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Direito de Empresa II – Prof.

André Saad

08/08/2017

Direito Empresarial II (Societário)

1. Conteúdo programático
2. Metodologia
3. Avaliações
4. Bibliografia

– Curso de Direito Comercial, vol. 1 e 2 – Rubens Requião, ed. Saraiva.


– Curso de Direito Empresarial, vol. 2 – Gladston Mamede, ed. Atlas.
– Direito Empresarial, vol. 2 – Marlon Tomasetti, ed. Atlas.
– Direito de Empresa à luz do Código Civil – Sérgio Campinho, ed. Renovar / Saraiva.
– Curso de Direito Comercial, vol. 2 – Fábio Ulhoa, ed. Saraiva / Revista dos Tribunais.
– Direito de Empresa, vol. 1 – Ricardo Negrão, ed. Saraiva.
– Manual de Direito Empresarial – Wilges Bruscatto, ed. Saraiva.

• Unidade I: Aspectos iniciais

→ 1.1: Noção de pessoa jurídica


→ 1.2: Noção de sociedade
→ 1.3: Personificação e consequências
→ 1.4: Características da sociedade

→ Contextualização da disciplina:

O Direito de Empresa, enquanto um sistema normativo (ou microssistema), tem a


pretensão de regular, dentro do ordenamento jurídico, uma faceta do fato social, que é o exercício
da atividade econômica quando ela é praticada exclusivamente por entidade empresarial.
O empresário no Brasil se apresenta de duas formas organizativas diferentes: ou sob a
forma de uma pessoa física (empresário individual) ou pode assumir a forma de pessoa jurídica.
O Direito de Empresa II (societário) se especializa na relação existente entre a pessoa
jurídica e a sua membresia, entre os membros da própria sociedade e entre outros personagens.
→ Noção de pessoa jurídica e noção de sociedade

De início, é importante destacar que pessoa jurídica e sociedade são institutos diferentes,
mesmo que a legislação muitas vezes trate estes institutos como sinônimos. Assim sendo, torna-se
imprescindível distingui-las.

– Pessoa Jurídica

A pessoa jurídica é um instituto difícil de ser compreendido por ser uma realidade
exclusivamente jurídica. Na legislação, no âmbito do direito empresarial, a pessoa jurídica é
reconhecida como o próprio empresário (ao contrário do senso comum, que identifica “empresário”
como os sócios ou, em outras palavras, os integrantes de um negócio jurídico cujo objetivo é obter
lucro através da pessoa jurídica).
O art. 44 do CC procura elencar através de seus incisos quais são as entidades que devem
ser reconhecidas como pessoas jurídicas de direito privado:
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I – as associações;
II – as sociedades;
III – as fundações.
IV – as organizações religiosas;
V – os partidos políticos.
VI – as empresas individuais de responsabilidade limitada.
O art. 44 vem fulcrado na teoria de Savigny (teoria da ficção), segundo a qual a pessoa
jurídica, por ser totalmente abstrata, depende da legislação para o seu reconhecimento. Em outras
palavras, a pessoa jurídica só existe a partir do momento que a lei permitir, estabelecendo
previamente os critérios de quem pode ser reconhecido como pessoa jurídica.
A redação do art. 44 não é muito técnica, já que parece igualar à pessoa jurídica aos
institutos elencados pelos incisos, inclusive à sociedade. A mens legis não é essa, obviamente, mas
sim indicar as estruturas que podem conduzir à formação de uma pessoa jurídica. A pessoa jurídica,
então, se relaciona com essas figuras. Neste sentido, é importante para esta disciplina entender as
relações da pessoa jurídica com a sociedade.

– Sociedade

O conceito de sociedade vem estabelecido pelo art. 981 do CC, localizado no Livro II –
Direito de Empresa, constituindo-se, portanto, em um instituto típico do direito de empresa. A
natureza jurídica da sociedade é de contrato: “Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente
se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos
resultados”.
A sociedade nada mais é do que uma modalidade de contrato, como é um contrato de
compra e venda, de doação etc., mas é um contrato que goza de peculiaridades – e, por isso, não
vem tratado na Parte Geral do Código Civil.
Não há referência no art. 981 do CC à necessidade de registro para a existência da
sociedade. As sociedades existem independentemente do registro ou de qualquer atividade notarial.
Em consonância com o art. 981, a sociedade depende do encontro de vontades, mas ainda sem
referência à pessoa jurídica.

– Pessoa jurídica X sociedade

Conforme o art. 45 do CC, “começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro” . A pessoa jurídica é, de fato, uma estrutura diferente da
sociedade, mas que se relaciona com a mesma. A pessoa jurídica é uma figura totalmente
dependente do registro de seu ato constitutivo para existir. A pessoa jurídica é uma consequência, se
há ato constitutivo para ser levado a registro é porque já existe uma sociedade anterior.
A sociedade é uma estrutura de fundo, que sustenta a permanência da pessoa jurídica; a
pessoa jurídica, por não ter uma existência física, necessita de alguém que a conduza, e esta
estrutura que a comanda é a sociedade.
A pessoa jurídica é uma figura mais genérica, não serve apenas (mas também) ao direito de
empresa, ao contrário da sociedade. A sociedade é enquadrada como um contrato, como uma
espécie de contrato, e não como uma pessoa, como o é a pessoa jurídica.

Obs.: Na estrutura da sociedade empresarial encontramos os personagens que muitas vezes


são confundidos como “empresários” pelo senso comum mas que, em verdade, são os sócios, ou,
em outras palavras, os integrantes de um negócio jurídico (contrato) cujo objetivo é obter lucro
através da pessoa jurídica.
15/08/2017

• Unidade I: Aspectos iniciais (Cont.)

→ Noção de pessoa jurídica e noção de sociedade (Cont.)

– Art. 45 do CC – “começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro” . A pessoa jurídica é uma figura eminentemente de
direito, não existe pessoa jurídica antes do registro, ela é totalmente dependente deste para existir.
Quando o legislador utiliza o verbo “começar” significa que não se pode admitir a existência de
uma pessoa jurídica de fato, ela é um consequência, ela é fruto de uma vontade. Se há o registro que
culmina com a formação de uma pessoa jurídica, algo ou alguém conduz esse registro.
O ato constitutivo que é levado a registro é um documento que retrata a vontade de pessoas
que têm a pretensão de constituírem uma pessoa jurídica. Estas pessoas são todas aquelas que estão
envolvidas com as figuras do art. 44 do CC: as pessoas que pretendem se associar podem ter a
pretensão de constituir uma pessoa jurídica; as pessoas que pretendem ser sócias podem ter a
pretensão de constituir uma pessoa jurídica, e assim por diante. Assim, é fácil a percepção de que,
antes da existência da pessoa jurídica, há a necessidade de haver o fenômeno de grupamento. No
caso desta disciplina, esse grupamento é a sociedade.
– Art. 981 do CC – fica evidente que a sociedade é demonstração de um contrato, é uma
estrutura que reúne a intenção das pessoas. Desta intenção de realizar poderá advir a pessoa
jurídica.
Para grifar ainda mais a diferença entre sociedade e pessoa jurídica é importante notar que
a sociedade não se converte em pessoa jurídica; a previsão legal estabelece que a pessoa jurídica
está relacionada ao início de uma existência, não tem correspondência anterior ao registro, começa a
existir com o registro. Antes do registro, há uma sociedade, uma associação etc.; mas o fato é que
essas estruturas mencionadas nos incisos do art. 44 do CC são justamente a causa, a motivação para
a formação da pessoa jurídica, sendo estruturas independentes. A sociedade, como contrato, pode
existir independente da pessoa jurídica, mas a pessoa jurídica, ao contrário, é totalmente dependente
da sociedade.
Parte-se do questionamento: quais são as consequências do registro para a sociedade?
Imaginar que a sociedade desaparece com a formação da pessoa jurídica não faz sentido e traria
problemas como: quem controlaria a pessoa jurídica, quem agiria através da pessoa jurídica? Se a
pessoa jurídica é uma entidade totalmente inanimada, se é meramente legal, quem a conduziria?
Não há como encontrar essa resposta.
Também não há motivo para pensar que a pessoa jurídica é fruto da transformação da
sociedade, ou que a sociedade se converteu na pessoa jurídica. O dispositivo legal afirma “começa a
existência legal das pessoas jurídicas […]”, não afirma algo do tipo “tem-se a pessoa jurídica como
resultado da transformação da sociedade […]”. Não há pessoa jurídica antes do evento do registro,
ela é totalmente dependente da vontade.
Assim, a melhor proposta é entender que o fato de ter havido o registro não desfaz a
sociedade, o registro não é causa dissolutória da sociedade. O contrato que deu base à formação da
pessoa jurídica continua a existir, a diferença é que agora temos uma realidade contratual
legalizada, regular, pública.
Portanto, a partir do registro temos duas estruturas simultâneas: a sociedade e a pessoa
jurídica. Esse fenômeno é perfeitamente visível em relação à pessoas jurídicas centenárias: ao longo
dos anos é óbvio que o seu quadro societário se alterou (pessoas morreram etc.), mas a pessoa
jurídica manteve-se de forma estável. São estruturas distintas, mas harmônicas entre si. A sociedade,
mais instável, e a pessoa jurídica, que permanece mesmo no caso de morte dos sócios.
Duas maneiras de visualizar a pessoa jurídica, de perceber a sua existência, são através do
seu nome empresarial e de seu CNPJ. O direito defere um nome empresarial à pessoa jurídica
exatamente para que ela seja um centro de imputações diferente de sua membresia, para que se
distingua desta (patrimonialmente).
– O art. 44 do CC estabelece quais são as estruturas que servem de base para a pessoa
jurídica. Quando o art. afirma que a associação é uma pessoa jurídica, significa que a partir da
associação existe a possibilidade de formação de uma pessoa jurídica; quando afirma que a
sociedade é uma pessoa jurídica, significa que a partir da sociedade pode se estruturar uma pessoa
jurídica. A diferença entre essas figuras reside em sua finalidade.
A associação, por exemplo, é uma estrutura que visa fortalecer um grupo, existe para
ganhar visibilidade no cenário político, sem finalidade de lucros; a sociedade também se faz pela
reunião de indivíduos, mas o que marca o conceito de sociedade é a busca por uma finalidade em
comum lucrativa, econômica.
A finalidade da sociedade é uma finalidade legal, está instituída no art. 981 do CC. O que
caracteriza a sociedade é exatamente essa finalidade comum: o exercício da atividade econômica.
Por exemplo, se duas pessoas quiserem alugar uma loja para venda de livros usados, elas podem
criar uma sociedade para isso, e ou uma vende ou a outra vende os livros. Ao criar uma pessoa
jurídica, possibilita-se que a pessoa jurídica venda os livros.
A diferença, portanto, não está na pessoa jurídica, mas na estrutura que origina a pessoa
jurídica, na finalidade desta estrutura. A pessoa jurídica oriunda de uma associação tem quase todas
as mesmas características de uma pessoa jurídica derivada de uma sociedade.
É importante entender a diferença entre pessoa jurídica e sociedade pois existem institutos
que são direcionados à pessoa jurídica e existem institutos que são direcionados à sociedade. No
âmbito do direito de empresa, é importante entender que a pessoa jurídica é uma espécie de
empresário. Na Lei de Falência, por exemplo, o legislador estabelece que o empresário se sujeita à
falência e à recuperação – assim, a pessoa jurídica é que se sujeita à falência e à recuperação, não a
sociedade. A falência da pessoa jurídica não é a falência dos sócios. E também há institutos
direcionados à sociedade e sua membresia e não à pessoa jurídica, como a morte.
– Conceito de pessoa jurídica = centro de imputações dotadas de direitos e deveres,
entretanto, sem existência real (apenas existência legal). Passa ter personalidade a partir do registro
– art. 45 c/c art. 985 do CC ( “Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro
próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos” ). O erro da redação do art. 985 do CC é que não é a
sociedade que adquire personalidade jurídica, mas a pessoa jurídica.
No âmbito das pessoas jurídicas de direito privado a personificação da pessoa jurídica, que
é a atribuição de personalidade, é dada com o registro, não há outro episódio que construa a
personalidade jurídica para ela senão pelo registro (para pessoas jurídicas de direito público, por
exemplo, a própria lei de criação já atribui personalidade). O registro faz com que a personalidade
jurídica seja imputada, ela não é adquirida pois aquisição é ato contratual, ela é imputada, vem de
cima para baixo (o Estado é que impõe a personalidade jurídica à entidade).
Esta atribuição, essa imputação da personalidade jurídica leva à pessoa jurídica ao status
de gozar de autonomia. A pessoa jurídica é uma entidade legal autônoma (autonomia = reger-se por
si).
– Autonomia da pessoa jurídica:
– Autonomia negocial = a partir do instante que a pessoa jurídica existe, ela tem
legitimidade para participar de negócios jurídicos de qualquer natureza. Por ex., para contratar um
empregado, para ter conta corrente bancária e outros.
– Autonomia processual = a pessoa jurídica pode ocupar os polos ativo ou passivo em
ações judiciais.
– Autonomia patrimonial = a pessoa jurídica pode ter bens, direitos incorporados sob sua
titularidade.
É importante também destacar que a pessoa jurídica é apócrifa (não tem vontade, não tem
mãos para assinar um contrato) e amórfica (não tem forma, não tem rosto, não tem corpo, não tem
fisionomia). Dada a sua abstração, no quadro de sócios haverá um ou mais sócios que será(ão)
eleito(s) aquele(s) que faz as vezes da pessoa jurídica. Trata-se do administrador, que agirá em
nome da pessoa jurídica, é um membro da sociedade que, por mandato, acaba sendo a vontade da
pessoa jurídica – aquela pessoa jurídica vai agir através do seu administrador. O administrador,
modernamente, é a pessoa jurídica (tecnicamente não é um representante, pois representação é no
âmbito de incapazes; tecnicamente é melhor dizer que o administrador presenta a pessoa jurídica,
ele é a pessoa jurídica).
A personalidade jurídica é uma figura criada para resolver um problema patrimonial, para
separar o patrimônio de quem explorava a atividade econômica e o risco desta atividade; ela cria
uma espécie de muro que separa a existência da pessoa jurídica e a existência da sociedade, como se
fosse mesmo um elemento divisório. Mas essa separação não é e nem poderia ser absoluta, é uma
separação relativa, ocasionando sistemas de controle como a desconsideração da personalidade
jurídica, que é uma construção doutrinária decorrente da percepção de que a personalidade jurídica
sem controle é um perigo (casos de fraude etc.).

Em suma: pessoa jurídica não se confunde com sociedade; personalidade jurídica divide
esses dois universos.
22/08/2017

• Unidade I: Aspectos iniciais (Cont.)

→ Características da sociedade

Art. 981 do CC – A natureza jurídica da sociedade é de contrato. O artigo traça as


características desse contrato em específico.
Tratando-se de um modelo de contrato, chama a atenção o fato de a sociedade não estar
disciplinada na região do Código Civil que trata dos contratos típicos ou nominados (art. 481 e ss.),
como é o caso dos contratos de compra e venda, de doação, de permuta etc.; em verdade, o contrato
de sociedade está disciplinado no Livro II da Parte Especial do Código Civil (Direito de Empresa),
e isso porque se trata de um modelo de contrato com características bem peculiares.
Uma das características que mais chama a atenção na redação do art. 981 é que o contrato
de sociedade é um contrato de finalidade comum, se concentrando na ideia de que todos os
partícipes têm o mesmo interesse, que é, em última análise, colimar esforços para a exploração da
atividade econômica. Aqui reside a diferença básica: os contratos previstos no Livro I da Parte
Especial do Código Civil (arts. 481 e ss.) são modelos de contratos que genericamente são
chamados de contratos de permuta. Já o modelo de contrato de sociedade, tratado no Livro II da
Parte Especial do Código Civil, é chamado de contrato de colaboração.
Os contratos de permuta são sinalagmáticos, cujas pretensões baseiam-se no
comportamento do outro. Se formos representar um contrato de compra e venda, por exemplo,
representamos de forma horizontal, com dois vetores com sentidos opostos, representando
prestações em favor da outra parte(¹). Isso gera o que se chama de antagonismo. Há o interesse de
que um obtenha aquilo que é do outro e, ao contrário do que se pensa, não há finalidade em comum.
A relação existente entre prestação e interesse das partes é oposta, e é isso que caracteriza o contrato
como uma figura de oposição: o contrato não é um forma de atingir um finalidade em comum, o
contrato é um meio de satisfação individual, mas é um meio que encontra um ponto de equilíbrio,
que é o consenso. O consenso não é sinônimo de que as duas partes conseguiram a mesma coisa, as
partes pretendem e alcançam coisas diferentes. Por isso a representação linear e em oposição, que
em última análise significa: “eu quero o que é seu e você quer o que é meu”. Não há finalidade em
comum, há ponto de equilíbrio (consenso).
(¹) Representação de contrato de permuta:
A B
Já o contrato de sociedade é bem diferente, em que as partes têm o mesmo ponto, a mesma
referência, causando dificuldade em representá-lo. No contrato de sociedade não há propriamente
“partes” (há sócios com interesses convergindo em comum). O contrato de colaboração é um
modelo de contrato geralmente representado em uma estrutura circular, no qual todos estão
voltados, concentrados para o mesmo ponto, como se estivessem girando em torno do mesmo
eixo(²). É um contrato convergente. Nos termos do contrato de sociedade, o interesse em comum é a
exploração da atividade econômica.
(²) Representação do contrato de colaboração:
B

A→ ← C

D

Outra característica que diferencia o contrato de colaboração do contrato de permuta é que


este último se extingue a partir do momento em que as prestações são satisfeitas. Já com o contrato
de colaboração isso não acontece. A leitura do art. 981 do CC indica como prestações dos sócios a
contribuição, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica. Esta prestação, que
representa a onerosidade do contrato, traduz-se num comportamento que cada um dos sócios deve
assumir de contribuir para a formação daquela estrutura, mas com uma característica: após
cumprida a prestação, o contrato não se extingue, ele permanece.
Outra diferença, ainda, entre os dois modelos de contrato, é que o contrato de permuta se
caracteriza como um contrato bilateral, que é a representação de prestações distintas e, além disso,
de reconhecer centros de imputações diferentes. As partes se organizam de tal forma que ou elas se
filiam a determinada função ou à outra função. Mesmo que o número de partes de um contrato de
compra e venda seja maior do que 2 partes, algumas delas serão “vendedores” e outras serão
“compradores”, a função permanece independentemente da quantidade de indivíduos. Se um dos
consortes negar o contrato, ele não se efetua.
Já o contrato de sociedade não tem essa estrutura bilateral, mas sim uma estrutura
plurilateral, o que significa que cada membro deste contrato é reconhecido como uma parte
independente da outra. Dizer que cada um é uma parte independente da outra significa dar a cada
um deles uma dose de autonomia, de liberdade, a ponto da posição de um não necessariamente
interferir no outro. Se um dos sócios, por exemplo, quiser exercer seu direito de retirada e sair da
sociedade, ao se afastar, a estrutura contratual continua existindo.
Obs.: Caso a sociedade seja de 2 pessoas e uma delas quiser se retirar, mesmo assim a
estrutura societária continuaria existindo por, pelo menos, 180 dias – Art. 1.033, IV do CC ( “Art.
1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: […] IV – a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo
de cento e oitenta dias”).

Portanto, em contratos de permuta, se a parte não estiver em uníssona, em consenso, o


negócio não se estabelece; já no contrato de sociedade, mesmo que haja antagonismo entre eles,
desinteresse entre eles, ainda sim a estrutura pode se manter, desde que aquele insatisfeito se afaste.
Em suma, o contrato de sociedade não está tratado no mesmo lugar do Código Civil que os
outros contratos por não ser um contrato de permuta, não vem baseado nos mesmos pressupostos,
não tem a mesma raiz. Ele tem fundamentos e uma estrutura diferente.
Além disso, o art. 981 do CC revela que os sócios têm uma expectativa em relação à
sociedade, traduzida pela obtenção de resultados: “Celebram contrato de sociedade […] para o exercício de
atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Mostra que sócios não são indivíduos que estão
aparelhados apenas para obter vantagens, mas também podem ter desvantagens, e por isso a
legislação os vincula. A atividade econômica é uma atividade de risco, que pode ser tanto positivo
quanto negativo. O resultado deve ser, naturalmente, partilhado entre todos, e os sócios
experimentam os mesmos resultados. Isso demonstra uma sinergia, uma conexão, um elemento
subjetivo de pretender explorar a atividade e ao mesmo tempo assumir o risco. É o que se chama em
direito empresarial de afectio societatis – é o elemento subjetivo de sustentação dessa mesma
estrutura, que une os sócios. Ser sócio é estar preparado para os resultados positivos ou negativos, é
contribuir para que a atividade econômica, como finalidade, seja alcançada. Sócios que perdem esta
adesão, esse interesse, devem ser excluídos da sociedade e, por isso, há o fenômeno da exclusão,
que é uma técnica de afastamento do sócio que interfere no andamento normal da sociedade.
O art. 981 do CC tem a preocupação de definir as características da sociedade, mas não
exige para esta uma forma. O contrato de sociedade não precisa ser um documento escrito. É
possível um contrato de sociedade formado verbalmente, e por isso não podemos confundir o
contrato de sociedade com o contrato social.
O contrato social é um documento onde, em regra, lança-se a vontade. É um instrumento, é
um pedaço de papel, mas nada mais é do que a representação da existência do contrato de
sociedade. É o mesmo critério existente no Direito do Trabalho: não é necessário ter carteira
assinada para ter relação de emprego, se a relação jurídica for assentada nas características, nos
atributos de uma relação de emprego, ela existirá independentemente de um documento que
comprove isto. A figura da sociedade vem no mesmo espírito: o contrato de sociedade, pela
previsão do art. 981, não precisa de um instrumento comprobatório. Se ele existir, ótimo; se não,
caso se observe os elementos, as características explicitadas pelo art. 981, existirá o pacto.
Portanto, contrato de sociedade nada tem a ver com contrato social. Contrato de sociedade
nada mais é do que uma demonstração de um pacto entre indivíduos que pretendem explorar a
atividade econômica, somando esforços, e assumindo, simultaneamente, os riscos.
29/08/2017

• Unidade II – Classificação das sociedades

→ 2.1 Quanto aos tipos societários


→ 2.2 Quanto à personificação
→ 2.3 Quanto ao regime legal
→ 2.4 Quanto à estrutura econômica
→ 2.5 Quanto à responsabilidade dos sócios

O art. 981 é a base do contrato de sociedade. Ao longo do tempo, esse contrato, que é
medieval, sofreu alguns poucos acréscimos, pontos que na verdade se agregaram à base já existente.
Com o desenvolvimento das práticas mercantis, a base do art. 981 foi agregando outros elementos,
outros valores, outros institutos que deram origem aos chamados tipos societários. Em decorrência
dessa pluralidade de modelos de contratos de sociedades é que pensamos em suas classificações.

→ 2.1 Quanto aos tipos societários

Os modelos de sociedade são pré-configurados, preestabelecidos, são rígidos. Os modelos


de sociedade não podem ser customizados, personalizados, não há como adequar os seus contratos.
Os modelos são fechados, e por isso os reconhecemos como tipos (ou modelos) de sociedades. Essa
classificação somente lista, somente apresenta os modelos de sociedades previstos:

a) Sociedade em comum (arts. 986 a 990 CC);


b) Sociedade em conta de participação (arts. 991 a 996 CC);
c) Sociedade simples (art. 997 a 1038);
d) Sociedade em nome coletivo (S.N.C) (arts. 1039 a 1044 CC);
e) Sociedade em comandita simples (S.C.S.) (arts. 1045 a 1051 CC);
f) Sociedade limitada (arts. 1052 a 1087 CC);
g) Sociedade anônima (arts. 1088 e 1089 CC); (*) Não são regulam.
h) Sociedade em comandita por ações (arts. 1090 a 1092 CC); pelo CC
i) Sociedade cooperativa (art. 1093 CC) (**).

(*) As sociedades anônima e a comandita por ações são as denominadas “sociedades por
ações”, são meramente apontadas no Código Civil, e são regulamentadas por uma legislação
específica, a Lei nº 6.404/76.
(**) As sociedades cooperativas também têm legislação própria.

→ 2.2 Quanto à personificação

Classificação que tenta organizar as sociedades levando em consideração o episódio


“personificação”. Tradicionalmente, a doutrina trata desse assunto de maneira um pouco
equivocada, não acrescentando utilidade nesse modelo de classificação. A doutrina sinaliza que
sociedades personificadas são sociedades detentoras de pessoa jurídica e sociedades não-
personificadas são aquelas que não têm, não gozam de personalidade jurídica. Contudo,
personalidade jurídica não é atributo de sociedade, a sociedade é um contrato e não pode ter
personalidade, que é atributo de pessoa. Por isso, esse enquadramento não é totalmente correto, já
que não podemos atribuir personalidade jurídica a um contrato.
Essa, no entanto, também é a referência da legislação. No Código Civil, o Subtítulo I do
Título II (Da Sociedade) denomina-se “Da Sociedade não-personificada”, enquanto que o Subtítulo
II denomina-se “Da Sociedade personificada”. As sociedades enquadradas, nos termos do Código
Civil, como sociedades não-personificadas são: a sociedade comum e a sociedade em conta de
participação. As demais são sociedades personificadas.
Sem dúvida, o registro é a referência que está sendo utilizada para essa classificação. A
proposta mais coerente para visualizar essa classificação é a seguinte: tentar enxergar tipos de
categorias não-personificadas significa que se dois ou mais indivíduos resolverem explorar a
atividade econômica, o sistema legal reconhece como sendo válida e eficaz essa contratação. São
dois modelos (sociedade comum e sociedade em conta de participação) de sociedade cujos efeitos
não dependem do ato notarial, não dependem do registro. Elas produzem efeito independentemente
de qualquer ato de legalização.
Em relação as demais tipos societários, enquadrados como estão no segmento das
sociedades personificadas, a leitura que temos que fazer é que são modelos de sociedade que só
podem produzir efeitos após seus atos constitutivos serem levados a registro. Por ex., para que os
sócios experimentem os efeitos de uma sociedade limitada, por ex., é fundamental o registro. São,
em verdade, sociedades que dependem do registro para produção dos efeitos.
Não é a sociedade que se expõe à personalidade jurídica. No episódio de uma sociedade
dita personificada, ligada a ela temos uma pessoa jurídica, logo, os efeitos do contrato de sociedade
são sentidos apenas e tão somente após o registro.
Em suma, as sociedades não-personificadas independem do registro para produzirem os
seus efeitos, e as personificadas são aquelas que dependem do registro para produzirem os seus
efeitos.
– Art. 986 CC – a ausência de registro não é óbice para a caracterização da sociedade:
“Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade […] pelo disposto neste Capítulo […]” . O
direito reconhece essa realidade, não é um nada jurídico. Nesse aspecto a legislação é perspicaz,
evita que conflitos maiores ocorram, que situações fiquem sem solução, esclarecendo que, se duas
ou mais pessoas estão envolvidas naqueles moldes do art. 981 do CC, estas pessoas já estão em
sociedade, é um elemento fático, produz efeito pela própria existência. Enquanto não inscritos os
atos constitutivos, a sociedade existe e é caracterizada como uma sociedade em comum.

→ 2.3 Quanto ao regime legal

Em relação à classificação quanto ao regime legal, busca-se a adesão dos modelos de


sociedade ao chamado regime legal (conjunto de normas jurídicas). Destaque-se que o exercício da
atividade econômica não é privativo do empresário, a atividade econômica não é explorada
exclusivamente por sociedades empresariais.
A exploração da atividade econômica pode ser feita por entidade reconhecidamente
empresarial e, quando o for, irá enquadrar este personagem em um regime legal específico, que é o
regime legal empresarial. Este regime legal confere a esse personagem certas prerrogativas, acesso
a determinados direitos e submissão a determinados deveres, acesso a institutos diferenciados como
a falência e a recuperação (que buscam resolver uma crise empresarial, é uma técnica de resolução
de crise em que o Estado está presente).
Quando a atividade econômica for explorada por entidades que, apesar de envolvidas com
a técnica empresarial, não forem legalmente reconhecidas como entidades empresárias, não se
aplica o regime empresarial, mas sim o regime geral, ou seja, o regime civil, afastando essas
organizações de alguns institutos, como a própria falência e a recuperação. Quando uma sociedade
não empresarial passar por uma crise, há outros institutos para resolvê-la, como a execução ou a
liquidação.
Dentro dessa perspectiva, a figura do regime legal vai tentar enquadrar os tipos de
sociedade dentro de um regime ou de outro. Em outras palavras, existem modelos de sociedade que
são mais adequados ou mais utilizados no regime empresarial, e outros que são mais adequados ou
mais utilizados fora do regime empresarial.
Art. 966 do Código Civil:
“Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa”.
O parágrafo único do art. 966 do CC é um exemplo de indivíduos que estão afastados do
regime legal empresarial por força de lei. Não fosse a previsão contida no parágrafo único, os que
exercem atividades intelectuais seriam enquadrados como empresários, mas não o são porque a
legislação afasta. Organizações intelectuais profissionais são escritórios de advocacia, de
arquitetura, de engenharia, de contabilidade etc.; esses profissionais estão fora do regime
empresarial especialmente para que sua imagem não seja arranhada, já que o termo “falência”
sempre está relacionado a aspectos negativos. Assim, esses profissionais não estão sujeitos à
falência para a resolução de crise para que não se produza conflitos entre conceitos de inaptidão
técnica e inaptidão financeira.
Contudo, esses profissionais podem exercer as atividades em conjunto, em sociedade.
Nesse caso, esta sociedade que será utilizada para representar determinado nicho intelectual do
exercício da atividade econômica ficará fora do regime empresarial.
Obs.: O final do parágrafo único do art. 966 fala em “elemento de empresa” –
determinadas entidades que não são empresárias tornam-se empresárias quando a atividade que era
fim torna-se a atividade meio. Ex.: Caso um médico cardiologista resolva abrir uma clínica com
diversas especialidades, a cardiologia vai ser um desses elementos, mas a clínica não será mais
exclusivamente movimentada pela cardiologia. O objetivo será alterado, e quando a função
intelectual se torna um elemento de uma estrutura maior, aquele sujeito que a titulariza passa a ser
empresário por força de lei. Isso nunca se aplica à advocacia!
Existem tipos de sociedade que, por lei, são endereçadas ao regime empresarial e existem
tipos que, também por lei, são endereçadas ao regime não empresarial, lembrando que para este
último há um agravante: o regime não empresarial geralmente vem, por lei, definido como “regime
simples”, o que cria uma confusão, já que o termo “simples” aparece com vários significados
diferentes – é um modelo societário, é um regime tributário e é também um regime legal (não
empresarial).
O primeiro dispositivo que deve ser analisado é o art. 982 do CC:
“Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício
de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”.
O caput deste artigo tenta demarcar que a diferença entre a sociedade empresária e a não
empresária vem definida pelo objeto (a forma de exercer a atividade econômica) – sociedades não
empresárias podem vir reconhecidas dentre aquelas que estão no parágrafo único do art. 966 do CC.
Uma sociedade tecnicamente empresária, nos termos do art. 982, é uma sociedade submetida a
registro, seria justamente as sociedades previstas no caput do art. 966.
A primeira ideia é a seguinte: a sociedade é empresária ou não empresária em decorrência
da forma de realizar a atividade econômica, do objeto. Esta é uma ideia geral trazida pelos arts. 966
e 982. A segunda regra que precisamos seguir do art. 982, em seu parágrafo único, é que o mesmo
faz uma decantação de regimes levando em consideração o tipo societário:
“Art. 982. […]
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e,
simples, a cooperativa“.
Sociedades anônimas e sociedades em comandita por ações são tipos societários que estão,
por lei, enquadrados no regime empresarial. Cuidado: o termo “simples” empregado no caput e no
parágrafo único do art. 982 se refere a um regime, não a um modelo de sociedade. As sociedades
cooperativas estão sempre inseridas em um regime não empresarial, também por força de lei.
Art. 983 do CC:
“Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a
1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às
normas que lhe são próprias”.
Os arts. 1.039 ao 1.092 tratam das sociedades em nome coletivo (S.N.C), das sociedades
em comandita simples (S.C.S.), da sociedade limitada, da sociedade anônima e da sociedade em
comandita por ações. Sabemos que as duas últimas estão sempre inseridas em um regime
empresarial, e em relação às outras, o que a legislação diz é que estas são as mais adequadas ao
regime empresarial. Já a sociedade simples, que ficou fora da redação do artigo, é mais um modelo
de sociedade reconhecidamente não empresarial, junto com a sociedade cooperativa.
A sociedade simples é, aliás, um modelo muito utilizado em organizações não empresariais
– escritórios de advocacia, consultórios médicos, consultores em economia, engenheiros etc.; aliás,
o Estatuto da OAB determina que a sociedade de advogados seja constituída como sociedade
simples (art. 15 da Lei nº 8.906/94).
“Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade simples de prestação de serviços de advocacia ou
constituir sociedade unipessoal de advocacia, na forma disciplinada nesta Lei e no regulamento geral.
§ 1º A sociedade de advogados e a sociedade unipessoal de advocacia adquirem personalidade jurídica com
o registro aprovado dos seus atos constitutivos no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver sede.”
Ainda na redação do art. 983, percebe-se que há modelos híbridos (que são a sociedade em
nome coletivo, a sociedade em comandita simples e a sociedade limitada), que servem tanto para
atividade empresarial quanto para atividade não empresarial. Há novamente uma impropriedade na
redação do artigo, que quando fala em “sociedade simples” quis dizer “regime simples”, ou melhor,
regime não empresarial.
05/09/2017

• Unidade II – Classificação das sociedades (Cont.)

→ 2.3 Quanto ao regime legal (Cont.)

Os chamados tipos híbridos vão envolver, considerando os modelos personificados, a


sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita simples e a sociedade limitada. Estes três
tipos societários são tipos que transitam entre os dois regimes (empresarial e não empresarial). As
sociedades não empresárias podem escolher, então, entre estes modelos, como se fossem uma
“roupagem”, e isso não afetará o seu objeto (com exceção da sociedade de advocacia que, conforme
determinação do Estatuto da OAB, será obrigatoriamente constituída no tipo sociedade simples).
Ex.: Se A, B e C quiserem estruturar uma organização contábil, a prestação de serviços
contábeis será o seu objeto, e a legislação prevê que a roupagem mais adequada à realização deste
objeto (não empresarial) é a sociedade simples. Contudo, nada impede que os sócios se utilizem de
tipos societários híbridos sem que isso afete o objeto e nem o regime legal a que estarão
submetidos, apenas reconfiguram a obrigação da sua membresia.
As sociedades não-personificadas (sociedade em comum e sociedade em conta de
participação) também são regimes híbridos, estão igualmente inseridas na zona de intersecção entre
o regime empresarial e o regime não empresarial.
Pela definição contida na legislação em relação à sociedade em comum, temos o art. 986
do CC: “Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos […]” . Os atos constitutivos são levados a
registro na Junta Comercial (organizações empresárias) ou no RCPJ (organizações não
empresárias). Os dois registros podem produzir pessoa jurídica, e como não fica claro a qual
registro o art. 986 se refere, isso dá a sensação de que a sociedade em comum é uma roupagem que
atende os sócios independentemente do objeto a ser explorado.
Portanto, se há um embrião de uma organização contábil, ainda sem registro, as regras
aplicadas são as da sociedade em comum; se há uma estruturação de um sebo de livros, também
sem registro, as regras aplicadas também serão da sociedade em comum.
É importante, ainda, destacar a figura do registro, estabelecido pelo art. 1.150 do CC:
“Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas
Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá
obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade
empresária”.
Como já explicado, o registro das organizações empresárias é feito na Junta Comercial e o
registro das não empresárias é feita no RCPJ (excetuando-se a sociedade de advogados, cujo
registro deverá ser feito na seccional da OAB – art. 15, §1º da Lei nº 8.906/94).
Novamente, o termo “sociedade simples” que aparece no art. 1.150 do Código Civil se
refere ao regime não-empresarial, e não ao tipo societário.
Há um certo ponto de tensão em relação ao órgão competente para o registro das
cooperativas. Pela determinação do Código Civil, as cooperativas deverão ser registradas no RCPJ,
já que são um modelo de organização não empresarial. Contudo, as cooperativas são levadas a
registro na Junta Comercial por força da Lei nº 8.934/94. O art. 32 desta Lei estabelece as regras de
arquivamento (que é a técnica de registrar a organização):
“Art. 32. O registro compreende:
[…]
II - O arquivamento:
a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais,
sociedades mercantis e cooperativas”.
Mesmo assim, as cooperativas não estão no regime empresarial, mas se utilizam da Junta
Comercial para realizar o seu registro. Isso não altera a sua natureza, continuam sendo organizações
não empresariais. A confusão está por conta do Código Civil, que é lei posterior e dita que as
cooperativas devem ser registradas no RCPJ. A posição majoritária é de que a Lei nº 8.934/94 é uma
lei especial não revogada pelo Código Civil e, assim, as cooperativas devem continuar a ser
registradas na Junta Comercial.
Obs.: O último aspecto a ser abordado diz respeito à utilidade do tipo societário simples
(cujo regime é não empresarial) para o regime empresarial é ser uma fonte supletiva para os tipos
societários empresariais ou híbridos, como regra de complementação quando as fontes primárias do
tipo específico forem lacunosas. Não se leva em consideração, para isto, a natureza do objeto, mas o
ajuste da configuração obrigacional entre os sócios.
Assim é o caso do art. 986 do CC “Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a
sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com

ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples” , o art. 1.040 do CC “A sociedade em nome coletivo se
rege pelas normas deste Capítulo e, no que seja omisso, pelas do Capítulo antecedente” e o art. 1.053 do CC “A
sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples” .

→ 2.4 Quanto à estrutura econômica

A doutrina divide, quanto à estrutura econômica, em sociedades personalistas e sociedades


capitalistas. O que diferencia as duas são as suas diretrizes: no modelo de sociedade personalista
predominam os interesses dos sócios, já nas sociedades capitalistas as diretrizes são muito mais
endereçadas à valorização do capital. Por óbvio, todas as sociedades têm os elementos “capital” e
“pessoas” (ou “sócios”), a diferença para esta classificação é a ênfase dada a cada um dos elementos
dentro de cada estrutura.
Os tipos societários capitalistas são as sociedades anônima e a comandita por ações; as
demais são entendidas como personalistas.

Sociedades Personalistas Sociedades Capitalistas


• Sociedade em comum • Sociedade anônima
• Sociedade em conta de participação • Sociedade comandita por ações
• Sociedade simples
• Sociedade em nome coletivo
• Sociedade em comandita simples
• Sociedade limitada
• Sociedade cooperativa

A primeira variante para compreensão dessa classificação é a forma de gerenciamento


destas sociedades. A administração de uma sociedade personalista é baseada, em regra, pela eleição
de um dos sócios para assumir a função de administrador por tempo determinado. Este
administrador passa a fazer vontade da pessoa jurídica, assinando, contratando etc. pela pessoa
jurídica. Esta é uma tendência das sociedades personalistas, na qual um dos sócios emerge para ser
o administrador.
Já no âmbito das sociedades capitalistas há uma leve mudança nesse aspecto. Nas
sociedades anônimas, por exemplo, há uma distinção bem clara entre quem comanda e quem
investe na sociedade, tanto que no corpo daqueles que administram a sociedade, a legislação
permite que sócios ou não sócios gerenciem a sociedade. Quando são os sócios que gerenciam essa
sociedade anônima, eles devem ser portadores de um nível de participação da SA através de ações
ordinárias (≠ sócios que têm ações preferenciais, que geralmente não têm direito a voto). Já dentro
de uma estrutura personalista, todos os sócios podem ser administradores e todos têm direito de
voto.
Percebe-se, assim, que dentro da estrutura personalista existe uma proposta (ou uma
diretriz) de isonomia, na qual os sócios tendem a ser tratados da mesma forma, como se tivessem o
mesmo grau de importância. Na estrutura de uma capitalista, no entanto, os sócios não são tratados
assim, tanto que há os investidores e há os administradores, tendendo a haver não isonomia, mas a
paridade entre os sócios. A paridade se diferencia por ser um tratamento isonômico entre os pares
(como há categorias de sócios, os sócios são tratados isonomicamente dentro de sua categoria).
Outra variante é o ato constitutivo das sociedades (documento que representa a vontade
dos sócios de se associarem). O ato constitutivo utilizado no segmento das sociedades personalistas
tem a técnica de ser contratual, sendo chamado de contrato social. O que orienta a elaboração desse
documento é a liberdade de contratar, os sócios podem acordar entre si quais regras vão constar
dentro daquele modelo de sociedade. Nos dispositivos legais referentes às sociedades personalistas
é comum ler redações do tipo “salvo se o contrato dispuser diferentemente (...)”, ou seja, os limites
estabelecidos pela lei são mais largos, há uma maior liberdade de contratar. Além disso, todos os
sócios precisam assinar o contrato social, dando o entendimento que o documento deriva de um
acordo comum, com amplitude de debate.
Já as capitalistas não utilizam contrato social, mas um estatuto. O que marca o estatuto são
as linhas anteriores de sua definição, inclusive podendo derivar da vontade exclusiva do fundador,
Denuncia-se, assim, a ideia de que a forma do estatuto tem muito mais a noção de ser um ato do que
ser um contrato. O estatuto é orientado por uma técnica chamada dirigismo estatal (bem diferente da
liberdade de contratar). Enquanto que a técnica da liberdade de contratar é flexível, no dirigismo
contratual a lei é bastante rígida com as opções que podem ser adotadas na estrutura do estatuto. A
Lei nº 6.404/76 tem normas mais cogentes, a flexibilidade é mais restrita. A única assinatura
necessária para registrar o estatuto é a do fundador.
12/09/2017

• Unidade II – Classificação das sociedades (Cont.)

→ 2.4 Quanto à estrutura econômica (Cont.)

Outra variante é a figura da parte capital. Conforme o art. 981 do CC, no cenário do
contrato de sociedade, para que se forme a pessoa jurídica incumbe aos sócios contribuir para a
formação desse patrimônio. A ideia de contribuição é inerente à formação da entidade. Esta
contribuição que os sócios devem entregar para a pessoa jurídica deve ser documentada (com
quanto cada um participou). A forma de se documentar isso, no âmbito do direito societário, é
através da definição da participação para o capital da pessoa jurídica. O capital da pessoa jurídica é
o capital social, que não é sinônimo de patrimônio da pessoa jurídica. O capital social, em verdade,
tem a pretensão de definir a extensão de investimentos que lhe foi atribuída.
A documentação da contribuição de cada sócio, com quanto cada um integralizou, é feita
através da divisão do capital social, cujas partes irão representar a capacidade contributiva de cada
um. É comum que o capital social seja fracionado em pequenas unidades, e essa unidade, essa
fração, é denominada parte capital. A parte capital, em sociedades personalistas, é denominada
quota; a parte capital, em sociedades capitalistas, é denominada ação.
As unidades adquiridas pelos sócios (quotas e ações) são incorporadas ao seu patrimônio.
Quotas e ações estão juridicamente no patrimônio do sócio, representando a participação do
indivíduo na sociedade e, ao mesmo tempo, a presença desta parte capital no patrimônio do sujeito
que confere a ele o status de ser sócio.
Destaque-se, de início, que a natureza jurídica das quotas é diferente das ações. A natureza
jurídica das quotas é de direito de natureza complexo, já as ações são enquadradas legalmente como
bens móveis. A natureza jurídica da parte capital de cada sociedade já indica características que ora
priorizam o sócio, o indivíduo, (nas sociedades personalistas) ora priorizam o capital (nas
sociedades capitalistas).
Em relação às quotas, essa complexidade se traduz com direitos de natureza pessoal
atribuídos ao sócio (direito de fiscalização, direito de voto, de participação, de alienar as quotas
etc.) e de natureza patrimonial também atribuídos ao sócio (lucros, submissão a prejuízos, pro-
labore, saldo de repartição). A soma desses direitos confere ao sócio (sócio quotista) o status socci.
Como as quotas são juridicamente entendidas como um direito, só há uma maneira deste direito ser
demonstrado: a prova desse direito complexo já está atribuída no próprio contrato social. Não há
como demonstrar que determinada pessoa integra determinada sociedade sem ser pelo contrato
social. Não há como representar a quota em um papel separado (certidão etc.); a quota está inserida
em cláusula contratual.
A quota é um direito alienável – as quotas podem ser alienadas, o que não significa venda.
Alienação é ato de transferência de propriedade de um bem ou de um direito. Transfere-se bens
tanto através de compra e venda (onerosa) e da doação (gratuita). Transfere-se direitos por cessão,
onerosamente ou gratuitamente. A alienação de quotas é feita através de cessão.
A figura da cessão de quotas ajuda bastante a reforçar o tom personalista das sociedades
que se utilizam destas. É possível que, dentro da estrutura do contrato, para a alienação das quotas
os demais membros da sociedade sejam chamados para opinar. Esta necessidade já demonstra o
caráter personalista da sociedade. A legislação assegura aos demais sócios inclusive a possibilidade
de proibir a cessão desta quota.
O art. 1.057 do CC é um exemplo de como a alienação de quotas podem depender da
autorização dos demais:
“Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio,
independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto
do capital social”.
O artigo, ao falar em “estranho”, inclui até os sucessores. Obviamente os sucessores não
ficam com o seu direito sucessório descoberto, mas se a legislação os autorizassem a entrar na
sociedade automaticamente isso seria uma violação às características, aos atributos da sociedade
personalista.
Já em relação às ações, cuja natureza jurídica é de bens móveis, percebe-se que a sua
representatividade é completamente diferente da representatividade das quota. Enquanto a
representatividade das quotas reside no contrato social, a representatividade das ações não está no
estatuto, mas sim no Certificado de Ações – é um documento separado, independente do estatuto,
definido no art. 23 da Lei 6.404/73:
Art. 23. A emissão de certificado de ação somente será permitida depois de cumpridas as formalidades
necessárias ao funcionamento legal da companhia.
Isso significa que a titularidade de ações atribuídas ao acionista faz-se através da
demonstração do certificado. Neste documento há a definição da qualidade das ações (nominativa,
ordinária, preferencial etc.), o valor das ações, a data de aquisição etc.; através deste certificado o
indivíduo demonstra a qualidade de acionista. A alienação das ações é bem mais fácil de ocorrer do
que com as quotas – como estas ações estão no patrimônio do acionista e como são entendidas
como bens móveis, a fruição desses bens móveis acontece de forma bem diferente: em primeiro
porque só se consegue transferir quando ocorre a tradição (a entrega da coisa). O certificado de
ações efetivamente frui, no sentido de ser deslocado, transferido, e submetido à tradição. A
transmissão de propriedade é imediata, quando se transmite determinado bem móvel ele
naturalmente incorpora no patrimônio do outro.
Além disso, a transmissão de bens móveis não depende de anuência, de autorização de
ninguém (seja cônjuge, sócio etc.), e isso faz com que a transmissibilidade (ou a fruição) dessas
ações ocorra de maneira muito mais fácil do que com as quotas. O direito de preferência, dentro da
sistemática acionária, não é algo muito frequente. O interesse da sociedade é de preservar os
investimentos já realizados, e quando o sócio é substituído, esse investimento é preservado. A
alienação se faz através do contrato de compra e venda.
A última variante de análise é em relação às consequências ao falecimento do sócio. Nas
sociedades capitalistas, na medida em que um sócio falece, vem à tona as regras do direito das
sucessões, com o princípio da saisine – ocorre imediatamente após o falecimento a transferência do
acervo patrimonial aos sucessores. Essa transmissão que acontece é relativa, porque o objetivo
dessa transmissão é de que a herança seja tornada indivisível – art. 1.784 do CC:
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
Os sucessores, no exato momento da morte, recebem todos os direitos e todos os deveres
deixados pelo falecido. Isto é imediato, independe de inventário. As ações, assim, são atribuídas
imediatamente aos sucessores, o que significa dizer que as sociedades capitalistas não entendem
como negativa a participação de um sucessor em substituição de um sócio falecido, já que os
investimentos continuam estáveis, somente modificou a titularidade das ações. É a técnica mais
simples e compatível com a natureza das sociedades capitalistas, que primam pelos investimentos.
Essa solução está mencionada no art. 31, §2º da Lei nº 6.404/73:
Art. 31. A propriedade das ações nominativas presume-se pela inscrição do nome do acionista no livro de
"Registro de Ações Nominativas" ou pelo extrato que seja fornecido pela instituição custodiante, na qualidade de
proprietária fiduciária das ações.
[…]
§ 2º A transferência das ações nominativas em virtude de transmissão por sucessão universal ou legado, de
arrematação, adjudicação ou outro ato judicial, ou por qualquer outro título, somente se fará mediante averbação no
livro de "Registro de Ações Nominativas", à vista de documento hábil, que ficará em poder da companhia.
A transferência patrimonial é imediata, mesmo que os sucessores não queiram ser
acionistas (neste caso, eles venderão as ações, mas para a pessoa jurídica isto é irrelevante).
Já em relação às personalistas, há um tratamento diferente, embora no plano inicial a
solução seja basicamente a mesma. De início, com o falecimento do sócio aplica-se igualmente o
princípio da saisine, no momento da morte os bens, direitos e deveres do falecido são
automaticamente transferidos aos sucessores, inclusive as quotas. Porém, como as quotas são frutos
de um direito, como essas quotas esbarram na figura da pessoalidade que envolve as sociedades
personalistas, a legislação não pode obrigar aos demais sócios desta sociedade que aceitem os
sucessores como integrantes dela.
No campo das sociedades personalistas, a única que legisla sobre os efeitos da morte dos
acionistas é a sociedade simples. Como diante da omissão em Capítulo que legisla cada tipo de
sociedade aplica-se as normas da sociedades simples, a forma de transmissão das quotas no âmbito
das personalistas vem regida pelo art. 1.028 do Código Civil:
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:
[…]
O art. 1.028 do CC está inserido na Seção V “Da Resolução da Sociedade em Relação a
um Sócio”, e a resolução é uma das formas de desfazer o contrato. A regra é que no caso da morte
do sócio as suas quotas serão liquidadas. A liquidação é uma operação contábil que consiste em
apurar como um determinado item é considerado financeiramente, convertendo as quotas em
dinheiro para que seja entregue a seus sucessores como forma de indenização. Por detrás dessa
liquidação irá ser desfeito o negócio jurídico feito pelo falecido – as quotas serão devolvidas à
sociedade, que, por sua vez, irá pagar pelos investimentos realizados através do patrimônio da
pessoa jurídica. Ocorre a redução do capital social e do patrimônio da pessoa jurídica com o
cancelamento das quotas. Assim, como regra, os sucessores não ingressam à sociedade. Os sócios
não são obrigados a tolerar os sucessores do falecido, mas é possível que haja exceções. Há um
apelo contratualista tão grande nas sociedades personalistas que é possível que os sócios legislem
diferente sobre isso – incisos do art. 1.028 do CC:
Art. 1.028. […] salvo:
I – se o contrato dispuser diferentemente;
II – se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;
III – se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
O inciso III merece destaque pois permite que os sócios remanescentes e os sucessores
realizem um acordo mesmo que este acordo desdiga a previsão inicial do contrato.

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