Vous êtes sur la page 1sur 136

Biologia 3

Zoologia e Embriologia
Pré-Vestibular
Teoria e Exercícios Propostos
índice.biologia 3

Capítulo 01. Embriologia


1. Introdução ........................................................................................................... 9
2. Etapas do Desenvolvimento ................................................................................... 9
2.1. Fertilização ................................................................................................................. 9
2.2. Segmentação ou Clivagem ......................................................................................... 9
2.3. Formação da Blástula ................................................................................................ 10
2.4. Formação da Gástrula ............................................................................................... 10
2.5. Formação da Nêurula ................................................................................................ 10
2.6. Organogênese ......................................................................................................... 11
3. Folhetos Embrionários e Organogênese ............................................................... 11
4. Classificação Embriológica ................................................................................... 12
4.1. Número de Folhetos Embrionários ............................................................................. 12
4.2. Presença de Cavidade Corpórea ................................................................................ 12
4.3. Evolução do Blastóporo ............................................................................................ 13
5. Tipos de Ovos .................................................................................................... 13
5.1. Mamíferos Placentários .............................................................................................. 13
5.2. Aves ........................................................................................................................ 13
5.3. Anfíbios ................................................................................................................... 14
5.4. Insetos .................................................................................................................... 14
6. Tipos de Segmentação ........................................................................................ 14
6.1. Segmentação Total ou Holoblástica .......................................................................... 14
6.2. Segmentação Parcial ou Meroblástica ....................................................................... 15
7. Anexos Embrionários ........................................................................................... 15

Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica


1. Sistemas de Classificação .................................................................................... 18
2. Reinos .............................................................................................................. 21
2.1. Reino Monera .......................................................................................................... 21
2.2. Reino Protista .......................................................................................................... 21
2.3. Reino ....................................................................................................................... 22
2.4. Reino Metaphyta (Plantae ) ...................................................................................... 22
2.5. Reino Metazoa (Animalia ) ........................................................................................ 23
3. As Categorias Taxonômicas ................................................................................. 23
4. Nomenclatura Binomial ........................................................................................ 27

Capítulo 03. Protozoários


PV2D-06-BIO-31

1. Apresentação ..................................................................................................... 28
2. Características Gerais ......................................................................................... 29
3. Classificação ...................................................................................................... 31
índice.biologia 3

3.1. Flagelados ................................................................................................................ 32


3.2. Sarcodinos ou Rizópodes .......................................................................................... 32
3.3. Ciliados ..................................................................................................................... 33
3.4. Esporozoários ........................................................................................................... 34
4. Protozoonoses ................................................................................................... 35
4.1. Doença de Chagas ................................................................................................... 35
4.2. Malária ..................................................................................................................... 39
4.3. Giardíase .................................................................................................................. 42
4.4. Leishmaniose ............................................................................................................ 43
4.5. Amebíase ................................................................................................................ 44
4.6. Tricomoníase ........................................................................................................... 45
4.7. Toxoplasmose .......................................................................................................... 45

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais Simples


1. Esponjas ........................................................................................................... 47
1.1. Apresentação ........................................................................................................... 47
1.2. Características Gerais e Organização .......................................................................... 48
1.3. Tipos Estruturais ...................................................................................................... 50
1.4. Funcionamento ........................................................................................................ 50
2. Celenterados ..................................................................................................... 51
2.1. Apresentação ........................................................................................................... 51
2.2. Características Gerais ............................................................................................... 52
2.3. Tipos Estruturais ..................................................................................................... 54
2.4. Organização ............................................................................................................ 55
3. Os Platelmintos ................................................................................................. 56
3.1. Apresentação ......................................................................................................... 56
3.2. Características Gerais ................................................................................................ 57
3.3. Organização e Funcionamento ................................................................................. 58
4. Platelmintos Parasitas ......................................................................................... 60
4.1. Esquistossomose ...................................................................................................... 60
4.2. Teníase e Cisticercose .............................................................................................. 63
5. Nematelmintos ................................................................................................... 66
5.1. Apresentação ........................................................................................................... 66
5.2. Características Gerais ................................................................................................ 67
6. Nematelmintos Parasitas ..................................................................................... 69
6.1. Ascaridíase ............................................................................................................... 69
6.2. Ancilostomotase ....................................................................................................... 71
6.3. Enterobíase ou Oxiurose .......................................................................................... 73
6.4. Filariose .................................................................................................................... 74
6.5. Outros Nematelmintos .............................................................................................. 76
7. Anelídeos .......................................................................................................... 76
7.1. Apresentação ........................................................................................................... 76
índice.biologia 3

7.2. Características Gerais ................................................................................................ 77


7.3. Organização e Funcionamento .................................................................................. 78
7.4. A formação do Húmus .............................................................................................. 80

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


1. Moluscos ........................................................................................................... 81
1.1. Apresentação ........................................................................................................... 81
1.2. Organização do Corpo .............................................................................................. 81
1.3. Funcionamento ........................................................................................................ 83
1.4. Classificação .............................................................................................................. 85
1.5. Reprodução ............................................................................................................. 87
2. Artrópodes ........................................................................................................ 87
2.1. Apresentação ........................................................................................................... 87
2.2. Características Gerais ................................................................................................ 88
2.3. Classificação ............................................................................................................. 88
2.4. Exoesqueleto e Crescimento .................................................................................... 90
2.5. Funcionamento ........................................................................................................ 91
2.6. Reprodução ............................................................................................................. 92
3. Artrópodes: Insetos ............................................................................................ 92
3.1. Apresentação ........................................................................................................... 92
3.2. Organização e Funcionamento .................................................................................. 93
3.3. Reprodução ............................................................................................................. 95
4. Artrópodes : Crustáceos ...................................................................................... 96
4.1. Apresentação ........................................................................................................... 96
4.2. Organização e Funcionamento .................................................................................. 97
5. Artrópodes: Aracnídeos ....................................................................................... 98
5.1. Apresentação ........................................................................................................... 98
5.2. Organização e Funcionamento .................................................................................. 98
5.3. Reprodução ........................................................................................................... 100
5.4. Outros Aracnídeos .................................................................................................. 101
6. Equinodermos .................................................................................................. 102
6.1. Apresentação ......................................................................................................... 102
6.2. Características Gerais .............................................................................................. 103
6.3. Organização e Funcionamento ................................................................................ 103
6.4. Reprodução ........................................................................................................... 106
6.5. Classificação dos Equinodermos ............................................................................... 106

Capítulo 06. Cordados


1. Apresentação ................................................................................................... 107
2. Características Gerais ....................................................................................... 107
PV2D-06-BIO-31

2.1. Notocorda .............................................................................................................. 107


2.2. Tubo nervoso dorsal ............................................................................................... 107
2.3. Fendas faringeanas ou branquiais ............................................................................ 107
índice.biologia 3

3. Os Protocordados ............................................................................................. 108


3.1. Urocordados ........................................................................................................... 108
3.2. Cefalocordados ....................................................................................................... 109
4. Os Vertebrados ................................................................................................ 110
4.1. Tegumento ............................................................................................................ 110
4.2. Esqueleto .............................................................................................................. 110
4.3. Músculos ................................................................................................................ 111
4.4. Nutrição e digestão ................................................................................................ 111
4.5. Respiração .............................................................................................................. 111
4.6. Circulação ............................................................................................................... 111
4.7. Excreção ................................................................................................................ 111
4.8. Sensibilidade ........................................................................................................... 111
4.9. Reprodução ........................................................................................................... 111
4.10. Regulação térmica ................................................................................................ 111
5. Ciclóstomos ..................................................................................................... 111
6. Peixes Cartilaginosos ........................................................................................ 113
7. Peixes Ósseos .................................................................................................. 114
8. Anfíbios ........................................................................................................... 118
8.1. Apresentação ......................................................................................................... 118
8.2. Classificação ............................................................................................................ 118
8.3. Aspectos Evolutivos ............................................................................................... 119
8.4. Organização e Funcionamento ................................................................................ 119
8.5. Reprodução ........................................................................................................... 120
9. Répteis ............................................................................................................ 122
9.1. Apresentação ......................................................................................................... 122
9.2. Classificação ............................................................................................................ 122
9.3. Aspectos Evolutivos ............................................................................................... 123
9.4. Organização e Funcionamento ................................................................................ 125
9.5. Reprodução ........................................................................................................... 126
10. Aves ............................................................................................................. 126
10.1. Apresentação ....................................................................................................... 126
10.2. Aspectos Evolutivos ............................................................................................. 126
10.3. Organização e Funcionamento .............................................................................. 127
10.4. Reprodução ......................................................................................................... 129
11. Mamíferos ..................................................................................................... 130
11.1 Apresentação ........................................................................................................ 130
11.2. Aspectos Evolutivos ............................................................................................. 131
11.3. Organização e Funcionamento .............................................................................. 131
11.4. Reprodução ......................................................................................................... 132
11.5. Classificação .......................................................................................................... 133

Exercícios Propostos ................................................................................................................................ 137


.03 Zoologia e Embriologia

Capítulo 01. Embriologia

1. Introdução 2.1. Fertilização


O organismo de um animal que resulta de
O organismo de um ser humano é consti- um processo de reprodução sexuada começa
tuído por trilhões de células, todas oriundas a ser formado com a fecundação ou fertiliza-
de um zigoto, resultante da união do ção. A cabeça do espermatozóide penetrada
espermatozóide com o óvulo. no ovócito II, que então completa a meiose e
O núcleo do zigoto tem carga cromos- gera um óvulo e um glóbulo polar. O núcleo
sômica diplóide; dividindo-se sucessivamen- do espermatozóide funde-se ao núcleo do
te por mitose, o zigoto gera células genetica- óvulo, num processo denominado anfimixia,
mente iguais. No entanto, as células passam gerando o zigoto.
a ter funções especializadas, num processo
denominado diferenciação celular, gerando O zigoto é uma célula diplóide, tem meta-
os tecidos (nervoso, muscular, ósseo etc.). de dos cromossomos com origem paterna e a
A Embriologia estuda o desenvolvimento outra metade com origem materna. O
do organismo desde a formação do zigoto até citoplasma do zigoto provém do óvulo, que
a definição dos sistemas que compõem o in- contém mitocôndrias dotadas de DNA. As-
divíduo. sim, o DNA mitocondrial tem origem mater-
O estudo da Embriologia tem muitas apli- na; com isso, todas as células do indivíduo
cações, auxiliando na classificação dos ani- também terão DNA mitocondrial com essa
mais e na compreensão de sua evolução. Atu- mesma herança materna.
almente, a Embriologia mantém fortes vín-
culos com áreas relacionadas com clonagem.
2.2. Segmentação ou Clivagem
Os processos que descreveremos a seguir
referem-se a um cordado hipotético, mas ba-
2. Etapas do Desenvolvimento seiam-se principalmente no anfioxo. O zigoto
O zigoto sofre mitoses sucessivas até se sofre mitoses, gerando duas células filhas,
formar o organismo com as características e chamadas blastômeros, que se dividem for-
as estruturas básicas existentes no corpo dos mando outros quatro blastômeros.
adultos da espécie. As etapas do desenvolvi- Posteriormente, novas mitoses ocorrem,
mento são: formando quatro blastômeros que ficam sobre
outros quatro blastômeros. Os maiores são de-
a) Fertilização
nominados macrômeros; os menores são os
b) Segmentação ou clivagem
micrômeros.
c) Formação da blástula
Novas mitoses ocorrem até se formar um
d) Formação da gástrula
grupo de células agrupadas, sem constituir
e) Formação da nêurula nenhuma cavidade entre elas. Trata-se da
f) Organogênese mórula, descrita usualmente como sendo se-
melhante a uma amora. A mórula tem o vo-
lume igual ao apresentado pelo zigoto.

Capítulo 01. Embriologia 9


Zoologia e Embriologia

2.3. Formação da Blástula ta uma abertura chamada blastóporo, que


As células da mórula dispõem-se de uma origina o ânus nos cordados.
tal maneira que acabam circundando uma
cavidade cheia de líquido. Essa fase chama-
se blástula e a cavidade que apresenta recebe
o nome de blastocele. Ainda é possível dife-
renciar micrômeros e macrômeros.

Formação da gástrula. (a) Início do processo


através da invaginação de macrômeros. (b)
Gástrula completamente definida.

2.5. Formação da Nêurula


Blástula A gástrula é caracterizada pela formação do
A blástula é uma estrutura dotada de cavidade e esboço do sistema digestivo do animal. Na fase
não apresenta orifício comunicando o interior com o
seguinte, a nêurula começa a se delinear no sis-
meio externo.
tema nervoso.
A partir da gástrula ocorrem evaginações
2.4. Formação da Gástrula e invaginações que levam à formação da
No desenvolvimento de um anfioxo, os nêurula.
micrômeros dividem-se mais rapidamente
que os macrômeros. Com a pressão exercida
pelos micrômeros sobre os macrômeros, es-
tes dobram-se para o interior da blastocele,
iniciando um processo de invaginação. Des-
sa forma, inicia-se a formação da gástrula; o
embrião passa a ter duas camadas de célu-
las: o etoderma (externo) e o endoderma (in-
terno). A cavidade delimitada pelo
endoderma é o arquêntero, que corresponde
ao intestino primitivo; o arquêntero apresen-

10 Capítulo 01. Embriologia


Zoologia e Embriologia

• o Ectoderma dorsal: forma a placa neural


e depois gera o tubo neural, que origina
todo o sistema nervoso.
• o Teto do arquêntero: forma a notocorda,
que se desenvolve paralelamente ao tubo
neural. Nos vertebrados, a notocorda é
substituída pela coluna vertebral. Late-
ralmente à notocorda, o arquêntero ex-
pande-se gerando dois compartimentos
que se desprendem e constituem o
mesoderma. Note que a notocorda tam-
bém tem origem mesodérmica.
No interior do mesoderma há uma cavi-
dade denominada celoma. Ao longo do em- 13
brião são observados blocos de mesoderma,
os somitos.
33
33123456758589
5
Celoma é uma cavidade totalmente 12345678923 5798
56
revestida por mesoderma. 33  93
3
4
3355 375
 83
56
5 795
2.6. Organogênese 34 

A partir da nêurula são formados os ór-
gãos do animal, caracterizando o processo de
organogênese, discutida a seguir.
1312345678953
2974 92
123435678 2 955342654 82459 
3. Folhetos Embrionários e 34 825342 8587387573
Organogênese 1312342
Na fase da nêurula ficaram definidos três 33 135 
63
3356783 33 2  7
8
63 7 62
folhetos germinativos ou embrionários:
ectoderma, endoderma e mesoderma. Poste-
riormente, ocorre a formação do esboço dos 3 3
123452678 263 28 2973
6 378
88

órgãos do animal. 337 246 3327 6


33 3337378
33 34
4
Capítulo 01. Embriologia 11
Zoologia e Embriologia

4. Classificação Embriológica endo e mesoderma. São triblásticos os


platelmintos até os cordados; esses ani-
Os animais que possuem cavidade diges- mais são classificados segundo a existên-
tiva (que se origina do endoderma) são clas- cia ou não de uma cavidade no mesoderma.
sificados a partir de alguns critérios:
4.2. Presença de Cavidade Corpórea
4.1. Número de Folhetos Embrionários Vimos que celoma é uma cavidade total-
• diblásticos ou diploblásticos: possuem mente revestida por mesoderma. Platel-
duas camadas (ecto e endoderma). É o caso mintos não possuem essa cavidade, enquan-
dos celenterados. to que os nematódeos apresentam uma cavi-
• Triblásticos ou triploblásticos: têm ecto, dade parcialmente revestida por mesoderma.

Os vários grupos de celomados são subdivididos em função do desenvolvimento do


blastóporo.

12 Capítulo 01. Embriologia


Zoologia e Embriologia

4.3. Evolução do Blastóporo 5.1. Mamíferos Placentários


O blastóporo, presente na fase de gástrula, O embrião desenvolve-se no interior da
pode originar a boca ou o ânus. mãe e dela recebe os nutrientes necessários ao
desenvolvimento. Assim, o ovo apresenta
uma pequena quantidade de vitelo, uniforme-
mente distribuída.

O ovo analisado recebe os seguintes


nomes: alécito, isolécito ou oligolécito.

Outros animais com esse tipo de ovo são


os protocordados e os equinodermas.

5.2. Aves
5. Tipos de Ovos O embrião desenvolve-se principalmente
O zigoto tem a informação genética ne- fora da mãe. O ovo é dotado de uma casca
cessária à formação de todo o organismo. calcárea que assegura proteção, mas que per-
Outro aspecto fundamental no desenvolvi- mite a ocorrência de trocas gasosas; apresen-
mento é a disponibilidade de nutrientes ta clara (rica em proteínas) e a gema (rica em
para o zigoto, assegurando um suprimento lipídios) e que corresponde ao vitelo. Na par-
adequado de energia e de matéria-prima te superior da gema, encontram-se o núcleo
empregada na construção do novo organis- e, ao seu redor, outros componentes
mo. citoplasmáticos. Esse tipo de ovo é, portanto,
A diversidade de animais é imensa. No rico em vitelo. A parte em que se localiza o
entanto, são propostos alguns modelos núcleo é o pólo animal; o restante, rico em
para entendimento da organização dos ti- vitelo, é o pólo vegetativo.
pos de ovos. O fundamento é a quantidade
e a distribuição de vitelo presente no ovo;
trata-se de material de reserva, também
conhecido como lécito. Vamos considerar
quatro exemplos que servirão como referên-
cia. Esse tipo de ovo recebe as seguintes deno-
minações: megalécito ou telolécito.

Capítulo 01. Embriologia 13


Zoologia e Embriologia

O ovo dos insetos recebe o nome de


centrolécito

O ovo apresentado também ocorre em rép- 6. Tipos de Segmentação


teis e nos mamíferos monotremados, como o Vimos que há variação em termos de
ornitorrinco. quantidade e distribuição de vitelo presente
no ovo. Isso tem marcante influência no modo
5.3. Anfíbios pelo qual ocorrem as primeiras divisões
Sapos e rãs apresentam fecundação exter- mitóticas. A seguir, é feita uma classificação
na, sendo que o óvulo não possui uma caixa dos tipos de segmentação ou clivagem.
calcária. O zigoto forma um embrião que se Um primeiro passo é reconhecer se o ovo
converte numa larva (girino). divide-se integralmente ou não. No caso do
A larva retira o complemento alimentar ovo oligolécito de um anfioxo, ele parte-se
da natureza. Dessa forma, o ovo tem uma integralmente; o ovo megalécito de uma ave
quantidade intermediária de vitelo entre a apresenta apenas divisão no pólo animal, sem
dos mamíferos e a das aves. O vitelo concen- afetar a área em que se acumula o vitelo. As-
tra-se mais numa parte do citoplasma, ca- sim, o ovo oligolécito tem segmentação total,
racterizando a área denominada pólo enquanto o ovo megalécito sofre segmentação
vegetativo; a extremidade em que se localiza parcial. A segmentação total também é co-
o núcleo recebe o nome de pólo animal. nhecida como holoblástica e a parcial, como
meroblástica.

O ovo dos anfíbios recebe os seguintes


nomes: heterolécito ou mediolécito.

Cada tipo de segmentação – total ou parcial


Alguns autores ainda o classificam como – é subdividido em duas modalidades.
telolécito incompleto, com menos vitelo que
o ovo das aves. 6.1. Segmentação Total ou
Holoblástica
5.4. Insetos
É típica de ovos oligolécitos e heterolécitos.
Muitos dos insetos também apresentam
Quando ocorrem as primeiras mitoses, são
fase larval, capaz de obter alimento do ambi-
gerados sucessivamente dois e, depois, qua-
ente. O ovo tem uma quantidade intermediá-
tro blastômeros. Na próxima divisão
ria de vitelo, como ocorre nos anfíbios; sua
mitótica, que origina oito blastômeros, dis-
distribuição, no entanto, é diferente, concen-
tinguem-se dois tipos de segmentação:
trando-se ao redor do núcleo.

14 Capítulo 01. Embriologia


Zoologia e Embriologia

• Segmentação igual – É a que ocorre na


maioria dos ovos oligolécitos, produzin-
7. Anexos Embrionários
do blastômeros de mesmo tamanho. A história evolutiva dos vertebrados está
intimamente ligada à conquista do ambiente
terrestre. Em geral, peixes e anfíbios têm fe-
cundação externa e ovo sem casca, sendo o
desenvolvimento do embrião em meio aquá-
tico. A água proporciona sustentação, trocas
• Segmentação desigual – Ocorre nos ovos
gasosas e o local para onde os excretas são
heterolécitos, que têm maior quantidade de
eliminados (amônia, normalmente).
vitelo no pólo vegetativo; a segmentação
gera blastômeros de tamanho diferente O embrião deve ter vitelo que garante o
(micrômeros e macrômeros). material e a energia necessários para as fases
iniciais de desenvolvimento; forma-se um
anexo, denominado saco vitelínico, que ab-
sorve vitelo por meio de vasos sangüíneos.
Os répteis foram os primeiros vertebra-
dos que ocuparam definitivamente o meio
6.2. Segmentação Parcial ou terrestre. Esses animais apresentam fecun-
dação interna e ovo dotado de casca
Meroblástica
calcária, como ocorre com as aves que des-
É encontrada nos ovos megalécitos e
cendem dos répteis. A casca é porosa, per-
centrolécitos, que apresentam, respectivamen-
mitindo a ocorrência de trocas gasosas en-
te, as modalidades discoidal e superficial.
tre o embrião do interior do ovo com o meio
• Segmentação discoidal – Ovos megalécitos externo. A casca também fornece proteção
têm núcleo sobre uma grande massa de ao embrião e é uma fonte de cálcio, empre-
vitelo; as mitoses ocorrem apenas sobre gado ao desenvolvimento de ossos, múscu-
essa massa de vitelo, gerando um grupo de los e outras estruturas.
células em forma de disco.
Ovo

• Segmentação superficial – ovos centrolécitos


têm núcleo rodeado de vitelo; há uma cama-
da de citoplasma na periferia da estrutura.
No início do desenvolvimento, ocorre divisão
dos núcleos apenas; os núcleos resultantes Abaixo da casca há uma membrana que
posteriormente migram para a superfície do delimita uma cavidade – a câmara de ar –
ovo onde se dá a individualização de células. em uma extremidade do ovo; trata-se de
uma local em que são mais intensas as tro-
cas gasosas. No centro do ovo encontra-se
a gema, contendo vitelo e o núcleo celular.
Ao redor da gema fica a clara ou albume,
com proteína e água.

Capítulo 01. Embriologia 15


Zoologia e Embriologia

O embrião conta, portanto, com grande • Âmnio: envolve o embrião, acumulando


quantidade de nutrientes e realiza trocas gaso- grande quantidade de líquido (a cavidade
sas com o meio através da casca porosa. No amniótica). Protege o embrião contra de-
entanto, esse embrião está encerrado num es- sidratação e abalos mecânicos.
paço limitado e enfrenta problemas em relação • Cório ou serosa: envolve o embrião e to-
aos seus excretas, ao perigo de desidratação e à dos os demais anexos; acaba por encostar
efetiva realização de trocas gasosas. Isso tudo é na membrana da casca. O cório é um ele-
solucionado com anexos embrionários, estru- mento de proteção.
turas membranosas derivadas do embrião e
que o auxiliam em sua sobrevivência. Com o desenvolvimento, o alantóide cres-
ce e fica junto ao cório, constituindo-se o
Há quatro anexos embrionários fundamentais:
alantocório. Essa estrutura recebe oxigênio
do meio e o envia ao embrião; este produz
gás carbônico, que faz o caminho oposto, sen-
do eliminado pela casca. O alantocório tam-
bém absorve cálcio da casca, que é utilizado
no metabolismo do embrião. A casca torna-
se mais frágil, facilitando a eclosão do ovo,
quando as reservas se esgotam e o novo indi-
víduo já se definiu.
A partir dos répteis também originaram-
se os mamíferos. Mamíferos placentários são
vivíparos, com o embrião desenvolvendo-se
no interior do útero materno.
Os mamíferos apresentam os mesmos ane-
• Saco vitelínico: envolve a gema, absorven- xos presentes em aves e répteis, porém o saco
do os nutrientes da própria gema e da cla- vitelínico é uma bolsa sem vitelo em seu interi-
ra; os nutrientes são transportados até o or; os nutrientes são fornecidos pela mãe. Uma
embrião por meio de vasos sangüíneos. nova estrutura – a placenta – permite a nutri-
• Alantóide: forma-se a partir do arquêntero ção e a realização de trocas gasosas entre o
e assume um aspecto de saco; recebe e acu- sangue da mãe e o sangue do filho; através da
mula os excretas nitrogenados (ácido placenta ocorre a eliminação de excretas em-
úrico), gerados pelo embrião. brionários para o sangue materno.

16 Capítulo 01. Embriologia


Zoologia e Embriologia

A placenta resulta do desenvolvimento do cório em contato com o endométrio (camada


interna do útero). Formam-se as vilosidades coriônicas, que aumentam a superfície de conta-
to, facilitando as trocas de materiais entre sangue materno e sangue do embrião.
O âmnio cresce e adere ao cório. O âmnio também envolve o alantóide e o saco vitelínico,
compondo o cordão umbilical, que liga o embrião à placenta.

Os vertebrados tipicamente terrestres possuem âmnio e alantóide; isso não ocorre em


peixes e anfíbios.

Capítulo 01. Embriologia 17


Zoologia e Embriologia

Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica


1. Sistemas de Classificação Somente com o microscópio é que os cien-
tistas puderam definir a célula, conhecer sua
Os seres vivos são classificados por meio organização procariótica e eucariótica, a or-
de critérios preestabelecidos, isto é, usamos ganização das células em tecidos, diferenciar
regras de classificação de acordo com a ne- célula animal de vegetal, conhecer as organelas
cessidade e com o sistema de classificação citoplasmáticas e assim por diante. Assim, os
adotado. sistemas de classificação dos seres vivos, des-
A área da Biologia que estuda a classificação de a época de Aristóteles até os dias de hoje,
dos seres vivos é denominada taxonomia. sofreram muitas mudanças, o que caracteriza
Nas ciências, a classificação dos objetos, a taxonomia como uma ciência muito dinâmi-
elementos químicos e dos seres vivos é feita ca no campo das ciências biológicas.
para facilitar o estudo das diversas áreas do
conhecimento, como a Biologia, a Química, a
Física, entre outras.
No estudo dos seres vivos, notamos uma
enorme biodiversidade, diferentes formas de
vida com diferentes hábitats e complexos
mecanismos de adaptações aos ecossistemas
de nossa biosfera.
Ao longo da história da classificação dos
seres vivos, os critérios e os sistemas de clas-
sificação adotados sempre estiveram vincu-
lados ao conhecimento disponível sobre as
diferentes espécies em diferentes épocas.
É evidente a dependência que sempre ocor-
reu entre a elaboração de critérios de classifi- Aristóteles
cação e o conhecimento da morfologia, da
anatomia, da fisiologia, bioquímica, desen- A primeira tentativa de classificação foi feita
volvimento embrionário e aspectos evoluti- pelo filósofo grego Aristóteles (384 - 322 a.C.),
vos que caracterizam as diferentes espécies. considerado o “pai da zoologia”, que indicou
como os animais poderiam ser agrupados de
A história dos sistemas de classificação acordo com suas características. Seus traba-
biológica acompanhou a evolução da cons- lhos serviram de base para uma classifica-
trução dos microscópios ao longo do tempo. ção que dividia os animais conhecidos como
O conhecimento da organização micros- vertebrados, ou animais de sangue verme-
cópica das células trouxe subsídios para ela- lho, e invertebrados, ou animais sem sangue
boração de diferentes sistemas de classifica- vermelho, e foram utilizados por cerca de
ção. 2 000 anos.

18 Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica


Zoologia e Embriologia

Na metade do século XVII, o inglês John natural. Em 1758, no seu Systema Naturae, divi-
Ray (1627-1705) tentou catalogar e dispor sis- diu os animais conhecidos em mamíferos,
tematicamente todos os organismos do mun- aves, anfíbios (incluíram os répteis), peixes, in-
do. Foi também o primeiro a usar o termo setos e vermes (que incluíam todos os outros
espécie para designar um certo tipo de orga- invertebrados), subdividindo cada grupo até
nismo. as espécies. Propôs também regras para a no-
Os sistemas de classificação utilizados até menclatura dos seres vivos com o uso de pala-
o começo do século XVIII tinham algo em co- vras latinas. Lineu viveu antes de Darwin e,
mum: eram apoiados em um número extre- portanto, antes do estabelecimento da Teoria
mamente limitado de características dos or- da Evolução. Além do mais, era conhecida uma
ganismos que estavam sendo analisados. diversidade muito menor de animais, em sua
Assim, por exemplo, surgiu uma classifica- maioria vertebrados, quando sabemos hoje que
ção que dividia os animais de acordo com sua os invertebrados representam cerca de 95% das
forma de locomoção: caminhantes, saltado- espécies conhecidas. Por isso, seu sistema de
res, voadores, nadadores. classificação apresentava muitas limitações.
Apesar disso, o princípio de seu sistema foi a
Os inconvenientes de uma divisão como
base para o atual método de classificação,
essa são óbvios, pois um mesmo grupo pode
estabelecido graças a diversos trabalhos reali-
conter seres muito diferentes, contrariando
zados nos séculos seguintes.
o objetivo principal da classificação. Por
exemplo: insetos, pássaros e morcegos são
animais voadores. Apesar de muito diferen-
tes quanto à sua estrutura, ficam no mesmo
grupo por terem uma única característica
comum: o fato de poderem voar.
Sistemas de classificação como esse, que
utilizam um único critério para separar os
organismos em grupos, ficaram conhecidos
como artificiais, pois faziam uso apenas dos
caracteres macroscópicos.
Entretanto, a partir do século XVIII, os sis-
temas de classificação tornaram-se naturais,
usando critérios objetivos com dados forne-
Lineu
cidos pela morfologia, fisiologia, ecologia e
embriologia. Tais sistemas trouxeram duas As tentativas de ordenar e classificar os
importantes vantagens: primeiro, o fato de animais produziram um ramo da Biologia
os organismos serem separados em grupos conhecido como Taxonomia ou Biologia Sis-
com base em múltiplas características asse- temática, que procura determinar as regras e
gura que fiquem reunidos seres realmente os princípios que regem a moderna classifi-
semelhantes, satisfazendo os objetos de clas- cação. A Taxonomia apresenta duas subdivi-
sificação; segundo, realiza-se a divisão dos sões importantes: a classificação, que é o ar-
organismos com base em seu parentesco ranjo dos tipos de seres vivos em uma hie-
evolutivo, refletindo a filogenia, que é a his- rarquia de grupos menores e maiores; e a
tória evolutiva de um grupo. nomenclatura, que é o método de dar nomes
Carlos Linnaeus, ou simplesmente Lineu aos tipos de seres vivos a serem classificados.
(1707 – 1778), foi um dos primeiros pesquisa- Sua finalidade é mostrar níveis de parentesco
dores a propor um sistema de classificação entre os organismos, baseado na evolução;

Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica 19


Zoologia e Embriologia

entretanto, devido a muitas falhas no conhe- res vivos foram divididos em cinco reinos: reino
cimento deste assunto, surgem muitas inter- Monera, Protista, Fungi, Animal e Vegetal.
pretações e, portanto, uma certa discórdia O esquema a seguir mostra o sistema de
entre os biólogos taxonomistas quanto a classificação de cinco reinos. Nessa classifi-
parentescos e grupos aos quais os seres cação, são adotados critérios de organização
devem pertencer. celular (procarionte e eucarionte) e modos de
Isso significa que a classificação não é uni- alimentação, como ingestão nos animais e
forme e pode variar de acordo com as idéias absorção de nutrientes pelos fungos. A idéia
de cada autor. é que as formas mais simples de organização
Hoje, utilizamos o sistema de classificação seriam os ancestrais das formas mais orga-
de Whittaker, elaborado em 1969, no qual os se- nizadas, como Protista, Fungi, Animal e Vegetal.

O sistema de classificação dos seres vivos em cinco reinos.

20 Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica


Zoologia e Embriologia

2. Reinos
A moderna classificação biológica divide os organismos da natureza em grandes grupos deno-
minados reinos. Em um reino encontramos uma enorme variedade de seres com apenas algumas
poucas características comuns. Essa divisão já era feita por Lineu e, por muito tempo, todos os
organismos eram classificados em dois reinos: animal e vegetal. As plantas fazem fotossíntese e são
geralmente imóveis, enquanto os animais precisam obter alimento comendo plantas ou outros
animais e, geralmente, movimentam-se. Tal divisão é muito cômoda quando se consideram plantas
e animais de grande porte. Os problemas maiores surgiram com o aperfeiçoamento do microscópio
comum e o desenvolvimento da microscopia eletrônica, além da aplicação de técnicas bioquímicas
ao estudo das semelhanças e diferenças entre os organismos. Tudo isso ampliou o universo dos
seres conhecidos e levou à criação de novos reinos. As classificações mais recentes admitem a
existência de cinco reinos: Monera, Protista, Fungi, Metaphyta ou Plantae e Metazoa ou Animalia.
2.1. Reino Monera
Compreende as bactérias e cianobactérias (algas azuis), organismos que têm em comum o fato de
serem unicelulares e procariontes, ou seja, estão ausentes de sua célula a membrana nuclear e as
organelas citoplasmáticas membranosas.
Representantes do Reino Monera

Bactérias Cianobactérias

2.2. Reino Protista


Compreende algas e protozoários, seres geralmente unicelulares (algumas algas são
pluricelulares) e sempre eucariontes (que são aqueles cujas células contêm membrana nuclear e organelas
citoplasmáticas membranosas). Nos protistas pluricelulares (como já se disse, os únicos protistas
pluricelulares são algumas espécies de algas), as células não se organizam para formar tecidos.
Representantes do Reino Protista

Alga Laminaria Ameba

Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica 21


Zoologia e Embriologia

2.3. Reino
Os fungos são organismos que mesclam características encontradas em seres de outros reinos.
Embora existam formas unicelulares, a maioria de seus representantes, com destaque para os
bolores, mofos e cogumelos, é pluricelular. Entretanto, não apresentam tecidos definidos.
Seu corpo é constituído de um emaranhado de filamentos denominados hifas, formados
por células eucarióticas. Apesar de heterótrofos e armazenadores de açúcares tipicamente
animais, possuem uma estrutura corporal e reprodução semelhante às dos vegetais.
Representantes do Reino Fungi

Cogumelo – Basidiomiceto
Orelha-de-pau: basidiomiceto
2.4. Reino Metaphyta (Plantae )
As plantas são seres pluricelulares, eucariontes e suas células se organizam em tecidos de
funções específicas. Nas plantas existem tecidos de proteção, sustentação, condução de seiva e
parênquimas. Além disso, são todas autótrofas, produzindo o próprio alimento pela realização
da fotossíntese, e suas células são revestidas por uma parede celular composta de celulose.
Representante do Reino Metaphyta

Gimnosperma (Cyca)

22 Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica


Zoologia e Embriologia

2.5. Reino Metazoa (Animalia )


Os animais também são pluricelulares, eucariontes e dotados de tecidos, mas são hete-
rótrofos e dependem de outros seres para se alimentar. Além disso são geralmente dotados de
sistema nervoso, que facilita sua integração orgânica e com meio exterior.
Os tecidos animais são: epiteliais (de proteção), conjuntivos, muscular e nervoso.
Representantes do Reino Metazoa

Peixes Réptil

Mamíferos Ave

3. As Categorias dem se cruzar, produzindo descendentes férteis”.


A espécie é a unidade básica da classificação bio-
Taxonômicas lógica. Os indivíduos de uma mesma espécie pos-
As categorias taxonômicas são grupos de ta- suem o máximo de caracteres em comum, inclu-
manhos variáveis nos quais os organismos são indo grande similaridade bioquímica e o mesmo
incluídos de acordo com a quantidade de seme- cariótipo (cromossomos iguais em número, for-
lhanças que apresentam. Formam uma escala ma e tamanho), como resultado de terem se origi-
hierarquizada: as categorias maiores abrangem nado de um antepassado evolutivo comum. Ge-
as menores de uma forma sucessiva. O reino é a ralmente, indivíduos de espécies diferentes não
maior categoria utilizada na classificação bioló- se cruzam, embora, ocasionalmente, sejam pro-
gica. A menor categoria chama-se espécie, termo duzidos híbridos estéreis entre espécies diferen-
que usualmente é usado para indicar um certo tes. Como exemplo bem conhecido, existe o caso
tipo de ser vivo, mas que pode ser melhor defini- do jumento e da égua, indivíduos de espécies di-
da como “um grupo de organismos extremamen- ferentes que podem se cruzar em cativeiro, mas
te semelhantes, que apresentam em suas células cujos descendentes, o burro e a mula, são estéreis.
a mesma quantidade de cromossomos e que po- Entre os vegetais, existem casos em que cruza-

Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica 23


Zoologia e Embriologia

mentos entre plantas de espécies diferentes po- O total de indivíduos que compõem uma
dem originar híbridos férteis. espécie pode ser subdividido em grupos de-
nominados subespécies, diferentes uma das
outras pelo fato de ocuparem áreas distintas.
Se, por alguma razão, duas subespécies fica-
rem impedidas de trocarem genes, a tendên-
cia é que as diferenças entre elas se acentuem
Mula: animal com o passar do tempo e que passem a cons-
estéril resultante
do cruzamento
tituir novas espécies.
entre égua e
jumento.

Burro – Híbrido estéril

Entre o nível de espécie e o nível de reino, Lineu e outros taxonomistas acrescentaram


várias categorias. Assim, duas ou mais espécies que tenham um certo número de caracteres
comuns constituem um gênero.
Por sua vez, gêneros com caracteres comuns
formam uma família; as famílias são reunidas
em ordens; as ordens, em classes; as classes,
em filos. Todos os filos semelhantes constitu-
em um reino. Conforme se avança de espécie
para reino, ou seja, da menor categoria para a
maior categoria, passando pelos vários níveis
intermediários, a diversidade entre os seres vai
aumentando, e, em contrapartida, a quantida-
de de semelhanças entre eles vai diminuindo.
As categorias taxonômicas fundamentais podem ser subdividas ou reunidas em várias ou-
tras, como os subgêneros e as superfamílias.

24 Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica


Zoologia e Embriologia

A tabela abaixo mostra a classificação de alguns seres vivos bem conhecidos, consideran-
do-se as sete categorias taxonômicas fundamentais.

A figura acima mostra que a categoria de classificação denominada reino é a mais


abrangente, a que reúne maior diversidade biológica, e a categoria espécie é onde existe maior
especificidade de caracteres, reunindo organismos semelhantes com capacidade reprodutiva
dentro de uma única espécie.

Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica 25


Zoologia e Embriologia

A seguir, representamos a classificação biológica da espécie Felis catus, desde a categoria


reino até a categoria espécie.

Observe o diagrama que mostra a classificação do gato doméstico, Felis catus, procedendo
da categoria mais geral (reino) para a mais restrita (espécie). Animais representativos são
mostrados em cada nível, e, quando um animal é eliminado de um grupo, isso indica que ele
pertence a uma categoria diferente. Por exemplo, o tigre, o urso e o gato pertencem à ordem
Carnívora, mas o gato pertence à família Felidae. Assim, o cão e o urso são eliminados quando
atingimos o grupo que representa a família Felidae.

26 Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica


Zoologia e Embriologia

4. Nomenclatura Binomial exemplo da Araucaria angustifolia (pinhei-


ro-do-paraná), Araucaria é o nome do gê-
Os primeiros zoólogos elaboravam clas- nero e o conjunto dos dois nomes (Araucaria
sificações com uma nomenclatura particular, angustifolia) designa a espécie. É errado uti-
para uso próprio. Dessa forma, um mesmo lizar o segundo nome isoladamente.
ser vivo, estudado por vários cientistas, po-
deria receber inúmeros nomes distintos, den-
tro de um mesmo país ou entre países dife-
rentes, em razão das diferenças de idioma. O
cão doméstico, por exemplo, é conhecido por 3) O nome do gênero é um substantivo e deve
mais de 800 nomes diferentes no mundo todo: ser escrito com inicial maiúscula, enquan-
dog (inglês), chien (francês), cane (italiano), perro to o nome da espécie é um adjetivo e deve
(espanhol), inu (japonês), etc. O uso de nomes ser escrito com inicial minúscula. Exem-
populares ou vulgares, como também são co- plo: Felis catus (gato).
nhecidos, provoca inúmeras confusões, que 4) Quando existe subespécie, o nome que a
podem comprometer inclusive a correta iden- designa deve ser escrito depois do nome
tificação do organismo. Por exemplo: o peixe- da espécie, sempre com inicial minúscula.
boi, na verdade, é um mamífero, enquanto o Exemplo: Rhea americana alba (ema branca).
cavalo-marinho é um peixe. 5) Quando existe subgênero, o nome que o de-
Para acabar com a confusão resultante signa deve ser escrito depois do nome do
dessa situação, foi adotada para os seres vi- gênero, entre parênteses e com inicial mai-
vos uma nomenclatura única universal, fun- úscula. Exemplo: Anopheles (Nyssorhinchus)
damentada em regras internacionais, darlingi (mosquito-prego, transmissor da
adotadas a partir de 1901, com base nos tra- malária).
balhos feitos por Lineu no século XVIII. As 6) Em trabalhos científicos, depois do nome
principais regras são as seguintes: do animal, coloca-se o nome do autor que
o descreveu. Quaisquer outras indicações,
1) Os nomes científicos devem ser escritos
como o ano em que o animal foi descrito,
em latim e com destaque. O destaque pode
podem se escritas na seqüência, após uma
ser o itálico, o negrito ou sublinhado.
vírgula. Exemplo: bactéria causadora da
Cão - Canis familiaris sífilis = Treponema pallidum Schaudinn &
Canis familiaris Hoffmann, 1905.
Canis familiaris 7) O nome da família é feito pela adição da
Homem - Homo sapiens terminação –IDAE ao radical correspon-
dente ao nome do gênero-tipo (aquele
Homo sapiens
mais característico da família). Para
Homo sapiens subfamília a terminação usada é –INAE e
A escrita em latim evita variação do nome para superfamília é –OIDEA. Exemplos:
científico das espécies, pois o latim é uma lín- cão = gênero Canis, família Canidae; cas-
gua “morta”, isto é, não é mais utilizada e, cavel = gênero Crotalus, subfamília Crotali-
portanto, não há mudanças em seu modo de nae; lombriga = gênero Ascaris, superfa-
escrever. mília Ascaroidea. Entre vegetais, no en-
2) A nomenclatura é binomial, ou seja, todo tanto, os nomes das famílias costumam
ser vivo deve ter o seu nome científico com apresentar a terminação –ACEAE. Exem-
pelo menos duas palavras: a primeira para plos: palmeira e coqueiro = família Palma-
o gênero e a segunda para a espécie. No ceae; alho e cebola = família Liliaceae.

Capítulo 02. Fundamentos da Classificação Biológica 27


Zoologia e Embriologia

Capítulo 03. Protozoários


1. Apresentação
Os primeiros animais a habitarem a Ter-
ra praticamente não deixaram restos ou
vestígios que permitissem a identificação
de sua forma. Entretanto, existem hoje cer-
tos seres que, segundo se acredita, seriam
semelhantes àqueles primeiros animais da
Terra. Tais organismos são os protozoários
(do grego protos = primeiro; zoon = animal).
Constituem um grupo heterogêneo de cer-
ca de 50 000 espécies de organismos Ameba
unicelulares eucarióticos. Por serem móveis
e heterótrofos, este conjunto de organismos
tradicionalmente é estudado dentro da Zo-
ologia, embora não possam ser considera-
dos animais. Os sistemas de classificação
geralmente os consideram membros do rei-
no Protista. O grupo dos protozoários cha-
ma a atenção pela enorme diversidade de
formas que apresenta, com ampla variação
em termos de complexidade estrutural e
adaptação para inúmeros tipos de condi-
ções ambientais. Vivem preferencialmente
em lugares úmidos, seja no mar, na água Trichonympha sp
doce ou no solo. Muitos são de vida livre,
como o Paramecium, um dos protozoários
mais comuns em água doce; outros são
sésseis, como o Vorticella, que se fixa a um
substrato por uma espécie de pedúnculo.
Existem os comensais, que se associam a
outros organismos, sem prejudicá-los,
como a Entamoeba coli, que vive no intestino
humano; existem também os protozoários
mutualistas, que se associam a outros or- Paramécio
ganismos, beneficiando-os, como o
Trichonympha, que digere a celulose da ma-
deira no intestino do cupim; e há
protozoários parasitas, que se associam a
outros organismos, prejudicando-os, como
a Entamoeba histolytica, que vive no intestino
humano e pode provocar distúrbios intes-
tinais. Plasmodium sp que provoca a malária
e o Trypanosoma cruzi que provoca a doença
de Chagas. Trypanosoma cruzi

28 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

Embora a maioria dos protozoários viva locomover-se, capturar, digerir e assimilar ali-
de forma isolada, existem muitas formas co- mento, eliminar resíduos não aproveitáveis, res-
loniais, algumas das quais atingiram alto pirar, secretar e excretar substâncias, crescer e
grau de interdependência celular de tal for- reproduzir-se. É um organismo incolor, gelatino-
ma que se aproximam estruturalmente de um so, com até cerca de meio milímetro de compri-
verdadeiro nível celular. mento, e que não exibe uma forma constante.
Os protozoários são formas microscópi-
cas, unicelulares, que só podem ser estuda-
das em detalhes na sua estrutura celular com
o auxílio de um microscópio.

2. Características Gerais
A única característica comum a todos os
protozoários é o nível unicelular de organiza-
ção. Um protozoário pode ser comparado es-
truturalmente com uma célula de um organis-
mo pluricelular. Fisiologicamente, no entanto, a
célula do protozoário é um organismo completo A ameba vista ao microscópio
que realiza todas as funções essenciais à vida,
pois são, na maioria das vezes, auto-suficientes. Como qualquer célula, as amebas, bem como
Por isso, contém todas as organelas celulares tí- todos os outros protozoários, são constituídas
picas e realiza todos os processos celulares por envoltório, citoplasma e núcleo. O
fundamentais, além de executar todas as fun- envoltório é a estrutura que reveste a célula,
ções encontradas em um organismo multice- estando representado por uma membrana ce-
lular, o que a torna uma estrutura extremamente lular lipoproteica, embora algumas células
apresentem carapaças minerais protetoras. O
complexa. Um Paramecium, por exemplo, é muito
citoplasma pode se apresentar diferenciado em
mais complexo em termos morfofisiológicos do
duas regiões: uma mais externa, de constitui-
que qualquer célula do corpo humano.
ção gelatinosa, chamada ectoplasma; outra
Talvez o melhor modelo para se estudar o gru- mais interna, de constituição mais fluida, de-
po dos protozoários seja a ameba. A espécie nominada endoplasma. Dentro do endoplasma
mais comum é Amoeba proteus, encontrada em água fica o núcleo, que não é muito visível no orga-
doce limpa, onde haja vegetação verde movimen- nismo vivo. Em alguns protozoários existem
tando-se sobre substratos variados. Existem tam- dois núcleos: um macronúcleo maior que con-
bém espécies marinhas e algumas parasitas. Ape- trola funções vegetativas e um micronúcleo
sar de sua aparente simplicidade, a ameba pode menor que comanda os processos reprodutivos.

Capítulo 03. Protozoários 29


Zoologia e Embriologia

Os protozoários exibem diferentes modos de nutrição. São organismos heterótrofos que


podem ser de vida livre, como a ameba, obtendo alimento por meio da fagocitose, ou podem ser
parasitas, como o tripanossoma e o plasmódio que retiram nutrientes do corpo do hospedeiro,
podendo ainda ser sapróvoros, nutrindo-se de matéria orgânica morta em decomposição.

Processo de fagocitose numa ameba

A digestão é intracelular e ocorre no inte- te concentrado, tendem ao equilíbrio osmó-


rior de vacúolos digestivos que contêm enzi- tico com seu ambiente.
mas sintetizadas pela célula. Após a absor-
ção de partículas digeridas, os resíduos são
eliminados para o meio externo.
Quanto à respiração, as trocas gasosas se
processam por simples difusão através da
membrana celular. Existem protozoários
aeróbios e anaeróbios, e as amebas fazem
parte do primeiro grupo. A excreção também Paramécio – protozoário de água doce
é feita por difusão por meio da membrana A reprodução assexuada é a mais comum e
celular, sendo a amônia o principal resíduo também a única encontrada em certas formas.
metabólico. Já o controle osmótico, que de- Destaca-se a cissiparidade ou fissão binária,
termina a quantidade de água presente na quando uma célula se divide em outras duas,
célula, é feito através de uma organela deno- ocorrendo com freqüência nas amebas. Quan-
minada vacúolo pulsátil ou contrátil, que age to à reprodução sexuada, é mais rara e pode
como uma bomba de remoção do excesso de envolver a diferenciação do próprio organis-
água do citoplasma. Os vacúolos pulsáteis são mo em gameta. Esta, aliás, é a única forma de
esféricos, contraem-se periodicamente para reprodução sexuada encontrada nas amebas.
eliminar seu conteúdo e geralmente são en- Entretanto, o processo mais conhecido não en-
contrados em protozoários de água doce, pois volve gametas e chama-se conjugação, sendo
os marinhos, vivendo em um meio altamen- restrito a outros grupos de protozoários.

Reprodução assexuada em ameba – divisão binária

30 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

Em algumas formas, a reprodução é feita durante boa parte da vida e são todos pa-
no interior de cistos produzidos pelo orga- rasitas formam o grupo dos esporozoários
nismo. Estes podem ter também um papel de (do grego, spora = semente).
proteger a célula de adversidades ambientais.
O encistamento, na verdade, está presente no
ciclo de vida de grande número de proto- (A)
zoários, entre os quais certas amebas parasi-
tas. Consiste da secreção de um envoltório
espesso ao redor da célula, que pode protegê-
la do dessecamento ou de baixas temperatu-
ras, e dentro do qual o organismo sobrevive
gastando um mínimo de energia.

Trypanossoma – Flagelado

(B)

Conjugação em paramécio

Paramécio – Ciliado

Encistamento em ameba
(C)

3. Classificação
É comum classificar os protozoários em qua-
tro grupos menores, sendo usado como critério
principal de classificação o tipo de locomoção: Ameba – Sarcodino
• os protozoários com movimento flagelar
(D)
formam o grupo dos flagelados ou
mastigóforos (do grego, mastix = chicote;
phoros = portador);
• aqueles que se movimentam por meio de
pseudópodos formam o grupo dos rizópodos
ou sarcodinos (do grego, sarcodes = carnoso);
• os que têm movimento ciliar pertencem ao
grupo dos ciliados (do latim, cilium = cílio); Gregarina – Esporozoário
• finalmente, os que não se movimentam
Classificação dos protozoários: A) Flagelados, B)
Ciliados, C) Sarcodinos, D) Esporozoários.

Capítulo 03. Protozoários 31


Zoologia e Embriologia

3.1. Flagelados 3.2. Sarcodinos ou Rizópodes


São os protozoários que possuem como es- São os protozoários cuja locomoção é feita
truturas locomotoras filamentos alongados de- por meio de projeções celulares denominadas
nominados flagelos. Muitos mantêm associa- pseudópodos, também utilizadas para a cap-
ções com outros organismos, inclusive de tura de alimento no processo de fagocitose.
parasitismo, como Leishmania, Trypanosoma, Giardia Assimétricos, ou seja, sem forma constante, ou
e Trichomonas, que são parasitas humanos. mesmo esféricos, os sarcodinos formam um
grupo muito diversificado, existindo formas
marinhas, como os foraminíferos dotados de
carapaça, e formas comuns de água doce, como
os heliozoários, cuja célula lembra um peque-
no sol. As amebas, que são os sarcodinos mais
conhecidos, podem ser nuas ou providas de
uma carapaça. As amebas nuas não têm forma
fixa; sua célula se modifica constantemente
conforme os pseudópodos são formados. Já as
amebas com carapaça ou tecamebas, mais fre-
Trypanossoma na circulação qüentes em água doce, possuem um envoltório
rígido protetor dentro do qual a célula fica con-
O flagelo, estrutura de locomoção, está
tida. A carapaça pode ser secretada pelo cito-
normalmente voltado para a extremidade an-
plasma ou composta por materiais aglutinados
terior da célula e consiste de um filamento
na célula, sendo sempre dotada de abertura por
longo formado por microtúbulos proteicos,
onde os pseudópodos são emitidos. Aliás, algo
envolvido por uma bainha que é contínua com
que chama a atenção entre os sarcodinos é que
a membrana celular. Origina-se sempre de
este é um grupo de protozoários que apresenta
um corpúsculo basal, de estrutura semelhan-
abundante registro fóssil, devido à existência
te à de um centríolo. Em Trypanosoma, além do
de carapaças rígidas em vários de seus repre-
flagelo, existe uma membrana ondulante que
sentantes.
auxilia a locomoção. Trichonympha possui mi-
A formação dos pseudópodos está relacio-
lhares de flagelos e tem uma organização
nada com alterações na estrutura citoplasmá-
muito complexa. Habita o intestino de cupins
tica, sobretudo a interconversão entre o
e tem participação na digestão da madeira
endoplasma fluido e o ectoplasma gelatinoso.
ingerida por estes insetos. A madeira ingerida
Como conseqüência de algum tipo de estímu-
pelo cupim é assimilada pelo protozoário e
lo, o ectoplasma, em um ponto determinado
os produtos da digestão são também utiliza-
da superfície celular, transforma-se em en-
dos pelo inseto. A reprodução dos flagelados
doplasma e a pressão interna provoca um flu-
geralmente ocorre através de cissiparidade,
xo citoplasmático nesta região, dando origem
com fissão longitudinal da célula.
ao pseudópodo. Depois que ele foi distendido,
o endoplasma de sua extremidade é recon-
vertido em ectoplasma, prendendo a célula ao
substrato. Do lado oposto, ao mesmo tempo, o
ectoplasma é convertido em endoplasma para
que o movimento possa ser completado. A
ameba, desta maneira, consegue se deslocar
num pequeno espaço, como se tivesse dado um
passo; daí o significado do termo pseudópodos
Trypanosoma cruzi – "falsos pés".

32 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

Movimento amebóide. Representação esquemática da locomoção de uma célula por meio da


emissão de pseudópodos, que também podem ser usados para captura de alimento.

Existem algumas espécies de amebas para- célula em uma pequena vesícula que, depois de
sitas. Entretanto, há várias espécies de vida li- receber as enzimas digestivas, pode ser deno-
vre, que se alimentam de pequenos organismos, minada vacúolo digestivo. Muitas vezes, ao se
como bactérias, algas e outros protozoários. Os observar uma ameba ao microscópio, percebe-
pseudópodos também são usados na captação se a presa capturada ainda em agitação no in-
do alimento, no processo conhecido como fa- terior do vacúolo digestivo, enquanto sofre a
gocitose. Englobam o alimento e o incluem na ação enzimática que terminará por matá-la.

Diversas etapas do englobamento de uma partícula alimentar por uma ameba (fenômeno da fagocitose).

3.3. Ciliados rótrofo, sendo o alimento trazido para a


Este é o maior e mais homogêneo grupo de célula graças aos batimentos de um con-
junto de cílios posicionados em uma de-
protozoários. Sua locomoção é feita através
pressão da superfície celular denominada
de cílios, estruturas de origem e composição
sulco oral. Este leva a uma abertura celu-
semelhantes às de flagelos; porém, costumam
lar, o citóstoma, por onde o alimento pe-
ser menores e mais numerosos que eles. São
netra na célula. O citóstoma desemboca em
raras as espécies parasitas e quase todos os um canal de passagem, a citofaringe, que
representantes do grupo são de vida livre, se aprofunda na célula até o endoplasma.
existindo tanto em água doce como no mar. Dela se destacam vesículas contendo o ali-
Paramecium é talvez o ciliado mais co- mento e que, recebendo enzimas digesti-
nhecido pela facilidade com que é cultiva- vas secretadas pela célula, formam os
do em laboratórios. Este organismo de água vacúolos digestivos. Estes são movimen-
doce movimenta-se rapidamente utilizan- tados pelo citoplasma, permitindo uma as-
do os batimentos ciliares, descrevendo um similação uniforme das partículas digeri-
movimento de rotação em torno de seu das. Os resíduos são eliminados por uma
próprio eixo. Ao contrário da ameba, tem pequena abertura da superfície celular de-
forma constante. É um organismo hete- nominada citopígeo.

Capítulo 03. Protozoários 33


Zoologia e Embriologia

Organização celular do paramécio

Os vacúolos pulsáteis, de posição fixa, fa- 3.4. Esporozoários


zem o balanço hídrico da célula, sendo dois, Estes protozoários se caracterizam pela au-
um em cada extremidade do organismo. A sência de qualquer estrutura locomotora. Além
reprodução mais comum é por cissiparidade, disso, todos os membros do grupo são parasi-
mas a conjugação eventualmente acontece tas. Suas células têm forma arredondada ou
em certas espécies. Neste caso, dois protozoá- alongada, com um núcleo e sem muitas
rios estabelecem entre si uma comunicação organelas. Os alimentos são absorvidos direta-
citoplasmática e trocam os respectivos ma- mente do hospedeiro. A reprodução é feita por
teriais genéticos micronucleares. Fusão en- fissão múltipla ou esquizogonia, processo em que
tre os materiais trocados e aqueles que per- a célula torna-se multinucleada por mitoses su-
maneceram estacionários em cada célula, cessivas e então o citoplasma divide-se. Entre-
além de várias divisões celulares de cada um tanto, pode ocorrer fase sexuada no ciclo de vida,
dos envolvidos, completam o processo em com a diferenciação das células em gametas e
que, de cada par de conjugantes, resulta um posterior fusão, num processo denominado
total de oito células-filhas. gamogonia. Os maiores destaques neste grupo
são as gregarinas, que são parasitas de
invertebrados, como insetos e anelídeos; Toxo-
plasma, que pode atingir tecidos diversos no ho-
mem; e Plasmodium, o causador da malária.

Paramécios em conjugação Gregarina

34 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

4. Protozoários Parasitas II. Vetor


O protozoário é transmitido ao homem
As Protozoonoses são as doenças causa-
por um inseto hematófago conhecido popu-
das por protozoários, isto é, o agente etioló-
larmente como barbeiro ou chupança, que
gico é um protozoário parasita.
são nomes populares dados a uma série de
As protozoonoses mais comuns são doen- diferentes gêneros de insetos, dos quais o mais
ça de Chagas, malária, amebíase, úlcera de conhecido é o Triatoma. Este, tempos atrás, era
Bauru, toxoplasmose, leishmaniose, giardíase habitante de matas no interior ainda não
e tricomoníase. colonizado e sugava o sangue de animais sil-
Estas doenças podem ser caracterizadas vestres como o tatu, o gambá e a cutia. Com o
pelos seguintes aspectos: desbravamento do interior do País, matas fo-
• Agente etiológico – Agente causador da ram destruídas e o homem começou a cons-
doença. truir precárias habitações de sapé e pau-a-
• Vetor – Agente transmissor da doença, pique, em cujas paredes, cheias de frestas, os
podendo ser um ser vivo (inseto) ou água insetos passaram a fazer seus ninhos. Sua
e alimentos contaminados.
fonte de alimento também se alterou e ele
• Hospedeiros – Indivíduos que alojam o
passou a utilizar o sangue de animais domés-
parasita.
ticos, como o cão e o gato, além, é claro, do
• Sintomas – Reações do organismo à pre-
próprio homem, iniciando sua contaminação.
sença do parasita.
Assim nasceu a doença de Chagas humana.
• Profilaxia – Medidas para prevenção da
De hábitos noturnos, os barbeiros hoje dis-
doença.
tribuem-se principalmente pelos Estados do
4.1. Doença de Chagas nordeste e centro-oeste do País, além do inte-
Moléstia diretamente ligada às condições rior de Minas Gerais. Não são comuns no Es-
socioeconômicas humanas, constituindo-se tado de São Paulo devido às bem sucedidas
em um dos mais sérios problemas médicos campanhas de erradicação.
brasileiros. Estima-se que nosso país tenha
hoje cerca de 8 milhões de chagásicos, princi-
palmente na zona rural. São pessoas que pro-
vavelmente terão sobrevida reduzida, pois
muitos doentes falecem em torno de 30 ou 40
anos de idade. A doença começou a ser
pesquisada no início do século XX pelo brasi-
leiro Carlos Chagas, que também descobriu e
descreveu seu causador, seus transmissores
e reservatórios naturais e ainda parte da
sintomatologia.

I. Agente Etiológico
O protozoário causador da doença de
Chagas é o flagelado Trypanosoma cruzi. Seu
nome, dado por Carlos Chagas, é uma home- O barbeiro é transmissor da doença de
nagem prestada ao médico dr. Oswaldo Cruz. Chagas.

Capítulo 03. Protozoários 35


Zoologia e Embriologia

III. Local de Ação IV. Ciclo Biológico


No organismo humano, o Trypanosoma cruzi Quando o barbeiro, no seu hábito hemató-
pode ser encontrado no sangue circulante, fago, ingere o sangue de uma pessoa doente ou
em sua forma tradicional alongada e dotada de um animal que seja reservatório natural do
de flagelo livre, e nos tecidos muscular (so- Trypanosoma cruzi, as formas parasitárias se de-
bretudo cardíaco) e nervoso, em que se apre- senvolvem em seu tubo digestivo até atingi-
senta com forma esférica e sem flagelo livre. rem a porção posterior do intestino. Nor-
No inseto, formas do protozoário são encon- malmente, um barbeiro torna-se transmissor
tradas sobretudo no intestino. do protozoário cerca de 20 dias após adquiri-lo
via alimentação, podendo permanecer assim
por toda a vida, que dura aproximadamente
um ano. Ao sugar o sangue de uma pessoa sa-
dia, o inseto deposita suas fezes na pele lesada e
os protozoários alcançam a corrente sangüínea.
Podem atingir diferentes tecidos corporais, nos
quais se reproduzem, rompem as células e
retornam à corrente sangüínea, alcançando
novos tecidos. Dez a quinze dias após a conta-
minação, a doença atinge sua fase mais aguda e
o número de parasitas no sangue torna-se tão
alto que pode levar o indivíduo à morte. Se a
quantidade de protozoários diminuir por ação
do sistema imunológico, o doente entra na fase
crônica e nela pode permanecer por muitos anos.

36 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

V. Transmissão VI. Sintomas


A forma comum de transmissão da do- A contaminação pelo protozoário se caracte-
ença de Chagas é pela penetração do riza por manifestações típicas nas regiões do cor-
protozoário, presente nas fezes do barbei- po por onde houve a entrada do parasita. O
chagoma é uma inflamação que surge no local da
ro, quando existem lesões na pele da pes-
pele por onde o Trypanosoma cruzi penetrou, en-
soa. Entretanto, outras formas de transmis- quanto o sinal de Romanã resulta de infecção do
são já foram constatadas. Em regiões onde globo ocular, com grande inchaço das pálpebras.
a incidência da moléstia é alta, transfusões Aliás, na fase aguda que se segue à contaminação,
utilizando sangue de doadores contamina- reações inflamatórias são comuns devido à mul-
dos são freqüentes e vários casos da doença tiplicação intracelular do parasita, o que provoca
foram registrados com essa origem. A trans- mobilização do sistema imunológico. Pode se se-
missão congênita, ou seja, da mãe doente guir um período de latência de duração variável
(10 a 20 anos), sem grandes manifestações, e o
para o feto através da placenta também
chagásico entra na fase crônica, quando come-
pode ocorrer, podendo provocar aborto ou çam a surgir os problemas cardíacos e intesti-
morte da criança. O parasita também já foi nais. Insuficiência cardíaca, cardiomegalia (dila-
encontrado no leite materno e pode conta- tação do coração), problemas na formação e con-
minar os bebês em fase de amamentação, dução dos estímulos cardíacos, megaesofagia (di-
se houver lesões em sua boca ou no tubo latação da parede do esôfago) e megacolia (dilata-
digestivo. ção da parede intestinal) são os aspectos mais
freqüentes, que podem levar à morte.

Coração Chagásico Coração Normal

Capítulo 03. Protozoários 37


Zoologia e Embriologia

VII. Profilaxia de filó sobre as camas são paliativos que


A transmissão da doença de Chagas está podem ser adotados enquanto não se conse-
intimamente ligada às péssimas condições gue a erradicação definitiva do inseto. Estu-
habitacionais em que vive boa parcela de da-se o combate ao barbeiro através de uma
nossa população, sobretudo no meio rural. A técnica de controle biológico que consiste na
melhoria das habitações, com a construção utilização de um fungo parasita ou de um pe-
de casas de alvenaria ou a reforma das casas queno inseto cujas larvas destroem os ovos
já existentes, com o preenchimento das fres- do barbeiro. O controle das doações de san-
tas com reboque, seriam medidas fundamen- gue em hospitais e bancos de sangue é decisi-
tais. O combate ao barbeiro, com campanhas vo para prevenir a contaminação por uma
de erradicação como as realizadas no Estado via que ganhou importância nos últimos
de São Paulo, que reduziram grandemente o anos. A doença de Chagas não tem cura e seu
número de casos da doença por esta via de tratamento ainda é ineficaz, reforçando a ne-
transmissão, seria outra medida importan- cessidade de medidas profiláticas adequadas.
te. A utilização de telas nas janelas e redes

Combate ao barbeiro Telas em janelas

Redes de filó Cuidado nas transfusões sangüíneas

38 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

4.2. Malária III. Local de Ação


A malária,também conhecida como Durante seu ciclo evolutivo, o Plasmodium
maleita, sezão, impaludismo, febre palustre pode se apresentar sob várias formas dife-
ou febre intermitente, é parasitose que gran- rentes. No organismo humano é encontrado
de dano causou a milhões de pessoas das áre- no sangue circulante, dentro de hemácias
as tropicais do planeta. Já conhecida desde a (glóbulos vermelhos) e na região hepática.
Grécia antiga, a malária recebeu este nome Das várias formas exibidas pelo parasita,
porque acreditava-se que sua transmissão duas merecem destaque: o esporozoíto é a
seria feita por meio de ar contaminado (mal forma existente nas glândulas salivares do
aria ou mal ar). A participação de mosquitos mosquito e que é inoculada no homem, tendo
transmissores só foi esclarecida no final do um aspecto alongado, com um núcleo cen-
século passado. É doença endêmica em vári- tral; já o merozoíto é a forma encontrada em
os países, inclusive no Brasil, onde se consti- células hepáticas e no interior das hemácias,
tui em sério problema em algumas regiões e sendo ovalado.
um desafio para os nossos governantes.
IV. Ciclo Biológico
I. Agente Etiológico Pode-se dizer que o parasita é heteroxeno,
A malária é causada por esporozoários do pois seu ciclo necessita de dois hospedeiros: o
gênero Plasmodium. Existem cerca de 50 espé- homem e o mosquito. O homem é o hospedeiro
cies que utilizam o mosquito e um vertebra- intermediário, no qual o Plasmodium realiza ape-
do, geralmente ave, como hospedeiros. Des- nas reprodução assexuada, enquanto o mosqui-
tas, apenas quatro espécies têm o homem to é o hospedeiro definitivo, pois a fase sexuada
como hospedeiro vertebrado e causam a ma- da vida do protozoário ocorre no seu corpo.
lária humana. Três ocorrem no Brasil: P. vivax, Quando uma pessoa entra em área onde a
P. malariae e P. falciparum. A quarta espécie é P. malária é comum, fatalmente acaba sendo ví-
ovale, que só é encontrada na África. tima da ação hematófaga das fêmeas do mos-
quito Anopheles. De forma geral, o ciclo come-
II. Vetor ça quando os esporozoítos entram na corren-
A transmissão da malária é feita por meio te sangüínea humana com a saliva do mos-
da atividade hematófaga do mosquito do gê- quito. Vão para o fígado e invadem as células
nero Anopheles, conhecido popularmente como hepáticas, nas quais desenvolvem estágios
mosquito-prego, pelo fato de se posicionar amebóides. Cada parasita sofre fissão múlti-
perpendicularmente à superfície da qual su- pla ou esquizogonia, produzindo milhares de
gará sangue. No Brasil, a espécie mais im- merozoítos, que são liberados para o sangue
portante é Anopheles darlingi e, curiosamente, e invadem as hemácias. Reproduzem-se no-
apenas as fêmeas são capazes de fazer a trans- vamente por fissão múltipla e causam rup-
missão, uma vez que os machos têm hábito tura ou lise celular, sendo liberados para in-
alimentar frugívoro. A atividade hematófaga vadir novas hemácias, nas quais repetirão o
ocorre sobretudo ao amanhecer e ao anoite- procedimento. Alguns merozoítos, entretan-
cer e as larvas proliferam em ambientes de to, podem, dentro de certas hemácias, sofrer
água parada, como lagos e represas. Sabe-se um processo de diferenciação celular e origi-
hoje que os mosquitos que apresentam for- nar células denominadas gametócitos, que
mas do Plasmodium nas glândulas salivares são precursoras de gametas. Os gametócitos
conseguem sugar um menor volume são liberados para o sangue circulante e po-
sangüíneo que os mosquitos normais; por dem ser ingeridos por um mosquito quando
isso, repetem os ataques aos hospedeiros vá- este sugar o sangue do doente.
rias vezes, aumentando a chance de trans-
Na sua atividade hematófaga, o mosquito
missão.

Capítulo 03. Protozoários 39


Zoologia e Embriologia

pode ingerir também merozoítos e outras for- parede gástrica, desenvolvem-se em cistos e
mas sangüíneas do parasita, mas somente os liberam milhares de esporozoítos, os quais
gametócitos se desenvolverão no inseto, já se alojarão nas glândulas salivares. O mos-
que as outras formas degeneram e morrem. quito pode, pela saliva, introduzir os
No tubo digestivo do mosquito, os esporozoítos em outro indivíduo ao picá-lo.
gametócitos, já diferenciados em gametas,
fundem-se e formam zigotos, que se fixam na

Ciclo vital de Plasmodium vivax, mostrando as várias formas do protozoário no organismo do mosquito e no homem.

V. Tipos de Malária
A característica sintomatológica mais Plasmodium vivax é a causadora da malária
marcante da malária é a ocorrência de cala- terçã benigna, sendo que os sintomas se re-
frios e acessos febris a intervalos regulares, petem a cada 48 horas; Plasmodium falciparum é
cuja duração depende da espécie de causador da malária terçã maligna, também
Plasmodium que está provocando a doença. com ciclo de 48 horas; Plasmodium malariae pro-
Percebe-se que tais sintomas coincidem com voca malária quartã benigna, com intervalo
a ruptura das hemácias do doente pelos de 72 horas entre os sintomas. A distinção
merozoítos e que o intervalo entre eles repre- entre malária benigna e maligna está no fato
senta justamente o tempo necessário para que de que a segunda freqüentemente conduz à
os merozoítos invadam novas hemácias e morte, o que raramente ocorre com a primei-
provoquem lise também nelas. A espécie ra, embora cause séria debilidade orgânica.

40 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

A chamada malária maligna destrói maior número de hemácias a cada reprodução dos
merozoítos, além de provocar sua aglutinação dentro dos vasos sangüíneos, podendo com-
prometer o fluxo de sangue em órgãos importantes e, conseqüentemente, levar à morte.

A variação da temperatura corporal num indivíduo afetado com malária (febre terçã).

VI. Sintomas VII. Profilaxia


Os sintomas típicos da malária, como já Hoje, no Brasil, a malária está mais con-
vimos, são os calafrios e acessos febris inter- centrada na região Norte, sobretudo na Ama-
mitentes, com intervalos variáveis, confor- zônia, e em parte da região Centro-Oeste, além
me a espécie de parasita considerada. Além de áreas esparsas do Nordeste e Sudeste. As
disso, é comum a ocorrência de anemia, pois medidas profiláticas consistem basicamente
o número de hemácias destruídas é muito em: tratar o homem doente (eliminando a fon-
grande, levando à perda da hemoglobina (o te de infecção e reservatório), proteger o ho-
pigmento responsável pelo transporte do mem sadio (desenvolvimento de vacina, te-
oxigênio pelo organismo e que está dentro das las nas janelas) e combater o mosquito (fases
hemácias), causando sérios problemas para larval e adulta).
a manutenção da fisiologia normal. Proble- Existem hoje vários medicamentos, alguns
mas hepáticos são comuns, pois parte das dos quais à base de quinino, que não conse-
células do fígado também é destruída pelo guem destruir as formas parasitárias aloja-
parasita, levando ao aumento de volume do das no fígado, o que proporciona recaídas.
órgão. Deve-se ressaltar que há resposta do Medicamentos associados podem ser utiliza-
sistema imunológico à ação do parasita, exis- dos, conseguindo-se excelentes resultados, so-
tindo casos em que a pessoa adquire imuni- bretudo quando o tratamento é feito preco-
dade para a doença. Ocorrem também casos cemente. Pessoas que vivem em áreas onde é
de recaída, em que a pessoa, depois de pare- comum a doença costumam tomar pequenas
cer curada, volta a manifestar os sintomas.

Capítulo 03. Protozoários PV2D-06-BIO-31 41


Zoologia e Embriologia

doses de certas drogas como daraprin ou as possibilidades de contaminação. O uso de


cloroquina como prevenção. Desenvolvem-se inseticidas nas casas pode fazer o mesmo com
pesquisas no sentido de se obter uma vacina os insetos adultos. Técnicas de controle bio-
contra a moléstia. lógico são também empregadas , entre elas a
A drenagem de água parada, assim como colocação de peixes como o guaru-guaru
a colocação de petróleo ou venenos, pode ma- (Gambusia affinis) nas águas para comer lar-
tar as larvas do mosquito-prego, reduzindo vas e pupas de mosquitos.

Controle biológico – Profilaxia para malária


Telas nas janelas – Profilaxia para malária

Inseticida – Profilaxia para malária

4.3. Giardíase pletado no intestino, onde o parasita adulto se


fixa. É comum a adesão das formas adultas à
superfície exterior das células duodenais. No
intestino, ocorrem a reprodução e os novos
encistamentos quando as formas adultas se
desprendem da mucosa intestinal, sendo en-
tão liberadas para o meio exterior, onde pode-
rão contaminar novas pessoas.
Geralmente a giardíase é assintomática e
É causada pelo flagelado Giardia lamblia, pos- muitas vezes crônica. Há casos, entretanto, em
sivelmente o primeiro protozoário intestinal a que certos sintomas podem ser percebidos,
ser conhecido. Em sua forma adulta, apresenta como: dores abdominais, irritabilidade, falta
um formato de pêra e quatro pares de flagelos. de apetite, náusea e vômitos, além de diarréia
Pode também ser encontrado na forma de cis- e má absorção de nutrientes pela mucosa in-
to, sendo então ovalado. A via normal de infec- testinal, que poderiam ser provocados pelo
ção é através da ingestão de cistos, geralmente recobrimento desta pelos protozoários ou pela
na água e nos alimentos contaminados. O liberação de alguma toxina por parte deles.
desencistamento inicia-se no estômago e é com-

42 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

É uma moléstia encontrada no mundo todo e fagocitário cutâneo em regiões como pernas, bra-
mais freqüente em crianças devido à falta de ços e rosto. A característica marcante da doença,
hábitos higiênicos, o que torna muito comum no entanto, é a ocorrência de sérias lesões na re-
a auto-infecção (crianças brincando no chão gião facial (boca e nariz, podendo estender-se
contaminado com fezes de outras crianças e até a faringe). Inicialmente, ocorre edema na car-
levando a mão à boca se infectam com facili- tilagem nasal, provocando corrimento (coriza)
dade). Nos adultos, a infecção parece conferir e, algum tempo depois, o aparecimento de úlce-
certa resistência a novas infecções. Deve-se ra, promovendo grande inchaço (é o chamado
ressaltar a grande resistência das formas "nariz-de-anta"). Pode, depois, haver o compro-
císticas às condições ambientais: o cisto su- metimento de todo o nariz, lábio superior, pala-
porta até dois meses no meio externo, é resis- to e faringe, deixando o local seriamente mutila-
tente ao processo de cloração da água (embo- do e dificultando a respiração e a fala.
ra não resista à fervura) e pode sobreviver
muito tempo embaixo das unhas.
Como medidas profiláticas, destacam-se:
tratamento dos doentes, o que tem sido feito
com grande eficiência com drogas apropria-
das; higiene pessoal; tratamento da água e
cuidados com os alimentos, sobretudo com
as verduras que serão ingeridas cruas.

4.4. Leishmaniose
Este termo reúne uma série de
protozoonoses que têm como agentes
etiológicos flagelados do gênero Leishmania. São
transmitidos ao homem pela picada de mos- Há vários medicamentos que podem ser uti-
quitos hematófagos dos gêneros Phlebotomus lizados no tratamento desta moléstia. Entretan-
e Lutzomyia, conhecidos popularmente como to, seu uso só é eficaz quando a doença é
mosquitos-palha. Pode se manifestar de di- identificada precocemente, além do fato de se-
ferentes maneiras, dependendo da espécie rem necessários tratamentos repetidos e de exis-
infectante, mas, geralmente, provoca degene- tirem sérios efeitos colaterais. Há vacina e mui-
ração tecidual dos órgãos atingidos. São des- tos estudos são feitos ainda hoje na tentativa de
critos três tipos importantes de leishmaniose: aperfeiçoá-la. O combate ao mosquito vetor é
muito importante como medida profilática. É
I. Leishmaniose Tegumentar Americana um inseto de hábito noturno e que voa muito
Acredita-se que seja uma doença típica das pouco. Assim, em áreas de derrubada de matas,
Américas, sendo encontrada desde o sul dos é conveniente a instalação de pessoas a uma dis-
Estados Unidos até a Argentina e já era bem tância mínima de 500 metros da mata.
conhecida em São Paulo no início do século XX,
quando recebeu o nome de Úlcera de Bauru, II. Leishmaniose Cutânea
por ser esta a área com maior incidência da Também conhecida como botão do Oriente,
moléstia. Geralmente está associada a áreas é uma doença benigna restrita à Europa e à Ásia.
florestais recentes ou antigas. O agente Seu agente etiológico é Leishmania tropica e o vetor
etiológico mais comum é Leishmania braziliensis é o mosquito Phlebotomus papatasii. Caracteriza-
e o inseto vetor pertence ao gênero Lutzomyia. se por lesões exclusivamente cutâneas e no lo-
cal da picada do inseto. O paciente normal-
O parasita habita os monócitos e macró-
mente cura-se espontaneamente e não adqui-
fagos que formam o sistema monocítico
re a moléstia outra vez.

Capítulo 03. Protozoários PV2D-06-BIO-31 43


Zoologia e Embriologia

4.5. Amebíase terístico da doença, que é a eliminação de fezes


Também conhecida como disenteria acompanhadas de muito sangue (diarréia
amebiana, é moléstia de ocorrência comum mucosanguinolenta).
no homem, causada pelo sarcodino Entamoeba Em muitos casos, ocorre o rompimento da
histolytica. As formas adultas habitam princi- parede intestinal e as amebas, por meio da cor-
palmente a luz intestinal, mas, devido ao fato rente sangüínea, acabam por atingir o fígado,
de provocarem ulcerações e rupturas da no qual provocam sérios danos (uma espécie
mucosa do intestino, podem atingir outros lo- de hepatite), além de outros órgãos. Alguns pa-
cais e ser encontradas em lesões hepáticas, cientes são "portadores assintomáticos", ou
pulmonares, cerebrais ou cutâneas. A disper- seja, são hospedeiros das amebas, possuem
são a partir do hospedeiro é feita na forma algumas úlceras intestinais, não apresentam
cística. A pessoa se infecta ao ingerir os cistos sintomas, mas eliminam grande quantidade
contidos na água e em alimentos contamina- de cistos, sendo transmissores freqüentes.
dos. Passando pelo estômago e intestino del- Como medidas profiláticas devem-se des-
gado, o cisto tem o envoltório digerido e abre- tacar: o tratamento dos doentes, relativamente
se, liberando uma pequena ameba, que se re- simples quando ocorrem apenas lesões intesti-
produz assexuadamente, produzindo oito for- nais, mas muito difícil em caso de lesões hepá-
mas adultas, que migram para o intestino gros- ticas, pulmonares ou cutâneas; educação sani-
so. Algumas formas permanecem na luz intes- tária, com extensão da rede sanitária e trata-
tinal e encistam, são liberadas com as fezes e mento de esgoto; higiene alimentar, tomando-
podem infectar um novo hospedeiro. Outras se todos os cuidados com a água e as verduras.
formas invadem a mucosa e provocam lesões. A amebíase está intimamente vinculada a re-
Isso freqüentemente acarreta o sintoma carac- giões onde o saneamento básico é deficiente.

Ciclo da amebíase

44 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

4.6. Tricomoníase
Também chamada tricomonose, é causa-
da pelo flagelado Trichomonas vaginalis, que vive
no sistema urogenital masculino e feminino.
A transmissão usual é através do contato
sexual. Geralmente causa inflamações sérias
na mulher e atinge sobretudo a região vagi-
nal. No homem permanece assintomático e
vive principalmente na uretra peniana. Há
tratamento através de diversos medi-
Trichomonas vaginalis, protozoário
camentos e a profilaxia consta basicamente flagelado causador da tricomoníase.
de higiene pessoal e cuidados na prática se-
xual, devendo as relações ser evitadas em caso
de doença de um dos parceiros.

4.7. Toxoplasmose
É uma grave doença causada pelo esporozoário Toxoplasma gondii. O gato é o hospedeiro
definitivo, enquanto o homem e outros animais são hospedeiros intermediários. A transmis-
são usualmente acontece por via oral quando se ingerem as formas infectantes. Ocorre tam-
bém transmissão congênita (através da placenta) durante a gravidez, desde que a mãe esteja
na fase aguda da doença. A toxoplasmose congênita ou pré-natal pode provocar aborto, parto
prematuro ou sérias anomalias na criança, com possibilidade de ocorrência de natimortos. A
toxoplasmose pós-natal raramente provoca a morte, mas pode levar a manifestações graves,
como comprometimento ganglionar, lesões oculares ou cutâneas e distúrbios nervosos.

Capítulo 03. Protozoários PV2D-06-BIO-31 45


Zoologia e Embriologia

Embora ainda não exista uma droga eficaz contra a toxoplasmose, os doentes podem ser
tratados com associações de medicamentos. Higiene alimentar e cuidados com os animais de
criação, sobretudo gatos, evitando contato com as fezes, pois as formas sexuadas vivem no
seu epitélio intestinal, são as medidas profiláticas mais importantes.

46 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 03. Protozoários


Zoologia e Embriologia

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais Simples


1. Esponjas
1.1. Apresentação
Nas 10 mil espécies diferentes de espon-
As esponjas, também conhecidas como
jas existem representantes com formatos di-
poríferos, formam o filo Porifera (do latim porus
versos e tamanho que varia entre 1 mm e 2 m
= poro; ferre = portador) e são animais de or-
de diâmetro. Muitas são coloridas de cinzen-
ganização simples. Todos os membros do gru-
to ou pardo, outras são vermelhas,
po vivem fixos a um substrato e são pratica-
alaranjadas ou azuis. Podem viver isoladas,
mente imóveis, o que fez com que, durante
mas existem inúmeras espécies que formam
muito tempo, fossem considerados plantas.
colônias com grande número de indivíduos.
Sua natureza animal só foi reconhecida em
São quase todas marinhas, existindo somen-
1765, quando foram observadas correntes in-
te duas famílias de água doce, vivendo em
ternas de água no seu organismo.
profundidades diversas.

Filo Porifera: Alguns tipos de esponjas

Algumas espécies de esponjas ficaram aplica a todo o grupo, embora nem todas pos-
muito conhecidas pela sua aplicabilidade sam ser utilizadas para o banho, devido ao
econômica, pois seus delicados esqueletos, esqueleto fortalecido e pontiagudo que mui-
formados por uma substância proteica elás- tos representantes possuem.
tica, permitem sua utilização como esponjas-
- de-banho. É por isso que o termo esponja se

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 47


Zoologia e Embriologia

1.2. Características Gerais cidade de deslocamento foi compensada com


e Organização a construção do organismo, segundo um ar-
O corpo da esponja freqüentemente se as- ranjo ou simetria radial, onde as estruturas
semelha a um pequeno vaso ou barril fixo ao corporais estão organizadas em torno do eixo
substrato. O termo "porífero" refere-se ao fato central do animal. É como se o animal, inca-
de todos os membros deste grupo apresenta- pacitado de explorar o ambiente por ser séssil,
rem o corpo dotado de poros, minúsculos trouxesse o ambiente até ele, o que se consta-
orifícios por onde ocorre a passagem de água. ta pelo grande volume de água que passa di-
Entretanto, o que mais chama a atenção nes- ariamente pelo corpo da esponja, ajudando
tes animais é sua organização em torno de na sua sobrevivência. Muitas formas, entre-
um sistema de canais para a circulação de tanto, são assimétricas, não revelando qual-
água, o que está diretamente relacionado com quer padrão de organização.
o fato de serem indivíduos sésseis. A incapa-

A diversidade das esponjas

48 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

A superfície corporal das esponjas é per- tam muitas células amebóides e elementos
furada por muitas aberturas minúsculas, os de sustentação. Algumas das células
poros, que, nos indivíduos de estrutura mais amebóides, também chamadas amebócitos,
simplificada, abrem-se diretamente para uma são participantes dos processos digestivos do
cavidade interna denominada átrio ou animal por terem capacidade fagocitária, en-
espongiocelo. Naqueles animais de estrutura quanto outras são totipotentes, ou seja, são
mais complexa, os poros abrem-se para um capazes de formar outros tipos de células ne-
intrincado sistema de canais e/ou câmaras que cessárias ao organismo. Quanto aos elemen-
ocupam a parede do corpo, neste caso mais tos de sustentação, formam uma espécie de
espessa, e que desembocam no átrio central. O esqueleto que, na maioria das esponjas, é com-
átrio sempre se abre para o exterior, através posto por estruturas enrijecidas formadas por
de um grande orifício situado na parte superi- amebócitos especiais e que são denominadas
or do corpo e que é chamado ósculo. Uma cor- espículas. Apresentando formas variáveis, as
rente de água passa continuamente pelos po- espículas são importantes elementos de iden-
ros e pelo sistema de canais até atingir o átrio tificação e classificação dos poríferos, poden-
e ser eliminada através do ósculo. do ser constituídas de materiais como calcário
A parede corporal dos poríferos tem espes- (carbonato de cálcio) ou sílica (dióxido de silí-
sura que varia de acordo com o grupo consi- cio). Algumas formas, como as esponjas-de-
derado. Nas esponjas mais simples, é relati- banho, não possuem espículas como elemen-
vamente fina e tem sua superfície externa for- tos esqueléticos, mas sim uma rede de delica-
mada por células achatadas denominadas das fibras proteicas, as fibras de espongina,
pinacócitos. Os poros são formados a partir que formam uma rede espalhada por todo o
de um tipo especial de célula, com a forma de mesênquima. Há esponjas que apresentam
um tubo perfurado, que se estende desde o ex- uma mescla de espículas e fibras de espongina
terior até o átrio e que se chama porócito. Sua como material de sustentação.
perfuração ou cavidade interna forma o poro Revestindo o átrio, no interior do corpo
ou óstio, por onde a água penetra no corpo do da esponja, há uma camada de células
animal. Abaixo dessa superfície externa, exis- flageladas denominadas coanócitos, respon-
te uma matriz proteica de consistência gelati- sáveis pelo movimento da água e também
nosa denominada mesênquima, onde se no- pela obtenção de alimento.

Estrutura de esponjas simples. A) Leucosolenia, uma colônia pequena. B) Leucosolenia, secção


ampliada da parte superior do corpo. C) Scypha, indivíduo total com parte da parede do corpo
retirada. D, E e F representam os diversos tipos celulares.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 49


Zoologia e Embriologia

1.3. Tipos Estruturais da não são tão significativas denominam-se


As esponjas mais simples, como aquela siconóides. Nelas os coanócitos ficam situa-
descrita no item anterior, apresentam a pare- dos não na parede do átrio, mas em canais
de do corpo relativamente fina e átrio volu- localizados no interior da parede corporal
moso. Recebem a denominação de asconóides chamados canais radiais.
e se caracterizam por um fluxo de água lento O mais alto grau de dobramento da pare-
no interior do corpo, já que o átrio conterá água de do corpo é encontrado nas esponjas
demais para que possa ser levada rapidamente leuconóides, onde os canais radiais se expan-
para fora através do ósculo. diram de modo a formar pequenas câmaras
As esponjas mais complexas resolveram, flageladas esféricas, sendo que o átrio pratica-
durante a evolução, o problema do fluxo de mente desaparece. De forma geral, as esponjas
água e da área de superfície, através de do- asconóides são de pequeno porte, devido ao
bramento da parede do corpo e redução do limitado número de coanócitos que forram seu
átrio. As dobras aumentam a superfície da átrio, enquanto as esponjas siconóides e
camada de coanócitos e a redução do átrio leuconóides possuem tamanhos mais avan-
diminui o volume de água, que assim circula tajados, graças ao maior número de coanócitos
de maneira mais rápida e eficiente. As espon- e à circulação mais eficiente de água que as
jas em que as dobras da parede do corpo ain- dobras da parede do corpo possibilitam.

Três tipos de estruturas de esponjas. Os coanócitos são mostrados em cor escura. As setas mais claras indicam a
circulação de água, enquanto as setas mais escuras mostram a saída de materiais pelo ósculo.

1.4. Funcionamento
O funcionamento orgânico das esponjas partículas são fagocitadas pelo corpo celular
depende fundamentalmente da água que pas- do coanócito e a digestão, exclusivamente
sa pelo seu corpo, trazendo partículas alimen- intracelular, é realizada pelos próprios
tares e oxigênio e retirando excretas e gás coanócitos. É por esta razão que as esponjas
carbônico. As correntes de água são criadas são conhecidas como animais filtradores.
pelos batimentos flagelares dos coanócitos, Calcula-se que, em uma esponja de apenas
que também são os responsáveis pela filtra- 10 cm de altura, passem diariamente 95 li-
ção das partículas alimentares, através da tros de água através do corpo.
fina membrana que forma seu colarinho. As

50 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

Organização das esponjas

As trocas gasosas e a eliminação dos os primeiros metazoários. Constituem um gru-


excretas ou resíduos metabólicos são feitas po de organismos aquáticos, geralmente mari-
por simples difusão entre água e células. A nhos, em geral muito bonitos, com cores e for-
água também desempenha o papel de líqui- mas bastante variáveis. Muitos formam colô-
do circulatório, uma vez que estes animais nias contendo grande quantidade de indivídu-
não apresentam sangue. Os amebócitos, li- os. Compreendem formas móveis, livre-
vres no mesênquima, estão relacionados com natantes, e também imóveis, o que fez com que
a formação das espículas e auxiliam na dis- alguns autores, no passado, considerassem os
tribuição de substâncias pelo organismo. Não celenterados como "animais-plantas" ou
há sistema nervoso, sendo que as células res- zoófitos. Sua natureza animal só foi realmente
pondem aos estímulos individualmente, exis- estabelecida no século XVIII. Existem formas
tindo apenas reações localizadas. microscópicas, como os pólipos formadores de
corais, e outras gigantescas, como a medusa
2. Celenterados Cyanea artica, cujos tentáculos podem atingir até
10 m de comprimento. O grupo merece desta-
2.1. Apresentação que pela grande diversidade de formas que apre-
Os celenterados, também chamados senta. Entre elas estão as formas coloniais Obelia
cnidários, constituem o filo Cnidaria (do grego sp, por exemplo, uma colônia formada por inú-
knide = urtiga), com cerca de 10 mil espécies e meros organismos fixos, que, durante seu de-
grau de organização superior ao dos poríferos, senvolvimento, passam por um estágio livre-
pelo fato de apresentarem tecidos verdadeiros, natante, enquanto Physalia pelagica, ou caravela,
formados por células diferenciadas, e por te- é uma colônia flutuante com vários tipos de
rem, como cavidade interna principal, uma indivíduos adaptados a diferentes funções,
cavidade digestiva. Por isso, são considerados como flutuação, nutrição, defesa e reprodução.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 51


Zoologia e Embriologia

Nas praias, os banhistas devem ser caute- lhas de vegetais submersos. O corpo da hidra
losos, pelo fato de o revestimento corporal dos é cilíndrico e pode chegar a mais de 1 cm de
celenterados apresentam células que, quando comprimento, tendo aspecto de coluna e apre-
tocadas, provocam fortes queimaduras. Um dos sentando duas extremidades: a superior ou
celenterados mais conhecidos é Aurelia aurita, oral, na qual está a boca, e a inferior ou aboral,
mais conhecida como água-viva, comum em na qual um disco basal fixa o animal ao
águas costeiras e cujo nome é devido ao fato de substrato.
aproximadamente 95% de seu peso corporal
ser formado por água. Chironex fleckeri, ou ves-
pa-marinha, encontrada em fundos arenosos
nos mares da região australiana, pode ser con-
siderada o animal venenoso mais perigoso do
mar, pois o contato com suas células urticantes
pode matar um homem em apenas três minu-
tos. Muito conhecidas são também as
anêmonas, que podem se prender a rochas e ao
fundo arenoso e alimentam-se de pequenos ani- (A)
mais. Os corais são cnidários coloniais, alguns
formando os famosos recifes. Neste caso, os or-
ganismos crescem uns sobre os outros e os mais
antigos, que são a base do agrupamento, têm
seu suporte calcário preservado após a morte,
formando grandes barreiras em certas regiões
marinhas. A Grande Barreira de Recifes é o mais
extenso dos recifes de coral do mundo, esten-
dendo-se por mais de 1600 km ao longo da
costa nordeste da Austrália.
2.2. Características Gerais
Embora a diversidade de formas seja uma
marca característica do grupo dos cnidários,
podemos tomar como modelo de celenterado
para a descrição estrutural do grupo a co- (B)
nhecida hidra, animal encontrado em ambi-
entes de água doce e limpa, como lagoas, la-
gos, tanques ou mesmo em riachos de cor- A – Hidra
renteza mais lenta, onde se fixa a talos ou fo- B – Corte longitudinal do corpo de uma hidra

52 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

I. Cnidoblastos
O termo cnidário está associado ao nome de uma planta, a urtiga, conhecida por liberar,
através de pêlos secretores das folhas, uma substância que irrita a pele de organismos que
tenham contato com ela. Esta característica também está presente na hidra e nos diversos
tipos de celenterados, cujo revestimento externo possui células capazes de liberar uma subs-
tância irritante ou urticante, que pode provocar terríveis queimaduras em outros animais e
até mesmo no homem. Estas células, conhecidas como cnidoblastos, são típicas dos compo-
nentes deste grupo. São conhecidos vários casos de banhistas que sofreram queimaduras
muito sérias devido à ação de celenterados que se aproximam das praias, como as caravelas,
as águas-vivas e as vespas-marinhas, já citadas. Tais células, para o cnidário, servem para a
defesa e captura de alimento e contrastam com a aparente fragilidade que os membros do
grupo exibem. Os cnidoblastos também são chamados cnidócitos e contêm o aparelho
urticante característico dos cnidários, o nematocisto. Cada nematocisto é uma cápsula esfé-
rica existente dentro do cnidoblasto, preenchida por um líquido e dotada de um filamento
enrolado que pode ser evertido para auxiliar na captura de uma presa ou na defesa. Na
superfície livre do cnidoblasto, em contato com a água, existe um pequeno prolongamento da
parede da cápsula, o cnidocílio, que funciona como um gatilho. Ao lado desse gatilho há uma
tampa que trabalha como válvula. Quando um corpo estranho toca no cnidocílio, a válvula se
abre, entra água na cápsula e o filamento é rapidamente desenrolado, embebido em um
líquido de ação tóxica violenta que paralisa a presa ou agressor de pequeno porte. Os cnido-
blastos formam verdadeiras baterias nos tentáculos do animal. São descartados após o uso e
repostos graças às diferenciações das células intersticiais.

Cnidoblastos de hidra: células urticantes contendo nematocistos.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 53


Zoologia e Embriologia

II. Cavidade Digestiva


O termo celenterado (do grego coilos = oco;
enteron = intestino) refere-se ao fato de que es-
tes animais possuem uma cavidade no inte-
rior do corpo, denominada cavidade gastro-
vascular ou digestiva, na qual ocorre diges-
tão extracelular, permitindo a utilização de
alimento com uma variação de tamanho
muito maior do que aquela que é possível para
protozoários e esponjas. Tal cavidade, que se
comunica com as cavidades mais finas dos
tentáculos, apresenta uma única abertura
para o exterior, que é a boca.

III . Tentáculos
Outra característica comum aos celen-
terados é a existência dos tentáculos, apêndi-
ces alongados normalmente encontrados ao
redor da boca e que são utilizados para a mani-
pulação do alimento. Além disso, como é ao lon-
Estrutura da parede do corpo da hidra. A camada
go da epiderme dos tentáculos que se concen-
externa de células (epiderme) tem função
tra a grande maioria dos cnidoblastos, são úteis protetora, enquanto a camada interna
na defesa do animal e na captura de presas. (gastroderme) reveste a cavidade digestiva.

IV. Simetria Radial 2.3. Tipos Estruturais


Normalmente é exibida nos celenterados Um celenterado pode ser encontrado na
adultos. Nesse tipo de simetria, as partes do natureza sob duas formas diferentes no aspec-
corpo estão dispostas em torno de um eixo cen- to externo, mas essencialmente semelhantes
tral, como os raios da roda de uma bicicleta se quanto à sua estrutura interna. A forma
posicionam em torno de seu eixo. Caracteriza polipóide ou simplesmente pólipo é cilíndrica e
tanto as formas móveis como as sésseis. tem uma extremidade fixa ao substrato e outra
A parede corporal da hidra compreende livre, e na qual está a boca, circundada por ten-
apenas duas camadas de células: a epiderme, táculos, sendo geralmente séssil. A forma
mais externa, com função protetora e sensiti- medusóide ou medusa tem o corpo gelatinoso,
va; e a gastroderme, mais interna e mais es- semelhante a um guarda-chuva invertido, com
pessa, revestindo a cavidade gastrovascular, a boca voltada para baixo e cercada de tentá-
atuando principalmente na digestão. Entre as culos, os quais, dando o aspecto de uma cabe-
duas há uma fina mesogléia acelular, leira revolta, permitiram a associação com a
secretada pelas duas camadas e que fornece mitológica figura da medusa. Esta é móvel e se
um suporte para o corpo e os tentáculos. Nas desloca ativamente. Tanto o pólipo como a me-
medusas, como a água-viva, esta mesogléia é dusa apresentam, apesar das diferenças exter-
bem mais espessa e pode conter fibras muscu- nas, uma estrutura interna semelhante, com a
lares úteis na locomoção, uma vez que são for- presença, em ambos, da cavidade gastrovas-
mas livre-natantes. Alguns tipos celulares ca- cular abrindo-se para o exterior através da
racterísticos são encontrados na epiderme e boca e paredes corporais virtualmente iguais,
na gastroderme da hidra, embora possam mas com diferenças de espessura.
também aparecer em outros celenterados.

54 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

A) Pólipo B) Medusa

2.4. Organização
Os celenterados são em geral carnívoros. A hidra alimenta-se de pequenos crustáceos e
larvas de insetos, enquanto a água-viva pode capturar pequenos peixes, que também se cons-
tituem no principal alimento das anêmonas, ao lado de moluscos e outros invertebrados. A
presa é paralisada graças à ação dos cnidoblastos, manipulada pelos tentáculos e colocada na
boca, por onde chega à cavidade gastrovascular. Enzimas secretadas pelas células glandula-
res da gastroderme encarregam-se da digestão extracelular. O processo continua no interior
das células epitélio-digestivas, nas quais é feita a digestão intracelular, sendo que os produtos
da digestão passam para outras células por difusão. Os materiais não digeríveis são elimina-
dos através da boca por contração do corpo.
Trocas gasosas são feitas por difusão direta entre células e água através de qualquer ponto
da superfície corporal. Também não há órgãos excretores e a eliminação dos resíduos meta-
bólicos também ocorre por difusão direta com a água.
O sistema nervoso é primitivo, constituindo-se de uma
rede irregular de células nervosas localizada abaixo da
epiderme, embora alguns cnidários possam apresentar uma
rede nervosa gastrodérmica. De forma geral, as células sen-
sitivas recebem estímulos, as células nervosas conduzem
impulsos e as fibras contráteis reagem a eles, o que confere
ao animal uma certa capacidade reflexa, ou seja, podem rea-
gir de forma coordenada aos estímulos que recebem. Entre-
tanto, não há um sistema nervoso central. Em medusas são
encontrados estatocistos, estruturas que dão ao animal no-
ção de posição dentro da água e facilitam a manutenção do
equilíbrio.
Embora os pólipos sejam normalmente sésseis, a hidra
pode se locomover através de movimentos que lembram uma
"cambalhota". Para isso, dobra o corpo, fixa os tentáculos ao substrato através dos
nematocistos, ergue o disco basal e muda-o para outra posição, retomando sua postura habi-
tual. Pode também flutuar, desprendendo o disco basal, que secreta uma bolha gasosa capaz
de levar o animal à superfície. Já as medusas têm locomoção ativa, movendo-se graças às
fibras contráteis e à mesogléia fortalecida que permitem uma natação delicada. Através de
eliminação de água a alta pressão (jatopropulsão) pela parede do corpo, podem ganhar um
satisfatório impulso inicial.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 55


Zoologia e Embriologia

(A)
Locomoção em celenterados: A)
A movimentação de me-dusas se
faz por contrações do corpo e
expulsão de jatos de água, o que
produz deslo-camento do animal.
B) Hidras podem nadar, deslizar
sobre a base e até executar
(B) camba-lhotas.

3. Os Platelmintos
3.1. Apresentação
Os platelmintos são os primeiros animais dos platelmintos, a essas características
da escala zoológica a apresentarem simetria soma-se o fato de o corpo lembrar uma fita,
bilateral com um formato corporal tal que só pois é achatado no sentido dorso-ventral. Os
podem ser divididos imaginariamente em representantes de vida livre podem ser en-
duas metades iguais. A simetria bilateral está contrados na água doce ou salgada ou mes-
relacionada diretamente com a capacidade mo em lugares úmidos na terra. Há muitos
de movimentação do animal. A parte do cor- representantes parasitas, encontrados ade-
po que primeiro entra em contato com o am- ridos à superfície exterior do corpo do hospe-
biente (extremidade anterior) contém a mai- deiro (ectoparasitas) ou habitando o interior
oria dos órgãos sensoriais e difere da extre- de seu organismo (endoparasitas). Muitos são
midade oposta (posterior). Os platelmintos causadores de sérias doenças ao homem,
formam o mais primitivo de todos os filos como o Schistosoma, causador da esquis-
bilatérios, representando uma transição para tossomose ou barriga-d'água e Taenia ou soli-
a estrutura complexa dos animais superiores tária, que provoca a teníase.
que também são bilateralmente simétricos. Entre os platelmintos de vida livre, a gran-
O filo Platyhelminthes (do grego, platy = de maioria vive no mar. Entre os organismos
achatado; helminthes = verme) contém os de água doce e terrestres há representantes
animais conhecidos como vermes achatados grandes e de cores brilhantes. São conheci-
por terem o corpo mole e fino. Aliás, o termo dos popularmente como planárias, com des-
"verme" é empregado popularmente para taque para a aquática Dugesia e a terrestre
designar os animais desprovidos de patas e Geoplana.
que apresentam o corpo alongado. No caso

56 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

Representantes dos platelmintos

3.2. Características Gerais posterior é afilada. A face dorsal é mais


Como exemplo de platelminto podemos pigmentada que a ventral. Esta pode ser re-
escolher a planária, organismo de vida livre conhecida por duas aberturas: a boca, situa-
que tem esse nome pelo fato de apresentar o da no meio do corpo, a partir da qual pode
corpo plano ou achatado. As planárias são ser estendida a faringe musculosa, chamada
encontradas geralmente em água doce, viven- probóscide, que é usada na obtenção de ali-
do no fundo de lagoas ou riachos, sob pedras, mento; e o poro genital, usado na reprodu-
folhas e galhos. Apresentam tamanho redu- ção, que fica atrás da boca.
zido, raramente ultrapassando 2 cm de com-
primento e 5 mm de largura. Entretanto, as
planárias terrestres são os gigantes entre os
platelmintos, podendo chegar a mais de 60
cm de comprimento. As características des-
critas a seguir existem na planária e em to-
dos os platelmintos de vida livre. As formas
parasitas algumas vezes exibem grandes
mudanças devido ao peculiar modo de vida
que adotaram no curso de sua evolução. II. Cefalização
É a concentração dos centros nervosos e
I. Simetria Bilateral das principais estruturas sensitivas na re-
Este é o primeiro filo a apresentar esta ca- gião anterior do corpo, sendo os platelmintos
racterística na escala zoológica. Devido à si- os primeiros animais a exibi-la na escala
metria bilateral, define-se no corpo da evolutiva. Isso facilita a exploração do ambi-
planária uma extremidade anterior (voltada ente durante o deslocamento do animal. Per-
para a frente) e outra posterior (voltada para cebe-se com facilidade, na região cefálica, ex-
trás), assim como uma face dorsal (oposta ao pansões laterais, as aurículas, que estão rela-
substrato) e outra ventral (em contato com o cionadas com a sensibilidade. Dorsalmente
substrato). A extremidade anterior é mais lar- há um par de ocelos, estruturas sensitivas
ga e tem forma triangular, lembrando uma que não devem ser confundidas com olhos,
pequena cabeça, enquanto a extremidade pois não formam imagens.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 57


Zoologia e Embriologia

III. Revestimento do Corpo platelmintos em relação aos celenterados. É a


A planária é revestida externamente por mesoderme que origina o sistema muscular
uma camada de células que forma a epiderme. do animal, com fibras contráteis que podem
Essas células epidérmicas estão apoiadas na estar orientadas no sentido do comprimento
membrana basal e funcionam como um es- do corpo, formando a musculatura longitu-
queleto elástico e flexível. A epiderme ventral dinal ou orientadas circularmente, forman-
é rica em cílios e no interior do corpo há glân- do a musculatura circular. Assim, o animal
dulas que secretam uma espécie de muco útil pode alongar-se, encurtar-se ou voltar-se
no deslizamento e locomoção. para qualquer direção, conforme os estímu-
los que recebe. A mesoderme também forma
IV. Mesoderme o mesênquima, um tecido esponjoso consti-
No embrião desenvolve-se uma terceira tuído por células indiferenciadas, com gran-
camada de células; além da ectoderme e da de capacidade de regeneração, que preenche
endoderme, surge a mesoderme, responsá- o interior do corpo, não havendo uma cavi-
vel por originar uma série de órgãos, o que dade interna.
explica a maior complexidade estrutural dos

V. Sistema digestivo, excretor


e reprodutor

A planária de água doce é carnívora e se alimenta por meio da faringe ou probóscide, que é
extensível. Os ocelos são sensíveis à luz.

3.3. Organização e Funcionamento


As planárias são carnívoras e alimentam- momento já se inicia a trituração ou digestão
se de pequenos animais, vivos ou mortos. mecânica do alimento. Após a faringe há o
Aliás, o método mais simples de coletá-las é intestino ramificado, com dois ramos poste-
colocar pequenos pedaços de carne dentro riores e um anterior. Células glandulares da
d’água, a partir dos quais difundem-se sucos parede intestinal produzem enzimas que re-
que logo atraem grande número delas. A alizam a digestão extracelular. As partículas
faringe ou probóscide é projetada sobre o ali- menores de alimento são englobadas por ou-
mento a partir da boca ventral e suga-o em tras células do epitélio intestinal e ocorre a
pequenos pedaços por ação muscular. Neste digestão intracelular. Mesênquima e tecidos

58 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

absorvem diretamente os produtos da diges- sável por realizar a regulação osmótica, reco-
tão. Como não existe ânus, a eliminação dos lhendo o excesso de água diretamente dos teci-
resíduos ocorre pela própria boca. As dos do corpo e eliminando-o por um sistema
planárias podem suportar bastante tempo de dutos que se abrem através de poros dorsais.
sem alimento. Podem até mesmo, em casos
extremos, utilizar parte do intestino, todo o
mesênquima e o sistema reprodutor como
fonte nutritiva, reduzindo o volume do cor-
po a 1/300 do original.

O sistema excretor da planária

O sistema excretor dos platelmintos apresenta dois


ou mais túbulos coletores ramificados que percorrem
longitudinalmente o corpo. Na planária, abrem-se na
superfície do corpo por meio de pequenos poros. As
unidades excretoras são as células-flama, dentro das
quais o movimento de um tufo de cílios lembra uma
chama. Água e excretas provenientes dos tecidos
são enviados para os túbulos pelos movimentos
ciliares. deixando o corpo pelos poros excretores.
As trocas gasosas ocorrem por difusão direta
através da epiderme, não existindo órgãos respi- Apesar de freqüentemente aquáticas, as
ratórios. Os gases difundem-se diretamente de planárias não têm capacidade de nadar. A
célula a célula, não havendo líquido circulatório. locomoção é feita por deslizamento sobre o
substrato, com a extremidade anterior indo
ligeiramente levantada à frente. Os
batimentos dos cílios ventrais sobre uma ca-
mada de muco são os responsáveis por estes
movimentos. A ação muscular é útil em mo-
vimentos de virada ou torção da cabeça que
possibilitam exploração ambiental.
Como é característico dos invertebrados,
A planária e as trocas gasosas. as planárias apresentam um sistema nervo-
so situado ventralmente. Têm o formato se-
Os resíduos nitrogenados, na forma de amô- melhante ao de uma escada de cordas. Os cen-
nia, deixam o organismo por simples difusão tros nervosos estão representados por um par
através da superfície do corpo. Um sistema for- de gânglios cerebrais, localizados na região
mado por uma série de pequenas células cha- anterior, nos quais partem dois cordões ner-
madas solenócitos ou células-flama é o respon-

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 59


Zoologia e Embriologia

vosos longitudinais em direção à região pos- I. Agente etiológico


terior, interligados por nervos menores. Aci- O causador da esquistossomose é o
ma dos gânglios cerebrais, na superfície dorsal, platelminto Schistosoma mansoni, verme
ficam os ocelos, que são estruturas fotorre- heteroxeno e de infestação ativa, pois suas
ceptoras, pois percebem variações da intensi- larvas penetram ativamente pela pele huma-
dade luminosa, permitindo a orientação do na. Os adultos são dióicos, com claro
animal em seu hábitat. Nas aurículas existem dimorfismo sexual: o macho, medindo cerca
quimiorreceptores correspondentes aos sen- de um centímetro de comprimento, tem o cor-
tidos de gustação e olfato. Os platelmintos são po alongado, com duas ventosas de fixação
os primeiros animais a possuir centros ner- na região anterior e um canal ginecóforo que
vosos, com ações mais coordenadas com res- se projeta para a região posterior e que, na
postas mais elaboradas aos estímulos. verdade, é um enrolamento do verme sobre
si mesmo, para abrigar a fêmea e fecundá-la.
A fêmea tem cerca de 1,5 cm, corpo também
alongado e uma ventosa na extremidade an-
terior.

Os sistemas excretor, digestivo, reprodutor e nervoso


da planária.

4. Platelmintos Parasitas
4.1. Esquistossomose

Também conhecida como bilharziose ou


barriga-d'água, é muito comum em certas áre-
as do país, que têm características de endemia.
Hoje, a maior freqüência de esquistossomose
no Brasil está localizada em estados da região Casal de Schistosoma mansoni
Nordeste e áreas de Minas Gerais e Espírito
Santo. Entretanto, a possibilidade de expansão
das áreas endêmicas é grande devido a uma
série de fatores: freqüentes migrações II. Vetor
populacionais inter-regionais, ocupação de áre- Os hospedeiros intermediários e, ao mes-
as sem estudo prévio das condições de salubri- mo tempo, transmissores da esquistosso-
dade, crescimento populacional não acompa- mose, são caramujos da família dos
nhado de expansão dos serviços de tratamento planorbídeos, comum em ambientes de água
de água e esgoto, falta de educação sanitária doce, parada ou de pouca correnteza, como
para as populações humanas. Percebe-se, por- lagos, lagoas e riachos. Pertencem ao gênero
tanto, que é uma doença dependente das con- Biomphalaria, com destaque para a espécie B.
dições socioeconômicas humanas. glabrata.

60 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

III. Local de ação desenvolverão em formas larvais chamadas


No homem, os vermes adultos vivem no cercárias. A partir de um único miracídio, po-
sistema porta hepático, um conjunto de va- dem ser reproduzidas mais de 100 mil cercárias,
sos sangüíneos que irrigam a região do fíga- dotadas de uma espécie de cauda bifurcada.
do. A ação estende-se aos vasos da parede
intestinal, onde é feita a postura dos ovos.

IV. O ciclo biológico


O verme vive cerca de 5 anos, em média,
durante os quais as fêmeas fecundadas reali-
zam a postura dos ovos em vasos da parede
intestinal e alguns dos ovos atingem a luz do
intestino, empurrados pela grande pressão do
fluido circulatório, que é interrompido por eles,
ou mesmo devido à ação de enzimas digesti-
vas secretadas no interior dos próprios ovos.

Ovo de Schistosoma mansoni,


dotado de uma espícula lateral Schistosoma mansoni:
1 – miracídio e 2 – cercária.
Os ovos que atingem a luz intestinal são
eliminados juntamente com o bolo fecal e aca-
bam por alcançar a água, onde se abrem, libe- Cerca de um mês após a penetração do
rando larvas denominadas miracídios. Estes miracídio no caramujo, as primeiras cercárias
têm um formato oval e são ciliados. Nadam são eliminadas. Vivem dois dias, no máximo, e
ativamente à procura dos caramujos que lhes nadam ativamente. Ao entrarem em contato
servem de hospedeiros e morrem em apro- com a pele humana, as cercárias se fixam entre
ximadamente oito horas se não encontrá-los. os folículos pilosos, rompem a pele e penetram
Os miracídios que encontram os caramujos no corpo, perdendo a cauda durante o proces-
penetram pelas partes moles, perdem os cílios so. Migram pelo tecido subcutâneo, atingem os
e transformam-se em esporocistos, em cujo vasos sangüíneos e alojam-se no sistema porta
interior existem células reprodutivas que se hepático, onde atingem a maturidade.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 61


Zoologia e Embriologia

V. Sintomas VI. Profilaxia


Quando as cercárias penetram pela pele Como medidas profiláticas mais impor-
humana causam uma espécie de dermatite, tantes podem ser citadas:
que começa com forte coceira seguida de infla- • tratamento dos doentes com medicamen-
mação local. Por isso, as lagoas onde a trans- tos específicos, de modo a eliminar os fo-
missão do verme acontece são popularmente cos de dispersão dos ovos.
conhecidas como lagoas de coceira. A obstru- • medidas de saneamento básico, com a ins-
ção de vasos sangüíneos hepáticos causa difi- talação de fossas e rede de esgotos, na ten-
culdades para a irrigação normal de áreas do tativa de evitar que fezes contaminadas
fígado, podendo provocar necroses. Os ver- atinjam diretamente a água;
mes adultos debilitam o doente por consumi-
• combate aos caramujos com o uso de ve-
rem elevados teores de ferro e glicose devido
nenos e, o mais indicado, por meio de téc-
ao seu alto metabolismo. O rompimento da
nicas de controle biológico, por exemplo,
parede intestinal por grande número de ovos
o uso de peixes que comem ovos e filhotes;
provoca hemorragias, enquanto que os ovos
• educação sanitária, com informações às
que não provocam o rompimento causam in-
populações sobre a importância da utili-
flamações. Freqüentemente a doença evolui
zação de fossas e sanitários;
para uma forma crônica com a manifestação
mais evidente que é a ascite ou barriga-d'água, • higiene pessoal, evitando-se, sobretudo, o
uma grande dilatação abdominal devido ao contato com ambientes aquáticos onde
acúmulo de água nos tecidos, além de dilata- existam caramujos e, conseqüentemente,
ção de fígado e baço. chances de contaminação.

62 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

4.2. Teníase e Cisticercose O corpo das tênias é longo e achatado. Na


São duas moléstias distintas causadas região anterior existe uma cabeça ou escólex
pelo mesmo verme, mas em estágios diferen- com quatro ventosas fixadoras e, apenas em
tes da vida. Conhecidas desde épocas remo- T. solium, um rostro com ganchos. Abaixo do
tas, pensou-se durante muito tempo que fos- escólex está o pescoço ou colo, região de con-
sem provocadas por fenômenos ou espécies tínua divisão celular e que promove o cresci-
diferentes. Estão disseminadas por todo o mento do verme. O corpo é formado pela
mundo, inclusive no Brasil, onde atingem união de anéis denominados proglótides,
muitas pessoas. cujo número pode variar entre 800 e 1000,
levando a um tamanho de 3 metros em T.
I. Agente etiológico solium e 8 metros em T. saginata, embora for-
Os vermes causadores da teníase são os mas maiores já tenham sido encontradas.
platelmintos Taenia solium e Taenia saginata, am- Não há um tubo digestivo unificado no ani-
bos heteroxenos e de infestação passiva. Ape- mal, sendo que cada proglótide recebe seu
nas a primeira causa cisticercose humana. As alimento por difusão. Cada anel também
tênias são também conhecidas como solitári- apresenta aparelhos reprodutores masculi-
as, indicando que existe apenas um indiví- no e feminino completos. As proglótides mais
duo por hospedeiro. Na verdade, as pessoas próximos do escólex são chamadas de jovens e
podem ser infestadas por mais de uma tênia são imaturas sexualmente; já as mais distan-
da mesma espécie. Estes vermes são tes são maduras e estão aptas para a fecun-
hermafroditas, reproduzindo-se sexuadamente dação. As proglótides grávidas são aquelas
por autofecundação e, portanto, não necessi- que já foram fecundadas e estão repletas de
tando de outro parceiro. ovos.

Taenia solium, a tênia do porco, com detalhes que mostram o escólex e regiões corporais.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 63


Zoologia e Embriologia

II. Vetor sobretudo músculos. Ali se encistam, ori-


O porco é o hospedeiro intermediário da T. ginando os cisticercos, formas larvais imó-
solium, enquanto o boi é hospedeiro interme- veis que podem atingir até doze milímetros
diário da T. saginata. As carnes de porco ou de de comprimento após quatro meses de
boi contaminadas pelas respectivas larvas são infestação. O homem ingere os cisticercos ao
as transmissoras da teníase. A cisticercose só comer a carne contaminada de porco ou de
chega ao homem pela ingestão de ovos da T. boi crua ou malcozida. Por ação dos sucos
solium contidos em água ou verduras. digestivos, o cisticerco deixa a forma
encistada no intestino humano e everte-se,
III. Local de ação formando um pequeno escólex que se prende
Os vermes adultos vivem no intestino à mucosa do intestino delgado e cresce, pro-
delgado do homem, enquanto as larvas, que duzindo uma tênia adulta. A T. solium vive
são causadoras da cisticercose, são encontra- cerca de 3 anos no hospedeiro e a T. saginata
das no tecido muscular, cerebral e no olho de aproximadamente 10 anos, ambas despren-
suínos e bovinos. As larvas de T. solium aci- dendo proglótides grávidas durante sua vida.
dentalmente atingem o homem e o cão. Como o colo produz novas proglótides, o ta-
IV. Ciclo biológico manho do animal se mantém constante.
O homem doente elimina as proglótides O homem pode ingerir os ovos da solitá-
grávidas cheias de ovos para o meio exterior ria contidos em água não tratada e verduras
por meio das fezes. Após seu rompimento, os mal lavadas. Se forem da espécie T. solium, tais
ovos são liberados para o solo e água, sendo ovos abrem-se no intestino e as larvas mi-
ingeridos por um hospedeiro intermediário gram para tecidos moles, como pele, olhos e
próprio (porco ou boi, dependendo da espé- principalmente cérebro, onde se encistam
cie). No intestino do animal, os ovos se abrem, dando origem aos cisticercos. Alojando-se no
liberando pequenas larvas que penetram na tecido cerebral, podem causar uma séria
mucosa intestinal, atingem o sistema circu- moléstia conhecida como neurocisticercose
latório e se deslocam para outras regiões, ou cisticercose cerebral. Neste caso, o homem
fez o papel de hospedeiro intermediário.

64 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

Ciclo de vida da Taenia saginata

V. Sintomas VI. Profilaxia


Quando a solitária parasita a região intes- Contribuem para a redução da incidência
tinal do homem por longo tempo, pode pro- de teníase e cisticercose medidas como:
vocar alergia tóxica por causa de substâncias • tratamento dos doentes, de modo a evitar
excretadas, hemorragias pela fixação na a disseminação dos ovos;
mucosa e destruição do epitélio intestinal. O • melhoria nas condições de saneamento
parasita compete com o hospedeiro pelo ali- básico, com extensão da rede sanitária,
mento que chega ao intestino, levando a uma pois as fezes humanas contaminadas car-
necessidade crescente de ingerir mais comida, regam os ovos para a água;
mas sem aumento de peso. Náuseas, vômitos • cuidados maiores na criação de animais,
e dores abdominais podem ocorrer também. cuja água deve ser tratada;
A neurocisticercose apresenta manifesta- • evitar o consumo de carne malcozida e de
ções muito mais graves, causando inflama- água não-tratada ou verduras mal lava-
ções no tecido nervoso. Após cerca de seis das, reduzindo as chances de se adquirir
meses da infestação, o cisticerco morre e teníase e cisticercose, respectivamente.
calcifica-se. Os sintomas podem então evo-
luir para dores de cabeça, convulsões e aluci-
nações. Há casos de cisticercose no coração,
provocando alterações no ritmo desse órgão;
ocular, podendo levar à perda da visão; e
muscular, causando dores localizadas.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 65


Zoologia e Embriologia

5. Nematelmintos
5.1. Apresentação
O filo Nemathelminthes (do grego, nematos = fio; helminthes = verme) é formado por uma
grande variedade de animais de corpo alongado e cilíndrico e, por isso, conhecidos como
vermes cilíndricos. Podem ter vida livre, sendo geralmente diminutos e até microscópicos ou
ser parasitas, podendo alcançar vários centímetros de comprimento.

Alguns nematelmintos comuns.

Alguns autores preferem chamá-los de delo para o estudo dos asquelmintos, mas
asquelmintos. Deve-se tomar muito cuidado tendo sempre em mente que são designações
com o uso deste termo, que, segundo a ten- diferentes.
dência mais moderna da classificação bioló- Os nematelmintos de vida livre são en-
gica, designa uma série de filos com certas contrados no mar, na água doce e no solo, exis-
características comuns, um dos quais é o filo tindo desde as regiões polares até as tropi-
Nemathelminthes. Além dele, formam também cais, em todos os tipos de ambientes, incluin-
o grupo dos asquelmintos outros filos com- do desertos, fontes termais, montanhas e
postos por animais não muito conhecidos, tais grandes profundidades oceânicas. As formas
como Rotifera, Nematomorpha, Gastrotricha, parasitas atacam virtualmente todos os gru-
Kinorhyncha e Acantocephala. Dentre todos es- pos vegetais e animais. Os parasitas de plan-
ses filos, o maior, com cerca de 10 mil espécies tas podem viver em raízes, sementes e fru-
descritas, e o que mais interesse desperta é tos, produzindo ovos dos quais saem larvas
realmente o filo Nemathelminthes, pois muitos que se alimentam dos tecidos da planta. Mui-
de seus representantes são parasitas, infes- tas vezes formam-se, na região da planta ata-
tando safras de produtos alimentícios, ani- cada pelo verme, nódulos protetores chama-
mais domésticos e o próprio homem. Assim, dos galhas. Os parasitas de animais podem
podemos tomar os nematelmintos como mo-

66 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

provocar doenças que freqüentemente debi- A segunda tem formato retilíneo, com um
litam o hospedeiro e, eventualmente, podem poro genital ventral no meio do corpo, e, ge-
matá-lo. Alguns dos grandes problemas de ralmente, é maior que o macho.
saúde pública que afligem a população bra-
sileira são causados por eles.

Galhas no caule
produzidas por
nematódeos Algumas características diferenciam as
em plantas. lombrigas e os nematelmintos em geral dos
platelmintos, o outro grupo de vermes:
Dentre os nematelmintos, os representan- • epiderme sincicial, isto é, constituída por uma
tes mais conhecidos do grupo são a lombri- massa protoplasmática multinucleada, sem
ga, o ancilostoma e o oxiúros, parasitas membranas celulares (sincício), e responsá-
intestinais humanos, além das filárias, cau- vel pela produção da cutícula mais externa,
sadoras da elefantíase. acelular, lisa e dura, que serve como prote-
ção.
5.2. Características Gerais • inexistência de cílios e ventosas.
Os nematelmintos mais conhecidos são,
• músculos exclusivamente longitudinais,
sem dúvida, as lombrigas (Ascaris lumbricoides), paralelos ao eixo do corpo, reduzindo a
parasitas do homem e também de outros ani- capacidade de locomoção nos seres de
mais, como o porco. Estruturalmente são se- vida livre, que executam movimentos mais
res muito simples, com o corpo alongado limitados.
(pode chegar a mais de 30 cm de comprimen- • tubo digestivo completo, ou seja, dotado
to), delgado, cilíndrico e afilado nas extremi- de duas aberturas: a boca abre-se na
dades. São organismos dióicos e exibem extremidade anterior, entre 3 lábios, en-
dimorfismo sexual, ou seja, é fácil, somente quanto o ânus é uma fenda posterior sub-
pela aparência externa, distinguir o macho terminal (localizada pouco antes da ex-
da fêmea. O primeiro tem a extremidade pos- tremidade), em posição ventral. Aliás, são
terior recurvada e espículas peniais, úteis no os asquelmintos os primeiros animais da
escala zoológica a exibir ânus.
momento da cópula, em torno do ânus.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 67


Zoologia e Embriologia

• existência de uma cavidade interna onde o interno seria o sistema digestivo e o ex-
os órgãos ficam alojados, sobretudo o apa- terno, a parede do corpo. O espaço entre
relho reprodutor, que tem a aparência de os dois seria a cavidade do corpo, preen-
uma série de fios muito finos. São tam- chida por um líquido que auxilia na re-
bém os primeiros animais a apresentar moção de elementos tóxicos e na circula-
esta característica. A organização do ani- ção de alimentos e gases.
mal lembra um tubo dentro de outro tubo:

Estrutura interna de uma fêmea de lombriga

68 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

Muitos nematelmintos de vida livre são I. Agente etiológico


carnívoros, alimentando-se de pequenos ani- O causador da ascaridíase é o verme
mais, incluindo outros nematelmintos. Alguns nematelminto Ascaris lumbricoides, conhecido
são fitófagos, ingerindo algas e seivas de plan- popularmente como lombriga. São
tas. Podem apresentar placas cortantes na boca monoxenos e de infestação passiva, tais ver-
e secretar enzimas no tubo digestivo. Os pa- mes são dióicos e têm claro dimorfismo sexu-
rasitas, como a lombriga, podem receber ali-
al. O macho tem de 20 a 30 cm de compri-
mento já semi-digerido no tubo digestivo do
mento e corpo alongado, recurvado na extre-
hospedeiro.
midade posterior. A fêmea é maior (30 a 40 cm
Não há órgãos respiratórios nem sistema
de comprimento) e mais grossa, tendo o corpo
circulatório. Os animais de vida livre usam
oxigênio, obtendo-o por difusão direta, e os retilíneo.
parasitas são anaeróbicos e fazem fermenta-
II. Vetor
ção. Gases respiratórios e partículas alimen-
Não há hospedeiro intermediário. A con-
tares podem ser distribuídos com o auxílio
do líquido que preenche a cavidade corporal. taminação acontece pela ingestão de água e
verduras contaminadas por ovos do verme.
As células lançam seus resíduos e excretas
na cavidade corporal, de onde são retirados III. Local de ação
por três canais excretores arranjados de tal Os vermes adultos habitam o intestino
maneira que formam um "H" (dois canais la- delgado humano, podendo ficar aderidos à
terais conectados através de um canal trans- mucosa ou migrar pela luz intestinal.
versal) e eliminados por um poro excretor D u r a n te o desenvolvimento, as formas
ventral situado próximo à boca. O sistema larvais podem passar por vários órgãos an-
nervoso é constituído por um anel de células tes de se estabelecerem definitivamente no
nervosas em torno do esôfago associado a dois
intestino.
cordões nervosos longitudinais (dorsal e ven-
tral) e alguns nervos menores. IV. Ciclo biológico
Em relação à reprodução, os nematelmintos No intestino do doente, os vermes adul-
são dióicos e apresentam aparelho reprodutor tos se acasalam e a fêmea é capaz de colocar
bem organizado. Nas lombrigas, durante a có- cerca de 200 mil ovos por dia, que chegam ao
pula, o macho se enrola em torno da fêmea,
meio exterior com as fezes. Sob condições
prendendo-se a ela com o auxílio das espículas
peniais. São então conectadas as aberturas ambientais adequadas, os embriões se desen-
genitais (ânus do macho e poro genital da fê- volvem em 15 dias e depois evoluem para for-
mea), ocorrendo a transferência de mas larvais denominadas rabditóides, que
espermatozóides. A fecundação, portanto, é in- podem permanecer dentro dos ovos por vári-
terna. Os ovos ficam alojados no útero da fê- os meses, até que eles sejam ingeridos pelo
mea e possuem casca dura. O desenvolvimen- hospedeiro. Neste momento, atravessam o tra-
to é indireto, com a existência de larvas to digestivo do hospedeiro e eclodem no intes-
rabditóides e filarióides.
tino delgado. As larvas liberadas atravessam
6. Nematelmintos Parasitas a parede intestinal, entram na circulação lin-
fática e atingem o fígado cerca de um dia após
6.1. Ascaridíase a infestação. Por meio de vasos sangüíneos são
Verminose comum em países do Terceiro levadas para o coração cerca de 3 dias depois.
Mundo, incluindo o Brasil, pois está total- Mais 2 dias e migram para os pulmões, onde
mente vinculada a condições precárias de rompem os capilares e caem nos alvéolos, su-
higiene e saneamento básico.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 69


Zoologia e Embriologia

bindo pelas vias aéreas e chegando à faringe. sexual e já podem ser encontrados ovos nas
Com a tosse podem ser expelidas ou deglutidas, fezes do hospedeiro. O verme pode viver no
atravessando o estômago sem sofrer danos e fi- organismo por mais de um ano. A esse deslo-
xando-se no intestino delgado. São decorridos camento do verme pelo organismo do hospe-
cerca de 30 dias da infestação e, durante o traje- deiro dá-se o nome de circuito hepático-cárdio-
to, as larvas rabditóides sofrem várias mudan- pulmonar ou ciclo de Looss, em homenagem
ças e se transformam, aos poucos, em jovens ao seu descobridor.
adultos. Em 60 dias alcançam a maturidade

Ciclo de Ascaris lumbricoides.

70 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

V. Sintomas Lobato representou tal característica em seu fa-


As larvas podem provocar lesões hepáticas moso personagem Jeca Tatu, criado como mode-
ou pulmonares, com focos hemorrágicos e de lo do habitante do interior pobre do país, e expli-
necrose. A gravidade da doença depende da quan- cou: "O Jeca não é assim; ele está assim".
tidade de vermes que estão infestando a pessoa.
Nas infestações maciças, que são aquelas com mais
de 100 vermes, pode ocorrer enfraquecimento
orgânico, pois os vermes consomem muita pro-
teína, carboidrato, lipídio e vitaminas do hospe-
deiro, além de obstrução intestinal, pois os ver-
mes podem enovelar-se na luz do intestino e no
apêndice vermiforme. Intoxicações e reações alér-
gicas, provocadas pelo sistema imunológico do
hospedeiro, podem também ocorrer.

Jeca Tatu – contaminado pelo verme do amarelão

I. Agente etiológico
Dois vermes nematelmintos são os res-
ponsáveis por causar o amarelão: Necator
VI. Profilaxia americanus e Ancylostoma duodenale, sendo que
As medidas de controle da doença incluem o no Brasil o primeiro é mais freqüente. Ambos
tratamento do doente com medicamentos espe- são monoxenos e de infestação ativa. Dióicos,
cíficos e cuidados especiais na alimentação; sane- macho e fêmea apresentam aspecto cilíndri-
amento básico, com a construção de sanitários e co, com cerca de 1 cm de comprimento e ca-
fossas, extensão e tratamento de esgoto e de água; racterísticas que definem um dimorfismo se-
educação sanitária e informação à população xual. A distinção entre as duas espécies é fei-
mais carente; higiene pessoal e alimentar, com ta principalmente pela estrutura bucal, pois
existem placas cortantes em Necator e uma
cuidados especialmente com água e verduras.
série de dentes pontiagudos em Ancylostoma.
6.2. Ancilostomotase
Esta verminose, que também é conhecida
como amarelão ou opilação, tem maior freqüên-
cia em regiões quentes e úmidas e, no Brasil, atin-
ge muitas pessoas na zona rural e áreas urba-
nas de grande concentração populacional, onde
as condições de saneamento básico são precári-
as, como as favelas. Provoca grande enfraqueci-
mento orgânico e é freqüentemente associada, Regiões bucais dos vermes: em A,
de maneira errônea, à preguiça, por deixar o do- de Ancylostoma duodenale e,
ente sem disposição para o trabalho. Monteiro em B, de Necator americanus.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 71


Zoologia e Embriologia

II. Vetor postura de grande número de ovos, que atin-


Não há hospedeiro intermediário e a trans- gem o exterior com as fezes. Chegam ao solo em
missão é feita de uma pessoa para a outra atra- regiões de saneamento básico deficiente e, em
vés das fezes humanas contaminadas com as seu interior, ocorre o desenvolvimento embri-
larvas dos vermes depositadas em solo prefe- onário. Quando ocorre a eclosão, é liberada uma
rencialmente arenoso e úmido. Verifica-se que pequena larva chamada filarióide. Esta movi-
a transmissão é facilitada quando as condições menta-se no solo úmido à procura de um hos-
de saneamento básico da população são precá- pedeiro e, entrando em contato com a pele, ge-
rias: inexistência de sanitários e de sistema de ralmente quando a
esgoto, com as pessoas defecando no solo. pessoa anda descalça, penetra ativamente em
seu corpo com o auxílio de enzimas digestivas.
III. Local de ação
Acredita-se que, sob condições ideais, a larva
Os vermes adultos são encontrados no intes-
filarióide possa sobreviver no solo por até dois
tino delgado firmemente aderidos à mucosa in-
meses. Após cerca de 20 minutos, as larvas atin-
testinal na qual, através das estruturas cortan-
gem capilares sangüíneos e, levadas pelo siste-
tes situadas na cavidade bucal, produzem per-
ma circulatório, chegam aos pulmões, onde
furações e sugam o sangue que escorre dos
rompem os alvéolos, sobem pelas vias aéreas e
ferimentos. São, portanto, vermes hematófagos.
atingem a faringe. Podem ser expelidas em aces-
As larvas, durante o seu desenvolvimento no
sos de tosse ou deglutidas. Nesse caso, atingem
hospedeiro, passam por uma série de órgãos.
o duodeno, já na forma adulta, pois, durante o
IV. Ciclo biológico trajeto pelo organismo do hospedeiro, desen-
Os acontecimentos que descreveremos volvem-se, sofrendo várias mudanças. Desde a
valem para as duas espécies de vermes causa- penetração das larvas até o início de postura
dores do amarelão. Os adultos se acasalam no pelos vermes adultos, que se estabelecem no
intestino do hospedeiro e as fêmeas fazem a intestino, decorrem cerca de dois meses.

Ciclo de vida do Ancylostona duodenale

72 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

V. Sintomas 6.3. Enterobíase ou Oxiurose


Os principais problemas do hospedeiro A enterobíase também é conhecida por
serão no intestino. A ação do verme, rom- oxiurose, verminose provocada pelo
pendo a mucosa intestinal, provoca ulce- nematelminto Enterobius vermicularis, conhe-
rações acompanhadas de sangramento. cido popularmente como oxiúros.
Perde-se muito sangue, não apenas dessa Em relação ao seu ciclo de vida, é um pa-
maneira, mas pela própria sucção pelo ver- rasita monoxeno e de infestação passiva,
me, causando perda de hemoglobina e fer- sendo transmitido pela ingestão de água e
ro, o que deixa o doente anêmico e fraco, alimentos contaminados com ovos do ver-
pois suas células deixarão de receber o oxi- me.
gênio normalmente. Crianças podem ter Pode ocorrer também a autocontaminação
problemas de desenvolvimento físico e quando o indivíduo, ao coçar o ânus, leva a
mental, com diminuição da estatura e da mão à boca. Essa situação é mais comum em
capacidade de aprendizagem. Nesse caso é crianças do que em adultos, mas ocorrendo,
comum ocorrer a geofagia, ou seja, o doen- os ovos são transportados da região anal
te começa a comer terra, numa atitude im- para a boca e, em seguida para o intestino, no
pulsiva motivada pela carência de ferro no qual eclode uma larva, que torna a doença
organismo. A presença das larvas na região crônica.
pulmonar pode causar hemorragias e faci- Os vermes adultos vivem no intestino e
litar o estabelecimento de pneumonia. na região cecal do hospedeiro.
VI. Profilaxia O sintoma típico dessa doença é o prurido
As medidas profiláticas devem incluir: (coceira) anal, provocado por uma forte irritação,
devido à presença dos ovos do parasita nessa
• o tratamento das pessoas doentes com o
região. Os distúrbios intestinais também ocor-
uso de medicamentos específicos e uma
rem.
dieta apropriada que reponha o ferro
Como medidas de profilaxia, podemos ci-
perdido, impedindo que continuem fun-
tar o tratamento dos doentes, a higiene pessoal
cionando como centros de disseminação
e com os alimentos, medidas de saneamento
dos ovos;
básico e trocas periódicas das roupas íntimas e
• saneamento básico, com extensão da rede de cama.
de esgoto e construção de sanitários e fos-
sas;
• educação sanitária, informando-se a po-
pulação, sobretudo as crianças, sobre a
necessidade de utilização de sanitários e
os problemas da defecação direta no solo;
• higiene pessoal, sobretudo andando cal-
çado em áreas onde as chances de conta-
minação existam.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 73


Zoologia e Embriologia

6.4. Filariose linfa nos tecidos adjacentes, criando gran-


des edemas que, com o passar do tempo,
Conhecida popularmente como elefan- deformam completamente o órgão afetado.
tíase, é uma verminose originária da Áfri- Após o acasalamento, as fêmeas liberam
ca, tendo seu causador vindo para cá com o ovos dos quais se desenvolvem pequenas
tráfico de escravos e conseguido se adaptar larvas, as microfilárias. Essas migram para
devido à existência de um bom hospedeiro a circulação sangüínea e podem ser
intermediário e excelentes condições ingeridas por um mosquito que esteja rea-
ambientais. O verme causador da lizando atividade hematófaga. No mosqui-
elefantíase é Wuchereria bancrofti, dióico, to, as larvas rompem a parede do estômago
heteroxeno e de infestação ativa. Seu hos- e migram para o aparelho bucal. Não che-
pedeiro intermediário e também vetor é o gam a ser inoculadas no homem, mas ape-
mosquito hematófago Culex fatigans. A mai- nas aproveitam o momento em que o mos-
or incidência da moléstia no país é encon- quito está sugando o sangue da pessoa, para
trada hoje em áreas da região Nordeste e deixar o aparelho bucal e penetrar pela pele
Norte. Os vermes habitam o sistema linfá- sã ou lesada. Atingem o sistema linfático,
tico humano, sobretudo nas regiões abdo- no qual evoluem para a forma adulta e, cer-
minal e pélvica, pernas e escroto. A obstru- ca de um ano depois, produzem as primei-
ção dos vasos linfáticos pelos vermes adul- ras microfilárias.
tos provoca problemas na drenagem de

74 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

Inflamações podem ocorrer nos vasos


e gânglios linfáticos devido à ação
irritativa dos vermes ou de produtos por
eles liberados. O tratamento dos doentes
é feito com medicamentos que agem mais
eficientemente contra as microfilárias do
que nos vermes adultos. Os edemas po-
dem ser reduzidos, mas, em alguns casos,
a cirurgia plástica é necessária (mamas,
escroto). O controle do inseto é difícil e deve
incluir a eliminação dos criadouros das lar-
vas (água parada) e uso de inseticidas con-
tra os adultos.
Vítima de elefantíase

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 75


Zoologia e Embriologia

6.5. Outros Nematelmintos Após um ano, ela pode ser calcificada. A


O grupo dos vermes cilíndricos inclui uma contaminação é feita pela ingestão de car-
série de outros representantes parasitas. Po- ne de porco malcozida contendo os cistos.
dem ser destacados: Inflamações e fortes dores musculares
• Ancylostoma braziliensis é parasita intesti- compõem o quadro sintomatológico.
nal de cães e gatos e, quando eventualmen- • Onchocerca volvulus é um verme heteroxeno
te atinge o homem não completa seu ciclo, que vive enovelado em nódulos subcutâ-
realizando migrações cutâneas. Os ani- neos de localização variável (cabeça, ná-
mais defecam no chão e os ovos elimina- degas, tronco). Em cada nódulo há um ca-
dos eclodem, liberando larvas que podem sal, sendo a fêmea muito longa (40 cm de
penetrar ativamente pela pele humana. comprimento) e o macho bem menor (ape-
Tais larvas são chamadas migrans por- nas 3 cm). O hospedeiro intermediário é o
que percorrem a hipoderme, formando mosquito do gênero Simulium, o popular
um rastro sinuoso e causando forte borrachudo. A infestação é passiva, sen-
irritação e prurido. Isso é o que o povo ha- do o verme , no estágio larval, inoculado
bitualmente chama de bicho geográfico.
na pessoa. Dermatites e lesões oculares são
A transmissão é feita usualmente em prai-
as manifestações mais freqüentes da doença,
as e parques infantis onde exista areia
que é conhecida como oncocercose.
úmida freqüentada por animais.
• Strongyloides stercoralis é parasita intestinal, 7. Anelídeos
sendo encontradas no corpo humano ape-
nas as fêmeas, que são partenogenéticas. 7.1. Apresentação
Os machos são de vida livre. A infestação é O filo Annelida (do latim, annelus = pequeno
ativa, feita através das larvas. Não há hos- anel) é composto por cerca de 9.000 espécies,
pedeiro intermediário. O ciclo biológico é que têm em comum o fato de apresentar o
semelhante ao dos vermes do amarelão, corpo cilíndrico, alongado e subdividido em
com passagem larval por coração e pul- segmentos com o formato de anéis. Tal
mões antes do estabelecimento final no in- segmentação também é constatada interna-
testino. A estrongiloidíase, como é chama- mente, incluindo músculos, nervos e estruturas
da a doença que o verme provoca, produz circulatórias, excretoras e reprodutoras.
distúrbios cutâneos, pulmonar e intestinal. Entre os anelídeos, encontramos as minho-
• Trichuris trichiura é o causador da tricocefa- cas e as sanguessugas, além de grande número
líase, moléstia intestinal. Monoxeno, in- de espécies marinhas e de água doce. Existem
festação passiva, é transmitido por água minhocas, como a brasileira Rhinodrilus fafneri,
e alimentos contaminados por ovos. Cau- de Minas Gerais e, a australiana Megascolides
sa distúrbios intestinais. australis, que superam 2 metros de comprimento
e 2,5 cm de diâmetro. A maioria das minhocas,
• Trichinella spiralis é um verme pequeno,
entretanto, mede apenas alguns centímetros de
heteroxeno e de infestação passiva, habi- comprimento. Entre os representantes mari-
tante do intestino delgado humano. As nhos destacam-se os poliquetas, com tamanhos
larvas produzidas diretamente pelas fê- variáveis, existindo desde formas diminutas até
meas, após a cópula, perfuram a parede seres, como Eunice gigantea, que atingem 3
intestinal e, através do sistema circulató- metros de comprimento. As sanguessugas
rio, atingem os músculos, nos quais se geralmente são pequenas, variando seu tamanho
encistam. O organismo reage produzindo entre 10 e 200 mm.
um fibrosamento que envolve a larva.

76 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

7.2. Características Gerais II. Metameria


O modelo para o estudo dos anelídeos será Também chamada segmentação, é a di-
visão linear do corpo em porções iguais de-
a minhoca, talvez o mais conhecido entre to-
nominadas segmentos ou metâmeros. Os
dos os representantes do grupo. Lumbricus
anelídeos são os primeiros seres da escala
terrestris e Pheretima hawayana são duas espécies
evolutiva animal a apresentar esta caracte-
comuns. Caracterizam-se, como todos os rística, que também é encontrada em
anelídeos, por um arranjo estrutural segmen- artrópodes e cordados, mas não de forma tão
tado, sistemas de órgãos mais avançados para evidente. A metameria estende-se aos mús-
a manutenção da vida e uma ampla cavidade culos da parede do corpo e a vários sistemas
no corpo, na qual tais órgãos ficam alojados. de órgãos. Isso acontece porque a cavidade
celomática é compartimentalizada através de
septos transversais em cada segmento. Isso
permite que diferentes movimentos muscu-
lares possam ser feitos simultaneamente em
diferentes regiões do corpo, o que é particu-
larmente vantajoso para um animal alonga-
do ao locomover-se através de uma galeria
ou substrato mole, sobretudo no caso das mi-
I. Celoma nhocas, que são animais cavadores.
É o nome dado à cavidade geral do corpo
dos anelídeos (do grego cele = cavidade), dife- III. Cerdas
rindo da cavidade endocorpórea dos São pequenos filamentos quitinosos exis-
nematelmintos por ser totalmente revestida tentes em todos os segmentos do corpo da
pela mesoderme. Trata-se de um espaço am- minhoca, com exceção do primeiro e do últi-
plo dentro do corpo, no qual os sistemas de mo. As minhocas apresentam quatro pares
órgãos ficam alojados. Os anelídeos são ani- de cerdas por segmento, número que nos
mais de corpo mole, nos quais o grande poliquetas é bem maior. As sanguessugas não
celoma é preenchido por um líquido e funcio- possuem cerdas. As cerdas podem ser movi-
na como um esqueleto hidrostático que serve mentadas em qualquer direção e estendidas
de apoio para a ação muscular, compensan- ou retraídas por ação muscular, servindo
do a ausência de esqueleto rígido. Em outras como instrumentos de fixação quando o
palavras, a minhoca e os outros anelídeos animal está em uma galeria ou movimentan-
funcionam como um sistema hidráulico. do-se sobre o solo. Em uma minhoca, as cerdas
podem ser percebidas passando-se os dedos
da região posterior para a anterior.

A) Porção do corpo de uma minhoca, mostrando região anterior do corpo.


B) Corte transversal num metâmero do corpo.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 77


Zoologia e Embriologia

7.3. Organização e Funcionamento tração da musculatura circular produz o efei-


O corpo da minhoca é longo e cilíndrico, to oposto, isto é, o animal estica e seu diâme-
levemente afilado nas extremidades, com a tro é reduzido. Enquanto uma camada se con-
face dorsal um pouco mais escura que a ven- trai, a outra relaxa. É assim que a minhoca
tral. Um animal adulto apresenta, em média, executa o característico movimento de
150 segmentos anelares. Não há cabeça dife- rastejamento e pode realizar a atividade de
renciada. A boca abre-se na extremidade an- escavação de galerias. Oscilações de pressão
terior, e é recoberta por uma estrutura do líquido celomático e o trabalho de apoio
carnosa chamada prostômio, enquanto o das cerdas colaboram para a execução dos
ânus é uma fenda posterior. Os segmentos são movimentos.
contados a partir da extremidade anterior; O corpo da minhoca consiste basicamente
assim, a boca está no primeiro segmento, e o de dois tubos concêntricos: a parede do cor-
ânus no último segmento. Nos oligoquetas em po externa e o tubo digestivo retilíneo inter-
geral, alguns segmentos adjacentes ficam es- no. O espaço entre eles é a cavidade do corpo
pessados e dilatados por glândulas respon- ou celoma, preenchido por um líquido e com-
sáveis pela secreção do material que forma partimentalizado por uma série de septos
os casulos, nos quais os ovos se abrigam. Esta transversais. Na maioria das minhocas, cada
região glandular é chamada clitelo e cobre compartimento celomático comunica-se com
parcial ou totalmente os segmentos, forman- o meio externo por meio de um poro dorsal,
do uma faixa mais clara ao redor do corpo. A pelo qual pode sair fluido celomático, ajudan-
posição do clitelo é variável, mas, normal- do a manter o tegumento úmido. Algumas
mente, fica situada na metade anterior do minhocas de grande porte são capazes de es-
animal, envolvendo cerca de 10 segmentos. guichar este líquido a vários centímetros de
Os poros excretores e as aberturas distância, quando perturbadas.
reprodutivas são diminutos orifícios encon-
trados na superfície corporal.

A parede do corpo é composta por uma


cutícula fina secretada pela epiderme
uniestratificada subjacente, na qual se encon-
tram numerosas glândulas produtoras de um
muco lubrificante, além de muitas células
sensitivas. Abaixo da epiderme, há uma fina
camada de músculos circulares e, outra mais
espessa, de músculos longitudinais. Essas ca-
madas trabalham de forma antagônica: a
contração da musculatura longitudinal en- Esquema simplificado do movimento de
curta o corpo do animal ao mesmo tempo em uma minhoca. Depende da movimentação
das cerdas e das contrações alternadas
que aumenta seu diâmetro, enquanto a con- das musculaturas circular e longitudinal.

78 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

As minhocas são saprófagas e alimentam-se Os anelídeos são os primeiros animais da


de matéria orgânica morta, sobretudo vege- escala zoológica a apresentar um sistema cir-
tal. Além de consumir a matéria em decom- culatório. O sangue é vermelho graças à pre-
posição na superfície do solo, podem arras- sença de hemoglobina, que não está contida
tar folhas para o interior de suas galerias. em glóbulos vermelhos. Circula todo o tempo
Também usam o material orgânico do solo, no interior de vasos distribuídos pelo corpo
que é ingerido durante a escavação. O tubo do animal, o que caracteriza um sistema cir-
digestivo é completo e mostra grande especi- culatório fechado. Vasos contráteis especi-
alização nas suas diversas partes componen- ais, localizados na região anterior do corpo,
tes. O alimento é umedecido por secreções na são os responsáveis pela propulsão do san-
cavidade bucal e empurrado para dentro com gue, fazendo o papel do coração.
o auxílio dos músculos da parede da faringe,
que atua como uma bomba sugadora. Passa
pelo esôfago, que está ligado a glândulas
calcíferas, produtoras de carbonato de cál-
cio, que neutralizam a acidez do alimento. É
então armazenado temporariamente no
papo e depois passado para a moela de pare-
des musculares, na qual é triturado com a
ajuda de grãos de areia. Vai para o intestino,
no qual sofre digestão enzimática ao nível
extracelular. Expansões laterais, os cecos in-
testinais, e uma dobra interna, a tiflossole,
contribuem para ampliar a superfície de di-
gestão e absorção dos alimentos. Os resíduos
são eliminados pelo ânus.

O sistema excretor é constituído de um par


de nefrídios por segmento do corpo. Cada
nefrídio é uma espécie de bomba adaptada a re-
tirar excretas do celoma e dos vasos sangüíneos
que o cercam e eliminá-los para fora do corpo
pelos poros excretores ventrais, na forma de uma
espécie de urina, rica em amônia e uréia, man-
tendo a estabilidade química do organismo.

Nas minhocas não há sistema respirató-


rio organizado, sendo as trocas gasosas
executadas pelos capilares sangüíneos que
existem na epiderme úmida. Entre os poliquetas,
são comuns estruturas filamentosas chamadas
brânquias, altamente vascularizadas e que
realizam trocas gasosas diretamente com a
água.

Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples PV2D-06-BIO-31 79


Zoologia e Embriologia

O sistema nervoso é igualmente segmen- 7.4. A formação do Húmus


tado, sendo formado por um par de As minhocas vivem em solo úmido, no interi-
gânglios cerebrais situado acima da or de túneis e galerias subterrâneas. São muito
faringe. Dele parte um cordão nervoso ven- sensíveis à luz, e possuem hábitos noturnos: du-
tral que se estende até a extremidade pos- rante o dia permanecem nas tocas e à noite saem,
terior. Em cada segmento, projetam-se do quando, então, podem se acasalar. Ao cavar suas
cordão nervoso dois gânglios menores. Vá- galerias, engolem parte da terra que contém de-
tritos e avançam aprofundando-se no solo. Para
rios prolongamentos nervosos alcançam to-
que as galerias não sejam obstruídas, as fezes
das as regiões do corpo. Células sensitivas
são colocadas na superfície, onde formam pe-
epidérmicas percebem estímulos mecânicos quenos montes de terra. Algumas espécies pro-
e luminosos, além de detectarem níveis de duzem excrementos de tamanho enorme, como
umidade. A segmentação do sistema nervoso os de Hyperiodrilus africanus, semelhantes a uma
permite que um fragmento da minhoca, se- torre, que pode atingir 8 cm de altura e 2 cm de
parado do restante do corpo, continue a se diâmetro. Os sistemas de galerias, a matéria ve-
mover, embora sua orientação quanto a estí- getal que levam para dentro da terra e as fezes
mulos ambientais, como a luminosidade, fi- depositadas na superfície são muito úteis ao solo,
que prejudicada, pois depende da ação coor- pois permitem maior arejamento e facilitam a
denadora dos gânglios cerebrais. penetração de água, possibilitando maior desen-
volvimento das raízes e o crescimento das plan-
tas. O material vegetal digerido subterranea-
mente fornece mais matéria orgânica ao solo,
adubando-o e aumentando sua fertilidade. Ao
enterrar os detritos e depositar as fezes na super-
fície, revolvendo o solo, as minhocas contribuem
para a formação do húmus, a camada de matéria
orgânica que recobre a terra. Por isso se diz que
solo rico em minhocas geralmente é solo fértil.

80 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 04. Invertebrados: Grupos Mais simples


Zoologia e Embriologia

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


1. Moluscos
1.1. Apresentação
O filo Mollusca (do latim mollis = mole) é 1.2. Organização do Corpo
um dos grupos animais mais interessantes, A diversidade dos moluscos é notável.
incluindo os caramujos, as ostras, as lulas e Entretanto, todos os membros do filo apre-
os polvos. As coleções de conchas represen- sentam o mesmo plano fundamental de or-
tam um passatempo apreciado desde o sécu- ganização: possuem o corpo mole, com cabe-
lo XVIII, e, devido ao fato de conter espéci- ça, pé e massa visceral. Exibem simetria bila-
mes coletados por todo o mundo, sem dúvida teral e não são segmentados. Podem apre-
contribuíram para um maior conhecimento sentar ou não uma concha.
desses organismos. É o segundo maior filo ani-
mal em número de espécies, abaixo apenas dos I. Cabeça
artrópodes. Mais de 100 mil espécies vivas já Situada na região anterior do corpo, con-
foram descritas e conhecem-se pelo menos tém a abertura bucal e os órgãos sensoriais,
outras 35 mil espécies fossilizadas. Aliás, sua que, em certos organismos, são muito com-
história geológica está bem determinada pelo plexos, como é o caso dos olhos de polvos e
fato de que seus componentes geralmente são lulas. Em alguns animais, simplesmente não
dotados de uma concha mineral com boas existe, como em ostras e mexilhões.
chances de preservação após a morte.
II. Pé
Os moluscos formam um conjunto bastan- Corresponde ao órgão motor; é musculo-
te heterogêneo. Estão adaptados a inúmeros so e fica situado ventralmente. Pode apresen-
hábitats. Geralmente, são de vida livre e a tar modificações, nas diversas formas, para
maioria dos membros do grupo é marinha, em- cavar, rastejar, nadar ou capturar alimento.
bora muitas espécies tenham se adaptado aos
ambientes de água doce e terrestre. Muitos III. Massa visceral
movem-se lentamente e em associação com al- É o conjunto de órgãos digestivos,
gum substrato. Alguns vivem fixos a madeira excretores e reprodutores, situando-se inter-
ou rochas. Há, no entanto, organismos de nata- namente junto à face dorsal do corpo. Está
ção mais rápida e ágil, como polvos e lulas. circundada parcial ou totalmente por uma
Apresentam grande importância econômi- formação carnosa denominada manto. Entre
ca: mariscos, lulas e escargots, entre outros, por o manto e a massa visceral existe a cavidade
serem usados como alimento pelo homem. do manto ou paleal, preenchida por água nos
Agumas espécies de ostras são importantes animais aquáticos e, por ar, nos terrestres.
economicamente pelo fato de produzir péro- Na cavidade do manto estão os órgãos respi-
las. Podem também ser prejudiciais: certos ratórios.
caramujos e lesmas são pragas agrícolas por-
que se alimentam de plantas cultivadas; al-
guns caramujos também são hospedeiros in-
termediários de vermes. Além disso, as larvas
de certos moluscos desenvolvem-se em
brânquias de peixes, parasitando-os, o que
pode provocar perdas na piscicultura.

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 81


Zoologia e Embriologia

Muitos autores imaginam como seria o molusco hipotético, a partir do qual se teriam diferenciado as formas
modernas. Observe a existência da cabeça e do pé (fundidos), do manto e da concha.

IV. Concha
Em grande parte dos moluscos, o manto Em cada tipo de molusco, existem adap-
secreta uma concha calcária, responsável pela tações ao seu hábitat específico e que estão
proteção do corpo. Algumas formas, entre- relacionadas com as estruturas descritas. Por
tanto, não possuem concha, como polvos e exemplo, o caramujo é um molusco terrestre
lesmas, enquanto outras passaram a tê-la que explora continuamente o ambiente à pro-
reduzida e interna, como as lulas. A concha cura de alimento e, por isso, tem a cabeça
dos moluscos é composta por uma camada onde estão os órgãos sensoriais e, o pé, res-
proteica mais externa chamada perióstraco, ponsável pela locomoção, bem desenvolvido,
freqüentemente colorida; uma camada assim como uma massa visceral reduzida. Já
prismática mediana, com células impregna- o mexilhão é um molusco aquático, fixo, que
das de cristais de carbonato de cálcio; e a ca- não explora seu ambiente em busca de ali-
mada nacarada mais interna, também mento. Filtra alimento da água, possuindo
calcária e, geralmente, mais lisa e brilhante. cabeça e pé reduzidos, além de uma massa
As células da borda do manto secretam a ca- visceral que ocupa a maior parte do corpo.
mada prismática, enquanto as células da su-
perfície produzem a camada nacarada. Isso
faz com que a concha cresça simultaneamen-
te em diâmetro e espessura.

82 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

Secção transversal através da concha e do manto de um mexilhão


de água doce. Observe as camadas da concha.

1.3. Funcionamento As secreções dessa glândula realizam a di-


Devido à enorme diversidade dos gestão extracelular na cavidade estomacal e
moluscos, não há um representante que reú- as partículas digeridas são absorvidas por
na todas as características próprias dos células do trato digestivo, de onde passam
animais do filo. Assim, para que possamos para a corrente sangüínea.
entender a organização corporal desses O sistema circulatório é geralmente aber-
animais, tomaremos por base um molusco to, pois o sangue deixa os vasos e desemboca
hipotético e, em seguida, analisaremos as par- em cavidades do corpo, banhando todos os
ticularidades de cada grupo separadamente. órgãos. O sangue é vermelho, contém
O tubo digestivo é completo, com a aber- hemoglobina e é impulsionado para todo o
tura bucal situada na cabeça e o ânus abrin- corpo por um coração musculoso, situado
do-se na cavidade do manto. Na boca, está dorsalmente no interior de uma cavidade
posicionada a rádula, uma estrutura típica pericárdica.
dos moluscos. É uma "língua" denteada, com- Ao se deslocar em direção ao coração, o
posta por tecido cartilaginoso, que opera por sangue passa por um conjunto de pregas
meio de movimentos rítmicos para trás e para filamentosas pendentes na cavidade do man-
a frente (como uma lambida), raspando al- to. Ali, os vasos se ramificam e o sangue pas-
gas e outros alimentos e empurrando-os na sa a circular em contato muito próximo com
direção do trato digestivo. Assim, a rádula é o meio externo, geralmente representado
útil na obtenção e trituração do alimento. O pela água. Neste momento, ocorrem as tro-
estômago surge de uma porção alargada do cas gasosas: o gás carbônico é eliminado para
tubo digestivo e é envolvido por uma glân- o meio externo e o oxigênio é captado pelo
dula digestiva, à qual se liga por canalículos. sangue e depois distribuído para as células.

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 83


Zoologia e Embriologia

Essas pregas da superfície corporal são as Quando circula entre os tecidos, o sangue
brânquias, os órgãos respiratórios do animal. recebe os resíduos tóxicos do metabolismo
Auxiliam a propulsão da água na cavidade celular e os carrega até o coração, no qual se
do manto graças aos batimentos dos nume- difundem para a cavidade pericárdica. Um
rosos cílios que as recobrem. conjunto de nefrídios drena os excretas para
a cavidade do manto, do qual podem ser fa-
cilmente enviados para o meio externo.

Anatomia interna de um caracol

O sistema nervoso é composto por um con- maioria dos moluscos, é preenchida perma-
junto de gânglios pares situados em diferentes nentemente por água, que nela circula graças
posições. Os gânglios cerebrais estão situados a movimentos musculares do manto e aos
na cabeça e são os centros nervosos. A eles es- batimentos dos cílios que recobrem sua su-
tão subordinados os demais gânglios, distri- perfície interna. A água entra e sai continua-
buídos por várias partes do corpo do animal. mente através de dobras do manto chama-
A cavidade do manto tem importância das sifões: pelo sifão inalante a água entra e
fundamental na vida do molusco. Nela estão pelo sifão exalante ela sai. A circulação da
situadas as brânquias, além das aberturas água garante a respiração, a excreção e , em
digestivas, excretoras e reprodutoras. Na alguns casos, até a alimentação do animal.

84 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

1.4. Classificação
A. Classe Polyplacophora (“muitas placas”)

Chiton

A superfície dorsal desses moluscos apresenta uma armadura calcária composta por pla-
cas parcialmente sobrepostas. Um representante é o quíton. São todos marinhos.

II. Classe Scaphopoda (‘pé em forma de canoa”)

Pequenos animais dotados de uma concha cônica e alongada. São marinhos e vivem par-
cialmente enterrados na areia. Conhecidos, em geral, por dentálios.

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 85


Zoologia e Embriologia

III. Classe Gastropoda (“Estômago nos pés”)


Corresponde ao maior grupo de moluscos
marinhos, de água doce e de ambientes ter-
restres. A concha, quando presente, tem for-
mato helicoidal. São exemplos: o caramujo de
jardim, a lesma, o caracol, entre outros.

Pecten

Caracol

IV. Classe Bivalvia (duas metades de concha)


Também são encontrados em água doce
ou salgada. Sua concha possui duas partes
que encerram completamente o corpo do ani-
mal. Essas duas partes são unidas pelo po-
tente músculo adutor, capaz de fechá-las rá- V. Classe Cephalopoda (“pés na cabeça”)
pida e vigorasamente. Os exemplos mais fa- Moluscos desprovidos de concha externa,
miliares são as ostras, os mexilhões e os ma- que apresentam uma estrutura interna e uma
riscos. Esses moluscos apresentam as morfologia bastante diferente dos demais. São
brânquias recobertas por uma camada de o polvo, a lula, o náutilo e o calamar, animais
muco; ao passar pelas brânquias, partículas exclusivamente marinhos. O pé dos cefalópodes
alimentares ficam aderidas ao muco e são le- é dividido em tentáculos.
vadas para a boca.
São os bivalvos os responsáveis pela pro-
dução das pérolas de valor comercial, embo-
ra qualquer molusco dotado de concha possa
fabricá-las. As pérolas são formadas pela
deposição de uma substância chamada nácar,
concentricamente ao redor de uma partícula
estranha que penetra entre o manto e a concha.

Polvo

86 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

2. Artrópodes
2.1. Apresentação
Aranhas, escorpiões, carrapatos, caran-
guejos, camarões, moscas, borboletas, bara-
tas e centopéias são alguns dos animais mais
comuns do planeta. Formam o filo Arthropoda
(do grego arthros = articulação; podos = pé), de
estreita relação com o homem. Se o número
de espécies pudesse ser usado como indica-
Náutilo dor de sucesso de um grupo animal, os
artrópodes poderiam ser considerados os
1.5. Reprodução dominadores do mundo, pois superam em
A reprodução dos moluscos é sexuada e, na diversidade todos os outros grupos animais
maioria dos representantes do grupo, a fecun- reunidos. É, portanto, o maior dos grupos
dação é interna e cruzada. O caramujo-de-jar- zoológicos, tanto em diversidade de formas
dim, por exemplo, é monóico. Na cópula, dois como em número de indivíduos. Contém a
indivíduos aproximam-se e encostam seus po- grande maioria dos animais conhecidos, com-
ros genitais, pelos quais se fecundam reciproca- preendendo cerca de 1 milhão de espécies já
mente. Os ovos desenvolvem-se e, ao eclodirem, descritas, mas há estimativas que propõem
liberam novos indivíduos sem passagem por fase um total de 10 milhões de espécies.
larval (desenvolvimento direto). A enorme variedade permite a sobrevi-
vência dos artrópodes em todos os ambien-
tes. É praticamente impossível encontrar um
local não habitado por pelo menos um
artrópode. Para que se tenha idéia da diver-
sidade de hábitats que apresentam, pode-se
dizer que foram encontrados artrópodes em
montanhas, em altitudes superiores a 6 000
metros, assim como em profundidades oceâ-
nicas de mais de 9 500 metros. Há formas
adaptadas para a vida no ar, na terra, no solo
e em água doce ou salgada. O grupo inclui os
insetos, únicos invertebrados voadores.
Entre os artrópodes, há espécies parasi-
tas de plantas e de animais, que causam ou
transmitem doenças. Vários tipos de insetos
Larva trocófora exibem organizações sociais, com divisão de
trabalho entre os diversos componentes. Al-
Nas formas aquáticas, há espécies monói- guns são importantes economicamente: ca-
cas e espécies dióicas (como o mexilhão). ranguejos, camarões e lagostas, por exemplo,
A forma mais comum de desenvolvimento servem de alimento ao homem; as abelhas
é o indireto. Os estágios larvais mais conheci- apresentam uma série de utilidades, com des-
dos dos moluscos são a véliger e a trocófora. taque para a produção do mel; as larvas da

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 87


Zoologia e Embriologia

mariposa Bombyx mori (o bicho-da-seda) pro- • apresentam patas e outros apêndices ar-
duzem casulos de seda durante seu desen- ticulados (daí o nome do filo), formados
volvimento, que são utilizados na indústria por vários segmentos ou artículos, uni-
têxtil. Muitos apresentam grande importân- dos por juntas móveis, facilitando bastan-
cia ecológica, como os microcrustáceos, prin- te a locomoção;
cipais herbívoros marinhos e participantes • são dotados de simetria bilateral, adaptativa
destacados das cadeias alimentares, que sus- para animais que exploram seu ambiente;
tentam animais maiores, além de insetos e • possuem uma cavidade corpórea, o celo-
aranhas, que servem de alimento para mui- ma, mas, ao contrário do observado em
tos vertebrados terrestres. anelídeos, extremamente reduzido;
Quanto ao tamanho, existem crustáceos, • apresentam, em sua maioria, alto grau de
insetos e carrapatos com menos de 1 milíme- concentração e desenvolvimento do sis-
tro de comprimento. Por outro lado, conhe- tema nervoso central e dos órgãos sensi-
cem-se formas fósseis com 3 metros de com- tivos, o que permitiu, em alguns grupos, a
primento e, entre os organismos viventes, há existência de padrões de comportamento
um caranguejo japonês, Macrocheira kaempferi, complexos, inclusive organizações sociais.
que, com suas patas delgadas, alcança uma O registro fóssil do grupo é bastante amplo,
envergadura de 4 metros. Há lagostas no oce- mas não apresenta formas que unam os vários
ano Atlântico que chegam a 60 cm de com- tipos de artrópodes, o que dificulta o estabele-
primento e 15 quilos de peso. Entretanto, são cimento da origem e da evolução do filo. Entre-
exceções, pois, de uma forma geral, o tama- tanto, a maioria dos cientistas concorda que há
nho dos artrópodes é limitado pelas caracte- ligações entre artrópodes e anelídeos, possivel-
rísticas de seu organismo. mente tendo existido um ancestral comum aos
dois grupos. Isso é reforçado pelo fato de que
2.2. Características Gerais existem muitas identidades, como a existência
Apesar da enorme diversidade de formas de segmentação, a presença da cutícula
que este filo apresenta, existem algumas ca- secretada pela epiderme e as semelhanças nos
racterísticas que são comuns a todos os seus sistemas digestivo e nervoso.
membros:
• o corpo é sempre revestido por um
2.3. Classificação
exoesqueleto endurecido contendo A classificação dos artrópodes reflete a
grande diversidade do filo. Isso a torna bas-
quitina (um polissacarídeo), que é troca-
tante complexa, envolvendo inúmeros gru-
do periodicamente, permitindo o cresci-
pos e subgrupos taxonômicos. O que vere-
mento do animal;
mos a seguir é uma simplificação desta clas-
• são segmentados, mas a metameria é mais sificação, na qual os artrópodes atuais podem
evidente na fase embrionária, pois no ser divididos em:
adulto há tendência à fusão de segmen-
tos, originando partes definidas do corpo, I. Classe Arachnida
como cabeça, tórax e abdome (entretanto, Os aracnídeos possuem quatro pares de
a segmentação do adulto aparece clara- patas e uma clara divisão corporal em cefalo-
mente nos apêndices, na musculatura e tórax e abdome. São desprovidos de antenas
no sistema nervoso); e dotados de quelíceras, apêndices anteriores
em forma de presas. Seus representantes mais
destacados são: escorpiões, aranhas, carra-
patos e ácaros.

88 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

II. Classe Crustacea


Os crustáceos têm o corpo dividido em
cefalotórax e abdome, dois pares de ante-
nas e número variável de patas. São os si-
ris, caranguejos, lagostas e camarões, entre
outros.

III. Classe Insecta


Os insetos têm o corpo dividido em ca-
beça, tórax e abdome. Apresentam um par
de antenas e três pares de patas. Podem
Filo artropoda classe crustacea – camarão
ter asas, sendo os únicos invertebrados ca-
pazes de voar. Representam cerca de 90%
de todos os artrópodes (aproximadamen-
te 900 mil espécies). Entre os representan-
tes mais conhecidos podem ser citados os
gafanhotos, os besouros, as abelhas e as
borboletas.

IV. Classe Chilopoda


Os quilópodos possuem o corpo alonga-
do, com um par de patas por segmento e um
par de antenas na cabeça. São as lacraias e
centopéias.

V. Classe Diplopoda
Os diplópodos também apresentam o Filo artropoda classe aracnida – aranha
corpo alongado, mas com dois pares de pa-
tas por segmento. Também possuem um
par de antenas. São os piolhos-de-cobra.

Filo artropoda classe diplopoda – piolho-de-cobra

Filo artropoda classe insecta – gafanhoto

Filo artropoda classe quilopoda – centopéia

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 89


Zoologia e Embriologia

2.4. Exoesqueleto e Crescimento adaptação à vida em meio terrestre. A quitina


A existência de um esqueleto externo duro também é componente das peças bucais, das
formado por um polissacarídeo denominado asas, de partes de vários órgãos sensoriais e até
quitina é uma das razões do sucesso alcançado mesmo da lente do olho do artrópode.
pelos artrópodes. Ao contrário da cutícula fina e Entretanto, o exoesqueleto é inflexível, cons-
flexível dos anelídeos, os artrópodes possuem o tituído por material não-vivo, e reveste comple-
exoesqueleto composto por uma cutícula gros- tamente todo o corpo. Isso limita o crescimento
sa, responsável pela rigidez do corpo. Sua por- do animal. Para que um artrópode possa cres-
ção externa é impermeável, sendo composta cer, o esqueleto antigo deve ser periodicamente
de proteínas e cera. A porção interna, mais eliminado e substituído por outro mais novo e
espessa, é formada por camadas de quitina e maior. A eliminação do velho esqueleto e a for-
contém ainda pigmentos e carbonato de cál- mação de um novo é conhecida como muda ou
cio. É totalmente acelular e secretado pela ecdise. Neste processo, o animal secreta uma
epiderme subjacente, estando ligado a ela. nova cutícula, bastante mole, e, depois de rom-
A quitina que compõe o exoesqueleto é um per a velha cutícula através de uma fenda, sai de
material extraordinário. Pode constituir uma dentro dela. Enquanto a nova cutícula estiver
verdadeira armadura, como ocorre em crustá- mole e expansível, o animal cresce bombeando
ceos (nos quais o exoesqueleto é impregnado ar ou água para seu interior. Quando finalmente
com grande quantidade de sais de cálcio), mas a cutícula endurece, ar ou água são substituídos
se mantém fina e flexível nas juntas e articula- por um real crescimento de tecidos. A muda é
ções, facilitando os movimentos. Como a quitina perigosa, pois o animal que acabou de realizá-la
é rígida e impermeável, proporciona sustenta- torna-se vulnerável a predadores e também à
ção, proteção mecânica e atua contra a desi- perda de água, no caso dos animais terrestres.
dratação, o que representa uma importante Assim, muitos artrópodos buscam refúgio até
que a nova cutícula tenha endurecido.

90 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

2.5. Funcionamento
Os artrópodos têm tubo digestivo com-
pleto, com boca e ânus. A origem da boca é o
orifício embrionário primitivo (blastóporo)
o que dá a eles a classificação de protostômios,
como os anelídeos e os moluscos.
As estruturas de respiração são diversifi-
A muda ou ecdise num inseto cadas e refletem a diversidade de hábitats
ocupados pelos artrópodos. Podem ser
O período entre duas mudas sucessivas é especializadas para realizar trocas gasosas
conhecido como intermuda, durante o qual o com a água (brânquias) ou com o ar (pulmões
crescimento do animal é muito lento, feito às foliáceos ou traquéias).
custas de proteínas e outros compostos orgâ-
nicos sintetizados, repondo os fluidos absorvi-
dos após a ecdise. O grande aumento de tama-
nho e de peso ocorre no período imediatamen-
te seguinte à muda, quando a cutícula mole pode
ainda ser distendida. Assim, o crescimento dos
artrópodes tem uma certa continuidade, em-
bora com variações de intensidade. A duração
das intermudas torna-se maior à medida que o
Estruturas respiratórias nos artrópodes
animal envelhece. Alguns artrópodes, como as
lagostas e a maioria dos caranguejos, continu- O sistema circulatório de todos os artrópodos
am sofrendo mudas durante toda a vida. Ou- é do tipo aberto. O sangue circula sob baixa pres-
tros, como os insetos e as aranhas, cessam as são e com fluxo lento, passando por cavidades,
mudas quando atingem a maturidade sexual. as hemoceles. Uma diferença importante entre
A muda é controlada por hormônios, como a o sangue dos artrópodes e o dos vertebrados é
ecdisona, secretados por glândulas especiais, que, nesses últimos, há grande quantidade de
células (glóbulos brancos e vermelhos), enquan-
atuando diretamente sobre as células epidérmi-
to nos artrópodos essa quantidade é muito re-
cas. Há inclusive hormônios encarregados de duzida. Esse sangue de baixa celularidade é co-
regular a produção de ecdisona. nhecido pelo nome de hemolinfa.
Nos crustáceos e nos aracnídeos, artrópodes
que empregam o sangue como veículo de distri-
buição de gases respiratórios (oxigênio e gás
carbônico), o sangue contém o pigmento respira-
tório hemocianina, substância que guarda seme-
lhança com a hemoglobina encontrada em
anelídeos e nos vertebrados. Insetos, quilópodos
e diplópodos não possuem pigmentos respirató-
rios, uma vez que a chegada de oxigênio aos teci-
dos não se dá através do sangue, mas por um
sistema de canais chamados traquéias.
Também há diversidade de estruturas de
excreção; entre os artrópodos terrestres, são
comuns os túbulos de Malpighi, que se dife-
renciam dos nefrídeos por não lançarem os
resíduos metabólicos na superfície externa do

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 91


Zoologia e Embriologia

corpo, mas no interior do intestino. De acor- 2.6. Reprodução


do com o ambiente ocupado por cada grupo, Os artrópodos são dióicos. Nas formas
o seu principal resíduo metabólico pode ser a terrestres, a fecundação é interna; nas aquá-
amônia (crustáceos), o ácido úrico (insetos, ticas geralmente é externa; em muitos deles,
diplópodos e quilópodos) ou a guanina há passagem por um ou mais estágios larvais.
(aracnídeos). A eliminação de ácido úrico ou A chegada ao estágio adulto ou imago se dá
de guanina são as mais adequadas para a vida por meio de uma ou mais metamorfoses.
terrestre, pois são produtos pouco tóxicos e Entre os artrópodos é comum a oviparidade
que exigem pouca diluição, representando com a postura de um grande número de ovos.
uma boa estratégia de economia de água.
Entre os insetos pode ocorrer, por exem-
plo, a partenogênese, que é o desenvolvimen-
to do óvulo sem a ocorrência da fecundação,
como nas abelhas, onde o óvulo desenvolvi-
do dá origem ao zangão.
Enquanto aranhas e escorpiões possuem
o desenvolvimento direto, sem estágio larval,
Estrutura de excreção nos insetos
é comum o desenvolvimento indireto entre
os insetos com estágios de larvas, pupas e
O sistema nervoso é ganglionar, apresen- ninfas. O processo reprodutivo dos insetos,
tando um grau de concentração de estrutu- aracnídeos e crustáceos serão estudadas nos
ras nervosas na cabeça maior que os inverte- módulos seguintes.
brados estudados anteriormente (exceto os
moluscos cefalópodos). Essa tendência evo- 3. Artrópodes: Insetos
lutiva de concentração das principais estru-
turas nervosas na região anterior do corpo é 3.1. Apresentação
conhecida por cefalização e alcança o seu Baratas, gafanhotos, besouros, borboletas,
apogeu nos vertebrados. moscas, formigas, piolhos e muitos outros ani-
Apesar disso, a presença de gânglios ner- mais semelhantes formam o grupo dos insetos
vosos nos segmentos dá a eles uma certa au- (do latim insecta = seccionado), totalizando mais
tonomia: um artrópodo pode executar algu- de 900 mil espécies. É o maior grupo de animais
mas atividades, até mesmo andar, depois de do planeta, vivendo em praticamente todos os
ter sido decapitado. hábitats, com exceção das regiões mais profun-
As estruturas sensoriais dos artrópodos das no mar. São os únicos invertebrados capa-
são eficientes e diversificadas. Há sensores
zes de voar, o que facilita a procura de alimento
químicos capazes de reconhecer a presença
de alimentos ou de inimigos naturais; há re- ou melhores condições ambientais; além disso,
ceptores de paladar, como aqueles localiza- o vôo possibilita o encontro de parceiros para
dos nas patas das moscas; há sensores pos- acasalamento e a fuga de predadores. Acredi-
turais semelhantes aos encontrados nos de- ta-se que os insetos tenham sido os primeiros
mais invertebrados (os estatocistos); recep- animais voadores existentes na Terra.
tores auditivos, receptores luminosos, etc.

O sistem nervoso de um inseto


Filo arthropoda: insetos

92 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

A importância ecológica dos insetos é no-


tável. Cerca de dois terços das plantas
fanerógamas, ou seja, plantas que possuem
flores, dependem dos insetos, sobretudo abe-
lhas, vespas, borboletas, mariposas e mos-
cas, para a sua polinização. Também são
importantes para a espécie humana. Mos-
quitos, piolhos, pulgas e percevejos, entre
outros, são hematófagos e podem parasitar
diretamente o homem. Podem também ser-
vir como vetores de doenças que atingem o
homem e os animais domésticos. Por exem-
plo: malária, elefantíase e febre amarela são
transmitidas por mosquitos; tifo é transmi-
tido por piolhos; peste bubônica é transmi-
tida por pulgas. Os insetos podem ainda ser
pragas vegetais, quando se alimentam de
partes variadas das plantas, reduzindo a
produção agrícola e afetando o abastecimen-
to de populações humanas. A Entomologia
(do grego entomon = inseto) é uma área espe- Também na cabeça ficam situadas as
cializada da Zoologia que cuida do estudo peças bucais, geralmente dirigidas para
dos insetos. baixo e adaptadas a diferentes formas de
obtenção do alimento. Assim, por exem-
3.2. Organização e Funcionamento plo, gafanhotos e baratas possuem man-
Os insetos podem ser diferenciados dos díbulas cortantes que caracterizam um
demais artrópodes pelo fato de apresenta- aparelho bucal do tipo mastigador, adap-
rem três pares de patas e, geralmente, dois tado a rasgar, cortar e moer. Barbeiros e
pares de asas. Possuem um único par de pernilongos, por outro lado, têm mandí-
antenas na cabeça e seu corpo divide-se em bulas e maxilas alongadas e perfurantes,
três partes, cabeça, tórax e abdome. Em ge- permitindo uma atividade hematófaga. O
ral, têm tamanho reduzido, variando de 2 mesmo ocorre em cigarras e pulgões, que
a 40 milímetros de comprimento, embora sugam seivas de plantas. Em borboletas,
algumas formas ocasionalmente possam existe um canal alongado, a espirotromba,
ser maiores. usado na sucção do néctar das flores. Em
muitas formigas o aparelho bucal é
A cabeça contém um par de antenas ar-
cortador.
ticuladas, dois olhos compostos laterais
não-pedunculados e, dependendo do ani-
mal, três ocelos, que funcionam na percep-
ção de variações luminosas (não formam
imagens).

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 93


Zoologia e Embriologia

O tórax apresenta três segmentos; cada utilizada na postura de ovos. Os únicos apên-
um contém um par de patas articuladas e os dices abdominais são os cercos sensoriais
dois últimos, na maioria das espécies, apre- existentes no último segmento.
sentam um par de asas cada um. As patas
geralmente estão adaptadas para andar ou
correr, embora, dependendo do modo de vida
do animal, possam estar modificadas para
pular, nadar, cavar ou agarrar presas. As asas
também apresentam diferentes estruturas.
Na maioria dos insetos, entre os quais as li-
bélulas e as abelhas, as asas são finas e mem-
branosas. Entretanto, o par anterior de asas
dos gafanhotos, por exemplo, é mais espesso
e pigmentado e apenas as asas posteriores
são membranosas. Já nos besouros, o par an-
terior é de asas rígidas e pesadas, conhecidas
como élitros, servindo como placas proteto- Respiração traqueal nos insetos
ras. Apenas o par posterior, de asas mem-
branosas, é efetivamente usado no vôo. As asas representam uma característica
No abdome, geralmente, encontram-se os marcante dos insetos. A grande maioria tem
estigmas, por onde o ar penetra no sistema dois pares, sendo chamados tetrápteros,
respiratório traqueal. Gafanhotos apresen- mas existem também os dípteros, como
tam, no primeiro segmento abdominal, um moscas e mosquitos, e ainda os ápteros,
par de tímpanos, membranas que captam como as traças-dos-livros e certos parasi-
vibrações sonoras e as transmitem a fibras tas, entre os quais piolhos e pulgas, que ob-
sensitivas situadas dentro do corpo. Em al- viamente não voam. Nos dípteros, existe
guns animais, os órgãos timpânicos ficam si- apenas o par anterior de asas, estando o par
tuados nas patas. Nas fêmeas de muitas es- posterior transformado em halteres ou
pécies existe o ovipositor, estrutura terminal balancins, que servem como "lemes", esta-

94 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

bilizando e direcionando o vôo. Entre as na abertura genital feminino. Em cada


formigas e os cupins, apenas os indivíduos acasalamento, uma grande quantidade de
reprodutores apresentam asas, enquanto espermatozóides é transferida para a fêmea,
os demais não as possuem. fertilizando muitos óvulos. Muitos insetos
Nos insetos, as asas são projeções do re- acasalam-se uma única vez durante a vida e,
vestimento corporal, diferentemente do que na maioria das formas, o número de
ocorre em aves e morcegos, nos quais são acasalamentos é pequeno. A maioria das espé-
membros modificados. São formadas pela cies é ovípara. Os ovos são depositados por
cutícula, espessada em muitos pontos, cons- um ovipositor abdominal em locais que de-
tituindo as nervuras. Estas, além de forma- penderão do modo de vida do adulto. Algu-
rem um suporte esquelético para a asa, mas vespas e moscas põem os ovos em tecidos
abrem-se no corpo e contêm hemolinfa. As de plantas, levando a um intumescimento do
nervuras maiores contêm também traquéias vegetal conhecido como galha, que protege os
e ramificações nervosas. ovos em desenvolvimento e cujos tecidos ser-
vem de alimento para as larvas.
Os insetos são os únicos animais voado-
res pecilotérmicos, ou seja, sua temperatura Partenogênese, ou seja, desenvolvimen-
corporal varia de acordo com a temperatura to de óvulos sem fecundação, ocorre em abe-
ambiental. Dessa forma, quando em tempe- lhas, vespas, formigas e pulgões. Pedogênese,
ratura baixa e, conseqüentemente, com taxa ou partenogênese larval, ocorre em certos ti-
metabólica reduzida, os insetos têm a mobi- pos de moscas. Poliembrionia, formando si-
lidade limitada. É interessante observar que, multaneamente vários indivíduos iguais,
em dias frios, certas borboletas realizam uma acontece em certas vespas parasitas.
espécie de aquecimento, permanecendo sobre Litomastix, por exemplo, é uma delicada vespa
uma superfície e agitando as asas até que seja que deposita alguns ovos no corpo de uma
atingida uma temperatura corporal suficiente lagarta grande de outra espécie. De cada ovo
para permitir a quantidade de batimentos surgem, por poliembrionia, várias larvas,
necessária ao vôo. totalizando milhares, que se desenvolverão, de-
vorando completamente o corpo da lagarta.
Aproximadamente metade das espécies co-
nhecidas de insetos é fitófaga, alimentando-se Quanto ao desenvolvimento, os insetos
de tecidos ou seivas de plantas. Cupins vivem dividem-se em três grupos:
às custas de madeira e dependem de enzimas • os ametábolos são os que têm desenvolvi-
fornecidas por protozoários existentes em seu mento direto, ou seja, sem metamorfose:
tubo digestivo para realizarem a digestão. For- do ovo eclode um jovem que, através de
migas se alimentam de fungos que cultivam mudas, atingirá a fase adulta. Este é o caso
em câmaras especiais dos formigueiros. Mui- das traças-dos-livros.
tos besouros e larvas de moscas são saprófagos, • os hemimetábolos têm desenvolvimento
alimentando-se de animais mortos. Existem indireto e realizam metamorfose parcial
ainda predadores que capturam e devoram ou incompleta. Neste caso, eclode do ovo
outros animais, incluindo outros insetos, uma pequena ninfa, semelhante, em li-
como o louva-a-deus. nhas gerais, ao adulto. Durante as mudas,
a ninfa sofrerá algumas alterações estru-
3.3. Reprodução turais, desenvolvendo as asas e mudando
Com relação à reprodução, os insetos sem- de coloração, até atingir a forma adulta
pre apresentam fecundação interna. O pênis ou imago. Isso ocorre com baratas, gafa-
do macho é extensível ou eversível, depen- nhotos, cupins e cigarras, entre outros.
dendo da espécie, e introduz espermatóforos

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 95


Zoologia e Embriologia

Ciclo de vida da borboleta – inseto holometábolo


Desenvolvimento do gafanhoto, um inseto
hemimetábolo. Os três estágios iniciais
são ninfas e o último é o adulto.
4. Artrópodes : Crustáceos
4.1. Apresentação
Neste grupo estão caranguejos, siris, ca-
• Os holometábolos têm desenvolvimento
marões, lagostas, cracas e outros. A maioria
indireto e metamorfose total ou comple-
das mais de 30 mil espécies conhecidas é ma-
ta. São exemplos as moscas, as borbole-
rinha, mas existem os que vivem em água doce
tas, as abelhas e os besouros. Do ovo, eclode
e até alguns, como o tatuzinho-de-jardim, que
uma pequena larva vermiforme, segmen-
habitam a terra úmida. Os microcrustáceos,
tada, sem asas ou olhos. É um estágio em
que vivem na superfície dos ambientes aquá-
que a alimentação é prioritária, embora o
ticos, ocupam uma posição importante nas
alimento e as peças bucais da larva pos-
cadeias alimentares. Geralmente são de vida
sam ser bem diferentes do adulto. Em bor-
livre. As cracas são sésseis e existem espécies
boletas, por exemplo, a lagarta tem peças
que vivem associadas a animais aquáticos,
bucais mastigadoras e o adulto tem peças
bucais sugadoras. Algumas mudanças como o paguro que vive em associação de co-
ocorrem durante o crescimento. No final operação como a anêmona-do-mar. Os crus-
do período larval, o animal cessa sua ati- táceos formam a classe de artrópodes que
vidade e não se alimenta. É o estágio de domina os ambientes aquáticos. Embora apre-
pupa, no qual o inseto vive em locais pro- sentem menor número de espécies que o gru-
tetores, como no chão, num casulo ou em po dos insetos, são mais variados na
tecidos vegetais. Mudanças radicais ocor- morfologia e nos hábitats ocupados.
rem neste estágio, de forma que poucas
estruturas larvais permanecem. Da fase
pupal, emerge o adulto ou imago.

96 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

4.2. Organização e Funcionamento Muitos apêndices no cefalotórax e no abdo-


me relacionam-se com a defesa, a captura de
alimento, a locomoção e a reprodução, per-
mitindo melhor exploração do ambiente.
Os camarões podem alimentar-se de de-
tritos encontrados nos ambientes aquáticos
em que vivem, ou de pequenos animais do
zooplâncton, sobretudo outros pequenos crus-
táceos chamados copépodes, que capturam.
Com exceção das cracas e dos tatuzinhos-de-
jardim, os crustáceos são dióicos. Existem téc-
nicas de corte variadas. Em caranguejos, por
exemplo, os machos de muitas espécies usam
suas grandes pinças para atrair as fêmeas. Ri-
tuais de combate podem ser realizados entre
Filo Artropoda: crustacea (camarão) machos, com a pinça sendo usada como escu-
A grande diferença entre os crustáceos e do. As cores variadas e sinais acústicos tam-
os demais artrópodes é a existência de dois bém servem de atrativo para fêmeas de vári-
pares de antenas. O corpo tem uma as espécies. A fecundação é interna, com cer-
segmentação evidente, sendo menor o núme- tos apêndices funcionando como órgãos
ro de segmentos nas formas mais complexas, copuladores e transferindo espermatóforos
nas quais há uma tendência ao agrupamento para a fêmea. Os ovos são freqüentemente in-
de segmentos adjacentes. Geralmente há três cubados. O desenvolvimento é indireto, com a
partes: cabeça, tórax e abdome, mas, em mui- eclosão de uma larva náuplio livre-natante,
tos representantes, a cabeça e o tórax apare- embora, dependendo da espécie, outras for-
cem fundidos, formando um cefalotórax. A mas larvais possam surgir.
cabeça é a parte mais uniforme, com cinco
O krill é um crustáceo de alto mar seme-
segmentos: os dois anteriores apresentam as
lhante a um camarão, medindo cerca de 3 cen-
antenas; o terceiro, as mandíbulas e os dois
tímetros de comprimento. São animais geral-
posteriores, as maxilas, que servem para
mente filtradores que vivem em grandes gru-
manipular o alimento. No tórax e no abdo-
pos, constituindo o principal alimento de
me, o número de segmentos varia de acordo
muitas espécies de baleias. As baleias azuis
com o tipo de crustáceo. O número de apên-
podem comer uma tonelada deles em apenas
dices é variado e estão especializados em di-
uma refeição, podendo fazer até quatro por
ferentes funções, como captura e manipula-
dia. Estes animais têm recebido crescente
ção de alimento e locomoção. A cutícula é bem
atenção como fonte de alimento humano.
mais endurecida que nos outros artrópodes,
Russos e japoneses já realizam a pesca do krill,
pois é reforçada pela deposição de carbonato
cuja proteína é extraída e usada para enri-
de cálcio.
quecer outros alimentos.
O camarão é um crustáceo muito conheci-
Os caranguejos geralmente não são capa-
do, encontrado sobretudo nos mares, embora
zes de nadar. Os siris, entretanto, são nadado-
existam alguns representantes em água doce,
res ágeis, principalmente por, diferentemente
como os pitus. Geralmente são habitantes do
dos caranguejos, apresentarem o último par
fundo e nadam constantemente. O compri-
de patas transformado em uma espécie de
mento do corpo varia de acordo com a espécie.
remo largo e achatado. O caranguejo-eremita
O cefalotórax anterior é rígido e coberto por
ou paguro aloja o abdome em conchas vazias
uma carapaça que recobre o dorso e as laterais.

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 97


Zoologia e Embriologia

de moluscos gastrópodes, arrastando-as quan- eram aquáticas. Os representantes atuais,


do se desloca. O abdome está modificado, en- entretanto, ocupam principalmente o ambi-
caixando-se nas câmaras espiraladas da con- ente terrestre, sendo mais comuns em regiões
cha. O caranguejo-fantasma é um extraordi- quentes e secas. A grande maioria dos mem-
nário corredor, podendo alcançar velocidade bros do grupo tem tamanho reduzido. As
de 1,6 metro por segundo. Quando em veloci- aranhas, por exemplo, costumam medir me-
dade máxima, o corpo fica bem levantado em nos de 25 milímetros de comprimento (as es-
relação ao substrato, que é tocado por apenas pécies avantajadas são poucas) e muitos
dois ou três pares de patas. ácaros não têm mais que 0,5 milímetro de
comprimento. É um grupo que desperta curi-
osidade e também temor, embora, na maio-
ria das vezes, infundado. Isso ocorre porque
alguns membros do grupo apresentam estru-
turas de inoculação de veneno, utilizado na
captura de pequenas presas, sobretudo inse-
tos, o que se constitui em benefício para o
homem. Entretanto, algumas aranhas e es-
Caranguejo Siri
corpiões podem eventualmente atacar o ho-
mem, causando problemas sérios com seu
veneno potente. Existem ácaros que atacam
plantas, prejudicando a agricultura, além de
parasitarem o homem ou transmitir-lhe do-
enças. Chama muito a atenção o fato de ara-
nhas e outros aracnídeos produzirem, em
glândulas especiais, fios de seda que são usa-
dos para a construção de ninhos e abrigos,
como as conhecidas teias.

5.2. Organização e Funcionamento


Caranguejo-eremita As aranhas vivem em hábitats variados e
são os aracnídeos mais abundantes, com cer-
Muitos caranguejos e camarões diminutos ca de 32 mil espécies descritas. Variam em
vivem no interior de animais maiores, como tamanho desde espécies diminutas, com me-
esponjas ou holotúrias. Existem camarões que nos de 0,5 milímetro de comprimento até as
se especializaram em limpar brânquias de grandes tarântulas e caranguejeiras, que, só
peixes, removendo ectoparasitas e detritos,
no corpo, descontando-se as patas, chegam a
que usam como alimento. As cracas formam o
único grupo séssil de crustáceos, com exceção 9 centímetros de comprimento. Seu corpo
das formas parasitas. Vivem fixas a rochas, consiste de um cefalotórax (cabeça fundida
corais e outros substratos, alojadas em uma ao tórax), coberto dorsalmente por uma ca-
rígida carapaça calcária, onde se alimentam rapaça sólida, e um abdome, unidos por um
filtrando a água e retendo plâncton. pedículo delgado. No cefalotórax, geralmen-
te existem oito olhos simples na região ante-
5. Artrópodes: Aracnídeos rior e pares de apêndices articulados. O par
mais anterior é o de quelíceras, usadas na
5.1. Apresentação
captura de alimento. Cada uma apresenta um
Este é o grupo de aranhas, escorpiões,
acúleo em forma de garra onde se abre o ducto
ácaros e carrapatos, entre outros. De acordo
com o registro fóssil, as formas primitivas

98 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

de uma glândula de veneno situada no partículas pequenas. Quando o alimento está


cefalotórax. O segundo par é o de pedipalpos, disponível, as aranhas comem com freqüên-
que são curtos e usados no esmagamento do cia, mas em cativeiro podem jejuar durante
alimento, mas, em machos, podem atuar semanas.
como estruturas copulatórias. Servem tam-
A seda é uma secreção protéica, semelhan-
bém como estruturas de percepção táctil. Os
te àquela produzida pelas lagartas, originá-
quatro pares restantes são patas locomotoras.
ria das glândulas sericígenas abdominais e
Não há antenas. As aberturas corporais, com
eliminada pelas aberturas das fiandeiras, so-
exceção da boca, são abdominais e ventrais,
com destaque para a abertura genital, as aber- lidificando-se em um fio quando em contato
turas respiratórias, as fiandeiras, por onde com o ar. As teias apresentam formatos que
saem os fios de seda para a construção da variam de acordo com a espécie e têm múlti-
teia, e o ânus. plas utilidades. Podem servir como estrutu-
ras de dispersão para aranhas jovens, podem
conter gotículas pegajosas que permitem a
captura de presas, podem funcionar como
estruturas de hibernação e acasalamento.
Uma função da seda, comum a maioria das
aranhas, é o seu uso como fio de guia. Confor-
me a aranha se move, deixa atrás de si um fio
de seda seco, que é fixado, de tempos em tem-
pos ao substrato, com uma secreção adesiva.
Este fio atua como um dispositivo de segu-
rança, semelhante ao utilizado pelos alpinis-
tas. Quando se vê uma aranha suspensa no
ar, após cair de algum objeto, é devido à con-
tínua retenção do fio de guia.
Aranha As aranhas caçadoras são dotadas de pa-
As aranhas são animais de vida livre, so- tas mais grossas e apresentam olhos muito
litárias e predadoras. Alimentam-se princi- desenvolvidos. As aranhas papa-moscas sal-
palmente de insetos, que podem ser caçados tam sobre a presa graças a uma distensão
ou aprisionados nas teias. Espécies maiores repentina das patas, tendo antes prendido
podem usar pequenos vertebrados como ali- um fio de guia ao substrato. As chamadas
mento. A presa é segura pelas quelíceras, imo- aranhas-de-alçapão constroem buracos re-
bilizada e morta pelo veneno. Há espécies que vestidos de seda que são cobertos por terra
envolvem a presa em seda antes ou depois de ou musgos. Posicionam-se dentro dos bura-
picá-la, de modo a permitir melhor imobiliza- cos, aguardando a passagem de uma presa
ção. Enzimas produzidas no tubo digestivo são sobre a armadilha. Já as teias de captura de
introduzidas no corpo da presa, permitindo presas apresentam formatos muito variados
sua digestão antes da deglutição. e a aranha percebe a captura quando o toque
da presa faz vibrar a teia. As teias são geral-
Depois que a presa está reduzida a um mente substituídas todos os dias ou noites.
material quase líquido, é sugada pela aranha, As aranhas tecedoras de teias têm patas mais
que não tem mandíbulas e está adaptada so- finas e não possuem boa visão, embora se-
mente à ingestão de material liquefeito ou jam muito sensíveis a vibrações.

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 99


Zoologia e Embriologia

secreta, formando "pacotes" denominados


espermatóforos. Os espermatóforos são
transferidos à fêmea através dos pedipalpos,
que são inseridos em sua abertura genital.
Normalmente há uma corte elaborada, que
permite o reconhecimento dos parceiros. Isso
é extremamente útil para esses animais, que
apresentam hábitos predatórios sofisticados.
Podem ser usados estímulos químicos e tác-
teis, mas algumas espécies valem-se de mo-
vimentos de dança ou posturas específicas. A
fêmea, em algumas espécies, mata e devora o
macho após o acasalamento, mas isto não é
comum. Há espécies que se acasalam várias
Por meio das teias as aranhas podem capturar
vezes durante a vida; outras só realizam o
suas presas.
As trocas gasosas são realizadas pelas acasalamento uma vez. A fecundação inter-
filotraquéias ou pulmões foliáceos que são es- na é outra adaptação à vida em meio terres-
truturas exclusivas dos aracnídeos, sempre exis- tre. Após a postura, os ovos são depositados
tindo aos pares. Cada pulmão foliáceo é uma em um casulo formado por fios de seda. Este
invaginação da parede abdominal ventral, for- casulo ou ooteca pode ficar preso à teia ou
mando uma bolsa onde várias lamelas paralelas ser carregado pela fêmea. Não há estágios
(lembrando as folhas de um livro), altamente larvais, ou seja, o desenvolvimento é direto.
vascularizadas, realizam as trocas gasosas dire- Existem cuidados com a prole; após a eclosão,
tamente com o ar que entra por uma abertura os filhotes são protegidos pela mãe, podendo
do exoesqueleto. A organização das filotraquéias ser carregados sobre o abdome durante os
lembra a das brânquias, com a diferença de que primeiros dias de vida. Existem certas for-
estão adaptadas à respiração aérea. mas que realizam um fenômeno chamado
aerostação. Nesse caso, a aranha jovem sobe
em ramos de uma árvore ou mesmo na gra-
ma, libera um fio de seda e quando o vento é
suficiente para arrastar o filamento, a aranha
se liberta e é levada pelas correntes de ar. Com
isso podem ser carregadas a grandes distân-
cias, permitindo a dispersão da espécie.

Filotraquéia ou pulmão foliáceo visto em corte.

5.3. Reprodução
As aranhas são animais dióicos e o
dimorfismo sexual é comum, sendo as fêmeas
maiores que os machos. Em geral, o macho re-
úne os espermatozóides em pequenas teias que Aranha com ooteca prendendo
o fio de guia ao substrato.

100 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

5.4. Outros Aracnídeos alguns dias sobre seu abdome. Aos poucos,
Os escorpiões são os mais antigos os filhotes tornam-se independentes, alcan-
artrópodes terrestres conhecidos, como de- çando a idade adulta em cerca de um ano.
monstra o registro fóssil. Apresentam vida
noturna e, ao contrário do que se imagina,
não se restringem a zonas áridas, sendo que
muitas espécies necessitam de ambiente úmi-
do. São aracnídeos grandes, geralmente va-
riando de 3 a 9 centímetros de comprimento,
embora o africano Pandinus atinja 18 centí-
metros. Têm o corpo alongado, com o
cefalotórax curto e o abdome segmentado ter-
minando em uma projeção, o pós-abdome,
em cuja extremidade existe um aguilhão ve-
nenoso utilizado na captura de presas de
maior porte. Os pedipalpos são grandes, ter-
minando em pinças, sendo utilizados para
captura de presas e defesa. O escorpião eleva Escorpião fêmea com filhotes no dorso.
o pós-abdome sobre o corpo, dobrando-o Os escorpiões-vinagre são semelhantes
para a frente, realizando um movimento de aos escorpiões, mas possuem um delgado
punhalada ao efetuar a picada. Embora tóxi- pós-abdome sem aguilhão venenoso. No ab-
co o suficiente para matar muitos inverte- dome existem glândulas que se abrem próxi-
brados, o veneno da maioria dos escorpiões mas do ânus e produzem uma secreção rica
não chega a ser fatal para o homem. Apenas em ácido acético, que é eliminada quando o
algumas espécies apresentam veneno com animal é perturbado. Este líquido, com forte
toxicidade suficiente para matar pessoas, odor de vinagre, pode causar queimaduras
como Androctonus, do deserto do Saara, que ao homem. Os pseudo-escorpiões são como
pode provocar a morte em seis a sete horas. escorpiões em miniatura, mas não têm o pós-
O veneno é neurotóxico, causa fortes dores, abdome, o aguilhão e os pentes. As glândulas
pode provocar paralisia dos músculos respi- de veneno estão associadas aos pedipalpos.
ratórios e parada cardíaca. Produzem seda em glândulas próximas das
quelíceras. São encontrados no solo, em pe-
Nos escorpiões, as quelíceras não são ve- dras e sob as cascas das árvores. Embora bas-
nenosas e servem apenas para rasgar a presa tante comuns, são raramente vistos, graças
durante a alimentação. Ventralmente, no ab- ao seu pequeno tamanho. Os opiliões têm o
dome, há um par de pentes lamelares, que corpo ovalado e patas longas. Embora não
são exclusivos dos escorpiões e têm função apresentem glândulas de veneno, possuem
sensitiva. Antes do acasalamento algumas glândulas de "mau cheiro" para defesa.
espécies realizam uma dança de cortejamento,
na qual o macho fixa um espermatóforo no
solo, depois agarra a fêmea com as pinças e a
conduz de modo a passar sua abertura
genital sobre o esperma. São ovovivíparos ou
até mesmo vivíparos, ou seja, os ovos são in-
cubados no aparelho reprodutor feminino. Os
filhotes, quando nascem, têm apenas alguns
milímetros de comprimento e imediatamen- Alguns tipos de aracnídeos menos
te se arrastam sobre o dorso da mãe, vivendo conhecidos, em vista ventral.

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 101


Zoologia e Embriologia

Os carrapatos e ácaros são pequenos, mui- tudo estrelas-do-mar, freqüentemente consi-


tos chegam a ser microscópicos, e apresen- deradas símbolos da vida marinha, são al-
tam cefalotórax e abdome fundidos e não-seg- guns dos representantes desse grupo, que
mentados, cobertos por uma carapaça pro- contém cerca de 6 000 espécies. Os
tetora. Estão distribuídos por todo o planeta, equinodermos são exclusivamente marinhos
até mesmo em regiões polares, desertos e fon- e abundantes em todos os oceanos do mun-
tes termais. Acredita-se que a miniaturização do. Geralmente têm hábitos bentônicos, ou
tenha sido um fator fundamental no sucesso seja, habitam o fundo do mar, fixando-se ou
dos ácaros, permitindo a exploração de rastejando lentamente sobre o substrato. A
hábitats não-acessíveis a aracnídeos maiores. maioria dos representantes tem tamanho
Muitos são parasitas e por isso mesmo muito médio, com alguns centímetros de diâmetro.
importantes para o homem. Apresentam de- Formas muito grandes podem eventualmen-
senvolvimento indireto, com estágio larval. te ocorrer, mas são exceções, como é o caso da
Ácaros são comuns em todos os lugares, estrela-do-mar Pycnopodia helianthoidis, com
alimentando-se de material vegetal e animal diâmetro de até 80 centímetros, ou alguns
frescos ou em putrefação, além de seivas de ouriços dos mares tropicais, cujos espinhos
plantas, pele, sangue e outros tecidos de ver- alcançam 30 centímetros de comprimento.
tebrados terrestres. Carrapatos alimentam- Todos são de vida livre, não havendo repre-
se de sangue de répteis, aves e mamíferos, sentantes parasitas nem coloniais.
utilizando suas peças bucais sugadoras. Che- a)
gam a expandir o corpo quando repletos de
sangue. Os hábitos alimentares são muito
variados, mas conservam a característica dos
aracnídeos de ingerir líquidos e, no caso de
alimentos sólidos, realizar digestão externa
que prepara o alimento para a ingestão. Al-
guns ácaros causam sérios problemas a plan-
tações de algodão e árvores frutíferas, entre
outras. Entre os ácaros parasitas do homem,
existem os que atingem os folículos pilosos e
glândulas sebáceas, como Demodex folliculorum, Estrela-do-mar
que provoca a formação de cravos, e parasitas b)
cutâneos, como Sarcoptes scabiei, o causador da
sarna humana. Este forma túneis na epiderme
e libera secreções que provocam forte irritação.
A deposição contínua de ovos nos túneis ga-
rante a perpetuação da infestação. O contato
com áreas infestadas da pele pode transmitir
o ácaro para outro hospedeiro.

6. Equinodermos
6.1. Apresentação
Os invertebrados marinhos mais conhe-
cidos formam o filo Echinodermata (do grego
echinos = espinho; derma = pele). Ouriços-do- Lírio-do-mar
mar, bolachas-da-praia, holotúrias e sobre-

102 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

c) II. Esqueleto
Apresentam um esqueleto interno, cons-
tituído por placas ou ossículos calcários mó-
veis ou fixos. É comum a presença de espinhos
e protuberâncias que deixam a superfície cor-
poral espinhosa ou ondulada, daí o nome do
grupo, que significa "pele espinhosa".

III. Sistema ambulacrário


São os únicos animais de simetria radial a
apresentar celoma. Este é grande e subdividi-
do internamente, apresentando um sistema
de canais e estruturas na superfície do corpo
que formam o sistema ambulacrário. É um sis-
tema hidrovascular que, primitivamente, fun-
cionava para a coleta e o transporte de ali-
Pepino-do-mar mentos, mas assumiu, em muitos animais,
função locomotora e até respiratória.
Tipos de Equinodermos Os equinodermos constituem um grupo
a) estrela-do-mar; antigo de animais, com um vasto registro fós-
b) lírio-do-mar; sil, que, entretanto, não mostra as origens do
c) holotúria ou pepino-do-mar; filo. O estudo embriológico dos representan-
tes viventes demonstra semelhanças com os
6.2. Características Gerais cordados, grupo em que está situado o ho-
De modo geral, os equinodermos não mem. Os equinodermos e os cordados são
apresentam cabeça diferenciada e seu cor- animais com endoesqueleto e deuterostomia.
po fica disposto ao longo de um eixo oral- Isso explica o fato de, apesar de serem
aboral. São animais peculiares, nos quais morfofisiologicamente simples, ocuparem po-
algumas características são marcantes, sição elevada na escala zoológica.
com destaque para:
6.3. Organização e Funcionamento
I. Simetria Embora a diversidade seja uma caracte-
Talvez a característica mais evidente do rística típica dos equinodermos, tomaremos
grupo seja a simetria radial pentâmera, atra- como modelo, para descrever a
vés da qual o corpo pode ser dividido em morfofisiologia do grupo, a estrela-do-mar, o
cinco partes, organizadas em torno de um representante mais conhecido do filo. Seu cor-
eixo central. Os adultos apresentam sime- po consiste de um disco central de onde ge-
tria radial, enquanto as larvas exibem sime- ralmente partem cinco braços afilados. A face,
tria bilateral. Isto sugere que os que entra em contato com o substrato, é a
equinodermos ancestrais também eram bi- superfície oral ou inferior, onde está a boca.
lateralmente simétricos e que a atual condi- A face oposta é a superfície aboral ou superi-
ção radial está associada ao modo de vida or, onde está o ânus, além de vários espinhos
sedentário ou séssil das formas viventes, calcários, componentes do esqueleto. Entre os
como ocorre em outros grupos, entre os quais espinhos, projetam-se da superfície do corpo
celenterados e poríferos. brânquias dérmicas ou pápulas, pequenas e
moles, utilizadas na respiração e na excreção.

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 103


Zoologia e Embriologia

Ao redor dos espinhos e entre as pápulas, há


pedicelárias, pequenos apêndices em forma de
pinça, que mantêm a superfície corporal livre
de detritos e auxiliam na captura de alimento.
Em alguns ouriços-do-mar , as pedicelárias
estão associadas a glândulas de veneno.
Revestindo todo o corpo existe uma
epiderme ciliada. Abaixo da epiderme, situa-
se o endoesqueleto, de origem mesodérmica,
composto por muitos ossículos calcários, pe-
quenos, unidos por tecido conjuntivo e ligados
a fibras musculares. Internamente ao esquele-
to, está o grande celoma, onde ficam os órgãos
internos. É preenchido por um líquido conten- A) Equinodermo → ouriço-do-mar
do amebócitos, células livres relacionadas com
a circulação de alimentos, excretas e gases.

Equinodermo → estrela-do-mar

B) Equinodermo → Região da boca do ouriço-do-


mar (lanterna-de-aristóteles)

O sistema ambulacrário é uma parte es-


pecializada do celoma. É composto por um
canal anelar em torno da boca, ligado atra-
vés de um curto canal pétreo a uma placa
perfurada, o madreporito, situada na super-
fície aboral, ao lado do ânus. Através do
madreporito, ocorre a entrada da água do
mar no sistema. Do canal anelar, partem cin-
co canais radiais, projetando-se cada qual
Equinodermo → serpente-do-mar
para um dos braços do animal. Destes, par-
tem canais menores, os canais laterais, em

104 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

cujas extremidades existem os pés pé ambulacrário diminui e causa sua adesão


ambulacrários, pequenas bolsas de paredes ao objeto. Sua extremidade produz uma se-
musculares, contendo uma ventosa na extre- creção que auxilia na aderência. Os pés
midade externa e uma ampola semelhante a ambulacrários agem de forma coordenada,
um bulbo na extremidade interna (dentro da servindo para adesão ao substrato, locomo-
cavidade do corpo). Quando a ampola se con- ção, captura e manuseio do alimento. Nos
trai, o líquido é enviado para o pé ofiúros e nos crinóides, os pés ambulacrários
ambulacrário, que se estende. Quando toca um não têm ventosas e não são usados na loco-
objeto, os músculos do pé são contraídos e de- moção, servindo principalmente para captu-
volvem o líquido para a ampola. A pressão no rar alimento.

Estrela-do-mar e o sistema ambulacrário

O tubo digestivo compreende: a boca; o nadas pela boca. Em ouriços-do-mar, a boca


estômago saculiforme, ligado aos cecos he- contém cinco fortes dentes presos a uma estru-
páticos, que agem como glândulas digestivas; tura complexa denominada lanterna-de-
o intestino curto e o ânus. Alimentam-se de aristóteles, que é utilizada para a raspagem de
moluscos, crustáceos, poliquetas e outros plantas marinhas e pequenos organismos.
equinodermos. Interessante é a captura de Merece destaque o fato de não apresenta-
bivalves: há estrelas que ficam sobre a presa e, rem sistema nervoso centralizado. Na verda-
quando a concha se abre, inserem dentro dela de, este é pouco desenvolvido e consta de cor-
seu estômago evertido; outras agarram as dões paralelos aos canais do sistema
valvas opostas com os pés ambulacrários e ten- ambulacrário, que se unem a um anel nervoso
tam separá-las, quando o estômago evertido é que circunda a região bucal. Embora não exis-
colocado na concha. O estômago secreta muco ta cérebro ou gânglios, há uma certa coorde-
e os cecos hepáticos produzem enzimas diges- nação de funções. Células sensitivas não
tivas. Posteriormente, o estômago e o alimento especializadas geralmente estão presentes na
obtido são recolhidos dentro do corpo. Em epiderme.
ofiúros, não existe ânus, sendo as fezes elimi-

Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos PV2D-06-BIO-31 105


Zoologia e Embriologia

6.4. Reprodução II. Ofiuróides


Em geral, os equinodermos são dióicos, sem Este é o maior grupo de equinodermos,
órgãos copulatórios ou dimorfismo sexual; com aproximadamente 2 000 espécies descri-
óvulos e espermatozóides são lançados na tas. São os ofiúros, abundantes principalmen-
água, sendo a fecundação externa. Para asse- te em substrato mole de águas profundas. Seu
gurar a fecundação, a eliminação de gametas corpo é semelhante ao da estrela-do-mar,
de um animal estimula todos os outros que embora os braços sejam geralmente mais
estão próximos a eliminarem também seus longos e nitidamente separados de um disco
gametas. O desenvolvimento é geralmente in- central, o que leva alguns autores a chamá-
direto. As larvas, bilateralmente simétricas e los de serpentes-do-mar.
natantes, são planctônicas e sofrem complexa
III. Equinóides
metamorfose para originar os adultos de si-
São animais de movimentos livres, des-
metria radial. As larvas são os principais agen-
providos de braços, conhecidos popularmen-
tes de dispersão das espécies, uma vez que os
te como ouriços-do-mar e bolachas-da-praia,
adultos são sésseis ou sedentários.
existindo cerca de 900 espécies descritas. Os
As estrelas-do-mar apresentam grande ouriços-do-mar apresentam o corpo coberto
poder de regeneração, o que permite a recons- de espinhos. Sua forma é circular ou oval e o
trução de qualquer parte do braço ou do dis- corpo é geralmente esférico. Vivem em rochas
co central. Estudos mostram que um animal ou no lodo, nas praias e no fundo. As bola-
inteiro pode ser regenerado a partir de um chas-da-praia ou corrupios têm o corpo acha-
quinto do disco central preso a um braço. Há tado no eixo oral-aboral, vivendo enterradas
espécies que realizam um tipo de reprodução superficialmente na areia.
assexuada na qual um animal se quebra es-
pontaneamente em duas partes, cada meta- IV. Holoturóides
de regenerando um novo animal inteiro. Em São perto de 900 espécies de animais co-
holotúrias, como medida defensiva, pode nhecidos como holotúrias ou pepinos-do-
ocorrer um fenômeno chamado evisceração, mar. Não apresentam braços, estando ânus e
em que parte do trato digestivo é eliminada boca em pólos opostos do corpo alongado. O
quando o animal é irritado ou atacado por animal toca o substrato com a lateral do cor-
algum predador. Em seguida, ocorre a rege- po e não com a extremidade oral, como é co-
neração da parte perdida. mum em outros equinodermos. Uma coroa
de tentáculos retráteis circunda a boca.
6.5. Classificação dos Equinodermos
O filo equinodermos apresenta cinco gru- V. Crinóides
pos principais: São considerados os mais antigos e pri-
mitivos equinodermos viventes. As formas
I. Asteróides
mais conhecidas são pedunculadas, fixas, co-
São equinodermos de movimentos livres
nhecidas como lírios-do-mar, existindo cerca
que apresentam o corpo com forma estrelada,
de 80 espécies descritas. Entretanto, como são
composto de braços ou raios que se projetam
habitantes de grandes profundezas oceâni-
de um disco central. Contém as cerca de 1 600
cas, é provável que muitas espécies ainda não
espécies descritas de estrelas-do-mar, animais
tenham sido encontradas. Existem também,
encontrados em todo o mundo, que vivem so-
sobretudo em recifes de corais, certas formas
bre fundos arenosos ou lodosos, rastejando
não sésseis, de nado livre, perfazendo cerca
sobre rochas ou conchas. Dotadas de cores
de 550 espécies conhecidas.
brilhantes e variadas, geralmente apresentam
cinco braços, embora existam espécies em que
esse número é maior.

106 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 05. Invertebrados: Grupos mais Complexos


Zoologia e Embriologia

Capítulo 06. Cordados


1. Apresentação 2.1. Notocorda
É um bastonete gelatinoso, flexível e resis-
O filo Chordata (do grego chorda = cordão) é de tente, situado dorsalmente. Surge logo acima
especial interesse, porque nele está situado o do intestino embrionário e está presente, ao
ser humano e a maioria dos grandes animais menos, em parte da vida do animal. Constitui
existentes na Terra. Sempre foi um grupo mui- a primeira estrutura de sustentação do corpo
to estudado e, por isso, é provavelmente o filo de um cordado, servindo ainda como ponto
mais conhecido. Compreende alguns grupos de de apoio dos músculos responsáveis pela lo-
invertebrados e todos os animais vertebrados. comoção. Em protocordados, pode estar pre-
Seus representantes são encontrados em todos sente por toda a vida, mas, em vertebrados, a
os hábitats, sejam terrestres, marinhos ou de notocorda é geralmente substituída pela co-
água doce. Entre os cordados, encontramos dois luna vertebral.
tipos diferentes de organismos:
2.2. Tubo nervoso dorsal
• os cordados inferiores são marinhos, pe- É um cordão tubular oco, localizado aci-
quenos e desprovidos de vértebras, sendo ma da notocorda. Sua extremidade anterior
também conhecidos como protocordados, dilata-se, formando o encéfalo, de complexi-
como é o caso dos anfioxos e ascídias; dade variável.
• os vertebrados são cordados de vida livre,
ocupam hábitats diversificados e formam o 2.3. Fendas faringeanas ou
maior grupo, compreendendo os peixes, os branquiais
anfíbios, os répteis, as aves e os mamíferos. São aberturas pares situadas nos lados da
faringe embrionária. Em suas margens há
2. Características Gerais filamentos delicados, ricamente vascularizados,
De forma geral, os cordados são ani- que, nos cordados de respiração branquial, es-
mais de simetria bilateral, de grande mobili- tão relacionados com a origem das brânquias,
dade e boa capacidade de exploração nas quais as trocas gasosas ocorrem entre o san-
ambiental. Sua cavidade corporal ou celoma gue e a água circulante. Nos cordados de respi-
é bem desenvolvida e os cordados são seg- ração pulmonar, estão presentes apenas no em-
mentados, pelo menos na fase embrionária. brião e desaparecem antes do nascimento.
Algumas características, entretanto, chamam
a atenção por distinguirem os cordados dos
demais grupos de animais:

O padrão de organização dos cordados

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 107


Zoologia e Embriologia

Acredita-se que os primeiros cordados Os representantes mais conhecidos deste


tenham surgido há uns 600 milhões de anos. grupo são as ascídias, existentes sobretudo
Várias teorias foram propostas para expli- em águas rasas. São cordados muito diferen-
car esta origem. A mais aceita atualmente é a ciados, pois as formas adultas não se pare-
que relaciona cordados com equinodermos, cem com os demais membros do filo. Seu cor-
baseada sobretudo nas grandes semelhanças po globoso fica preso a rochas ou outros
existentes no desenvolvimento embrionário substratos por meio de um pedúnculo basal.
de ambos. A ascídia é envolvida por uma túnica, elásti-
O filo dos cordados, principalmente se ca e resistente, feita de tunicina, material
muito semelhante à celulose e raro nos ani-
considerarmos os vertebrados, é extraordi-
mais, contendo vasos sangüíneos. Abre-se
nariamente bem sucedido e alguns aspectos
para o exterior através de dois sifões. São
contribuíram para isso. Um deles é a presen-
animais filtradores de plâncton, com fendas
ça de endoesqueleto, protegendo as partes branquiais na faringe. Pelo sifão inalante su-
moles e delicadas do corpo e servindo como perior entra água, carregando pequenos or-
suporte rígido para o próprio corpo e para a ganismos e oxigênio. Pelo sifão exalante late-
ação muscular. Também é muito importante ral a água sai, levando excretas e também
o sistema nervoso altamente desenvolvido e células sexuais. São animais hermafroditas.
centralizado, sendo que os vertebrados apre-
Apenas as formas larvais apresentam as
sentam os maiores encéfalos, os mais com- características dos cordados. São semelhan-
plexos padrões comportamentais e os mais tes a girinos (larvas de anfíbios), livres-
desenvolvidos órgãos sensitivos, permitin- natantes e dotadas de uma longa cauda, à qual
do a adaptação a diversas condições estão restritos o tubo nervoso dorsal e a
ambientais. Além disso, os cordados possu- notocorda. O nome do grupo vem do grego
em sistema respiratório e circulatório efici- uro = cauda. Durante a metamorfose, a larva
entes, em que há um rápido transporte de se fixa a um substrato por meio de secreções
sangue e gases, possibilitando movimentos adesivas. A cauda, a notocorda e o tubo ner-
rápidos e portes mais avantajados. voso são absorvidos e desaparecem.

3. Os Protocordados
Também chamados "cordados primiti-
vos", os protocordados são animais que apre-
sentam a notocorda como única estrutura rí-
gida durante a vida. Neles, a coluna verte-
bral jamais se forma. Todos são marinhos,
alguns bastante disseminados, podendo ocu-
par hábitats diversificados. Compreendem
dois subfilos do filo Chordata: o subfilo
Urochordata e o subfilo Cephalochordata.

3.1. Urocordados
Também chamados tunicados, são orga-
nismos sésseis ou flutuantes, que vivem soli-
tários ou formam colônias. Compreendem
desde formas microscópicas até seres com
cerca de 30 centímetros de diâmetro. Existem
aproximadamente 1 300 espécies, que podem
exibir cores muito variadas. Fase larval (livre-natante) e adulto (fixo) da ascídia.

108 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

3.2. Cefalocordados o exterior por um atrióporo. Sua segmentação


É um pequeno grupo de organismos (cer- é visível na musculatura em forma de "V" e
ca de 30 espécies) chamados anfioxos, sen- na distribuição das gônadas. O sangue, des-
do os protocordados os que mais se asseme- provido de pigmentos e circulando com bai-
lham aos vertebrados. Têm formato seme- xa pressão, participa sobretudo do transporte
lhante ao dos peixes, vivem em águas cos- alimentar, ocorrendo as trocas gasosas, prin-
teiras rasas, com o corpo enterrado na areia, cipalmente através da superfície corporal
ficando para fora apenas sua extremidade (respiração cutânea).
anterior. Podem eventualmente se deslocar, Nestes animais estão presentes as carac-
nadando através de rápidos movimentos terísticas típicas dos cordados, ou seja:
laterais do corpo. notocorda bem desenvolvida, estendendo-se
Os anfioxos têm o corpo delgado, com cer- ao longo de todo o corpo; tubo nervoso dorsal
ca de 5 a 6 centímetros de comprimento, late- longo sobre a notocorda; fendas branquiais
ralmente comprimido e afilado nas extremi- na faringe, em que ocorre a filtração de ali-
dades, o que origina o seu nome (do grego mento. Os anfioxos são animais filtradores,
amphi = ambos, oxus = ponta). Não possuem sendo que a água entra pela boca, passa pelas
cabeça diferenciada. A boca é uma abertura fendas faringeanas, circula pelo átrio e sai pelo
circular na extremidade anterior, circunda- atrióporo. No assoalho da faringe, há um sulco
da por uma série de pequenos tentáculos de- de células ciliadas e produtoras de muco de-
nominados cirros, enquanto o ânus fica situa- nominado endóstilo, no qual as partículas
do ventralmente na outra extremidade. A re- alimentares em suspensão ficam retidas. São
gião faringeana está situada dentro de uma dióicos, fazem fecundação externa e têm de-
cavidade chamada átrio, que se comunica com senvolvimento indireto.

Cefalocordado: Anfioxo – A) Vista externa B) Em corte longitudinal

Um grupo de classificação complicada é o dos hemicordados. São animais vermiformes


encontrados, geralmente, em fundos marinhos lodosos ou arenosos. O representante mais
conhecido é Balanoglossus, de corpo mole e alongado (pode ter mais de 1,5 metro de compri-
mento). Nestes animais há uma estrutura, situada na região anterior do corpo, que foi inter-
pretada inicialmente como uma "notocorda", o que os colocaria dentro do filo Chordata. Estu-

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 109


Zoologia e Embriologia

dos mais recentes demonstraram que não se III. Classe Osteichthyes


trata de notocorda, mas sim de uma exten- Peixes com esqueleto ósseo, como lambaris,
são da cavidade bucal, hoje denominada bol- trutas, salmões, dourados e sardinhas.
sa bucal. Apesar da existência de fendas
faringeanas, prefere-se classificar atualmen- IV. Classe Amphibia
te os hemicordados em um filo à parte. Anfíbios, representados por sapos, rãs,
salamandras e cobras-cegas.

V. Classe Reptilia
Répteis, que compreendem tartarugas, ja-
carés, cobras e lagartos.

VI. Classe Aves


Aves, exemplificadas por avestruzes, gai-
votas, falcões, pingüins, araras e pássaros em
geral.
Hemicordado – Balanoglosso VII. Classe Mammalia
Mamíferos, tendo como alguns represen-
tantes cangurus, elefantes, gatos, cães, cava-
los, rinocerontes, ratos, macacos e o homem.
Anfíbios, répteis, aves e mamíferos são
freqüentemente chamados de tetrápodes, ou
seja, animais de quatro patas. Apesar da gran-
de diversidade, todos os vertebrados apre-
sentam uma organização corporal semelhan-
te, que pode ser assim descrita:

4.1. Tegumento
Esquema da organização de um hemicordado
O revestimento corporal é formado por
uma epiderme pluriestratificada e uma
4. Os Vertebrados derme constituída de tecido conjuntivo. Vá-
O subfilo Vertebrata é o maior e o mais di- rios tipos de anexos estão presentes, como
versificado grupo do filo Chordata, sendo cons- penas (aves), pêlos (mamíferos) e escamas
tituído por aqueles animais que apresentam (peixes e répteis). Glândulas mucosas são
uma coluna vertebral como suporte axial do comuns, sobretudo em espécies aquáticas.
corpo. Pode-se dividir o grupo dos vertebra-
dos em: 4.2. Esqueleto
É interno e articulado, sustentando e pro-
I. Classe Cyclostomata tegendo os órgãos. Pode ser cartilaginoso ou
Agnatas, ou animais sem mandíbula, ósseo. O crânio abriga o encéfalo, uma série
como as lampreias. de arcos sustenta a região branquial e a colu-
na vertebral abriga o tubo nervoso dorsal.
II. Classe Chondrichthyes As nadadeiras dos peixes e as patas dos
Peixes com esqueleto cartilaginoso, com tetrápodes também têm suporte esquelético
destaque para tubarões e raias. e estão ligadas ao restante do esqueleto.

110 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

4.3. Músculos 4.8. Sensibilidade


Podem ser lisos ou estriados, atuam so- O sistema nervoso é dorsal, compreenden-
bre o esqueleto, movimentando suas partes, do o encéfalo bem desenvolvido e a medula,
e são responsáveis pela locomoção e deter- situada dentro da coluna vertebral, além de
minação da forma do corpo. uma série de nervos espinais e cranianos e
um sistema nervoso autônomo que regula
4.4. Nutrição e digestão funções orgânicas involuntárias. Os órgãos
O tubo digestivo é completo e situa-se ven- sensoriais são múltiplos e especializados so-
tralmente em relação à coluna vertebral. Na bretudo na visão, audição, olfato e tato.
boca existe a língua e, geralmente, dentes. A
faringe também faz parte do sistema respira- 4.9. Reprodução
tório. Esôfago e estômago podem se diferen- Geralmente são dióicos. As estratégias
ciar, dependendo do animal. Na região poste- reprodutivas são muito variáveis. Uma série
rior, pode existir cloaca, câmara onde desem- de anexos embrionários favorece o desenvol-
bocam intestino, canais urinários e vimento.
reprodutores. A cloaca está presente em pei-
xes cartilaginosos, anfíbios, répteis e aves, en- 4.10. Regulação térmica
quanto peixes ósseos e mamíferos possuem Peixes, anfíbios e répteis são
simplesmente ânus. Glândulas anexas são co- pecilotérmicos, ou animais de "sangue frio",
muns, como fígado, pâncreas e glândulas sa- pois sua temperatura corporal varia de acor-
livares (estas apenas nos animais terrestres). do com a temperatura ambiental. Aves e
mamíferos são homeotérmicos, ou animais
4.5. Respiração de "sangue quente", sendo capazes de regular
As formas tipicamente aquáticas têm res- a própria temperatura, que se mantém cons-
piração branquial, enquanto as formas ter- tante, apesar das variações externas.
restres respiram por pulmões. Entretanto,
existem formas aquáticas de respiração pul- 5. Ciclóstomos
monar, assim como certos grupos que apre-
A classe Cyclostomata (do grego cyklos = cir-
sentam respiração cutânea.
cular, stoma = boca) compreende as lampreias,
4.6. Circulação encontradas em água doce e salgada, e os pei-
O coração é bem desenvolvido, contendo xes-bruxa ou feiticeiras, exclusivamente ma-
número variável de câmaras e bombeia san- rinhos. São cerca de 50 espécies de animais
gue através de um sistema fechado de vasos. que existem principalmente em águas frias
Há leucócitos e hemácias, estas contendo das regiões temperadas do globo. São consi-
hemoglobina como pigmento respiratório. derados seres primitivos, dotados de boca
Vasos linfáticos estão também presentes. circular (daí o nome "ciclóstomo"), desprovi-
da de mandíbula, sendo por isso conhecidos
4.7. Excreção como agnatas (do grego a = não, gnathos =
É feita por rins pares, drenando excretas mandíbula). Sua cabeça não é bem diferenci-
do celoma, do sangue ou de ambos, de acordo ada. A lampreia servirá como modelo para a
com o tipo de animal. Na fase adulta, peixes descrição do grupo.
dulcícolas excretam amônia; peixes mari-
nhos, anfíbios e mamíferos excretam uréia;
aves e répteis excretam ácido úrico.

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 111


Zoologia e Embriologia

Lampreia: um vertebrado agnata

O corpo da lampreia é cilíndrico e sua cauda adultos dotados de visão e boca sugadora.
é lateralmente comprimida. É dotada de nada- Muitos ciclóstomos, principalmente os pei-
deiras medianas na região posterior dorsal e na xes-bruxa, alimentam-se de peixes mortos, sen-
cauda. Tais nadadeiras são ímpares, ao contrá- do importantes necrófagos marinhos. Larvas de
rio das nadadeiras pares, geralmente encontra- lampreia são usadas como iscas na pesca comer-
das em peixes. As nadadeiras não têm grande cial. Lampreias adultas, entretanto, podem cau-
papel na natação, pois o deslocamento geralmente sar sérios danos às populações de peixes, preju-
se faz por ondulações do corpo. Na cabeça, há dicando seriamente a atividade pesqueira. Acre-
um funil bucal ventral, com vários dentes em dita-se que os primeiros vertebrados, que vive-
seu interior e uma língua igualmente denteada; ram entre 440 e 540 milhões de anos atrás, eram
dois grandes olhos laterais sem pálpebras; atrás organismos marinhos com organização corpo-
de cada olho, sete fendas branquiais. O ânus está ral semelhante à das lampreias.
situado ventralmente na base da cauda e, próxi-
mo dele, fica a abertura urogenital. O epitélio é
liso, coberto de muco e sem escamas. A
notocorda persiste por toda a vida como estru-
tura esquelética. Entretanto, há também uma
estrutura craniana e uma coluna de pequenos
arcos vertebrais, ambas cartilaginosas. São do-
tadas de linha lateral, um conjunto de pequenos
órgãos ciliados que corre ao longo de cada face
lateral do corpo, sensível às vibrações da água.
A maioria das espécies sobrevive
parasitando peixes, aos quais se prendem por Lampreia parasitando um peixe
sucção do funil e com o auxílio dos dentes bu-
cais. Os dentes linguais abrem um orifício no
corpo do peixe e um anticoagulante é injetado
quando o sangue flui para a boca da lampreia.
São animais dióicos, fazem fecundação externa
e morrem após a desova. O desenvolvimento é
indireto. As larvas, chamadas amocetes, asse-
melham-se aos anfioxos e são cegas e sem den-
tes. Podem persistir por até sete anos, em algu-
mas espécies. Após metamorfose, originam
Região bucal de uma lampreia

112 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

6. Peixes Cartilaginosos orientação do corpo na água. Isso permite que


se movimentem com maior desenvoltura, o
A classe Chondrichthyes (do grego chondros = que facilita sua atividade predatória. Além
cartilagem, ichthys = peixe) compreende tuba- disso, possuem o corpo coberto de escamas.
rões, raias e quimeras, sendo um grupo antigo São animais geralmente marinhos e de ta-
e, principalmente, marinho, com cerca de 1 000 manhos variáveis: a maioria dos tubarões
espécies. Comparados aos ciclóstomos, apre- não passa de 2,5 metros de comprimento, as
sentam algumas aquisições evolutivas impor- raias têm de 30 a 90 centímetros e as quime-
tantes. São dotados de mandíbula móvel e ras normalmente apresentam menos de 1
denteada, derivada de um dos arcos metro de comprimento. Entretanto, há vari-
branquiais (elementos esqueléticos de susten- ações: cações são pequenos tubarões com
tação das brânquias) que, projetado para a menos de 90 centímetros, o grande tubarão-
frente, articulou-se com outros elementos do baleia atinge 18 metros, e a jamanta é um
crânio. Também apresentam nadadeiras pa- tipo de raia que pode atingir 5 metros de
res, abas móveis que auxiliam a propulsão e a comprimento.

O tubarão servirá como modelo descriti- O esqueleto é totalmente cartilaginoso, re-


vo desse grupo. Sua cabeça termina em uma forçado, em alguns pontos, com depósitos
ponta arredondada e o tronco é fusiforme. Os calcários. Os músculos são segmentares e
machos possuem, em posição posterior, um produzem os movimentos necessários à na-
par de clásperes, estruturas utilizadas na tação.
cópula. A cauda é heterocerca, ou seja, apre-
senta extremidades diferentes. A boca é ven-
tral e situada na cabeça. Os olhos são laterais
e não têm pálpebras. Cinco fendas branquiais
abrem-se, de cada lado, na região anterior e,
uma outra fenda, o espiráculo, abre-se atrás
de cada olho.
A pele é coberta por pequenas escamas
placóides, cada uma com um espinho dirigi-
do para trás, sendo coberta de esmalte e con-
tendo uma placa basal de dentina, o que lhe
Escama do tubarão de origem dermo-epidérmico
confere uma estrutura semelhante a um dente. (estrutura semelhante ao dente humano).

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 113


Zoologia e Embriologia

Os dentes são escamas placóides diferenci- mem sobretudo moluscos e crustáceos. Algu-
adas e ficam implantados na carne e não na mas formas atordoam as presas por meio de
mandíbula, como é comum em outros verte- choques elétricos. Outras apresentam espinhos
brados. Dispõem-se em fileiras, de tal modo que venenosos, usados como estruturas de defesa.
os dentes funcionais ficam posicionados mais à Alguns tubarões e raias são usados como ali-
frente e são substituídos pelos que estão nas mento pelo homem. São muito conhecidos os
fileiras de trás, conforme são perdidos. Dentro casos de ataques de tubarões a banhistas e mer-
do curto intestino, há um septo espiralado, a gulhadores, principalmente em áreas costeiras
válvula espiral, que amplia a superfície de ab- da Austrália, África, Filipinas, Japão, Estados
sorção alimentar. Tal estrutura também é en- Unidos e, menos freqüentemente, no Brasil.
contrada em lampreias. A linha lateral está pre-
sente, captando vibrações na água circundante. 7. Peixes Ósseos
A classe Osteichthyes (do grego osteon = osso,
ichthys = peixe) é composta pelos peixes mais
típicos, os peixes ósseos, encontrados em to-
dos os tipos de ambientes aquáticos e muito
importantes para a humanidade como fonte
de alimento proteico. O grupo compreende
aproximadamente 30 mil espécies. Apresen-
tam esqueleto predominantemente ósseo,
escamas finas e flexíveis, mandíbulas com-
plexas e grande diversidade de formas e há-
Peixe cartilaginoso – tubarão bitos. Em geral, têm menos de 1 metro de
comprimento, mas há espécies muito gran-
des, como o espadarte de 3,80 metros e o pei-
xe-lua, que pode pesar 900 quilos, além de
outras muito pequenas, como o gobião das
Filipinas, o menor peixe do mundo, com ape-
nas 8 milímetros de comprimento. Embora a
maioria dos peixes esteja confinada à água,
existem alguns, como a perca trepadora, que
se deslocam em terra e sobem nos galhos mais
baixos das árvores. Alguns peixes dipnóicos
ou pulmonados, que se cobrem de lama em
Intestino do tubarão rios secos, podem viver meses sem água. Os
São animais dióicos e realizam fecunda- peixes-voadores planam no ar. Muitos pei-
ção interna. Há espécies ovíparas (realizam xes são apreciados como alimento pela sua
postura de ovos), ovovivíparas (os ovos são carne saborosa, mas existem alguns, como o
incubados no organismo materno, nascendo baiacu, cuja carne é tóxica e pode determinar
filhotes vivos) e vivíparas (não há ovos e o a morte.
desenvolvimento é totalmente realizado den-
tro da fêmea). O desenvolvimento é direto.
Os tubarões são geralmente predadores e
alimentam-se no meio de cardumes de peixes.
Algumas formas, como os tubarões-baleia, no
entanto, alimentam-se de plâncton. As raias co-

114 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

Os peixes apresentam grande diversidade de formas e cores

Peixe-arqueiro: um predador
Cavalo-marinho

Em geral, os peixes ósseos apresentam tante é a cauda. As nadadeiras pares são ex-
secção transversal oval, sendo mais altos que pansões membranosas sustentadas por rai-
largos, o que lhes confere maior hidrodi- os dérmicos, mantendo o equilíbrio e a dire-
nâmica, reduzindo a resistência da água du- ção e possibilitando a locomoção. A cauda é
rante a locomoção. A boca é anterior, dotada geralmente homocerca (extremidades iguais)
de dentes finos. Os olhos são laterais e sem ou dificerca (extremidades unidas).
pálpebras e, atrás de cada um, há uma placa
que cobre as brânquias, o opérculo, abaixo
do qual há quatro brânquias. A cabeça vai da
extremidade anterior até a parte posterior do
opérculo, o tronco vai daí até o ânus e o res-

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 115


Zoologia e Embriologia

Peixe ósseo: morfologia e detalhe da anatomia interna

O corpo, de formato variável, é coberto natatória pode, ao alcançar a superfície, for-


por uma epiderme lisa, com muito muco, que çar o estômago para fora da boca. Nos peixes
facilita a movimentação na água e evita in- pulmonados, a bexiga natatória está ligada à
fecções. As escamas ficam imbricadas como faringe por um ducto e atua como pulmão. A
telhas em um telhado, sendo recobertas por pirambóia, existente no norte do Brasil, usa-
uma fina camada de pele e aumentando de a como órgão respiratório em períodos de seca.
tamanho conforme o peixe cresce. Os múscu- Quando o nível da água nos rios baixa muito,
los são segmentares e também conhecidos a pirambóia cava buracos no barro, onde so-
como miômeros, existindo entre eles delica- brevive durante meses. Nesse período, as tro-
dos septos de tecido conjuntivo. Quando se cas gasosas passam a ser realizadas entre o ar e
cozinha um peixe, os septos se dissolvem e os os numerosos vasos sangüíneos da parede da
miômeros se desprendem facilmente. bexiga natatória.
A bexiga natatória, exclusiva dos peixes
ósseos, é um grande saco de paredes finas que
ocupa a porção dorsal da cavidade corporal.
É preenchida por gases, como oxigênio, ni-
trogênio e gás carbônico e atua como órgão
hidrostático, ajustando a densidade do ani-
mal em relação à da água em diferentes pro-
fundidades. A secreção ou a absorção dos ga-
ses através dos vasos sangüíneos ou glându-
las especiais de sua parede permite que o pei-
xe se ajuste lentamente quando passa de uma
profundidade para outra, sem precisar na-
Pirambóia: peixe dipnóico
dar para se manter flutuando. Quando um
peixe é retirado bruscamente de uma grande
profundidade, a maior pressão na bexiga

116 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

O sistema da linha lateral está presente,


possibilitando a percepção de modificações
de pressão e movimentos da correnteza, o que
facilita a orientação do animal durante a lo-
comoção e a localização de presas ou preda-
dores. Muitos peixes ósseos apresentam
cromatóforos na derme, que lhes dão colora-
ção variada e permitem ainda mudanças de
cor, úteis para escapar de predadores e tam-
bém durante a corte, como forma de atrair o
sexo oposto. A emissão de sons está relacio-
nada com a reprodução, a alimentação e até a
demarcação de território. Pode ocorrer a par-
tir de movimentos das nadadeiras, atrito en-
tre dentes ou vibração das paredes da bexiga
natatória por ação de músculos especiais. O fenômeno da piracema

O poraquê sul-americano e o bagre africa-


no são exemplos de peixes elétricos, capazes Os peixes ósseos são dióicos e geralmente
de provocar choques violentos. Seus órgãos realizam fecundação externa, embora exis-
elétricos são fibras musculares modificadas tam exceções. São principalmente ovíparos,
que assumem a forma de placas discoidais produzindo muitos ovos de uma vez, mas há
empilhadas, parecidas com baterias em série espécies, como os guaru-guarus, que são
e embebidas em uma matriz gelatinosa. Emi- vivíparas. Algumas formas fazem ninhos
tem impulsos breves e repentinos várias ve- para a desova e os ovos e filhotes pequenos
zes por segundo, formando um campo elétri- podem receber cuidados. O macho do cava-
co em torno do animal. Há peixes que emitem lo-marinho encarrega-se de incubar os ovos
choques de mais de 500 volts. Além de servir em uma bolsa especial. Os alevinos são pe-
para atordoar presas e assustar predadores, o quenas larvas comuns em várias espécies,
campo elétrico permite a orientação do ani- enquanto outras apresentam desenvolvi-
mal, que geralmente é sensível a perturbações mento direto.
causadas por obstáculos próximos. Muitos Entre os peixes de grandes profundezas
peixes elétricos não têm bons olhos e vivem marinhas, onde há total escuridão, são co-
em águas turvas de pouca visibilidade. muns órgãos bioluminescentes. Os peixes-
Migrações periódicas, principalmente re- pescadores de águas profundas apresentam
lacionadas com a reprodução, ocorrem em o primeiro raio da nadadeira dorsal projeta-
muitas espécies. O salmão desloca-se da água do para a frente e contendo uma estrutura
salgada para a água doce, para a desova; a em forma de isca, dotada de um órgão
enguia de água doce faz o oposto. Muitas es- luminescente. Este atrai vários organismos,
pécies de água doce sobem os rios, nadando que são facilmente capturados pelo peixe. A
contra a correnteza, buscando as nascentes, bioluminescência é produzida em órgãos es-
onde a água é mais límpida e oxigenada, para peciais chamados fotóforos, onde certas rea-
desovar. Este fenômeno, comum em muitos ções químicas liberam energia luminosa. Pode
rios brasileiros, recebe o nome de piracema. também resultar da associação com certas
bactérias luminescentes.

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 117


Zoologia e Embriologia

8. Anfíbios
8.1. Apresentação
Os anfíbios (do grego amphi = dual, bios = vida) são assim chamados porque, em sua maioria,
vivem as fases iniciais do ciclo vital dentro da água e a fase adulta em ambiente terrestre. Como
grupo, representam os primeiros vertebrados a viverem em terra. Habitam locais úmidos, a
maioria colocando seus ovos em lagoas e córregos, principalmente em áreas tropicais, e não são
encontrados no mar. Algumas espécies são arborícolas e podem planar entre as árvores, utili-
zando seus grandes pés palmados distendidos. Geralmente são predadores de insetos e outros
pequenos invertebrados e servem de alimento para vários vertebrados, inclusive o homem. A
classe Amphibia contém cerca de 3 000 espécies.

8.2. Classificação
I. Ordem Anura
É o maior grupo de anfíbios, pois contém mais de 90% das espécies conhecidas. São ani-
mais que possuem cabeça e tronco unidos, formando um corpo grande e achatado, sem pesco-
ço ou cauda. As patas anteriores são curtas e as posteriores, longas. Aqui estão sapos, rãs e
pererecas, que geralmente medem de 5 a 13 centímetros de comprimento. Entretanto, há
formas maiores, destacando-se a rã gigante africana, Conraua goliath, que tem 30 centímetros,
medidos da cabeça até a extremidade posterior do corpo.

Sapo Rã Perereca

II. Ordem Urodela III. Ordem Apoda


Compreende cerca de 200 espécies de ani- Contém aproximadamente 60 espécies, que
mais dotados de cabeça e pescoço distintos, possuem o corpo alongado mas não têm pa-
tronco alongado e cauda longa. Os mais conhe- tas, chamadas cobras-cegas. Seu tamanho
cidos são as salamandras, cujo tamanho varia varia de 10 a 75 centímetros de comprimento.
entre 8 e 20 centímetros de comprimento.

Salamandra Cobra-cega (cecíclia)

118 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

8.3. Aspectos Evolutivos muito venenosos costumam apresentar co-


Admite-se que os anfíbios sejam deriva- loração de advertência. Nos sapos, as gran-
dos de organismos ancestrais semelhantes a des glândulas paratóides, situadas de cada
peixes que viveram há uns 400 milhões de lado do pescoço, representam aglomerações
anos. A transição da água para a terra envol- de glândulas de veneno. O veneno das rãs da
família Dendrobatidae afeta as atividades mus-
veu uma série de modificações:
culares e neurais.
• alteração da forma corporal, adaptada à
locomoção em terra, embora ainda con-
servando a capacidade de nadar;
• desenvolvimento de patas em substitui-
ção às nadadeiras pares, típicas de peixes;
• adaptação da pele à função respiratória;
• ênfase na respiração pulmonar, com per-
da das brânquias no estágio adulto;
• alterações metabólicas que possibilitam
a excreção de produtos nitrogenados me-
nos tóxicos;
• mudanças no sistema circulatório, relaci- Língua protrátil do sapo
onadas com a respiração por pulmões e Mudas periódicas ocorrem por ação
pela pele; hormonal. A pele velha é destacada e geral-
• presença de órgãos sensitivos que funcio- mente ingerida. Em rãs e outros anuros, a pele
nam tanto no ar como na água. fica quase totalmente solta da musculatura, o
que não acontece em salamandras e cobras-
8.4. Organização e Funcionamento cegas. As cores variam muitos entre as espéci-
A rã pode ser considerada um anfíbio re- es e podem ser modificadas por cromatóforos.
presentativo. É dotada de boca ampla e gran- Os músculos são mais desenvolvidos nas áre-
des olhos esféricos, com pálpebras. Atrás de
as locomotoras, sendo as patas posteriores
cada olho há um tímpano achatado. As pal-
adaptadas para o salto. Na época reprodutiva,
mas e solas das patas apresentam saliências
os músculos dos membros anteriores dos
cornificadas que protegem do atrito com o
machos tornam-se mais volumosos, para fa-
solo, além de fornecerem tração em superfí-
cilitar o abraço na fêmea, que precede a libera-
cies escorregadias.
ção de gametas.
A pele das rãs é lisa, úmida, glandular e
Na boca existe uma língua musculosa, vis-
altamente vascularizada. Suas glândulas
secretam muco, mantendo a pele úmida (o cosa e protrátil, que é usada sobretudo na cap-
que é importante para a respiração cutânea) tura de presas. O funcionamento dessa língua
e escorregadia (o que confere proteção contra só é possível em ambiente terrestre, pois a den-
a predação). Os anfíbios apresentam a pele sidade da água impossibilita seu uso. Quando
delgada, são geralmente pequenos e não pos- caçam, rãs e sapos protraem repentina e rapi-
suem estruturas protetoras, como espinhos, damente a língua, sempre com a parte poste-
garras ou dentes afiados. Por outro lado, de- rior para diante. Não há glândulas salivares,
senvolveram um sistema de glândulas mas o alimento é lubrificado por muco
cutâneas que produzem uma secreção vene- secretado na boca. A maioria dos anfíbios pos-
nosa, esbranquiçada, utilizada como defesa sui dentes delicados no maxilar superior e no
contra o ataque de predadores. Geralmente o teto da boca, que são substituídos continua-
veneno é liberado por compressão das glân- mente. Em sapos, no entanto, eles não existem.
dulas pelo próprio predador. Os anfíbios Os girinos geralmente capturam algas e

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 119


Zoologia e Embriologia

microorganismos suspensos na água através pal estrutura respiratória.


de um mecanismo filtrador situado na Na evolução dos anfíbios foi igualmente im-
faringe.Os anfíbios evitam locais secos e tem- portante a mudança no tipo de material
peraturas extremas. Isso ocorre porque não nitrogenado a ser excretado. Os peixes antigos,
são capazes de regular a temperatura corpo- assim como os atuais peixes de água doce e as
ral, além de perderem água facilmente atra- larvas dos anfíbios, excretavam amônia, subs-
vés da pele. Quando as condições ambientais tância muito tóxica, mas que pode ser rapida-
não são favoráveis, o animal sobrevive à cus- mente eliminada e dissipada quando a água é
ta de reservas energéticas, principalmente abundante. A excreção nitrogenada dos anfíbios
glicogênio, armazenado no fígado, e gordu- adultos passou a ser a uréia, que é uma substân-
ras, estocadas nos corpos adiposos, que são cia menos tóxica. Isso possibilitou economia de
projeções situadas em frente às gônadas. Na água, fundamental em meio terrestre.
época reprodutiva, os machos quase não se
Podemos observar que os anfíbios apre-
alimentam e usam as gorduras dos corpos
sentam muitas adaptações à vida no ambi-
adiposos para sobreviver. ente terrestre. Entretanto, tiveram sua expan-
É marcante nos anfíbios a diversidade de são para os ambientes quentes e secos limita-
formas de respiração, o que reflete a transição da por alguns fatores. Entre eles, podemos ci-
do meio aquático para o terrestre. A vida na tar o papel respiratório da pele e sua função
terra requer uma série de adaptações, dentre na absorção de água, o fato de não produzi-
as quais a respiração pulmonar, talvez a mais rem uma urina concentrada e a formação de
importante. Em relação aos peixes, observa- ovos não resistentes à dessecação. Se a vida
se que os anfíbios adultos não apresentam em meio terrestre trouxe o problema do
brânquias, ineficazes para a respiração em dessecamento, em compensação permitiu a
contato com o ar, além de possuírem pele sem adaptação a temperaturas maiores, possibi-
escamas, com abundante secreção dérmica e litando uma taxa metabólica mais elevada, o
um sistema circulatório grandemente modi- que é considerado vantajoso.
ficado. Observa-se nos anfíbios uma caracte- De maneira geral, os olhos ficam posicionados
rística marcante de todos os tetrápodes, que é de modo a permitir visão simultânea em todas
a circulação dupla, com fluxo sangüíneo pul- as direções. Apresentam boa visão, tanto diur-
monar e fluxo sangüíneo sistêmico(corporal). na como noturna, têm boa acuidade visual e
De modo geral, os órgãos respiratórios podem detectar determinadas cores. Glândulas
sempre apresentam o epitélio úmido e e pálpebras móveis fazem a limpeza e lubrifica-
vascularizado. As formas larvais, conhecidas ção dos olhos, prevenindo ressecamento e infec-
como girinos nas rãs e nos sapos, são aquáti- ções oculares. Os tímpanos recebem ondas so-
cas e dotadas de brânquias externas. Nas for- noras do ar ou da água. Nas câmaras nasais exis-
mas adultas, de vida terrestre, há respiração tem os órgãos de Jacobson, que respondem a
cutânea, pulmonar e bucofaringeana. Em informações químicas na boca ou no nariz e as-
geral, os pulmões são simples e apresentam sim atuam nos sentidos do olfato e do paladar.
superfície relativamente pequena. A
bucofaringe é a mucosa da cavidade bucal, 8.5. Reprodução
onde pulsações da garganta permitem a mo- Os anfíbios são dióicos e costumam exibir
vimentação do ar sobre uma área intensa- dimorfismo sexual. Geralmente acasalam-se na
mente vascularizada. Há espécies aquáticas água, onde os ovos são depositados. Deles
em que os pulmões servem como órgãos eclodem as larvas aquáticas, que crescem até
hidrostáticos, sendo inflados quando os ani- sofrer a metamorfose para a forma adulta. En-
tre sapos e rãs, os machos, assim que entram na
mais flutuam. Algumas salamandras terres-
água, começam a coaxar para atrair as fêmeas.
tres não têm pulmões, sendo a pele a princi-

120 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

O som é produzido pela vibração das cordas O desenvolvimento é freqüentemente indi-


vocais, situadas na laringe, devido à passagem reto. Em sapos e rãs, as larvas são os girinos,
do ar eliminado violentamente dos pulmões. dotados de longa cauda, brânquias e desprovi-
Cada fêmea madura que entra na água é dos de patas. A metamorfose é complexa e en-
agarrada por um macho, que sobe em suas volve a perda das brânquias, o fechamento das
costas, num abraço sexual conhecido como fendas branquiais e o desenvolvimento dos pul-
amplexo. Enquanto a fêmea elimina os óvulos, mões. Além disso, surgem a língua protrátil e as
o macho descarrega espermatozóides sobre patas, e o intestino tem seu comprimento redu-
eles, realizando a fecundação externa. Em al- zido, uma vez que o hábito alimentar passa de
gumas salamandras, entretanto, pode ocor- herbívoro para carnívoro. São reabsorvidas a
rer fecundação interna: o macho fixa um cauda e as nadadeiras medianas e a excreção
espermatóforo no substrato e guia a fêmea so- muda de amônia para uréia. É interessante o
bre ele para que ela o receba em sua cloaca. Os que ocorre com certas salamandras, cujas lar-
ovos são envolvidos por um material gelati- vas são permanentes, alcançando o tamanho dos
noso protetor, ficando protegidos de choques, adultos e reproduzindo-se sexuadamente, em
infecções e predadores. Dependendo da espé- um fenômeno conhecido como neotenia.
cie, podem ser carregados pelos pais.

Ciclo de vida do sapo.

Amplexo, mostrando a liberação dos gametas.

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 121


Zoologia e Embriologia

9. Répteis
9.1. Apresentação
A classe Reptilia compreende animais cuja
locomoção geralmente envolve rastejamento,
daí o nome do grupo (do latim reptum = raste-
jar). São encontrados com maior freqüência
em regiões tropicais e subtropicais, ocupan- Jabuti
do grande variedade de hábitats. Apresen-
II. Ordem Squamata (Escamados)
tam muitas diferenças em relação aos anfíbi-
Embora existam formas aquáticas, geral-
os: seu tegumento é seco e apresenta escamas,
mente são animais terrestres. Alguns vivem
relacionando-se com a vida longe da água; as
sobre rochas ou árvores, outros enterram-se
patas são adaptadas à locomoção rápida; há
no solo. Dividem-se em:
maior separação entre sangue arterial e ve-
noso no coração; o esqueleto é ossificado. O * Subordem Lacertilia
grande avanço dos répteis, no entanto, é a São os lagartos, que apresentam grande di-
existência de ovos dotados de anexos embri- versidade de formas. As patas podem ser longas
onários, permitindo sua sobrevivência e de- ou curtas, fortes ou delgadas; em alguns são re-
senvolvimento em terra. duzidas e há até mesmo lagartos ápodos, conhe-
cidos como cobras-de-vidro, que vivem no solo e
9.2.Classificação deslocam-se rastejando. A cauda é usada como
I. Ordem Chelonia (Quelônios) estrutura de equilíbrio e possui vértebras in-
Contém as tartarugas, geralmente encon- completamente ossificadas. Quando aprisiona-
tradas em ambientes aquáticos, e jabutis, ex- do, as vértebras se separam e o animal foge, re-
clusivos de regiões secas. Seu corpo fica em generando posteriormente a parte perdida. Na
uma espécie de caixa oval, composta por pla- boca há vários dentes e a língua pode ser atirada
cas ósseas suturadas. A parte dorsal, conve- vários centímetros à frente para capturar inse-
xa, é a carapaça, e a parte ventral, mais acha- tos com sua ponta recoberta de muco. Há bexiga
tada, é o plastrão. Vértebras torácicas e cos- urinária, mas os excretas são semi-sólidos, sain-
telas ficam soldadas com a carapaça. A cabe- do da cloaca como um material esbranquiçado
ça, as patas e a cauda podem ser retraídas misturado com as fezes. O macho tem dois
para dentro da carapaça, como medida de hemipênis situados lateralmente na base da cau-
segurança. Não há dentes, mas a mandíbula da. Na cópula somente um é utilizado, embora
e a maxila apresentam fortes lâminas ambos possam ser evertidos.
cornificadas, usadas para esmagar o alimen-
to, formando um bico semelhante ao de uma
ave. Garras córneas nas extremidades dos
dedos permitem que se arrastem e cavem. As
patas dos jabutis são cilíndricas, enquanto
que nas tartarugas parecem-se com remos e
são usadas na natação. Existe bexiga urinária Lagarto
e a urina, líquida, contém uréia e ácido úrico. * Subordem Ophidia
O macho apresenta um pênis erétil na pare-
Compreende as cobras, que têm corpo alon-
de da cloaca. Nela, algumas tartarugas pos- gado e desprovido de extremidades pares, esterno,
suem sacos de paredes finas, onde ocorrem pálpebras, aberturas dos ouvidos e bexiga
trocas gasosas quando estão submersas. urinária. Seus dentes ficam inclinados para trás,

122 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

prendendo o alimento durante a deglutição. Em A língua achatada não é protrátil e tem uma
cobras peçonhentas há um par de dentes ocos dobra transversal que, quando comprimida
especializados na condução do veneno; na naja, contra o palato, isola a cavidade bucal, per-
esses dentes são fixos, mas nas cascavéis ficam mitindo que o animal abra a boca dentro da
dobrados para trás quando não são usados. A água sem que esta invada os pulmões.
língua, com forma de fita, tem a extremidade
bífida e sai da boca, mesmo quando fechada, por
uma reentrância da mandíbula. Os órgãos de
Jacobson são duas pequenas câmaras sensiti-
vas, de função olfativa, que se abrem na boca. Os
órgãos internos são alongados, o pulmão esquer-
do é geralmente vestigial e os músculos segmen-
tares estendem-se por todo o corpo, permitindo Jacaré Crocodilo
os movimentos sinuosos. Não mastigam o ali- 9.3. Aspectos Evolutivos
mento, engolindo-o inteiro. Podem deglutir pre- Os répteis tiveram seu apogeu há cerca de
sas maiores que seu próprio corpo, graças à frou-
150 milhões de anos, no período jurássico que
xa e elástica articulação mandibular, ao movi-
ficou conhecido como "Idade dos Répteis". Os
mento de alguns ossos, que permitem a grande
dinossauros eram então os vertebrados do-
distensão da boca, e também devido à ausência
minantes no planeta, ocupavam hábitats
de esterno. A posição anterior da glote possibili-
muito diversificados e seu tamanho variava
ta a respiração mesmo durante a deglutição.
desde formas minúsculas até seres gigantes-
cos. As características adaptativas para a
vida na terra, em ambiente seco, possibilita-
ram a exploração de novos nichos, já que, de
uma forma geral, a vida estava ligada direta-
mente à água. O grupo dos répteis sofreu uma
incrível irradiação, surgindo formas extrema-
mente variadas. Alguns exemplos podem dar
idéia dessa diversidade:
• alguns dinossauros eram enormes, tais
como o Brontosaurus, animal herbívoro que che-
gava a pesar mais de 30 toneladas e comia mais
de 230 quilos diários de alimento;
•certas formas eram dotadas de uma espé-
Cobras
cie de armadura defensiva, podendo existir pla-
III. Ordem Crocodilia cas ósseas na pele, como no Stegosaurus, no qual
Compreende os crocodilos e jacarés, ge- formavam uma crista dorsal do pescoço ao fim
ralmente habitantes de brejos e rios. Seu cor- da cauda, ou chifres e espinhos, como no
po apresenta cabeça, pescoço, tronco e cauda Triceratops, animal de enorme crânio, com um
distintos. As patas são curtas e os dedos ter- bico cortante afiado no maxilar superior, um
minam em garras córneas. Os grandes olhos chifre curto e forte no nariz e um par de chifres
possuem pálpebras e uma membrana nictitante apontando para a frente, no alto da cabeça;
transparente por baixo delas. Os músculos • alguns eram de constituição leve, como
são variados e permitem a movimentação os pterodáctilos, répteis voadores de cabeça
tanto na terra como na água. A boca tem gran- longa, patas anteriores compridas e membra-
de abertura e dentes fortes, usados no ataque nas entre os dedos, os patágios; uma dessas
e na defesa, podendo torcer pedaços da presa. formas, Pteranodon, tinha envergadura de 7,6
metros;
Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 123
Zoologia e Embriologia

• houve formas adaptadas à vida aquá- nas algumas ordens. Seu desaparecimento foi
tica, como os ictiossauros marinhos, de cor- abrupto, em termos geológicos, e várias hi-
po fusiforme e quatro patas em forma de póteses foram criadas na tentativa de expli-
remo, além de uma grande nadadeira cau- car esse fato. A mais aceita é a de que um me-
dal. teoro, chocando-se com a Terra, levantou
Existiam dinossauros herbívoros e carní- grande quantidade de partículas sólidas na
voros, alguns dos quais vorazes predadores, atmosfera, impedindo a entrada de luz e o
como o conhecido Tyranosaurus. A maioria das aquecimento do planeta. Isso teria provoca-
formas era ovípara. Entretanto, apesar de seu do sérias mudanças climáticas, com redução
enorme tamanho, eram dotados de encéfalos da temperatura ou alteração nas condições
proporcionalmente reduzidos. Há aproxima- de umidade, afetando seriamente os hábitats
damente 70 milhões de anos, esses grandes dos grandes répteis e impedindo sua sobre-
répteis se extinguiram e permaneceram ape- vivência.

Répteis extintos restaurados (dinossauros). Os números referem-se ao comprimento total (em metros).

124 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

Dentre os répteis viventes, os maiores estão entre as cobras. A píton asiática cresce até 10
metros de comprimento, enquanto a que sucuri sul-americana pode chegar a 11 metros. Al-
guns lagartos podem atingir 3 metros de comprimento e há tartarugas marinhas de
2 metros pesando mais de meia tonelada. Entretanto, répteis muito grandes hoje são exceções
e a maioria apresenta tamanho mediano.
Os répteis foram os primeiros vertebrados adaptados à vida em locais secos na terra. As
adaptações mais importantes são:
• pele espessa e cornificada, protegendo contra o atrito e o dessecamento; ao contrário dos
anfíbios, a pele dos répteis não permite trocas gasosas e nem apresenta glândulas epiteliais;
• garras que protegem as extremidades dos dedos e auxiliam na locomoção em superfíci-
es ásperas;
• órgão copulador para transferência direta de espermatozóides para o aparelho
reprodutor feminino;
• ovos protegidos: a casca rígida impede a perda de água, enquanto o âmnio, uma câmara
interna cheia de líquido, protege o embrião do dessecamento e de lesões mecânicas;
• ácido úrico como produto de excreção nitrogenada, que, sendo menos tóxico, permite
economia de água ao animal.

Piton Sucuri

9.4. Organização e Funcionamento resistente e elástico, capaz de grande distensão,


A pele dos répteis não tem glândulas. As possibilitando a uma cobra engolir grandes
células superficiais são cornificadas, forman- presas ou a um lagarto que se estufe durante o
do o revestimento externo, altamente rito nupcial. A muda da pele ocorre integral-
queratinizado. As escamas estão presentes na mente em cobras, mas nos lagartos é feita em
maior parte do corpo, havendo sulcos de pele pedaços. Na cascavel, em mudas sucessivas,
mole entre elas. Em sua superfície, pequenas ocorre a retenção da extremidade cornificada
saliências dispersam a luz, reduzindo a pene- da cauda, originando o guizo.
tração da radiação no corpo. Em lagartixas, Os desenhos coloridos e brilhantes da pele
essas estruturas originam cerdas, que, cobrin- de lagartos e cobras resultam da presença de
do a extremidade inferior dos dedos, ajudam- cromatóforos. Variações de luz ou tempera-
nas a subir em superfícies verticais e inverti- tura induzem mudanças de cor em lagartos,
das. Na derme há células pigmentares e algu- sob controle hormonal ou do sistema nervo-
mas espécies possuem ossos dérmicos, tam- so. Isso possibilita camuflagem, para escapar
bém chamados osteodermos. O tegumento é ao ataque de predadores, e interfere na tem-

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 125


Zoologia e Embriologia

peratura corporal, pois influencia a taxa de ser reforçada com sais de cálcio. O filhote de-
absorção e de reflexão de luz pelo tegumento. senvolve um dente único na extremidade do
Em geral, os répteis são carnívoros, sendo maxilar superior que é usado para cortar os
que apenas jabutis, algumas tartarugas e uns envoltórios do ovo durante a eclosão. Depois,
poucos lagartos comem vegetais. O hábito esse dente cai. O desenvolvimento é direto.
carnívoro é muito acentuado entre as cobras,
que podem até mesmo comer outras cobras.
Lampropeltis, por exemplo, alimenta-se de co-
10. Aves
bras venenosas, inclusive cascavéis, sendo 10.1. Apresentação
imune ao veneno. Através da visão, os pre-
A classe Aves é um grande e diversificado
dadores percebem a presa, e geralmente é ne-
grupo de vertebrados, facilmente reconhecido
cessário que ela se movimente para que o ata-
por sua estrutura e pelo fato de, tendo geralmente
que seja desferido. Muitas cobras agem por
atividade diurna, serem facilmente observáveis.
constricção, como jibóias e sucuris, que se en-
São, juntamente com os mamíferos, os mais re-
rolam rapidamente em torno da presa, ma-
centes vertebrados a surgirem na Terra. Há cer-
tando-a por asfixia. Cobras peçonhentas in-
ca de 8 700 espécies viventes, que ocupam
jetam veneno, que causa morte mais rápida.
hábitats diversificados, em quase todas as regi-
ões do planeta, do Ártico até a Antártica, nos
mares e nos continentes. Albatrozes vivem no
mar aberto, exceto em época de postura; gaivo-
tas são encontradas em regiões costeiras; patos
habitam pântanos e água doce; cotovias vivem
em pradarias; emas são aves corredoras e ocu-
pam áreas abertas. Entretanto, as aves são mais
numerosas e diversificadas em regiões tropicais.
Cobra capturando uma presa (roedor). Muitas espécies têm vida solitária, outras for-
mam bandos. Em geral, não são muito grandes.
Não há mecanismos fisiológicos de produ- Exceções são o avestruz africano, que atinge 2
ção de calor e de controle da temperatura cor- metros de altura e pesa até 130 kg, e o condor
poral, sendo esta mantida às custas de energia americano, com envergadura de 3 metros. Entre
captada do meio. Dessa forma, procuram viver
as pequenas aves, destaca-se um beija-flor cu-
em locais de temperatura adequada e podem
bano, que tem menos de 6 centímetros de com-
variar a área exposta ao sol mudando de posi-
primento e pesa apenas cerca de 3 gramas. O
ção ou alterando levemente o formato do cor-
po. Nos trópicos, são ativos o ano todo, mas, grande interesse do homem pelas aves levou à
nas regiões temperadas, somente nos meses criação da Ornitologia, o ramo da Zoologia en-
mais quentes, permanecendo dormentes na es- carregado do seu estudo.
tação fria. Lagartos e cobras escondem-se em
fendas do solo, cascavéis vivem em grupos den- 10.2. Aspectos Evolutivos
tro de buracos ou cavernas e tartarugas de água As aves diferem dos outros animais pela
doce vão para o fundo dos lagos. existência de penas, que revestem e isolam o
corpo, possibilitando a regulação da tempe-
9.5. Reprodução ratura e auxiliando o vôo. Acredita-se que
A fecundação é interna, sendo a maioria das seus ancestrais tenham sido répteis delica-
dos, dotados de cauda longa e andar bípede,
espécies ovípara. Entretanto, as cascavéis são
que corriam rapidamente com as patas pos-
ovovivíparas e há lagartos vivíparos. Os ovos teriores, ficando os membros anteriores er-
possuem casca resistente e flexível, que pode guidos e livres, exatamente na posição em que

126 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

as aves atuais apresentam as asas. As penas necessária para sua atividade, sobretudo o
podem ter surgido como um revestimento vôo. A capacidade de voar favorece a procu-
isolante e protetor contra variações de tem- ra de alimento, a fuga dos inimigos e permite
peratura. As primeiras aves devem ter sido migrações para outras áreas quando as con-
apenas planadoras. O vôo surgido posterior- dições se tornam desfavoráveis. A velocida-
mente, o deslocamento em alta velocidade e a de de vôo varia de 30 a 80 km/h, embora os
penetração em nichos aéreos permitiram a falcões, durante um mergulho no ar, possam
expansão para áreas de temperaturas distin- atingir cerca de 200 km/h. Para voar, uma ave
tas e a ocupação de ambientes ainda não ex- deve preencher certos requisitos, além da
plorados por outros animais. Os fósseis de homeotermia, tais como a redução do peso e
aves são raros, devido à delicadeza de seu
da densidade corporal e estruturas sensiti-
esqueleto, o que torna mais difícil a preserva-
vas eficientes. Favorecem essa condição:
ção. Archaeopteryx, a "ave-lagarto", é o fóssil
mais antigo, com aproximadamente 150 mi- • o formato aerodinâmico do corpo, que é
lhões de anos. Tinha o tamanho de um gran- compacto e rígido, resultado de fusão, per-
de pombo, cabeça pequena, mandíbula com da e reforço dos ossos;
dentes, penas, asas com garras terminais e, • o posicionamento das patas abaixo do
provavelmente, só era capaz de planar. corpo, que podem ser retraídas entre as
penas ventrais;
• o esqueleto leve e adaptado à fixação de
fortes músculos;
• o aparelho respiratório eficiente, com os
pulmões ligados a sacos aéreos, distribu-
ídos entre os órgãos, úteis na retenção do
ar, permitindo extração de oxigênio mes-
mo em grandes altitudes, assim como a
dissipação do calor gerado pelo elevado
metabolismo;
• as características do sistema circulatório,
como o coração com quatro câmaras e a
completa separação das circulações veno-
sa e arterial;
• a eliminação dos excretas na forma de pe-
quenos corpos esféricos esbranquiçados,
compostos de ácido úrico, que ficam mis-
turados com as fezes, evitando a forma-
ção de grande volume de urina líquida;
• a ausência de bexiga urinária, sendo exce-
ção o avestruz;
Archaeopteryx, a mais antiga ave conhecida, • o total desenvolvimento dos ovos fora do
com cerca de 150 milhões de anos, mostrando
corpo materno;
caracteres reptilianos, como dentes e cauda longa.
• a excelente visão, com grande acuidade vi-
10.3. Organização e Funcionamento sual e rápida acomodação de foco;
As aves mantêm a temperatura corporal • voz e audição elaboradas, associadas com
(homeotermia), através de mecanismos fisi- a necessidade de comunicação a grandes
ológicos, em torno de 40 a 42 graus centígra- distâncias.
dos, apresentando elevada taxa metabólica,

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 127


Zoologia e Embriologia

aéreas, reduzindo o peso, e alguns reforços


ósseos que lhes conferem resistência. O osso
do peito, chamado esterno, é dotado de uma
quilha ou carena mediana, onde se prendem
os grandes músculos peitorais, empregados
no vôo (a "carne branca" do frango e do peru).
As clavículas são soldadas, formando a
fúrcula, mais conhecida como "osso da sor-
te". A cintura pélvica tem uma grande aber-
tura ventral, que permite a passagem de gran-
des ovos na fêmea. A locomoção bípede é faci-
litada pelo grande desenvolvimento da es-
trutura óssea e muscular das patas, como se
verifica facilmente em uma galinha.
As aves apresentam tubo digestivo com-
Aparelho respiratório de uma ave, mostrando os pleto, com uma certa especialização das suas
sacos aéreos. partes componentes. Na ausência de dentes,
O corpo das aves tem forma e tamanho o bico é utilizado na obtenção de alimento,
muito variáveis. A cabeça geralmente fica na sendo também empregado no alisamento
extremidade de um pescoço flexível e é ca- das penas, na coleta de materiais para a con-
paz de girar 360 graus em torno de seu eixo. fecção do ninho e na defesa. Seu envoltório
Os membros anteriores são as asas, que pos- cornificado tem crescimento contínuo, o que
suem penas mais longas, denominadas compensa o desgaste pelo uso. Sua forma va-
rêmiges, próprias para o vôo. Os membros ria de acordo com os hábitos alimentares: é
posteriores, as patas, têm muitos músculos delgado e afilado como um par de pinças nos
na parte superior, enquanto a porção inferior pássaros que capturam insetos em folha-
apresenta tendões e é revestida por escamas gens; em pica-paus é robusto, para cortar
córneas. Na cauda curta, abaixo da qual fica madeira e penetrar nas cascas das árvores
o ânus, podem existir longas penas, dispos- das quais retiram insetos; em garças tem
tas em leque. No bico pontiagudo, de revesti- formato de lança, para capturar peixes; em
mento córneo, há um par de narinas. Os andorinhas é largo e delicado, permitindo a
olhos, grandes e laterais, possuem duas pál- captura de insetos vivos em pleno vôo; é for-
pebras e uma membrana nictitante. Existe te e cônico em aves comedoras de grãos; e
uma abertura auditiva atrás de cada olho. afiado e recurvado em aves predadoras,
A pele, móvel, flexível e de frouxa fixa- como gaviões e corujas, nos quais é usado
ção à musculatura, não tem glândulas, com para rasgar o alimento. A língua, pequena e
exceção da glândula uropigiana, situada pontiaguda, tem revestimento córneo e não
acima da base da cauda, que secreta uma é extensível, exceto a de pica-paus, usada
substância oleosa capaz de impermeabili- para capturar insetos na madeira, e a de bei-
zar as penas e o bico, impedindo que este ja-flores, que retira néctar das flores. Em
fique quebradiço. pelicanos, o saco encontrado sob o queixo
armazena temporariamente os peixes e nele
O esqueleto das aves, sobretudo as que
é regurgitado o alimento para os filhotes.
voam, é leve e delicado, formado por alguns
ossos pneumáticos, que contêm cavidades

128 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

sentam dieta especial, como os urubus, que


comem exclusivamente animais mortos ("car-
niça") e os beija-flores, que, devido ao seu
elevadíssimo metabolismo, usam como ali-
mento insetos e o néctar das flores, uma solu-
ção fortemente açucarada. Aves marinhas têm
glândulas especiais que eliminam o excesso de
sais ingeridos, com perda mínima de água.
O sistema nervoso é bem desenvolvido,
sendo o encéfalo proporcionalmente maior
que o dos répteis. De forma geral, a capacida-
de gustativa e olfativa é limitada, mas a au-
dição e a visão são muito eficientes. A acomo-
dação visual é muito rápida, permitindo o
Aparelho digestivo das aves
ajustamento do foco em diferentes distânci-
O alimento é temporariamente armaze- as, o que se torna necessário nas repentinas
nado e umedecido no grande papo, situado mudanças visuais durante o vôo ou na
logo após o esôfago. Em algumas formas, car- focalização de objetos dentro da água em aves
rega alimento para os filhotes, que captam o mergulhadoras, como o mergulhão. O giro
material regurgitado ou introduzem a cabe- rápido da cabeça durante o movimento, para
ça na garganta dos pais. Em pombos, o epitélio a frente e para trás, em aves como as gali-
do papo apresenta duas estruturas glandu- nhas, relaciona-se com a rápida observação
lares, que secretam uma substância nutriti- dos arredores, determinando distâncias e
va, o "leite de pombo", usado para a alimen- percebendo movimentos. Águias, falcões e
tação dos filhotes. O estômago compreende o urubus apresentam grande capacidade de
proventrículo, responsável pela secreção de enxergar objetos distantes. Em corujas, a au-
sucos digestivos, e a moela, câmara de pare- dição aguçada permite localizar pequenos
des musculares e espessas, onde ocorre a tri- mamíferos na escuridão total.
turação do alimento, com o auxílio de frag-
mentos de cascalho e outras partículas
10.4. Reprodução
ingeridas propositalmente, representando, Um aspecto impressionante nas aves é a
em termos funcionais, o papel de "dentes". A sua coloração variadíssima. O colorido dos
cloaca, que se abre para o exterior através do machos geralmente é mais vivo que o das fê-
ânus, é a câmara em que se misturam fezes, meas, funcionando como forma de identifi-
excretas e elementos sexuais. cação e na defesa do território, estimulando o
comportamento sexual da fêmea e ajudando
Devido à sua intensa atividade, as aves a repelir ataques ao ninho e aos filhotes. A
consomem muito alimento de alto valor comunicação é realizada através de cantos e
energético e, como não armazenam muita gor- gritos. Os gritos geralmente são sons simples
dura, não podem sobreviver muito tempo sem e breves, relacionados com a interação entre
se alimentar. Em geral, comem sementes, fru- pais e filhotes e à reunião dos membros de
tos e vários tipos de animais, como vermes, um grupo. Os cantos, mais complexos, geral-
artrópodos, moluscos e vertebrados. Pelica- mente são emitidos pelos machos e relacio-
nos e gaivotas, por exemplo, comem peixes; nam-se com o comportamento reprodutivo,
garças se alimentam de rãs; gaviões comem auxiliando no estabelecimento e na defesa de
cobras, lagartos e pequenas aves; corujas ca- um território e na atração de parceiras. Al-
çam roedores e coelhos. Algumas formas apre- gumas formas, como os papagaios, fazem

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 129


Zoologia e Embriologia

imitação pelo canto. O órgão do canto é a Apresentam várias adaptações ao vôo,


siringe (ausente em urubus e avestruzes), como os membros anteriores transformados
uma câmara de ressonância de complexida- em asas com penas, ausência de bexiga
de variável, situada na base da traquéia. Pode urinária, sacos aéreos e ossos pneumáticos,
conter músculos e membranas, que vibram visão e cerebelo bem desenvolvidos, assim
quando o ar passa, produzindo os sons. como o osso esterno (peitoral) com carena onde
As estratégias reprodutivas são muito a musculatura peitoral está inserida.
diversificadas. Cada espécie tem uma época As aves corredoras são chamadas de
característica para se reproduzir. Ritos ratitas, como a ema e o avestruz, e as aves
nupciais são comuns, freqüentemente realiza- voadoras são chamadas de carinatas como
dos em um território anteriormente estabele- o beija-flor, pardal, águia, falcão, entre mui-
cido. Segue-se a construção do ninho e o tas outras.
acasalamento. A fecundação é sempre inter- As aves são animais com aparelho diges-
na, realizando-se a cópula por atrito entre tivo completo com boca e cloaca, sem dentes
cloacas, uma vez que o pênis só ocorre em pou- e bicos adaptados a diferentes tipos de ali-
cas formas, como avestruzes, cisnes e patos. mentação. Apresentam papo para amoleci-
Os ovos têm muito vitelo e casca calcária dura, mento e moela para trituração dos alimen-
necessitando de aquecimento ou incubação tos. Podem ser herbívoras ou carnívoras.
para o crescimento do embrião. Filhotes de
A respiração é pulmonar e o coração apre-
galinhas e patos eclodem já bem formados e
senta inovação em relação aos grupos anterio-
com movimentação ativa. Já os de pássaros e
res com quatro câmaras, sendo duas aurículas
pombos são desprotegidos e necessitam de
e dois ventrículos totalmente separados, não
alimentação e cuidados no ninho. Rapidamen-
ocorrendo mistura de sangue arterial e venoso.
te os filhotes aprendem a responder à visão
dos pais e aos sons por eles emitidos. O cuida- Excretam ácido úrico na urina junto com
do com a prole é importante, para garantir a as fezes. As aves apresentam mecanismos de
continuidade das espécies. controle de temperatura corporal, sendo cha-
madas de homeotérmicas.

11. Mamíferos
11.1 Apresentação
A classe Mammalia compreende animais de-
nominados mamíferos. É um grupo extrema-
mente diversificado, contendo formas como as
toupeiras, os morcegos, os roedores (ratos e es-
quilos), os gatos, as baleias, os cavalos, os
primatas (macacos e ser humano) e muitas ou-
tras. Todos têm em comum a existência de uma
O cuidado das aves com a prole. cobertura de pêlos, a homeotermia e a presen-
ça e o desenvolvimento de glândulas mamári-
As aves são vertebrados com grande ca- as nas fêmeas, cuja secreção, o leite, alimenta os
pacidade de dispersão através de mecanis- filhotes (daí o termo "mamífero"). Os cuidados
mos migratórios e a capacidade de vôo. com os descendentes são maiores, atingindo o
apogeu na espécie humana. São encontrados
em todos os ambientes, na terra, na água e no
ar. Os menores representantes são certos

130 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

musaranhos e camundongos, que têm menos • a inexistência de postura de ovos na gran-


de 5 centímetros de comprimento e pesam ape- de maioria dos representantes, permane-
nas alguns gramas. Os maiores são os elefan- cendo os filhotes no aparelho reprodutor
tes, em ambiente terrestre, e as baleias, em da fêmea durante maior tempo, o que dá
ambiente aquático. A baleia-azul é o maior ani- maior segurança para o embrião durante
mal conhecido, alcançando 30 metros de com- o desenvolvimento. Se, por um lado, nas-
primento e pesando até 150 toneladas. ce menor número de filhotes em cada ges-
tação, por outro, cada um deles tem maio-
11.2. Aspectos Evolutivos res chances de sobrevivência.
Acredita-se que os mamíferos, assim
como as aves, tiveram um ancestral 11.3. Organização e Funcionamento
reptiliano. Pelo exame dos fósseis disponí- O tegumento dos mamíferos apresenta
veis, de cerca de 200 milhões de anos, supõe- uma série de anexos, dentre os quais os mais
se que as primeiras formas eram pequenas e importantes são os pêlos. Formam uma den-
ariscas, surgindo mais tarde os tipos mo- sa pelagem nos animais de áreas frias, mas
dernos. Sua proliferação coincidiu com o são finos e curtos em espécies tropicais. Ele-
desaparecimento dos dinossauros. Algumas fante, rinoceronte, hipopótamo e homem têm
características explicam o grande sucesso poucos pêlos. As baleias são praticamente
adaptativo dos mamíferos: nuas, possuindo algumas poucas cerdas so-
• o eficiente controle da temperatura cor- bre os lábios. Carnívoros e roedores têm, so-
poral, facilitado pelo revestimento isolan- bre o nariz e os olhos, longas vibrissas (os
te do corpo, composto por pêlos e por uma "bigodes"), onde a base de cada pêlo é circun-
camada de gordura situada no tecido sub- dada por fibras sensitivas que recebem estí-
cutâneo (a camada inferior da pele); mulos tácteis quando o animal se move. O
• a separação completa de sangue venoso e corpo de ouriços e porcos-espinhos é coberto
arterial no coração, que permite melhor por espinhos pontiagudos, que, na verdade,
controle da pressão arterial e uma circu- são pêlos modificados. No tatu há uma arma-
lação mais eficiente; isso garante melhor dura articulada, composta por escudos
oxigenação dos tecidos e chegada dos ali- epidérmicos posicionados sobre placas ósse-
mentos às células com maior rapidez, fa- as, entre as quais existem uns poucos pêlos.
tor importante para a manutenção de me- Mudas periódicas substituem gradual-
tabolismo elevado; mente os pêlos. Seu crescimento ocorre até
• o encéfalo proporcionalmente maior que o um certo comprimento e cessa; são exceções
de outros grupos de animais, o que está re- o couro cabeludo humano e a crina e a cauda
lacionado com a grande capacidade de co- dos cavalos, onde o crescimento é contínuo.
ordenação, a aprendizagem e a memória; Diferenças na pigmentação dos pêlos produ-
• a sensibilidade muito aguçada, com a vi- zem os vários padrões de cor dos mamíferos.
são, a audição e, sobretudo, o olfato bas- Outros anexos do tegumento são as garras,
tante desenvolvidos, possibilitando a ob- os cascos, as unhas e os cornos, estruturas
tenção de muitas informações sobre o am- que crescem continuamente, compensando o
biente ao seu redor; desgaste. Já as galhadas ou chifres, existentes
• a movimentação eficiente, com pernas e bra- em veados, são formações ósseas trocadas
ços localizados embaixo do corpo, garantin- anualmente.
do maior sustentação e, ao mesmo tempo,
permitindo uma locomoção mais rápida;

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 131


Zoologia e Embriologia

Na pele existem vários tipos de glân- A dentição inicial ou "de leite" é posterior-
dulas: mente substituída por uma dentição perma-
• sebáceas: produzem uma secreção oleo- nente. Em geral, não há cloaca, tendo os apa-
sa, responsável pela lubrificação do pêlo e relhos digestivo, excretor e reprodutor aber-
da pele; turas separadas. Ao contrário dos demais
• odoríferas: produzem secreções abundan- vertebrados, suas hemácias são anucleadas.
tes e malcheirosas, como em cangambás, No aparelho respiratório, há a laringe, con-
ou escassas e delicadas, como em esqui- tendo cartilagens que circundam as cordas
los, servindo para marcação de territóri- vocais, responsáveis pela produção de sons.
os, atração sexual e defesa; Estes servem como alerta, intimidam inimi-
• sudoríparas: produzem uma secreção lí- gos, reúnem os membros de um grupo nas
quida que elimina resíduos do corpo e au- formas gregárias, atraem parceiros e permi-
xilia a termorregulação; tem a localização de pais e filhotes. Os
• lacrimais: suas secreções umedecem e lim- primatas são os mamíferos com "linguagem"
pam a superfície do olho; mais variada, sendo articulada na espécie
• mamárias: ocorrem geralmente nas fême- humana. Os morcegos emitem sons que, eco-
as e, ativadas por um hormônio no final ando em objetos próximos, servem para
da gestação, secretam leite durante o iní- orientá-los no vôo, além de ajudar na cap-
cio do período de crescimento do filhote, tura de presas. Os sons produzidos por al-
regredindo depois. Em machos de gumas baleias podem ser detectados a qui-
primatas são reduzidas e não-funcionais. lômetros de distância.
O esqueleto é principalmente ósseo. As
cartilagens existem sobre as superfícies arti- 11.4. Reprodução
culares e formam os discos intervertebrais. A fecundação é interna e os ovos geralmente
Os ossos cranianos são menos numerosos e implantam-se na parede do útero, onde teci-
maiores que os de répteis e peixes. Uma es- dos embrionários e maternos desenvolvem a
trutura óssea separa as passagens nasal e placenta, estrutura que garante o fornecimen-
bucal até a garganta, permitindo ao animal to de nutrientes e oxigênio e a eliminação de
respirar enquanto come. Os ossos maxilares excretas, através da circulação sangüínea
estão fundidos em uma mandíbula única, materna. Entretanto, o ornitorrinco e a equidna
maior e mais potente que a dos répteis. Em são ovíparos, e os ovos, semelhantes aos dos
relação a outros vertebrados, os músculos répteis, são incubados. Os marsupiais, como
são mais desenvolvidos na cabeça, no pesco- gambás e cangurus, têm ovos diminutos que
ço e nas patas. Os músculos faciais permitem
permanecem apenas alguns dias no útero. Os
a "expressão" de estados emocionais. Uma
fetos imaturos rastejam para fora até uma
característica exclusiva é a existência do dia-
bolsa situada ventralmente no abdome da fê-
fragma, um músculo transversal que separa
mea, onde se prendem firmemente às mamas,
a cavidade torácica, com coração e pulmões,
da cavidade abdominal, onde estão as demais alimentando-se. Permanecem nessa bolsa,
vísceras. Está relacionado com a respiração, chamada marsúpio, até completarem o desen-
uma vez que seu movimento bombeia ar para volvimento. Em todos os mamíferos, o leite é o
dentro dos pulmões. único alimento dos filhotes no início da vida.
Contém água, gorduras, lactose, albumina e
Os dentes fixam-se em alvéolos mandi-
vários sais.
bulares e apresentam forma e função relaci-
onadas com o tipo de alimento utilizado.

132 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

As fêmeas passam por um ciclo estral pe-


riódico, quando ocorrem modificações celu-
lares no útero e na vagina, além de alterações
comportamentais. Este período é conhecido
por "cio". O número de filhotes por gestação
costuma ser inversamente proporcional ao
tamanho. Os grandes mamíferos geralmente
produzem um único filhote por ano, mas es-
pécies menores, que têm gestações curtas,
com muitos descendentes, podem se repro-
Urso coala duzir várias vezes no mesmo ano. Os filhotes
de todos os mamíferos recebem cuidados dos
pais antes de se tornarem independentes.

11.5. Classificação
I. Mamíferos Prototérios
São os mamíferos ovíparos, conhecidos
também como monotremados.
Os dentes existem apenas nos filhotes, ten-
do os adultos um bico córneo. Há glândulas
mamárias, mas não há mamilos e o leite sai
como o suor, molhando os pêlos da região pei-
toral, que são lambidos pelos filhotes. A cloaca
Canguru imaturo está presente, mas não possuem útero nem
vagina. São comuns na região australiana.
Ornitorrinco e equidna.

Canguru e seu filhote

Ornitorrinco

Filhote na bolsa marsupial

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 133


Zoologia e Embriologia

Dentro do grupo das placentárias desta-


cam-se várias ordens, exemplificadas a seguir:
Ordem Insectivora
São pequenos, têm o focinho longo e fino e
dentes afiados. Algumas formas são subter-
râneas. Toupeira, ouriço, musaranho.
Ordem Chiroptera
Os únicos mamíferos com vôo verdadeiro
são geralmente pequenos e possuem os mem-
Equidna (ordem Monotremata), um mamífero bros anteriores com dedos longos, sustentando
ovíparo
as delgadas asas membranosas. Predominan-
II. Mamíferos Metatérios temente noturnos, têm hábitos alimentares va-
São mamíferos vivíparos. riados, sendo geralmente frugívoros ou
São os marsupiais, geralmente sem placen- insetívoros. Poucos são hematófagos. Morcegos.
ta e com marsúpio na fêmea. O útero e a vagi- Ordem Primata
na são duplos. Estão restritos à Austrália, com Sua cabeça faz um ângulo reto com o pes-
exceção dos gambás americanos. Estão repre- coço. Apresentam encéfalo grande e muitas
sentados por: canguru, coala e gambá. formas têm hábitos sociais. Geralmente apre-
sentam grande habilidade manual, facilita-
da pela posição do polegar, oponível aos ou-
tros dedos. Lêmure, macacos, homem.
Ordem Edentata
Seus dentes estão reduzidos ou ausentes.
Apresentam garras fortes. Tamanduá, pre-
guiça, tatu.
Ordem Lagomorpha
Os grandes dentes incisivos crescem con-
tinuamente. Lebre, coelho.
Ordem Rodentia
Geralmente pequenos, também possuem
incisivos de crescimento contínuo. Alimen-
tam-se principalmente de folhas, sementes e
raízes. Esquilo, marmota, castor, rato, camun-
dongo, capivara.
Ordem Cetacea
Mamífero marsupial – canguru com filhote na
São aquáticos e têm o corpo fusiforme. Seus
bolsa marsupial membros anteriores estão modificados em na-
dadeiras e os membros posteriores estão au-
III. Mamíferos Eutérios ou Placentários sentes. A cauda, bem desenvolvida, é usada na
São os mamíferos que possuem placenta.A natação. A hipoderme, onde a gordura fica ar-
placenta é um importante anexo embrionários, mazenada, é espessa. Permanecem submersos
exclusivo dos mamíferos, que é importante para por algum tempo sem respirar. Suas narinas
vários aspectos fisiológicos dos filhotes como: estão modificadas em um ou mais espiráculos,
nutrição, trocas gasosas, excreção etc. no alto da cabeça. Baleia e golfinho.

134 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados


Zoologia e Embriologia

Ordem Carnivora Ordem Sirenia


Alguns são de grande porte, sendo dota- Grandes, de corpo fusiforme. As patas
dos de garras afiadas e dentes caninos modi- anteriores assemelham-se a remos, mas não
ficados em presas para rasgar alimento. Cão, há patas posteriores de habitat aquático.
lobo, coiote, raposa, urso, lontra, cangambá, Manati ou peixe-boi.
hiena, gato, leão, tigre, onça, puma, lince. Ordem Perissodactyla
Ordem Pinnipedia São animais ungulados, ou seja, dotados
São marinhos, têm o corpo fusiforme e as de casco, porém com dedos ímpares. Geral-
patas com forma de remos, usadas na nata- mente grandes e de patas longas. Cavalo, ze-
ção. Alguns têm porte avantajado. Foca, leão- bra, anta, rinoceronte.
marinho, morsa. Ordem Artiodactyla
Ordem Proboscidea Também ungulados, mas com dedos pa-
São grandes e pesados, dotados de orelhas res. Seu tamanho é variado. Muitos têm chi-
largas e achatadas. Possuem a pele grossa (daí fres ou cornos na cabeça. Geralmente sua den-
o nome "paquiderme"), compensando a ca- tição é reduzida. Inclui os ruminantes, geral-
rência de pêlos. O nariz e o lábio superior for- mente sem os dentes incisivos superiores.
mam uma probóscide ou tromba muscular, Porco, hipopótamo, camelo, veado, girafa, car-
longa e flexível. Os incisivos estão modifica- neiro, bode, búfalo, boi, antílope.
dos em longas presas (o "marfim"). Formam O quadro a seguir mostra alguns tipos de
manadas e são herbívoros. Elefante. mamíferos e suas respectivas ordens.

Capítulo 06. Cordados PV2D-06-BIO-31 135


Zoologia e Embriologia

136 PV2D-06-BIO-31 Capítulo 06. Cordados

Vous aimerez peut-être aussi