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1. CONCEITOS INICIAIS
De acordo com a ABNT, acidente de trânsito é todo evento não premeditado do qual
resulte dano em veículo ou na sua carga e/ou lesões em pessoas e/ou animais, em que pelo
menos uma das partes está em movimento nas vias terrestres ou áreas abertas ao público.
Pode originar-se, terminar ou envolver veículo parcialmente na via pública (ABNT, 1989).
Considera-se crime de trânsito, a conduta que envolve, que guarda relação com o
trânsito, com a direção de veículo automotor, prevista nos arts. 302 ao 312 do Código de
Trânsito Brasileiro.
O capítulo XIX do Código de Trânsito Brasileiro - CTB (Lei 9.503/97), está dividido em
duas seções:
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código,
aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo
não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que
couber.
Trânsito: Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos, animais, isolados ou
em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de
carga e descarga (art. 1º § 1º do CTB).
Via: superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a
calçada, o acostamento, ilha e canteiro central. São vias terrestres urbanas ou rurais as ruas, as
avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que tenham
seu uso regulamentado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre elas.
Calçada: Parte da via, normalmente segregada e em nível diferente, não destinada a circulação
de veículos, reservada ao trânsito de pedestres e, quando possível, a implantação de
mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins.
Meio fio: Obstáculo vertical ou inclinado implantado ao longo das bordas da pista, que
delimita a calçada e a própria pista. (ABNT)
Acidente de trânsito: é qualquer acidente onde se acha envolvido uma ou mais unidades de
tráfego onde pelo menos uma das unidades deve estar em movimento no momento do
acidente, sendo que tal acidente deve ter ocorrido em via terrestre do qual resulte morte,
lesões ou danos materiais.
Colisão: acidente em que há impacto entre veículos em movimento, podendo ser dividida em:
- Colisão lateral: impacto lateral entre veículos que transitam na mesma via, podendo ser no
mesmo sentido ou em sentido opostos.
Abalroamento: embate entre os dois veículos envolvidos no acidente ocorre com um veículo
em movimento atingindo lateral x lateral de veículo que está parado. O termo é emprestado da
área naval, cujo significado corresponde ao contato entre duas embarcações.
- Colisão traseira: impacto de veículos que trafegam no mesmo sentido na mesma via, tendo
um dos veículos atingindo de frente a parte traseira do outro veículo.
- Colisão frontal: impacto entre veículos que transitam na mesma via, em sentidos opostos.
- Choque: impacto de um veículo em movimento contra qualquer obstáculo fixo (postes,
árvores, muros ou até outro veículo que esteja parado ou estacionado).
- Tombamento: acidente em que um dos veículos tomba sobre uma de suas laterais
imobilizando-se.
Obs.: No caso de embate de veículo motorizado com ciclista, este será considerado colisão, a
menos que o ciclista esteja empurrando a bicicleta.
2 - CLASSIFICAÇÃO DAS CAUSAS DE ACIDENTES DE TRÂNSITO:
As causas de acidentes de tráfego são classificadas em dois grupos: as de ordem
objetiva e as ordem subjetiva.
- subjetivas intrínsecas: sono, fadiga, embriaguez, atos inseguros do condutor, atos por
parte dos passageiros;
Obs.: Os acidentes de trânsito têm sempre como participante o homem, o veículo (máquina) e
a via ou fatores ambientais (meio). Este trinômio encontra-se sempre presente em todo e
qualquer acontecimento que se verifica no trânsito.
Os princípios de lógica e o bom senso devem ser utilizados sempre, tanto na parte
técnica propriamente dita, como na interpretação da legislação de trânsito. As infrações de
trânsito, em algumas situações podem ser causas determinantes autônomas de um sinistro.
Assim, podemos dizer que os peritos ao analisarem uma ocorrência, terão presentes
sempre, como ponto de partida e de referência, as normas disciplinadoras e reguladoras do
Código de Trânsito.
Seção II do Capítulo XIX do CTB
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; (Incluído pela Lei nº 12.971,
de 2014)
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente;
(Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014)
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão
ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das
hipóteses do § 1o do art. 302. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à
vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da
autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de
crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua
omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com
ferimentos leves.
Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade
penal ou civil que lhe possa ser atribuída:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º As condutas previstas no caput serão constatadas por: (Incluído pela Lei nº 12.760, de
2012)
§ 2º A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou
toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em
direito admitidos, observado o direito à contraprova. (Redação dada pela Lei nº 12.971, de
2014)
Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor imposta com fundamento neste Código:
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico
prazo de suspensão ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo
estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou
competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de
risco à incolumidade pública ou privada: (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014)
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter
a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Redação dada pela Lei nº 12.971,
de 2014)
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou
Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada,
com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu
estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo
com segurança:
Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas,
hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou
onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano:
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da
inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.
Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas situações em que
o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, esta
deverá ser de prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, em uma das
seguintes atividades: (Incluído pela Lei nº 13.281, de 2016)
I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de bombeiros e em outras
unidades móveis especializadas no atendimento a vítimas de trânsito; (Incluído pela Lei nº
13.281, de 2016)
Frenagem Derrapagem
Marcas produzidas por veículo com ABS ativado e desativado, respectivamente.
Fricção: se caracteriza por marcas de contato entre as partes metálicas de um veículo e uma
superfície dura, asfalto ou concreto.
Sulcagem: é decorrente do contato violento entre as partes metálicas de uma unidade veicular
e a superfície asfáltica ou de concreto, caracterizada pela retirada de parte da camada da
superficial da pista. A sulcagem demarca na pista um sulco, bem característico o que a
diferencia das marcas de fricção, pelo aspecto de sua maior violência no contato entre a
unidade veicular e o trecho da via.
Fricção Sulcagem
Cargas: veículos que portam carga, após um acidente podem ter seu conteúdo espalhados
pela pista ou ainda ter todo ou parte do conteúdo dentro do compartimento de carga. Em tais
condições, a carga de um veículo é importante item de análise de um acidente, mas também
deve ser elemento relevante quanto à segurança daqueles que estão envolvidos no
levantamento do local. Cargas explosivas, tóxicas ou cargas instáveis são motivos para se
redobrar os cuidados com a segurança. Cuidados que trataremos mais à frente.
Material orgânico: manchas de sangue, pelos, desprendimento de pele e até mesmo ossos são
encontrados em locais de crimes de trânsito. Tais fragmentos, conforme os outros vestígios
devem ser catalogados, identificados e localizados nos croquis quando do levantamento.
Havendo necessidade, dependendo do tipo de acidente, tais vestígios devem ser coletados
para posterior identificação da origem do material orgânico.
Sítio de colisão: Dentro desse conjunto de vestígios que podemos encontrar em um local de
crime de trânsito necessariamente devemos destacar o sítio de colisão. Consiste o sítio de
colisão em área na pista de rolamento, ou mesmo fora dela, onde ocorreu o contato ou
impacto entre dois veículos ou entre um veículo e um ou mais pedestres. O sitio de colisão é
um vestígio secundário, ou seja, a sua determinação é feita a partir de outros vestígios. A área
onde se constata desvio abrupto de marcas de frenagem, áreas onde se observa superposição
de marcas de frenagem, presença de marcas de fricção e sulcagens concentradas juntamente
com marca de frenagem possuem elementos que auxiliam na determinação de um sítio de
colisão.
Inicie o levantamento fazendo um croqui do local, que deve ser feito seguindo os
seguintes procedimentos:
- Represente no croqui o nome das vias com suas respectivas larguras; indique o
sentido (bairro ou outra via) para onde vai cada via.
-Escolha dois referenciais de medida de modo que estes sejam perpendiculares entre
si. Use como referenciais de medida as guias (meio-fio) das vias ou construções como muros
ou prédios onde se possa referenciar o local onde ocorreu o embate;
- Faça então as medidas necessárias para localizar os veículos, sempre em função dos
referenciais de medida adotados;
Dados adicionais:
Ponto de não escapada: (inevitabilidade) é o de início da área dentro da qual não é mais
possível ao condutor evitar a colisão de seu veículo. Estará tanto mais distante do ponto de
colisão quanto maior for a velocidade desenvolvida.
Ponto de percepção: é aquele onde o condutor percebe a iminência do perito (não esperado).
Ponto de colisão (ou sítio da colisão): Diverge do Ponto de impacto, que é o ponto no veículo
atingido pelo vetor de força média da colisão.
Ponto de repouso: é aquele onde o veículo permanece, depois de cessado todo movimento,
em decorrência do acidente.
Uma vez que existe curso específico de fotografia forense, torna-se desnecessário
aprofundar este estudo nesta disciplina. Apresentamos apenas um breve resumo a respeito da
fotografia aplicada à perícia de crimes de trânsito.
Obs.: Jamais confie plenamente em equipamentos fotográficos analógicos ou digitais, uma vez
que tanto as fotografias digitais como as comuns podem se perder. A documentação do local
deve ser feita de modo que o perito não fique dependente de um dado que só se poderia ser
conseguido por uma fotografia. Portanto, estando no local faça a escrituração dos dados,
ainda que isso tome tempo.
a) Identificação
O laudo deve conter todos os elementos identificadores do veículo, para provar que foi
aquele, e nenhum outro, o envolvido no acidente. Dados obrigatórios são a marca, o modelo,
o ano de fabricação, a cor, etc. Atualmente, existem "dublês" de veículos que poderão vir a
trazer futuros prejuízos à perícia. O perito tem por método proceder à verificação de
documentos, placas, numeração de chassis e, em dúvida, consultas ao sistema de identificação
de veículos. Não é de todo impossível fraudar um veículo para auferir vantagens ilícitas hoje
em dia, por isso todo o cuidado é pouco.
Abaixo apresentamos uma tabela e croquis de veículos para orientar a localização dos
danos em veículos:
c) Sistemas de segurança
A análise dos sistemas de segurança dos veículos é obrigatória, mesmo que o perito
tenha certeza de que não contribuíram para o evento. Quando algum sistema não estiver em
funcionamento, só poderá ser em decorrência do evento ou por falha mecânica. Neste caso,
esta deverá ser cuidadosamente analisada para se inferir sobre a culpa do condutor do veículo.
Não é nosso objetivo tratar de falhas mecânicas neste trabalho, por isso não nos alongaremos
o assunto. Entretanto, deve ficar claro que o perito de campo deve ter uma infraestrutura
laboratorial para assessorá-lo. Falhas mecânicas podem ser convenientemente estudadas por
especialistas de laboratório. Por exemplo, existe possibilidade de se avaliar se uma lâmpada
estaria ou não funcionando antes do acidente, como se espera nas colisões traseiras.
Sempre que realizar cálculos físicos para avaliar velocidade, o perito deverá detalha-lo
em seu laudo. Partindo do princípio que o laudo deve ser uma peça científica escrita em
linguagem inteligível pelos juristas, todos os princípios físicos utilizados devem ser expostos
com clareza. Se o princípio é tradicional, como o cálculo de velocidade pela frenagem, isto
pode ser colocado em poucas palavras, justificando-se apenas o valor do coeficiente de atrito
escolhido pelo perito. Nas aplicações mais complexas, entretanto, é conveniente alongar-se
um pouco mais, para que o laudo não retorne mais tarde com uma série de quesitos a
respeito.
m v Q
Q mv
- m: massa (kg).
- v: velocidade (m/s)
- [Q] = kg . m/s
Cálculo as velocidades logo depois da colisão a partir do teorema trabalho energia mecânica
Ec WFa
WFa m.g . .d
m u2
Ec
2
mu2
m.g. .d
2
u 2.g..d
m2
V1 u1. cos(b1 ) .u2 . cos(b2 )
m1
m1
V2 u2 .sen(b2 ) .u1.sen(b1 )
m2
WFa m.g . .d
Vi 2.g..d . cos
O eminente pesquisador NEGRINI, em uma abordagem teórica sobre o assunto, propõe uma
expressão para o cálculo de velocidade (v) de veículos que possuem o sistema ABS de freios
baseado em suas marcas de frenagem:
8
Vi ..d
4.7 - ANÁLISE E RECONSTRUÇÃO DE UMA OCORRÊNCIA DE TRÂNSITO
d1
1 u1
V1 b1 d
1 u2
2 2
2 b
2
V2
- Aceleração da gravidade local: g
Solução:
u 2.g..d
m2 m1
V1 u1. cos(b1 ) .u2 . cos(b2 ) e V2 u2 .sen(b2 ) .u1.sen(b1 )
m1 m2
Exemplo 2: Numa avenida reta e plana, uma caminhonete equipada com freios ABS colidiu sua
dianteira contra a traseira de uma motocicleta que se encontrava parada por conta de uma
travessia de pedestres e a conduz, em acoplamento, por uma distância de 69m, enquanto
freia. Antes do impacto, a caminhonete já vinha usando os freios, deixando marcados 29m de
frenagem, antes do embate, na pavimentação de asfalto seco e em bom estado. Pergunta-se:
Solução a):
u 2.g..d
m1 v1. m2 v2 m1 u1 m2 u2
8
Vabs ..d
V v1 v2 (soma vetorial)
Solução b):
S S o. v t
S=66,70m
4.8 - A RECONSTRUÇÃO DE ATROPELAMENTOS
- Projeção frontal: O pedestre é arremessado para frente. Ocorre com crianças atropeladas
por automóveis e adultos atingidos por veículos de frente alta ou ainda por adultos atingidos
por automóveis em baixa velocidade;
- Montagem sobre o capuz: O pedestre sofre um pivoteamento com rotação no sentido anti-
horário, fazendo com que a parte superior do corpo atinja o capuz. Após o corpo do pedestre
amoldar-se momentaneamente ao capuz, segue-se a projeção para frente. É a trajetória mais
comum e ocorre com o veículo em desaceleração;
- Volta sobre o teto: O pedestre é arremessado sobre o teto ou sobre a traseira do veículo. É
comum quando o veículo atropelador (de frente baixa) está animado com velocidade entre 40
e 60km/h;
- Salto mortal: O pedestre é atingido sendo projetado em trajetória circular por cima do
veículo, sem contato com este. Normalmente ocorre quando o veículo atropelador (de frente
baixa) está animado com velocidade acima de 60km/h.
REFERÊNCIAS:
ARAGÃO, Ranvier. Acidentes de Trânsito . Aspectos Técnicos e Jurídicos. 1. Ed. Porto Alegre-
RS. Sagra Luzzatto, 1999.
NEGRINI NETO, Osvaldo, KLEINÜBING, Rodrigo. Dinâmica dos Acidentes de Trânsito. Análises,
Reconstruções e Prevenção. 4. ed. Campinas-SP: Millennium Editora, 2012.