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Jonas e a Sereia

Adaptado da obra de Zélia Gattai

(Jovens entram correndo, brincando de pique. Depois, entram Carol, Maria e Juliana, as três
irmãs mais velhas de Paulinho.)

CAROL
Chega!!!

MARIA
Paulinho, vem cá.

JULIANA
Mamãe disse que vocês não podem ficar correndo aqui dentro!

JOVEM 1
Mas não dá pra ir lá pra fora.

JOVEM 2
Está chovendo.

PAULINHO
E justo hoje que eu chamei o pessoal da escola pra vir brincar aqui em casa.

CAROL
Mamãe mandou a gente contar uma história pra vocês.

PAULINHO
Ai que mico...

JOVEM 3
História é coisa chata...

(Todos reclamam.)

MARIA
Mas as nossas histórias você não conhecem.

JULIANA
Tem uma de terror que começa numa tarde chuvosa como essa.

CAROL (assustando)
Quando vários amigos se reunem depois da escola e aos poucos percebem que estão todos
mortos-vivos.

1
JOVEM 4
De terror não!!Por favor... (assustado)

JOVEM 5
Conta uma de princesa!!

(Todos reclamam)

JOVEM 6
Nada de princesa. Conta uma de aventura!

JOVEM 7
Com romance!

JOVEM 8
Conta uma com SANGUE!!

MARIA
Vocês já ouviram falar nas sereias?

JULIANA
Seres encantados que navegam pelo mar enfeitiçando os marinheiros e confundindo as
embarcações?

JOVEM 9
Sei, sei... Mas todo mundo sabe que sereia não existe.

JOVEM 10
Ninguém nunca viu.

CAROL
Tem certeza?

(Todos ficam curiosos)

Jovem 11
Mas, então, de onde veem as sereias?

JOVEM 12
Como elas surgiram?

MARIA
Como surgiram as sereias?
Esse mistério é fácil de revelar,
para mim não tem segredo.

2
JULIANA
A sereia, todos sabem
vive no fundo do mar,
em geral longe da terra;

CAROL
meio corpo é de mulher,
a outra metade é peixe.

MARIA
Pra quem não sabe, eu explico:
da cintura pra cima
mulher mais bonita não há,
pra baixo é toda peixe.

JULIANA
A história que vão ouvir
escutei de Calasans,

CAROL
o famoso mestre Calá,
grande contador de histórias.

MARIA
E posso afirmar,
A história da sereia,
Mestre Calá não inventou.

JULIANA
Tudo começou num dia...

JOVEM 13
Tudo começou num dia
quando Jonas, pescador,
por apelido Peixinho,
saiu pela madrugada
no seu barquinho, a pescar.

JOVEM 14
O barco foi se afastando,
se afastando, se afastando
até se perder no mar.

JOVEM 15
Da praia já não se via,

3
aquele ponto distande,
pois Jonas e seu barquinho
tinham sumido no mar.

JOVEM 16
Jonas também não via
a alva praia lá longe,
nem mesmo os coqueiros via.

JOVEM 17
O pescador corajoso,
sem um pingo de juízo,
nem de longe se assustou

JOVEM 18
e nem sequer se abalou
com as ondas negras, gigantes,
estourando em branca espuma,
levantando o barco ao céu.

JOVEM 19
Então, de repente,
se acendeu o sol,
o dia se iluminou,

JOVEM 20
o mar, que tem seus caprichos,
de repente se acalmou.
E Jonas sorriu satisfeito.

JONAS
Aqui eu pesco o que eu quero,
um peixe grande e bonito,
o peixe da minha vida.

JOVEM 21
Isca presa no anzol,
a linha foi sendo solta
e, vapt!, logo em seguida
foi arremessada ao mar.

JOVEM 22
Atento, calado, Jonas
com paciência esperava
aquele peixão sonhado.

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JOVEM 23
O tempo ia passando
mas, cadê ele, cadê?
Onde é que estava o danado?

JOVEM 1
Nem ao menos um tremor
na vara de pesca, imóvel...
Será que a isca se foi?

JOVEM 2
Vai ver que os peixes daqui
são biqueiros por demais,
não gostam de pititinga.

JOVEM 3
Pelo que sei, me contaram,
nestes marzões tão distantes
só dá peixe muito lorde:
garoupa, etcetera e tal,

JOVEM 4
peixe por demais fidalgo,
que gosta de comer bem,
que aprecia camarão.
Pititinga? Nem pensar...

JOVEM 5
Jonas foi logo pegando
um camarão bem fresquinho,
espetou-o no anzol
e, vapt!, o arremessou ao mar.

PAULINHO
Mas e a pititinga? O que foi feito com ela?

JOVEM 6
Fica quieto, não atrapalha a história!
Continua, Carol!

CAROL
A Pititinga,
Jonas guardou, bem guardada,
para outra pescaria.

5
MARIA
Não ia desperdiçar.
Voltando à história...

JOVEM 7
Nem bem o anzol mergulhou,
um violento estremeção
levou a linha para longe.

JONAS
É ele! Ora se é!
Peguei o danado agora!

JOVEM 8
O peixe se debatia,
Tentando se escapulir.

JOVEM 9
Sabido e experiente,
o pescador, cuidadoso,
puxava e soltava a linha
para que ela não partisse.

JOVEM 10
Um bichão, pensava Jonas,
e como pesa, o malvado!

PAULINHO
Era a sereia, não era?

JULIANA
Foi o que todos pensaram, não é?
Dava mesmo pra pensar...

CAROL
Mas, dessa vez, vocês se enganaram,
não era a sereia, não.

PAULINHO
Era o quê, Carol,
pesado desse jeito, lutando pra se salvar?

MARIA
Espere mais um pouquinho que tudo se explica.

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JOVEM 11
Que mania desse sujeito de ficar sempre atrapalhando...

JULIANA
Como já disse, não era a sereia.
Era um peixinho de verdade.

JOVEM 12
Um belo e enorme Vermelho,
tentando, sem conseguir,
desvencilhar-se do anzol,

JOVEM 13
livrar-se daquele horror,
ir pra bem longe, partir...

JOVEM 14
Depois de árdua peleja,
Jonas foi o vencedor.

JOVEM 15
Conseguiu puxar o peixe
pra dentro do seu barco.

AUTA ROSA
Me liberte desse anzol, está doendo demais!
Ai, ai, ai, que sofrimento.
Ó meu Deus, que padecimento!

PAULINHO
E peixe, agora, fala?

CAROL
Nem todos os peixes falam,
Mas o peixe desta história,
falava e falava bem.

MARIA
Dizia frases difíceis.
Só Deus sabe onde aprendeu...

(Confusão geral, os jovens discutem sobre o tema.)

JULIANA
Olha aqui, se vocês querem

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que a gente continue
a história da sereia,
parem de interromper,
assim perdemos o fio da meada.

CAROL
O peixe enorme, vermelho,
debatendo-se na água,
dentro do barco,
falava a nossa língua,

MARIA
um perfeito português,
pois que nascera e vivia
em pleno aceano atlântico,
em suas águas brasileiras.

JULIANA
Então vamos continuar.

JOVEM 16
Num sopro de voz, dizia
o peixe, se debatendo:

AUTA ROSA
Ai, ai, ai, que dor horrível!
Ai meu Deus que sofrimento...

JOVEM 17
E pela ternura do olhar,
pelo modo de falar,
jonas logo percebeu
que aquele peixe era fêmea,

JOVEM 18
pois só mulher olha assim,
daquele jeito tão lindo!

JOVEM 19
Duas lágrimas rolaram
daqueles olhos tão tristes,
olhos grudados em Jonas.

JOVEM 20
De repente,

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num esforço,
a coitadinha falou:

AUTA ROSA
Solte-me, covarde!
Não mereço essa maldade.
Devolva-me a liberdade,
quero voltar para o mar.

JOVEM 21
Susto enorme levou Jonas
ao ouvir a voz do peixe,
daquele peixe falante
que sem pudor o insultava.

JOVEM 22
Por essa ele não esperava.
Mais que assustado ficou,
Sentiu-se muito ofendido
E em seguida revidou:

JONAS
Covarde, eu? Que absurdo!
Não tenho medo de nada,
enfrento até tubarões
nas profundezas do mar!...

AUTA ROSA
Covarde, sim, um covarde,
maltratar um indefeso
que jamais te fez maldade
nem nunca te ameaçou.

JOVEM 23
Jonas, o bom pescador,
nem sabia o que dizer,
ao ouvir a acusação,
tão atordoado estava.

JOVEM 1
De repente sentiu pena,
uma pena muito grande
daquele peixe sofrendo.

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JOVEM 2
O coração apertou
e, num estalar de dedos,
nosso herói o libertou.

JOVEM 3
Arrancou o anzol pontudo,
que tanto o maltratava,
atravessado em sua boca.

JONAS
Está satisfeita agora?

AUTA ROSA
Nem sei como lhe expressar
Toda a minha gratidão,
ó formoso marinheiro...

JOVEM 4
Outro susto levou Jonas
diante da bajulação

JONAS
Formoso, eu? Quem me dera!
Não passo de um pescador,
De um modesto pescador...
Já está melhor, minha bela?

AUTA ROSA
Sim. Como te chamas, meu lindo?

JONAS
Eu sou Jonas, o Peixinho,
apelido que me deram,
por gostar de mergulhar.

AUTA ROSA
Deveras, é um belo nome!

JONAS
E você, como se chama?

AUTA ROSA
Não tenho nome, formoso!
Não sei quem foi minha mãe,

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e muito menos meu pai.

JOVEM 5
Auta Rosa havia nascido
como todos os outros peixes.

JOVEM 6
Mamãe peixe despejara sua ova,
como é normal com os peixes,
em ninho de algas verdes
nas profundezas do mar.

JOVEM 7
Aí vieram os machos,
por cima deles passaram
e em seguida os fecundaram.

(Risinhos e cutucões)

JOVEM 8
É assim que os peixes fazem?
Nadando em cima dos ovos?

CAROL (encabulada)
Bem,...
Peixe e homem, minha gente,
são coisas bem diferentes:

MARIA
o homem tem sementinha,
na mulher ele semeia...

(gargalhada geral)

JOVEM 9
Hi, Maria, me desculpe,
sei que você é a irmã mais velha,
mas está por fora...

JOVEM 10
Essa história de sementes,
das famosas sementinhas
para querer explicar
como se fazem as crianças,
Já não se usa, já era...

11
(risos gerais)

JULIANA
Já que vocês tudo sabem,
não vale a pena insistir.
Voltemos à nossa história.

JOVEM 11
Jonas então resolveu
batizar o lindo peixe
por quem estava encantado:

JONAS
Olhe aqui, minha princesa,
o teu corpo cor-de-rosa
acaba de me inspirar.
Pra você tenho um bom nome,
nome forte, nome lindo:
Auta Rosa vais chamar.

(Auta Rosa começa a rir.)

JOVEM 12
De tanto que o peixe ria,
Nem conseguia falar.
Finalmente conseguiu:

AUTA ROSA
Você sofre de cegueira?
Não sabes distinguir cores?
Eu nunca fui cor-de-rosa,
me orgulho de ser vermelha.
Cor-de-rosa, eu? Que absurdo! (Parando de rir.)
Mas, tudo bem,
Auta Rosa é nome lindo,
recebo-o muito contente.

JOVEM 13
A prosa estava muito boa,
mas Auta Rosa precisava voltar para o mar.

JOVEM 14
Um ninho de algas verdes
entre pedras de coral,

12
pouco abaixo de onde estavam,
esperava por ela,

JOVEM 15
para que seus ovinhos dourados,
fossem fecundados.

AUTA ROSA
Se és peixinho de verdade,
se és um bom mergulhador,
te convido a me seguir,
quero mostrar-te os mistérios
desse meu reino encantado...

JOVEM 16
Tentação grande demais.
Jonas logo mergulhou,
acompanhando Auta Rosa
nessa excitante aventura.

JOVEM 17
Depois voltaria à terra.
Homem não vive no mar.
Se pudesse, com certeza,
ficaria para sempre
ao lado de sua amada...

PAULINHO
Ao lado de sua amanda?

JOVEM 18
Rolava amor entre os dois?
Estavam apaixonados?

JOVEM 19
Eu bem que desconfiei.
Esatava rolando um clima...

Jovem 20
Homem namora com peixe?
Peixe namora com homem?

JOVEM 21
Isso pode acontecer?
Como eles namoram?

13
CAROL
Agora, muita atenção,
pra nunca mais esquecer:

MARIA
neste mundo em que vivemos,
não é costume, não existe
homem namorar com peixe,
peixe namorar com homem.

JULIANA
Em casos de amor, no entanto,
Tudo muda de figura.

CAROL
Li num livro, já faz tempo,
de certo escritor baiano,
a frase que aqui repito
e que pra mim tudo explica:

CAROL, MARIA E JULIANA


“Pra quem ama de verdade,
o impossível não há.”

MARIA
No idílio desta história,
entre Jonas e Auta Rosa
existiu amor sincero,
um lindo amor verdadeiro.

(As meninas suspiram.)

JOVEM 22
Jonas não vascilou,
Aceitou logo o convite.
e, pluft!, mergulhou
acompanhando Auta Rosa.

JOVEM 23
“Que mar diferente é este?”,
pensou o nosso Peixinho,
já na segunda braçada.

JOVEM 1
Nadava em meio de peixes,

14
peixes belos, coloridos,
azuis, pretos, amarelos...

JOVEM 2
Mais parece um grande aquário,
pensava Jonas, feliz.
Um aquário fabuloso,
como ninguém nunca viu...

JOVEM 3
Verdadeiro paraíso,
florido jardim de sonhos
com algas, flores, corais,
grandes conchas, caracóis...

JOVEM 4
Polvos... grandes e pequenos,
tentáculos de dar medo,
movimentos de balé.

JOVEM 5
Deslumbrado, ele seguia
O rumo de sua amada.
De repente, o que era aquilo?

JOVEM 6
Do ventre de sua bela,
pareceu-lhe que saía...
espuma leve, amarela...

JOVEM 7
Desprendeu-se, de repente,
a ova longa e dourada.
Descia rapidamente...

JOVEM 8
Fios longos, transparentes,
parecendo mil colares
de minúsculas miçangas...

JOVEM 9
Colares arrebentados,
pois deles se desprendiam
ovinhos e mais ovinhos,

15
JOVEM 10
rapidamente baixando,
indo pousar, suavemente,
num fofo ninho de musgo,

JOVEM 11
de musgo e de algas verdes
sobre pedras de coral...
Lá seriam fecundados.

JOVEM 12
O que Jonas aprontou
nas profundezas do mar
sobre os ovos delicados,
nos domínios de Auta Rosa,
ninguém saberia revelar.

JOVEM 13
Ao retornar para o barco,
Jonas se despediu
dando adeus à sua amada:

JONAS
Nunca mais eu vou pescar,
Nunca mais em minha vida.
Vou mudar de profissão.
Voltarei para este mar
Somente para te ver...
Adeus, minha amada, adeus!

JOVEM 14
De longe atirou-lhe um beijo,
em seu barquinho e partiu.
Em terra, Jonas arrumou nova profissão
para cumprir com a promessa.

JOVEM 15
Mas os dias iam passando
e ele sentia enormes saudades
de sua amada Auta Rosa.

JOVEM 16
Domingos e feriados,
saía ele pro mar,
em um saveiro emprestado

16
e, Jonas, o apaixonado,
ali, firme, a procurar...

JOVEM 17
Os meses foram passando,
Os anos também passavam,
e, Jonas, o apaixonado,
ali, firme, a procurar...

JOVEM 18
Num domingo, muito cedo,
como já era de costume,
saiu Jonas de saveiro,
velas brancas pelo mar.

JOVEM 19
O mar que estava tranquilo,
com as águas transparentes
refletindo o azul do céu,
de repente escureceu.

JOVEM 20
Revolto o mar de ressaca,
ventania sem tamanho,
barulho ensurdecedor...

JOVEM 21
Jonas não compreendia
o que estava acontecendo.
Um estrondo foi ouvido,
qual trovão na madrugada,

JOVEM 22
e do alto de uma onda,
pura espuma de arco-íris,
Jonas viu surgir um dorso,
deslumbrante, de mulher

JOVEM 23
que nadava, deslizava
e de repente sumia,
para em seguida surgir
daquelas revoltas águas...

17
JOVEM 1
De repente, o mar se acalmou
e foi quando Jonas ouviu uma voz,
um lindo canto de mulher.
Sentia-se enfeitiçado...

JOVEM 2
O saveiro não mais obedecia aos seus comandos,
estava sendo arrastado para as pedras da enseada,
de onde chegava a canção.

JOVEM 3
Sobre uma pedra, estirada,
tão bela, resplandecente,
a mesma fada que vira
surgindo daquela espuma.

JOVEM 4
Cabelos soltos ao vento,
Olhos grandes, sonhadores,
Onde já vi esses olhos?
Onde já vi esse olhar?

JOVEM 5
Jonas parou de repente,
Sacudido por um choque.
Estava lembrando de tudo.
Tinha ficado maluco?

JOVEM 6
Da cintura para baixo
daquela jovem tão bela,
rubras escamas brilhantes
cobriam de cima a baixo
um grande corpo de peixe.

JOVEM 7
Atordoado, assim mesmo
Ele então se aproximou.
Olharam-se os dois, sorriram.

JOVEM 8
Meus Deus! Como se parecem!
O mesmo olhar zombeteiro!

18
JOVEM 9
Sem dizer uma palavra,
abriu os braços e sorriu.

JOVEM 10
Ele reconhecia a filha.
Ela reconhecia o pai.

JOVEM 11
E foi assim, amando de verdade, que nasceram as sereias.

TODOS
Pra quem ama de verdade
O impossível não há.

FIM

19

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