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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS


DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA
(Mestrado)

Um Estudo Sobre Grafos Divisores de Zero

JULIO CESAR MORAES PEZZOTT

Orientadora: Irene Naomi Nakaoka

Maringá - PR
2014
Um Estudo Sobre Grafos Divisores de Zero

JULIO CESAR MORAES PEZZOTT

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Matemática do Departamento de
Matemática, Centro de Ciências Exatas da Univer-
sidade Estadual de Maringá, como requisito par-
cial para obtenção do tı́tulo de Mestre em Ma-
temática.
Área de concentração: Álgebra

Orientadora: Profa . Dra . Irene Naomi Nakaoka

Maringá - PR
2014
Agradecimentos

Agradeço à minha famı́lia, que sempre me apoiou. Em especial, à minha esposa Claudia,
aos meus pais e aos meus irmãos.

Agradeço à minha orientadora Profa . Dra . Irene Naomi Nakaoka pela paciência, sabedoria
e dedicação na realização deste trabalho.

Aos professores do Departamento de Matemática da UEM por contribuı́rem com minha


formação.

Aos meus amigos e colegas de mestrado.

À Capes, pelo apoio financeiro.


Resumo

Dado um anel comutativo com identidade R, o grafo divisor de zero de R, denotado por
Γ(R), é o grafo cujos vértices são os divisores de zero não nulos de R e dois vértices distintos
x e y são adjacentes se, e somente se, xy = 0. Nesta dissertação, estudaremos algumas
propriedades dos grafos divisores de zero e destacaremos algumas relações entre R e Γ(R).
Abstract

Given a commutative ring with identity R, the zero-divisor graph of R, denoted by Γ(R),
is the graph whose vertices are the nonzero zero-divisors of R and two distinct vertices x and
y are adjacent if and only if xy = 0. In this dissertation, we will study some properties of
zero-divisors graphs and we will highlight some relations between R and Γ(R).
vi

Índice de Notações

∅ conjunto vazio
|X| cardinalidade do conjunto X
X∗ X \ {0}
X(Y X é um subconjunto próprio de Y
X⊆Y X é um subconjunto de Y
X ×Y produto direto de X por Y
Im(f ) imagem da função f
ker(f ) núcleo da função f
(x) ideal gerado pelo elemento x
U (R) conjunto dos elementos invertı́veis do anel R
D(R) conjunto dos divisores de zero do anel R
Id(R) conjunto dos ideais do anel R
Spec(R) conjunto dos ideais primos do anel R

I ideal radical do ideal I
N il(R) {r ∈ R : rn = 0 ,para algum n ∈ N} (nilradical de R)
J(R) radical de Jacobson do anel R
V ar(I) variedade do ideal I
M in(R) conjunto dos primos minimais do anel R
ass(I) conjunto dos primos associados do ideal I
Ass(R) conjunto dos primos associados do anel R
(I : x) quociente do ideal I por x
Ann(x) {r ∈ R : rx = 0} (anulador de x)
Ann(I) {r ∈ R : rI = {0}} (anulador de I)
char(R) caracterı́stica do anel R
G = (V, E) grafo com conjunto de vértices V e conjunto de arestas E
Γ(R) grafo divisor de zero do anel R
deg(u) grau do vértice u

vi -
vii

d(u, v) distância de u a v
diam(G) diâmetro do grafo G
Km grafo completo de ordem m
Km,n grafo bipartido completo com conjunto de vértices V = V1 ∪ V2 (união disjunta)
tal que |V1 | = m e |V2 | = n
ω(G) cardinalidade do maior clique no grafo G
Cn n-ciclo
gr(G) cintura do grafo G
χ(G) número cromático por vértices de G
e(v) max{d(v, x) : x ∈ V } (excentricidade do vértice v)
rad(G) raio do grafo G
Cen(G) centro do grafo G
γ(G) número de dominação do grafo G
G·e contração elementar de G pela aresta e

vii -
Sumário

Índice de Notações vi

Introdução ix

1 Preliminares 1

1.1 Anéis comutativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.1.1 Anéis Artinianos e anéis Noetherianos . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1.1.2 Decomposição primária de um ideal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1.1.3 Sobre os divisores de zero de um anel . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

1.2 Grafos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.2.1 Grafos planares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2 Grafos divisores de zero 22

2.1 O grafo divisor de zero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2.2 Colorações de Beck . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2.3 Quando Γ(R) possui um vértice adjacente aos demais vértices . . . . . . . . 38

2.4 Grafos completos e grafos estrela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

2.6 Ciclos e cintura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

2.7 Raio, centro e número de dominação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

viii -
Referências 78
Introdução

O conceito de grafo divisor de zero surgiu na literatura matemática com o artigo “Coloring
of commutative rings” [11], publicado por Istvan Beck em 1988. O autor definiu um grafo
tomando como vértices os elementos de um anel comutativo e colocando que dois vértices
distintos seriam adjacentes se o produto entre eles resultasse no elemento neutro da adição.
Beck estudou colorações de vértices desse grafo. Mais resultados sobre esse tema foram
obtidos por D. D. Anderson e M. Nasser e publicados, em 1993, no artigo “ Beck’s Coloring
of Commutative Rings ” [4].

Em 1999, no artigo “ The zero-divisor graph of a commutative ring ”[6], D. F. Anderson e


P. S. Livingston apresentaram uma definição de grafo divisor de zero um pouco diferente da
definição de Beck. Tais autores mantiveram a condição dada por Beck para que dois vértices
fossem adjacentes; no entanto, passaram a considerar como vértices apenas os divisores de
zero não nulos do anel. A partir desse artigo, a maioria dos matemáticos que trataram do
tema assumiram a definição de D.F. Anderson e P.S. Livingston como a definição de grafo
divisor de zero.

Nos três artigos acima citados, algumas relações entre um anel e seu grafo divisor de
zero foram explicitadas e alguns resultados mostraram que propriedades acerca dos anéis
poderiam ser deduzidas a partir do seu grafo divisor de zero. Desse modo, o grafo divisor de
zero se apresentava como uma ferramenta auxiliar para o estudo das propriedades algébricas
dos anéis.

Diante disso, alguns matemáticos se interessaram pelo assunto e vários artigos sobre o
tema foram publicados. No artigo de 1999, Anderson e Livingston exploraram temas como co-
nexidade, diâmetro, cintura e automorfismos de grafos. Em [5], podemos ver resultados sobre
cliques e planaridade, bem como algumas relações entre isomorfismos de grafos e isomorfis-

x -
Introdução xi

mos de anéis. Tais relações também foram estudadas por S. Akbari e A. Mohammadian em
[2]. Neste mesmo artigo, estes autores apresentaram um estudo sobre colorações de arestas.
Cintura, planaridade e grafos divisores de zero r-partidos completos são temas abordados por
S. Akbari, H. R. Maiamani e S. Yassemi em [1]. Em [20], são explicitadas algumas relações
entre o conjunto dos divisores de zero e o grafo divisor de zero de um anel. T. G. Lucas,
em [19], estudou questões referentes ao diâmetro de um grafo divisor de zero. Raio, centro
e número de dominação são temas tratados por S. P. Redmond em [22]. Este último autor
introduziu ainda, em [23], o conceito de grafos divisores de zero de anéis não comutativos,
tema esse que não será explorado aqui.

Nesta dissertação, apresentaremos um estudo sobre grafos divisores de zero de anéis co-
mutativos. Veremos quais informações acerca de um anel podem ser obtidas a partir de
seu grafo divisor de zero e destacaremos algumas propriedades desse grafo no que diz res-
peito aos seguintes temas: conexidade, diâmetro, raio, centro, tamanho, cintura, número de
dominação, colorações de vértices e forma (grafos completos e grafos r-partidos completos).

Dividimos o texto em dois capı́tulos. No primeiro, colocamos os pré-requisitos para a


leitura do capı́tulo 2. Tais pré-requisitos abrangem conceitos e resultados da Teoria de Anéis
Comutativos e da Teoria de Grafos. No capı́tulo 2, apresentamos o estudo sobre grafos
divisores de zero de anéis comutativos.

xi -
Capı́tulo 1

Preliminares

Neste capı́tulo, apresentaremos alguns conceitos e resultados da Teoria de Anéis Comu-


tativos e da Teoria de Grafos necessários ao estudo que faremos no próximo capı́tulo. Não
demonstraremos aqui todos os resultados enunciados. No entanto, para cada resultado não
demonstrado, indicaremos um texto no qual sua demonstração pode ser encontrada. Os pré-
requisitos para leitura desta dissertação são os tópicos básicos de Grupos, Anéis e Módulos.

1.1 Anéis comutativos

Iniciamos este tópico com algumas notações e convenções. Dados os conjuntos X e Y ,


escrevemos X ⊆ Y se X é um subconjunto de Y . Se X é um subconjunto próprio de Y ,
escrevemos X ( Y . Se X é um conjunto finito, denotamos a cardinalidade de X por |X|.

Em todo o texto, os anéis serão anéis comutativos com identidade. A identidade do anel
será denotada por 1 e o elemento neutro da adição por 0, com 1 6= 0. Quando X for um
subconjunto de um anel, denotamos o conjunto X \ {0} por X ∗ .

Dado um anel R, indicamos o conjunto de todos os ideais desse anel por Id(R). Dados
I ∈ Id(R) e a ∈ R, escrevemos a para indicar o elemento a + I do anel quociente R/I. O
conjunto dos elementos invertı́veis de R é representado por U (R).

A interseção de todos os ideais maximais de um anel R é um ideal chamado Radical de


Jacobson, o qual denotamos por J(R). O Radical de Jacobson pode ser caracterizado pelo
seguinte resultado:

Proposição 1.1. ([24], pág. 42) Em um anel R, r ∈ J(R) se, e somente se, para todo
a ∈ R, o elemento 1 − ar ∈ U (R).

1 -
1.1 Anéis comutativos 2

Um anel R é local quando possui um único ideal maximal M . Neste caso, R/M é um
corpo, chamado de corpo residual de R. O seguinte resultado nos dá condições para que um
anel seja local.

Proposição 1.2. ([7], pág. 4) Sejam R um anel e M ∈ Id(R) \ {R}.

(i) Se R \ M = U (R), então R é um anel local e M é seu único ideal maximal;

(ii) Se R \ U (R) é um ideal, então R é um anel local com ideal maximal R \ U (R);

(iii) Se M é um ideal maximal e 1 + m ∈ U (R) para todo m ∈ M , então R é local.

Denotamos o conjunto dos ideais primos de R por Spec(R). Usaremos neste texto o
seguinte resultado envolvendo ideais primos.

Proposição 1.3. ([7], pág.8) Sejam P, P1 , . . . , Pn ∈ Spec(R) e I, I1 , . . . , Ir ∈ Id(R).


Sn
(i) Se I ⊆ i=1 Pi , então I ⊆ Pi para algum i ∈ {1, . . . , n};
Tr
(ii) Se j=1 Ij ⊆ P , então Ij ⊆ P , para algum j ∈ {1, . . . , r}, .

Dado I ∈ Id(R) \ {R}, o conjunto V ar(I) = {P ∈ Spec(R) : I ⊆ P } é chamado de


variedade do ideal I. O seguinte teorema caracteriza esse subconjunto do Spec(R).

Teorema 1.4. ([24], pág. 53) Dado I ∈ Id(R) \ {R}, V ar(I) é não vazio e admite elemento
minimal em relação à inclusão de conjuntos.

Os elementos minimais de V ar(I) são chamados de primos minimais de I. Os primos


minimais do ideal nulo {0} são chamados também de primos minimais de R. Desse modo,
temos que P ∈ Spec(R) é um primo minimal de R se, e somente se, não existe outro ideal
primo contido propriamente em P .

O conjunto dos primos minimais de R é representado por M in(R). Na hipótese da


próxima proposição, temos um anel R com M in(R) finito.

Proposição 1.5. Seja R um anel tal que M in(R) é finito, digamos M in(R) = {P1 , . . . , Pk }.
k
\
Então, para cada j ∈ {1, . . . , k}, existe um elemento yj ∈ ( Pi ) \ Pj .
i=1
i6=j

2 -
1.1 Anéis comutativos 3

Demonstração: Dado Pj ∈ M in(R), temos que Pi * Pj , para todo i ∈ {1, . . . , k} \ {j}.


Desse modo, para cada i 6= j, podemos escolher xi ∈ Pi \ Pj . Assim, podemos considerar
k
\
yj = x1 . . . xj−1 xj+1 . . . xk . Do fato de Pj ser um ideal primo segue que yj ∈ ( Pi ) \ Pj . u
t
i=1
i6=j


Dado I ∈ Id(R), o conjunto I = {r ∈ R : existe n ∈ Z∗+ tal que rn ∈ I} é um ideal,

chamado de ideal radical de I. Claramente vemos que I ⊆ I.
p
O ideal {0} = {r ∈ R : existe n ∈ Z∗+ tal que rn = 0} é denotado por N il(R) e chamado
de nilradical de R. Um elemento r ∈ N il(R) recebe o nome de nilpotente e o menor inteiro
positivo n tal que rn = 0 é chamado de ı́ndice de nilpotência de r. Um anel R é dito reduzido
se N il(R) = {0}. Caso contrário, R é não reduzido.

A próxima proposição nos dá uma relação entre o nilradical, os ideais primos e os primos
minimais de um anel R:

Proposição 1.6. ([24], pág. 52 e pág. 54) Em um anel R, são verdadeiras as seguintes
\ \
igualdades: N il(R) = P = P.
P ∈Spec(R) P ∈M in(R)

Um elemento a ∈ R é idempotente quando a2 = a. Encerramos esta seção com dois


resultados envolvendo elementos deste tipo.

Lema 1.7. Seja R um anel. Se a ∈ R∗ é idempotente, então R = Ra ⊕ R(1 − a).

Demonstração: Dado r ∈ R, podemos escrever r = r + ra − ra = ra + r(1 − a). Assim,


R = Ra + R(1 − a). Agora, tomemos x ∈ Ra ∩ R(1 − a). Então existem r, s ∈ R tais que
x = ra = s(1 − a) = s − sa. Multiplicando por a em ambos os lados dessa última igualdade e
usando o fato que a é idempotente, obtemos x = ra = ra2 = (ra)a = (s − sa)a = sa − sa2 =
sa − sa = 0, donde Ra ∩ R(1 − a) = {0}. Portanto, R = Ra ⊕ R(1 − a). u
t

Lema 1.8. Se R é um anel local, então seus únicos elementos idempotentes são 0 e 1.

Demonstração: Seja R um anel local com ideal maximal M e seja a ∈ R tal que a2 = a.
Se a ∈ U (R), então existe b ∈ R tal que ab = 1. Neste caso, temos que 1 = ab = a2 b =
a(ab) = a. Se a ∈
/ U (R), então devemos ter a ∈ M , pois todo elemento não invertı́vel de

3 -
1.1 Anéis comutativos 4

um anel pertence a algum ideal maximal. Mas notemos que M = J(R). Segue da Pro-
posição 1.1 que 1 − a ∈ U (R). Logo, existe x ∈ R tal que x(1 − a) = 1. Assim, como
1 = 12 = x2 (1 − a)2 = x2 (1 − 2a + a2 ) = x2 (1 − 2a + a) = x2 (1 − a) = x[x(1 − a)] = x,
obtemos que 1 − a = 1, donde vem que a = 0. u
t

1.1.1 Anéis Artinianos e anéis Noetherianos

Nesta seção, apresentaremos as definições de anéis Artinianos e anéis Noetherianos e


alguns resultados básicos envolvendo tais anéis. Começamos com a seguinte definição:

Definição 1.9. Seja C um conjunto parcialmente ordenado por uma relação  (respectiva-
mente, ).

(a) Dizemos que C satisfaz a condição de cadeia descendente (c.c.d.) (respect., condição de
cadeia ascendente (c.c.a.)) se, para cada famı́lia (Si )i∈N de elementos de C que satisfaz
S0  S1  S2  . . .  Si  . . . (respect., S0  S1  S2  . . .  Si  . . .), existir k ∈ N
tal que Sk = Sk+i , para todo i ∈ N. Neste caso, dizemos que a cadeia estaciona.

(b) Dizemos que C satisfaz à condição minimal (respect., condição maximal ) se todo sub-
conjunto não vazio de C admite um elemento minimal (respect., maximal), com respeito
à  (respect., ).

O próximo resultado nos diz que as condições (a) e (b) dadas na definição anterior são
equivalentes.

Proposição 1.10. ([24], pág. 47) Seja C um conjunto parcialmente ordenado por  (respect.,
por ). Então C satisfaz a c.c.d (respect., c.c.a) se, e somente se, C satisfaz a condição
minimal (respect., condição maximal).

Apresentamos a seguir as definições de anel Artiniano e anel Noetheriano. Estamos


assumindo aqui que o leitor está familiarizado com a definição de R-módulo, que pode ser
vista em ([24], pág. 102).

4 -
1.1 Anéis comutativos 5

Definição 1.11. Seja M um R-módulo. Dizemos que M é Artiniano (respect., Noetheriano)


se o conjunto de seus submódulos, ordenado por ⊇ (respect., ⊆), satisfaz à condição de ca-
deia descendente (respect., condição de cadeia ascendente) ou, equivalentemente, à condição
minimal (respect., condição maximal).

Um anel R é Artiniano (respect., Noetheriano) se R, visto como um R-módulo, é Artiniano


(respect., Noetheriano), isto é, se o conjunto de seus ideais Id(R), ordenado por ⊇ (respect.,
⊆), satisfaz à condição de cadeia descendente (resp., condição de cadeia ascendente) ou,
equivalentemente, à condição minimal (respect., condição maximal).

O resultado a seguir destaca uma propriedade dos anéis Noetherianos.

Proposição 1.12. ([24], pág. 146) Sejam R um anel Noetheriano e I ∈ Id(R). Então, R/I
é um anel Noetheriano.

A próxima proposição apresenta várias propriedades de um anel Artiniano. Antes de


enunciá-la, precisamos saber que um ideal I é dito nilpotente quando existe um inteiro
positivo n tal que I n = {0}.

Proposição 1.13. ([7], pág. 163 e 164) Sejam R um anel Artiniano e I ∈ Id(R). Então:

(i) Todo ideal primo de R é maximal;

(ii) N il(R) = J(R);

(iii) R tem somente um número finito de ideais maximais;

(iv) N il(R) é nilpotente.

O teorema a seguir descreve a estrutura dos anéis Artinianos.

Teorema 1.14. (Estrutura de Anéis Artinianos) ([7], pág. 90) Um anel Artiniano
R é de maneira única (a menos de isomorfismo) um produto direto finito de anéis locais
Artinianos.

O teorema que encerra este tópico estabelece uma relação entre anéis Artinianos e No-
etherianos.

5 -
1.1 Anéis comutativos 6

Teorema 1.15. ([24], pág. 166) Um anel R é Artiniano se, e somente se, R é Noetheriano
e todo ideal primo de R é maximal.

1.1.2 Decomposição primária de um ideal

Nesta seção, definiremos o que é uma decomposição primária minimal de um ideal e


apresentaremos alguns conceitos e resultados relacionados ao assunto. Para isso, precisamos
da seguinte definição:

Definição 1.16. Seja Q ∈ Id(R) \ {R}. Dizemos que Q é um ideal primário se dado ab ∈ Q,

tivermos a ∈ Q ou b ∈ Q.


Se Q é um ideal primário de R, então Q = P é um ideal primo ([24], pág. 63). Mais
ainda: qualquer outro ideal primo que contém Q deve conter P , ou seja, P é o único elemento
minimal de V ar(Q). Neste caso, dizemos que Q é um ideal P -primário.

Estamos agora em condições de definir o que é um ideal decomponı́vel e o que é uma


decomposição primária minimal de um ideal.

Definição 1.17. Dizemos que I ∈ Id(R) \ {R} admite uma decomposição primária se I
pode ser escrito como uma interseção finita de ideais primários. Neste caso, dizemos que I é
um ideal decomponı́vel .

Definição 1.18. Seja I um ideal decomponı́vel e seja I = ni=1 Qi uma decomposição


T

primária de I, com Qi = Pi , para i ∈ {1, . . . , n}. Dizemos que tal decomposição é uma
decomposição primária minimal de I quando as condições (a) e (b) dadas a seguir são satis-
feitas:

(a) Pi 6= Pj , se i 6= j;
n
\
(b) Para todo j ∈ {1, . . . , n}, Qi * Qj .
i=1
i6=j

Todo ideal decomponı́vel admite uma decomposição primária minimal ([24], pág. 69).
Também sabemos que há casos em que um ideal decomponı́vel admite duas decomposições

6 -
1.1 Anéis comutativos 7

Tn Tm
primárias minimais distintas. Ou seja, podemos ter i=1 Qi = I = i=1 Ti duas decom-
posições primárias minimais de um ideal I, com Ti ∈
/ {Q1 , . . . , Qn } ([24], pág. 74). No
entanto, se I é um ideal decomponı́vel, podemos garantir a seguinte unicidade:

Teorema 1.19. (Unicidade da Decomposição Primária) ([24], pág. 70)

Sejam ni=1 Qi = I = m
T T
i=1 Ti duas decomposições primárias minimais de I tais que
√ √
Qi = Pi e Ti = Ui . Então, n = m e {P1 , . . . , Pn } = {U1 , . . . , Um }.

Sejam I um ideal decomponı́vel e I = ni=1 Qi uma decomposição primária minimal de I,


T

com Qi = Pi , para i ∈ {1, . . . , n}. Pelo Teorema 1.19, os ideais P1 , . . . , Pn não dependem
da escolha da decomposição primária minimal de I. Estes ideais P1 , . . . , Pn são chamados de
primos associados de I e o conjunto formado por eles é denotado por ass(I).

A próxima proposição afirma que os primos minimais de um ideal decomponı́vel I coin-


cidem com os elementos minimais do conjunto ass(I).

Proposição 1.20. ([24], pág. 72) Seja I ∈ Id(R) \ {R} um ideal decomponı́vel de R e
seja P ∈ Spec(R). Então P é um primo minimal de I se, e somente se, P é um elemento
minimal de ass(I). Como ass(I) é finito, temos que V ar(I) admite apenas um número finito
de elementos minimais.

Existem anéis que possuem ideais próprios não decomponı́veis (temos um exemplo em
([24], pág. 76)). O próximo teorema destaca o fato de que em anéis Noetherianos, todos os
ideais distintos do próprio anel são decomponı́veis.

Teorema 1.21. ([24], pág. 78) Se R é um anel Noetheriano, então todo ideal I ∈ Id(R)\{R}
é decomponı́vel.

Por este último teorema, temos que se R é um anel Noetheriano, então o ideal nulo {0} de
R é decomponı́vel. Logo, M in(R) é finito, pois pelo Teorema 1.20, V ar({0}) possui apenas
um número finito de elementos minimais. Provamos assim a seguinte proposição:

Proposição 1.22. Se R é um anel Noetheriano, então R possui apenas um número finito


de primos minimais.

7 -
1.1 Anéis comutativos 8

1.1.3 Sobre os divisores de zero de um anel

Nesta seção, destacaremos alguns resultados sobre o conjunto de divisores de zero de um


anel. Em um primeiro momento, apresentaremos resultados válidos para anéis quaisquer.
Ao final da seção, restringiremos nosso estudo aos anéis Noetherianos e aos anéis finitos.

Definição 1.23. Seja R um anel. Dado a ∈ R, dizemos que a é um divisor de zero quando
existe b ∈ R∗ tal que ab = 0. Denotamos o conjunto dos divisores de zero do anel R por
D(R).

Convém enfatizarmos aqui alguns fatos conhecidos acerca dos divisores de zero:

(1) Por definição, 0 ∈ D(R);

(2) Sabemos que nem sempre D(R) é um ideal; por exemplo, D(Z6 ) = {0, 2, 3, 4}, mas
2+3=5∈
/ D(R);

(3) Dado a ∈ D(R), seja b ∈ R∗ tal que ab = 0; então, ar ∈ D(R), para todo r ∈ R, pois
(ra)b = r(ab) = 0;

(4) Pelos itens (2) e (3), temos que se D(R) não é ideal, então existem a, b ∈ D(R) tais
que a + b ∈
/ D(R).

Veremos, ainda nesta seção, casos em que D(R) é um ideal. A próxima proposição nos
garante que, em tais casos, D(R) deve ser necessariamente um ideal primo.

Proposição 1.24. Em um anel R, se D(R) é um ideal, então D(R) é ideal primo.

Demonstração: Suponhamos que D(R) ∈ Id(R). Como 1 ∈


/ D(R), temos que D(R) 6= R.
Tomemos ab ∈ D(R). Então existe c ∈ R∗ tal que (ab)c = 0. Se bc 6= 0, então a ∈ D(R). Se
bc = 0, então b ∈ D(R). Logo, D(R) é um ideal primo de R. u
t

O próximo resultado nos dá uma caracterização do conjunto dos divisores de zero e nos
mostra uma importante relação entre este conjunto e o conjunto dos primos minimais.

Proposição 1.25. ([18], pág. 3 e pág. 57) Seja R um anel. Então:

8 -
1.1 Anéis comutativos 9

(i) D(R) é uma união de ideais primos de R;


S
(ii) P ∈M in(R) P ⊆ D(R).

Analisemos agora a relação entre D(R) e N il(R). Facilmente podemos mostrar que a
inclusão N il(R) ⊆ D(R) é verdadeira, qualquer que seja o anel R. Em alguns casos, ocorre
a igualdade N il(R) = D(R) (por exemplo, se R = Z8 ). Porém, não podemos garantir que
tal igualdade é verdadeira para qualquer anel R. Por exemplo, para R = Z2 × Z2 , temos
D(R) = {(0, 0), (1, 0), (0, 1)} e N il(R) = {(0, 0)}. Os dois próximos resultados apresentam
algumas condições sob as quais a igualdade D(R) = N il(R) ocorre.

Proposição 1.26. Em um anel R, se {0} é um ideal primário, então D(R) = N il(R).

Demonstração: Dado a ∈ D(R), existe b ∈ R∗ tal que ab = 0 ∈ {0}. Como {0} é primário,
devemos ter a ∈ N il(R) ou b ∈ {0}. Como b 6= 0, temos que a ∈ N il(R), donde segue a
igualdade D(R) = N il(R). u
t

Proposição 1.27. Seja R um anel tal que todo ideal primo é maximal. Então, temos que
D(R) = N il(R) se, e somente se, D(R) é um ideal (primo).

Demonstração: Se D(R) = N il(R), então D(R) ∈ Spec(R), pela Proposição 1.24. Reci-
procamente, suponhamos que D(R) ∈ Spec(R). Dado Q ∈ M in(R), segue da Proposição
1.25 que Q ⊆ D(R). Como todo ideal primo de R é maximal, devemos ter D(R) = Q, para
T
todo Q ∈ M in(R). Da proposição 1.6 vem que N il(R) = Q∈M in(R) Q = D(R). u
t

A próxima proposição caracteriza o conjunto dos divisores de zero de um anel reduzido.

Proposição 1.28. Seja R um anel reduzido.


S
(i) Então, P ∈M in(R) P = D(R);

(ii) Se R não é domı́nio de integridade, então R tem pelo menos dois primos minimais.

9 -
1.1 Anéis comutativos 10

S
Demonstração: (i) Pela Proposição 1.25, já temos que P ∈M in(R) P ⊆ D(R). Da Pro-
posição 1.6 e do fato de R ser reduzido, obtemos as igualdades:
\ \
P = P = N il(R) = {0}. (1.1)
P ∈M in(R) P ∈Spec(R)

Dado x ∈ D(R), existe y ∈ R∗ tal que xy = 0. Assim, xy = 0 ∈ P , para todo primo


minimal P . Então, para cada P ∈ M in(R), x ∈ P ou y ∈ P . Se para todo primo minimal
P , tivéssemos x ∈ / P , terı́amos y ∈ P , para todo P ∈ M in(R), donde terı́amos que y ∈
T
P ∈M in(R) P , o que contradiz (1.1). Logo, existe pelo menos um primo minimal P tal que
S
x ∈ P . Temos assim a inclusão D(R) ⊆ P ∈M in(R) P e o resultado está provado.
S
(ii) Sabemos por (i) que P ∈M in(R) P = D(R). Assim, supondo que R possui um único
primo minimal P , de (1.1) obtemos D(R) = P = N il(R) = {0}, o que contradiz o fato de R
não ser um domı́nio de integridade. u
t

Dados x ∈ R e I ∈ Id(R), o conjunto (I : x) = {r ∈ R : rx ∈ I} é um ideal de R,


chamado de ideal quociente de I por x. O ideal {r ∈ R : rI = {0}} é denotado por Ann(I)
e chamado de anulador de I. Já o ideal {r ∈ R : ra = 0} é chamado de anulador de a e
denotado por Ann(a).

Proposição 1.29. ([18], pág. 4) Sejam R um anel e C = {Ann(a) : a ∈ R∗ }. Se C admite


um elemento maximal I, então I é um ideal primo de R.

Demonstração: Seja I = Ann(a), a ∈ R∗ . Dado bc ∈ I, vamos supor que b ∈


/ I. Então
ab 6= 0. Notemos que I = Ann(a) ⊆ Ann(ab). Por hipótese, I é um elemento de C. Então
I = Ann(a) = Ann(ab). Como bc ∈ Ann(a), temos 0 = a(bc) = (ab)c, donde obtemos que
c ∈ Ann(ab). Assim, c ∈ Ann(a) = I e, portanto, I é um ideal primo. u
t

Vejamos agora duas proposições acerca do conjunto dos divisores de zero de um anel
Noetheriano. A primeira considera o caso em que tal conjunto é um ideal. A segunda
relaciona os divisores de zero com os primos associados do ideal nulo.

Proposição 1.30. ([17], pág. 8) Sejam R um anel Noetheriano. Se D(R) é um ideal, então
existe a ∈ R∗ tal que D(R) = Ann(a).

10 -
1.1 Anéis comutativos 11

Proposição 1.31. ([24], pág. 155 e pág. 156) Sejam R um anel Noetheriano. Então:
S
(i) D(R) = P ∈ass({0}) P;

(ii) Dado P ∈ Spec(R), temos que P ∈ ass({0}) se, e somente se, existe a ∈ R tal que
P = Ann(a).

Definiremos agora o que é um ideal primo associado de um anel qualquer R. Na sequência,


mostraremos uma relação entre tais ideais e o conjunto dos divisores de zero em um anel
Noetheriano.

Definição 1.32. Seja R um anel qualquer. Dizemos que P ∈ Spec(R) é um primo associado
de R quando existe a ∈ R tal que P = Ann(a). O conjunto dos primos associados de R é
denotado por Ass(R).

Observação 1.33. Se R é um anel Noetheriano, do item (ii) da Proposição 1.31 vem que
S
ass({0}) = Ass(R). Pelo item (i) deste mesmo resultado, obtemos que D(R) = P ∈Ass(R) P .

A próxima proposição trata do conjunto dos divisores de zero em um anel Artiniano local.

Proposição 1.34. Seja R um anel local Artiniano que não é um domı́nio. Então:

(i) todo elemento de R é invertı́vel ou nilpotente;

(ii) D(R) é o único ideal maximal de R.

Demonstração: (i) Seja M o único um único ideal maximal de R. Sendo R Artiniano,


todo ideal primo de R é maximal. Assim, M é também o único ideal primo de R. Da
T
Proposição 1.6 segue que N il(R) = P ∈Spec(R) P = M . Sabemos que, em um anel qualquer,
todo elemento não invertı́vel pertence a algum ideal maximal. Desse modo, dado r ∈
/ U (R),
devemos ter r ∈ M , donde obtemos que todo elemento de R é invertı́vel ou nilpotente.

(ii) Pelo item (i), temos que N il(R) = M é o único ideal maximal de R. Dado x ∈ D(R),
como x ∈
/ U (R), segue que x ∈ M = N il(R), donde vem que D(R) ⊆ N il(R). Como sempre
ocorre N il(R) ⊆ D(R), obtemos a igualdade D(R) = N il(R). Logo, D(R) é o único ideal
maximal de R. u
t

11 -
1.1 Anéis comutativos 12

Vejamos agora alguns resultados acerca dos divisores de zero em anéis finitos. A pro-
posição enunciada a seguir classifica os elementos de um anel finito.

Proposição 1.35. ([17], pág. 8) Se R é um anel finito, então cada elemento de R é invertı́vel
ou divisor de zero.

A próxima proposição nos dá uma condição necessária e suficiente para que um anel finito
seja local.

Proposição 1.36. Seja R um anel finito. Então R é local se, e somente se, todo elemento
de R não invertı́vel é nilpotente. No caso em que R é local, temos que D(R) é o (único) ideal
maximal de R.

Demonstração: Suponhamos que todo elemento a ∈ R não invertı́vel é nilpotente. Afir-


mamos que R \ N il(R) = U (R). De fato, se x ∈
/ U (R), então x ∈ N il(R), ou seja,
x∈
/ R \ N il(R). Disso resulta a inclusão R \ N il(R) ⊆ U (R). É fácil ver que se x ∈ U (R),
então x ∈
/ D(R). Como N il(R) ⊆ D(R), temos que x ∈
/ N il(R) e disso resulta a outra
inclusão R \ N il(R) ⊇ U (R) e a igualdade desejada. Pelo item (i) da Proposição 1.2, temos
que R é anel local cujo ideal maximal é N il(R).

A recı́proca e a segunda afirmação do enunciado seguem da Proposição 1.34, utilizando


o fato de que todo anel finito é Artiniano. u
t

O próximo resultado trata da caracterı́stica de um anel local finito.

Proposição 1.37. Seja R é um anel local finito. Então existem um número primo p e
inteiros não negativos n, t, k tais que:

(i) A caracterı́stica de R é pn (char(R) = pn );

(ii) D(R) com a operação de adição do anel é um p-grupo, de modo que |D(R)| = pt ;

(iii) |R| = pk .

Demonstração: (i) Sabemos que D(R) é o único ideal maximal de R (Proposição 1.36).
Como R/D(R) é um corpo finito, sua caracterı́stica é p, para algum primo p. Assim, p1 = 0,

12 -
1.2 Grafos 13

isto é, p1 ∈ D(R). Agora, pela demonstração da Proposição 1.36, D(R) = N il(R) e, então,
existe n ∈ N tal que (p1)n = 0 e (p1)n−1 6= 0, ou seja, pn 1 = 0 e pn−1 1 6= 0. Portanto,
char(R) = pn .

(ii) Sendo D(R) um ideal, temos que D(R) é um subgrupo de R (R visto como um grupo
com a operação de adição). Como char(R) = pn , temos que pn a = 0, para todo a ∈ R. Em
particular, se z ∈ D(R), então pn z = 0. Assim, a ordem de z, denotada por o(z), divide pn ,
ou seja, o(z) = pm , para algum inteiro não negativo m. Logo, D(R) é um p-grupo. Disso
segue que |D(R)| = pt , para algum inteiro não negativo t.

(iii) Como R/D(R) é um corpo finito, sua cardinalidade é uma potência de algum primo.
Pelo item (ii), |D(R)| = pt . Como |R/D(R)| = |R|/|D(R)|, devemos ter |R| = pk , para
algum inteiro positivo k. u
t

Encerramos este capı́tulo com um teorema que nos dá uma relação entre as cardinalidade
de R e de D(R) no caso em que R é finito.

Proposição 1.38. Seja R um anel finito. Então |R| ≤ |D(R)|2 .

Demonstração: Seja a ∈ D(R)∗ . Então Ann(a) ⊆ D(R) e, daı́, |Ann(a)| ≤ |D(R)|. Consi-
deremos agora o homomorfismo sobrejetor f : R → (a) de R-módulos dado por f (x) = ax. É
claro que ker(f ) = Ann(a) e, assim, R ∼
= (a), donde
|R|
= |(a)| ≤ |D(R)|. Portanto,
Ann(a) |Ann(a)|

|R| ≤ |Ann(a)||D(R)| ≤ |D(R)|2 . u


t

1.2 Grafos

Nesta seção, introduziremos tópicos básicos da Teoria de Grafos necessários ao estudo dos
grafos divisores de zero, tais como conexidade, diâmetro, colorações, ciclos, cintura, grafos
r-partidos completos, raio, centro, conjuntos dominantes e planaridade. Iniciamos com a
definição de grafo.

Definição 1.39. Sejam V um conjunto e E um subconjunto de {{u, v} : u, v ∈ V }. Um


grafo é um par ordenado do tipo G = (V, E). Um elemento de V é denominado vértice e um

13 -
1.2 Grafos 14

elemento de E é chamado de aresta. Se V é um conjunto finito, dizemos que n = |V | é a


ordem do grafo G = (V, E) e a denotamos por |G|.

Quando não houver dúvidas, vamos nos referir ao grafo G = (V, E) apenas por G. Po-
demos, em alguns casos, escrever V (G) e E(G) para indicar, respectivamente, o conjunto de
vértices e o conjunto de arestas de um grafo G.

Um vértice v ∈ V é adjacente a um vértice u ∈ V se {u, v} ∈ E. O grau do vértice v é


definido por deg(v) = |{u : {u, v} ∈ E}|. Uma aresta {u, v} ∈ E é incidente aos vértices u
e v.

Se V 0 ⊆ V e E 0 ⊆ {{u, v} : u, v ∈ V 0 , {u, v} ∈ E}, dizemos que G0 = (V 0 , E 0 ) é um


subgrafo de G e escrevemos G0 ⊆ G. E se, para todos u, v ∈ V 0 , {u, v} ∈ E implicar que
{u, v} ∈ E 0 , então dizemos que G0 é um subgrafo induzido. Neste caso, escrevemos G0 = G[V 0 ].

Sejam G1 = (V1 , E1 ) e G2 = (V2 , E2 ) grafos. Dizemos que G1 e G2 são isomorfos, e


escrevemos G1 ' G2 , quando existe uma bijeção ϕ : V1 −→ V2 tal que {u, v} ∈ E1 se, e
somente se, {ϕ(u), ϕ(v)} ∈ E2 , para todos u, v ∈ V1 . Segue diretamente da definição de
isomorfismo que deg(v) = deg(ϕ(v)), para todo v ∈ V1 .

Um caminho em um grafo G = (V, E) é uma sequência de vértices v0 , v1 , . . . , vk , distintos


dois a dois, tal que {vi , vi+1 } ∈ E, para todo i = 0, . . . , k − 1. Neste caso, denotamos tal
caminho por v0 v1 · · · vk e dizemos que o número k é o comprimento do caminho.

Um subgrafo de ordem k ≥ 3 de G da forma G0 = (V 0 , E 0 ), com V 0 = {v1 , v2 , . . . , vk } e


E 0 = {{v1 , v2 }, {v2 , v3 }, . . . , {vk−1 , vk }, {vk , v1 }} é um ciclo de comprimento k. Denotamos
tal ciclo por v1 v2 · · · vk v1 . Um k-ciclo, denotado por C k , é um grafo que é um ciclo de
comprimento k quando visto como subgrafo de G.

Dizemos que um grafo G = (V, E) é conexo se existe um caminho ligando quaisquer


dois vértices distintos. Dados u, v ∈ V , com u 6= v, a distância de u a v é definida por
d(u, v) = min{k : existe um caminho de u a v de comprimento k} e convencionamos que
d(v, v) = 0, para todo v ∈ V . O diâmetro de um grafo conexo G é denotado por diam(G)
e definido por diam(G) = sup{d(u, v) : u, v ∈ V, u 6= v}. A cintura de G, denotada por
gr(G), é definida como o comprimento do menor ciclo em G; se G não contém ciclos, então
gr(G) = ∞. A seguinte proposição relaciona a cintura e o diâmetro de um grafo.

14 -
1.2 Grafos 15

Proposição 1.40. ([16], pág. 8) Todo grafo G contendo um ciclo satisfaz

gr(G) ≤ 2 · diam(G) + 1.

Dado um grafo G = (V, E), dizemos que um subconjunto S de V domina o grafo G (ou
que S é um conjunto dominante de G) quando todo vértice de V pertence ao conjunto S ou
é adjacente a algum vértice desse conjunto. Podemos ver que o próprio conjunto V sempre
domina G.

Dizemos que S ⊆ V é um conjunto dominante minimal de G quando S domina G e os


demais conjuntos dominantes de G possuem cardinalidade maior ou igual a cardinalidade de
S. Quando a cardinalidade de um conjunto dominante minimal de um grafo G é um número
inteiro não negativo n, dizemos que n é o número de dominação (ou número dominante) de
G e escrevemos γ(G) = n.

A seguir, damos um exemplo que ilustra alguns dos conceitos dados neste capı́tulo.

Exemplo 1.41. Consideremos o grafo conexo G = (V, E), com V = {a, b, c, d, e} e

E = {{a, b}, {b, c}, {b, e}, {c, d}, {d, e}},

dado na Figura 1.1. O grafo H = (V 0 , E 0 ) tal que V 0 = {b, c, d, e} e E 0 = {{b, c}, {c, d}, {d, e}}
é um subgrafo de G, mas não é um subgrafo induzido por V 0 , uma vez que {b, e} ∈ E \ E 0
(Figura 1.2).

Figura 1.1: Grafo G do Exemplo 1.41 Figura 1.2: Grafo H do Exemplo 1.41

Podemos ver que há dois caminhos distintos entre os vértices b e e, a saber, be e bcde.
Por definição, temos que d(b, e) = 2. A maior distância entre dois vértices de G é 3, que é
a distância entre a e d. Daı́, diam(G) = 3. O grafo G contém o 4-ciclo bcdeb e não possui
outros ciclos. Logo, gr(G) = 4.

O subconjunto A = {a, c, e} de V é um conjunto dominante de G. Também, B = {b, d}


domina G. Como G não possui um vértice adjacente aos demais vértices, temos que B é um
conjunto dominante minimal de G e, assim, γ(G) = 2.

15 -
1.2 Grafos 16

Antes de apresentarmos mais algumas definições, devemos nos lembrar que uma partição
de um conjunto não vazio qualquer X é uma coleção {Xλ }λ∈Λ de subconjuntos não vazios
S
de X, dois a dois disjuntos, tal que λ∈Λ Xλ = X. Neste caso, cada elemento da coleção
{Xλ }λ∈Λ é uma parte da partição de X.

Dado um inteiro positivo r, dizemos que um grafo G é r-partido se existe uma partição
de V em r subconjuntos tal que vértices pertencentes a uma mesma parte dessa partição não
são adjacentes. Dizemos que G = (V, E) é um grafo r-partido completo se G é r-partido e
se para quaisquer dois vértices u e v que estão em partes distintas da partição, tivermos que
{u, v} ∈ E.

Para o caso r = 2, um grafo r-partido é chamado de grafo bipartido. Já um grafo r-partido
completo recebe o nome de bipartido completo e é denotado por Km,n , onde m = |V1 | ≥ 1 e
n = |V2 | ≥ 1. Os grafos da forma K1,n são chamados de grafos estrela.

Na Figura 1.3, vemos representado o grafo bipartido completo K3,3 .

Figura 1.3: Grafo bipartido completo K3,3

Um grafo G é um grafo nulo se V = ∅. Dizemos que o grafo G é completo com n vértices


se |V | = n e {u, v} ∈ E, para todos u, v ∈ V , com u 6= v. Denotamos tal grafo por K n . Na
Figura 1.4, temos o grafo completo K 5 representado de dois modos distintos.

Figura 1.4: Duas representações distintas de K 5

Dado K ⊆ V não vazio, dizemos que K é um clique quando G[K] é um grafo completo.

16 -
1.2 Grafos 17

A cardinalidade do maior clique de G é denotada por ω(G). Se G possui um clique infinito,


escrevemos ω(G) = ∞.

Uma k-coloração dos vértices de um grafo G é uma função f : V → {1, 2, . . . , k}. Colo-
cando Vi = f −1 (i), para i ∈ {1, . . . , k}, temos que V1 , V2 , . . . , Vk é uma k-partição de V . Uma
k-coloração f é própria se vértices adjacentes possuem imagens distintas pela f . O número
cromático χ(G) é o menor inteiro positivo k tal que existe uma k-coloração de vértices própria
de G. Dado um grafo G, sempre temos que χ(G) ≥ ω(G).

Proposição 1.42. Se G = (V, E) é um grafo r-partido, então G possui uma r-coloração


própria de seus vértices.

Demonstração: Sejam V1 , . . . , Vr as r partes de V que tornam G um grafo r-partido. De-


finamos f : V → {1, . . . , r} por f (x) = k, se x ∈ Vk . Então, se {x, y} ∈ E, devemos ter
f (x) 6= f (y), pois se f (x) = f (y) = k, terı́amos x, y ∈ Vk e não poderı́amos ter x adjacente a
y. Logo, f é uma coloração própria dos vértices G, donde χ(G) é finito. u
t

Seja G = (V, E) um grafo conexo com diâmetro finito. A excentricidade de um vértice


v ∈ V é o número e(v) = sup{d(v, x) : x ∈ V }. O raio de G é o número rad(G) =
min{e(v) : v ∈ V, }. Um vértice v ∈ V é dito central se e(v) = rad(G). O subgrafo induzido
pelo conjunto dos vértices centrais de G é o centro do grafo G, o qual denotamos por Cen(G).

Exemplo 1.43. Nas Figuras 1.5 e 1.6, representamos os grafos G1 e G2 , destacando os


vértices do centro com uma cor mais clara e os vértices que não estão no centro com uma
cor mais escura. Notemos que rad(G1 ) = rad(G2 ) = 2.

Figura 1.5: Grafo G1 do Exemplo 1.43 Figura 1.6: Grafo G2 do Exemplo 1.43

Vejamos um resultado envolvendo os conceitos de raio, centro e diâmetro.

17 -
1.2 Grafos 18

Proposição 1.44. Seja G = (V, E) um grafo conexo e finito. Temos que rad(G) = diam(G)
se, e somente se, G = Cen(G).

Demonstração: Se |G| = 1, o resultado é imediato. Analisemos o caso em que |G| ≥ 2.


Inicialmente, vamos supor que rad(G) = diam(G). Dado x ∈ V , tomemos y ∈ V \ {x} tal
que e(x) = d(x, y). Como rad(G) ≤ e(x) = d(x, y) ≤ sup{d(u, v) : u, v ∈ V } = diam(G) =
rad(G), temos que e(x) = rad(G) e, assim, x ∈ V (Cen(G)). Logo, G = Cen(G).

Supomos agora que G = Cen(G). Sabemos que rad(G) ≤ diam(G). Tomemos x, y ∈ V


tais que d(x, y) = diam(G). Como x ∈ V (Cen(G)), temos que e(x) = rad(G). Desse modo,
diam(G) = d(x, y) ≤ sup{d(x, u) : u ∈ V } = e(x) = rad(G). Logo, rad(G) = diam(G). u
t

1.2.1 Grafos planares

Introduziremos aqui o conceito de grafo planar e apresentaremos alguns resultados en-


volvendo esse tipo de grafo. Dentre tais resultados, destacamos o Teorema de Kuratowski-
Harary-Tutte-Wagner, o qual fornece uma condição necessária e suficiente para que um grafo
seja planar.

Embora o estudo de grafos planares não se restrinja apenas aos grafos finitos, vamos
assumir nesta seção que todos os grafos são finitos.

Definição 1.45. Dizemos que um grafo G é um grafo planar se for possı́vel desenhá-lo em
um plano de modo que suas arestas não se interceptem, exceto possivelmente nos vértices
aos quais são ambas incidentes. Caso contrário, G é dito não planar.

Notemos que tal definição é intuitiva, pois não explicitamos aqui o que significa, em
termos matemáticos, desenhar no plano. O leitor interessado em uma definição mais rigorosa
de grafo planar pode consultar ([16], capı́tulo 4). Vejamos agora um exemplo.

Exemplo 1.46. Na Figura 1.7 temos o grafo K 4 com duas arestas se interceptando. No
entanto, K 4 é um grafo planar, pois podemos desenhá-lo em um plano de modo que suas
arestas não se interceptam, conforme podemos ver na Figura 1.8.

18 -
1.2 Grafos 19

Figura 1.7: K 4 com interseção de arestas Figura 1.8: K 4 sem interseção de arestas

Dois exemplos importantes de grafos não planares são apresentados a seguir.

Teorema 1.47. ([10], pág. 200) Os grafos K 5 (Figura 1.4) e K3,3 (Figura 1.3) não são
planares.

Nosso intuito agora é enunciar o Teorema de Kuratowski-Harary-Tutte-Wagner. Um dos


conceitos que aparecem no enunciado deste teorema é o conceito de subcontração. Numa
tentativa de compreendermos melhor tal conceito, apresentamos as seguintes definições.

Definição 1.48. Seja G = (V, E) um grafo e seja e = {a, b} ∈ E. Dado q ∈


/ V , consideremos
o conjunto F1 = {{q, x} : {a, x} ∈ E ou {b, x} ∈ E}. Denotemos por F2 o conjunto formado
pelas arestas do grafo G[V \ {a, b}].

(a) O grafo G0 = (V 0 , E 0 ) que tem V 0 = (V \ {a, b}) ∪ {q} e E 0 = F1 ∪ F2 é chamado de


uma contração elementar de G pela aresta e. Denotamos tal grafo G0 por G · e.

(b) Dizemos que um grafo G0 é uma contração elementar de G quando G0 = G · e, para


alguma aresta e de G.

Definição 1.49. Dado um inteiro n ≥ 1, dizemos que uma sequência finita de grafos
G0 , G1 , . . . , Gn é uma sequência de contrações elementares quando Gi+1 for uma contração
elementar de Gi , para cada i ∈ {0, . . . , n − 1}.

A partir de tais definições, podemos definir o que é uma contração e uma subcontração
de um grafo.

Definição 1.50. Um grafo H é uma contração de um grafo G se existe uma sequência de


contrações elementares G = G0 , G1 , G2 , . . . , Gn tal que H = Gi , para algum i ∈ {0, 1, . . . , n}.
Dizemos que um grafo G contém um grafo J como subcontração quando J for uma contração
de algum subgrafo de G.

19 -
1.2 Grafos 20

Exemplo 1.51. Consideremos G0 , G1 , G2 e G3 os grafos dados, respectivamente, nas Figuras


1.9, 1.10, 1.11 e 1.12. Podemos ver que G1 = G0 · g, G2 = G1 · h e G3 = G2 · j. Temos então
que G0 , G1 , G2 , G3 é uma sequência de contrações elementares e G3 é uma contração de G0 .
Em tais figuras, destacamos com uma cor mais clara o vértice de Gi+1 que não é vértice de
Gi , para cada i ∈ {0, 1, 2}.

Figura 1.9: Grafo G0 do Exemplo 1.51 Figura 1.10: Grafo G1 do Exemplo 1.51

Figura 1.11: Grafo G2 do Exemplo 1.51 Figura 1.12: Grafo G3 do Exemplo 1.51

Estamos em condições de enunciar o Teorema de Kuratowski-Harary-Tutte-Wagner, que


nos dá uma condição necessária e suficiente para que um grafo seja planar.

Teorema 1.52. (Kuratowski-Harary-Tutte-Wagner)([10] pág. 200 e pág. 201) Um


grafo G é planar se, e somente se, não contém uma subcontração isomorfa a K3,3 ou a K 5 .

Destacamos que se G contém K 5 ou K3,3 como subgrafo, então G não é planar, pelo
teorema anterior e pela definição de subcontração (Definição 1.50).

Exemplo 1.53. Seja H o grafo na Figura 1.13. Temos que grafo J da Figura 1.14 é uma
contração elementar de H. Mais precisamente, J = H · h (representamos com uma cor mais
clara o vértice J que não é vértice de H). Conforme podemos ver na Figura 1.15, J · j ' K 5 .

20 -
1.2 Grafos 21

Logo H, J, K 5 é uma sequência de contrações elementares, donde obtemos que K 5 é uma


contração de H. Pelo Teorema 1.52, H não é planar.

Figura 1.13: Grafo H do Exemplo 1.53 Figura 1.14: Grafo J do Exemplo 1.53

Figura 1.15: K 5 ' J · j (Exemplo 1.53)

Encerramos este capı́tulo com um resultado que nos apresenta mais uma caracterı́stica
de um grafo planar.

Proposição 1.54. ([13] pág. 232) Todo grafo planar contém um vértice de grau menor ou
igual 5

21 -
Capı́tulo 2

Grafos divisores de zero

Neste capı́tulo, apresentaremos alguns resultados sobre grafos divisores de zero de anéis
comutativos. Nosso objetivo é descrever algumas propriedades desses grafos e destacar algu-
mas relações entre o anel e o seu grafo divisor de zero.

Dividimos o capı́tulo em oito seções. Na primeira, daremos a definição de grafo divisor de


zero e apresentaremos alguns exemplos e alguns resultados básicos que tratam da conexidade,
do diâmetro e do tamanho desse grafo. Na seção seguinte, exibiremos alguns resultados
obtidos por Istvan Beck sobre coloração de vértices de um grafo divisor de zero. Na terceira
seção, veremos uma condição necessária e suficiente para que um grafo divisor de zero possua
um vértice adjacente aos demais vértices. Os grafos divisores de zero que são grafos completos
e os que são grafos estrela serão estudados na seção 4. Na quinta seção, apresentaremos
resultados sobre grafos divisores de zero r-partidos completos, r ≥ 2. Na seção seguinte,
faremos um breve estudo acerca dos ciclos e da cintura de um grafo divisor de zero. Na seção
7, estudaremos algumas questões referentes ao raio, ao centro e ao número de dominação de
um grafo divisor de zero. Encerraremos o capı́tulo com uma seção cujos resultados visam
determinar quando que um grafo divisor de zero é planar.

2.1 O grafo divisor de zero

Conforme já dissemos na Introdução, foi Istvan Beck quem introduziu, no artigo “Coloring
of commutative rings” [11], o conceito de grafo divisor de zero. Beck considerou todos os
elementos do anel como vértices e definiu que dois vértices distintos x e y seriam adjacentes
quando xy = 0. Desse modo, no grafo de Beck, o vértice 0 é adjacente a todos os demais

22 -
2.1 O grafo divisor de zero 23

vértices, mas os elementos de R que não são divisores de zero são adjacentes apenas ao
elemento 0.

Nesta dissertação, não usaremos a definição dada por Beck, mas a definição de grafo
divisor de zero apresentada por D. F. Anderson e P. S. Livingston em [6]. Veremos que o
grafo definido por tais autores pode ser visto como um subgrafo do grafo de Beck: o subgrafo
induzido pelo conjunto dos divisores de zero não nulos do anel. Vejamos então a definição de
grafo divisor de zero.

Definição 2.1. O grafo divisor de zero de um anel R, denotado por Γ(R), é o grafo dado
pelo par
Γ(R) = (V (Γ(R)), E(Γ(R)))

em que V (Γ(R)) = D(R)∗ e E(Γ(R)) = {{x, y} : x, y ∈ V (Γ(R)), x 6= y e x.y = 0}.

De tal definição temos que Γ(R) é um grafo nulo se, e somente se, R é um domı́nio de
integridade. Para evitar que Γ(R) seja um grafo nulo, vamos supor implicitamente que R
não é um domı́nio de integridade.

Dado um grafo G, se existir um anel R tal que Γ(R) = G, diremos que G pode ser realizado
como Γ(R).

Na sequência desta seção, daremos alguns exemplos e alguns resultados básicos acerca da
conexidade, do diâmetro e do tamanho do grafo divisor de zero. Destacaremos ainda algumas
relações entre isomorfismos de grafos e isomorfismos de anéis.

Comecemos então apresentando alguns exemplos de grafos divisores de zero. Para não
sobrecarregarmos a notação, em algumas situações, omitimos as barras dos elementos de um
anel quociente.
Z2 [x]
Exemplo 2.2. Consideremos os anéis R = Z4 e S = (x2 )
. Então D(R)∗ = {2} e D(S)∗ = {x}
e seus respectivos grafos divisores de zero são dados por:

 
Z2 [x]
Figura 2.1: Γ(Z4 ) Figura 2.2: Γ (x2 )

23 -
2.1 O grafo divisor de zero 24

Z3 [x]
Exemplo 2.3. Dados R = Z9 , S = (x2 )
= {0, 1, 2, x, x + 1, x + 2, 2x, 2x + 1, 2x + 2} e
T = Z2 × Z2 temos que D(R)∗ = {3, 6}, D(S)∗ = {x, 2x} e D(T )∗ = {(0, 1), (1, 0)}. Os
grafos divisores de zero de tais anéis são:

 
Z3 [x]
Figura 2.3: Γ(Z9 ) Figura 2.4: Γ (x2 ) Figura 2.5: Γ(Z2 × Z2 )

Z2 [x] Z4 [x]
Exemplo 2.4. Sejam R = Z6 , S = Z8 , T = (x3 )
eV = (2x,x2 −2)
. Então D(R)∗ = {2, 3, 4},
D(S)∗ = {2, 4, 6}, D(T )∗ = {x, x2 , x2 + x} e D(V )∗ = {2, x, x + 2} e seus respectivos grafos
divisores de zero são:

Figura 2.6: Γ(Z6 ) Figura 2.7: Γ(Z8 )

   
Z2 [x] Z4 [x]
Figura 2.8: Γ Figura 2.9: Γ (2x,x2 −2)
(x3 )

Observação 2.5. Os Exemplos 2.2, 2.3 e 2.4 nos mostram que anéis não isomorfos podem
ter grafos divisores de zero isomorfos (por exemplo, Z6 e Z8 são anéis não isomorfos, mas
ambos possuem K1,2 como grafo divisor zero). Logo, não podemos garantir que anéis que
possuem grafos divisores de zero isomorfos são isomorfos. No entanto, podemos mostrar que
anéis isomorfos sempre terão seus respectivos grafos divisores de zero isomorfos. É o que nos
diz nosso primeiro resultado acerca dos grafos divisores de zero.

Teorema 2.6. Se dois anéis são isomorfos, então seus respectivos grafos divisores de zero
são isomorfos.

24 -
2.1 O grafo divisor de zero 25

Demonstração: Sejam R e S anéis isomorfos e seja f : R −→ S um isomorfismo entre tais


anéis. Afirmamos que f (D(R)∗ ) ⊆ D(S)∗ . De fato, dado x ∈ D(R)∗ , existe y ∈ D(R)∗ tal
que xy = 0. Assim, 0 = f (0) = f (xy) = f (x)f (y). Como ker(f ) = {0}, temos que f (x) 6= 0
e f (y) 6= 0, donde obtemos que f (x) ∈ D(S)∗ . Portanto, f (D(R)∗ ) ⊆ D(S)∗ . Logo, faz
sentido considerarmos a aplicação

α = f |D(R)∗ : D(R)∗ −→ D(S)∗


x 7−→ f (x).

Vamos mostrar que α induz um isomorfismo de grafos. Claramente, α é injetora. Agora,


dado z ∈ D(S)∗ , temos que existe w ∈ D(S)∗ tal que zw = 0, ou seja, {z, w} ∈ E(Γ(S)).
Sendo f bijetor e f (0) = 0, existem x, y ∈ R∗ tais que f (x) = z e f (y) = w. Assim,
f (xy) = f (x)f (y) = zw = 0. Como f é injetor, segue que xy = 0, donde, x ∈ D(R)∗ e α
é sobrejetora. Logo, α é bijetora. Facilmente podemos verificar que {x, y} ∈ E(Γ(R)) se, e
somente se, {α(x), α(y)} ∈ E(Γ(S)). Portanto, Γ(R) ' Γ(S). u
t

Convém mencionarmos aqui que, sob algumas condições, a recı́proca do teorema anterior é
verdadeira. No entanto, não explicitaremos nem faremos aqui um estudo sobre tais condições.
O leitor interessado neste assunto pode consultar [6] e [17].

No próximo exemplo, mostramos que K 3 pode ser realizado como Γ(R).

Z2 [x,y]
Exemplo 2.7. Consideremos os anéis R = (x2 ,xy,y 2 )
= {0, 1, x, y, x + 1, y + 1, x + y, x + y + 1}
F4 [x]
eS= (x2 )
= {0, 1, α, α2 , x, αx, α2 x, 1 + x, 1 + αx, 1 + α2 x, α + x, α + αx, α + α2 x, α2 + x, α2 +
αx, α2 + α2 x}, onde F4 = {0, 1, α, α2 } é um corpo com 4 elementos, com α2 = α + 1. Não é
difı́cil ver que D(R)∗ = {x, y, x + y} e D(S)∗ = {x, αx, α2 x}. Os grafos divisores de zero de
R e S podem ser vistos nas Figuras 2.10 e 2.11.

   
Z2 [x,y] F4 [x]
Figura 2.10: Γ (x,y)2
Figura 2.11: Γ (x2 )

25 -
2.1 O grafo divisor de zero 26

Z4 [x] Z4 [x]
Considerando os anéis T = (2,x)2
= {0, 1, 2, 3, x, x + 1, x + 2, x + 3} e W = (x2 +x+1)
=
{0, 1, 2, 3, x, x + 1, x + 2, x + 3, 2x, 2x + 1, 2x + 2, 2x + 3, 3x, 3x + 1, 3x + 2, 3x + 3}, temos
que D(T )∗ = {2, x, x + 2} e D(W )∗ = {2, 2x, 2x + 2}. Ambos os anéis possuem também K 3
como grafo divisor de zero.

Observação 2.8. Em [11] e em [5], os autores mostraram que, a menos de isomorfismos, os


anéis dos Exemplos 2.2, 2.3, 2.4 e 2.7 são os únicos que possuem como grafo divisor de zero,
respectivamente, K 1 , K 2 , K1,2 e K 3 . Não apresentaremos neste texto como que tais autores
chegaram a tais conclusões, mas usaremos mais adiante essa classificação.

Destacamos agora que os grafos divisores de zero dados nos exemplos anteriores são todos
conexos. O próximo teorema nos garante que a conexidade é, na verdade, uma caracterı́stica
de todos os grafos divisores de zero. Este mesmo teorema afirma ainda que o diamêtro de
um grafo divisor de zero não pode ser maior do que 3.

Teorema 2.9. ([6]) Para todo anel R, Γ(R) é conexo e diam(Γ(R)) ≤ 3.

Demonstração: Sejam x, y ∈ D(R)∗ distintos. Se xy = 0, então d(x, y) = 1. Então, vamos


supor que xy 6= 0 e analisar os possı́veis casos. Se x2 = 0 e y 2 = 0, então x(xy) = 0 e
(xy)y = 0 e temos x(xy)y um caminho de comprimento dois, donde d(x, y) = 2. Se x2 = 0
e y 2 6= 0 então existe b ∈ D(R)∗ \ {x, y} tal que by = 0. Se bx = 0, temos que xby é um
caminho de comprimento dois. Se bx 6= 0, então x(xb)y é um caminho de comprimento dois.
Analogamente, podemos mostrar d(x, y) = 2 no caso em que x2 6= 0 e y 2 = 0.

Suponhamos agora que xy 6= 0, x2 6= 0 e y 2 6= 0. Temos que existem a, b ∈ D(R)∗ \ {x, y}


tais que ax = by = 0. Se a = b, o caminho xay tem comprimento dois. Suponhamos a 6= b.
Se ab = 0, temos xaby um caminho de comprimento três e, assim, d(x, y) = 3. Se ab 6= 0,
temos x(ab)y um caminho de comprimento dois, donde d(x, y) = 2. Logo, diam(Γ(R)) ≤ 3. u
t

Já vimos, nos Exemplos 2.2, 2.3 e 2.4, grafos divisores de zero com diâmetros 0, 1 e 2,
respectivamente. No próximo exemplo, exibimos um anel R tal que diam(Γ(R)) = 3.

Exemplo 2.10. Se R = Z12 , então D(R)∗ = {2, 3, 4, 6, 8, 9, 10}. Como 2 · 3 = 6 6= 0,


temos que d(2, 3) 6= 1. Notemos que Ann(2) = {0, 6} e Ann(3) = {0, 4, 8}. Disso resulta

26 -
2.1 O grafo divisor de zero 27

que Ann(2) ∩ Ann(3) = {0}. Logo, não podemos ter d(2, 3) = 2. Pelo teorema anterior,
d(2, 3) = 3 e, assim, diam(Γ(Z12 )) = 3. Na Figura 2.12, temos Γ(Z12 ).

Figura 2.12: Γ(Z12 )

Com este último exemplo, temos que, para cada d ∈ {0, 1, 2, 3}, existe um anel R tal que
diam(Γ(R)) = d. Em [2] e em ([17], pág. 49), o leitor pode encontrar condições necessárias e
suficientes para que tenhamos diam(Γ(R)) = d, para cada d ∈ {0, 1, 2, 3}. Não exploraremos
tal assunto aqui.

Vamos determinar agora quais são os grafos com 4 vértices que podem ser realizados como
Γ(R). Pelo Teorema 2.9, temos que a conexidade é uma condição necessária para que um
grafo seja um grafo divisor de zero. A menos de isomorfismos, os únicos grafos conexos com
4 vértices são os dados na Figura 2.13:

Figura 2.13: Grafos conexos com 4 vértices (a menos de isomorfismo)

Dentre estes 6 grafos, apenas os 3 primeiros podem ser realizados como Γ(R). De fato,
consideremos os anéis R = Z25 e S = Z3 × Z3 . Temos que D(R)∗ = {5, 10, 15, 20} e
D(S)∗ = {(0, 1), (1, 0), (0, 2), (2, 0)}. Seja F4 = {0, 1, α, α2 } um corpo com 4 elementos.
Consideremos o anel

T = Z2 × F4 = {(0, 0), (0, 1), (0, α), (0, α2 ), (1, 0), (1, 1), (1, α), (1, α2 )}.

Então, D(T )∗ = {(0, 1), (1, 0), (0, α), (0, α2 )}. Os grafos divisores de zero dos anéis R, S e T
são os seguintes:

27 -
2.1 O grafo divisor de zero 28

Figura 2.14: Γ(Z25 ) Figura 2.15: Γ(Z3 × Z3 ) Figura 2.16: Γ(Z2 × F4 )

Vamos mostrar agora que o grafo G com vértices {a, b, c, d} e arestas {a, b}, {b, c}, {c, d}
não pode ser realizado como Γ(R). De fato, suponhamos que exista um anel R com D(R)∗ =
{a, b, c, d} e somente os produtos nulos ab = 0, bc = 0 e cd = 0 entre os elementos de R∗ .
Como (a + c)b = ab + cb = 0, temos que a + c ∈ D(R) = {0, a, c, b, d}. Afirmamos que
a + c = b. De fato, notemos que a + c = a implica c = 0 e que se a + c = c, então a = 0. Se
a + c = d, temos db = 0, mas esta relação não ocorre em R∗ . Por fim, se a + c = 0, então
0 = (a + c)d = ad + cd = ad, o que também não ocorre. Logo, devemos ter a + c = b.

Analogamente, como (b + d)c = bc + dc = 0, temos que b + d ∈ D(R)∗ . Procedendo


como acima, obtemos que b + d = c. Assim, b = a + c = a + b + d, donde a + d = 0. Logo,
bd = b(−a) = −(ab) = 0, o que é um absurdo. Para os outros dois grafos conexos com quatro
vértices, a demonstração é análoga.

Encerramos este capı́tulo com um importante resultado acerca do tamanho do grafo


divisor de zero.

Teorema 2.11. ([6]) Seja R um anel que não é um domı́nio de integridade. Então Γ(R) é
finito se, e somente se, R é finito. Em particular, se 1 ≤ |Γ(R)| < ∞, então R é finito e não
é corpo.

Demonstração: Suponhamos Γ(R) finito. Então, D(R)∗ é finito e, como R não é um


domı́nio de integridade, D(R)∗ é também não vazio. Logo, existem x, y ∈ D(R)∗ tais que
xy = 0. Seja I = Ann(x). Então I ⊆ D(R) e, assim, I é finito. Dado r ∈ R, temos que
ry ∈ I, pois xy = 0 implica ryx = 0. Se R fosse infinito, existiria z ∈ I com J = {r ∈ R :
ry = z} infinito. Assim, para quaisquer r, s ∈ J, terı́amos (r − s)y = ry − sy = z − z = 0 e,
então, Ann(y) = I seria infinito, o que é uma contradição. Logo, R é finito.

A recı́proca é imediata. u
t

28 -
2.2 Colorações de Beck 29

2.2 Colorações de Beck

Apresentaremos aqui alguns resultados expostos por Istvan Beck, em seu artigo “Coloring
of commutative rings” [11], sobre colorações de vértices. Dentre esses resultados, destacamos
os Teorema 2.21 e o Teorema 2.24. O primeiro apresenta algumas condições necessárias e
suficientes para que um grafo divisor de zero tenha número cromático finito. O segundo
elenca algumas propriedades de um anel que possui um grafo divisor de zero com número
cromático finito.

Já mencionamos neste texto que a definição de grafo divisor de zero dada por Beck difere
da definição que adotamos aqui. No entanto, nesta seção, manteremos a Definição.2.1.

Para iniciarmos, devemos dizer que um elemento r ∈ R é um elemento finito de um anel


R se o ideal gerado por r é finito. Na sequência, apresentamos alguns lemas que nos dão
condições para que um grafo divisor de zero tenha um clique infinito.

Lema 2.12. ([11]) Seja R um anel que possui um número infinito de elementos finitos.
Então Γ(R) contém um clique infinito.

Demonstração: Sejam x1 , x2 , . . . , xn , . . . elementos finitos distintos dois a dois de R. Como


(x1 ) é um ideal finito e x1 xi ∈ (x1 ), para todo i ∈ N, existem infinitos ı́ndices a21 , a22 , a23 , . . .
tais que
x1 xa21 = x1 xa22 = x1 xa23 = . . . .

Vamos considerar então a sequência {xa2n }n∈N e denotar xa21 = xa2 . Sabemos que
xa2 xa2i ∈ (xa2 ), para todo i ∈ N. Sendo (xa2 ) um ideal finito, existem infinitos ı́ndices
a31 , a32 , a33 , . . . , a3n , . . . tais que

xa2 xa31 = xa2 xa32 = xa2 xa33 = . . . .

Consideremos agora a sequência {xa3n }n∈N . Denotando xa31 = xa3 e repetindo o processo,
obteremos uma sequência x1 , xa2 , xa3 , . . ., a qual denotamos por y1 , y2 , y3 , . . . , yn , . . ., tal que
yi yj = yi yk , quando j > i e k > i.

Coloquemos zi,j = yi − yj , para i, j ∈ N∗ , i < j. Se i < j < k < r, como yi yk = yi yr e

29 -
2.2 Colorações de Beck 30

yj yk = yj yr , temos que

zij zkr = (yi − yj )(yk − yr ) = yi yk − yi yr − yj yk + yj yr = 0.

Desse modo, z1,2 z3,4 = z1,2 z3,5 = 0. Como z3,4 6= z3,5 , então z3,4 6= z1,2 ou z3,5 6= z1,2 .
Se z3,4 6= z1,2 , temos o clique {z1,2 , z3,4 }. Se z3,5 6= z1,2 , o clique obtido é {z1,2 , z3,5 }. Vamos
assumir que z3,5 6= z1,2 e que, portanto, Γ(R) possui o clique {z1,2 , z3,5 }.

Notemos agora que z6,7 , z6,8 , z6,9 são dois a dois distintos. Logo, um deles não pertence
ao conjunto {z1,2 , z3,5 }. Supondo que z6,9 ∈
/ {z1,2 , z3,5 }, temos o clique {z1,2 , z3,5 , z6,9 }. Pros-
seguindo desse modo, obteremos um clique infinito de Γ(R). u
t

Lema 2.13. ([11]) Seja I um ideal finito de R. Então Γ(R) contém um clique infinito se, e
somente se, Γ(R/I) contém um clique infinito.

Demonstração: Suponhamos que Γ(R) possui um clique infinito C. A imagem C de C


pela projeção canônica de R em R/I é um clique de Γ(R/I). Como I é finito, devemos ter
C infinito. Logo, Γ(R/I) contém um clique infinito C.

Reciprocamente, consideremos {xi }i∈N um clique infinito de Γ(R/I). Então, para todo
i 6= j, xi xj ∈ I. Como I é finito, o conjunto dos produtos {xi xj }i6=j é finito. Para o elemento
x1 , existem ı́ndices a2 , a22 , a23 , . . . , a2n , . . . tais que

x1 xa2 = x1 xa22 = x1 xa23 = . . . .

Repetindo o raciocı́nio utilizado na demonstração do Teorema 2.12, chegaremos que Γ(R)


possui um clique infinito. u
t

Lema 2.14. ([11]) Se R contém um elemento nilpotente que não é finito, então Γ(R) contém
um clique infinito.

Demonstração: Por hipótese, existe x ∈ N il(R) tal que o ideal (x) é infinito. Mas x ∈
N il(R) implica que existe n ∈ N tal que xn = 0. A demonstração será feita por indução
sobre n. Como (x) é infinito, temos x 6= 0. Logo, iniciamos a demonstração considerando
n = 2.

30 -
2.2 Colorações de Beck 31

Se x2 = 0, então dados ax, bx ∈ (x), teremos (ax)(bx) = 0. Assim, Γ(R) possui um clique
infinito, a saber, o subgrafo induzido pelo ideal (x).

Suponhamos n ≥ 3 e que o resultado seja verdadeiro para qualquer elemento nilpotente


não finito de R cujo ı́ndice de nilpotência seja menor do que n. Tomemos y = x2 . Então
y n−1 = (x2 )n−1 = xn−2 e, como n ≥ 3, temos 2n − 2 ≥ n. Daı́, y n−1 = 0. Se (y) é infinito,
o resultado segue da nossa hipótese de indução. Vamos supor então que (y) é finito. Neste
caso, (x)/(y) é infinito e o subgrafo induzido por (x)/(y) é um clique infinito de R/(y). Como
(y) é finito, segue do Lema 2.13 que Γ(R) possui um clique infinito. u
t

Exemplo 2.15. Em Z4 [x], o elemento 2 é nilpotente com ı́ndice de nilpotência igual a 2.


Como o ideal (2) é infinito, segue do lema anterior que Z4 [x] possui um clique infinito.

Consideremos agora um anel R tal que N il(R) é infinito. Se todo elemento de N il(R) é
finito, o Lema 2.12 nos garante que Γ(R) possui um clique infinito. Se algum elemento de
N il(R) não é finito, também obtemos que Γ(R) possui um clique infinito: basta aplicarmos
o Lema 2.14. Provamos assim o seguinte resultado:

Lema 2.16. ([11]) Se N il(R) é infinito, então Γ(R) tem um clique infinito.

O próximo lema trata de um anel reduzido R cujo grafo divisor de zero não possui um
clique infinito.

Lema 2.17. ([11]) Se R é um anel reduzido tal que Γ(R) não contém um clique infinito,
então R satisfaz a condição de cadeia ascendente (c.c.a.) sobre ideais da forma Ann(a), com
a ∈ R∗ .

Demonstração: Seja R um anel reduzido. Vamos supor que exista uma cadeia

Ann(a1 ) ( Ann(a2 ) ( . . .

que não estaciona. Seja xi ∈ Ann(ai )\Ann(ai−1 ), i = 1, 2, . . .. Então, para todo n ≥ 2, temos
que yn = xn an−1 6= 0. Disso resulta que os elementos yn formam um clique. De fato, se i < j,
temos yi yj = (xi ai−1 )(xj aj−1 ) = 0, visto que xi ∈ Ann(ak ), para todo k = i, i + 1, . . . , j, . . ..

31 -
2.2 Colorações de Beck 32

Também, se i 6= j, então yi 6= yj , pois se tivéssemos yi = yj , terı́amos yi2 = yj2 = yi yj = 0, o


que contradiz o fato de R ser reduzido. Logo, Γ(R) possui um clique infinito e o resultado
está provado. u
t

Lema 2.18. ([11]) Se x, y ∈ D(R) são tais que Ann(x) e Ann(y) são ideais primos distintos,
então xy = 0.

Demonstração: Suponhamos que xy 6= 0. Então x ∈


/ Ann(y) e y ∈
/ Ann(x). Mostremos
que Ann(x) = (Ann(x) : y). De fato, se z ∈ Ann(x), então zy ∈ Ann(x), donde vem que
z ∈ (Ann(x) : y). Agora, dado z ∈ (Ann(x) : y), por definição, zy ∈ Ann(x). Como Ann(x)
é um ideal primo e y ∈
/ Ann(x), devemos ter que z ∈ Ann(x). Obtemos assim a igualdade
Ann(x) = (Ann(x) : y). Analogamente, mostramos que (Ann(y) : x) = Ann(y).

Notemos que z ∈ (Ann(x) : y) se, e somente se, zyx = 0, o que é equivalente a


z ∈ (Ann(y) : x). Logo, (Ann(x) : y) = (Ann(y) : x). Assim, temos as igualdades
Ann(x) = (Ann(x) : y) = (Ann(y) : x) = Ann(y), o que é um absurdo. Portanto, xy = 0. u
t

No próximo resultado, é dada uma condição suficiente para que o número cromático de
Γ(R) seja finito.

Teorema 2.19. ([11]) Seja R um anel que possui um ideal finito I que é uma interseção
finita de ideais primos de R. Então, χ(Γ(R)) é finito.

Demonstração: Seja I um ideal finito tal que I = P1 ∩ . . . ∩ Pk , com Pi ∈ Spec(R),


para cada i ∈ {1, . . . , k}. Se D(R) ⊆ I, então Γ(R) é finito e isso claramente implica
χ(Γ(R)) finito. Vamos supor então que existe a ∈ D(R) tal que a ∈
/ I. Definamos a função
f : D(R) \ I → {1, . . . , k} colocando f (x) = min{i : x ∈
/ Pi }, para todo x ∈ D(R) \ I.
Temos que f é uma k-coloração própria de D(R) \ I. De fato, suponhamos que existam
x, y ∈ D(R)∗ , x 6= y, tais que xy = 0 e f (x) = f (y) = j. Então x, y ∈
/ Pj . Como 0 = xy ∈ Pj
e Pj é ideal primo, devemos ter x ∈ Pj ou y ∈ Pj , uma contradição. Como I é finito, temos
que I ∩ D(R) finito, digamos |I ∩ D(R)| = m. Usando este fato e a k-coloração própria f
dada anteriormente, temos que χ(Γ(R)) ≤ k + m, ou seja, χ(Γ(R)) é finito. u
t

32 -
2.2 Colorações de Beck 33

O próximo resultado apresenta algumas condições necessárias e suficientes para que um


grafo divisor de zero de um anel reduzido tenha número cromático finito.

Teorema 2.20. ([11]) Para um anel reduzido R, as seguintes condições são equivalentes:

(i) χ(Γ(R)) é finito;

(ii) ω(Γ(R)) é finito;

(iii) O ideal nulo de R é uma interseção finita de ideais primos;

(iv) Γ(R) não contém um clique infinito.

Demonstração: Como ω(Γ(R)) ≤ χ(Γ(R)), é claro que (i) implica (ii). Também, se
ω(Γ(R)) é finito, R não contém um clique infinito e, assim, (ii) implica (iv). Do Lema 2.19
segue que (iii) implica (i). Logo, resta mostrarmos que (iv) implica (iii).

Suponhamos que R seja um anel reduzido tal que Γ(R) não contém um clique infinito.
Pelo Lema 2.17, R satisfaz c.c.a. sobre ideais da forma Ann(a). Seja {Ann(xi )}i∈Λ a coleção
formada por todos os elementos maximais, dois a dois distintos, da famı́lia {Ann(a) : a 6= 0}.
Pela Proposição 1.29, temos que Ann(xi ) é um ideal primo, para todo i ∈ Λ. Como Γ(R)
não contém um clique infinito, segue do Lema 2.18 que o conjunto de ı́ndices Λ é finito. De
fato, se Λ fosse infinito, terı́amos infinitos Ann(xi ). Do Lema 2.18 terı́amos que xi xj = 0,
para i 6= j, e assim, Γ(R) teria um clique infinito, o que é uma contradição. Logo, Λ é finito.

Suponhamos que exista um elemento não nulo x ∈ i∈Λ Ann(xi ). Então, x ∈ D(R)∗ . Da
T

escolha dos Ann(xi ), i ∈ Λ, resulta que Ann(x) ⊆ Ann(xj ), para algum j ∈ Λ. Se xxj = 0,
então xj ∈ Ann(x) ⊆ Ann(xj ) e, assim, x2j = 0, donde obtemos xj = 0, uma vez que R
é reduzido. Logo, xxj 6= 0 e disso resulta que x ∈ / Ann(xj ), uma contradição. Portanto,
T
i∈Λ Ann(xi ) = {0} e temos assim que (iv) implica (iii). u
t

Veremos a seguir que a hipótese de R ser reduzido pode ser retirada da hipótese do
Teorema 2.20, isto é, esse resultado vale para qualquer anel.

Teorema 2.21. ([11]) Para um anel R qualquer, as seguintes condições são equivalentes:

33 -
2.2 Colorações de Beck 34

(i) χ(Γ(R)) é finito;

(ii) ω(Γ(R)) é finito;

(iii) N il(R) é finito e é igual a uma interseção finita de ideais primos;

(iv) Γ(R) não contém um clique infinito.

Demonstração: É claro que (i) implica (ii) e que (ii) implica (iv). Pelo Teorema 2.19, (iii)
implica (i).

Precisamos mostrar então que (iv) implica (iii). Suponhamos que Γ(R) não possui um
clique infinito. Pelos Lemas 2.13 e 2.16, temos que N il(R) é finito e Γ(R/N il(R)) não possui
um clique infinito. Do Teorema 2.20 vem que {0} = {0 + N il(R)} é igual a uma interseção
finita de ideais primos, digamos {0} = P1 ∩ . . . ∩ Pk . Então, N il(R) = P1 ∩ . . . ∩ Pk , onde Pi
é a imagem inversa de Pi pela projeção canônica de R em R/N il(R). Portanto, (iv) implica
(iii). u
t

Nosso próximo resultado apresenta, em seu enunciado, apenas conceitos da Teoria de


Anéis Comutativos. No entanto, sua demonstração é feita a partir de conceitos e resultados
da teoria de grafos divisores de zero.

Proposição 2.22. ([11]) Seja R um anel que contém um ideal finito I que é uma interseção
finita de ideais primos. As seguintes afirmações são verdadeiras:


(i) Para todo ideal finito K de R, temos que K é um ideal finito e é igual a uma interseção
finita de ideais primos;

(ii) R possui apenas um número finito de ideais finitos.

Demonstração: (i) Seja I um ideal finito que é uma interseção finita de ideais primos. Pelo
Teorema 2.19, χ(Γ(R)) é finito. Consideremos K ∈ Id(R) finito. Segue do Lema 2.13 que
Γ(R/K) não contém um clique infinito. Pelo Teorema 2.21, temos que N il(R/K) é finito e

é igual a uma interseção finita de ideais primos. Mas notemos que N il(R/K) = K/K. De

fato, observamos que x ∈ K/K se, e somente se, existe n ∈ Z+ tal que xn ∈ K. Como

34 -
2.2 Colorações de Beck 35


xn = xn = 0, temos que x ∈ K/K se, e somente se, x ∈ N il(R/K), donde N il(R/K) =

K/K.
√ √
Logo, K/K é finito e igual a uma interseção finita de ideais primos e, assim, K
também é finito e igual a uma interseção finita de ideais primos.

(ii) Consideremos A = {x ∈ R : (x) é finito}. Como χ(Γ(R)) é finito, segue do Lema


2.12 que A é finito. Notemos que 0 ∈ A. Ainda, dados x, y ∈ A e r ∈ R, temos que (x) e (y)
são ideais finitos e, daı́, como (x + y) ⊆ (x) + (y) e (rx) ⊆ (x), resulta que x + y, rx ∈ A.
Logo, A é um ideal finito de R. Uma vez que todo ideal finito de R está contido em A, o
anel R possui apenas um número finito de ideais finitos. u
t

Na demonstração do próximo resultado, utilizaremos o conceito de sequência exata de


R-módulos. O leitor pode encontrar a definição desse conceito em ([24], pág. 112).

Lema 2.23. Seja I um ideal finito de R. Então, para todo x ∈ R, (I : x)/Ann(x) é um


R-módulo finito.

Pn
Demonstração: Dado a ∈ (I : x)x, temos que a = i=1 λi αi x, onde αi ∈ (I : x), para todo
i ∈ {1, . . . , n}. Então, αi x ∈ I, para todo i ∈ {1, . . . , n}. Como I é um ideal, devemos ter
Pn
i=1 λi αi x = a ∈ I. Assim, (I : x)x ⊆ I e, sendo I finito, (I : x)x também é finito.

Consideremos agora a seguinte sequência exata de R-módulos

j f
{0} −→ Ann(x) −→ (I : x) −→ (I : x)x −→ {0},

onde j é a inclusão e f é o epimorfismo dado por f (a) = ax. Notemos que Im(j) = Ann(x) =
ker(f ). Assim, (I : x)/Ann(x) ∼
= f ((I : x)). Como f ((I : x)) ⊆ (I : x)x e (I : x)x é finito,
temos que (I : x)/Ann(x) é um R-módulo finito. u
t

Elencamos agora várias propriedades satisfeitas por um anel cujo grafo divisor de zero
possui número cromático finito.

Teorema 2.24. Seja R um anel tal que χ(Γ(R)) é finito. Então, as seguintes afirmações
são verdadeiras:

35 -
2.2 Colorações de Beck 36

(i) R satisfaz a c.c.a sobre os ideais da forma Ann(a);

(ii) Ass(R) é finito


[
(iii) D(R) = P;
P ∈Ass(R)

(iv) Todo primo minimal de R é um primo associado.

Demonstração: (i) Por absurdo, vamos supor que existe um conjunto {xk }k∈N tal que a
cadeia Ann(x1 ) ( Ann(x2 ) ( . . . não estaciona. Como χ(Γ(R)) é finito, segue do Teorema
2.21 que N il(R) é finito. Logo, existe n ∈ N tal que xi ∈
/ N il(R), para todo i > n. Ou seja,
no máximo, uma quantidade finita de elementos da sequência estão em N il(R). Retirando,
se necessário, tal quantidade finita e reenumerando os ı́ndices, vamos supor que xi ∈
/ N il(R),
para todo i ∈ N.

Pelo Teorema 2.21, temos ainda que N il(R) = P1 ∩. . .∩Pn , com Pi ideal primo, para todo
i ∈ {1, . . . , n}. Sabemos também que, para todo x ∈ R, (N il(R) : x) = (P1 : x)∩. . .∩(Pn : x).
Assim, o conjunto {(N il(R) : x) : x ∈ R} é finito (visto que, para todo P ∈ Spec(R),
(P : x) = R se x ∈ P ; (P : x) = P se x ∈
/ P ). Desse modo, existe um subconjunto
infinito {yi } de {xi } tal que (N il(R) : y1 ) = (N il(R) : y2 ) = . . .. Dessa igualdade vem que
todo conjunto da cadeira Ann(y1 ) ( Ann(y2 ) ( . . . está contido em (N il(R) : y1 ). Logo,
(N il(R) : y1 )/Ann(y1 ) é infinito. Mas, isso é um absurdo, pois sendo N il(R) finito, o lema
anterior nos diz que (N il(R) : y1 )/Ann(y1 ) deve ser finito.

(ii) Suponhamos Ass(R) infinito, digamos Ass(R) = {Ann(xi )}i∈Λ , com Λ infinito. Pelo
Lema 2.18, temos que xi xj = 0, se i 6= j, donde segue que Γ(R) possui um clique infinito, o
que contradiz o fato de χ(Γ(R)) ser finito. Logo, Ass(R) é finito.

(iii) Dado x ∈ D(R), existe y ∈ R∗ tal que xy = 0, donde x ∈ Ann(y). Pelo item (i),
Ann(y) está contido em algum elemento maximal do conjunto Ω = {Ann(a) : a ∈ R∗ },
digamos Ann(y) ⊆ Ann(t). Como todo elemento maximal de Ω é um ideal primo, temos que
S
Ann(t) ∈ Ass(R). Assim, x ∈ Ann(t), donde se segue a inclusão D(R) ⊆ P ∈Ass(R) P . A
outra inclusão é imediata.

(iv) Seja P ∈ M in(R). Notemos que, para todo x ∈ R \ P , Ann(x) ⊆ P (pois, se


w ∈ Ann(x), então xw = 0 ∈ P , donde w ∈ P , visto que P é primo e x ∈
/ P ). Seja

36 -
2.2 Colorações de Beck 37

Θ = {Ann(y) : y ∈ R \ P }. Pelo item (i), toda cadeia ascendente de ideais de Θ estaciona.


Escolhemos Ann(t) um elemento maximal de Θ. Vamos mostrar que Ann(t) é um ideal
primo de R. De fato, como Ann(t) ⊆ P e P é primo, 1 ∈
/ Ann(t), donde Ann(t) 6= R.
Considerando ab ∈ Ann(t), vamos supor que a ∈
/ Ann(t) e mostrar que b ∈ Ann(t).

Se a ∈
/ P , então at ∈
/ P , donde Ann(at) ∈ Θ. Como Ann(t) ⊆ Ann(at) e Ann(t) é
maximal em Θ, temos que Ann(t) = Ann(at). Mas, ab ∈ Ann(t). Logo, 0 = (ab)t = b(at),
donde b ∈ Ann(at) = Ann(t).

Suponhamos agora que a ∈ P . Se Ann(at) ⊆ P , utilizando o mesmo raciocı́nio do


parágrafo anterior, obteremos b ∈ Ann(t). Consideremos o caso Ann(at) * P . Neste caso,
existe c ∈ Ann(at) \ P . Então, Ann(ct) ∈ Θ, donde Ann(t) ⊆ Ann(ct) ⊆ P e, pela
maximalidade de Ann(t), temos que Ann(t) = Ann(ct). Mas, como a(tc) = (at)c = 0, segue
que a ∈ Ann(tc) = Ann(t), uma contradição. Logo, se a ∈ P , então Ann(at) ⊆ P e teremos
b ∈ Ann(t).

Assim, Ann(t) é um ideal primo contido em P . Como P é um primo minimal, temos


Ann(t) = P , donde M in(R) ⊆ Ass(R). u
t

As propriedades listadas nos quatro itens do enunciado do teorema anterior são satisfeitas
por um anel Noetheriano. No exemplo a seguir, vemos um anel não Noetheriano cujas
propriedades mencionadas também são satisfeitas.

Exemplo 2.25. Seja K um corpo. Sabemos que o anel de polinômios A = K[x1 , x2 , . . .] não
é um anel Noetheriano. Assim, R = Z2 × A também não é Noetheriano. Facilmente podemos
verificar que Γ(R) é um grafo estrela (o raciocı́nio é análogo ao da demonstração do Lema
2.26 da próxima seção). Pela Proposição 1.42, obtemos que χ(Γ(R)) é finito. Portanto, R
satisfaz cada uma das quatro propriedades listadas no enunciado do teorema anterior.

Convém observarmos que nem todo anel Noetheriano possui grafo divisor de zero com
número cromático finito. Basta notarmos que Z4 [x] é Noetheriano, mas χ(Γ(Z4 [x])) não é
finito, pelo Exemplo 2.15 e pelo Teorema 2.21. Porém, se R é um anel Noetheriano reduzido,
segue das Proposições 1.6 e 1.22 e do Teorema 2.20 que χ(Γ(R)) é finito.

37 -
2.3 Quando Γ(R) possui um vértice adjacente aos demais vértices 38

2.3 Quando Γ(R) possui um vértice adjacente aos de-


mais vértices

Como o tı́tulo da seção sugere, estudaremos aqui os grafos divisores de zero que possuem
um vértice que é adjacente a todos os outros vértices. Exibiremos condições necessárias e
suficientes para que um anel possua como grafo divisor de zero um grafo com tal propriedade.

Sabemos que um tipo de grafo que possui um vértice que é adjacente aos demais vértices
é o grafo estrela. O lema com o qual iniciamos a seção nos mostra que existe uma infinidade
de anéis que possuem como grafo divisor de zero um grafo com essa forma.

Lema 2.26. ([6]) Seja A um domı́nio de integridade e seja R = Z2 × A. Então Γ(R) é um


grafo estrela. No caso em que A é finito, temos |Γ(R)| = pn , para algum primo p e algum
inteiro positivo n.

Demonstração: Seja (1, b) ∈ D(R). Então, existe (c, d) ∈ R∗ tal que (1, b)(c, d) = (0, 0),
donde 1c = 0 e bd = 0. Então, c = 0. Como (c, d) 6= (0, 0), devemos ter que d 6= 0. Sendo
A um domı́nio de integridade, obtemos b = 0. Denotando X = {(0, b) ∈ R : b ∈ A∗ }, não
é difı́cil ver que D(R)∗ = {(1, 0)} ∪ X. Além disso, (1, 0) é um vértice adjacente aos demais
vértices de Γ(R). Dados (0, x), (0, y) ∈ X, temos que (0, x)(0, y) = (0, xy) 6= (0, 0), visto que
x, y ∈ A∗ e A é domı́nio de integridade. Portanto, Γ(R) é um grafo estrela.

Se A é finito, então A é corpo (pois todo domı́nio de integridade finito é um corpo). Então,
existem um primo p e um inteiro positivo n tais que |A| = pn . Como a união {(1, 0)} ∪ X é
disjunta, |Γ(R)| = |V (Γ(R))| = |{(1, 0)}| + |X| = 1 + (pn − 1) = pn . u
t

Apresentaremos mais resultados acerca de grafos divisores de zero que são grafos estrela
na próxima seção. Na sequência, temos um resultado que nos dá condições necessárias e
suficientes para que um grafo divisor de zero tenha um vértice adjacente aos demais vértices.

Teorema 2.27. ([6]) Seja R um anel. Existe a ∈ V (Γ(R)) adjacente a qualquer outro vértice
se, e somente se, R ∼
= Z2 × A, onde A é um domı́nio de integridade, ou D(R) é um ideal
anulador (e, portanto, um ideal primo).

38 -
2.3 Quando Γ(R) possui um vértice adjacente aos demais vértices 39

Demonstração: Suponhamos que a ∈ D(R)∗ seja adjacente a qualquer outro vértice de


Γ(R). Então, dado x ∈ D(R) \ {a}, temos ax = 0. Desse modo, se a ∈ Ann(a), então
D(R) = Ann(a), ou seja, D(R) é um ideal anulador. Analisemos então o caso em que
a ∈
/ Ann(a). Vamos supor ainda que D(R) não é um ideal anulador (pois se fosse, já
terı́amos o resultado).

Como D(R) \ {a} ⊆ Ann(a), temos que Ann(a) é maximal dentre o conjunto dos anula-
dores de elementos não nulos de R. Da Proposição 1.29 segue que Ann(a) é um ideal primo.
Se a2 6= a, então a2 ∈ Ann(a) e, sendo Ann(a) um ideal primo, teremos a ∈ Ann(a), o que é
um absurdo. Logo, devemos ter a = a2 . Pelo Lema 1.7, R = Ra ⊕ R(1 − a). Notemos que
a = 1a + 0(1 − a). Podemos supor então que R = R1 × R2 , com (1, 0) adjacente a todos os
demais vértices de Γ(R). Seja c ∈ R1 tal que c 6= 1. Então (c, 0) = (c, 0)(1, 0) = (0, 0), donde
vem que c = 0. Logo, R1 ∼
= Z2 .

Se R2 não é domı́nio de integridade, então existe b ∈ D(R2 )∗ . Assim, (1, b) é divisor


de zero de R e, como (1, b)(1, 0) = (1, 0), temos que (1, b) não é adjacente a (1, 0), uma
contradição. Então, R2 é um domı́nio de integridade e, portanto, R ≈ Z2 × R2 .

Observemos que no caso em que D(R) é um ideal, temos que D(R) é um ideal primo,
pela Proposição 1.24.

Reciprocamente, se existir a ∈ R∗ tal que D(R) = Ann(a), então ba = 0, para todo


b ∈ D(R), donde vem que a é adjacente a qualquer outro vértice. Se R ∼
= Z2 × A, com A um
domı́nio de integridade, o resultado segue do Lema 2.26. u
t

Corolário 2.28. Seja R um anel finito. Existe um vértice de Γ(R) adjacente a qualquer
outro vértice se, e somente se, R ∼
= Z2 × K, onde K é um corpo finito, ou R é local. Neste
caso, para algum número primo p e algum inteiro n ≥ 1, |Γ(R)| = |K| = pn , se R ∼= Z2 × K;
se R é local, então |Γ(R)| = pn − 1.

Demonstração: Pela Proposição 1.35, todo elemento de R é divisor de zero ou invertı́vel.


Assim, se D(R) é um ideal, então D(R) é o único ideal maximal de R. Considerando isto
e o fato de que todo domı́nio de integridade finito é um corpo, a primeira afirmação deste
corolário segue diretamente do Lema 2.26 e do Teorema 2.27.

39 -
2.4 Grafos completos e grafos estrela 40

Seja R ∼
= Z2 × K, com K um corpo finito. Do Lema 2.26 vem que Γ(R) é um grafo
estrela e |Γ(R)| = |K| = pn , para algum primo p e algum inteiro n ≥ 1. Agora, se R é um
anel local finito, segue do item (ii) da Proposição 1.37 que |Γ(R)| = |D(R)∗ | = pn − 1, para
algum primo p e algum inteiro n ≥ 1. u
t

Nem todo grafo divisor de zero que possui um vértice adjacente a qualquer outro vértice
é um grafo estrela, conforme podemos ver no exemplo a seguir.

Exemplo 2.29. Se R = Z16 , então Γ(R) possui o vértice 8 adjacente a todos os outros
vértices. No entanto, Γ(R) não é um grafo estrela, pois {4, 12} ∈ E(Γ(R)).

Figura 2.17: Γ(Z16 )

2.4 Grafos completos e grafos estrela

Nesta seção, estamos interessados em saber quais são os grafos completos e quais são os
grafos estrela que podem ser realizados como Γ(R) e o que podemos dizer sobre um anel que
possui como grafo divisor de zero algum desses dois tipos de grafos.

Comecemos com os grafos completos. O primeiro exemplo desta seção nos mostra que,
para qualquer primo p, existe um anel R tal que Γ(R) é um grafo isomorfo ao grafo completo
K p−1 .

Exemplo 2.30. Sejam p um número primo e R = Zp2 . Podemos facilmente verificar que
(p) = Zp2 \ U (Zp2 ). Assim, pela Proposição 1.2, R é um anel local com ideal maximal
(p). Sendo R finito, segue da Proposição 1.36 que D(R) = (p). Notemos agora que dados
a, b ∈ D(R)∗ = (p)∗ , temos a = pa1 e b = pb2 , com a1 , b2 ∈ Z. Assim, ab = (pa1 )(pb2 ) = 0,
donde Γ(R) é um grafo completo, com |Γ(R)| = |(p)∗ | = p − 1.

40 -
2.4 Grafos completos e grafos estrela 41

O próximo teorema nos diz quando que um grafo divisor de zero é completo. Exceto no
caso em que R ∼
= Z2 × Z2 , tal resultado nos mostra que Γ(R) é completo se, e somente se,
D(R)2 = {0}.

Teorema 2.31. ([6]) Seja R um anel. Então Γ(R) é um grafo completo se, e somente se,
R∼
= Z2 × Z2 ou xy = 0, para quaisquer x, y ∈ D(R).

Demonstração: Suponhamos Γ(R) completo. Então, dados x, y ∈ D(R), com x 6= y, temos


que xy = 0. Vamos supor que exista a ∈ D(R) tal que a2 6= 0. Neste caso, afirmamos
que a2 = a. De fato, se a2 6= a, então a3 = a2 a = 0, pois Γ(R) é completo. Desse
modo, a2 (a + a2 ) = 0 e, como a2 6= 0, segue que a + a2 ∈ D(R). Se a + a2 = a, então
a2 = 0, uma contradição. Daı́, a + a2 6= a. Do fato de Γ(R) ser completo obtemos que
a2 = a2 + a3 = a(a + a2 ) = 0, o que é um absurdo. Logo, a2 = a. Seguindo a mesma
argumentação utilizada na demonstração do Teorema 2.27, temos que R ∼
= Z2 × A com A um
domı́nio de integridade. Pelo Lema 2.26, sabemos que Γ(Z2 × A) é um grafo estrela. Como
Γ(R) é completo, devemos ter A = Z2 .

Agora, se R ∼
= Z2 × Z2 , segue do Exemplo 2.3 que Γ(R) é completo. Se xy = 0 para todos
x, y ∈ D(R), então Γ(R) é completo, por definição. u
t

O próximo resultado caracteriza os anéis finitos que possuem como grafos divisores de
zero um grafo completo.

Teorema 2.32. ([6]) Seja R um anel finito. Se Γ(R) é um grafo completo, então R ∼
= Z2 ×Z2
ou R é local com char(R) = p ou p2 e |Γ(R)| = pn − 1, para algum primo p e algum inteiro
n ≥ 1.

Demonstração: Sendo Γ(R) completo, o grafo Γ(R) possui um vértice adjacente a todos os
outros vértices. Como R é finito, segue do Corolário 2.28 que R ∼
= Z2 × K, com K um corpo
finito, ou R é local. Suponhamos que R ∼
= Z2 × K, com K um corpo finito. Pelo Lema 2.26,
temos que Γ(Z2 × K) é um grafo estrela. Desse modo, para que tenhamos Γ(R) completo,
devemos ter K ∼
= Z2 .

Se R não é isomorfo a Z2 × K, com K um corpo finito, então R é um anel local. Como


R é finito, D(R) é seu único ideal maximal. Da Proposição 1.37 vem que char(R) = pk ,

41 -
2.4 Grafos completos e grafos estrela 42

para algum primo p e algum inteiro k ≥ 1. Suponhamos k ≥ 3. Então dado a ∈ R∗ , temos


pk 1 = 0 e p2 1 6= 0. Como (p1)pk−1 1 = pk = 0, segue que p1 ∈ D(R)∗ . Pelo Teorema 2.31
deverı́amos ter xy = 0, para todos x, y ∈ D(R), mas (p1)(p1) = p2 1 6= 0, um absurdo. Logo,
char(R) = p ou p2 . Além disso, a Proposição 1.37 nos garante que D(R) é um p-grupo e,
assim, |Γ(R)| = pn − 1 para algum primo p e algum inteiro n ≥ 1. u
t

K[x]
Exemplo 2.33. Seja K um corpo finito. Então, o anel R = (x2 )
é local com ideal maximal
(x)
M= (x2 )
. De fato, M é claramente um ideal maximal de R. Agora, dados 1 = 1 + (x2 ) ∈ R
e m = bx + (x2 ) ∈ M , temos que 1 + m = (1 + bx) + (x2 ) é invertı́vel em R, pois

[(1 − bx) + (x2 )][(1 + bx) + (x2 )] = (1 − bx)(1 + bx) + (x2 ) = 1 + (x2 ) = 1.

Segue do item (iii) da Proposição 1.2 que R é um anel local com ideal maximal M . Pela
Proposição 1.36, temos que M = D(R). Além disso, para quaisquer m1 , m2 ∈ M , é claro que
m1 m2 = 0. Logo, Γ(R) é um grafo completo com |Γ(R)| = |M ∗ | = |K| − 1 = pn − 1, para
algum primo p e algum inteiro n ≥ 1.

Do Teorema 2.32 e deste último exemplo, podemos concluir que o grafo completo K m
pode ser realizado como Γ(R) se, e somente se, m = pn − 1, para algum primo p e algum
inteiro n ≥ 1.

A partir de agora, tentaremos determinar como são os anéis finitos que possuem um grafo
estrela como seus grafos divisores de zero. Para isso, precisaremos dos seguintes lemas.

Lema 2.34. ([6]) Seja R um anel local com ideal maximal M 6= {0}. Se existir um menor
inteiro positivo k tal que M k = {0}, então D(R) = M = Ann(a), para qualquer a ∈ M k−1
não nulo.

Demonstração: Notemos que D(R) ⊆ M . Por outro lado, se m ∈ M , então mk = 0 e,


assim, m ∈ D(R). Logo, M = D(R). Seja a ∈ M k−1 . Uma vez que M k = {0}, am = 0,
para todo m ∈ M , donde M ⊆ Ann(a). Como M é maximal e Ann(a) 6= R, obtemos
D(R) = M = Ann(a). u
t

42 -
2.4 Grafos completos e grafos estrela 43

Lema 2.35. ([6]) Seja R um anel finito. Se Γ(R) tem exatamente um vértice adjacente aos
demais vértices e não tem outros vértices adjacentes, então R ≈ Z2 × K, onde K é um corpo
finito com |K| ≥ 3, ou então R é local com ideal maximal M satisfazendo R ∼
= Z2 , M 3 = {0}
M

e |M 2 | ≤ 2. Desse modo, |Γ(R)| = pn ou |Γ(R)| = 2n −1, para algum primo p e algum inteiro
n ≥ 1.

Demonstração: Suponhamos que R não seja um anel local. Pelo Corolário 2.28, devemos
ter R ∼
= Z2 × K, com K um corpo finito. Se |K| = 2, então K ∼
= Z2 e daı́ Γ(R) ' K 2 . Mas,
neste caso, Γ(R) possui dois vértices distintos, um adjacente ao outro, o que contradiz o fato
de Γ(R) possuir um único vértice adjacente aos demais. Logo, |K| ≥ 3. Assim, devemos ter
|Γ(R)| = |K| = pn , para algum primo p e algum inteiro n ≥ 1.

Se R não é isomorfo a Z2 × K, então R é um anel local (finito) com ideal maximal


M = D(R) (pelo Corolário 2.28 e pela Proposição 1.36). Sendo R finito, R é Noetheriano.
Assim, segue da Proposição 1.30 que D(R) = Ann(a), para algum a ∈ M ∗ . Seja k o menor
inteiro positivo tal que M k = {0}. Então, pelo Lema 2.34, obtemos M = Ann(b), para todo
b ∈ M k−1 não nulo. Como a é o único vértice de Γ(R) é adjacente a todos os outros vértices,
k−1
segue que M k−1 = {0, a} e, então, | MM k | = 2.
M i−1 R
Notemos agora que, para cada i ∈ {2, 3, . . . , k}, Mi
é um espaço vetorial sobre M
com
as operações de adição e de multiplicação por escalar dadas por:

(x + M i ) + (y + M i ) = (x + y) + M i , x, y ∈ M i−1 e

(r + M ) · (x + M i ) = rx + M i , r ∈ R, x ∈ M i−1 .
k−1
Logo, de | MM k | = 2 vem que R ∼
= Z2 .
M
k−2 |M k−2 |
M
Se k ≥ 4, então | M k−1 | = 2
e, assim, |M k−2 | = 2q, q ∈ N∗ e q > 1, uma vez que
M k−1 = {0, a} ⊆ M k−2 . Desta forma, |M k−2 | ≥ 4. Daı́, para b, c ∈ M k−2 \ M k−1 , com b 6= c,
como M 2k−4 = (M k−2 )2 = M k−2 M k−2 ⊆ M k−2 , obtemos bc ∈ M 2k−4 ⊆ M k = {0}, pois
2k − 4 ≥ k. Logo, bc = 0, um absurdo. Concluı́mos então que M 3 = {0} e, assim, |M 2 | ≤ 2.
Neste caso, como R ∼
= Z2 , devemos ter |M | =
|R|
. Mas, pela Proposição 1.37, M é um p-
M 2

grupo e, desse modo, p = 2 e |M | = 2t , para algum t ∈ N. Portanto, |Γ(R)| = |M ∗ | = 2t −1. u


t

43 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 44

O Lema 2.26 nos mostrou que se K é um corpo finito, então Γ(Z2 × K) é um grafo estrela
de ordem |K|. Veremos agora que, exceto para grafos estrelas de ordem pequena (como os
dados nos exemplos no inı́cio do capı́tulo), esta é a única forma que um grafo estrela pode
ser realizado como Γ(R).

Teorema 2.36. ([6]) Seja R um anel finito com |Γ(R)| ≥ 4. Então Γ(R) é um grafo estrela
se, e somente se, R ∼
= Z2 × K, onde K é um corpo finito. Em particular, se Γ(R) é um grafo
estrela, então |Γ(R)| = pn para algum primo p e inteiro n ≥ 0. Reciprocamente, cada grafo
estrela de ordem pn pode ser realizado como Γ(R).

Demonstração: Se R ∼
= Z2 × K, com K um corpo finito, segue da Proposição 2.26 que
Γ(R) é um grafo estrela, com |Γ(R)| = pn , para algum primo p e inteiro n ≥ 0.

Suponhamos que Γ(R) seja um grafo estrela. Se R não é isomorfo a Z2 × K, então


(pelo Corolário 2.28 e lema anterior) R é um anel local com ideal maximal M = D(R),
com R ∼
= Z2 . Da demonstração do lema anterior obtemos que M = Ann(x), para algum
M

x ∈ M ∗ . Ainda, M é um 2-grupo e, assim, |M | = 2t , para algum t ∈ N. Mas, por hipótese,


|Γ(R)| = |M ∗ | ≥ 4, donde t ≥ 3, ou seja, |M | ≥ 8 . Além disso, M 2 = {0, x}.

Podemos tomar então a, b, c, d ∈ M ∗ \ {x} dois a dois distintos. Sabemos que ab, ac, ad ∈
M 2 = {0, x}. Como x é o único vértice adjacente a todos os outros vértices e Γ(R) é um grafo
estrela, temos que Ann(a) \ {a} = {0, x} e ab = ac = ad = x. Então, a(b − c) = a(b − d) = 0,
ou seja, b−c, b−d ∈ Ann(a). Mas notemos que Ann(a) é um subgrupo aditivo de M . Assim,
|Ann(a)| = 2s , para algum inteiro s ≥ 1. Logo, a ∈
/ Ann(a), o que implica Ann(a) = {0, x}.
Sendo b 6= c e b 6= d, devemos ter b − c = b − d = x, donde c = d, uma contradição. Portanto,
R∼
= Z2 × K. u
t

2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos

O objetivo desta seção é estudar os grafos divisores de zero r-partidos completos, r ≥ 2.


Em um primeiro momento, estudaremos os grafos bipartidos completos, destacando alguns
grafos deste tipo que podem ser realizados como Γ(R). Na segunda parte do capı́tulo, daremos

44 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 45

atenção aos grafos divisores de zero r-partidos completos, com r ≥ 3. Determinaremos para
quais inteiros r ≥ 3, existe um anel R tal que Γ(R) é r-partido completo e exibiremos
algumas propriedades de um grafo divisor de zero com esta forma. Veremos ainda que
algumas informações acerca do anel podem ser obtidas quando o grafo divisor de zero deste
anel é um grafo r-partido completo, r ≥ 3.

Iniciamos esta seção com um resultado que generaliza o Lema 2.26 dado na seção 2.3.

Proposição 2.37. ([6]) Sejam A e B domı́nios de integridade e R = A × B. Então Γ(R) é


um grafo bipartido completo. No caso em que A e B são finitos, temos que Γ(R) é finito e
|Γ(R)| = |A| + |B| − 2.

Demonstração: Sejam V1 = {(a, 0) : a ∈ A∗ } e V2 = {(0, b) : b ∈ B ∗ }. Então, dados


x = (a, 0) ∈ V1 e y = (0, b) ∈ V2 , temos que xy = (0, 0). Logo V1 ∪ V2 ⊆ D(R)∗ e cada vértice
de V1 é adjacente a todo vértice de V2 .

Consideremos agora x = (a1 , b1 ) ∈ D(R) \ {(0, 0)}. Então existe y = (a2 , b2 ) ∈ R \ {(0, 0)}
tal que xy = (0, 0), isto é, (a1 , b1 )(a2 , b2 ) = (0, 0). Logo, a1 a2 = 0 e b1 b2 = 0. Como A é
um domı́nio de integridade, devemos ter a1 = 0 ou a2 = 0. Se a1 = 0, então b1 6= 0 (pois
x 6= (0, 0)) e, assim, x = (0, b1 ) ∈ V2 . Se a1 6= 0, então a2 = 0. Neste caso, teremos b2 6= 0,
pois y 6= (0, 0). Como B também é um domı́nio de integridade e b1 b2 = 0, temos que b1 = 0,
donde x = (a1 , 0) ∈ V1 . Logo, D(R)∗ ⊆ V1 ∪ V2 e, assim, temos a igualdade D(R)∗ = V1 ∪ V2 .
Claramente, V1 ∪ V2 é uma união disjunta. Do fato de A e B serem domı́nios de integridade
segue que os vértices de V1 não podem ser adjacentes entre si e nem os vértices V1 podem ser
adjacentes a vértices de V2 . Portanto, Γ(R) é um grafo bipartido completo.

Se A e B forem finitos, então Γ(R) finito e, fazendo uma contagem simples, temos
|Γ(R)| = |V (Γ(R))| = |V1 | + |V2 | = |A| − 1 + |B| − 1 = |A| + |B| − 2. u
t

Se A = Z2 na proposição anterior, então V (Γ(R)) = {(1, 0)} ∪ V2 (união disjunta) com


V2 = {(0, b) : b ∈ B ∗ }. Assim, Γ(R) é um grafo estrela com |Γ(R)| = |Z2 | + |B| − 2 = |B|, o
que já sabı́amos pelo Lema 2.26.

Considerando que F4 = {0, 1, α, α + 1} é um corpo com quatro elementos, apresentamos


nas Figuras 2.18 e 2.19 dois grafos divisores de zero bipartidos completos.

45 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 46

Figura 2.18: Γ(F4 × Z5 ) ' K3,4 Figura 2.19: Γ(Z3 × Z7 ) ' K2,6

No resultado a seguir, vemos mais uma condição suficiente para que um anel tenha um
grafo divisor de zero bipartido completo.

Teorema 2.38. Seja R um anel. Se existem P1 , P2 ∈ Spec(R) tais que P1 ∩ P2 = {0}, então
R é reduzido e Γ(R) é bipartido completo.

Demonstração: Suponhamos que existam P1 , P2 ∈ Spec(R) tais que P1 ∩ P2 = {0}. Então,


T
R é reduzido, pois N il(R) = P ∈Spec(R) P ⊆ P1 ∩ P2 = {0}.

Afirmamos que P1 , P2 ∈ Ass(R). De fato, como R não é domı́nio de integridade, temos


que P1 6= {0} e P2 6= {0}. Desse modo, P1 ∩ P2 = {0} implica que existem elementos não
nulos a ∈ P1 \ P2 e b ∈ P2 \ P1 . Então Ann(b) = P1 . Com efeito, se x ∈ Ann(b), então
xb = 0 ∈ P1 ∩ P2 . Notemos que x 6= b, pois se tivéssemos x = b, terı́amos b2 = 0, o que
contradiz o fato de R ser reduzido. Como P1 é primo e b ∈
/ P1 , seque que x ∈ P1 . Por outro
lado, se z ∈ P1 , então zb ∈ P1 ∩ P2 = {0} e daı́ z ∈ Ann(b). Assim, temos a igualdade
Ann(b) = P1 . Analogamente, mostra-se que Ann(a) = P2 e, assim, P1 , P2 ∈ Ass(R).

Vamos mostrar agora que P1 ∪ P2 = D(R). Como P1 , P2 ∈ Ass(R), é imediata a inclusão


P1 ∪ P2 ⊆ D(R). Tomemos então x ∈ D(R) e vamos supor, por absurdo, que x ∈
/ P 1 ∪ P2 .
Seja y ∈ R∗ tal que xy = 0. Então xy ∈ P1 ∩ P2 . Como x ∈
/ P1 , x ∈
/ P2 e P1 e P2 são primos,
devemos ter y ∈ P1 ∩ P2 = {0}, o que é um absurdo, visto que y 6= 0. Logo, P1 ∪ P2 = D(R).

Consideremos V1 = P1 \ {0} e V2 = P2 \ {0}. Então, Γ(R) é bipartido com a partição


V1 ∪ V2 . De fato, suponhamos que existam t, w ∈ V1 tais que {t, w} ∈ E(Γ(R)). Então,
tw = 0, donde tw ∈ P1 ∩ P2 . Como P2 é primo, devemos ter t ∈ P2 ou w ∈ P2 . Supondo, sem
perda de generalidade, que t ∈ P2 , obtemos que t ∈ P1 ∩ P2 = {0}, o que é uma contradição,
pois t ∈ P1 \ {0}. Assim, não existe em Γ(R) uma aresta formada por dois elementos de

46 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 47

V1 . Analogamente, mostramos que não existe uma aresta formada por dois elementos de V2 .
Logo, Γ(R) é bipartido. Neste caso, se tomarmos a ∈ V1 e b ∈ V2 , teremos ab ∈ P1 ∩P2 = {0},
donde obtemos que Γ(R) é um grafo bipartido completo. u
t

Se R é um anel tal que Γ(R) é bipartido completo, não podemos garantir que existem
P1 , P2 ∈ Spec(R) tais que P1 ∩ P2 = {0}. Por exemplo, Γ(Z8 ) é bipartido completo (Γ(Z8 ) '
K1,2 , pela Figura 2.7). Mas, Spec(Z8 ) = {(2)}, pois Z8 é local com ideal maximal (2) e, em
um anel finito, todo ideal primo é maximal.

Notemos que Z8 não é reduzido. No caso em R é reduzido, a recı́proca do teorema anterior


é verdadeira. É o que nos diz o próximo resultado.

Teorema 2.39. ([15]) Seja R um anel reduzido. Se Γ(R) é bipartido, então existem P1 , P2 ∈
Spec(R) tais que P1 ∩ P2 = {0}.

Demonstração: Suponhamos que Γ(R) seja um grafo bipartido, com partição V1 ∪ V2 .


Mostremos inicialmente que V1 ∪ {0} é um ideal de R. De fato, sejam x ∈ V1 ∪ {0} e r ∈ R.
Então, existe t ∈ R∗ tal que xt = 0. Se rx = 0, então é claro que rx ∈ V1 ∪ {0}. Se rx 6= 0,
temos que rx ∈ V1 , pois t ∈ V2 , (rx)t = r(xt) = 0 e Γ(R) é bipartido.

Tomemos agora x, y ∈ V1 ∪ {0}. Se x = 0, y = 0 ou x = y, então é imediato que


x − y ∈ V1 ∪ {0}. Suponhamos então que x 6= 0, y 6= 0 e que x 6= y. Sendo Γ(R) bipartido
e conexo, existem t, s ∈ V2 (não necessariamente distintos) tais que xt = 0 = ys. Assim,
xst − yst = (x − y)st = 0. Notemos que st 6= 0, pois R é reduzido. Daı́, st ∈ V2 , pois
y(st) = (ys)t = 0, y ∈ V1 e Γ(R) é bipartido. Desse modo, usando novamente o fato de que
Γ(R) é bipartido, temos que x − y ∈ V1 . Assim, V1 ∪ {0} é um ideal.

Mostremos agora que V1 ∪ {0} é um ideal primo. Seja ab ∈ V1 ∪ {0}. Então, existe t ∈ V2
tal que abt = 0. Se bt = 0, então b ∈ V1 ∪ {0}. Se bt 6= 0, temos bt ∈ V2 , donde a ∈ V1 ∪ {0}.
Logo, V1 ∪ {0} é um ideal primo de R.

De modo análogo podemos mostrar que V2 ∪ {0} é um ideal primo de R. Assim, temos
V1 ∪ {0} e V2 ∪ {0} dois ideais primos distintos de R tais que P1 ∩ P2 = {0}. u
t

A partir de agora, estudaremos os grafos r-partidos completos, com r ≥ 3. Iniciamos este

47 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 48

estudo mostrando que a Proposição 2.37 não pode ser generalizada para grafos r-partidos
completos, com r ≥ 3. Ou seja, se tivermos R1 , . . . , Rr domı́nios de integridade, r ≥ 3 e
R ≈ R1 × . . . × Rr , então Γ(R) não pode ser um grafo r-partido completo.

Proposição 2.40. Sejam R1 , . . . , Rr domı́nios de integridade, com r ≥ 2. Consideremos o


anel R = R1 × . . . × Rr . Então, Γ(R) é r-partido, mas não pode ser r-partido completo.

Demonstração: Dado x = (x1 , . . . , xr ) ∈ D(R)∗ , devemos ter xi 6= 0, para algum i ∈


{1, . . . , r}. Consideremos V1 = {x ∈ D(R)∗ : x1 6= 0}. Para cada i ∈ {2, . . . , r}, de-
Si−1
finamos Vi = {x ∈ D(R)∗ \ ( j=1 Vi ) : xi 6= 0}. Temos que cada Vi =
6 ∅, pois se
ei = (0, . . . , 0, 1, 0, . . . , 0) tem 1 na i-ésima coordenada de R, então ei ∈ Vi . Claramente
vemos que D(R)∗ = ri=1 Vi é uma união disjunta. Consideremos agora x = (x1 , . . . , xr ), y =
S

(y1 , . . . , yr ) ∈ D(R)∗ tais que xy = 0. Seja j ∈ {1, . . . , r} o menor ı́ndice tal que xj 6= 0.
Então, x ∈ Vj e yj = 0, pois xj yj = 0 e Rj é um domı́nio de integridade. Disso resulta
que y ∈
/ Vj . Logo, dois vértices adjacentes de Γ(R) estão em partes distintas da partição de
D(R)∗ . Assim, Γ(R) é r-partido.

Suponhamos que r ≥ 3 e consideremos x = (0, 1, 1, . . . , 1), y = (1, 0, 1, . . . , 1) ∈ D(R)∗ .


Então, xy 6= 0, pois ambos possuem a terceira coordenada igual a 1. Podemos notar que
Ann(x) ∩ Ann(y) = {(0, . . . , 0)}. Assim, d(x, y) = 3, donde vem que diam(Γ(R)) = 3. Sa-
bemos que um grafo r-partido completo, r ≥ 2, tem diâmetro no máximo igual a 2. Logo,
Γ(R) não pode ser r-partido completo se r ≥ 3. u
t

Nesta dissertação, já vimos alguns exemplos de grafos divisores de zero r-partidos comple-
tos, r ≥ 3. Na seção anterior, mostramos que para qualquer primo p e qualquer inteiro n ≥ 1,
n −1
existe um anel R tal que Γ(R) é isomorfo ao grafo completo K p . Tais grafos divisores
de zero são (pn − 1)-partidos completos, considerando que cada vértice de Γ(R) forma uma
parte da partição desse grafo. Porém, não existem apenas grafos divisores de zero r-partidos
completos com esta forma. No próximo exemplo, apresentamos um grafo divisor de zero
r-partido, com r ≥ 3, que possui uma de suas partes contendo mais do que um elemento.

Exemplo 2.41. Sejam p um número primo e n um inteiro positivo e consideremos Fpn um


Fpn [x,y]
corpo com pn elementos. Então o anel R = (xy,y 2 −x)
tem como grafo divisor de zero um

48 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 49

grafo pn -partido completo. De fato, primeiramente, notemos que, como y 2 = x, devemos


ter x2 = y 2 x = y(xy) = 0. Omitindo as barras, vemos que todo elemento de R é da forma
r = ax + by + c, com a, b, c ∈ Fpn . Desse modo, temos que:

(i) Se c 6= 0, então r ∈ U (R).

Com efeito, sendo d o inverso de c em R temos q = (b2 d3 − ad2 )x − bd2 y + d 6= 0 e


rq = (ax + by + c)([b2 d3 − ad2 ]x − bd2 y + d) = adx − b2 d2 y 2 + bdy + cb2 d3 x − acd2 x −
bcd2 y + cd = adx − b2 d2 y + bdy + b2 d2 x − adx − bdy + cd = 1

(ii) Se c = 0, então r ∈ D(R).

Basta notarmos que (ax + by)x = ax2 + bxy = 0

Logo, D(R) = {ax + by : a, b ∈ Fpn }. Escrevendo Fpn = {1 = a1 , a2 , . . . , apn−1 , apn = 0},


vemos que as pn partes de Γ(R) são V1 = {x}, V2 = {a2 x}, V3 = {a3 x}, . . . , Vpn−1 = {apn−1 x}
e Vpn = {ax + by : b 6= 0}.
Z3 [x,y]
Na Figura 2.20, temos o grafo divisor de zero do anel R = (xy,y 2 −x)
, um grafo 3-partido
completo.

Z3 [x,y]
Figura 2.20: Γ( (xy,y 2 −x) )

Antes do próximo resultado, vamos fixar a seguinte notação: se Γ(R) é um grafo r-partido
completo, denotaremos por V1 , . . . , Vr as suas r partes (os r elementos da partição).

O próximo resultado descreve algumas propriedades de um grafo divisor de zero r-partido


completo, bem como algumas propriedades de um anel que possui como grafo divisor de zero
um grafo com esta forma.

49 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 50

Teorema 2.42. ([1]) Seja R um anel. Se Γ(R) é um grafo r-partido completo, com r ≥ 3,
então no máximo uma de suas partes possui mais do que um vértice. Ainda, se Vi contém
um único vértice, digamos Vi = {x}, então x2 = 0 e o ideal gerado por x é finito. Mais:
D(R) ∈ M ax(R) ∩ Ass(R), onde M ax(R) denota o conjunto dos ideais maximais de R.

Demonstração: Por absurdo, vamos supor que existam duas partes distintas de Γ(R),
digamos Vt e Vs , ambas contendo mais do que um vértice. Tomemos x ∈ Vt e y ∈ Vs . Sendo
r ≥ 3, existe Vl distinta de Vt e Vs . Dado z ∈ Vl , temos que Ann(z) ⊆ Ann(x) ∪ Ann(y).
De fato, se a ∈ Ann(z), então a ∈
/ Vl (pois Γ(R) é r-partido). Logo, a ∈ Vk , para algum
k ∈ {1, . . . , r} \ {l}. Se k 6= t e k 6= s, então ax = ay = 0, donde a ∈ Ann(x) ∩ Ann(y). Se
k = t, então a ∈
/ Vs e daı́ ay = 0, ou seja, a ∈ Ann(y). Se k = s, obtemos que a ∈ Ann(x).
Assim, Ann(z) ⊆ Ann(x) ∪ Ann(y).

Afirmamos ainda que, neste caso, Ann(z) ⊆ Ann(x) ou Ann(z) ⊆ Ann(y). De fato,
vamos supor que existe a ∈ Ann(z) tal que a ∈
/ Ann(y). Consideremos b ∈ Ann(z). Vamos
mostrar que b ∈ Ann(x). Com efeito, como a, b ∈ Ann(z), temos que a + b ∈ Ann(z) ⊆
Ann(x) ∪ Ann(y). Se a + b ∈ Ann(x), então b = a + b − a ∈ Ann(x). Se a + b ∈ Ann(y),
então b ∈ Ann(x), pois se b ∈ Ann(y), teremos a = a + b − a ∈ Ann(y), uma contradição.
Logo, Ann(z) ⊆ Ann(x), donde vem que Ann(z) ⊆ Ann(x) ou Ann(z) ⊆ Ann(y).

Sem perda de generalidade, vamos supor que Ann(z) ⊆ Ann(x). Desse modo, conside-
rando w ∈ Vt \ {x}, temos que w ∈ Ann(z) ⊆ Ann(x), ou seja, wx = 0, o que contradiz o
fato de Γ(R) ser r-partido. Logo, no máximo uma parte de Γ(R) possui um único vértice.

Para provarmos a segunda afirmação, vamos assumir que Vi seja uma das partes de Γ(R)
que possuem um único vértice, digamos Vi = {x}. Como Γ(R) é r-partido completo, temos
que D(R) \ {x} ⊆ Ann(x). Seja y ∈ Vj , para algum j ∈ {1, . . . , r} \ {i}. Como r ≥ 3, existe
um vértice z adjacente aos vértices x e y. Então, xz = yz = 0 e (x + y)z = 0. Claramente,
x 6= x + y. Assim, 0 = (x + y)x = x2 + xy, donde x2 = 0. Logo, x ∈ Ann(x). Como
consequência, temos Ann(x) = D(R). Logo, pela Proposição 1.24, D(R) é um ideal primo.

Sabemos que todo grafo r-partido admite uma r-coloração própria (Proposição 1.42).
Assim, temos aqui que χ(Γ(R)) é finito. Pelo Teorema 2.21, Γ(R) não possui um clique
infinito. Como x2 = 0, temos que (ax)(bx) = abx2 = 0, para quaisquer ax, bx ∈ (x). Desse

50 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 51

modo, se (x) fosse infinito, (x) seria um clique infinito de Γ(R), o que não ocorre. Logo,
devemos ter que o ideal (x) é finito

Consideremos f : R −→ (x) o homomorfismo sobrejetor de R-módulos definido por


f (a) = ax. Claramente ker(f ) = Ann(x) e, assim, R ∼
= (x). Daı́, visto que (x) é
Ann(x)
R R
finito, Ann(x)
é finito. Sendo Ann(x) = D(R) um ideal primo, concluı́mos que Ann(x)

um domı́nio finito e, portanto, um corpo. Logo, D(R) é um ideal maximal de R, donde
D(R) ∈ M ax(R) ∩ Ass(R). u
t

Tendo em vista este último teorema e o comentário feito no parágrafo que antecede o
Exemplo 2.41, vamos fixar a seguinte notação: se Γ(R) é r-partido completo, com r ≥ 3,
então as partes V1 , V2 , . . . , Vr−1 possuem um único elemento, enquanto a parte Vr é a parte
que pode possuir mais do que um vértice.

O próximo resultado nos diz que se Γ(R) é um grafo r-partido completo infinito, então r
é uma potência de algum número primo e o nilradical de R pode ser determinado a partir
de seu grafo divisor de zero.

Teorema 2.43. ([1]) Seja R um anel infinito tal que Γ(R) é r-partido completo, com r ≥ 3.
Então N il(R) = r−1
S
i=1 Vi ∪ {0} é um ideal primo, Ass(R) = {N il(R), D(R)} e |N il(R)| =

r = pt , para algum primo p e algum inteiro t. Mais: para todo x ∈ Vr , (x) ⊆ Vr ∪ {0}.

Demonstração: Da prova do Teorema 2.42, vimos que D(R) ∈ Ass(R), com D(R) =
Ann(x), para todo x ∈ r−1
S
i=1 Vi .

Consideremos Q = [ r−1
S
i=1 Vi ] ∪ {0}, que é um ideal da forma Q = Ann(z), para qualquer

z ∈ Vr . Afirmamos que Q ∈ Spec(R). De fato, suponhamos que Q não é primo. Então,


Ass(R) = {D(R)}. De fato, tomemos Ann(a) ∈ Ass(R). Como Ann(a) é primo, temos
Ann(a) 6= R. Assim, a 6= 0 e, portanto, a ∈ D(R)∗ . Se a ∈ Vi , para algum i ∈ {1, . . . , r − 1},
então Ann(a) = D(R). Se a ∈ Vr , então Ann(a) = Q, que não é primo, uma contradição.
Assim, Ass(R) = {D(R)}.

Sabemos, pela Proposição 1.42, que χ(Γ(R)) é finito. Pelo item (iv) do Teorema 2.24,
T
temos que M in(R) ⊆ Ass(R). Logo, M in(R) = {D(R)} e, assim, N il(R) = P ∈M in(R) P =
D(R). Como χ(Γ(R)) é finito, temos N il(R) finito e daı́ D(R) é finito, o que contradiz o

51 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 52

fato de R ser infinito (Teorema 2.11). Logo, Q é um ideal primo de R.

Afirmamos agora que Ass(R) = {Q, D(R)}. De fato, seja Ann(a) ∈ Ass(R) \ {D(R)}.
Então, Ann(a) ( D(R). Assim, existe z ∈ D(R) tal que z ∈
/ Ann(a), ou seja, az 6= 0.
Devemos ter então que a, z ∈ Vr , donde Ann(a) = Q. Assim, Ass(R) = {Q, D(R)}.

Ainda, temos que Q é o único primo minimal de R, pois M in(R) ⊆ Ass(R). Desse modo,
segue da Proposição 1.6 que Q = N il(R).

Consideremos agora x ∈ V1 . Sabemos f : R → (x) dada por f (r) = rx é um epimorfismo


de R-módulos, com ker(f ) = Ann(x) = D(R). Assim, R ∼
= (x). Vimos na demonstração
D(R)
R
do Teorema 2.42 que (x) é finito. Assim, D(R)
é um corpo finito. Logo, existem um primo p
R
e um inteiro k ≥ 1 tais que | D(R) | = pk .
R
Observemos agora que, como D(R)N il(R) = {0}, N il(R) é um D(R)
-espaço vetorial. De
fato, consideremos o produto por escalar rx = rx. Tal operação está bem definida, pois se
r1 = r2 , então r1 − r2 ∈ D(R). Assim, como D(R)N il(R) = {0}, teremos (r1 − r2 )x = 0,
para todo x ∈ N il(R), donde r1 x = r2 x e o produto por escalar fica bem definido.
R
Como N il(R) é um D(R)
-espaço vetorial de dimensão finita (pois N il(R) é finito), N il(R)
R R
é isomorfo a um produto direto de um número finito de cópias de D(R)
. Como | D(R) | = pk ,
temos |N il(R)| = pt , para algum inteiro positivo t.

Por fim, tomemos x ∈ Vr . Sabemos que, para qualquer y ∈ R, xy ∈ D(R). Desse


modo, se xy 6= 0, então xy ∈ V (Γ(R)). Suponhamos que, para algum y ∈ R, tenhamos
xy ∈ r−1 ∗ m
S
i=1 Vi = N il(R) . Assim, (xy) = 0, para algum inteiro m ≥ 2. Como N il(R) é
/ N il(R) (pois x ∈ Vr ), temos que y ∈ N il(R)∗ . Mas, isto implica que
um ideal primo e x ∈
xy = 0, uma contradição. Logo, para todo x ∈ Vr , devemos ter que (x) ⊆ Vr ∪ {0}. u
t

A partir de agora, nesta seção, estudaremos grafos divisores de zero r-partidos completos
finitos. O próximo resultado nos diz que anéis finitos que possuem grafos divisores de zero
com esta forma devem ser locais e apresenta ainda algumas propriedades desses grafos.

Teorema 2.44. ([1]) Seja R um anel finito tal que Γ(R) é um grafo r-partido completo, com
r ≥ 3. As seguintes afirmações são verdadeiras:

(i) R é um anel local;

52 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 53

(ii) Se |Vr | ≥ 2, então existe um número primo p e inteiros t ≥ 0 e k ≥ 0 tais que r = pt e


|R| = pk ;

(iii) Se |Vr | ≥ 2, então para todo z ∈ Vr , temos z 2 6= 0 e z 3 = 0;

(iv) Para todo x ∈ Vr e para todo y ∈ D(R), temos que xy ∈


/ Vr .

Demonstração: (i) Sendo Γ(R) um grafo r-partido completo com r ≥ 3, R não pode ser
isomorfo a um anel da forma Z2 × F , com F um corpo, pois se isso ocorresse, terı́amos Γ(R)
bipartido (pelo Teorema 2.37) e, neste caso, r = 2. Logo, pelo Corolário 2.28, R é local.

(ii) Pelo item (i) e pela Proposição 1.37, existem um número primo p e um inteiro k ≥ 0
tais que |R| = pk . Como |Vr | ≥ 2, podemos escolher vértices distintos x, y ∈ Vr . Sendo
Sr−1
Ann(x) ∩ Ann(y) = i=1 Vi ∪ {0} um ideal de R, devemos ter que |Ann(x) ∩ Ann(y)| =
Sr−1
| i=1 Vi ∪ {0}| é uma potência de p, digamos pt , para algum inteiro positivo t. Daı́, r é
também uma potência de p. De fato, se i 6= r, então |Vi | = 1. Daı́, | r−1
S
i=1 Vi | = r − 1. Assim,

pt = | r−1
S Sr−1 t
i=1 Vi ∪ {0}| = | i=1 Vi | + 1 = r − 1 + 1 = r, donde r = p .

(iii) Sejam x, y ∈ Vr vértices distintos. Sabemos, pelo item anterior, que |R| = pk ,
com p primo e k ≥ 0 inteiro, donde vem que todo ideal de R deve ser uma potência de
p. Desse modo, |(Ann(x) ∩ Ann(y))| = ps , para algum inteiro s ≥ 0. Suponhamos que
exista z ∈ Vr tal que z 2 = 0. Então, Ann(z) = {z} ∪ (Ann(x) ∩ Ann(y)) é um ideal, mas
|Ann(z)| = |{z}| + |(Ann(x) ∩ Ann(y))| = 1 + ps , o que nos dá uma contradição. Logo,
z 2 6= 0, para todo z ∈ Vr .

Mostremos que z 3 = 0. Notemos que, sendo R um anel local finito, D(R) = N il(R) (pelo
Teorema 1.36). Consideremos n o menor inteiro positivo tal que z n = 0. Por absurdo, vamos
supor que n ≥ 4. Então, z n−1 ∈
/ Vr , pois z n = 0. Agora, como n ≥ 4 implica 2n − 4 ≥ n, não
podemos ter z n−2 ∈ Vr , pois (z n−2 )2 = z 2n−4 = 0. Mas disso resulta que 0 = zz n−2 = z n−1 , o
que contradiz a minimalidade de n. Portanto, z 3 = 0.

(iv) Suponhamos que existam x, y ∈ Vr tais que xy ∈ Vr . Como y 3 = 0 e y 2 6= 0 (pelo


item anterior), temos que (xy)y = xy 2 = 0, o que nos dá uma contradição com o fato de
Γ(R) ser r-partido. Agora, se x ∈ Vr e y ∈ D(R) \ Vr , então é claro que xy = 0 ∈
/ Vr . u
t

53 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 54

Por este último resultado, pelos Teoremas 2.43 e 2.32, pelo Exemplo 2.41 e pelo comentário
feito no parágrafo anterior a este mesmo exemplo, podemos afirmar que:

(i) existe um anel R tal que Γ(R) é um grafo divisor de zero r-partido completo, com
r ≥ 3 e todas as partes da partição de Γ(R) contendo um único vértice se, e somente
se, r = pn − 1, para algum primo p e algum inteiro n ≥ 2;

(ii) existe um anel R tal que Γ(R) é um grafo divisor de zero r-partido completo, com r ≥ 3
e |Vr | ≥ 2 se, e somente se, r = pn , para algum primo p e algum inteiro n ≥ 1.

Terminamos esta seção com um resultado que nos diz quais são os anéis finitos que
possuem um grafo p-partido completo como grafo divisor de zero quando p é um primo
ı́mpar. Para mostrarmos tal resultado, precisaremos do seguinte lema:

Lema 2.45. ([1]) Se R um anel finito. Suponha que Γ(R) é um grafo r-partido completo,
com r ≥ 3. Então |D(R)| ≤ r2 .

Demonstração: Seja x ∈ Vr e tomemos a função f : D(R) −→ Ann(x) dada por f (a) = ax.
Pelo item (iv) do Teorema 2.44, f está bem definida. Claramente vemos que f é um ho-
momorfismo de R-módulos. Se |Vr | = 1, então |D(R)| = r + 1 ≤ r2 . Se |Vr | ≥ 2, então
|Ann(x)| = r. Como ker(f ) = Ann(x), obtemos também |D(R)| ≤ r2 . u
t

Teorema 2.46. ([1]) Sejam R um anel finito e p 6= 2 um número primo tal que Γ(R) é
p-partido completo. Então |Γ(R)| = p2 , |R| = p3 e R é isomorfo a um dos seguintes anéis:
Zp Zp2 [y]
Zp3 , (xy,y 2 −x)
ou (py,y 2 −ps)
, para algum s ∈ {1, . . . , p − 1}.

Demonstração: Suponhamos |Vp | ≥ 2 e tomemos z ∈ Vp . Pelo Teorema 2.44, temos que


|Ann(z)| = p e, assim, |D(R)| = pt , para algum inteiro t ≥ 2. Pelo Lema 2.45, sabemos que
|D(R)| ≤ p2 . Daı́, p2 ≤ |D(R)| ≤ p2 , donde |D(R)| = p2 .

Consideremos agora a ∈ Ann(z), a 6= 0 e o epimorfismo de R-módulos f : R → (a) dado


por f (r) = ra. Como a 6= 0 e a ∈
/ Vp (já que az = 0 e z ∈ Vp ), temos que {a} é uma parte da
p-partição de Γ(R), donde a2 = 0 e a é adjacente aos demais vértices, ou seja, f (r) = ar = 0,
para todo r ∈ D(R). Logo, ker(f ) = D(R).

54 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 55

Ainda, como a ∈ Ann(z), temos que (a) ⊆ Ann(z). Desse modo, R ∼


= (a) ⊆ Ann(z),
D(R)
|R| |R|
donde vem que |D(R)|
≤ |Ann(z)| = p. Temos então |D(R)|
= p e, assim, |R| = p3 .

Agora, seja y0 ∈ Vp . Então, y02 = x0 6= 0 e y03 = 0 (pelo Teorema 2.44). Com isso, obtemos
que x20 = (y02 )2 = y0 y03 = 0. Analisemos os seguintes casos:

Caso 1: Char(R) = p

Dado um inteiro k ≥ 0, denotemos por k · 1 o elemento de R obtido a partir da soma de


k termos todos iguais a identidade 1 do anel. Então, S = {1R , 2 · 1, 3 · 1, . . . , p · 1 = 0} ⊆ R é
um subanel de R. Sabemos que S é isomorfo ao anel Zp . Daı́, podemos escrever S = Zp

Seja A = {ax0 + by0 : a, b ∈ Zp }. Como x0 (ax0 + by0 ) = 0, temos que A ⊆ D(R). Vamos
mostrar que os elementos de A são dois a dois distintos. Tomemos ax0 +by0 , cx0 +dy0 ∈ A tais
que ax0 +by0 = cx0 +dy0 . Afirmamos que a = c e b = d. Com efeito, multiplicando por y0 em
ambos os lados da igualdade x0 (c−a) = y0 (b−d), obtemos 0 = y03 (c−a) = y02 (b−d) = x0 (b−d),
donde vem que b − d = 0 e b = d (pois b − d ∈ Zp e x0 6= 0). Assim, (a − c)x0 = 0, donde
a = c. Logo, os elementos de A são dois a dois distintos. Fazendo uma contagem simples,
temos que |A| = p2 e, como A ⊆ D(R), obtemos a igualdade A = D(R).

Consideremos agora B = {a + bx0 + cy0 : a, b, c ∈ Zp }. Se a + bx0 + cy0 = d + ex0 + f y0 ,


então a − d = x0 (e − b) + y0 (f − c). Multiplicando por x0 em ambos os lados desta última
equação, temos x0 (a − d) = x20 (e − b) + x0 y0 (f − c) = y04 (e − b) + y03 (f − c) = 0, donde a − d = 0
e a = d. Logo, bx0 + cy0 = ex0 + f y0 . Com o mesmo raciocı́nio empregado no parágrafo
anterior, obtemos b = e e c = f . Assim, R = B.
Zp [x,y]
Podemos ver que os elementos de (xy,y 2 −x)
são da forma ax + by + c, com a, b, c ∈ Zp ,
Zp [x,y]
visto que x2 = y 3 = y 2 = y = xy. Mostremos agora que h : (xy,y 2 −x)
→ R dada por
h(ax + by + c) = ax0 + by0 + c é um isomorfismo.
Zp [x,y]
Omitindo as barras dos elementos de (xy,y 2 −x)
, vamos mostrar primeiramente que h está
bem definida. Se a+bx+cy = d+ex+f y, então a−d+(b−e)x+(c−f )y ∈ (xy, y 2 −x). Logo,
existem polinômios α = α(x, y), β = β(x, y) ∈ Zp [x, y] tais que a − d + (b − e)x + (c − f )y =
αxy + βy 2 − βx, donde a − d + (b − e + β)x + (c − f )y − αxy − βy 2 = 0. Disso resulta que a = d
e c = f . Escrevendo β = r + s(x, y), com r o termo constante e s(x, y) os termos envolvendo
x ou y, temos que 0 = (b−e+β)x−αxy −βy 2 = (b−e+r +s(x, y))x−αxy −(r +s(x, y))y 2 =

55 -
2.5 Grafos divisores de zero r-partidos completos 56

(b − e + r)x + s(x, y)x − αxy − ry 2 − s(x, y)y 3 , donde b − e + r = 0 e r = 0. Logo, b = e e,


portanto, h está bem definida.
Zp [x,y]
Claramente, h é um homomorfismo sobrejetor. Como os elementos de (xy,y 2 −x)
são da
forma a + bx + cy, com a, b, c ∈ Zp , e |R| = p3 , concluı́mos que R ∼
=
Zp [x,y]
(xy,y 2 −x)
.

Caso 2: Char(R) = p2 .

Como p2 = 0, temos que p = p · 1 ∈ D(R) \ Vp . Assim, py0 = 0. Consideremos o


subanel de S = {1, 2 · 1, 3 · 1, . . . , p2 · 1 = 0} de R isomorfo a Zp2 . Escrevendo simplesmente
S = {1, 2, 3, . . . , p2 = 0}, seja T = {0, 1, . . . , (p − 1) · 1} ⊆ S. Vemos que K = {ap + by0 :
a, b ∈ T } ⊆ D(R), pois p(ap + by0 ) = 0. Utilizando o mesmo raciocı́nio do caso 1, temos que
os elementos de K são dois a dois distintos. Assim, |K| = p2 , donde K = D(R).

Como y02 6= 0 e y0 y02 = 0, temos que existem s, t ∈ T tais que y02 = sp + ty0 , donde
0 = y0 (y02 − sp) = ty02 . Como t ∈ T e py0 = 0, devemos ter t = 0. Assim, y02 = ps, para algum
s ∈ T = {1, 2, . . . , p}.

Assim, como no Caso 1, podemos verificar que os elementos de D = {a + by0 : a ∈ S, b ∈


T } são dois a dois distintos, donde R = D. O homomorfismo f : Zp2 [y] → R dado por
Zp2 [y]
f (γ(y)) = γ(y0 ) induz um homomorfismo h : (py,y 2 −ps)
→ R dado por h(γ(y)) = γ(y0 ), pois
Zp2 [y]
(py, y 2 − ps) ⊆ Ker(f ). Mostremos que h é injetora. Sejam a + by, c + dy ∈ (py,y 2 −ps)
tais
Pn
que h(a + by) = h(c + dy), ou seja, a + by0 = c + dy0 . Então existem α(y) = j=0 aj yj e
β(y) = m 2
P
k=0 bk yk polinômios de Zp2 [y] tais que (a−c)+(b−d)y = α(y)py+β(y)y −β(y)ps =

a0 py + a1 py 2 + . . . + an py n + b0 y 2 + b1 y 3 + . . . + bm y m+2 − b0 ps − b1 psy − . . . − bm psy m , donde


vem que 0 = a1 p+b0 −b2 ps. Assim, o inteiro p divide b0 , ou seja, b0 = pw, para algum w ∈ Z.
Como a − c = −b0 ps = −p2 ws, temos a − c = 0, ou seja, a = c. Agora, b − d = a0 p − b1 ps.
Como a2 p + b1 − b3 ps = 0, segue que p divide b1 . Assim, sendo p2 = 0, temos b − d = a0 p.
Zp2 [y]
Logo, p divide b − d, donde b − d = 0. Logo, h é injetora e temos assim que R ∼
= (py,y 2 −ps)
.

Caso 3: Char(R) = p3

Temos neste caso que R = {1, 2 · 1, 3 · 1, . . . , p3 · 1 = 0}, que, por sua vez, é isomorfo ao
anel Zp3 . u
t

56 -
2.6 Ciclos e cintura 57

2.6 Ciclos e cintura

Nesta seção, estudaremos os ciclos e a cintura de um grafo divisor de zero. Inicialmente,


determinaremos para quais inteiros n ≥ 3, o grafo C n pode ser realizado como Γ(R). Na
sequência, trataremos da questão da cintura de Γ(R). Apresentaremos um resultado que nos
garante que todo grafo divisor de zero que possui um ciclo não pode ter cintura maior do que
4. Ao final da seção, veremos o que pode ser dito a respeito da cintura de Γ(R) a partir do
conjunto de primos associados do anel R.

Iniciamos esta seção com um resultado acerca dos ciclos de um grafo divisor de zero. Já
vimos, nos exemplos 2.4 e 2.7, que Γ(R) pode ser um 3-ciclo ou um 4-ciclo. No entanto, Γ(R)
não pode ser um n-ciclo se n ≥ 5. Tal fato está provado na seguinte proposição.

Proposição 2.47. ([6]) Para todo n ≥ 5, Γ(R) não pode ser um n-ciclo.

Demonstração: Suponhamos que exista um anel R tal que D(R)∗ = {a1 , a2 , · · · , an } e


E(Γ(R)) = {{ai , ai+1 } : 1 ≤ i ≤ n − 1} ∪ {{an , a1 }} com n ≥ 5. Dado i ∈ {1, . . . , n − 2}, te-
mos que (ai +ai+2 )ai+1 = ai ai+1 +ai+2 ai+1 = 0, ou seja, ai +ai+2 ∈ D(R) = {0, a1 , a2 , . . . , an }.
Mas, notemos que se ai +ai+2 = 0, então 0 = (ai +ai+2 )ai+3 = ai ai+3 +ai+2 ai+3 = ai ai+3 , o que
não ocorre. Também não ocorrem os casos ai +ai+2 = ai e ai +ai+2 = ai+2 , pois se tivéssemos
tais igualdades, terı́amos ai+2 = 0 e ai = 0, respectivamente. Ainda, se ai + ai+2 = aj , para
j ∈ {1, . . . , i − 1} ∪ {i + 3, . . . , n}, então ai+1 aj = ai+1 (ai + ai+2 ) = ai+1 ai + ai+1 ai+2 = 0,
donde {ai+1 , aj } ∈ E(Γ(R)), um absurdo. Desse modo, devemos ter ai+1 = ai + ai+2 .
Analogamente, obtemos que ai+2 = ai+1 + ai+3 . Assim, ai+1 = ai + ai+2 = ai + ai+1 + ai+3
e disso resulta que ai + ai+3 = 0. Logo, ai+1 ai+3 = ai+1 (−ai ) = 0, o que é uma contradição. u
t

O próximo exemplo destaca que, para cada n ≥ 3, existe um grafo divisor de zero que
contém um n-ciclo.
Z2 [x1 ,··· ,xn ]
Exemplo 2.48. Seja Rn = I
, onde I = (x21 , · · · , x2n , x1 x2 , x2 x3 , · · · , xn x1 ). Podemos
ver que Γ(Rn ) tem um n-ciclo, a saber, x1 x2 · · · xn x1 , pois para todo 1 ≤ i ≤ n, (xi +
I)(xi+1 + I) = xi xi+1 + I = 0 + I e (xn + I)(x1 + I) = xn x1 + I = 0 + I.

Muitos grafos divisores de zero não possuem ciclos. Por exemplo, os grafos divisores de

57 -
2.6 Ciclos e cintura 58

zero que são grafos estrela (dados no Lema 2.26). No entanto, o próximo resultado afirma
que, quando um grafo divisor de zero possui um ciclo, sua cintura é igual a 3 ou 4.

Teorema 2.49. ([15] e [21]) Seja R um anel tal que Γ(R) contém um ciclo. Então gr(Γ(R)) ≤
4.

Demonstração: Sabemos que diam(Γ(R)) ≤ 3 (pelo Teorema 2.9). Então, segue da


Proposição 1.40 que gr(Γ(R)) ≤ 2 · diam(Γ(R)) + 1 ≤ 7. Por absurdo, vamos supor que
n = g(Γ(R)) = 5, 6 ou 7. Tomemos v1 v2 . . . vn v1 um ciclo de comprimento minimal em Γ(R).
Então, v1 v3 6= 0. De fato, se tivéssemos v1 v3 = 0, terı́amos em Γ(R) o ciclo v1 v3 . . . vn v1 , que
tem comprimento menor que o comprimento do ciclo v1 v2 . . . vn v1 . Logo, v1 v3 6= 0 e, assim,
v1 v3 ∈ V (Γ(R)).

Se para todo i ∈ {1, . . . , n}, tivéssemos v1 v3 6= vi , então Γ(R) conteria um ciclo de


comprimento 4 v2 v3 v4 (v1 v3 )v2 , pois v2 (v1 v3 ) = v1 (v2 v3 ) = 0 e v4 (v1 v3 ) = v1 (v4 v3 ) = 0. Mas
isto não ocorre. Desse modo, devemos ter v1 v3 = vi , para algum i ∈ {1, . . . , n}.

Vamos mostrar agora que v1 v3 ∈


/ {v2 , v4 , vn }. De fato, se tivéssemos v1 v3 = v2 , terı́amos
v2 v4 = v1 v3 v4 = 0 e v2 v3 v4 v2 seria um ciclo de comprimento 3 < n de Γ(R), o que é um
absurdo. Assim, v1 v3 6= v2 . Se ocorresse a igualdade v1 v3 = v4 , Γ(R) conteria o 3-ciclo
v2 (v1 v3 )v3 v2 , o que é uma contradição. Por fim, vemos que se v1 v3 = vn , terı́amos em Γ(R)
o 3-ciclo v2 (v1 v3 )v1 v2 , o que não ocorre. Logo, v1 v3 ∈
/ {v2 , v4 , vn }.

Assim, v1 v3 é adjacente aos vértices v2 , v4 e vn . Se ocorre v1 v3 = v1 , obtemos o 4-ciclo


(v1 v3 )v2 v3 v4 (v1 v3 ). Se v1 v3 = v3 , o 4 ciclo obtido é vn v1 v2 (v1 v3 )vn No caso em que v1 v3 6= v1
e v1 v3 6= v3 , Γ(R) contém o 4-ciclo (v1 v3 )v2 v3 v4 (v1 v3 ). Obtemos um absurdo. Portanto,
devemos ter g(Γ(R)) ≤ 4. u
t

Na sequência desta seção, veremos que algumas informações acerca da cintura de Γ(R)
podem ser obtidas a partir de uma análise acerca da cardinalidade do conjunto dos primos
associados de um anel R. Vejamos inicialmente o que podemos dizer acerca da cintura de
um grafo divisor de zero de um anel que possui mais do que dois primos associados.

Proposição 2.50. ([1]) Se |Ass(R)| ≥ 3, então gr(Γ(R)) = 3.

58 -
2.6 Ciclos e cintura 59

Demonstração: Sejam P1 = Ann(x1 ), P2 = Ann(x2 ) e P3 = Ann(x3 ) três ideais primos


associados distintos. Pelo Lema 2.17, temos que x1 x2 = x1 x3 = x2 x3 = 0. Daı́, Γ(R) contém
o 3-ciclo x1 x2 x3 x1 e, assim, gr(Γ(R)) = 3. u
t

Veremos agora os casos em que um anel R possui exatamente dois primos associados.

Proposição 2.51. ([1]) Suponhamos que R seja um anel tal que Ass(R) = {P1 , P2 }, com
|P1 |, |P2 | ≥ 3 e P1 ∩ P2 = {0}. Então gr(Γ(R)) = 4.

Demonstração: Sejam x1 , x2 ∈ R∗ tais que P1 = Ann(x1 ), P2 = Ann(x2 ). Pelo Lema


2.17, x1 x2 = 0. Tomemos a ∈ P1 \ {0, x2 } e b ∈ P2 \ {0, x1 }. Então, ab ∈ P1 ∩ P2 = {0}.
Assim, Γ(R) contém o 4-ciclo ax1 x2 ba. Pelo Teorema 2.38, Γ(R) é bipartido completo com
partição D(R)∗ = (P1 \ {0}) ∪ (P2 \ {0}). Desse modo, Γ(R) não possui um 3-ciclo. Logo,
gr(Γ(R)) = 4. u
t

Observação 2.52. Seja P um ideal primo qualquer de R. Então, qualquer aresta de Γ(R)
tem pelo menos um vértice em P . De fato, se x e y são vértices adjacentes em Γ(R), então
xy = 0 ∈ P , donde x ∈ P ou y ∈ P .

Desse modo, se |P | = 2, temos que R ∼


= Z2 × A, com A um domı́nio, ou D(R) é um ideal
(primo) anulador (pelo Teorema 2.27). Além disso, se P ∈ Spec(R) e |P | = 2, devemos ter
gr(Γ(R) = ∞.

Teorema 2.53. ([1]) Se R é um anel tal que Ass(R) = {P1 , P2 } com P1 ∩ P2 6= {0} e
|P1 ∩ P2 | ≥ 3, então gr(Γ(R)) = 3.

Demonstração: Sejam x1 , x2 ∈ R∗ tais que P1 = Ann(x1 ) e P2 = Ann(x2 ). Suponhamos


|P1 ∩ P2 | ≥ 3. Se existir a ∈ (P1 ∩ P2 ) \ {0, x1 , x2 }, então ax1 = ax2 = 0 e, assim, Γ(R) possui
o 3-ciclo ax1 x2 a, visto que x1 x2 = 0 (Lema 2.18). Logo, gr(Γ(R)) = 3.

Vamos supor agora que não existe a ∈ (P1 ∩ P2 ) \ {0, x1 , x2 }. Desse modo, devemos ter
P1 ∩ P2 = {0, x1 , x2 }. Como P1 ∩ P2 é um ideal, −x1 ∈ P1 ∩ P2 . Assim, −x1 = x1 ou
−x1 = x2 . Como P1 6= P2 , não podemos ter −x1 = x2 . Daı́, −x1 = x1 e, assim, {0, x1 } é
subgrupo de P1 ∩P2 de ordem 2, o que é um absurdo, pois 2 não divide |P1 ∩P2 | = 3. Logo, se

59 -
2.6 Ciclos e cintura 60

|P1 ∩ P2 | ≥ 3, sempre existirá a ∈ (P1 ∩ P2 ) \ {0, x1 , x2 } e, desse modo, temos gr(Γ(R)) = 3. u


t

Teorema 2.54. ([1]) Suponhamos que Ass(R) = {P1 , P2 } com |P1 ∩ P2 | = 2 e P1 = Ann(x1 )
e P2 = Ann(x2 ).

(i) Se existe a ∈ (P1 ∩ P2 ) \ {0, x1 , x2 }, então gr(Γ(R)) = 3;

(ii) Se P1 ∩ P2 = {0, x1 } ou P1 ∩ P2 = {0, x2 }, temos os seguintes casos:

(a) Se |P1 | = 2 ou |P2 | = 2, então gr(Γ(R)) = ∞.

(b) Se |P1 | > 2 e |P2 | > 2, então gr(Γ(R)) = 3.

Demonstração: (i) Segue de modo análogo ao primeiro parágrafo da demonstração do


teorema anterior.

(ii) Sem perda de generalidade, vamos supor aqui que P1 ∩ P2 = {0, x1 }. Desse modo,
x2 ∈ P1 (pois x1 x2 = 0) e x2 ∈
/ P2 .

Se |P1 | = 2 ou |P2 | = 2, da Observação 2.52 segue que gr(Γ(R)) = ∞. Suponhamos então


que |P1 | > 2 e |P2 | > 2. Assim, existe x3 ∈ P2 \P1 . Logo, x1 x3 6= 0, donde x1 x3 = y ∈ D(R)∗ .
Como P1 ∩ P2 é um ideal e x1 ∈ P1 ∩ P2 , obtemos que x1 x3 ∈ P1 ∩ P2 , ou seja, y ∈ Ann(x1 ).
Temos então o 3-ciclo x1 x2 yx1 e, assim, gr(Γ(R)) = 3. u
t

O último resultado desta seção trata da cintura de um anel finito.

Teorema 2.55. ([1]) Se R é um anel finito tal que |R| ≥ 10 e |Ass(R)| = 1, então
gr(Γ(R)) = 3.

Demonstração: Como |R| ≤ |D(R)|2 (Proposição 1.38) e |R| ≥ 10, temos que |Γ(R)| ≥ 3.
Se |Γ(R)| = 3, pelos Exemplos 2.4 e 2.7 e pela Observação 2.8, concluı́mos que R é isomorfo
a um dos seguintes anéis:

Z2 [x]
(i) Z6 , Z8 , , Z4 [x]
(x3 ) (x2 −2,2x)

F4 [x]
(ii) , Z4 [x] , Z4 [x] , Z2 [x,y]
(x2 ) (x2 +x+1) (2,x)2 (x,y)2

60 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 61

Os anéis dados em (i) têm K1,2 como grafo divisor de zero. Já os anéis que aparecem em
(ii) têm K 3 como grafo divisor de zero. Mas, notemos que os quatro anéis do item (i) não
possuem mais do que 9 elementos (pelo Exemplo 2.7) e, assim, não satisfazem a hipótese
|R| ≥ 10. Logo, R é isomorfo a um dos quatro dados em (ii) e, assim, gr(Γ(R)) = 3.

Vamos supor agora que |Γ(R)| ≥ 4. Tomemos P = Ann(x) ∈ Ass(R). Como R é No-
S
etheriano, da Observação 1.33 segue que D(R) = P ∈Ass(R) P = Ann(x). Então x é um
vértice adjacente aos demais vértices. Se existirem a, b ∈ V (Γ(R)) \ {x} tais que a 6= b
e ab = 0, então Γ(R) possui um 3-ciclo xabx, donde gr(Γ(R)) = 3. Se Γ(R) é um grafo
estrela, então R ≈ Z2 × F , com F um corpo finito (pelo Teorema 2.36). Mas, neste caso,
Ass(R) = {{0} × F, Z2 × {0}} = {Ann((1, 0)), Ann((0, 1))}. Logo, não podemos ter Γ(R)
um grafo estrela. Portanto, gr(Γ(R)) = 3. u
t

2.7 Raio, centro e número de dominação

Nesta seção, exibiremos alguns resultados obtidos por S. P. Redmond em [22] sobre raio,
centro e número de dominação de um grafo divisor de zero. Começaremos apresentando
uma classificação dos anéis Noetherianos a partir dos raios dos grafos divisores de zero desses
anéis. Em um segundo momento, restringiremos nosso estudo aos anéis Artinianos. Veremos
que o raio de Γ(R) pode ser relacionado com o diâmetro desse grafo e apresentaremos uma
propriedade de um vértice central de um grafo divisor de zero de um anel Artiniano local.
Ao final da seção, veremos que algumas informações acerca de R podem ser obtidas a partir
do número de dominação de Γ(R).

O primeiro resultado desta seção nos diz como são os anéis Noetherianos que possuem
grafos divisores de zero com raio igual a 0 ou 1.

Proposição 2.56. ([22]) Seja R um anel Noetheriano que não é um domı́nio. Então:

(i) rad(Γ(R)) = 0 se, e somente se, R ∼


= Z4 ou R ∼
=
Z2 [x]
(x2 )
.

(ii) rad(Γ(R)) = 1 se, e somente se, D(R) é um ideal de R ou R ∼


= Z2 × A, com A um
domı́nio de integridade.

61 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 62

(iii) Se R é finito, então rad(Γ(R)) = 1 se, e somente se, R é local ou R ≈ Z2 × K, para


algum corpo finito K.

Demonstração: (i) Pela Observação 2.8, Γ(R) possui um único vértice se, e somente se,
R ≈ Z4 ou R ∼
=
Z2 [x]
(x2 )
. Vamos mostrar então que rad(Γ(R)) = 0 se, e somente se, Γ(R) possui
um único vértice. De fato, se rad(Γ(R)) ≥ 1, então devem existir dois vértices distintos x e
y em Γ(R) tais que d(x, y) = rad(Γ(R)) e, assim, |Γ(R)| ≥ 1. Por outro lado, se Γ(R) possui
dois vértices distintos (ou mais), então rad(Γ(R)) ≥ 1, pois Γ(R) é conexo.

(ii) Suponhamos que rad(Γ(R)) = 1. Então existe um vértice de Γ(R) adjacente aos
demais vértices. Pelo Teorema 2.27 e pela Proposição 1.30, isso acontece se, e somente se,
D(R) é um ideal (anulador) ou R ∼
= Z2 × A, com A um domı́nio de integridade.

Reciprocamente, se R ∼
= Z2 × A, para algum domı́nio de integridade A, então (1, 0) é
um vértice adjacente aos demais vértices (pelo Lema 2.26). Daı́, e((1, 0)) = 1 e, assim,
rad(Γ(R)) = 1. Suponhamos que D(R) é um ideal. Como R é Noetheriano, temos que D(R)
é um ideal anulador de R, ou seja, D(R) = Ann(a), para algum a ∈ R∗ . Assim e(a) = 1,
donde rad(Γ(R)) = 1.

(iii) Segue diretamente do item (ii) acima e do corolário 2.28. u


t

Dado um anel R, sabemos que rad(Γ(R)) ≤ diam(Γ(R)) ≤ 3. No caso em que R é


Noetheriano, o resultado dado a seguir nos garante que o raio de Γ(R) nunca é igual a 3.

Teorema 2.57. ([22]) Seja R um anel Noetheriano. Então rad(Γ(R)) ≤ 2.

Demonstração: Se D(R) é um ideal, da Proposição 2.56 segue que rad(Γ(R)) = 1. Vamos


supor então que D(R) não é um ideal e analisar os seguintes casos:

Caso 1: R é um anel reduzido.

Como R é Noetheriano, da Proposição 1.22 obtemos que M in(R) é finito, digamos


M in(R) = {P1 , . . . , Pn }. Sendo R reduzido, a Proposição 1.28 nos garante que D(R) =
Sn
i=1 Pi e n ≥ 2. Pelo Lema 1.5, para cada j ∈ {1, . . . , n}, podemos escolher
n
\
yj ∈ ( Pi ) \ Pj .
i=1
i6=j

62 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 63

Dado x ∈ D(R)∗ , temos que x ∈ Pm , para algum m ∈ {1, . . . , n}. Seja


n
\
ym ∈ ( P i ) \ Pm .
i=1
i6=m

Tn
Então, xym ∈ Pi = N il(R) = {0}. Logo, xym = 0 e d(x, ym ) = 1.
i=1

Notemos que se j 6= m, então ym yj ∈ ni=1 Pi = {0}, donde ym yj = 0. Afirmamos


T

agora que xyj 6= 0, para algum j ∈ {1, . . . , n} \ {m}. De fato, vamos supor que xyj = 0,
para todo j ∈ {1, . . . , n} \ {m}. Então xyj ∈ {0} = ni=1 Pi , ou seja, xyj ∈ Pi , para todo
T

i ∈ {1, . . . , n} \ {m}. Assim, para todo j ∈ {1, . . . , n} \ {m}, temos que xyj ∈ Pj . Como Pj é
primo, obtemos que x ∈ Pj . Mas x ∈ Pm e disso resulta que x ∈ ni=1 Pi = {0}, um absurdo.
T

Logo, xyj 6= 0, para algum j ∈ {1, . . . , n} \ {m}.

Para este yj , temos que d(x, yj ) = 1, se j = m. Se j 6= m, então d(x, yj ) = 2.

Caso 2: R é não reduzido.

Neste caso, como R é Noetheriano, da Observação 1.33 e da Proposição 1.22 segue que
S
P ∈Ass(R) P = D(R), com Ass(R) = {P1 , . . . , Pn } finito. Assim, para cada i ∈ {1, . . . , n},
existe ai ∈ R∗ tal que Pi = Ann(ai ). Como R é não reduzido, existe v ∈ R∗ tal que
v ∈ N il(R) = ni=1 Pi = ni=1 Ann(ai ). Daı́, vai = 0, para todo i ∈ {1, . . . , n}. Agora, dado
T T

x ∈ D(R), temos que x ∈ Pj = Ann(aj ), para algum j ∈ {1, . . . , n}. Desse modo, se xv = 0,
então d(x, v) = 1. Se vx 6= 0, como xaj = 0 = aj v, temos que d(v, x) = 2

Em qualquer um dos casos, temos rad(Γ(R)) ≤ 2. u


t

Com estes últimos resultados, podemos classificar os anéis Noetherianos de acordo com o
raio do grafo divisor de zero desses anéis do seguinte modo:

(i) Rad(Γ(R)) = 0 se, e somente se, R ∼


= Z4 ou R ∼
=
Z2 [x]
(x2 )
;

(ii) Rad(Γ(R)) = 1 se, e somente se, D(R) é um ideal de R ou R ∼


= Z2 × A, com A um
domı́nio de integridade;

(iii) Rad(Γ(R)) = 2 se, e somente se, D(R) não é um ideal e R não é isomorfo ao anel Z4 ,
Z2 [x]
nem ao anel (x2 )
.

63 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 64

A partir de agora, trataremos apenas de anéis Artinianos. Devemos observar que quando
R é Artiniano, pelo Teorema 1.14, podemos escrever R de modo único (a menos de isomor-
fismo) como um produto direto finito de anéis Artinianos locais, digamos R = R1 × . . . × Rk .
Eventualmente, Ri pode ser um corpo, para algum i ∈ {1, 2, . . . , n}. No restante da seção,
escreveremos a decomposição Artiniana de R como R = R1 × . . . × Rn × F1 × . . . × Fm , com
R1 , . . . , Rn anéis locais Artinianos que não são corpos e F1 , . . . , Fm corpos.

O próximo resultado relaciona o raio e o diâmetro de um grafo divisor de zero de um anel


Artiniano. Antes de enunciarmos tal resultado, devemos observar que, a partir de agora,
escreveremos algumas vezes x ∈ G para indicar que x é um vértice do grafo G.

Teorema 2.58. [22] Seja R um anel Artiniano. As seguintes afirmações são verdadeiras:

(i) rad(Γ(R)) = 0 se, e somente se, diam(Γ(R)) = 0 se, e somente se, R ∼


= Z4 ou
R∼ Z [x]
= 22 ;
(x )

(ii) Se rad(Γ(R)) = 1, então diam(Γ(R)) = 1 se, e somente se, Γ(R) é completo. Caso
contrário, diam(Γ(R) = 2;

(iii) Se rad(Γ(R)) = 2, então diam(Γ(R)) = 2 se, e somente se, R ∼


= F1 × F2 , com F1 e
F2 corpos ambos não isomorfos a Z2 . Caso contrário, diam(Γ(R)) = 3.

Demonstração:

(i) Segue da demonstração do item (i) da Proposição 2.56.

(ii) Se rad(Γ(R)) = 1, então existe um vértice adjacente aos demais. Assim, diam(Γ(R)) ≤
2 e Γ(R) não é um grafo nulo. Neste caso, diam(Γ(R)) = 1 se, e somente se, Γ(R) é completo.

(iii) Assumindo que rad(Γ(R)) = 2, temos que diam(Γ(R)) = 2 ou 3. Suponhamos


R∼
= F1 × F2 , com F1 e F2 corpos ambos não isomorfos a Z2 . Então |F1 | ≥ 3 e |F2 | ≥ 3. Desse
modo, Γ(F1 × F2 ) é bipartido completo e não é um grafo estrela. Então diam(Γ(R)) = 2.

Reciprocamente, suponhamos R não isomorfo a F1 ×F2 , com F1 e F2 corpos não isomorfos


a Z2 . Pelo Lema 1.44, devemos exibir x ∈ Γ(R) tal que x ∈
/ Cen(Γ(R)) e, com isso, teremos
diam(Γ(R)) = 3.

Seja R = R1 × . . . × Rn × F1 × . . . × Fm a decomposição Artiniana de R. Se n = 0 e


m = 2, então só podemos ter F1 ∼
= Z2 ou F2 ∼
= Z2 . Neste caso, Γ(R) é um grafo estrela e

64 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 65

rad(Γ(R)) = 1, o que não ocorre. Logo, não temos o caso n = 0 e m = 2. Analisemos então
os casos possı́veis.

Caso 1: n = 0 e m ≥ 3

Seja x = (0, 1, . . . , 1) ∈ D(R)∗ . Então x ∈


/ Cen(Γ(R)). De fato, y = (1, 0, 1, . . . , 1) ∈ Γ(R)
é tal que xy 6= 0 e Ann(x) ∩ Ann(y) = (0, . . . , 0) e, assim, d(x, y) = 3.

Caso 2: m = 0 e n ≥ 2

Para cada i ∈ {1, . . . , n}, tomemos ti ∈ Mi∗ , onde Mi é o único ideal maximal de Ri .
Seja x = (1, t2 , . . . , tn ) ∈ Γ(R). Então, y = (0, 1, . . . , 1) ∈ Γ(R) satisfaz xy 6= 0 e Ann(x) ∩
Ann(y) = (0, . . . , 0). Daı́ d(x, y) = 3.

Caso 3: m ≥ 1 e n ≥ 1

Seja x1 ∈ M1∗ . Consideremos x = (x1 , 0, . . . , 0, 1, 0, . . . , 0) ∈ Γ(R) com 1 na (n + 1)-ésima


coordenada. Tomando z = (1, . . . , 1, 0, 1, . . . , 1) com 0 na (n + 1)-ésima coordenada, teremos
xz 6= 0 e Ann(x) ∩ Ann(z) = (0, . . . , 0), donde d(x, y) = 3.

Em qualquer um dos três casos, temos x ∈


/ Cen(Γ(R)) e o resultado está provado. u
t

Exemplo 2.59. Seja R = Z × Z. Pela Proposição 2.37, Γ(R) é um grafo bipartido completo.
Vemos que rad(Γ(R)) = 2, diam(Γ(R)) = 2 e que R não é isomorfo a um produto direto de
dois corpos. Pelo item (iii) do Teorema 2.58, R não é Artiniano.

O próximo resultado apresenta uma propriedade de um vértice central de Γ(R) no caso


em que R é um anel Artiniano local.

Lema 2.60. Se R é um anel Artiniano local que não é um domı́nio e x ∈ Cen(Γ(R)), então
x2 = 0

Demonstração: Como R é local, temos que rad(Γ(R)) = 1 (Proposição 2.56). Suponhamos


que exista x ∈ Cen(Γ(R)) tal que x2 6= 0. Então e(x) = 1, ou seja, x é adjacente a qualquer
outro vértice de Γ(R). Pelo Lema 1.8, sabemos que R não possui elementos idempotentes
distintos de 0 e 1. Assim, x 6= x2 . Então x2 é um vértice de Γ(R) que é distinto do vértice
x. Então, devemos ter x3 = xx2 = 0.

65 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 66

Notemos agora que não podemos ter x + x2 = 0, pois se isso ocorresse, terı́amos x2 =
(−x2 )2 = x4 = 0. Também não podemos ter x + x2 = x. Assim, x + x2 é um vértice de Γ(R)
distinto do vértice x. Temos assim 0 = x(x + x2 ) = x2 + x3 = x2 , o que é uma contradição.
u
t

Se R é um anel Artiniano e não é local, não podemos afirmar que x2 = 0, para todo x ∈
Cen(Γ(R)). Por exemplo, consideremos o anel R = Z2 ×Z2 ×Z2 . Vemos que V (Cen(Γ(R))) =
{(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)}. Mas, R é reduzido e, daı́, x2 6= 0, para todo x ∈ Cen(Γ(R)). O
grafo divisor de zero de Z2 × Z2 × Z2 pode ser visto na Figura 2.21. Os vértices centrais de
Γ(Z2 × Z2 × Z2 ) estão destacados com uma cor mais clara.

Consideremos agora o anel S = Z4 × Z4 . Então V (Cen(Γ(S))) = {(2, 0), (0, 2), (2, 2)}.
Podemos ver que S é Artiniano e, para todo x ∈ Cen(Γ(S)), x2 = 0. No entanto, S não é
local. De fato, se S fosse local, seu ideal maximal seria D(S), pela Proposição 1.34. Porém
D(S) não é um ideal de S, pois (1, 0), (0, 1) ∈ D(S), mas (1, 0) + (0, 1) = (1, 1) ∈
/ D(S).
Assim, S não é local. O grafo divisor de zero de S está representado na Figura 2.22.

Figura 2.21: Γ(Z2 × Z2 × Z2 ) Figura 2.22: Γ(Z4 × Z4 ) Figura 2.23: Γ(Z2 × Z4 )

Passamos agora ao estudo dos conjuntos dominantes de Γ(R). Inicialmente, destacamos


algumas possı́veis relações entre o conjunto dominante minimal de um grafo divisor de zero
com os vértices centrais desse grafo.

Exemplo 2.61. Seja R = Z2 × Z2 × Z2 . Então V (Cen(Γ(R))) = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 1)}
é um conjunto dominante minimal Γ(R). No entanto, Γ(R) é dominado também por S =
{(0, 1, 1), (1, 1, 0), (1, 0, 1)} e vemos que V (Cen(Γ(R))) ∩ S = ∅. Ainda, Γ(Z2 × Z4 ) (Fi-
gura 2.23) possui como conjuntos dominantes minimais os conjuntos V (Cen(Γ(Z2 × Z4 ))) =

66 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 67

{(1, 0), (0, 2)} e B = {(1, 0), (1, 2)}.

O próximo resultado mostra que, em um anel Artiniano R com rad(Γ(R)) = 2, o número


de dominação de Γ(R) é igual ao número de fatores da decomposição Artiniana de R.

Teorema 2.62. [22] Seja R um anel Artiniano que não é um domı́nio. Se rad(Γ(R)) ≤ 1,
então γ(Γ(R)) = 1. Se rad(Γ(R)) = 2, então γ(Γ(R)) é igual ao número de fatores da
decomposição Artiniana de R.

Demonstração: Se rad(Γ(R)) = 0, o resultado é verdadeiro por vacuidade. Se rad(Γ(R)) =


1, então, para qualquer x ∈ Cen(Γ(R)), o conjunto {x} domina Γ(R), donde γ(Γ(R)) = 1.

Suponhamos então que rad(Γ(R)) = 2. Seja R = R1 × . . . × Rn × F1 × . . . × Fm a


decomposição Artiniana de R. Para cada i ∈ {1, . . . n}, fixemos xi ∈ Cen(Γ(Ri )) e consi-
deremos yi = (0, . . . , 0, xi , 0, . . . , 0) ∈ Γ(R), com xi na i-ésima coordenada de yi . Para cada
j ∈ {1, . . . m}, tomemos os elementos zj = (0, . . . , 0, 1, 0, . . . , 0) ∈ Γ(R), com 1 na (n + j)-
ésima coordenada de zj . Temos que o conjunto S = {y1 , . . . , yn , z1 , . . . , zm } domina Γ(R). De
fato, seja w = (a1 . . . , an , b1 . . . , bm ) ∈ Γ(R). Se para todo j ∈ {1, . . . , m}, tivermos bj 6= 0,
então teremos ak ∈ D(Rk )∗ , para algum k ∈ {1, . . . , n}. Como Rk é local e xk ∈ Cen(Γ(Rk )),
temos que e(xk ) = 1, donde xk ak = 0. Logo, yk w = 0. Se para algum j ∈ {1, . . . , m}, tiver-
mos bj = 0, então zj w = 0. Assim, qualquer vértice de Γ(R) pertence ao conjunto S ou é
adjacente a algum vértice de S, ou seja, S domina Γ(R).

Consideremos agora B um conjunto dominante de Γ(R). Observamos que |B| ≥ 2, pois


Γ(R) não contém um vértice adjacente aos demais vértices. Para cada k ∈ {1, . . . , n + m},
seja tk = (1, . . . , 1, 0, 1, . . . , 1) ∈ Γ(R), com 0 na k-ésima coordenada. Se tk ∈ B, para todo
k ∈ {1, . . . , n + m}, então |B| ≥ n + m. Vamos supor que exista k ∈ {1, . . . , n + m} tal
que tk ∈
/ B. Denotemos por P = {tk : tk ∈ B} e N = {tk : tk ∈
/ B}. Então P ∩ N = ∅
e |P | + |N | = n + m. Para cada tk ∈ N , existe sk = (0, . . . , 0, ck , 0, . . . , 0) ∈ B, com ck na
k-ésima coordenada tal que ck ∈ Rk∗ se k ∈ {1, . . . , n}, ou ck ∈ Fk∗ se k ∈ {n + 1, . . . , n + m}.
Notemos que sk ∈
/ P e se k 6= q, então sk 6= sq . Logo, para que B domine o conjunto Γ(R), é
preciso que B contenha no mı́nimo n + m elementos.

Como S domina Γ(R) e |S| = n + m, temos que γ(Γ(R)) = n + m, que é o número de


fatores da decomposição Artiniana de R. u
t

67 -
2.7 Raio, centro e número de dominação 68

Notemos agora que se rad(Γ(R)) = 1, pode não ser verdade que γ(Γ(R)) igual ao número
de fatores da decomposição Artiniana de R. De fato, se F é um corpo finito, temos que
R = Z2 × F é um anel com dois ideais maximais. Sabemos, pela demonstração do Teorema
de Estrutura dos Anéis Artinianos (Teorema 1.14) que o número de fatores da decomposição
Artiniana de um anel R é igual ao número de ideais maximais desse anel. Mas, neste caso,
Γ(R) é um grafo estrela e, portanto, seu número de dominação deve ser igual a 1.

No caso em que R é finito, o próximo resultado nos dá uma relação entre o número de
dominação de Γ(R) e o número de ideais maximais de R.

Corolário 2.63. [22] Seja R um anel finito e seja m o número de dominação de Γ(R). Se
Γ(R) não é um grafo estrela, então R tem m ideais maximais distintos. Se Γ(R) é um grafo
estrela, então R tem dois ideais maximais distintos ou então R é isomorfo a um dos seguintes
Z3 [x] Z2 [x] Z4 [x]
anéis: Z9 , (x2 )
, Z8 , (x3 )
ou (2x,x2 −2)
.

Em outras palavras, se Γ(R) é um grafo estrela, temos que:

(i) Se R é local, então R tem m ideais maximais;

(ii) Se R é reduzido, então R tem m + 1 ideais maximais.

Demonstração: Se Γ(R) não é um grafo estrela e rad(Γ(R)) = 0 ou 1, então R é local


e, portanto, m = 1. Se Γ(R) não é um grafo estrela e rad(Γ(R)) = 2, então m é igual ao
número de fatores da decomposição Artiniana de R (pelo teorema anterior). Neste caso, R
possui m ideais maximais distintos.

Se Γ(R) é um grafo estrela e |Γ(R)| ≥ 4, então pelo Teorema 2.36, temos que R ∼
= Z2 × F ,
com F um corpo finito. Neste caso, conforme destacamos no parágrafo anterior a este co-
rolário, R possui dois ideais maximais e número de dominação igual a 1. Os cinco anéis
listados no enunciado do teorema são os únicos anéis locais tais que |Γ(R)| < 4 e tais que
Γ(R) ' K1,1 ou Γ(R) ' K1,2 , conforme destacamos nos Exemplos 2.3 e 2.4 e na Observação
2.8. u
t

68 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 69

2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R)

Apresentaremos neste capı́tulo um estudo acerca da planaridade de Γ(R) realizado por


S. Akbari, H.R. Maiamani e S. Yassemi em [1]. O objetivo aqui é determinar quando que o
grafo divisor de zero de um anel finito é planar.

Dado R um anel finito, sabemos que R é Artiniano e que, desse modo, podemos escrever
R = R1 × . . . × Rn , com Ri um anel local finito, para todo i ∈ {1, . . . , n}. Pelo Teorema
1.14, o número fatores de uma decomposição Artiniana de R não depende da decomposição
escolhida. A planaridade de Γ(R) é analisada aqui a partir do número de fatores de uma
decomposição Artiniana de R. Vejamos os seguintes casos:

CASO 1: n ≥ 4.

Neste caso, Γ(R) não é planar. De fato, temos que os vértices do conjunto (R1 × R2 ×
{0} . . . × {0})∗ são adjacentes aos vértices do conjunto ({0} × {0} × R3 × . . . × Rn )∗ . Como
|(R1 × R2 × {0} . . . × {0})∗ | ≥ 3 e |({0} × {0} × R3 × . . . × Rn )∗ | ≥ 3, temos que K3,3 é
isomorfo a um subgrafo de Γ(R). Pelo Teorema 1.52, Γ(R) não é planar.

CASO 2: n = 3

Suponhamos inicialmente que |Ri | ≥ 4, para algum i = 1, 2, 3. Digamos que |R1 | ≥ 4.


Então, |R1 × {0} × {0}| ≥ 4. Como |{0} × R2 × R3 | ≥ 4, obtemos que K3,3 é isomorfo
a um subgrafo de Γ(R), pois os vértices de R1∗ × {0} × {0} são adjacentes aos vértices de
({0} × R2∗ × R3 ) ∪ ({0} × R2 × R3∗ ). Segue do Teorema 1.52 que Γ(R) não é planar.

Vamos supor agora que |Ri | ≤ 3, para todo i = 1, 2, 3. Então, R ≈ Z2 ou R ≈ Z3 .


Temos, assim, a menos de isomorfismo, quatro possı́veis grafos. Dentre estes, Z2 × Z2 × Z2
e Z2 × Z2 × Z3 são planares, conforme podemos observar nas Figuras 2.21 e 2.24.

Nas Figuras 2.25 e 2.26, exibimos, respectivamente, um subgrafo de Γ(Z2 × Z3 × Z3 ) e


um subgrafo de Γ(Z3 × Z3 × Z3 ). Notemos que ambos os subgrafos são isomorfos ao grafo
H dado no Exemplo 1.53. Neste mesmo exemplo, mostramos que H não é planar. Portanto,

69 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 70

Figura 2.24: Γ(Z2 × Z2 × Z3 )

por terem como subgrafo um grafo não planar, temos que Γ(Z2 × Z3 × Z3 ) e Γ(Z3 × Z3 × Z3 )
não são planares.

Figura 2.25: Subgrafo de Γ(Z2 × Z3 × Z3 ) Figura 2.26: Subgrafo de Γ(Z3 × Z3 × Z3 )

CASO 3: n = 2

Se |R1 |, |R2 | ≥ 4, escolhemos elementos dois a dois distintos a, b, c ∈ R1∗ e elementos


também dois a dois distintos x, y, z ∈ R2∗ . Neste caso, o subgrafo H de Γ(R) induzido pelos
vértices (0, a), (0, b), (0, c), (x, 0), (y, 0) e (z, 0) possui subgrafo isomorfo a K3,3 , donde segue
que Γ(R) não é planar.

Suponhamos então que |R1 | ≤ 3 ou |R2 | ≤ 3. Sem perda de generalidade, podemos supor
que |R1 | ≤ 3. Vamos analisar algumas possibilidades.

(1) Se R1 ∼
= Z2 .

70 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 71

Temos que se D|(R2 )| ≥ 5, então Γ(R) não é planar. De fato, como R2 é local, pelo
Corolário 2.28, Γ(R2 ) possui um vértice x adjacente aos demais vértices de Γ(R2 ). Escolhendo
a, b, c ∈ D(R2 ) \ {0, x} dois a dois distintos, teremos que o subgrafo de Γ(R) induzido pelos
vértices (0, a), (0, b), (0, c), (0, x), (1, 0) e (1, x) possui K3,3 como subgrafo. Assim, Γ(R) não
é planar.

Suponhamos que |D(R2 )| = 4, digamos D(R2 ) = {0, a, b, c}. Neste caso, podemos ter
Γ(R2 ) ' K3 ou Γ(R2 ) ' K1,2 . Se Γ(R2 ) ' K3 , então Cen(Γ(R2 )) = {a, b, c}, donde ab =
ac = bc = 0. Como R2 é Artiniano local, pelo Lema 2.60, temos a2 = b2 = c2 = 0. Podemos
ver então que os vértices do conjunto {(0, a), (0, b), (0, c)} são adjacentes aos vértices do
conjunto {(1, a), (1, b), (1, c)}. Logo, Γ(R) possui um subgrafo isomorfo a K3,3 , donde vem
que Γ(R) não é planar.

Suponhamos Γ(R2 ) ' K1,2 . Neste caso, Γ(R) é planar. Com efeito, pelo Exemplo 2.4
Z2 [x]
e pela Observação 2.8, temos que R2 é isomorfo a um dos seguintes anéis: Z6 , (x3 )
, Z8 ,
Z4 [x]
(x2 −2,2x)
. Pelas Figuras 2.27, 2.28, 2.29 e 2.30, temos que Γ(Z2 × R2 ) é planar.

Z2 [x]
Figura 2.27: Γ(Z2 × Z6 ) Figura 2.28: Γ(Z2 × (x3 )
)

Se |D(R2 )| = 3, então, pelo Exemplo 2.3 e pela Observação 2.8, R2 é isomorfo a um dos
Z3 [x]
seguintes anéis: Z2 × Z2 , Z9 ou (x2 )
. Destes, apenas Z2 × Z2 não é local. Exibimos os grafos
Z3 [x]
planares Γ(Z2 × Z9 ) e Γ(Z2 × (x2 )
) nas Figuras 2.31 e 2.32, respectivamente.

Se |D(R2 )| = 2, então R2 ∼
= Z4 ou R2 ∼
=
Z2 [x]
(x2 )
(pela Observação 2.8) e, neste caso, Γ(R)
também é planar, conforme podemos ver nas Figuras 2.23 e 2.33. Se |D(R2 )| = {0}, então,

71 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 72

 
Z4 [x]
Figura 2.29: Γ(Z2 × Z8 ) Figura 2.30: Γ Z2 × (x2 −2,2x)

 
Z3 [x]
Figura 2.31: Γ(Z2 × Z9 ) Figura 2.32: Γ Z2 × (x2 )

R2 é domı́nio e daı́ Γ(R) é um grafo estrela (pelo Lema 2.26), que claramente é planar.

 
Z2 [x]
Figura 2.33: Γ Z2 × (x2 )

(2) R1 ∼
= Z3 .

Suponhamos que D|(R2 )| ≥ 4. Como R2 é local finito, pelo Corolário 2.28 e pelo Lema
2.60, existe x ∈ D(R2 )∗ adjacente aos demais vértices e tal que x2 = 0. Escolhendo a, b ∈
D(R2 )\{0, x} distintos, temos que os vértices do conjunto {(1, x), (2, x), (1, 0)} são adjacentes
aos vértices do conjunto {(0, x), (0, a), (0, b)}. Logo, Γ(R) contém um subgrafo isomorfo a

72 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 73

K3,3 . Pelo Teorema 1.52, Γ(R) não é planar.

Se |D(R2 )| = 3, sabemos que R2 ∼


= Z9 ou R2 ∼
=
Z3 [x]
(x2 )
. As Figuras 2.34 e 2.35 mostram
que, neste caso, Γ(R) é planar.

 
Z3 [x]
Figura 2.34: Γ(Z3 × Z9 ) Figura 2.35: Γ Z3 × (x2 )

Z2 [x]
Se |D(R2 | = 2, então R2 ≈ Z4 ou R2 ≈ (x2 )
. Considerando as Figuras 2.36 e 2.37, vemos
que Γ(R) é planar.

 
Z2 [x]
Figura 2.36: Γ(Z3 × Z4 ) Figura 2.37: Γ Z3 × (x2 )

Se |D(R2 )| = {0}, então R2 é um domı́nio de integridade finito e, portanto, um corpo


finito. Neste caso, denotando P = {(1, 0), (2, 0)} e Q = {(0, α) ∈ R : α ∈ U (R2 )}, temos

73 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 74

que Γ(R) é um grafo bipartido completo com partição V (Γ(R)) = P ∪ Q e Γ(R) ' K2,n−1 ,
com n = |R|. Logo, Γ(R) é planar.

CASO 4: n=1

Neste caso, R é um anel local. Estudaremos agora esse caso. Para demonstrarmos os
resultados que enunciaremos a seguir, faremos uso de alguns fatos expostos na Proposição
1.37. Destacamos tais fatos na próxima observação.

Observação 2.64. Se (R, M ) é um anel local finito, então existe um número primo p e
R
inteiros não negativos t, l, k tais que char(R) = pt , |M | = pl , |R| = pk e char( M ) = p.

R
Teorema 2.65. Seja (R, M ) um anel local finito, com M 6= {0} e | M | ≥ 4. Se |M | ≥ 7 ou
|R| ≥ 26, então Γ(R) não é planar.

Demonstração: Pela Proposição 1.36, temos que M = D(R). Do fato de R ser Artiniano
e da Observação 1.33 segue que M ∈ Ass(R). Então, M = Ann(x), para algum x ∈ R∗ .
R
Como | M | ≥ 4, existem distintos u1 , u2 , u3 ∈ U (R) tais que u1 x, u2 x e u3 x são distintos e
R
Ann(u1 x) = Ann(u2 x) = Ann(u3 x) = M . De fato, tomemos u1 , u2 , u3 ∈ U ( M ) dois a dois
distintos. Sejam u1 , u2 e u3 representantes de u1 ,u2 , u3 , respetivamente. Claramente vemos
que u1 6= u2 , u1 6= u3 e u2 6= u3 (pois as suas classes são duas a duas distintas). Também,
u1 x 6= u2 x, pois se tivéssemos u1 x = u2 x, terı́amos (u1 − u2 )x = 0, ou seja, u1 − u2 ∈
Ann(x) = M , o que implicaria em u1 = u2 . Analogamente, mostramos que u1 x 6= u3 x e
u2 x 6= u3 x. Ainda, dado a ∈ M , temos que ax = 0. Daı́, axu1 = axu2 = axu3 = 0, donde
obtemos que Ann(u1 x) = Ann(u2 x) = Ann(u3 x) = M .

Se |M | ≥ 7, então existem elementos distintos y1 , y2 , y3 ∈ M \ {u1 x, u2 x, u3 x, 0} cada um


deles adjacente aos elementos u1 x, u2 x e u3 x. Daı́ K3,3 é um subgrafo de Γ(R) e, assim, Γ(R)
não é planar.

Suponhamos agora |M | ≤ 6 e |R| ≥ 26. Pela Observação 2.64, devemos ter |M | ≤ 5.


R
Daı́ | M | ≥ 6. Assim, existem elementos invertı́veis u1 , . . . , u5 ∈ R tais que u1 x, . . . , u5 x
são distintos e Ann(u1 x) = . . . = Ann(u5 x) = M . Então, u1 x, . . . , u5 x são adjacentes em
Γ(R) e, assim, K5 é um subgrafo de Γ(R). Pelo Teorema 1.52, temos que Γ(R) não é planar. u
t

74 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 75

O próximo lema apresenta algumas caracterı́sticas de um anel local finito que tem como
grafo divisor de zero um grafo planar.

Lema 2.66. Seja (R, M ) um anel local finito tal que Γ(R) é planar. Temos que

R
(i) Se | M | = 2, então M 4 = {0}

R
(ii) Se | M | = 3, então M 3 = {0}

Demonstração: (i) Se M = {0}, o resultado é imediato. Suponhamos então que M 6= {0}.


Pela Observação 2.64, existe r ∈ Z∗+ tal que |M | = 2r . Como R é Artiniano, podemos
considerar k o menor inteiro positivo tal que M k = {0}. Notemos que, para todo t ∈
{0, . . . , k−1}, M k−t ( M k−t−1 , pois se ocorresse M k−s = M k−s−1 , para algum s ∈ {0, . . . , k−
1}, não seria possı́vel obtermos que M k = {0}

Afirmamos agora que, para todo t ∈ {0, . . . , k − 1}, |M k−t | ≥ 2t . Mostraremos tal
afirmação por indução sobre t. Para t = 0, temos que |mk | = |{0}| = 1 = 20 . Suponhamos
que, para algum t ∈ {0, . . . , k − 1}, tenhamos |M k−t | ≥ 2t . Pela observação feita no final do
parágrafo anterior, sabemos que |M k−t−1 | ≥ |M k−t | ≥ 2t . Como M k−t−1 é um subgrupo de
M , temos que |M k−t−1 | = 2l , para algum inteiro l ≥ 0. Assim, |M k−t−1 | ≥ 2t+1 e a afirmação
está provada.

Agora, sabemos que M 2 M k−2 ⊆ M k = {0}. Se k ≥ 5, então |M 2 | ≥ 8 e |M k−2 | ≥ 4.


Assim, K3,3 seria um subgrafo de Γ(R), contradizendo o fato de Γ(R) ser planar. Logo, k ≤ 4,
donde M 4 = {0}.

(ii) Apresentaremos aqui apenas os passos da demonstração, pois os detalhes são análogos
aos da demonstração do item (i). Supondo M 6= {0}, sejam s ∈ Z∗+ tal que |M | = 3s e k
o menor inteiro positivo tal que M k = {0}. Então, para todo t ∈ {0, . . . , k − 1}, teremos
|M k−t | ≥ 3t . Se k ≥ 4, então, k − 2 ≥ 2 e daı́ |M k−2 | ≥ 32 = 9. Sendo M k−2 ⊆ M 2 , temos
que |M 2 | ≥ 9. Como M k−2 M 2 ⊆ M k = {0} segue que K3,3 é isomorfo a algum subgrafo de
Γ(R), o que contradiz o fato de Γ(R) ser planar. Logo, M 3 = {0}. u
t

Teorema 2.67. Seja (R, M ) um anel local finito tal que Γ(R) é planar. Temos que:

75 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 76

R
(i) Se | M | = 2, então |R| ≤ 32;

R
(ii) Se | M | = 3, então |R| ≤ 27.

Demonstração: Se M = {0}, o resultado é imediato. Suponhamos então que M 6= {0}


R
(i) Sendo | M | = 2, do Lema 2.66 vem que M 2 M 2 = {0}. Como Γ(R) não possui um
subgrafo isomorfo a K5 (caso contrário, não seria planar), temos que |M 2 | ≤ 4. Assim,
para todo x ∈ M , |xM | ≤ 4. Fixado x ∈ M , consideremos o homomorfismo sobrejetor de
R-módulos fx : M −→ xM dado por fx (a) = xa. Como ker(f ) = Ann(x) ∩ M , temos
M |M | |M |
que Ann(x)∩M
≈ xM . Daı́, |Ann(x)∩M |
= |xM | ≤ 4, donde 4
≤ |Ann(x) ∩ M | ≤ |Ann(x)|,
pois Ann(x) ∩ M ⊆ Ann(x). Como Γ(R) é planar, existe x ∈ D(R)∗ tal que deg(x) ≤ 5
(Proposição 1.54). Para tal x, teremos |Ann(x)| ≤ 7 (pois 0 ∈ Ann(x) e talvez x2 = 0).
R
Logo, |M | ≤ 28. Como | M | = 2, da Observação 2.64 temos que |M | ≤ 16, donde |R| ≤ 32.

(ii) Pelo Lema 2.66, temos M 2 M = {0}. Se tivéssemos |M 2 | ≥ 4, terı́amos |M | ≥ 9, pela


Observação 2.64. Mas, como M 2 M = {0}, terı́amos K3,3 como subgrafo de Γ(R) e Γ(R) não
seria planar. Logo, devemos ter |M 2 | ≤ 3.

Analogamente ao raciocı́nio feito na demonstração do item (i), para cada x ∈ M , pode-


mos considerar o homomorfismo sobrejetor fx : M −→ xM dado por fx (a) = xa. Obtemos
|M | |M |
|Ann(x)∩M |
= |xM | ≤ 3, donde 3
≤ |Ann(x)|. Considerando x ∈ D(R)∗ tal que deg(x) ≥ 5,
teremos |Ann(x)| ≤ 7, donde |M | ≤ 21. Pela Observação 2.64 temos que |M | ≤ 9 e daı́
|R| ≤ 27. u
t

Corolário 2.68. Se (R, M ) é um anel local finito com M 6= {0} e |R| > 32, então Γ(R) não
é planar.

Demonstração: Suponhamos por absurdo que exista um anel local finito (R, M ) com
R
|R| > 32, M 6= {0} e Γ(R) planar. Pelo Teorema 2.67, terı́amos | M | ≥ 4. Mas, como
|R| > 32 ≥ 26, do Teorema 2.65, obterı́amos que Γ(R) não é planar, uma contradição. u
t

Exemplo 2.69. O grafo Γ(Z27 ) é planar (Figura 2.38). Já Γ(Z28 ) não é planar, pois o
subgrafo induzido pelos vértices do conjunto {4, 7, 8, 12, 14, 21} possui um subgrafo isomorfo

76 -
2.8 Sobre a Planaridade de Γ(R) 77

a K3,3 , conforme vemos na Figura 2.39

Figura 2.38: Γ(Z27 ) Figura 2.39: Subgrafo de Γ(Z28 )

Segundo J. Coykendall [14], R. Belshoff e J. Chapman provaram em [12] que anéis locais
que não são corpos e que possuem mais do que vinte e sete vértices não são planares. No
entanto, não apresentaremos este estudo aqui.

77 -
Referências

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a complete r-partite graph. J. Algebra 270 (1), (2003), 169-180.

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