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Crise se agrava e crianças morrem de

fome na Venezuela
Nos últimos cinco meses, ‘New York Times’ visita 21 hospitais em 17 Estados e constata a falência
do sistema de saúde venezuelano

Meredith Kohut e Isayen Herrera, THE NEW YORK TIMES


18 Dezembro 2017 | 05h00

CARACAS - O problema da fome assola a Venezuela há anos, mas agora a desnutrição está matando as
crianças em ritmo alarmante. Por cinco meses, o New York Times acompanhou o cotidiano hospitais
públicos venezuelanos e, segundo os médicos, o número de mortes por desnutrição é recorde.

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Velório de bebê de 17 meses em San Casimiro: família não consegue comprar fórmula para substituir leite materno 
Foto: Meridith Kohut/The New York Times

Desde que a economia da Venezuela começou a ruir, em 2014, protestos por falta de comida se
tornaram comuns. Também virou rotina ver soldados montando guarda diante de padarias e multidões
enfurecidas saqueando mercados.

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As mortes por desnutrição são o segredo mais bem guardado do governo de Nicolás Maduro. Nos
últimos cinco meses, o New York Times entrevistou médicos de 21 hospitais em 17 Estados. Os
profissionais descrevem salas de emergência cheias de crianças com desnutrição grave, um quadro que
raramente viam antes da crise.

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“As crianças chegam em condições muito graves de desnutrição”, disse o médico Huníades Urbina
Medina, presidente da Sociedade Venezuelana de Pediatria. De acordo com ele, os médicos
venezuelanos têm se deparado com casos de desnutrição semelhantes aos encontrados em campos de
refugiados.

Para muitas famílias de baixa renda, a crise redesenhou completamente a paisagem social. Pais
preocupados ficam dias sem comer, emagrecem e chegam a pesar quase o mesmo que seus filhos.
Mulheres fazem fila em clínicas de esterilização para evitar bebês que não possam alimentar.

Jovens que deixam suas casas e se juntam a gangues de rua para vasculhar o lixo atrás de sobras
carregam na pele cicatrizes de brigas de faca. Multidões de adultos avançam sobre o lixo de
restaurantes após os estabelecimentos fecharem. Bebês morrem porque é difícil encontrar e pagar pela
fórmula artificial que substitui leite materno, até mesmo nas salas de emergência.

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“Às vezes, eles morrem de desidratação nos meus braços”, afirmou a médica Milagros Hernández, na
sala de emergência de um hospital pediátrico na cidade de Barquisimeto. Ela diz que o aumento de
pacientes desnutridos começou a ser notado no fim de 2016. “Em 2017, o aumento foi terrível. As
crianças chegam com o mesmo peso e tamanho de um recém-nascido.”

Antes de a economia entrar em colapso, segundo os médicos, quase todos os casos de desnutrição
registrados nos hospitais públicos eram ocasionados por negligência ou abusos por parte dos pais.
Quando a crise se agravou, entre 2015 e 2016, o número de casos no principal centro de saúde infantil
da capital venezuelana triplicou.

Nos últimos dois anos, a situação ficou ainda pior. Em muitos países, a desnutrição grave é causada por
guerras, secas ou algum tipo de catástrofe, como um terremoto”, disse a médica Ingrid Soto de
Sanabria, chefe do departamento de nutrição, crescimento e desenvolvimento do hospital. “Mas, na
Venezuela, ela está diretamente relacionada à escassez de comida e à inflação.”

O governo venezuelano tem tentado encobrir a crise no setor de saúde por meio de um blecaute quase
total das estatísticas, além de criar uma cultura que deixa os profissionais com medo de relatar
problemas e mortes ocasionados por erros do governo.

As estatísticas, porém, são estarrecedoras. O relatório anual do Ministério da Saúde, de 2015, indica
que a taxa de mortalidade de crianças com menos de 4 semanas aumentou em 100 vezes desde 2012, de
0,02% para pouco mais 2% - a mortalidade materna aumentou 5 vezes no mesmo período.

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Por quase dois anos, o governo venezuelano não publicou nenhum boletim epidemiológico ou
estatísticas relacionadas à mortalidade infantil. Em abril, porém, um link apareceu subitamente no site
do Ministério da Saúde conduzindo os internautas a boletins secretos. Os documentos indicavam que
11.446 crianças com menos de 1 ano morreram em 2016 - um aumento de 30% em um ano.
Os dados ganharam manchetes nacionais e internacionais antes de o governo declarar que o site tinha
sido hackeado. Em seguida, os relatórios foram retirados do ar. Antonieta Caporale, ministra da Saúde,
foi demitida e a responsabilidade de monitorar os boletins foi passada aos militares. Nenhuma
informação foi divulgada desde então.

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Os médicos também são censurados nos hospitais e frequentemente alertados para não incluir
desnutrição infantil nos registros. “Em alguns hospitais públicos, os diagnósticos clínicos de
desnutrição foram proibidos”, afirmou Urbina.

No entanto, médicos entrevistados em 9 dos 21 hospitais investigados mantiveram ao menos algum tipo
de registro. Eles constataram aproximadamente 2,8 mil casos de desnutrição somente no último ano - e
crianças famintas regularmente sendo levadas para a emergência. Quase 400 delas morreram, segundo
os pediatras. “Nunca na minha vida vi tantas crianças famintas”, afirmou a médica Livia Machado,
pediatra que oferece consultas grátis em uma clínica particular.

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