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FICHA DE LEITURA
CAPITULO I
A BOA VINDA DAS TEORIAS NORTE-AMERICANAS
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Para a criminológia a influência do funcionalismo fez com
que o delito e o sistema penal fossem estudados sob a perspectiva de suas funções
e disfunções para o sistema social. O controle social é visto como uma reação a
desviação, que representa uma deficiente socialização nas normas sociais.
Para Merton, que desenvolveu a teoria da anomia, tal
situação permanente na sociedade, se caracteriza não pela ausência de normas, e
sim pela falta de correlação entre os desejos – que são criados culturalmente e não
“por natureza ilimitados” – e as possibilidades para satisfazê-los. A desviação é vista
como uma reação a esta situação de anomia.
As teorias subculturais apresentam como pressuposto
comum, o fato de que a delinqüência é vista como uma resposta – solução cultural
compartilhada – aos problemas criados pela estrutura social.
Afirma a autora que as teorias subculturais pretendem
combinar um enfoque macro dos problemas criados pelas estruturas sociais com um
enfoque micro, de onde se localiza (áreas urbanas caracterizadas pela
desorganização social) e como se aprendem (transmissão cultural) os
comportamentos delitivos.
Ressalta ainda, que as teorias subculturais recepcionadas
na Inglaterra tiveram grande impacto ao ressaltarem que a delinqüência era uma
resposta aos problemas plantados pela estrutura social. Significaram um avanço
frente as teorias anteriores que explicavam os comportamentos delitivos como uma
anomalia do sujeito, de natureza patológica.
Apesar de tal avanço, tais teorias foram duramente
criticadas na década de sessenta.
A primeira crítica resultou da teoria do conflito, que
sustentou que o funcionalismo apresentava uma imagem sobreconsensuada da
sociedade, desconsiderando o fato desta estar estruturada de forma desigual, com
grupos sociais com interesses e valores distintos, e geralmente antagônicos.
A segunda crítica partiu de Mazda, que acusou as teorias
subculturais de permanecerem atreladas aos pressupostos da criminologia
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positivista. Afirma que tais teorias adotaram um dos pilares básicos da criminologia
positivista ao considerar o delinqüente um ser distinto do cidadão convencional.
A terceira crítica deveu-se a incapacidade de tais teorias
de responder a desviação típica dos anos sessenta, “delitos sem vítimas”, isso é
drogas, homossexualismo, delitos políticos, manifestações pacifistas e outros,
realizadas majoritariamente por setores médios da sociedade. Fato este que
desfigurou as concepções subculturais, que tinham o delito como a resposta dos
estratos inferiores da sociedade frente a inacessibilidade aos objetivos culturais
almejados.
Sublinha a autora, que as críticas as teorias
criminológicas da anomia e subculturais, adotavam efeito de maior alcance dirigindo-
se as concepções funcionalistas do delito e a criminologia positivista.
2. A MORTE DE LOMBROSO
AS TENDÊNCIAS ANTICORRECIONALISTAS
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diferenciação. Aponta a realização de atividades convencionais por sujeitos
desviados, e atos desviados realizados por sujeitos convencionais.
As críticas de Matza a todas as teorias criminológicas –
incluindo as sociológicas – por não haver se desprendido do legado positivista
(substancialmente no que se refere a buscar nas características do sujeito a
explicação para a delinqüência) abriu caminho para a perspectiva do etiquetamento.
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Ao questionar como se aplica o etiquetamento asseguram
que o funcionamento do sistema penal se guia por “estereótipos” provenientes da
polícia e do restante da população. Nesse sentido, as estatísticas vão demonstrar
que é o controle de determinadas condutas que se exerce de forma seletiva, posto
que as condutas delitivas estão presentes em todas as camadas da população.
A crítica elaborada pela teoria em análise ao processo
penal pode ser sintetizada nas afirmações de Matza: um processo penal que está
orientado a diminuir o número de delinqüentes provoca, com seu processo público
de etiquetamento, que o sujeito que havia realizado atos delitivos assuma a
identidade e atue posteriormente como delinqüente, que era precisamente o que se
pretendia evitar.
É com o teóricos da “labelling approach” que assistimos a
mudança de paradigma criminológico, onde o centro de atenção se desprende dos
indivíduos delinqüentes para os órgãos de controle social.
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delinqüência para a ser analisada como uma manifestação a mais da luta de
classes.
Apregoavam que a nova sociedade socialista eliminaria
as causas e as situações criminógenas do capitalismo que conduzem ao delito.
A autora chama atenção para o fato de que, embora as
concepções marxistas tenham influenciado os novos sociólogos da desviação, não
significa que a estas possam ser atribuídas caráter marxista.
Conclusivamente assevera Larrauri que a influência ainda
que tênue, difusa e ambivalente, do marxismo irá servir para radicalizar e politizar as
demandas do resto das correntes norte-americanas. Toda a bagagem cultural
somada a um clima político efervescente irá geminar a elaboração de uma “nova
teoria da desviação”.
A autora destaca os pontos fundamentais das teorias
norte-americanas para a construção da “nova teoria da desviação”:
a) a criminologia européia dominada até então por
pressupostos médicos-jurídicos vai ser sacudida pelos estudos sociológicos. Os
criminológos se transformavam em sociólogos da desviação.
b) o estudo do desvio não vai mais restringir-se ao
indivíduo delituoso, mas também aos órgãos de controle social.
c) o delito passa a ser visto como reação ao controle
social.
d) crítica ferrenha as estatísticas que não são neutras e
nem objetivas, não refletem os atos cometidos e sim a reação que são objeto.
CAPITULO II
A NOVA TEORIA DA DESVIAÇÃO
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2. O ato desviado é racional;
3. O desviado é político;
4. Todos somos desviados;
5. O controle cria a desviação;
6. Sejamos tolerantes com os desviados;
7. O direito penal é um instrumento a serviço da classe
dominante;
8. A polícia atua com base em estereótipos;
9. Os desviantes são bodes expiatórios;
10. As estatísticas são uma construção social.
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O que unia todos estes sociólogos eram suas posições
contra a ordem social imperante, sua incredulidade a respeito das definições que o
sistema emitia.
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pessoas que já estão excluídas do mercado de trabalho, assim o sistema penal
legitimaria um exclusão previamente operada.
As perguntas feitas pela teoria do etiquetamento podiam
ser objeto de múltiplas respostas:
Por quê surge a reação perante alguns atos?
Quem define certos atos como desviados?
Como se realiza esta seleção de comportamentos aptos
de persecução penal?
Qual são as conseqüências do etiquetamento?
Que efeitos produz o processo etiquetador no sistema?
5. Caráter objetivo das estatísticas: as estatísticas não
refletem o índice real de delitos, e sim a reação ao delito, que é a seleção do que é
delito, pelos agentes de controle. O fator que explica a presença das classes sociais
mais fracas nas estatísticas não é a maior quantidades de delitos, sim sua maior
vulnerabilidade de detenção;
6. O delito comum: o que era ou não delito era uma
questão de definição e definida e o delito não era importante, porque este tipo de
delito comum não existe na quantidade que a estatística quer fazer crer que existam;
7. Caráter determinado do delinqüente: a ação era
voluntária, logo o delinqüente não poderia ser determinado como queriam os
positivistas. O sujeito não era objeto, tinha vontade;
8. Caráter do desviado: o ato delitivo como voluntário,
mitigava a importância até então conferida à determinação do que denomina
“causas do delito”. Afirmava-se que as causas são múltiplas impossíveis de
determinação, em face a complexidade das situações criadas pelo ser humano. A
busca das causas serve somente para reforçar a idéia do delito como
comportamento análogo do restante da sociedade. Justificativa para a assunção de
uma postura correcionalista.
9. Finalidade de correção da política criminal: os teóricos
céticos contrariaram as metas dos positivistas, isto é, o fim de corrigir e erradicar a
delinqüência, baseada na visão de que o sujeito estava determinado ao delito por
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forças que não controlava. A contrariedade ao tratamento e à finalidade
correcionalista podia albergar-se na TOLERÂNCIA e na NECESSIDADE de uma
cultura onde não haja nada para corrigir, já que o desviante existe somente quando
é definido e contemplado por parâmetros culturais diversos dos seus.
Uma política anti-intervencionista também podia albergar
posições neo-clássicas, de reafirmação de uma pena justa, de um processo
garantista baseado no fato delitivo e não na personalidade do delinqüente;
10. Papel de criminólogo; os teóricos céticos adotaram o
que Matza havia denominado uma atitude apreciativa. Mas esta atitude apreciativa
que se opunha à neutralidade do positivismo, podia-se adotar de um método
naturalista até uma celebração do comportamento desviante.
Enfim, neste primeiro momento reina o consenso contra a
criminologia oficial.
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importância concedida a etiqueta ignora este tipo de delito que não se vê submetido
a um processo de etiquetamento.
Ambas as correntes serão ampliadas pela “Nova
Criminologia” (1973). Obra que representou o início da criminologia crítica. Seu
impacto foi considerável e as críticas ao etiquetamento se converteram em
paradigmas para toda uma geração de criminólogos críticos.
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apresentar o desviado como um resultado da má execução do tratamento de
controle, pois a crítica dos teóricos do etiquetamento alcançava, exclusivamente, os
estratos intermediários da sociedade, os agentes que executavam as ordens.
A crítica de Liazos pautava-se no fato de que a etiqueta
não faz justiça ao caráter político dos atos de tais desviados. Definir como desviados
os dirigentes negros, entre outros, era desconhecer nos seus atos o caráter de luta
política.
A dificuldade em expor a Nova Criminologia reside no fato
de que esta não explicitou seus postulados. A Nova Criminologia consistiu numa
crítica as anteriores teorias criminológicas e num programa de estudos que devia ser
desenvolvido no futuro.
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- Estudar a desviação no contexto mais amplo da luta de
classes sociais;
- Vincular a teoria e a prática.
Inúmeras críticas foram dirigidas à Nova Criminologia,
essencialmente, no que tange as concepções marxistas por ela incorporadas, vistas
como a introdução de um novo determinismo econômico mecanicista. Abria-se
caminho para a contra-reforma dos anos setenta.
De outra face, cabe ressaltar que o impacto e
repercussão da Nova Criminologia foi enorme e pode ser considerado o marco do
surgimento da Criminologia Crítica.
IV – A CONTRA-REFORMA
Introdução –
A autora no presente capítulo se propõe apresentar os
vaivéns da criminologia crítica no período situado entre a metade dos anos setenta e
o início dos oitenta.
Localiza as mudanças no panorama político, do período
aludido, acentuando a primeira vitória de Thatcher que coloca em perigo o Estado
social, o terrorismo e as legislações anti-terroristas, o fenômeno da violência racial
agudizado pela crise econômica, o início dos primeiros movimentos de denúncia da
violência contra as mulheres; combinado com o pessimismo resultante da
experiência histórica dos países do “socialismo real”.
É nesse contexto que se produz uma revisão nos
postulados do enfoque cético e da nova criminológia.
As principais variações podem ser sinteticamente
apresentadas como:
- uma revalorização do delito comum;
- a negação do caráter político da delinqüência e
- a matização das oposições ao positivismo.
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1. OS DUROS ANOS SETENTA; O DESFALECIMENTO
DE LA NATIONAL DEVIANCE CONFERENCE
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A postura assumida pela esquerda frente a proliferação
das legislações anti-terroristas, vão no mesmo sentido, posto que se vêem
compelidas a defender o Estado de direito e as garantias legais ante a ameaça
terrorista. O que na década de sessenta foi identificado como “direitos formais
burgueses”, nos anos setenta é visto como manifestações de legalidade, que devem
ser preservadas.
A autora localiza nesse marco sócio-econômico a
decadência da NDC, como resultante das sérias divisões ideológicas, acentuadas
pelo predomínio do conservadorismo, do extenuamento da “new left”, da falta de
uma segunda geração de acadêmicos disposta a levar adiante as proposições, a
dispersão temática, a confusão teórica produto da crítica ao “idealismo e
romantismo” da década de sessenta, a retirada de seus fundadores para outros
países e sua entrada no mundo universitário oficial.
A influência deste organismo é inquestionável, conforme
assenta a autora, traduzindo-se na ampliação do objeto de estudo das diversas
formas de desviação, e incluindo na criminologia de signo oficial a importância do
controle social como variável determinante para o estudo da delinqüência.
Afirma Larrauri a importância do movimento dos anos
sessenta, ao devolver voz aos desviados, invertendo a ótica de até então, onde a
desviação passa a ser vista do ponto de vista do marginalizado. A questão deixa de
ser vista como técnica – médica ou jurídica – e sim adota natureza política.
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2. O delito atenta contra interesses comuns da
sociedade, retoma a concepção da valores
consensuais mínimos – vida, propriedade e etc.;
3. O delito apresenta vítimas e estas costumam a ser
predominantemente trabalhadores, Yong vai afirmar
que a maior parte dos delitos da classe trabalhadora
se comete dentro da classe e não entre classes;
4. Existe uma “simetria moral” entre o delinqüente e a
vítima, com o qual implicitamente se afirma que são
as classe trabalhadoras as que cometem mais delitos;
5. O delinqüente não é um aliado da classe trabalhadora
em sua luta contra o capitalismo, pelo contrário, a
delinqüência dificulta a luta ao desanimar e dividir os
trabalhadores;
6. Implicitamente a esperança na mudança social volta a
residir nos trabalhadores;
7. Por seus efeitos perniciosos na comunidade e no
sujeito delinqüente, deve propiciar-se um controle de
suas atividades. Portanto este controle no deve ser
exercido por organismos externos como a polícia e
sim pela própria comunidade trabalhadora;
8. A criminologia deve dirigir seu interesse ao tema da
delinqüência comum.
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efeitos desmoralizantes que a delinqüência comporta. Promovendo uma celebração
da delinqüência.
Young vai mais adiante (1975), afirmando que “os
idealistas e românticos” se tem limitado a produzir um inversão do paradigma
positivista: o positivismo afirmava a falta de consenso, o idealismo de esquerda se
esforçou para demonstrar a existência do disenso; o positivismo afirmava o caráter
patológico da delinqüência, esta se defendeu como racional; o positivismo havia
considerado o delinqüente como um sujeito determinado, este era dotado de
liberdade; o positivismo se baseava nas estatísticas, estas eram rechaçadas; se os
positivistas preconizavam a intervenção e o tratamento, eram respondidos exigindo
uma cultura mais tolerante.
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Tal visão vai ser identificada com uma atitude simpática
em relação ao delito, vetando a possibilidade de discernir as diversas manifestações
desviadas.
A crítica vai defender a contextualização do desvio, no
sentido de não entendê-lo a priori como ato de oposição, protesto ou luta contra o
sistema.
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Ainda, em relação ao controle social como causador do
desvio, se contrapôs a visão de controle descentrado da figura estatal, despido de
conotação unicamente negativa.
No sentido de Foucault, o poder não somente proíbe,
reprime, como cria, cria realidade, cria novos objetos de discurso, novas áreas de
conhecimento, novas categorias. Portanto, deve ser estudado como se criam as
categorias de delinqüente, de criminalidade, e não somente como se utiliza o poder
para reprimi-las.
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Downes (1979), vai introduzir a noção de que há fontes
delitivas que não são reduzíveis as desigualdades materiais.
Ou seja, as causas estruturais podem explicar a
potencialidade do delito, porém não a sua execução. Tal análise deve ser
complementada com outras correntes de pensamento, como a teoria subcultural ou
da anomia.
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III. 11. A atenuação da concepção instrumental do direito
A nova criminologia adotou uma concepção instrumental
do direito, proveniente das teorias marxistas, caracterizada pela:
1. imagem da classe dominante como monolítica, como
se esta tivesse idênticos interesses;
2. afirmação de leis que defendem exclusivamente os
interesses desta classe;
3. apresentação da delinqüência como uma resposta as
condições de exploração econômica.
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uma lógica interna, mesmo quando intercorrelacionada com as estruturas globais,
lhes permite reproduzir-se como microcosmos em diversos contextos sociais.
O rechaço à visão instrumentalista possibilitou uma
revalorização do direito e dos direitos.
Estes que tinham sido vilipendiados como “direitos
formais burgueses”, experimentam um novo reconhecimento. Se o direito não é
exclusivamente um instrumento das classes dominantes, poderá ser instrumento de
proteção. Se as formas jurídicas tem uma certa autonomia, poderão ser utilizadas
para proteger os direitos dos mais débeis. O direito penal legitima a intervenção
punitiva porém também a limita; o direito penal é um meio de castigo porém é
também um meio para a proteção de castigos excessivos.
I. CRISE
Nos anos oitenta a criminologia crítica se caracteriza por
uma certa confusão, divisão e desânimo.
Divisão devida o surgimento de tendências, mais ou
menos distintas. Alguns novos criminologos param a o que se chamou “realistas de
esquerda”, outros adotam a perspectiva abolicionista, e o minimalismo começa a
distinguir-se.
Como resposta as premissas adotadas nos anos
sessenta, parece que chegara o momento de assumir um discurso de direita,
referente ao delito, para dar-lhe uma resposta de esquerda.
O contexto social estava marcada pelo fortalecimento da
ênfase ao dinheiro, a competitividade, o triunfo – era a época dos “yuppies”. Junto
disso assistia-se as cruzadas morais, o inimigo principal eram as drogas,
relacionada à delinqüência, dentro desta guerra encontrava-se uma nova moral, que
ressaltava valores tradicionais, como a saúde, as relações monogâmicas, o trabalho
individual, e uma intromissão nos direitos individuais.
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A autora destaca que de todos os fatores que
influenciaram a criminologia neste período o mais relevante foi à presença do
movimento feminista, que possibilitou a ampliação do objeto de estudo da
criminologia.
A crise aludida propiciou compreender que a criminologia
crítica não conseguira uma mudança de paradigma, pois seguia ancorada numa
perspectiva de etiquetamento com algumas notas de materialismo.
É nesse contexto que nos inícios da década de oitenta se
produzira uma divisão na criminologia crítica.
Na Inglaterra a corrente predominante foi a denominada
“realistas de esquerda”. Entendiam o delito como um problema das classes sociais
mais débeis, advogando que o desconhecimento deste fato propiciava deixar o
terreno aberto aso conservadores paladinos da “lei e da ordem”; a tarefa da
criminologia e por conseguinte lutar contra o delito e para combatê-lo deve
recuperar-se a polícia, utilizar o sistema penal e elaborar um programa de controle
do delito mínimo, democrático e multi-intitucional.
A outra corrente agrupou-se em torno dos pressupostos
abolicionistas, os quais gozavam de uma antiga tradição nos países escandinavos e
Holanda. Tendo como principais representantes Christie, Mathiesen, Bianchi e
Hulsman.
Afirmavam a inexistência do delito enquanto realidade
ontológica1, o que se denomina delito na verdade são conflitos sociais, problemas,
catástrofes, causalidades.
Steinert (1985) – “Os problemas são reais, o “delito” é um
mito”.
Pretender tratar o delito com o direito penal, para estes
teóricos, era visto somente como forma de incrementá-los.
A esta visão extremada vai surgir o pensamento
intermediário defendido por Baratta (1985), que sugeria um direito penal mínimo –
1
Parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, i. e., do ser concebido como tendo uma natureza comum que
é inerente a todos e a cada um dos seres: &
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minimalismo. Compartilhava da crítica ao direito penal a partir da ótica abolicionista,
porém entendia que era necessário uma política intermediária capaz de ser
defendida na atualidade. Advogava um direito penal mínimo e limitado por princípios
legais (tipicidade, irretroatividade, legalidade), funcionais (subsidiariedade,
proporcionalidade) e pessoais (responsabilidade pelo fato). Este direito penal
mínimo e limitado teria como missão a defesa dos direitos humanos.
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delitivo é uma construção social é obvio, porém, se adverte, construção social onde
há um sujeito atuante por alguns motivos – causas – que devemos estudar.
Observa Larrauri que a pergunta causal permitiu que se
iniciassem programas de reforma social, e a ignorância desta pergunta facilitou o
desenvolvimento de uma política de recortes assistenciais.
Quarto, o paradigma causal não leva necessariamente a
aceitar um programa correcionalista.
A insuficiência do modelo causal, vai impelir a Nova
Criminologia a produzir um modelo integrado que ao mesmo tempo que reclama um
estudo das origens mediatas do ato desviado para situar-lo em seu contexto socio-
economico e político estrutural.
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com discutir alternativas ao cárcere senão alternativas ao conjunto do sistema penal.
Enquanto o cárcere não for abolido, as alternativas tenderam a converter-se em
adidos a esta, deveram cumprir o mesmo que o cárcere – disciplinar as pessoas na
moralidade convencional dominante; repetiram as estruturas – meios institucionais
fechados, regimes disciplinares; e reprodução de seu erros: estigmatizar o ofensor
sem dar satisfação a vítima.
Meios alternativos de resolver os conflitos sociais, dos
quais o delito é somente um deles.
Sugere a autora propostas efetivas para a
descarcerização, como a descriminalização de numerosos tipos penais; acentuar os
mecanismos já existentes – o perdão, as multas – nas legislações penais; reclamar
a desaparição da prisão preventiva que configura na Espanha 49, 5% da população
reclusa. E definitivamente, priorizar o objetivo da descarcerização a despeito da
criação indiscriminada de alternativas.
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Observa-se um processo no sentido dos movimentos
progressistas recorrerem ao direito pena. Grupos de direitos humanos, de
antiracistas, de ecologistas, de mulheres, de trabalhadores, reclamam a introdução
de novos tipos penais.
A década de oitenta vai adotar a “função simbólica do
direito penal”. Função positiva conferida ao direito penal.
A autora sublinha que o movimento feminista foi quem
mais elaborou a necessidade de utilização do direito penal de forma simbólica.
Dizima não estar interessados no castigo, mas na função simbólica do direito penal.
Isto é, o que se consegue com a criminalização de tais
condutas é em primeiro lugar, a discussão pública acerca do caráter nocivo delas,
que o público se conscientize mediante campanhas prévias, e em segundo lugar,
mude a percepção pública.
Feministas críticas questionam a visão exposta acima,
chamando atenção para relegitimação do direito penal para a solução de conflitos
sociais, ignorando outros meios alternativos que favorecem uma maior autonomia e
auto-organização das mulheres.
O apogeu da concepção do direito penal simbólico
apresenta certa coerência com a nova situação política. Situação esta que por um
lado se caracteriza por governos de partidos socialistas, em alguns países, ou por
conquista de parcelas de poder por grupos progressistas, convencidos da
legitimidade de utilizar o poder para impor um nova moral. E por outro, se
caracteriza por uma desmobilização social das forças tradicionais de esquerda.
Um nova discussão que surgiu renovada na década de
oitenta foi a revalorização do direito penal como um direito de garantias.
Afirmando que o direito penal não (somente) legitima a intervenção penal
também a limita; o direito penal não (somente) permite castigar também
permite evitar castigos excessivos (Ferrajoli – 1989).
A relação entre direito e sociedade, deve ser vista sob a
ótica da teoria sistêmica de Luhman – onde este questiona a existência desta
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comunicação entre direito e sociedade, afirmando o caráter auto-referencial e auto-
poiético do sistema jurídico.
Nesse sentido a atribuição de papel simbólico ao direito
penal deve ser questionado, tendo em vista que este não ordena simbolicamente a
hierarquia de valores sociais.
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A política criminal passava a ser tarefa fundametnal da
criminologia.
Segundo a autora, mesmo os abolicionistas, em sua
maioria, estão orientados para uma política criminal, de distinto signo. Enquanto os
realistas ingleses falavam de controlar o delito, recuperar a polícia, reformar o
delinqüente, etc., os abolicionistas advogavam por resolver o conflito, negociar com
a vítima, sem excluir a reforma do ofensor.
Se o poder esta disperso, ou se exerce, em múltiplas
relações, e existe em múltiplos âmbitos sociais, não há o que temer, é possível
desenvolver uma praxis crítica em todos os sitios e ... em nenhum deles esta
garantida (Scheerer, 1989).
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