 segue que
S
P ∈Ass(R) P = D(R), com Ass(R) = {P1 , . . . , Pn } finito. Assim, para cada i ∈ {1, . . . , n},
existe ai ∈ R∗ tal que Pi = Ann(ai ). Como R é não reduzido, existe v ∈ R∗ tal que
v ∈ N il(R) = ni=1 Pi = ni=1 Ann(ai ). Daı́, vai = 0, para todo i ∈ {1, . . . , n}. Agora, dado
T T
x ∈ D(R), temos que x ∈ Pj = Ann(aj ), para algum j ∈ {1, . . . , n}. Desse modo, se xv = 0,
então d(x, v) = 1. Se vx 6= 0, como xaj = 0 = aj v, temos que d(v, x) = 2
Com estes últimos resultados, podemos classificar os anéis Noetherianos de acordo com o
raio do grafo divisor de zero desses anéis do seguinte modo:
(iii) Rad(Γ(R)) = 2 se, e somente se, D(R) não é um ideal e R não é isomorfo ao anel Z4 ,
Z2 [x]
nem ao anel (x2 )
.
63 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 64
A partir de agora, trataremos apenas de anéis Artinianos. Devemos observar que quando
R é Artiniano, pelo Teorema 1.14, podemos escrever R de modo único (a menos de isomor-
fismo) como um produto direto finito de anéis Artinianos locais, digamos R = R1 × . . . × Rk .
Eventualmente, Ri pode ser um corpo, para algum i ∈ {1, 2, . . . , n}. No restante da seção,
escreveremos a decomposição Artiniana de R como R = R1 × . . . × Rn × F1 × . . . × Fm , com
R1 , . . . , Rn anéis locais Artinianos que não são corpos e F1 , . . . , Fm corpos.
Teorema 2.58. [22] Seja R um anel Artiniano. As seguintes afirmações são verdadeiras:
(ii) Se rad(Γ(R)) = 1, então diam(Γ(R)) = 1 se, e somente se, Γ(R) é completo. Caso
contrário, diam(Γ(R) = 2;
Demonstração:
(ii) Se rad(Γ(R)) = 1, então existe um vértice adjacente aos demais. Assim, diam(Γ(R)) ≤
2 e Γ(R) não é um grafo nulo. Neste caso, diam(Γ(R)) = 1 se, e somente se, Γ(R) é completo.
64 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 65
rad(Γ(R)) = 1, o que não ocorre. Logo, não temos o caso n = 0 e m = 2. Analisemos então
os casos possı́veis.
Caso 1: n = 0 e m ≥ 3
Caso 2: m = 0 e n ≥ 2
Para cada i ∈ {1, . . . , n}, tomemos ti ∈ Mi∗ , onde Mi é o único ideal maximal de Ri .
Seja x = (1, t2 , . . . , tn ) ∈ Γ(R). Então, y = (0, 1, . . . , 1) ∈ Γ(R) satisfaz xy 6= 0 e Ann(x) ∩
Ann(y) = (0, . . . , 0). Daı́ d(x, y) = 3.
Caso 3: m ≥ 1 e n ≥ 1
Exemplo 2.59. Seja R = Z × Z. Pela Proposição 2.37, Γ(R) é um grafo bipartido completo.
Vemos que rad(Γ(R)) = 2, diam(Γ(R)) = 2 e que R não é isomorfo a um produto direto de
dois corpos. Pelo item (iii) do Teorema 2.58, R não é Artiniano.
Lema 2.60. Se R é um anel Artiniano local que não é um domı́nio e x ∈ Cen(Γ(R)), então
x2 = 0
65 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 66
Notemos agora que não podemos ter x + x2 = 0, pois se isso ocorresse, terı́amos x2 =
(−x2 )2 = x4 = 0. Também não podemos ter x + x2 = x. Assim, x + x2 é um vértice de Γ(R)
distinto do vértice x. Temos assim 0 = x(x + x2 ) = x2 + x3 = x2 , o que é uma contradição.
u
t
Se R é um anel Artiniano e não é local, não podemos afirmar que x2 = 0, para todo x ∈
Cen(Γ(R)). Por exemplo, consideremos o anel R = Z2 ×Z2 ×Z2 . Vemos que V (Cen(Γ(R))) =
{(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)}. Mas, R é reduzido e, daı́, x2 6= 0, para todo x ∈ Cen(Γ(R)). O
grafo divisor de zero de Z2 × Z2 × Z2 pode ser visto na Figura 2.21. Os vértices centrais de
Γ(Z2 × Z2 × Z2 ) estão destacados com uma cor mais clara.
Consideremos agora o anel S = Z4 × Z4 . Então V (Cen(Γ(S))) = {(2, 0), (0, 2), (2, 2)}.
Podemos ver que S é Artiniano e, para todo x ∈ Cen(Γ(S)), x2 = 0. No entanto, S não é
local. De fato, se S fosse local, seu ideal maximal seria D(S), pela Proposição 1.34. Porém
D(S) não é um ideal de S, pois (1, 0), (0, 1) ∈ D(S), mas (1, 0) + (0, 1) = (1, 1) ∈
/ D(S).
Assim, S não é local. O grafo divisor de zero de S está representado na Figura 2.22.
Exemplo 2.61. Seja R = Z2 × Z2 × Z2 . Então V (Cen(Γ(R))) = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)}
é um conjunto dominante minimal Γ(R). No entanto, Γ(R) é dominado também por S =
{(0, 1, 1), (1, 1, 0), (1, 0, 1)} e vemos que V (Cen(Γ(R))) ∩ S = ∅. Ainda, Γ(Z2 × Z4 ) (Fi-
gura 2.23) possui como conjuntos dominantes minimais os conjuntos V (Cen(Γ(Z2 × Z4 ))) =
66 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 67
Teorema 2.62. [22] Seja R um anel Artiniano que não é um domı́nio. Se rad(Γ(R)) ≤ 1,
então γ(Γ(R)) = 1. Se rad(Γ(R)) = 2, então γ(Γ(R)) é igual ao número de fatores da
decomposição Artiniana de R.
67 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 68
Notemos agora que se rad(Γ(R)) = 1, pode não ser verdade que γ(Γ(R)) igual ao número
de fatores da decomposição Artiniana de R. De fato, se F é um corpo finito, temos que
R = Z2 × F é um anel com dois ideais maximais. Sabemos, pela demonstração do Teorema
de Estrutura dos Anéis Artinianos (Teorema 1.14) que o número de fatores da decomposição
Artiniana de um anel R é igual ao número de ideais maximais desse anel. Mas, neste caso,
Γ(R) é um grafo estrela e, portanto, seu número de dominação deve ser igual a 1.
No caso em que R é finito, o próximo resultado nos dá uma relação entre o número de
dominação de Γ(R) e o número de ideais maximais de R.
Corolário 2.63. [22] Seja R um anel finito e seja m o número de dominação de Γ(R). Se
Γ(R) não é um grafo estrela, então R tem m ideais maximais distintos. Se Γ(R) é um grafo
estrela, então R tem dois ideais maximais distintos ou então R é isomorfo a um dos seguintes
Z3 [x] Z2 [x] Z4 [x]
anéis: Z9 , (x2 )
, Z8 , (x3 )
ou (2x,x2 −2)
.
Se Γ(R) é um grafo estrela e |Γ(R)| ≥ 4, então pelo Teorema 2.36, temos que R ∼
= Z2 × F ,
com F um corpo finito. Neste caso, conforme destacamos no parágrafo anterior a este co-
rolário, R possui dois ideais maximais e número de dominação igual a 1. Os cinco anéis
listados no enunciado do teorema são os únicos anéis locais tais que |Γ(R)| < 4 e tais que
Γ(R) ' K1,1 ou Γ(R) ' K1,2 , conforme destacamos nos Exemplos 2.3 e 2.4 e na Observação
2.8. u
t
68 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 69
Dado R um anel finito, sabemos que R é Artiniano e que, desse modo, podemos escrever
R = R1 × . . . × Rn , com Ri um anel local finito, para todo i ∈ {1, . . . , n}. Pelo Teorema
1.14, o número fatores de uma decomposição Artiniana de R não depende da decomposição
escolhida. A planaridade de Γ(R) é analisada aqui a partir do número de fatores de uma
decomposição Artiniana de R. Vejamos os seguintes casos:
CASO 1: n ≥ 4.
Neste caso, Γ(R) não é planar. De fato, temos que os vértices do conjunto (R1 × R2 ×
{0} . . . × {0})∗ são adjacentes aos vértices do conjunto ({0} × {0} × R3 × . . . × Rn )∗ . Como
|(R1 × R2 × {0} . . . × {0})∗ | ≥ 3 e |({0} × {0} × R3 × . . . × Rn )∗ | ≥ 3, temos que K3,3 é
isomorfo a um subgrafo de Γ(R). Pelo Teorema 1.52, Γ(R) não é planar.
CASO 2: n = 3
69 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 70
por terem como subgrafo um grafo não planar, temos que Γ(Z2 × Z3 × Z3 ) e Γ(Z3 × Z3 × Z3 )
não são planares.
CASO 3: n = 2
Suponhamos então que |R1 | ≤ 3 ou |R2 | ≤ 3. Sem perda de generalidade, podemos supor
que |R1 | ≤ 3. Vamos analisar algumas possibilidades.
(1) Se R1 ∼
= Z2 .
70 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 71
Temos que se D|(R2 )| ≥ 5, então Γ(R) não é planar. De fato, como R2 é local, pelo
Corolário 2.28, Γ(R2 ) possui um vértice x adjacente aos demais vértices de Γ(R2 ). Escolhendo
a, b, c ∈ D(R2 ) \ {0, x} dois a dois distintos, teremos que o subgrafo de Γ(R) induzido pelos
vértices (0, a), (0, b), (0, c), (0, x), (1, 0) e (1, x) possui K3,3 como subgrafo. Assim, Γ(R) não
é planar.
Suponhamos que |D(R2 )| = 4, digamos D(R2 ) = {0, a, b, c}. Neste caso, podemos ter
Γ(R2 ) ' K3 ou Γ(R2 ) ' K1,2 . Se Γ(R2 ) ' K3 , então Cen(Γ(R2 )) = {a, b, c}, donde ab =
ac = bc = 0. Como R2 é Artiniano local, pelo Lema 2.60, temos a2 = b2 = c2 = 0. Podemos
ver então que os vértices do conjunto {(0, a), (0, b), (0, c)} são adjacentes aos vértices do
conjunto {(1, a), (1, b), (1, c)}. Logo, Γ(R) possui um subgrafo isomorfo a K3,3 , donde vem
que Γ(R) não é planar.
Suponhamos Γ(R2 ) ' K1,2 . Neste caso, Γ(R) é planar. Com efeito, pelo Exemplo 2.4
Z2 [x]
e pela Observação 2.8, temos que R2 é isomorfo a um dos seguintes anéis: Z6 , (x3 )
, Z8 ,
Z4 [x]
(x2 −2,2x)
. Pelas Figuras 2.27, 2.28, 2.29 e 2.30, temos que Γ(Z2 × R2 ) é planar.
Z2 [x]
Figura 2.27: Γ(Z2 × Z6 ) Figura 2.28: Γ(Z2 × (x3 )
)
Se |D(R2 )| = 3, então, pelo Exemplo 2.3 e pela Observação 2.8, R2 é isomorfo a um dos
Z3 [x]
seguintes anéis: Z2 × Z2 , Z9 ou (x2 )
. Destes, apenas Z2 × Z2 não é local. Exibimos os grafos
Z3 [x]
planares Γ(Z2 × Z9 ) e Γ(Z2 × (x2 )
) nas Figuras 2.31 e 2.32, respectivamente.
Se |D(R2 )| = 2, então R2 ∼
= Z4 ou R2 ∼
=
Z2 [x]
(x2 )
(pela Observação 2.8) e, neste caso, Γ(R)
também é planar, conforme podemos ver nas Figuras 2.23 e 2.33. Se |D(R2 )| = {0}, então,
71 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 72
Z4 [x]
Figura 2.29: Γ(Z2 × Z8 ) Figura 2.30: Γ Z2 × (x2 −2,2x)
Z3 [x]
Figura 2.31: Γ(Z2 × Z9 ) Figura 2.32: Γ Z2 × (x2 )
R2 é domı́nio e daı́ Γ(R) é um grafo estrela (pelo Lema 2.26), que claramente é planar.
Z2 [x]
Figura 2.33: Γ Z2 × (x2 )
(2) R1 ∼
= Z3 .
Suponhamos que D|(R2 )| ≥ 4. Como R2 é local finito, pelo Corolário 2.28 e pelo Lema
2.60, existe x ∈ D(R2 )∗ adjacente aos demais vértices e tal que x2 = 0. Escolhendo a, b ∈
D(R2 )\{0, x} distintos, temos que os vértices do conjunto {(1, x), (2, x), (1, 0)} são adjacentes
aos vértices do conjunto {(0, x), (0, a), (0, b)}. Logo, Γ(R) contém um subgrafo isomorfo a
72 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 73
Z3 [x]
Figura 2.34: Γ(Z3 × Z9 ) Figura 2.35: Γ Z3 × (x2 )
Z2 [x]
Se |D(R2 | = 2, então R2 ≈ Z4 ou R2 ≈ (x2 )
. Considerando as Figuras 2.36 e 2.37, vemos
que Γ(R) é planar.
Z2 [x]
Figura 2.36: Γ(Z3 × Z4 ) Figura 2.37: Γ Z3 × (x2 )
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2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 74
que Γ(R) é um grafo bipartido completo com partição V (Γ(R)) = P ∪ Q e Γ(R) ' K2,n−1 ,
com n = |R|. Logo, Γ(R) é planar.
CASO 4: n=1
Neste caso, R é um anel local. Estudaremos agora esse caso. Para demonstrarmos os
resultados que enunciaremos a seguir, faremos uso de alguns fatos expostos na Proposição
1.37. Destacamos tais fatos na próxima observação.
Observação 2.64. Se (R, M ) é um anel local finito, então existe um número primo p e
R
inteiros não negativos t, l, k tais que char(R) = pt , |M | = pl , |R| = pk e char( M ) = p.
R
Teorema 2.65. Seja (R, M ) um anel local finito, com M 6= {0} e | M | ≥ 4. Se |M | ≥ 7 ou
|R| ≥ 26, então Γ(R) não é planar.
Demonstração: Pela Proposição 1.36, temos que M = D(R). Do fato de R ser Artiniano
e da Observação 1.33 segue que M ∈ Ass(R). Então, M = Ann(x), para algum x ∈ R∗ .
R
Como | M | ≥ 4, existem distintos u1 , u2 , u3 ∈ U (R) tais que u1 x, u2 x e u3 x são distintos e
R
Ann(u1 x) = Ann(u2 x) = Ann(u3 x) = M . De fato, tomemos u1 , u2 , u3 ∈ U ( M ) dois a dois
distintos. Sejam u1 , u2 e u3 representantes de u1 ,u2 , u3 , respetivamente. Claramente vemos
que u1 6= u2 , u1 6= u3 e u2 6= u3 (pois as suas classes são duas a duas distintas). Também,
u1 x 6= u2 x, pois se tivéssemos u1 x = u2 x, terı́amos (u1 − u2 )x = 0, ou seja, u1 − u2 ∈
Ann(x) = M , o que implicaria em u1 = u2 . Analogamente, mostramos que u1 x 6= u3 x e
u2 x 6= u3 x. Ainda, dado a ∈ M , temos que ax = 0. Daı́, axu1 = axu2 = axu3 = 0, donde
obtemos que Ann(u1 x) = Ann(u2 x) = Ann(u3 x) = M .
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2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 75
O próximo lema apresenta algumas caracterı́sticas de um anel local finito que tem como
grafo divisor de zero um grafo planar.
Lema 2.66. Seja (R, M ) um anel local finito tal que Γ(R) é planar. Temos que
R
(i) Se | M | = 2, então M 4 = {0}
R
(ii) Se | M | = 3, então M 3 = {0}
Afirmamos agora que, para todo t ∈ {0, . . . , k − 1}, |M k−t | ≥ 2t . Mostraremos tal
afirmação por indução sobre t. Para t = 0, temos que |mk | = |{0}| = 1 = 20 . Suponhamos
que, para algum t ∈ {0, . . . , k − 1}, tenhamos |M k−t | ≥ 2t . Pela observação feita no final do
parágrafo anterior, sabemos que |M k−t−1 | ≥ |M k−t | ≥ 2t . Como M k−t−1 é um subgrupo de
M , temos que |M k−t−1 | = 2l , para algum inteiro l ≥ 0. Assim, |M k−t−1 | ≥ 2t+1 e a afirmação
está provada.
(ii) Apresentaremos aqui apenas os passos da demonstração, pois os detalhes são análogos
aos da demonstração do item (i). Supondo M 6= {0}, sejam s ∈ Z∗+ tal que |M | = 3s e k
o menor inteiro positivo tal que M k = {0}. Então, para todo t ∈ {0, . . . , k − 1}, teremos
|M k−t | ≥ 3t . Se k ≥ 4, então, k − 2 ≥ 2 e daı́ |M k−2 | ≥ 32 = 9. Sendo M k−2 ⊆ M 2 , temos
que |M 2 | ≥ 9. Como M k−2 M 2 ⊆ M k = {0} segue que K3,3 é isomorfo a algum subgrafo de
Γ(R), o que contradiz o fato de Γ(R) ser planar. Logo, M 3 = {0}. u
t
Teorema 2.67. Seja (R, M ) um anel local finito tal que Γ(R) é planar. Temos que:
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2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 76
R
(i) Se | M | = 2, então |R| ≤ 32;
R
(ii) Se | M | = 3, então |R| ≤ 27.
Corolário 2.68. Se (R, M ) é um anel local finito com M 6= {0} e |R| > 32, então Γ(R) não
é planar.
Demonstração: Suponhamos por absurdo que exista um anel local finito (R, M ) com
R
|R| > 32, M 6= {0} e Γ(R) planar. Pelo Teorema 2.67, terı́amos | M | ≥ 4. Mas, como
|R| > 32 ≥ 26, do Teorema 2.65, obterı́amos que Γ(R) não é planar, uma contradição. u
t
Exemplo 2.69. O grafo Γ(Z27 ) é planar (Figura 2.38). Já Γ(Z28 ) não é planar, pois o
subgrafo induzido pelos vértices do conjunto {4, 7, 8, 12, 14, 21} possui um subgrafo isomorfo
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2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 77
Segundo J. Coykendall [14], R. Belshoff e J. Chapman provaram em [12] que anéis locais
que não são corpos e que possuem mais do que vinte e sete vértices não são planares. No
entanto, não apresentaremos este estudo aqui.
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Referências
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a complete r-partite graph. J. Algebra 270 (1), (2003), 169-180.
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tative rings, 2007.
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[12] BELSHOFF, R., CHAPMAN, J. Planar zero-divisor graphs. J. Algebra, 316, (2002),
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[13] CHARTRAND G., ZHANG P. A first course in graph theory. Dover, New York, 2012.
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[20] MARTINEZ, M., SKALAK, M., When do the zero divisors form an ideal, based on the
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[22] REDMOND, S. P. Central Sets and Radii of the Zero-Divisor Graphs of Commutative
Rings. Comm. Alg. 34, (2006), 2389-2401.
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REFERÊNCIAS 80
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